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1
37 C.F.R. §201.14 2018
OLGA DE SA
CLARICE
LISPEGIOR
A TRAVESSIA DO OPOSTO
Dudes de Catalogaçb na Publicaçio (CIP) International
(Cimara Brasikira do Livro, SP, Brasil)
Bibliografia.
93-1914 CDD-869.90904
CLARICE LiSPECTOR:
A TRAVESSIA DO OPOSTO
Olga de Si
9697
/_S6
z9s3X
1993 CONSELHO EDITORIAL
Eduardo Penuela Canizal
Lucrécia D'4léssio Ferrara
Willi Bolle
Norval Baitello Junior
O Olga de Si
Anexo:
UMA PERSONAGEM EM BUSCA DO
AUTOR-ESCRITOR: CLARICE LISPECTOR 217
BIBLIOGRAFIA
DE CLARICE LISPECTOR 271
SOBRE CLARICE LISPECTOR 272
GERAL 282
30 CLARICE LISPEC"InR: A TRAVESSIA DO OPOSTO
da partici-
Como Abastado, salienta ainda a necresidade
colaborador que atualize e chame
paçâo do leitor, ou seja de um
à existéncia o universo das palavras. A tarefa do leitor, na
construçao do sentido de um texto parodico, é mais complexa do
que no caso da leitura comum, e na sua complexidade, é as-
simil£vel à tarefa do intérprete do texto irônico —o modoprincipal
desta forma moderna de paródia. O ato do autor é incompleto
sem o leitor competente. Assim, a major acusaçâo lançada
contra a "rnetaficçâo" é a de elitismo.
Linda Hutcheon distingue a paródia da categoria geral de
intertextualidade, porque a ironia parece ser o traçocaracterístico
da ficçao contemporânea. Sugere que a paródia moderna possa
serconsiderada como urna forma literaria autônoma, na qual urna
distinçâo consciente, ou urn contraste irônico, é provocado para-
doxalmente pela incorporaçâo ou síntese de elementos textuais
pré-existences. Um dos resultados dessa funçâo contrastiva, é que
a paródia irônica pode realmente tornar-se urna forma de critica
literària. Tern a vantagem de permanecer imanente, meta-
literâria e sintética. É, ao mesmo tempo, recriaçào e criaçâo.
A própria escolha do texto parodiado implica um ato cr tico
de avaliaçao da parte do parodista, nao redutível a um julgamento
negativo. É também um meio de exorcizar seus fantasmas
pessoais ou, mais exatamente, de os arrolar em causa própria.
Neste sentido, é um fator de aceleraçâo da história literâria. Do
romance de cavalaria e da preocupaçâo com a realidade cotidiana,
nas'Pram D. Quixote e o romance moderno.
As idélas de Linda Hutcheon reforçam o conceito de "can-
to paralelo", que sera aplicado a este trabalho, na esteira dos
ensaios sobre o Miramar e sobre A escritura mefistofélica.
O ensaio por último citado de Haroldo de Campos era,
porém, somente urna parte de um estudo mais ampio, que saiu em
forma de livro, em 1981, sob o tjtulo: Marginalia Fâus-tica:
Deus e o Diabo no 'Fausto' de Goethe. O trabalho, precedido
de urna transcriaçâo das duas cenas finais do Ato V do Segundo
Fausto, completava-se corn urna abordagem da Segunda Parte
do poema goetheano: "Bufoneria transcendental: o riso das
esferas"; e um Post-Scriptum "Transluciferaçdo
Mefistofkustica ", sobre problemas de metafisica e fisica da
traduçao e, em particular, da transcriaçâo em português dos
fragmentos finais do Fausto. Destaca, ainda, o autor, as fontes dos
ingredientes paródicos do texto do Primeiro Fausto, sempre no
33
1NTRODUÇÂO
CHORUS MYSTICUS
"O PERECIVEL
ÉAPENAS SIMILE.
O IMPERFECTIVEL
PERFAZ-SE ENFIM.
O NAO-DIZIVEL
CULMINA AQUI.
O ETERNO-FEMININO
ACENA, CEU ACIMA. "
(trad. de Haroldo de Campos)"
O SIGNO SITIADO
A Cidade Sitiada, 1949
AV Out' .)1(1( »I/ ()/
T
oci-ArnZ
-I .ijii 51)LL, )
PERSEGUIR "UMA COISA"
21. Milliet, Sergio. Diario critico. (1949-1950). SP, Liv. Martins Ed., 1953,
v.7, p. 33.
22. Nunes, Benedito. Leitura de Clarice Lispector. SP, Outran, 1973, p. 23.
23. Nunes, Benedito, op. cit., p. 18.
38 CLARICE LISPECTOR: A TRAVESSIA DO OPOSTO
34. Clarice escreveu a sua irmii Tânia, que the fez observaçiles sobre a palavra
"subúrbio": "Também o fato de eu chamar S. Geraldo de subtirbio, you
estudar. Vocé tern ratio, mas creio que vai ser talvez diffcil de mudar,
porque teria de mudar outras coisas também. Mas you ver ainda."
(Borelli, O., op. cit., p. 136).
DO OPOSTO
40 CLARICE IJSPECTOR: A TRAVESSIA
35. Walter Benjamim no seu ensaio Sobre alguns semas em Baudelaire nos
leva a perceber coma um dos chamados "poetas malditos" exprime, ao
mesmo tempo que Engels e Marx, o reflexo das transformaçôes da era
industrial sobre o homem. Sob seu impacto, cria-se urna atmosfera capaz
de fazer do homem um autômato, mesmo no cerne de suas relaçóes
sociais.
O automatismo da percepçao e da postura humana, nas grandes
concentraçòes urhanas, opôe-se ao carater mais soliderio das vizinhanças,
nas pequenas cidades e nos campos. (Veja-se Benjamim, Walter, Sobre
alguns semas em Baudelaire. In: Ensayos escogidos; version castellana
de H. A. Murena. Buenos Aires, Sur, 1967, p. 7-41. Procurando divulga-
lo veja-se: Sa, Olga de, "Automatismo e modernidade" in: Revista
Angolo, Cadernos das Faculdades Guegradas Teresa D'Avita / Lorena
(9):111-lb, jan/abril, 1981).
O SIGNO Srt1ADO 41
37. Acerca desta personagem, Clarice escreveu a sua irmâ Tânia: "Mas vejo
que Voce entendeu bem o que eu queria pelo fato de Voce na carta ter
falado em 'cidadela' -- quanto ao fato de Efigénia ser invejada como
pessoa, apesar de ser rustica, etc. -- é mesmo pelo fato de ela mio tomar
parte no progresso de S. Geraldo que ela adquire importância aos olhos
dos outros. Os outros sentiram o perigo em S. Geraldo progressista, e jd
tinham um pouco a nostalgia da 'volta' d rusticidade. O pedaço de
Efigénia, alem do mais, serve como preparaçao ao que vai se seguir: é
um exemplo de urna pessoa que é a realidade, em vez de pensi-la. Ser a
realidade é o =alino de espiritualidade, é o unico modo de como o
espírito pode viver". (Borelli, Olga, op. cit., p. 136).
O SIGNO SITIADO 43
39. Clarice escreveu sobre este personagem: "Suponho que a ligaçdo de Perseu
como resto, Eque ele ndo precisava, como Lucrécia, deprocurara realidade
porque ek era a realidade, ele fazia parte da verdade. A mulher de preso
sentiu que de era asssim e que era inalcançdvel por isso, como urna criança.
Perseu era o que Lucrécia ndo conseguiti ser. Basta tomo justificativa desse
cap/tulo? ou ainda parete enxertado?" (Borelli, Olga, op. cit., p. 136).
"Perseu, alids, em outra plano, é também urna criatura que ndo se perde,
como EfrgEnia " (idem, p. 136).
46 CLARICE LISPECCOR: A TRAVESSIA DO OPOSTO
41. 0 VER de Lucrécia pode entender-se pelo que diz Clarice a respeito da
obra:"No meu livro A cidade sitiada eu faro indiretamente no mistério da
toisa. Coisa é bicho especializado e imobilizado. lid anos também
descrevi um guarda-roupa. Depois velo a descriçtio de um imemoróvel
rel6gio chamado Sveglia: relógio eletrónico que me assombrou e
assombraria qualqeur pessoa viva no mundo. Depois velo a vez do
telefone. No "Ovo e a galinha " faro no guindaste. É uma aprovimaçào
timida minha da subverstio do mundo vivo e do mundo morto ameaçador.
Ntio, a vida ntio é uma opereta. É urna tragica opera em que num
bait' fantastico se cruzam ovos, relógios, telefones, patinadores do gelo
e o retrato de um desconhecido morto no ano de 1920". (Esta t urna fata
de Angela em Um sopro de vida. O Autor, seu contraponto, comenta:
Angela escreve sobre objetos assim como teceria rendas. Mulher
rendeira. (SV, p. 102). A mulher rendeira ve a "aura" das toisas. Existe
um "extase" de visâo exterior (nâo a vise() epifenica, porque em A cidade
sitiada a personagem Lucrécia se degrada em "voyeur"). Este é o caso de
Lucrécia, quando depois de, na cozinha, guardar os pratos enxutos t que
se initia "a verdadeira historia desta tarde" (CS, p. 96). 0 "sistema de
defesa" da cidade sitiada, da "cidadela", é VER como quem espia, por
urna seteira. VER s6 o que aparece, sem ultrapassar o que se vé. (CS, p.
99). Retomaremos este topico fundamental ao tratarmos da Poetica de
Clarice.
52 CLARICEIJSPEC7nR: A TRAVESSIA DO OPOSTO
42. Exemplos: um rato gode se dQurgva gob o polte. Paggol gecog loaram
O goldado... gumiu... gdbado. Um pape! eltremeçje. O rato conia
tranquilo petto du carroça adormeçida... ol cabelog çresçjam de
ingenuidade e hotrot, cada ver era maiaperigogo... num tangido... ginol
gubitamente gacudiram-ge em vidro, çlpargiram-sr da rettgta gobie a
i idade, Jbggt de atrifiçio gspocatam... A noire agora era de gara (C$. p. 11)
$6 CLARICE LISPECTOR: A TRAVESSIA DO OPOSTO
nao tern voz (ao contrario de Joana), escapes "O que se vê" (de
fora) era a sua (mica vida interior:"o que se via" tornou-se sua
vaga historia. Era de "seu destino insubstitulvel" "passar pela
grandeza de espírito como por um perigo". (CS, p. 19).
Lucrécia espia a cidade, que alias, como a moça, "era
exploravel apenas pelo olhar." (CS, p. 20). É muito
desconfiada, parece nada sensual, mas a diferença dos sexos
causa-Ihe alegria. Revidando ao Dr. Lucas, que escrevia para
a Revista Médico-Social, diz "que talvez um dia escrevesse
o romance de sua vida ". (CS, p. 21).
Contudo sua 'Mica forma de exprimir é "olhar bem".
(CS, p. 22). Seu destino é terrestre, sob o signo das carroças
que ouve passar à noite, enquanto em outros lugares crianças
mais felizes, filhos de pescadores, fazem-se ao mar, como
Joana.
A palavra "ideal" soa-lhe desconhecida (CS, p. 18). No
entanto, é urna das forças sorrateiras da cidade, como os
cavalos.
43. sic
58 CLARICE LISPE(. TOR: A TRAVESSIA DO OPOSTO
Ela era urna espia, mas erri nome de que rei? "Seu medo
era ode ultrapassar a que via". Batia as palpebras, perplexa.
Era capaz de aproveitar-se da cidade deserta sem tosar, sem
transformar, sem nada tirar para si mesma. (Cf CS, p. 100).
"A visâo do porno embutido tivera o mesmo carter de
um dia ela ter tomado um bonde. Ou ir ao dentista. Bonito
como urna motocicleta" (CS, p. 100). A sala de visitas era a
praça de armas, onde as coisas existiam, para esconder outras.
46. Milliet, Sérgio, Diario critico. (1944). SP. Brasiliense, 1945, v. 2 p. 27.
O SIGNO SITIADO 71
de
encontrar o melo, corn a forma que adoto,
fazer indiretamente a critica de ludo isso?"47
A REVERSAO PARODICA DA
FALA EM MUDEZ:
O SIGNO PROIBIDO
OCUOIQS1(1 UO )
49. As citaçòes sâo extraidas da 3' ed., R1, JosE Alvaro Ed/INL, 1970.
50. Borelli, Olga. Clarice Lispector: esboço para um posslvel retrato. RJ,
Nova Fronteira, 1981, p. 88.
51 e 52. Barthes, Roland. O prazer do sexto. Trad. de Maria Margarida
Barahona, Paris, Seuil, 1973, p. 37, 47, 48 (da ed. portuguesa); p. 23-4 da
ed. francesa. Le plaisir du textç. Collection "Tel Quel".
76
CLARICE L.ISPECfOR: A TRAVESSIA DO OPOSTO
54. Andrade, Carlos Drummond de, "Procura da poesia". In: Rosa do povo.
In: Obras Compteras, Ri, Nova Aguilar, 1977, p. 139.
55. Lispector, Clarke. Le Bdtisseur de ruines; traduit du brésilien par
Violante do Canto. Paris, Gallimard, 1965, p. 63.
56. Campos, Haroldo de,"Prefdcio". In: Sé, Olga de.A escritura de Clarice
Lispector, Petrópolis/Vozes, PUC-SP, 1993, p. 11-7.
O SIGNO PROIBIDO 79
57 e 58. Campos, Haroldo de, "Prefdcio". In: Si, Olga de. A escritura de
Clarice Lispector, Petrópolis/Vozes, PUC-SP, 1993, p. 11-7.
59. 0 tema integrava-se no circuito mais ampio do curso ministrado,
sucessivamente, na Universidade do Texas, Austin, e na PUC de Si o
Paulo, sob o título: "Prosa Brasileira": Correlaçöes Transtemporais". O
ensaio saiu publicado em Arte & Linguagem: Lingua e Literatura na
Educaçdo, Cadernos PUC-SP (14):124-136. EDUC (Cortez Editora),
1982.
60. Campos, Haroldo, op. cit., p. 125-7.
81 CLARICE LISPECTOR: A TRAVESSIA DO OPOSTO
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"HERÓI"AFASICO
A maçâ no escuro divide-se em três panes:
1' — Como se faz um homem.
2' — Nascimento do herói.
3' — A maçâ no escuro.
73. cf. Vico, Giambattista, Scienza Nuova a cura di Franco Amerio, Brescia,
La Scuola Editrice, 1958, p. 66-77. Princfpios de (Urna cincia) nova;
seleçío, traduçiio e notas de Antonio Lézaro de Almeida Prado. SP, Abril
Cultural, 1974. Coleçío Os Pensadorea, V. , p. 89-130.
88 CLARICE LISPECTOR: A IRAVESSIA DO OPOSTO
74. Brome, Emily. O morro dos ventos uivantes. Trad. de Oscar Mendes.
SP., Ed., Abril Cultural, 1971, p. 79.
90 CLARICE L.ISPECTOR: A TRAVESSIA DO OPOSTO
Paródia do sexo:
"Coisasquetentareisaber.•númerol: Aquilo'"
(cf. ME, p. 136).
79, 80 e 81. Hugo, Victor, op. cit., p. 25, 26, 6, 29, respectivamente.