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-NÚMERO -AGOSTO

4 1994
ANO 2

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PRESIDENTE
DA REPÚBLICA

Itamar Franco

MINISTRO
DA CULTURA

Luiz Roberto
Nascimento
e Situa

PRESIDENTE
DA FUNDAÇÃO
BIBLIOTECA
NACIONAL

Affonso
Romano
de SantAnna

DIRETOR
DO DEPARTAMENTO
NACIONAL
DO LIVRO

Márcio
Souza

Apoio

MINISTÉRIO
DAS RELAÇÕES
EXTERIORES

DEPARTAMENTO
CULTURAL

-INVENTARIO

BN

0292979-1
A.S<U 1.3_
MINISTÉRIO DA CULTURA

Fundação BIBLIOTECA NACIONAL

NACIONAL DO LIVRO
DEPARTAMENTO

POESIA SEMPRE

Revista Semestral de Poesia

Editores chefes

Affonso Romano de Sant'Anna

Márcio Souza

Editor executivo

Emanuel Brasil

Editores adjuntos

Ivan
Junqueira

Ivo Barroso

Moacyr Félix

Suzana Vargas

Thomaz Albornoz Neves

Conselho editorial

Antonio Carlos Secchin

Domício Proença Filho

Fábio Lucas

Ferreira Gullar

Marco Lucchesi

Wilson Martins

Secretaria

Sônia Gadelha

Projeto
gráfico

Victor Burton

Padronização de texto

Suzana Martins

Diagramação

Adriana Moreno

Digitação

Ronaldo Pereira Reis

Reprodução
fotográfica

Lúcia Antabi

Revisão

Bernardino C. M. Vieira
José

Osmar de Barros Teixeira


m

2 Numero 4
Ano

Rio de
Janeiro

Agosto 1994
Agradecimentos

A Fundação Biblioteca Nacional e os editores

agradecem reprodução dos seguintes em


pela
poemas

tradução:

"Sitzender

Mann" sentado")
("Homem e

"Die

Subversive"
("Subversiva"). Tradução de Curt

Meyer- Clason e Inés Koebel. Ferreira Gullar- Der

Glanz der Tage. Mit einem Nachwort von


grüne Curt

Meyer- Clason. Piper, München, Zürich, 1991.

"The

Cock" de
("O Mauro Mota. Tradução de
galo")

"National

Mark Strand;
Library" Nacional")
("Biblioteca

"Advertisement"

e
de Oswald de Andrade.
("Reclame")

Tradução de R. Longland. An anthology of


Jean

twentieth century Brazilian Edited with


poetry.

introduction by Elizabeth Bishop and Emanuel Brasil.

Wesleyan University Press, 1972.


M Á R I O
U

Ernstjandl 82
Alemã Hoje 7
Poesia Sempre e a Poesia

Sarah Kirsch 86
Heutige Deutsche
Poesia Sempre und Die

Friederike Mayrõcker
90
Lyrik 10

OskarPastior 92

Poesia 1

Peter Rühmkorf 96

em Tradução
Poesia Brasileira

Doris Runge 108

15
de Franceschi
Antonio Fernando

RorWolf 114

17
Armindo Trevisan

Willer 19
Cláudio

Ensaios

21
Ferreira Gullar

Doris Runge: Como surge um

Lisboa 23
Henriqueta

121

poema?

Mota 25
Mauro

Martins: Brasil e Alemanha,


Wilson

de Andrade 26
Oswald

Relações literárias 125

Thiago de Mello 28

no acervo da Biblioteca
Albrecht Dürer

Poesia 2

Nacional
33

Poesia Brasileira

Alexei Bueno 13 7
Poesia Alemã Hoje

Filho 142
Alphonsus de Guimaraens
Runge e Stephan Opitz 41
Seleção de Doris

César Leal 145


Ilse Aichinger 42

Lino Filho 148


44 Chico
Ingeborg Bachmann

Hilda Hilst 151


Benn 48
Gottfried

LyaLuft 154
Paul Celan 50

Konder Reis 157


Marcos
Christine Lavant 54

Moacir Amâncio 160

H. C. Artmann 56

Ronaldo Werneck 164


60
Elisabeth Borchers

Autores Inéditos
62
Durs Grünbein

André Ricardo Aguiar 167


64
Magnus Enzensberger
Hans

Carlos Tamn 169


Robert Gernhardt 74
Caiafa 171 Depoimento
Janice

Luiza Franco Moreira 173 Affonso Romano de SantAnna: Como

"A

escrevi
Catedral de Colônia" 221

Letrasul

Wie ich der Kólner dom habe


gerschrieben

Estebán
Moore 175

224

Gonzalo Rojas 176

Manuel Roca /
78
Juan
Poesia Revista

Oswaldo Sauma 179

Sérgio Alves Peixoto: Emílio Moura e a

Félix Luís Viera 180

Poesia 227

Claribel Alegria 181

Luciana Stegagno Picchio: Murilo Mendes


Luiz Bravo 184

revisitado 233
Salvador Puig 186

Vicente Gerbasi 187

Resenhas

Emilio Pacheco 188


Jose

Acordanoite,
Ricardo Kubrusly 235

Poesia Portuguesa Hoje


A
do Alcântara, Pedro
geometria professor

Adília Lopes 189


Pellegrino
236

Ana Hatherly 191 -


Anima(I)
com o Cartas de Pedra,
poema

Antônio Osório 192


Lúcio Autran 238

Eduardo Guerra Carneiro 193


As banhistas,
Carlito Azevedo 241

Fernando Pinto do Amaral 194


A vinha do desejo, Sylvio Back 243

Luiz Felipe Castro Mendes 195 Escadas improváveis,


Pedro Garcia 244

Luiz Miguel Nava 196


Língua solta, Seleção de Beth Fleury e

Paulo Teixeira 197


Celso Cunha
245
Júnior

O cerco da memória, Sérgio de Castro

Poesia Norte-Americana Hoje

Pinto 247

Lawrence Ferlinghetti 199

Pandemônio,
Geraldo Eduardo

Charles North 203

Carneiro 249

Lloyd Schwartz 204

Papéis de viagem, Luis Olavo Fontes 250

Rota de colisão, Marina Colasanti 251

VÁRIA

Saxífraga,
Cláudia Roquette-Pinto 253
Homenagem a Cecília Meireles 209

Verso e Versão

Livros Recebidos 257

Archaischer Torso Apollos", de Rainer

Colaboradores 261
Maria Rilke 215
;

Poesia Sempre e a Poesia Alemã Hoje

Hli ste número de Poesia Sempre, dedicado à alemã atual, coincide


quarto poesia com a

46a Feira Livro de Frankfurt a 10 de outubro),


do (5 onde o Brasil foi escolhido
como

país-

tema. a materialização de um diálogo entre


É, os brasileiros
e alemães.
portanto, poetas

o conceituado crítico Stephan Opitz


Convidamos e a Doris Runge
coordena-
poeta
que,

dos de Sá Cavalcante, fizeram a seleção


Mareia C. dos contemporâneos
alemães.
por poetas

Foram autores modernos conhecidos


escolhidos cinco encabeçar
a antologia:
Ilse
para

Aichinger, Ingeborg Bachmann, Gottfried Benn, Paul Celan e Christine Lavant. A seguir,

temos representando o de mais


doze significativo
há na
poetas que daquele
poesia
país

hoje: Artmann, Elisabeth Borchers, Durs


H. C. Grünbein,
Hans Magnus Enzensberger, Robert

Gernhardt, Ernst Sarah Kirsch, Friederike


Mayrõcker,
Jandl, Oskar Pastior, Peter Rühmkorf,

e Ror Wolf.
Doris Runge

traduzi-los convidamos
Para
e tradutores-poetas
poetas-tradutores como Paulo Paes,
José

Flávio Kothe, Marco Luchesi, Lya Luft, Karlos Rischbieter; ítalo Moriconi, Ivo Barroso, Mareia

C. de Sá Cavalcante, Cláudia Ahimsa, Leonardo


Fróes, Moacyr Félix e Thomaz Albornoz

Neves, têm uma comprovada


contribuição nessa
que já área. Além do ensaio de Doris

"Como

Runge surge um
um estudo do crítico
poema?", Wilson Martins analisan-
publicamos

do as relações literárias entre Alemanha


e Brasil, através da
poesia.

Continuando o diálogo entre nossa


e a de outros a seção Poesia Brasileira
poesia
países,

em Tradução traz em alemão,


italiano, francês, inglês e espanhol de Henriqueta
poemas

Lisboa, Ferreira Gullar, Oswald


de Andrade, Thiago de Mello, Cláudio Willer, Armindo

Trevisan e Antônio Fernando


de Franceschi. Essa vocação e multinacional
da
plurilíngüe

revista exemplifica-se nas seções


temos mantido e ampliado. Por exemplo,
que na seção

LetraSul, os latino-americanos
encontram, mais uma vez, o seu espaço.
poetas Aí estão o

argentino Estebán Moore,


o chileno Gonzalo Rojas, o colombiano
Manuel Roca, o
Juan

cubano Félix Luis Viera, a salvadorenha Claribel Alegria, o venezuelano


Vicente Gerbasi, o

mexicano Emílio Pacheco e os uruguaios Luiz Bravo


José e Salvador Puig.

Devido ao sucesso de Poesia Sempre número três, dedicada à norte-americana


e
poesia

lançada nas universidades de Berkeley, Stanford, Pace e Yale, abrimos, excepcionalmente,


um outro espaço a Aí está Lawrence Ferlinghetti com um
para poesia-norte-americana.

inédito cedido especialmente à Poesia Sempre, como resultado de uma visita


poema
que

nossos editores lhe fizeram na livraria de sua


City Lights, em São Francisco.
propriedade

Almino, romancista e cônsul brasileiro naquela cidade, fala desse encontro.


João Ainda na

relativa à norte-americana estão o Charles North e o Lloyd


parte poesia poeta
poeta

Schwartz, este especialista em Elizabeth Bishop e recentemente


um Prêmio
que
ganhou

Pullitzer.

Intensificando o diálogo entre a brasileira e apresentamos


oito
poesia portuguesa,
poetas

de Portugal. O Nunojúdice, em nossa-revista, indicou cinco novos


poeta já publicado
poetas

lusos: Adília Lopes, Eduardo Guerra Carneiro, Fernando Pinto do Amaral, Luiz Felipe Castro

Mendes e Paulo Teixeira, aos somamos outros nomes representativos da lírica


quais
por-

tuguesa atual: Ana Hatherly, Antônio Osório, Luiz Miguel Nava.

Na relativa à Poesia Brasileira Hoje, obedecendo ao mesmo critério de dar voz a


parte

todas as e estilos, aí encontramos Hilda Hilst e Alphonsus de Guimaraens Filho,


gerações

Marcos Konder Reis e Lya Luft, César Leal e Alexei Bueno ou Chico Lino Filho, Moacir

Amâncio e Ronaldo Werneck. E na seção de inéditos apresentamos três novos

poetas.

Na ensaística e nos depoimentos, Sérgio Alves Peixoto faz uma reavaliação da


parte
poe-

sia de Emílio Moura, companheiro de Daimmond, nunca viveu fora de Minas. Affonso
que

"A

Romano de SantAnna explica a de seu longo catedral de Colônia", inicia-


gênesis poema

do na Alemanha em 1978. Por outro lado, duas homenagens são feitas a dois
grandes

autores modernos: Murilo Mendes e Cecília Meireles. O teve este ano sua obra
primeiro

completa esgotada em três meses) Editora


(e Nova Fronteira/Aguilar e aqui é
publicada pela

apresentado Luciana Stegagno Picchio, a maior conhecedora de Murilo, com ele


por
que

conviveu durante décadas em Roma. à Cecília, este ano completam-se trinta anos de
Quanto

sua morte e várias exposições estão sendo realizadas em sua homenagem. Sua filha, a atriz

Maria Fernanda, nos cedeu textos e fotos.

No mais, desta vez a seção intitulada Verso e Versão traz um de Rainer Maria Rilke
poema

Torso Apollos") em três criativas traduções


("Archaischer de Manuel Bandeira, Ivo Barroso e

Karlos Rischbieter e nas resenhas apresentamos dez livros e dez ilustrativos de seus
poemas

autores, aumentando assim o da


se faz em nosso hoje.
panorama poesia que país

O número três de Poesia Sempre, a exemplo dos anteriores, foi lançado em várias cidades

brasileiras e no exterior. No Rio de com o do Consulado dos Estados


Janeiro,
patrocínio

Unidos foi realizado um diálogo eletrônico, via satélite, entre os do corpo editorial da
poetas
Poesia Sempre e a Poesia Alemã Hoje
/ 9

revista e o Mark Strand, fez a seleção dos norte-americanos


poeta que aquele
poetas
para

número. A conversa, teve duração de hora e meia, e foi mostrado um vídeo


gravada, onde

Mark lê americanos e dirige uma mensagem


Strand aos
brasileiros. Na
poetas
poetas

Biblioteca Nacional, no Rio de e em Brasília, no Itamaraty, a revista foi


Janeiro, lançada em

os de Poesia Sempre número


cerimônias em três foram lidos em inglês, francês,
que poemas

espanhol. O mesmo ocorreu no Centro de Estudos


e Brasileiros na Colômbia,
português

Arte Contemporânea, de Caracas, e na


Bogotá, no Museu dê embaixada brasileira
em São

naquelas universidades
da Costa Rica, e, naturalmente, norte-americanas
quatro men-
José

cionadas anteriormente.

dedicado à Alemanha, traz


Este número ilustrações
da obra de
quatro, já que preciosas

Dürer, ao acervo da Biblioteca


Hans Staden e de Albrecht Nacional.
pertencentes

Sempre, dedicado à França


O número cinco de Poesia está em elaboração
e sairá ainda

este ano.
10 Poesia Sempre
)

Poesia Sempre and Die Hentige Deutsche


Lyrik

]—) ie vorliegende vierte Nummer der Zeitschrift Poesia Sempre ist der deutschen Lyrik

und erscheint zur 46. Frankfurter Buchmesse


Oktober 1994), bei
gewidmet (5.-10. der

Brasilien ais Schwerpunktthema ausersehen wurde. Sie stellt einen konkreten Dialog zwis-

chen brasilianischen und deutschen Lyrikern dar.

Der Literaturkritiker Stephan Optiz und die Lyrikerin Doris Runge wurden
eine
gebeten,

Auswahl an zeitgenõssischer deutscher Lyrik zu treffen, die von Mareia C. de Sá Cavalcante

koordiniert wurde. Fünf bekannte moderne Autoren wurden zur Einstimmung ausgewãhlt:

Ilse Aichinger, Ingeborg Bachmann, Gottfried Benn, Paul Celan und Christine Lavant. Daran

ansehlielâend werden einige der bekanntesten Lyriker Deutschlands vorgestellt: H.C.

Artmann, Elisabeth Borchers, Durs Grünbein, Hans Magnus Enzensberger, Robert

Gernhardt, Ernst Sarah Kirsch, Friederike Mayrõcker,


Jandl, Oskar Pastior, Peter Rühmkorf,

Doris Runge und Ror Wolf.

Für die Übersetzung der Gedichte konnten erfahrene Übersetzer und Lyriker wie
José

Paulo Paes, Flávio Kothe, Marco Luchesi, Lya Luft, Karlos Rischbieter, ítalo Moriconi, Ivo

Barroso, Mareia C. de Sá Cavalcante, Cláudia Ahimsa, Leonardo Fróes, Moacyr Félix und

Thomaz Albornoz Neves werden. AuíSer Doris Runges Aufsatz, Wie entsteht ein
gewonnen

Gedicht?, bringen wir eine Untersuchung des Literaturwissenschaftlers und Kritikers Wilson

Martins, der die literarischen Beziehungen zwischen Deutschland und Brasilien anhand der

Lyrik untersucht.

Zur Fortsetzung des Dialogs zwischen der brasilianischen Lyrik und der anderer Lánder

"Brasilianische

bringt der Teil


Lyrik in Übersetzungen" Gedichte von Henriqueta Lisboa,

Ferreira Gullar, Oswald de Andrade, Thiago de Mello, Cláudio Willer, Armindo Trevisan und

Antônio Fernando de Franceschi auf Deutsch, Italienisch,


Franzòsisch, Englisch und

Spanisch.. Diese mehrsprachige und übernationale


Ausrichtung der Zeitschrift zeigt sich

auch in anderen Bereichen, die wir eingerichtet


und weitergeführt haben. Zum Beispiel

"LetraSul'

wurden in Parallele zu Mercosul)


(in wieder lateinamerikanische Lyriker miteinbe-

zogen: der Argentinier Estebán Moore, der Chilene Gonzalo Rojas, der Kolumbianer
Juan

Manuel Roca, der Kubaner Félix Luiz Viera,


Claribel Alegria aus el Salvador, der
Poesia Sempre und Die Heutige Deutsche Lyrik / 11

der Mexikaner Emílio Pacheco und die Uruguayer Luiz


Venezuelaner Vicente Gerbasi,
José

Bravo und Salvador Puig.

Erfolges der Nummer drei von Poesia Sempre, die der nordamerikanischen
Aufgrund des

und die in den Universitãten von Berkeley, Stanford, Pace und Yale
Lyrik war
gewidmet

haben wir der nordamerikanischen Lyrik einen weiteren Band


vorgestellt wurde,
gewidmet.

Ferlinghetti nach einem Besuch, den ihm die Herausgeber


Hierfür hat Lawrence der

"City

in seiner Buchhandlung Lights" in São Francisco abstatteten, ein unverõf-


Zeitschrift

fentliches Gedicht spezieil Poesia Sempre Der Romanschriftsteller und brasilianis-


gewidmet.

che Konsul in São Francisco, Almino,berichtet über diese Begegnung. Ebenfalls wur-
João

den dort Gedichte von Charles North und Lloyd Schwartz verõffentlicht. Der letztere, ein

Spezialist des Werkes Elizabeth Bishops, erhielt kürzlich den Pullitzer Preis.

Zur Intensivierung des Dialogs zwischen der brasilianischen und Lyrik


portugiesischen

werden acht Lyriker aus Portugal vorgestellt. Der Lyriker Nuno von dem bereits
Júdice,

einige in unserer Zeitschrift verõffentlicht wurden, die Hinweise auf neue


Gedichte
gab por-

tugiesische Lyriker: Adília Lopes, Eduardo Guerra Carneiro, Fernando Pinto do Amaral, Luiz

Felipe Castro Mendes, und Paulo Teixeira, zu denen wir weitere reprãsentative, zeitgenõssis-

che Lyriker hinzufügten: Ana Flatherly, Antônio Osório und Luiz Miguel
portugiesische

Nava.

"Brasilianischen

In dem der Lyrik von heute" Teil, in dem alie Altersstufen


gewidmeten

und Stile der Autoren zu Wort kommen man von Hilda Hilst und
sollen, findet Gedichte

Alphonsus de Guimaraens Filho, Marcos Konder Reis und Lya Luft, César Leal und Alexei

Bueno oder Chico Lino Filho, Moacir Amâncio und Ronaldo Werneck. Unter der Sektion

"Unverõffentliches"

werden drei neue Lyriker vorgestellt.

Im Bereich der Essays beurteilt Sérgio Alves Peixoto mit neuen Kriterien die Lyrik Emílio

Mouras, de Andrade, der nie aulãerhalb des Bundesstaates


des Freundes von Drummond

Minas Romano de SantAnna erlãutert die Entstehung seines


Gerais hatte. Affonso

gelebt

"Der

Prosagedichtes Kõlner Dom", das er 1978 in Kõln begonnen hatte. Zwei weitere

Autoren Murilo Mendes und


Beitrãge sind zwei modernen brasilianischen
gewidmet,
grolSen

Murilo Mendes' wurde in diesem von dem Verlag


Cecília Meireles. Das Gesamtwerk
Jahr

verõffentlicht war in drei Monaten vergriffen). Es wird von


Nova Fronteira/Aguilar (und

der besten Kennerin des Werkes von Murilo Mendes vorgestellt,


Luciana Stegagno Picchio,

wãhrencl seines Aufenthalts in Rom befreundet war. In


die mit dem Autor
jahrzehntelang

Todestag Cecília Meireles' vor dreifêig mit verschiedenen


diesem wird an den
Jahren
Jahr
12 Poesia Sempre

Ausstellungen erinnert. Ihre Tochter, die Schauspielerin Maria Fernanda, stellte Texte und

Fotos der Autorin zur Verfügung.

'

Darüberhinaus
bringt der Teil Verso e Versão"
und Version) ein
(Vers Gedicht von

"Archaischer

Rainer Maria Rilke,


Torso Apollos", in drei nachschõpfenden
Übersetzungen

von Manuel Bandeira, Ivo Barroso und Karlos Rischbieter.


In den Rezensionen stellen wir

zehn Bücher mit zehn beispielhaften Gedichten der


Autoren vor, womit das
jeweiligen

Panorama der heutigen Lyrik in Brasilien erweitert werden soll.

Nummer drei von Poesia Sempre wurde wie die vorherigen


Nummern in verschiedenen

brasilianischen
Stãdten und im Ausland vorgestellt. In Rio de wurde mit Hilfe des
Janeiro

Konsulats der Vereinigten Staaten von Amerika ein elektronischer


Dialog, via Satellit, zwis-

chen den Herausgebern der Zeitschrift und dem Lyriker Mark Strand hergestellt, der die

Auswahl an nordamerikanischen
Gedichten für diese Nummer
hatte. Wãhrend
getroffen

dieser eineinhalbstiindigen
Unterhaltung,
die aufgezeichnet wurde, zeigte Mark Strand ein

Video, in dem er amerikanische


Gedichte liest und eine Botschaft an die brasilianischen

Lyriker richtet. In der Nationalbibliothek


in Rio de und im Auiãenministerium in
Janeiro

Brasília wurde die Zeitschrift mit einer Feier vorgestellt,


bei der Gedichte aus der Nummer

drei von Poesia Sempre auf Englisch, Franzõsisch,


Portugiesisch
und Spanisch wur-
gelesen

den. Ebenso fanden Veranstaltungen im Zentrum für Brasilianische


Studien in Kolombien, in

Bogotá, und im Museum für Zeitgenossische Kunst in Caracas, in der Brasilianischen

Botschaft in São in Costa Rica und in den bereits erwãhnten


José vier amerikanischen

Universitáten statt.

Die vorliegende, der deutschen Lyrik Nummer vier von Poesia Sempre bringt
gewidmete

einige wertvolle Illustrationen von Hans Stadens Reisebericht,


Warhaftig Historia vnd

beschreibung eyner Landtschafft der Wilden/ Nacketen/ Grimmigen Menschenfressen


,

Leuthen/ in der Newenwelt America


[Marburg 1557] und Kupferstiche von
gelegen...

Albrecht Dürer, die zu den kostbarsten Bestànden der Nationalbibliothek


von Rio de
Janeiro

gehõren.

Die Nummer fünf von Poesia Sempre, die bereits vorbereitet wird, ist der franzõsischen

Lyrik und soll noch in diesem erscheinen.


gewidmet
Jahr

Übersetzung von Ingrid Schwamborn


POESIA 1

li \
Hans Staden

Ilustração de Hans Staden a sua obra:


para

Warhaftig Historia und beschreibung eyner Landtschafft

der Wilden
/Nacketen / Grimmigen Menschenfressen Leuthen

/ in der Newenwelt America 1557]


[Marburg,
gelegen
OESIA BRASILEIRA EM TRADUÇÃO

Antonio
Fernando de Franceschi

Tarantola

("Tarântula)

...
cama batalla...
de campo campo de
y

Góngora

sensoria
tela ti cattura falena

se irrompi
distratta dal fogliame

nella
fredda letto
architettura dei tuo

ti
ad angolo la fragile antenna
piego

clausura ti sono e non uscita


perché

ben ferma aH'interrotta fuga


porta

ti abito
ordito da un filo Ellèna

cosi
e se il timore chiama
parca
poca

un nulla
la trama
quasi per placar

e
dura ti rendo intanto la
piú pena

se infinita:
cedo infine alPusura

spezzarti e non toglierti la vita.


le ali

Traduzione de Márcia Theóphilo


Ricercare
("Ricercare")

d ogni onda

ripetutamente

resiste al maré

la

pietra

al mare

che nelle sue tempeste

le rapisce

tanto
piccola parte

ma nel suo modo

sempre infinito

e rinnovato

che dopo ère

di interezza

la dura roccia

cede

e cosi torna

disfatta infine,

alia sua bianca


polvere

che è sabbia

Traduzione de Márcia Theõphilo


Brasileira em Tradução
Poesia

Armindo Trevisan

Dylan Thomas
Kehle von
Ein vogel in der

')

de Dylan Thomas
na
("Um
garganta
pássaro

ein Tier
J[n allen Tieren

befühlt die Auferstehung


das Fleisch

von sich. Der Geist


und speit sie

vollkommen untergegangen will Traube,

Kralle was du aus der Muschel trinkst.


und

Allein, in allen Tieren GOTT

bereitet Rache

ais wãre er DAS TIER

seinen Schultern
und trüge auf

die Last der Adern.

Hak
Übersetzt von Robert

i
Poesia Sempre

Dialog
("Diálogo")

Vater oder Kiefern


ein
M.

Zorn-
am Rand Sonnengang

keule

Eisen Helle
von
ein Geschmack

Uhrenklang
des Lebens unterwegs

Atem nach

der den Stier


Hochzeit Bach
der

verstand er daíã
Vater nie
wusch mein

waren und
eignes Gegenteil
wir unser

Welt
auf derselben
wandelten

in der Furcht
und uns umarmten
zufãllig

dem Tod
derer die nach

die Liebe lernen

die eine
gefiederte

ihnen verweigert.
Welt

Robert Hak
Übersatzt von
Poesia Brasileira
Tradução
T 19

Cláudio Willer

Une Fois de Plus uma vez")


("Mais

e sombre dans 1'amour

avec une conviction aveugle et suicidaire

à m'enfonce
pas pas je

dans cette région mystérieuse

trouble

opaque

ouverte sous la rencontre des corps

et sens une harmonie nouvelle dans les choses


je

cette des objets

placide permanence

devenus de souvenances
porteurs

le monde devenu souvenir de

présence

le réel bavarde en devenant


mémoire
qui

tout est signe et connivence

1'espace une extension du

geste

les choses

matière d'évocation

chose frémit au coeur de la nuit


quelque

tel une flüte en mélodie

et la ville se tord et se retire

Une Fois de Plus

en s'ouvrant à ce turbulent silence

oeil contre oeil

contre
peau
peau

sexe sur sexe

Traduction de Rafael Lucas


20 Poesia Sempre

Visi teu rs
("Visitantes")

fl otre espace

est 1'espace du terrible

maréca

ges

balayés la tiédeur brülante des vents


par

traversant le chant des roseaux

et la nuit définitive et
le cri

pétrifié

lentement
pénétrons

dans ce de refus
jardin

oú le mot cherche 1'espace

il n'y a signe de vie


plus grand

sur la face de cette


planète

a-t-il un lieu
peut-être y

oü l'on entend encore le souffle du vent dans les arbres

des voix lointaines emplissant les vallées

des aboiements sur un versant de montagne


perdu

devenons

plante

racine

ou minerai brut

nous soit de
pour qu'il possible parler

Nous Survivrons

Traduction de Rafael Lucas


Poesia Brasileira em Tradução

Ferreira Gullar

Mann sentado")
Sitzender
CHomem

In diesem Sofa zurückgelehnt

nachmittags

in einem Winkel des Sonnensystems

in Buenos Aires

Gedãrme im Bauch
(die

die Beine
gefaltet,

über dem Leib)

das Wohnzimmerfenster
sehe ich durch
grolSe

einen Teil der Stadt:

ich bin hier

nur auf mich selbst


gestellt

auf hageren Kõrper Gemisch


diesen meinen

aus Nerven und Knochen

ich lebe

bei einer Temperatur von einhalb


36 Grad

und erinnere an Piíanzen


grüne

die schon sind


gestorben

fíbersetzt von Meyer-Clason und Inés Koebel


Curt
Die Subversive
("Subversiva")

D, Dichtung

wenn sie kommt

respektiert nichts.

Weder Vater noch Mutter.

Wenn sie aus irgendeinem

ihrer Abgründe kommt

ignoriert sie den Staat und die bürgerliche Gesellschaft

sie miíâachtet die Wassergesetze

sie wiehert

wie eine
junge

Hure

vor dem Palast der Morgenrõte.

Und erst dann

besinnt sie sich eines besseren: sie küíât

die Augen derer die schlecht verdienen

wiegt im Arm die

welche nach Glück dürsten

und nach Gerechtigkeit

Und verspricht das Land in Brand zu setzen

Übersetzt von Curt Meyer-Clason und Inés Koebel


Poesia Brasileira em Tradução

Henriqueta Lisboa

Ein Dicbter Krieg esteve na


war im
("Um
poeta guerra")

77

I -i
in Dichter war im Krieg

Tag für Tag, für lange


Jahre,

Nahm teil am Chãos,

am Betrug, am Hunger.

Ein Dichter war im Krieg.

Im Schnee und unter Kugeln

begegnete
er Welten und Menschen.

Menschen
die tõteten und Menschen

die bloíâ starben.

Ein Dichter war im Krieg

wie andere, tõtend.

jeder

Um den Krieg zu beschreiben,

konnte er nur weinen.

Übersetzt Blanca Lobo Filho


von
24 Poesia Sempre

Fidélité
("Fidelidade")

encore et toujours
.ZjL
présent

1'amour complaisant.

De de face,
profil,

vivant éternellement.

Et absent
quand plus

à chaque moment

d'autant
plus présent

le temps fuit

que

à l'âme consent
qui

dans le silence
plus grand

à le dans
garder

une ardente
pénombre

sans oubli, à
jamais,

toujours

pour

douloureusement.

Traduction de Vera Conradt


Poesia Brasileira em Tradução

Mauro Mota

The cock
("O
galo")

black night, the crimson cock,


It is the

industrial dawn.
it is the

black night over the


It is the world,

crimson cock behind the


the house.

The night descends, the cock arises,

of fire and metal


plumes

burst forth one after the other

in the immeasurable dark.

The cock sharpens his spurs and beak

and sings his aurorai song.

The cock ignites himself and brings about

the dawn behind the house.

Translated by Mark Strand


26 Poesia Sempre
)

Oswald de Andrade

National Library Nacional")


("Biblioteca

Th
JL he Abandoned Child

Doctor Coppelius

Let Us Go With Him

Miss Spring

Brazilian Code of Civil Law

How to Win the Lottery

Public Speaking for Everyone

The Pole in Flames

Translated by R. Longland
Jean
Poesia Brasileira em Tradução

Advertisement ("Reclame")

actress
Says the dainty

Leg
Margaret Piano

P
-
what a splendid lotion
retty tint

the complement
I consider
prettytint

feminine toilette
of woman's

its agreeable odor


for

and as a tonic for the boyish bob

-
Ali women deal with Mr. Fagundes

sole distributor

in the United States of Brazil

Translated by R. Longland
jean
28 Poesia S e m e
)
p<r

Thiago de Mello

Lãndliches Morgengrauen

camponesa")
("Madrugada

Tj
ãndliches Morgengrauen,

noch dunkel die Erde,

aber es wartet die Saat.

Tiefer schon war die Nacht,

bald wird es Tag.

Nicht mehr zãhlt das Lied

aus Angst und Schein,

das Einsamkeit verhüllt.

zãhlt die Wahrheit,


Jetzt

einfach und immer

gesungen.

zãhlt die Freude,


Jetzt

tãglich aufs neue errungen,

mit Brot und Gesang


gefüllt.

Bald, so spür'ich in der Luft,

wird der Weizen reifen,

und die Zeit der Ernte ruft.

Wunder schon um sich


greifen,

im Mais ein blauer Regen fãllt,

die Bohne ihre Blüte sprengt,

und in der Ferne neue Milch

aus meinen Kautschukbãumen


quillt.
Zeit der Liebe.
Schon naht die

hebe empor
Ich ernte und

der Erde brennt.


eine Sonne, die in

ich im Zuckerrohr
Das Licht

pflüge

seinem Triebe.
und meine Seele in

Lándliches Morgengrauen,

dunkel, aber
noch ist es
gering,

Arbeit, sie lohnt.


die Mühe der

aber ich singe,


Noch ist es dunkel,

weil der Tag bald kommt.

Wendt
Übersetzt von Katherine
Poesia Sempre
30 ?

da manhã")
Noticia de la manana
("Notícia

Y
JL o sé todos la víeron
que

la olvidarán.
y jamás

Pero es alguno,
posible que

denso de noche, estuviese

dormido.
profundamente

-
Y a los dormidos también

a los estaban muy lejos


que

no llegar,
y pudieron

a los estando muy cerca


que

sín veria,

permanecieron

al moribundo en su catre

-
al ciego de corazón
y

a todos los no la vieron


que

describiré esta manana

-
mafiana, cielo vertido,

-
cristal de la claridad

reinando de este a oeste,

monte a mar en la urbe.


de

dentro de esta manana


Pues

voy caminando. Y me voy

tan como un nino


gozoso

me lleva de la mano.
que

No tengo ni trazo rumbo:

me da el rumbo la manana,

soy llevado el nino


por

conoce los caminos,


(él

los mundos, mejor


que yo).
em Tradução
Poesia Brasileira

Amorosa transparente
y

es la sagrada manana

el cielo entero derrama

que

sobre Ias casas, los campos,

el mar.
sobre los hombres
y

Y su dulce claridad

se esparció mansamente
ya

sobre todos los dolores.

Lavó la ciudad. Ahora

va lavando corazones

el mio
el dei nino, sino
(no

lleno aún de oscuridad).

Manana tan verdadera

mananas
ha llamado otras

que

existen
siempre radiantes
que

tarde
a veces despuntan
(que

o no despuntan
jamás)

la cosas:
dentro dei hombre
y

ropa,
en los cordeles con

llegan,
en los navios
que

en la iglesia,
la torre de

en de los
el
pescadores,
pregón

los obreros,
de
en la sierra circular

de la nina
en los ojos tan bellos
que pasa.

en Ias
La en el suelo,
manana está palmeras,

está en suburbanos,
los muertos

está centrales,
en Ias avenidas

los rascacielos.
está en Ias terrazas de

en el nino,
(Hay mucha mafiana

mucha, en mi.)
hay un
y poco
Poesia
32 ) Sempre

La belleza mensajera

de esta radiante manana

no se resguardo en el cielo

ni se en el espacio,
paró

hecha de sol de viento


y

sobrepasó la ciudad.

No: la manana se dio al


pueblo.

La manana es
general.

Y de la manana
pronto

-
manana, cielo vertido,

-
de claridad, claridad

fue cambiando la ciudad.

en en inmensa
plaza,
plaza,

dentro de la el
plaza pueblo,

el entero cantando
pueblo

adentro dei nino


el
y pueblo

me lleva de la mano.
que

Traducción
de Pablo Neruda
Albrecht D u r

>rvo

da Biblioteca Nacic

Albrecht Dürer, egravador,


pintor

nasceu em Nnremberg, em 1471,

e ali em 1528.
faleceu

Esse admirável artista legou-nos uma

obra após séculos,


que, quatro

ainda realizar da maneira mais


parece

completa o misticismo, as aspirações

e ideaisda alma alemã.

As aqui reproduzimos
gravuras que

do aceivo de
fazem parte precioso

200
de Dürer da
gravuras

Fundação Biblioteca Nacional.


Ecce Hommo.

-
1512 buril
Santo Antào Eremita
o

-
/
519 buril
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O Cavaleiro, a Morte e o Diabo.

-
1513 buril

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Erasmo de Rotterdam.

-
1526 buril
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4l jJjM^'•"'/:

Pilatos lavando as mãos.

-
75.72 buril
São engulindo o livro o anjo lhe apresenta.
João que

1498.
provavelmente
Combate de São Miguel contra o dragão.

1497
provavelmente
p
ALEMA HOJE
JL OESIA

Doeis Runge e Stephan Opitz


Seleção de

X t o começo

de de musicais, encontra-
de uma coletânea, seja de
da composição
poemas, quadros, peças

evidencia o tipo de esforço acarreta.


se a escolha. Essa observação trivial
que

algum, ser completa. E, não soar como


não de modo
A coletânea
para
presente pretende,

uma vez cumpri-la implicaria


deve-se dizer ela evita essa
falsa modéstia,
que pretensão que

em deslizar no arbítrio da totalidade.

de língua alemã deve, não apenas, ser transmitida


De se trata? A contemporânea
que poesia

mostrar-se o da leitura. É sabido


tradução o leitor brasileiro como deve
em
para prazer
para

comporta dificuldades especí-


a tradução uma conjuntura
possui particular, que
que poética

também essas a seleção evitou


ficas frente a outras traduções. Considerando-se
questões,

onomatopaicos, estes não


demasiadamente sonoros, textos com longos trechos
pois
poemas

tão bem ao exercício.


se
prestariam presente

introduzem, com seus esse volume:


seguidores das linhas
Os fundadores e/ou
grandes poemas,

Gottfried Benn, Paul Celan, Christine Lavant. Não


Ingeborg Bachmann,
Ilse Aichinger,

desconhecida neste círculo ela acaba de ser


Christine Lavant seja ainda
obstante

imagens, a sua artesanal e o


Thomas Bernhard a força de suas
redescoberta
precisão
por

mais um, ao lado dos


lírica tornarão claro, o leitor, ela não é apenas
fogo de sua
para que

esse de cinco segundo a figu-


constituem o Deve-se conceber
outros
grupo. grupo
quatro que

ração de um baixo contínuo na música


patifônica.

apresentadas no corpo
a seleção das doze vozes contemporâneas,
Os critérios
para poéticas

não se trata de nem de


resumem-se na seguinte observação:
poesia política poesia
principal,

vez mais abundante) e nem de


feminista, não se trata de escolha bem-intensionada
(cada

do instrumento artesanal, o
formulada com elegância. Força da imagem, domínio

gravidade

Lavant, esses, os dessa


som e fogo e, Christine
do
parâmetros
próprio poético, portanto,

seleção.
pequena

Os selecionadores
Ilse Aichinger

Verfrüht

legst mir keinen Stein hin,


D,

um unsere alte Trauer zu erhõhen,

mir kein Licht zum Fürchten

gibst

und keine Furcht, damit es heller wird,

und nicht einmal den Fetzen Schwermut,

den Stem verlangt.

jeder

Du treibst um deinen Findling

und ich habe die Wachsfrãulein

noch immer nicht


gefunden,

die stiller sind

ais in der Krippe,


Jesus

-
noch nicht.
Antecipado

JL u não depositas mim alguma


para pedra

enalteça o nosso antigo luto,


que

não me dás nenhuma luz o medo


para

e nenhum medo através do venha claridade,


qual

e nem ao menos da melancolia


pedaços

toda estrela exige.


que

Tu te moves da tua dimensão rejeitada


em torno

e eu ainda não consegui achar

as senhoritas de cera

bem mais de
plenas quietude

na manjedoura.
que Jesus

Ainda não.

Tradução Moacyr Félix e Birgitta Lagerblad


de
44 Poesia Sempre
J

Ingeborg Bachmann

Erklãr mir, Liebe

JL—' ein Hut lüftet sich leis, schwebt im Wind,


grülãt,

dein unbedeckter Kopf hat's Wolken angetan,

dein Herz hat anderswo zu tun,

dein Mund verleibt sich neue Sprachen ein,

das Zittergras im Land nimmt überhand,

Sternblumen blãst der Sommer an und aus,

von Flocken blind erhebst du dein Gesicht,

du lacbrst und weinst und an dir zugrund,


gehst

-
was soll dir noch

geschehen

Erklãr mir, Liebe!

Der Pfau, in feierlichem Staunen, schlãgt sein Rad,

die Taube stellt den Federkragen hoch,

vom Gurren überfüllt, dehnt Luft,


sich die

der Entrich schreit, vom wilden nimmt


Honig

das Land, auch im Park


ganze gesetzten

hat Beet ein Staub umsãumt.


jedes goldner

Der Fisch errõtet, iiberholt den Schwarm

und stürzt durch Grotten ins Korallenbett.

Zur Silbersandmusik tanzt scheu der Skorpion.

Der Kãfer riecht die Herrlichste von weit;

hátt ich nur seinen Sinn, ich fühlte auch,

daíS Flügel unter ihrem Panzer schimmern,

und náhm den Weg zum fernen Erdbeerstrauch!

Erklãr mir, Liebe!


Explica-me,
amor

T
-L iras,
devagar o teu chapéu; ele saúda, flutua no vento

tua
cabeça
descoberta encanta as nuvens,

teu coração
tem afazeres em outro lugar,

tua
boca
absorve novas línguas,

na terra
o treme-treme

predomina,

a flor-estrela
é soprada verão,
pelo

cegada
flores ergues teu rosto,
pelas

ris
e choras
e sucumbes em ti mesmo;

o -
mais
que acontecer-te
poderá

Explica-me,
amor!

O
com solene assombro, roda suas
pavão,
plumas,

a
ergue sua de
pomba
gola penugem,

de arrulho,
pleno o ar se expande,

a terra toda suga o mel selvagem,


pato
grasna,

e também
no comedido
parque

todo
canteiro
é rodeado dourada.

por poeira

O
enrubesce, ultrapassa o cardume,
peixe

e se
ao leito de corais.
precipita
por grutas

Tímido
dança o escorpião ao som da música
prateada.

O
besouro
sente a Maravilhosa de longe;

se
eu
tivesse
seu sentido, também sentiria

asas
que brilham sob sua couraça,

e
caminharia
um de morango, lá longe!
para pé

Explica-me,

amor!
46 Poesia Sempre
1

Wasser weifô zu reden,

die Welle an der Hand,


die Welle nimmt

Traube, springt und fãllt.


im Weinberg schwillt die

aus dem Haus!


So arglos tritt die Schnecke

andem zu erweichen!
Ein Stein weifi einen

was ich nicht erklãren kann:


Erklar mir, Liebe,

kurze schauerliche Zeit


sollt ich die

mit Gedanken Umgang haben und allein


nur

kennen und nichts Liebes tun?


nichts Liebes

Wird er nicht vermilât?


Mulã einer denken?

Geist auf ihn...


Du sagst? es záhlt ein andrer

nichts. Ich seh den Salamander


Erklar mir

durch Feuer

jedes gehen.

ihn, und es schmerzt ihn nichts.


Kein Schauer
jagt
A água sabe falar,

mão,
a onda a onda
pela
pega

salta e cai.
se expande,
na vinha o bago

deixa sua casca!


Tão o caracol
sem temor

amolecer!
sabe como outra
Uma
pedra
pedra

não explicar:
Explica-me, amor, o
que posso

terrível tempo,
devo neste curto e
eu,

e, sozinho,
lidar apenas com
pensamentos

bem algum?
e não fazer
nada do amor
conhecer

sua falta?
Não se sentirá
Alguém deve
pensar?

conta com ele...


Tu dizes: outro espírito
um

nada Eu vejo a salamandra


me expliques.

os fogos.
todos
passar por

e nada lhe dói.


Nenhum temor o
persegue

Tradução Karlos Rischbieter


de
Gottfried Benn

Satzbau

x JL lie haben den Himmel, die Liebe und das Grab,

damit wollen wir uns nicht befassen,

das ist für den Kulturkreis besprochen und durchgearbeitet.

Was aber neu ist, ist die Frage nach dem Satzbau

und die ist dringend:

warum drücken wir etwas aus?

Warum reimen wir oder zeichnen ein Mãdchen

direkt oder ais Spiegelbild

oder stricheln auf eine Handbreit Büttenpapier

unzãhlige Pflanzen, Baumkronen, Mauern,

letztere ais dicke Raupen mit Schildkrõtenkopf

sich unheimlich niedrig hinziehend

in bestimmter Anordnung?

Überwãltigend unbeantwortbar!

Honoraraussicht ist es nicht,)

viele verhungern darüber. Nein,

es ist ein Antrieb in der Hand,

ferngesteuert, eine Gehimlage,

vielleicht ein verspãteter Heilbringer oder Totemtier,

auf Kosten des Inhalts ein formaler Priapismus,

er wird vorübergehn,

aber heute ist der Satzbau

das Primãre.

-
-
Die wenigen, die was davon erkannt
(Goethe)

wovon eigentlich?

Ich nehme an: vom Satzbau.


Construção da

frase

-L odos o céu, o amor e a tumba,

possuem

disso não nos ocupar,


queremos

isto culta discutido e repassado.


foi a
já para gente

Mas da construção da frase


o é novo, é a
que questão

e ela é urgente:

exprimimos alguma coisa?


por que

Por rimamos ou desenhamos uma moça

que

direto ou como reflexo

ou traçamos sobre um de manteiga

palmo papel

inúmeras de árvores, muralhas,


copas
plantas,

as lagartas de cabeça de tartaruga


últimas como
gordas

estendendo-se rentes temíveis

em ordenamento
preciso?

Imponente sem resposta!

Não se trata de honorários,

muitos com isso morrem famintos. Não,

é um impulso na mão,

teleguiado, uma condição do cérebro,

talvez um salvador tardio ou animal totêmico,

um formal ao custo do conteúdo,

priapismo

ele vai
passar,

mas hoje a construção da frase

é o
primordial.

"Os

-
entenderam disto"
(Goethe)
poucos que

do
efetivamente?
que,

Eu suponho: da frase.
da construção

Tradução
de ítalo Moriconi
50 Poesia Sempre

Paul Celan

Todesfuge

chwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends

wir trinken sie mittags und morgens wir trinken


sie nachts

wir trinken und trinken

wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng

Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt

der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland Haar


dein Margarete
goldenes

er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen Sterne er


die seine Rüden herbei
pfeift

er seine hervor lãJSt schaufeln ein Grab in der Erde


pfeift Juden

er befiehlt uns spielt auf nun zun Tanz.

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts

wir trinken dich morgens wir trinken


und mittags dich abends

wir trinken und trinken

Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen


der schreibt

der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland


dein Haar Margarete
goldenes

Dein aschenes Haar Sulamith wir schaufeln


ein Grab in Lüften da liegt man
den nicht
eng

Er ruft stecht tiefer ins Erdreich ihr einen ihr andem singet und spielt

er nach dem Eisen im Gurt er schwingts


seine Augen sind blau
greift

stecht tiefer die Spaten ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf

Schwarze Milch der Frühe wir dich


trinken nachts

wir trinken dich mittags und morgens wir trinken dich abends

wir trinken und trinken

ein Mann wohnt im Haus dein Haar Margarete


goldenes

dein aschenes Haar Sulamith er spielt mit den Schlangen


Alemã Hoje
Poesia

da morte
A

fuga

/> à tarde
negro da manhã nós o bebemos
eite

nós o bebemos à noite


meio-dia e manhã
nós o bebemos ao
pela

nós bebemos e bebemos

não se deita no estreito


túmulo nos ares aí
nós removemos um

a serpente escreve
um homem toca
Na casa mora
que que

cabelo dourado Margarete


a Alemanha teu
escreve escurece
quando para
que

seu fila num silvo


raiam as estrelas ele aproxima
diante da casa e
ele o escreve e aparece

um túmulo na terra
num silvo deixa remover
ele expulsa seus
judeus

ele nos obriga a tocar a dança

bebemos à noite
Leite manhã nós te
negro da

meio-dia nós te bebemos à tarde


manhã e ao
nós te bebemos
pela

nós bebemos e bebemos

toca a serpente escreve


Na mora um homem
casa
que que

teu cabelo dourado Margarete


escurece a Alemanha
escreve
quando para
que

nos ares aí não se deita


nós removemos um túmulo
Teu cabelo cinzento Sulamita

no estreito

de vós ao canto e toque


fundo na terra um e outro
Ele chama degola

olhos são azulados


cinto ele a ciranda seus
ele segura a sucata no

segue tocando a dança


um e outro de vós
degola fundo as
pás

te bebemos à noite
Leite negro da manhã nós

manhã nós te bebemos à tarde


nós te ao meio-dia e
bebemos
pela

nós bebemos e bebemos

na casa teu cabelo dourado Margarete


mora um homem

teu cabelo ele toca a serpente


cinzento Sulamita
52 Poesia Sempre

Er ruít spielt sülãer den Tod der Tod ist ein Meister aus Deutschland

er ruft streicht dunkler die Geigen dann steigt ihr ais Rauch in die Luít

dann habt ihr ein Grab in den Wolken da liegt man nicht eng

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts

wir trinken dich mittags der Tod ist ein Meister aus Deutschland

wir trinken dich abends und morgens wir trinken und trinken

der Tod ist ein Meister aus Deutschland sein Aug ist blau

er trifft dich mit bleierner Kugel er trifft dich

genau

ein Mann wohnt im Haus dein Haar Margarete


goldenes

er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt ein Grab in der Luft
uns

er spielt mit den Schlangen und trãumet der Tod ist ein Meister aus Deutschland

dein Haar Margarete


goldenes

dein aschenes Haar Sulamith


Poesia Alemã Hoje

doçura a morte é um mestre da Alemanha


toca a morte com
Ele chama

os violinos vos elevam como fumaça no ar


mais escuro e
ele chama alisa

aí não se deita no estreito


nas nuvens
e tendes um túmulo

nós te bebemos à noite


Leite negro da manhã

é um mestre da Alemanha
ao meio-dia a morte
nós te bebemos

manhã nós bebemos e bebemos


à tarde e
nós te bebemos
pela

da Alemanha seu olho é azulado


a morte é um mestre

ele nunca te acerta errado


com esfera de chumbo
ele te acerta

teu cabelo dourado Margarete


na casa mora um homem

nos oferece um túmulo no ar


sobre nós os seus filas ele
ele açula

a morte é um mestre da Alemanha


ele toca a serpente e sonha

teu cabelo dourado Margarete

teu cabelo cinzento Sulamita

C. de Sã Cavalcante
Tradução Mareia
Poesia Sempre
54

Christine Lavant

will vom Leiden endlich alies wissen!


Zch

Zerschlag den Glassturz der Ergebeneheit

und nimm den Schatten meines Engels fort.

Dort will ich hin, wo deine Hand verdorrt,

ins Hirn der Irren, in die Grausamkeit

verkümmerter Herzen, die vom Zorn


gebissen

sich selbst zerfetzen, um die tolle Wut

hineinzustreuen in das Blut der Welt.

Mein Engel er trãgt das Gnadenzelt


geht,

auf seinen Schultern, und von deiner Glut

hat ein Funken alies Glas zerschmolzen.


jetzt

Ich bin voll Hoffart und zerkau den stolzen

verrückten Mut, mein letztes Stücklein Brot

aus aller Ernte der Ergebenheit.

Du warst sehr Herr, und sehr


gnádig, gescheit,

denn meinen Glassturz hãtt ich sonst zerschlagen.

Ich will mein Herz mit den Hunden


jetzt jagen

und es zerreiíâen lassen, um dem Tod

ein widerliches Handwerk zu ersparen.

-
Du sei bedankt ich hab erfahren.

genug
Poesia Alemã Hoje

saber tudo da dor! Estilhaça a redoma


uero enfim

da devoção, e afasta de mim a sombra do meu anjo.

ir até onde a tua mão definha,


Quero

na mente dos demenciados, a crueldade

dos corações mutilados, mordidos ira

que, pela

se autodilaceram espirrar no sangue deste mundo

para

a sua fúria louca. Meu anjo segue, sustenta nos ombros

o da misericórdia, e dos teus ardores

pálio

uma fagulha agora mesmo derreteu o vidro.

Estou meu ânimo arrogante e doido,


altiva, mastigo

essa de devoção. Foste misericordioso,


última migalha

Senhor, muito sensato; do contrário


e
pois

eu mesma esta redoma.

quebraria

Agora, caçar meu coração com os cães

quero

e deixar o despedacem, à morte

que poupando

-
um trabalho repulsivo. Obrigada Senhor vi o suficiente.

Tradução de Lya Luft


56 / Poesia Sempre

H. C. Artmann

/ n die tiefe seines bauches

nach wòrteralgen taucht der dichter

am weiíâen strand des


papieres

spreitet er sie zum trocknen aus:

es wird das seegras nicht


gebeten

vor seiner zeit zu wenden danke


em seu ventre

^^rofundo

o mergulha
algas-palavras
poeta
por

na branca do
papel
praia

ele se espraia e se enxuga:

roga-se não criar musgo

antes do tempo Obrigado

Bôas Castelo Branco


Luciana Villas
Tradução

e Thomaz Albornoz Neves


58 ) Poesia Sempre

in bittrer

verlust

ist ein ei;

bittrer

sind zwei..

ein bittrer

verlust

ist das aug;

bei zweien

siehst du

nichts mehr..

ein bittrer

verlust

ist ein bein..

schwer fãllt

dem einarmigen

die kratzung

der andren hand..

wer aber

den kopf verliert

hat alies verloren:

haus und hof

wunsch und weib

freund und freud

trauer und trãne

und den mund

um diese schwãche

zu bemánteln..
Poesia Alemã Hoje

ma
perda

amarga

é um ovo;

mais amarga

são dois...

uma

perda

amarga

é um olho;

sem os dois

não se vê

mais nada...

uma

perda

amarga

é uma

perna...

é difícil

o manco
para

coçar a

outra mão...

mas
quem

a cabeça
perde

tudo:
perdeu

casa e
quintal

desejo e mulher

amigo e alegria

tristeza e lágrima

e a boca

encobrir
para

esta fraqueza...

Branco e Thomaz Albomoz Neves


Tradução de Luciana Villas Bôas Castelo
Poesia Sempre
60

Elisabeth Borchers

im Mai
Alter Friedhof

Jüdischer

er
W. lebt hier

Ich hõre vereinzelt Gesang

hinab.
Sprung des Eichhorns
und den

ist hier der Herr


Wer

horchen die Steine.


Aufrecht

wirft das Kleid


Wer

von Bãumen
Es fãllt der Schatten

aus der Hand.


fãllt das Licht
Es

durch das Gras


Wer
geht

Sieh doch. Die Stille.


Hoje
Poesia Alemã

em maio
Velho cemitério

judeu

viverá aqui

^^uem

Ouço cantos isolados

e o salto do esquilo

desce.
que

é senhor aqui
Quem

As escutam
pedras

eretas.

as vestes
Quem joga

A das árvores
sombra despenca

A luz escorre da mão.

anda relva.
Quem pela

Olha. O silêncio.

Tradução de Lya Luft


62 P o e s.i a Sempre

Durs Grünbein

den zweiten Wurf


Pech

für

X j wei Igels der


uhr nachts, Zeit des

Bei den Mülltonnen stõbert

Wãhrend du zõgernd

Wie auf Stacheln vorübergehst

Irgendwo in Europa, im selben

Mondflutlicht heimisch

Und wie dieser Igel

Raschelnd im Rinnstein

Irgendwo in Europa, nichtsahnend

Erfrischt von Novemberkálte

Und wie dieser Igel

Allzu mager für einen langen

Winterschlaf, allzu naiv

doch noch mit Àpfeln


Sich nicht

um zwei Uhr nachts


Vollzustopfen

Irgendwo in Europa

Und wie dieser Igel

Eine so leichte Beute der Zeit.


Má sorte na segunda tentativa

j/^uas horas da madrugada, tempo do ouriço

que

Nos tonéis do lixo remexe

Enquanto te
preocupas

Como espinhos
passar por

Em algum lugar da Europa, na cheia

Do mesmo luar
pátrio

E como este ouriço

A rugitar no esgoto

Em algum lugar da Europa, despreocupado

No ar frio do novembro

E como este ouriço

Demasiadamente magro uma longa


para

Hibernação, demasiadamente ingênuo

Em não se abarrotar com óbvias

Maçãs às duas horas da madrugada

Em algum lugar da Europa

E como este ouriço

Uma fácil do tempo.


presa

Tradução de Cláudia Ahimsa


64 Poesia Sempre
/

Hans Magnus Enzensberger

Die Freude

l^/ie will nicht daíã ich von ihr rede

steht nicht auf dem Papier


Sie

Sie duldet keinen Propheten

Sie wirft alies um was fest steht

Sie lügt nicht

Sie meutert

allein rechtfertigt mich


Sie

Sie ist meine Vernunft

Sie mir nicht

gehõrt

Sie ist fremd und beharrlich

Ich verberge sie

wie eine Schande

Sie ist flüchtig

kann sie teilen


Niemand

kann sie für sich behalten


Niemand

Ich behalte nichts

Ich teile alies mit ihr

Sie wird fortgehen

Ein anderer wird sie verbergen

ihrer siegreichen Flucht


auf

die sehr lange Nacht


durch
Hoje 65
Poesia Alemã

A alegria

a seu respeito
falando
la não me
quer

nos documentos
ela não está

nenhum
ela não suporta
profeta

é firme
abaixo tudo
que
põe

ela não mente

ela se revolta

ela me

justifica

ela é minha razão

ela não me
pertence

ela é estranha e teimosa

eu a escondo

uma vergonha
quase

ela é
peregrina

ninguém reparti-la

pode

ninguém conservá-la

pode

nada conservo

tudo com ela

partilho

ela irá embora

um outro a esconderá

em sua vitoriosa fuga

noite tão longa.


pela

Tradução de Marco Lucchesi


66 Poesia Sempre
)

Chinesische Akrobaten

77

JL—J in Wort in die Luft zu werfen

das Wort scbwer

ist leicht

Ein Zeichen in die Luft zu tuschen

das Zeichen unmõglich

ist nicht unmõglich

Oder Strich auf Strich

Bambus oder Lust oder Teller zu setzen

Silbe auf Silbe auf Silbe

zu balancieren

immer hõher und hõher

aah!

Aber selber so leicht zu werden

wie ein Strich

eine Silbe

ein Zeichen

am Himmel

eine Minute lang

zu schweben

ist schwer

Unmõglich

so hoch oben

zu atmen
V

chineses
Acrobatas

no ar uma
ançar
palavra

a
pesado
palavra

é leve

no ar um sinal
Pintar

o sinal impossível

não é impossível

traço e traço
Unir

ou desejo
bambu
prato

sobre sílaba
sobre sílaba
sílaba

balançando

e mais alto
alto

aah!

tão leve
Mesmo tornando-se

um traço
como

uma sílaba

um sinal

é
penoso

pairar

no céu

um minuto

por

Impossível

respirar

tão alto
68 Poesia
) Sempre

wãhrend hier unten

Banditen

immer mehr Banditen

Kaiser
Warlords
Japaner

wüten

Tausendjahre
lang

hungert die Angst

ángstigt die Lust sich

und schaut zu

atemlos

aaah!

wie am Himmel die Kõrper

immer leichter und leichter

schweben

immer hõher un hõher

balancieren

Hand

Bambus

Teller

Knie

Frau

Tusche

Strich

Bambus

Hand

Zeichen

Teller

Stange

Frau

Bambus

Strich

Silbe

Knie
enquanto aqui embaixo

bandidos

e mais bandidos

e os warlords
o imperador do
Japão

de raiva
espumam

Há mil anos

tem fome
o medo

tem medo
o desejo

e contempla

os extenuados

aaah!

como
pairam

os corpos no céu

mais e mais leves

alto e mais alto

balançando

mão

prato bambu

joelho

mulher

nanquim traço

bambu

mão

sinal

prato

barra

mulher

bambu

traço

sílaba

joelho
1

Bitte noch einen Strich!

ruft die Lust

Noch einen Teller!

die Angst

bitte nicht!

bitte doch!

Aaaah!

wie leicht!

wie leicht das schwankt

knickt

bricht

kippt

stürzt

Bitte nicht!

Die hohen Kòrper

atmen

eine Minute lang

wáhrend sich schneller und schneller

und hoher und hõher

immer mehr

leere Teller drehn

geisterhaft

leicht

am Himmel

aaaaaaah!

vergilãt die Angst ihren Hunger

und die Lust ihre Angst


Por favor mais um traço!

o desejo
pede

Mais um
prato!

o medo

não, favor!
por

sim, favor!
por

Aaaah!

como é fácil

como é fácil flutuar

dobrar

quebrar

virar

tombar

não, favor!
por

Os altos corpos

respiram

um minuto
por

enquanto mais e mais velozes

alto, mais alto

mais e mais

vazios

giram pratos

misteriosamente

leves

no céu

aaaaaaah!

esquecei o medo de vossa fome

e o desejo de vosso medo

Tradução de Marco Lucchesi


72 Poesia Sempre

Die Visite

ls ich aufsah von meinem leeren Blatt,


jljl

stand der Engel im Zimmer.

Ein Engel,
ganz gemeiner

vermutlich unterste Charge.

Sie kõnnen sich nicht vorstellen,


gar

sagte er, wie entbehrlich Sie sind.

Eine einzige unter fünfzehntausend Schattierungen

der Farbe Blau, sagte er,

fãllt mehr ins Gewicht der Welt

was Sie tun oder lassen,


ais alies,

nicht zu reden vom Feldspat


gar

und von der GrolSen Magellanschen Wolke.

Sogar der Froschlõffel, unscheinbar wie er ist,

gemeine

hinterlieiâe eine Lücke, Sie nicht.

Ich sah es an seinen hellen Augen, er hoffte

auf Widerspruch, auf ein langes Ringen.

Ich rührte mich nicht. Ich wartete,

bis er verschwunden war, schweigend.


Poesia Alemã Hoje

A visita

de minhas folhas vazias,


ergui os olhos
uando

lá estava o anjo no
quarto.

Um anjo bem comum,

de baixa hierarquia, suponho.

O senhor não imaginar,


pode

ele disse, como o senhor é supérfluo.

Das mil nuances do azul


quinze

apenas uma, ele disse,

é mais importante o mundo


para

de o senhor faça ou deixe de fazer,

quanto

não falar do feldspato


para

ou da Nuvem de Magalhães.
grande

aguapé, tão obscuro,


Até mesmo o simples

senhor não.
legou um espaço, o

ele esperava
Vi em seus olhos claros
que

uma discussão, um duro combate.

Não me deixei impressionar. Aguardei,

até ele desaparecesse, calado.


que

Tradução de Marco Lucchesi


74 Poesia Sempre

Robert Gernhardt

tzengedich te
Ka

einer Katze lernen

heiíât siegen lernen.

"locker

durchkommen" meint,
Wobei siegen

also liegen lernen.

praktisch:

Sie sind ein sieghaftes Geschlecht,

diese Katzen,

ihrer so viele wie Spatzen im Land.


Es
gibt

Doch wer streichelt schon Spatzen?

kein rãtselhaftes Tier,


Sie ist
gar

so eine Katze.

Liebe, doch meist


will viel FraJS, etwas
Sie

sie an der Matratze.


horcht

Katze uns lehrt,


Was eine einzige

lehren uns alie:

nehmen, ohne zu
So viel wie mõglich
geben,

und dann ab in die Falle.


Alemã Hoje 75

Poesias cie

gatos

-ZjL com um
gato
prender

a vencer.
significa aprender

"viver

de leve",
Vencer, no caso, significa

aprender a ficar deitado.


ou, na

prática,

Eles são uma espécie vencedora,

estes

gatos.

há na terra,
Há tantos
gatos quanto pardais

Mas faz carícias em

quem pardais?

Não é um animal misterioso,

um assim.
gato

de amor, mas,
muita comida, um
Quer pouco

sempre, ouve o colchão.


quase

O um só nos ensina,

que gato

todos nos ensinam:

Pegar sem dar nada,


tudo
que puder,

e, depois, direto a cama.

para
76 / Poesia Sempre

Mit einer Katze leben,

heiíãt die Katze überleben.

dann, wenn man noch mitten im Leben steht.


Jedenfalls

Eine Katze steht schneller daneben.

Wie alt wird so eine Katze?

Maximal zwanzig
Jahre.

Viele streckt's aber auch schon früher hin

auf die, sagen wir ruhig: Bahre.

Die ist dann vielleicht dein Schreibtisch.

Darauf kriegt sie ihre Injektion.

Sie seicht dir noch rasch die Tischplatte voll,

und das war's dann auch schon.

Eine Katze haben,

heiíãt eine Katze verlieren.

Andere mògen von Menschen reden,

ich rede von Tieren.


Alemã Hoje J 11
Poesia

Conviver com um
gato,

sobreviver ao
significa
gato.

no meio da vida.
estamos
Principalmente
quando

a seu lado.
chega
Um rapidamente
gato

um assim?
idade atinge
gato
Que

No vinte anos.
máximo

antes disto
Mas muitos morrem

dizê-lo, no esquife.
e se esticam, vamos

Este será, talvez, a tua escrivaninha.

Ali ele recebe a injeção.

Ele tampo da mesa,


ainda suja o

e então está acabado.

Ter um
gato,

significa um
perder gato.

Os outros falem de

que pessoas,

eu falo de animais.

Tradução Rischbieter
de Karlos
Sempre
Poesia
78

trotzig
Merksãtze

macht,
lange
man irgendwas
enn genug
W-

machen.
auch
es irgendwann
wird man gut
dann

nicht stimmt,
und vorne
zwar hinten
Satz, der
Ein

zum Mutmachen.
doch er taugt

etwas fest
man an
Wenn glaubt,
genug

auch bewahrheiten.
eines Tages
wird es sich
dann

ist leeres Stroh.


Dieser Satz
Klar:

den Klarheiten.
Teufel mit
Zum
Aber:

liebt,
nur stark
Wenn man genug
jemanden

einmal liebhaben.
einen auch
wird er
dann

ist,
wahr wie sonstwas
der so
Ein Satz,

kann mich
wer ihn nicht gernhaben.
und
glaubt,

/'

í
Miáxi m as te i m os as

uando se faz algo durante longo tempo,

algum dia será feito muito bem.

Uma frase sem sentido do começo ao fim,

mas serve criar coragem.


para

se acredita com firmeza em algo,


Quando

algum dia isto se tornará verdade.

E claro: esta frase é tola.

Mas: ao diabo com as clarezas.

se ama alguém com muita força,


Quando

ele
nos amará também, algum dia.

E uma frase tão certa outra,


quanto qualquer

e vá favas.
não acredita nela, às
quem que

Tradução Rischbieter
de Karlos
Gemachter Mann

Mait langen Schritten über Tenassen


groSe gehen,

über solche, die ei nem natürlich,


gehõren

das ist ein Gefühl, meine Liebe,

unübertrofíen.

Sagen Sie nichts. Entziehen Sie nicht Ihre Hãnde.

Lassen Sie sie verschrânkt in den meinen.

Diesen Moment, meine Schõne,

ersehnte ich lange.

Gehn wir ins Haus? Nun wird es doch merklich kühler.

Zeit fürn Kamin und ein Schlückchen. Da lang.

über Terrasse,
Quer jene

übrigens meine.
Homem

feito

/ JL travessar terraços a largos,


grandes passos

terraços nos sinal;

por que pertençam, por

este é um sentimento, minha


querida,

insuperável.

Não diga nada. Não tire as suas mãos.

Deixe-as, cruzadas, nas minhas.

Este momento, minha bela,

o desejei há muito.

Entramos em casa? Está começando a esfriar.

Hora a lareira e um trago. Por ali.

para para

Atravessar aquele terraço,

o meu, sinal.

por

Tradução Karlos Rischbieter


de
2 / Poesia Sempre
v8

Ernst

Jandl

Der abend ist etwas zu still

% ch sollte dich bei mir haben.


jetzt

du würdest auf dem bett liegen und schlafen.

ich würde dir eine zeitlang zusehen.

dann würde ich stampfen.

du würdest auffahren und rufen: was ist denn los?

nichts ist los, würde ich sagen,

nur ein buch ist auf den boden


gefallen.

L
Alemã Hoje
Poesia

demais
noite está um
A
quieta
pouco

aqui comigo,
devia ter agora
u te

em minha cama.
estarias dormindo

longo tempo
ficaria a te olhar
eu
por

o no chão.
bateria com
e depois

aconteceu?
em sobressalto e
irias despertar que
perguntar:

nada, eu te diria,
não aconteceu

livro caiu.
foi apenas um
que

de Paulo Paes
Tradução
José
Poesia Sempre
s

Toast

nd wenn sie ihn küíSt

dann wird wie eben

auch whiskey küssen

und wenn sie ihn nicht küíât

dann wird er eben

ohne kulã trinken


Brinde

se o beijar

ela irá então beijar

também uísque

e se não o beijar

ele irá então beber

mesmo sem beijo

Tradução de Paulo Paes


José
Poesia Sempre
)

Sarah Kirsch

Wintermusik

in einmal eine rote Füchsin


ge

Wesen mit hohen Sprüngen

Holte ich mir was ich wollte.

Grau bin ich Regen.


jetzt grauer

Ich kam bis nach Grõnland

In meinem Herzen.

An der Küste leuchtet ein Stein

Darauf steht: Keiner kehrt wieder.

Der Stein verkürzt mir das Leben.

Die vier Enden der Welt

Sind voller Leid. Liebe

Ist wie das Brechen des Rückgrats.


Música de inverno

JL or ter sido com saltos elevados

O vigor de uma raposa encarnada

Apanhava o bem
que queria.

Cinza sou agora da chuva mais cinza.

Em meu coração

Cheguei até a Groenlândia.

Nas encostas luz uma


pedra

Inscrita: ninguém retorna.

A encurta-me a vida.
pedra

Os cantos do mundo
quatro

Estão cheios de dor. Amor

é como vértebra
partida.

Tradução de Mareia C. de Sã Cavalcante


) Poesia Sempre

Der Milan

D onner; die roten Flammen

Machen viel Schònheit. Die nadligen Bãume

Fliegen am Kõrper. Ein wüster Vogel


ganzen

Ausgebreitet im Wind und noch arglos

Segelt in Lüften. Hat er dich

Im südlichen Auge, im nõrdlichen mich?

Wie wir zerrissen sind, und

ganz

Nur in des Vogels Kopf. Warum

Bin ich dein Diener nicht ich kònnte

Dann bei dir sein. In diesem elektrischen Sommer

Denkt keiner an sich und die Sonne

In tausend Spiegeln ist ein furchtbarer Anblick allein.


Mílvio

chamas encarnadas
Â. rovão: as

beleza. As árvores agulhadas


muita

produzem

corpo. Um deserto
voam a todo
pássaro

no vento e ainda singelo


espalhado

nos ares. Ele a ti


veleja
possui

no olhar do sul, e no do norte a mim?

Como somos os dilacerados, e inteiros

na cabeça do apenas. Sendo


pássaro

teu servidor eu é não


que poderia

de ti. Nesse verão elétrico


pois ficar perto

ninguém sobre si e o sol


pensa

em milhares de espelhos é uma visão só, terrível.

Tradução de Mareia C. de Sá Cavalcante


Poesia Sempre
90

Friederike Mayrõcker

welken wie Gras


Wird

meine Hand und die Pupille


uch

-
mein FuiS und mein Haar mein stillstes
wird welken wie Gras

Wort

-
welken wie Gras dein Mund dein Mund
wird

-
wird welken wie Gras dein Schauen in mich

-
meine Wange meine Wange und die kleine
wird welken wie Gras

Blume

dort weiszt wird welken wie Gras


die du

-
dein Mund dein Mund
wird welken wie Gras
purpurfarbener

-
aber die Nacht aber der Nebel aber die
wird welken wie Gras

Fülle

wie Gras welken wie Gras


wird welken
Poesia Alemã Hoje

Vai secar como a

grama

também minhas e as mãos


pupilas

-
vão secar como a meu cabelo meu minha
grama pé palavra

mais serena

-
vão secar como a tua boca tua boca
grama

-
vai secar como a teu em mim
olhar
grama

-
vai secar como a minha face minha face e as
grama

flores

pequenas

apontas vão secar como a


que por perto grama

-
vão secar como a tua boca tua boca tão
grama púrpura

-
vai secar como a mas a noite a neblina mas
grama

a fartura

vão como a
secar como a vão secar
grama grama

Tradução Fróes
de Leonardo
Oskar Pastior

sestine mit interview

h doch ich war schon õfter ein zweites mal


O

-
in rom manchmal aber war ich dort auch

schon das dritte oder fünfte mal. wann warst

du das letzte mal dort? das kann ich


genau

-
beschreiben ais ich das erste mal wegfuhr.

warst du dann aber seither noch in rom?

nein das erste mal war ich zwar noch in rom

-
aber nicht immer õfter wie beim zweiten mal

das kam erst seitdem ich dort einmal wegfuhr.

hast du das letzte mal in rom dann aber auch

immer schon ans wegfahren


gedacht? genau

ich: wenn du das warst


immer õfter denke

wegfuhr dann aber warst


der õfter von dort

auch nicht in rom.


du manchmal bestimmt
ja

immer auch wann


aber weiíât du dann
genau

das wievielte mal


du manchmal und schon

auch
wegfahren solltest beziehungsweise

nichts mehr wegfuhr?


wolltest ais dann dort

dort wegfuhr
nun ais ich das erste mal

ja

du warst
wuíâte ich das noch nicht. aber

mal oft auch


doch manchmal ein drittes

ais dort in rom


noch nicht weggefahren
gar

nichts mehr wegfuhr? nein beim zweiten mal


war es das weiíâ ich manchmal noch

genau
em conversa
Sextina

estive muito uma segunda vez


h sim

-
estivesse também
em roma embora

vez. é esteve
uma terceira ou
quando que
quinta

vez? não ao certo


lá última
poderei
pela

-
foi lá fui.

quando que primeiro


precisar

então em roma?
você ainda esteve desde
mas

ainda estive em roma


não a vez

primeira que

-
da segunda vez
não tantas
porém quanto

antes da vez fui.


mas foi
parti que
quando

então você da última vez também


sempre

eu sempre é certo
de roma?
penso
pensou partir

se você esteve
exatamente às vezes:
que

vezes como esteve


e de lá tantas
partiu

nunca esteve em roma.


sim ao certo também
que

verdade sempre sabe ao certo


mas você na

vezes e até vezes de vez


às
quando quantas

você deveria ou também

que queria

ninguém fui?

partir partia quando


quando

vez me fui
sim
pois quando pela primeira

mas sei esteve


ainda não sabia então,
que

terceira vez várias vezes também

pela

freqüente em roma
e não nem era

partiu quando

na segunda vez
ninguém não! foi só

partir?

vezes nem eu sei ao certo


e isto ainda às
Poesia Sempre
94

denn ich war schon immer õfter so


ja genau

in rom dalS ich manchmal nicht wegfuhr


gar

weil ich noch nicht einmal das erste mal

dort weggefahren war. hõr zu du also warst

demnach wirklich schon einmal in rom?

-
dort war ich immer schon auch
gewiíã ja

und bin stándig ohne unterbrechung auch

-
ein zweites und drittes mal dort
genau

so wie das letzte mal wieder einmal in rom

ais dort dann nichts mehr wegfuhr.


gewesen

aber sag mir das letzte mal in rom warst

du doch immer õfter schon das zweite mal?

oh doch manchmal war ich dann erst einmal

-
in rom bevor ich immer seltener wegfuhr

denn auch das letzte mal war es dunkel in rom


eu estive sim várias vezes ao certo

pois

em roma talvez de lá nunca me fui

que

nenhuma vez estive uma só vez

porque

de mas diga lá você se esteve

partida,

verdade alguma vez em roma?


contudo de

-
De fato estive sim desde sempre também

e sem cessar também

permanentemente

a segunda e terceira vez estive ao certo

assim como de novo a última vez em roma

estive ninguém eu fui.


quando já partia

mas diga-me se em roma a última vez esteve


que

muitas vezes estava uma segunda vez?

vezes a vez
oh sim estive às
primeira

antes sempre raro lá fui


em roma
porém

também estava escura a última vez em roma

Tradução de Ivo Barroso


96 Poesia Sempre
J

Peter Rühmkorf

Einen zweiten Weg ums Gehirn rum

Für Theodor Verweyen

"T

JL n mir arbeitet ES

Wenigstens einer von uns, der noch was tut,

wo ICH nur so rumhãng...

mach ich ohne Schnaps den Mund nicht mehr auf)


(Bald
gar

Also bitte, Herr Ober, noch ne letzte Lokalmnde

für'n unberechenbaren Einzelgãnger!

Wenn wir alie einen heben


gemeinsam

verzieht sich

- -
wetten?!

vielleicht die Statistik.


ganze

-
Ob so etwas nicht in den falschen Hals bekommen kann?
jemand

Im Zweifelsfall Sie, mein Frollein, mit der verwackelten Zielgruppe.

Sie leiden wohl heute schon

-
an den Themen von morgen ãh?

Aber mit'm Tropfen Malteser trinken Sie doch niemandera etwas weg.

in solchen Zustãnden hat Alexander mal


Wissen Sie,

den Euphrat überschritten.

Vollkommen im Kleister.

Von Goethe zu schweigen.

ganz

Der hat Mosel tãglich


sich drei Flãschchen
genehmigt;

fast mehr ais er hat.

gedichtet

Mein Groíãvater sagte immer,

die Füíâe müíâte es zweimal


geben.

Ich sage: die Leber.


Poesia Alemã Hoje
97

Um segundo caminho em torno do cérebro

Para Theodor Verweyen

m mim trabalha AQUILO

Ao menos um de nós ainda faz alguma coisa

enquanto EU apenas fico atirado aí...


por

eu sem nem mais abro a boca)


(Logo,
pinga

Então, favor, seu ainda uma última rodada


por garçom,

um imprevisível solitário.
para

Se todos erguermos um brinde


juntos

há de se alterar talvez

- -
vamos apostar?

toda a estatística.

Será algo assim não atingir alguém na errada?


que pode goela

Na dúvida, Você, minha senhorinha, com o abalado

grupo-alvo.

Você sofre hoje, afinal,


-
com os temas de amanhã ah?

Mas, com uma de Malteser, Você não tira nada de ninguém.


gota

Sabe, em tais circunstâncias, Alexandre outrora

atravessou o Eufrates.

Num total.
grude

Para não falar de Goethe.

Esse, a cada dia, três Mosela


de se
garrafinhas permitia:

mais do andou
quase que poetando.

Meu avô sempre dizia

os é tê-los duas vezes.


pés preciso

Eu digo: o fígado.
Poesia. Sempre
98 )

Wenn einer dann noch kleine zehn durchhãlt


Jáhrchen

und vielleicht heute schon

auf ein Krankenbett von 86 spart,

kriegt er vom Facharzt Organ.


jedes gewünschte
praktisch

Aber die Zwischenzeit mu£ natürlich

auch ein bilâchen unterhaltsam sein;

nicht einfach blolS weggewischt;

schlieíÃlich wird nicht meine Person

ja gesamte

auf einen Schlag aussetzen.

Aufgeben? Ich michP

Was, schon dies


Jahr?

Ehrlich von meiner Auffassung vom Glück her kann ich mir
gesagt,

solche Gedanken nicht leisten.


gar

Lieber noch ein biíâchen mit meinen

mürben Stellen experimentieren und

- -
das Hirn noch nicht abgebunden hat
solange

-
Vulkan in die Krypta
dem
gegriffen!

nach innen überschreiten...


Meine Grenzen

Noch diese Stoffe-da erzeugen...


einmal

Eine unbekannte Verbindung eingehn...

Happen Manna destillieren

-
Goldglubber

-
Nervenplankton

Stratosphãrensperma

Es muJ3 doch noch einen zweiten Weg

ums Gehim rum


geben!
Se então alguém ainda agüenta dez
aninhos
pequenos

e hoje talvez

um leito hospitalar de 86,


poupe para

consegue do médico todo órgão desejado.


praticamente

Mas o entrementes naturalmente


precisa

ser também um divertido


pouco

e não simplesmente de lado:


posto

afinal, minha inteira não há de


pessoa

se desligar de um só
golpe.

Desistir? Eu de mim?

O este ano?
quê, já

Francamente, com a minha concepção de felicidade

eu sequer tais
posso permitir-me pensamentos.

Prefiro fazer ainda algumas experimentações

com as minhas mais sensíveis e


partes

-
-
enquanto o cérebro não estiver desligado

me agarrar com o vulcão na cripta.

Ultrapassar as minhas fronteiras interiores...

Criar mais uma vez dessas coisas aí...

Entrar numa relação desconhecida...

-
Destilar bocados de maná

-
Tridentes de ouro

-
Plâncton de nervos

-
Esperma de estratosferas

Epreciso haver, afinal, ainda um segundo

caminho em torno do cérebro.

Tradução de Flávio R. Kothe


100 Poesia Sempre

Der Fliederbuscb, der Krüppel

D er Fliederbusch, der Krüppel,

letzten Winter vom Sturm nachfolgend fast


und
gebrochen

aus der Erinnerung entschwunden,

kriechend erreicht er sein Ziel:

DIE BLÜTE

feiern werden sie ihn nicht dafür,


(na,
gerade

aber auch wohl nicht vorzeitig untergraben)

Der alte Kerl in meinem Spiegel


gegenüber

- - -
wãr noch aber so? halbkahl
(Grau
ja gut

mit Flecken im Gesicht,

die auch nicht mehr richtig nach Zukunft aussehn)

was will der Dichter seine Leser damit lehren?

Daíâ das Leben zu kurz ist,

sagt dir schlieíãlich kleine Friedhofsangestellte.

jeder

Bifáchen rumkramen noch oder biíâchen was?

Lieber donner denen einfach noch mal so ein absolut

aus der Richtung weichendes Ding hin wie Bud Powell,

ais er Mitte der Fünfziger

voll entflammt aus der Klapse kam:

Tempus
fugit

Zeit eilt meiner Wenigkeit voraus)


(Die

Beziehungsweise Schubert auch mit ciiesem sternenmáfáigen

in C-Dur!
Quintett

Doch bestimmt nicht bloíã Syph-Musik.


Alemã Hoje
Poesia

o estropiado
O sabugueiro,

o estropiado,
(3sabugueiro,

no último inverno e, depois,


tormenta
quase
quebrado pela

da memória,
desaparecido

chegar à sua meta:


consegue raspando

A FLORAÇÃO

não irão certamente festejá-lo isso,


(ora, por

mas também não enterrá-lo antes do tempo).

frente a mim
O velho cara no espelho

- -
-
mas assim? meio careca
ainda estaria bem
(cinza

fuça
com manchas
pela

futuro)
também não
prenunciam propriamente
que

com isso aos seus leitores?


o ensinar
o
que quer poeta

a vida é curta demais,


Que

empregadinho de cemitério.
isso te diz, afinal,
qualquer

um ou um o
Ainda remoer
pouquinho quê?
pouco,

simplesmente ainda uma vez


Melhor lhes troveje

que

Bud Powell,
algo tão absolutamente fora de esquadro
quanto

ele, em meados dos anos cinqüenta,

quando

saiu todo fogoso da


pancada:

tempusfugit

tempo se adianta a este criado seu)


(O

também Schubert com o celestial


Como

em dó maior!

quinteto

não somente música sinfônica.


Com certeza,
porém,
Poesia Sempre
102

befindliche Bühne betreten


Aufgerãumt eine bereits im Abbruch

Angsttrieben Luftschlangen ziehen,


und aus

in Zügen das ist es.


grolâen

ne Landplage wãren,
Leute schon anklopfen, ais ob sie
Wenn die

was soll denn dann der Kunstaufwand?


ganze

Der Fliederbusch, der Krüppel,

Winter im Sturm aber nachdrãngend


letzten
gebrochen, jetzt

die eigene Walstatt lila überlagernd,

kann er seinen Dichter damit lehren?


was

Unter uns: dafí in deinem Abwinken

Kraft war ais in anderer Leute Sonnenaufgãngen.


immer noch mehr

- -
wer? Der den Sand der Arena frilãt.
Und am Ende siegt na
Alemã Hoje ), 03
Poesia

é isso:
Em largos traços,

está sendo desfeito


num
entrar arrumado
palco que já

inspirar de ar.
do medo
e influxo
pilhas
por

como se fossem um flagelo,


batem à
Se as
já porta
pessoas

afinal, todo o esforço da arte?


serve,

para que

o estropiado,
O sabugueiro,

a insistir agora
inverno, mas
tormenta no último

pela
quebrado

campo de batalha,
de lilás o
recobrindo
próprio

isso ensinar ao seu


ele com
o poeta?
que pode

em tua muda recusa


Cá entre nós:
que

nas auroras de outras


havia mais força
sempre ainda pessoas.
que

-
- a areia da arena.
morde
Aquele
E, no fim, vence ora,
que
quem?

R. Kothe
de Flãvio
Tradução
104 Poesia Sempre

Früher, ais wir die Strõme noch

grojSen

77

JL rüher, ais wir die Strõme noch mit eigenen Armen teilten,
groiãen

Ob, Lena, Missouri,


Jennissei,

Mississippi, Elbe, Oste,

und mit Gesang den Hang raufzogen

und mit Gesang auch wieder herab,

immer den Augen hinterher und Hyperions leuchtenden Tõchtern,

des Tages Anbruchs Rõte

-
und des Mondes Aufzugs Beginn

Heute: drei Telefongespráche und der Tag ist

gelaufen.

man steht noch in Korrespondenz,


das wohl...
Ja,

Paar Gedankenstriche zu einer Àsthetik des Flickworts,

eine Hoffnung.

Etwas Zuspruch aus zahnlosen Mãulern,

ein Gewinn.

Dies nervõse Verflackern der fleiíSigen alten Kerle

kurz vorm Abschiednehmen,

-
ohne daíâ nochmal richtig Reisig nachwirft

jemand

Aber es ist immerhin Mal, daíâ du


nicht das erste seufzt

und hoffentlich nicht das letzte,

irgendsoeine blindgeborene wird sich


Mickymaus schon noch finden,

die deine Anlagen würdigt.

Wenn man bedenkt, wie vielen trotzigen kleinen

T ante-Emma-Láden

du bis zum letzten Hirsekorn die Treue hast,


gehalten

und sind ausnahmslos untergegangen...

Und dann kommt auch bald der Moment,


ja
Alemã Hoje 105
Poesia

os rios ainda
Outrora,

quando grandes

rios ainda dividíamos com os braços.


(3 utrora, os
grandes próprios
quando

Lena, Missouri,
Quer Jenissei,

Mississipi, Elba, Oste,

e com cânticos subíamos o aclive

cânticos novamente também o descíamos,


e com

seguir sempre os olhos e as filhas luminosas de Hipérion,


a

o rubro da manhã nascente

e início da ascensão da lua


o

telefonemas e o dia dançou.


Hoje: três

se trocam correspondências, isso


Sim, ainda
porém...


da reparadora,
Algumas linhas a uma estética
quanto palavra

uma esperança.

Algum alento de bocas benguelas,

um
ganho.

Esse nervoso bruxuleio de esforçados companheiros


pretéritos

antes da despedida,

pouco

vez alguém abundante arroz atrás


sem ainda uma
que jogue

no entanto, não é a vez suspiras


Mesmo assim,
primeira que

e, espero, não a áltima,

Mickey naticego ainda há de se encontrar


um
qualquer

homenagens a tuas inclinações.

para prestar

se a e teimosas

Quando pensa quantas pequenas

Lojas-da-Tia-Ema

tu mantiveste a tua felicidade até o último de


grão painço

e faliram todas, sem uma única exceção...

que

E daí logo chega também o momento


106 Poesia Sempre

daíâ du selbst die Regale ráumen mufêt,

nur weil von hinten unentwegt die neue Ware nachdrückt:

Vom Dreck ergriffen steht die Menge da.

Nicht zur Hilfe eilen die Mitmenschen,

sondem zu niederen Schauzwecken.

Du aber sitzest angestrengt auf deinem


Scherbenhügel,

einen abgerissenen -
Fluch im Hals

Alies
wer der Welt zu tief ins
Quack, Auge hat,
gesehn

um noch an ihr leiden zu wollen,

wird den Mangel an Service hier nicht so


nehmen.
persõnlich

Lieber ais dalã ich einiger abgesoffener


Salatblátter
wegen

nach dem Chef des Hauses


gleich verlang,

laíã ich mir doch das restliche Abendlicht auf der Netzhaut zergehn.

Ein dampfende
Dachpfannen
paar nach dem Regen.

Eine nasse Hecke, hingestreckt


über tausend
Meter,

eine Viertel Stunde lang.

und am Ende sehnst du dich dann


Ja, nach den Tagen,

die du so lieblos verabschiedest.


jetzt
Poesia Alemã Hoje 107

em
tu mesmo tens de esvaziar as
que prateleiras


de trás sem cessar a nova mercadoria:
porque pressiona

tomada
sujeira, eis aí a massa.
pela

Não ajudar se apressam os concidadãos,


para

mas ínferos impulsos de voyeur.


por

Tu, esfalfado, te assentas, sobre o teu monte de ruínas


porém,

-
com uma maldição trancada na

garganta

Tudo conversa fiada mirou o mundo demasiado fundo


para quem

ainda
sofrer com ele:
para
querer

não há de levar tão a sério a falta de service aqui.

Melhor
do eu mandar logo chamar o
que gerente


causa de algumas folhas de salada ressequidas,
por

o resto da luz da noite impregne a rede da


prefiro
que pele.

Um
de cataventos fumaceando após a chuva.
par

Uma
sebe úmida, estendendo-se mil metros,
por

ao longo
de um de hora.
quarto

Sim,
e fim terás então saudades desses dias,
por

dos
tu agora te despedes tão sem carinho.
quais

Tradução
de Flãvio R. Kothe
108 Poesia Sempre

Doris Runge

Glücksspiel

wei sind
z

einer zuviel

zum

glück

zwei sind

genug

für ein unglück

hat einer

den anderen

zum
glück
de sorte
Jogo

d\ois é bom

um é demais

sorte
por

bastam

dois

uma falta de sorte


para

se um tem

o outro

sorte
por

Tradução Sã Cavalcante
de Mareia C. de
110 Poesia Sempre

Ich schliefèe

inen
pakt

mit dem schweigen

oder wollen sie

einen raschen satz

über für
gegen

um dabei

zu sein
gelesen

klarer zu sehen

und schwãrzer

eselohrige makulatur

ein ablaíãpapier

dies aber ist

die verschwõrung

das blatt

das zeichen

windstille

hier sagt die legende

überlebten wir

alie erlõser
Selo

pacto

com o silêncio

ou se

preferem

uma frase apressada

contra
sobre

para

a fim de então

a ser lido
passar

ver
mais claro

e mais negra

a maculatura da orelha

um
de indulto
papel

mas
essa é

a conspiração

a folha

o sinal

calma
do vento

aqui
diz a lenda

todos
sobrevivemos

libertadores

Tradução
de Mareia C. de Sã Cavalcante
112 Poesia Sempre
/

Im Rückspiegel

n der kindheit

vorbei zurück

auf allen vieren

bin ich viel schneller

folgt mir mein schatten

fahr ich ihm nach


Do Retrovisor

a infância

trás
passou para

de todos os
quatro

sou bem mais veloz

se minha sombra me segue

eu a

persigo

Tradução C. de Sã Cavalcante
de Mareia
Ror Wolf

Hartmanns hinterzimmer

ie suppe kalt in hartmanns hinterzimmer.

wir salãen da und wurden ziemlich alt,

und nicht viel spãter wurden wir noch álter,

und wir vergalSen viel, die suppe kálter,

in hartmanns hinterzimmer, wo wir saíãen

und fast die weite welt vergaíâen:


ganze

die luft, die weichen wolken und den wald

und hartmanns hinterzimmer, was auch immer.


Poesia Alemã Hoje

o dos de bartmann

quarto fundos

em seu dos fundos,


sopa fria com hartmann
quarto

aí sentados nos tornamos algo mais velhos

e, não muito mais tarde, bem mais velhos ainda,

esquecemos, enquanto a sopa


quão porém gela

neste recôndito onde diante dela

quarto

esquecemos o imenso mundo:


todo também
quase

o ar, e as florestas e mais,


as nuvens mansas

como hartmann e seu dos fundos.


sempre também,
quarto

Tradução Leonardo Fróes


de
116 Poesia Sempre
7

Wetterverh âltn isse

schneit, dann fãllt der regen nieder,


s

dann schneit es, regnet es und schneit,

dann regnet es die zeit,


ganze

es regnet und dann schneit es wieder.


condições
atmosféricas

/^eva,
depois cai a chuva,

depois
neva, chove e neva,

depois
chove o tempo todo,

chove
e então neva de novo.

Tradução
de Leonardo Fróes
'S

E N A I O S

^—WZTTT
77" 3=111
HÀns Staden

Ilustração de Hans Staden a sua obra:


para

Warhaftig Historia und beschreibung eyner Landtschafft

der Wilden /Nacketen / Grimmigen Menschenfressen Leuthen

in der Newenwelt America 1557]


/ [Marburg,
gelegen
Doris Runge

Como surge um

poema?

lerá ainda saborear o sumo de raízes arcaicas? Será a animismo, conju-


possível poesia

ração dos espíritos, invocação dos deuses, encantamento? Será magia a força conjuradora

"Só
-
habita a raramente um surge um se faz", anunciou,
que palavra poética? poema poema

categoricamente, Gottfried Benn, deitando terra a bela metáfora do


por platônica poeta

"embocadura

como de deus". Com essa tese, na época revolucionária, ele não somente irri-

tou a comunidade dos leitores crédulos como levantou suspeitas de traição aos cole-
junto

tradicionalistas. Rilke ainda falava da força dele se apossava e se


gas poetas que pronuncia-

va através de sua boca. O novo tornou-se, contudo, artístico, deixando de


poema produto

ser dos deuses a alguns eleitos. A aura desvaneceu-se a olhos vistos. O


presente poética

espírito do tempo, formulado Benn: o do ditar a arte de criar uma


por processo poético,

obra de arte era ao menos tão como o opus. O ditar não mais
provocadora próprio poético

apenas como um artesanato mas como a reflexão do ato criador ou, ainda, como a auto-

observação do surgimento dessa configuração constituída, unicamente, nas e


pelas palavras,

onde, segundo o imperativo de Mallarmé, cabe entregar à o impulso


poetológico palavra

decisivo. Com isso, naturalmente, não se aludia ao ocasional, ao verso de beleza aci-
poema

dental, nascido de uma disposição melancólica ou efusiva e sim à configuração consciente

da linguagem, ao controle crítico, ao ato artístico do ditar Os novos artistas


próprio poético.

da buscaram, assim, decifrar o criador, seguir os vestígios do


palavra processo procedimento

misterioso do ditar arrancar o véu da e comprovar um não se


poético, pítia, que poema

baseia no acaso e sim no cálculo conceituai do autor.

O no entanto, subtraiu-se aos analíticos, de forma misteriosa. Não obstante


poema, pro-

cedessem todos os fatos é dados objetivos, as equações continuavam sem solução. O


jogo

recíproco entre consciente e inconsciente, idéias incidentes, inspiração, fantasia vontade


e

configuradora mantinha-se desconhecido. E mesmo um dissecamento intelectual não era

capaz de eliminar as lacunas relativas à complexidade do Pois, em algum


procedimento.

- -
lugar sólido entre a incidência da idéia e a consciência da concepção, entre a apreensão e

a coisa, em algum lugar, na con-solidação-da-palavra, rompe-se o cordão umbili-


portanto,

cal da essência frágil, liga o ao seu criador, e esse a viver a sua


que poema passa própria
122 Poesia Sempre
/

vida. Aqui, todas as teorias tornam-se obscuras. Aqui, mesmo Benn e seus seguidores,

acabam falando de imaginação, subjetividade, de fórmulas conjuradoras, de magia.


de

A reflexão trouxe luz a certas frases individuais da criação mas outras


poética, permanece-

ram obscuras, e é bom assim seja. Apesar dos elementos e fenômenos recorrentes, de

que

certos traços não se entrever nenhum méto-


comuns no da escrita criadora,
processo pode

do. E assim como o autor e sua biografia espiritual encontram-se, inconfundivelmente,


por

detrás de cada tema e estilo são expressões individuais, também


assim como o seu
poema,

os caminhos levam ao são os mais distintos.


que poema

incide, mim, a idéia, é me arrebata o


é reincide, sobre
Quando quando que primeiro
que

vigília ou de semi-ocaso? Encontro-me


De dia, no meio da noite, em estado de
pensamento?

sentada à mesa de trabalho, tenho na cama um caderno de anotações?

preparada,

relativamente vivo em estado


se estar seguro a essas invasões. Somente
Jamais pode quando

me encontro linguagem, tempo, tal um filtro,


de emoção é sem de
que preciso para
que

aproximar-me do reescrevendo a Somente a recor-


de outras
passado, partir perspectivas.

configurada é a reconquistada, recolhe vivido tempo em diluição.


dação o do
pois

Existe uma situação o uma uma espiritual, uma


sensitiva,
para poema, prontidão percepção

vigilância além do êxtase e da emoção, em às disposições e às


me sinto
para que permeável

É então me vem ao encontro o raio Como um amor, e é


imagens. incidente da idéia.
que

-
do eu só uma coisa a fazer: render-me. Entrego-me ao surto, ao choque, ao
mais forte
que

o Pois é só raramente escrevo um maior das vezes,


tempo na
para poema. que poema, parte

de uma idéia é deslancha uma reação em cadeia. Inspiração, intuição, o


a incidência
que

hálito de vida ao O surge, levanta-se. Por vezes, com


inconsciente dão
poema. poema passo

controle do entendimento aos seus limites, obrigando-lhe um compasso


firme, confinando o

surge titubeante, oscilante, sem saber onde ir, apalpa,


Com freqüência,
de espera.
para

caminho, desprende-se, então, do impulso, separa-se


esse ou aquele
experimenta
primeiro

ligação com uma outra disso centelha,


significado literal, estabelece
de seu
palavra, gera

de associações ou a entrega a uma única


tem início a cadeia
movimenta imagens,
palavra,

uma imagem. Coisas armazenadas, conhecidas,


a um a
a um único verso,

pensamento,

conjuntamente a direção, impulsionando os


são retomadas, determinando
recordações pen-

"fazedor",

mas o meio.
E eu não sou mais o
samentos.

ainda está em metamorfose,


com cautela adquire configuração,
O possui
poema, que

a ou a leveza do
seu ritmo, assume
dinâmica segue
gravidade pensamento
própria, próprio

balançando com o vento,


Poemas se soltar como
condutor, do leitmotiv.
podem pipas,
Ensaios J 123

deixando-se
levar final do
do Nós, os apenas seguramos o
pelo jogo pensamento. poetas,

cordão.
Não sendo suficientemente forte a respiração ela cai. Nem todo se
poética, poema

anuncia
do mesmo modo. Por vezes, existe um verso ou toda uma estrofe, em repouso,

aguardando
o impulso adequado, uma vibração ótica ou, talvez, um odor, aguardando algu-

ma coisa,
minha sensível rasteja, adquirir configuração,
que
percepção para palavra por

verso
palavra, verso, manifestar-se como Segundo Valéry, os deuses nos
por
para poema.

oferecem
o
verso com A nós, diz ele, cabe então forjar o segundo,
primeiro
gratuidade. que

se deve harmonizar
com o e não se mostrar indigno de seu irmão sobrenatural.
primeiro,

Poemas
estão em mim as suas Através
muito antes de encontrarem de mim, cia-
palavras.

mam a sua existência. A semente rebenta de acordo com cada


Germinam em mim.
possibili-

dade
de crescimento. cobrir-se de bela vegetação. Clima e
Também os escombros
podem

solo
conferem a Eles carregam minhas cores, minha disposição,
sua cor e a sua forma.

servem-se
de minha visão de meus sentidos, mas surgem, distantes de
e
palavra por palavra,

"Um

mim.
não nasce de sentimentos, mas de disse Mallarmé. Através das
poema palavras",

formas
artísticas, das o é somente uma delas, o sentimento e o vivido retraem-

quais poema

se ao âmbito Através da é colocar-se à distância da vivência, dela

privado. palavra, possível

afastar-se
ver melhor e observar com maior agudeza. A intensidade de nossos senti-
para

mentos
também não faz nenhuma Amo, logo a me dita. Sofro, logo a
poesia. poesia poesia

me dita.

A matéria espontaneamente inflamada emoção tem, na maior das vezes, um valor

pela parte

apenas
subjetivo e biográfico e, só raras vezes, validade Sobre isso, disse Goethe:
poética.

"A

reflexão refere-se, à forma, mundo lhe a matéria de


do o oferece
poeta propriamente,

modo
e livre, o conteúdo brota de livre-vontade da sua interior, e é
generoso plenitude

inconscientemente
ambos coincidem, forma, matéria e conteúdo devem convir, conju-
que

interpenetrar-se".
gar-se,

O material linguagem matéria.


está dado: a e a A matéria é acumulada:

poético percepção

experiências
sensíveis com a realidade: dor e alegria, luto, transitoriedade, amor, natureza, o

cotidiano, facetas.
ele transluz em suas O eu consinto no mundo exterior, o
quando que que

me obriga a uma discussão é expressão de meu modo de minha capacidade sensível,


próprio,

de minha visão subjetiva do mundo, e, o vejo não é o vejo, mas o


portanto, que que que

sou.

dita a si à raça dos colecionadores. Enquanto colecionadores,


Quem
pela poesia pertence

encontramo-nos a caminho. De maneira consciente ou inconsciente, superamos o se


que
124 Poesia Sempre

acha no caminho: as a a a folha, a folha de outono, uma folha em


penas, pedra, palavra,

-
branco, não escrita, de uma nota importante? Isso apenas saber depois. Uma
jornal,
posso

cor, uma centelha na água, uma luz, um de olhos, um olhar, o brilho num olho.
piscar

Colecionamos com todos os sentidos, sempre, e em toda


parte.

Em casa, de fechadas, sozinha e sossegada, revoco o tanto se acumulou. Só na


portas
que

minha mesa de trabalho é transporto as imagens do o e


que passado para presente, permito

um estado adquira raízes. Talvez única


uma seja a flecha
que me abate.
poético palavra
que

Uma como vidro, deixa transluzir objeto, o torna transparente. A


palavra que que
precisão

da é a sua verdade.
palavra

O é o transformar-se da
processo poético percepção.

Valéry diz: o devolvemos não é o odor da flor. À semelhança do do


que
procedimento

trata-se de reconstrução do odor. O


é o aroma, o extrato,
químico, o
que permanece
per-

fume.

Um surge, um também se faz.


poema poema

Ditar a si significa, concentrar, reduzir, deslastrar,


pela poesia descascar os
portanto,
pensa-

mentos essenciais, e alcançar, através de limitações formais, uma comunicação

precisa.

Ponho as imagens à de sua concordância, as à de seu conteúdo e dos


prova palavras prova

abusos em são ou foram transmitidas. A temática


a arquitetura,
a estática
que proporciona

aérea do mas é ritmo ela se sustenta. Sob uma carga, a impressão,


o registro
poema, pelo que

de momento exemplo, desmanchar-se em conteúdos


um A forma é cunhagem
pode, por graves.

a memória. Ela escora e condensa, torna visível como figura a articulação das
para
palavras,

a sintaxe. Atrás da forma, encontra-se a tradição. Mas aqui tem-se um lugar de


precisamente

renovação. Linguagem e forma estão à base da alteração, do contrário, não estariam


já que,

vivas, e eterna, só a morte. Nossa realidade faz-se visível, unicamente, na linguagem e,


por

isso, também as formas transmitidas ser traídas.


poéticas podem

É assim se cria um e é assim ele se cria a mesmo.


si Renasce ainda no leitor,
que poema que

ele o descobre si e, na leitura sucessiva, o enche de vida com seu


quando para
próprio

sopro.

Tradução de Mareia C. de Sá Cavalcante


Wilson
Martins

Brasil
e Alemanha

•Relações

literárias

-*-
? o
se refere ao condicionamento
que intelectual, o século XIX brasileiro
(1822-1889)

clivide-se
em duas
assimétricas e desiguais, com o divisor de águas no ano
partes clássico de

1870.
Até 1868, dizia Sílvio Romero em síntese eloqüente,

o catolicismo
reinante não tinha sofrido nestas o mais leve abalo; a
plagas filosofia

espiritualista,
católica e eclética a mais insignificante oposição; a autoridade instituições
das

monárquicas
o menor ataque sério classe do a instituição servil e os
por qualquer povo;

direitos
tradicionais do aristocratismo dos
a mais indireta
prático grandes proprietários

opugnação;
o romantismo, com seus doces, enganosos e encantadores cismares, a mais

apagada
desavença reatora.1

De fato,
esse é o momento das idéias republicanas, cujo Manifesto data,
de
precisamente,

"instituições
1870, -
desafio às monárquicas" e é o momento da Escola
primeiro
partidário

do
Recife,
sem contestá-las abertamente, introduziu no um sistema de
que,
país pensamento

-
implicitamente
que as contradizia e, com elas, o sistema espiritual representado Igreja
pela

Católica,
não só enquanto religião, mas, ainda, como religião de Estado. Não surpreende

"questão

seja
também esse o momento
que da dos bispos", na era o Estado
qual político que

desafiava
o Estado eclesiástico e vice-versa.

O
reflexo evidente da franco-prussiana
germanismo, de 1870, afrontava deliberada-
guerra

mente
o
da cultura francesa, mas o é mais complexo do
predomínio
processo que pareceria

à
vista. A verdade é o francesismo
primeira e o foram as duas forças magnéti-
que germanismo

cas
atraíam o Império em direções contrárias, seja
que atavismos dos
pelos germânicos

Imperadores
lado de equivalentes atavismos
(ao latinos), seja fascínio irresistível da
pelo

preponderância intelectual francesa até àquele ano, realmente insuperável e


que,
parecia

se via de repente
que contestada cultura alemã. Numa simplificação retórica,
pela
pode-se

encarar
esse como a rivalidade entre a e a latinidade.
quadro
germanidade

1
Discurso
de recepção a Euclides da Cunha na Academia Brasileira de Letras
(1906). Para o do
quadro geral perío-

do,
v. Wilson Martins. História da inteligência brasileira, III.
126 Poesia Sempre
)

Era napolitana a mãe da austríaca D. Leopoldina


mãe, sua vez,
(1797-1826),
princesa
por

de Pedro II, assim como era napolitana a imperatriz Teresa Cristina. Habsburgo de aparência

e temperamento, Pedro II era homem de cultura francesa, deixando, isso, de exercer


por

durante o seu reinado a influência


seria lícito de tais
germanizante que
pressupor

antecedentes.

-
Para o mais especificamente nos interessa agora as relações literárias e artísticas
que

"caso"
-
entre o Brasil e a Alemanha o Carlos Gomes
servir de simbólico. O
pode
paradigma

do nacionalismo musical,
Guarani, ópera estréia também no ano emblemático
prototípica

de 1870, mas seu triunfo representou,


uma distorsão na do composi-
provavelmente, carreira

Partindo a Europa e integrando-se na corrente


tor. italiana iniciara o seu
para
que já período

ele não reconheceu a opção da


de esgotamento, modernidade e isso fator napolitano
pelo

Teresa Cristina representou


a imperatriz no seu destino. Carlos Gomes começou a
que

o enquanto a arte musical


caminhar européia marchava decididamente
para passado
já para

o futuro:

esteve nas mãos de Carlos


Ora, Gomes escolher a Alemanha e Wagner,
praticamente

lhe sugeria Pedro II ao conceder-lhe


conforme a bolsa de estudo em 1863, em
quadrienal

"por

lugar de Verdi e a Itália, interferência


decisiva
da Imperatriz, de Nápoles e
filha

". "italiano"

bel canto O triunfo


apaixonada
de Carlos Gomes dois sentidos da
pelo (nos

em 1870, era, um triunfo


trazia escondido em si mesmo um veneno
palavra), pois, que

mortal: nessas adquire conotações


sardônicas a atribuída a Verdi,
perspectivas,
frase

segundo a Carlos Gomes começava exatamente


onde ele havia terminado.2
qual
por

Wagner, e não Verdi, segundo


Ora, era Guy Michaud Andrade Muricy), esta-
que, (cit.
por

"no

centro do décimo-nono
va verdadeiramente século artístico". A oportunidade o des-
que

Gomes oferece-la-ia década


tino negou a Carlos e meia mais tarde significativo) a
(prazo

"chefe

incontestável
Leopoldo Miguez do movimento musical brasileiro nos
(1850-1902),

"fiel

escreve Luís Heitor,


últimos anos do século", wagneriano, consumido desejo de
pelo

estéticos". No mesmo ano Taunay apresentou


os seus ideais de 1863 em

propagar que proje-

Deputados, concedendo o auxílio de cinco contos de réis a Leopoldo


to à Câmara dos

de execução de uma sinfonia nos Concertos Colonne, de Paris,


Miguez cobrir os
para gastos

2 Wilson Martins, op. cit., III,


308.
Ensaios 127
J

representou-se -
no Rio o Lohengrin uma companhia italiana Em 1901, outra com-
(sic!).
por

"um
-
italiana -
a de Giovanni
panhia Sanzone levava no Rio verdadeiro drama lírico, conce-

bido no mais ortodoxo espírito wagneriano"


Heitor), I Salduni, de Leopoldo Miguez,
(Luís

com libreto
italiano
de Heitor Malaguti, inspirado num conto de Coelho Neto. Em 1913, ceie-

brado
em seu centenário
um artigo de Antônio Torres Wagner entrava
por (1885-1934),
para

o repertório
do Teatro Municipal do Rio de com o início das temporadas de Walter
Janeiro

Mocchi,
representando-se
nesse ano Parsifal e Valquíria.

Se os italianos
consentiam em representar Wagner, não foi, em compensação, muito

o entusiasmo
grande do crítico von
Carl Koseritz, apesar ou causa de suas origens
por ger-

mânicas:

No dia 19 deste mês de 1883)


(setembro levado o Lohengrin de Wagner companhia
foi pela

"mirabile
- -
italiana,
e dictu" não desagradou completamente. O ato mesmo
primeiro foi

aplaudido, mas depois as melodias de Wagner


fortemente terfatigado o
parecem público,

ele se manteve muito Algumas críticas eram mesmo cômicas. Assim,


pois (...).
frio por

"Como

exemplo,
diz o crítico da Gazeta de Notícias: concepção musical, o Lohengrin é um

aborto. Não tem nem cabeça e acabar onde começa nos campos à margem do
pé poderia

Schelde. Como manifestação de musical Wagner não nos ofereceu nada de novo.
progresso

Dissonâncias orquestrais muitas


ouvimos
(...)

Palavras
a Imperatriz deve ter lido com deleite. Em terreno mais familiar, sabe-se
que
que

"Ouvindo
Machado -
de Assis fez do Clube Beethoven e foi Beethoven" Rodrigo
parte
que

Otávio
escreveu um dos sonetos de Pâmpanos,
(1866-1944) no diga-se de o
qual, passagem,

nome
do compositor serviu apenas de
pretexto:

os teus dedos hãbeis do teclado


Quando

Ebúmeo arrancam as celestes notas

Dessa música estranha, eu sou levado

De um triste sonho às regiões ignotas.


(...)

O de uma forma ou de outra, nos reconduz à Poesia alemã traduzida no Brasil,


que,

lembrar o título da antologia de


para Geir Campos 1960), recentemente
(MEC, reeditada

(1994) como O livro de ouro da alemã Tecnoprint). Pelo


(Rio: da coisa,
poesia
pitoresco
)

128 Poesia Sempre


/

comecemos com o de H. Heine em o comandante de


(1799-1856) um navio
poema
que

negreiro Sklavenschiff"),
("Das suputando os lucros da viagem, calcula se lhes
possíveis
que,

restassem apenas
negros na chegada ao Rio de receberia
300 cem clucados
Janeiro,
por

"Navio

cabeça na Casa Gonzales Perreiro Houve apontasse no negreiro" de


(sic).
quem

Castro Alves, menos no se refere à dança macabra do tombadilho,


um desse
pelo que
plágio

mas é um forte, mesmo admitindo o conhecesse


poema, o
palavra pouco que poeta
poema

de Heine.

"Das

Claro, a antologia de Campos não inclui Sklavenschiff",


Geir mas, sim, entre outras,

"Intermezzo

as traduções de Machado de Assis do


(fragmentos lírico"), de Francisca
Júlia

esqueceste, inteiramente"), Gonçalves Dias


("Já e Alphonsus
("Regresso") de
pois,

Guimaraens Este último traduziu do francês,


("Nova assim como outros muitos,
primavera").

inclusive do espanhol. Do alemão, do espanhol e do francês, H. Heine teve entre nós tradu-

tores ilustres, como Raimundo Correia, Eduardo Guimaraens


e Albeno Ramos
(1871-1941),

"Lenda

além de Heine nos Poemas do Mar do Norte


(1894), também
traduziu Goethe
que, (a

da ferradura" foi incluída na antologia de Geir Campos).

A imperial de Goethe encontra-se toda


em nossas letras. Se Gonçalves
presença por parte

"Canção
"Canção

Dias tomou epígrafe da do exílio" os versos da


de Mignon" na língua
para

original:

Kennst du das Land, wo die Zitronen blühn


(...)

Ribeiro traduziu-a integralmente:


(1860-1934)
João

Conheces a região do laranjal


florido?

Ardem, na escura em brasa os de ouro.


fronde, pomos

No céu azul a brisa num


perpassa gemido,

A murta nem se move e nem o louro...


palpita

Não a conheces tu?Pois lã... bem longe, além,

ir-me contigo, ó meu bem!


Quisera querido

Alguns anos depois (1874), Capistrano de Abreu lamentava faltar no


das
poeta

"aquela

Primaveras inspiração calma, eclética e universal de Goethe", seja o for


que que

isso signifique, era vão no modesto Casimiro a figura olímpica de Weimar.


pois procurar
Ensaios 129

Também
Taunay o evoca, no das Memórias, ao lembrar a aparição de Inocência:
texto

lembrei-me da Goethe, descreve a impressão


tão exata e expressiva do
frase grande quando

"parecia

causara aquele ambiente acanhado se


a entrada de Dorotéia numa sala:
que que

tornava imenso espaço enorme".


e transformara-se num

"posto

Em 1879, de Goethe, em
apareceram de dois Prometeu, um deles o
traduções
por-

tuguês"
no Rio. Contudo, no das
Teixeira e
(1811-1885) prólogo
por Joaquim José publicado

"O

Folhas
de algum mau humor: ter de
outono, Bernardo Guimarães demonstrava
que pode

comum
inspiraram Goethe, o Para
a musa brasileira com as musas (...)?
panteísta que
que

havemos
do Fausto ?". Três anos antes, era
de nos nos mistérios herméticos (...)
enredar

ainda no
o dos Santos evocava soneto
alemão o socialista Generino (1848-1928)
poeta
que

"A

escola":

"Luz!

mais luz!" bradava o Goethe moribundo.

"Luz!

mais luz!" digo eu a ti, homem moderno,

Se esmagar o etemo,
queres preconceito

Matar com o vício imundo.


a ignorância, arcar

"Das

Goethe, autor de Flohlied" da


Nem tudo no olímpico ("Canção
era olímpico
pulga"),

Klabin Segall, em matéria de


humano traduzido
do servilismo
poema por Jenny que,

traduções a mais ambiciosos. O de Língua e


entregou-se
projetos professor
goetheanas,

Literatura Filosofia da USP, Pedro de Almeida Moura com


Faculdade de (1901-?),
Alemãs da

numerosas de Geir Campos e autor de um Perfil de Goethe


traduções na antologia (1951),

recebeu de São Paulo um livro de homenagem divulgação da


do consulado alemão
pela

respectiva
cultura no Brasil.

dizer oficial do nosso foi a Escola do Recife, tão


Claro, o centro assim
por germanismo

entusiasta depreciativa da brasileira coisa não ia sem a outra).


da cultura alemã (uma
quanto

Tobias escreve num dos seus o Brasil, à falta de


Barreto
(1839-1889) que grandes
poemas

homens, rios, Bismarck como modelo de


vangloriava-se de concluindo
grandes por propor

estadista. libertários dormita a nostalgia do autoritarismo. O


Assim se em todos os
prova que

seu Estudos alemães, mas o seu complexo de inferioridade


livro antonomásico intitula-se

racial ia ao de a criação de um
com finura Gilberto Freyre)
(desvendado ponto propor
por
Poesia Sempre
130 5

nos
aprovar o devia ou não ser
de
alemães incumbido publicado
tribunal de sábios que

"a

é a minha loucura".
ele: Alemanha
diversos Bem dizia
países.

do seu impacto,
do Recife havia a maior
a Escola
no começo do século, parte
perdido

"unia

o Nietzsche
do seu discípulo Graça Aranha,
na
mas ainda se que
pessoa
prolongava

anos, segundo,
o Wagner nietzschiano dos
fase com
da última
antiwagneriano primeiros

e catalíticos da Escola do Recife,


os sedimentos homogeneizadores que permaneceram
aliás,

sempre na sua inteligência".-3

para

- -
Nietzsche das relações intelectuais
o de nessa história
um nome
O introduz mais

que

tornou-se em nossos
O Nietzsche depois de longo eclipse,
e o Brasil.
entre a Alemanha que,

Amado, foi um
inesperadamente descoberto. Para Gilberto
filósofo excelência,
dias o
por

assinalou o fim do
Goethe mas, Elísio de Carvalho,
a (?),
o conduziu
para
pensador que

"artistas "o

modernos" da terra, Nietzsche


sentido
os
que
Simbolismo (?), possuíam
porque

um critério iniludível
incomparável, uma necessidade estética e
uma verdade
exalta como

de beleza".

de Schiller Bandeira Stuart),


é famosa a tradução Manuel (Maria
Voltando à
por
poesia,

nomes de nossa literatura, Manuel Pereira da


maiores de
é traduzido João
mas pelos
poeta

de Weimar em mocidade, a Raimundo Correia,


no seu regresso
Silva plena pas-
(1817-1898),

Cardoso de Menezes e Sousa, 1827-1915),


de Paranapiacaba (J°ão
Barão
sando
pelo

e Tobias Barreto. Hõlderlin, citar os se


Taveira (1836-1892) para que
Bernardo
Júnior

foi traduzido Manuel Bandeira, Moacyr Félix e


Geir Campos,
antologia de
incluem na por

"Canção

a do destino de
escolheu
Mário Faustino (1930-1962), que premonitoriamente

Hiperião":

recanto
Ai de nós!
que

repouso nos toca?


De

Desgraçados humanos

Tombamos e murchamos

^4s cegas, de hora a hora,

Como de em
fraga fraga

A torrente se atira,

Anos abaixo, rumo

Ao desconhecido.

Martins, op. cit., V, 198.


Wilson
3
131
Ensaios /

O número Brasil é bem maior do imaginaríamos:


de livros alemães traduzidos no
que

entre exclui,
1956 e 1980, 1.409 traduções em volume, o
Laurence Hallewell registra
que

naturalmente, Dürrenmatt, H.
autores como Brecht,
as avulsas.4 Nesse número incluem-se

Hesse, outros, mas,


Kafka, Remarque, T. Traven e muitos
Thomas Mann, Feuchtwanger,

desde Eduardo
os meados talvez traduzidas
do século XIX a editora Laemmert
por
publicou,

Laemmert,
mas não se sabe hajam
as Amorosas do Werther,
que provocado
paixões jovem

entre obras comple-


nós o editor Koogan tirava as
epidemia de suicídios. Em 1937,
qualquer

tas de Amar,
de Stefan tradução norte-americana
Zweig. curiosidade a
Assinale-se como
que

verbo
intransitivo
recebeu o título de Frãulein.

-
Em em alemão de
contrapartida, autorers brasileiros traduzidos
sendo numerosos os

Carolina -
será, com certeza, bem
Maria Rosa o número de
de a Guimarães
Jesus prosadores

maior É
sido regularmente traduzidos.
o dos é estes últimos tenham
se
que que
poetas,

levantamento
num caso e noutro, não se trata
lado do Atlântico. Claro,
a ser feito... do outro

de e da repre-
traduções em ambos os
da das
mas, também, países,
quantidade,
qualidade

sentatividade Maria de foi


É evidente Carolina
autores traduzidos.
literária dos Jesus
que

traduzida a se interessarem
levaram os alemães
dos
motivos diferentes por
que
por

Guimarães o sistema sintáxico da língua alemã


Rosa. Da mesma forma,
pode-se pensar que

era da língua francesa.


mais de Guimarães Rosa do o
congenial com o
que
português

original, mas, ainda, as


Caberia traduções com relação ao texto
comparar a das

qualidade

diversas Aqui, o
feito em diversos casos.
como tem sido
traduções do mesmo
poema,

o domínio dos dois


trata-se de avaliar não apenas
problema é diferente e mais delicado:

idiomas,
na sua lín-
dos tradutores
mas também, e acima de tudo, o
própria
gênio poético

fenômeno mais intrigante,


No traduzidos no Brasil, o
gua. dos alemães

quadro geral poetas

"difícil"

creio e de
não tanto ser um
eu, será o de Rainer Maria Rilke
(1875-1926), poeta
por

reduzidas lufadas
de ressurgir em
conosco, mas singularidade
afinidades
pela
psicológicas

de a se
interesse. década de 80/90, repetindo o rilkianismo
está ocorrendo na
É o que
que

refere
Augusto de Campos:

a conheceram imensa
a brasileira
Nos anos 40, em (e
poesia portuguesa)
pleno pós-guerra,

Arnaldo Saraiva, Para a História da


documentado no opúsculo de
voga de rilkianismo, bem

Rilke, especialmente as de inflexão


e no Brasil. As obras de
Leitura de Rilke em Portugal

4
O livro 1985.
no Brasil. São Paulo: T. A.
Queiroz,
132 Poesia Sempre

metafísica, como é o caso das Elegias e dos Sonetos a Orfeu, muito traduzidas e
foram

difundidas entre nós e ele época, entronizado no dos vates admirados


fez panteão por

integrantes e/ou da Geração de 45. Por outro lado, a elegância e a nobreza


simpatizantes

dos seus temas, assim como a aparente tranqüilidade de sua vida transcorrida

entre vilegiaturas e castelos, o malvisto da esquerda


aristocraticamente
fizeram pelos poetas

concretos também o de
oficial. Os
(...) puseram
poetas quarentena,5

ele trata de corrigir, mencionando as duas ou três referências ocasionais


Foi um lapso,
que

lapso agora expressamente resgatado traduções. Nas a


dos concretos a Rilke, suas
por quais

a mais é reencontrar o verso regular, rimado e metrificado


maior surpresa, e com
grata,

cuja morte os concretistas haviam decretado ao tempo dos mani-


felicidade,
grande grandes

Originários do Clube de Poesia Paulo, sede da


festos verbivocovisuais. de São oficial

"concretos",

como diz, dele se representado


Geração de 45, os separaram com o cisma
por

movimento, adotando Mallarmé contra de


seu Rilke enquanto diretor consciência
próprio

"volta

testemunhando a a Rilke",
Estamos semanas antes das traduções de
poética. porque,

Campos, apareceram as de Paulo


Augusto de Paess e Karlos Rischbieter.7
José

"intensa

de Campos não menciona os


Augusto concorreram a voga
poetas que para

no Brasil, cabendo lembrar, exemplo,


rilkiana" Cecília Meireles canção de amor e de
por ("A

do Cristóvão Rilke"), ignorada


morte antologia de Geir Campos, e as
porta-estandarte
pela

inclui da sua Abgar


ele (além Renault, Manuel Bandeira, Pedro de Almeida
própria):
que

de Almeida, Ivo Barroso


Moura, Guilherme e Geraldo Vieira. Das Elegias de Dnino, a
José

traduções de Vinicius
antologia de Moraes e Lina Paranhos, enquanto Dora
privilegiou

"Réquiem"

Silva, também as traduziu, foi escolhida


Ferreira da como tradutora do o
que
para

Kalckreuth. Enfim, não se esquecer


conde Wolf von o livro de Cristiano Martins,
pode
publi-

Rilke: o e a
cado em 1949,
poeta poesia.

a introdução de volume
Na linha dos ensaios críticos, Paulo Paes o seu é uma
José
para

Rainer Maria Rilke, tanto no à biografia


excelente... introdução a se refere do
que quanto

Karlos Rischbieter algumas anotações autobiográficas.


de vista analítico.
preferiu
ponto

Paulo Paes e das suas não têm cabimento


Diante da tradução de as
José próprias, já

Rilke: Rio: Imago, 1994.


poesia-coisa.

Poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Senhor, é tempo. Curitiba: Posigraf, 1993-


Ensaios
r 33

"o
restrições
de Augusto de Campos segundo as menos transparece nas aborda-
quais que

de -
Rilke em nosso
gens meio foi a linguagem
(...) de sua foram
poesia" porque justamente

os -
aspectos -
formais
negligenciados os levaram a traduzir não as
geralmente
que palavras

ou os conceitos
de Rilke, mas a sua

poesia.

"A
Num exercício,
digamos,
didático, vejamos as leituras dos últimos versos de
puramente

pantera" três tradutores: Karlos Rischbieter Paulo Paes e Augusto de


pelos (1), (2)
José

Campos -
O divide-se
(3). nitidamente em duas a narrativa nas
poema
partes parnasiana

duas
estrofes, e a interpretação da última. É nesta se
primeiras simbolista encontra a
que

do
poesia sendo a contém e causa o impacto emocional, a vê além do
poema,
que que para

está
sendo visto
que na do Botânico.
jaula Jardim

1) Só
vezes, a cortina da
poucas pupila

2) Certas
vezes, a cortina das
pupilas

3) De vez em o da
quando fecho pupila

1) se abre silente. Uma imagem então

-
2) ergue-se em silêncio. Uma imagem então

3) se abre em silêncio. Uma imagem então

1) entra membros, tensa mas tranqüila


pelos

-
2) penetra a calma dos membros tensos trilha

morrer no coração
3) para

-
Pode-se
comparar a dos três tradutores em Rilke, é uma
pantera que, pantera

antropomórfica -
com a animal de Leconte de Lisle rêve du
("Le
pantera puramente jaguar"),

"traduzir
e
assim
diante. Karlos Rischbieter menciona, de Rilke é dupla-
por passagem, que

mente -
difícil: além da dificuldade de traduzir do alemão língua oposta ao
quase que por-

-
tuguês
há a dificuldade da linguagem rilkiana'. Rilke criou um alemão diferente às
que

vezes
ele criou um idioma à só seu". De fato, as sutilezas síntáxicas e
parece que parte,

semânticas -
da língua alemã nem sempre encontram harmônicas fiéis em razão
português

sempre nos decepcionantes, exemplo, as traduções de Goethe.


por
que quase parecem por

Mas,
ocorre afinidade entre o e o o traduz, o resultado
quando psicológica poema poeta que

"Kolumbus",

ser a obra-prima Raimundo Correia reescreveu com o de Schiller.


pode
que
POESIA
Hans Staden

Ilustração de Hans Staden a sua obra:


para

Warhaftig Historia und beschreibung eyner Landtschafft

der Wilden / Nacketen


/ Grimmigen Menschenfressen Leuthen

/ in der Newenwelt America 1557]


[Marburg,
gelegen
OESIA BRASILEIRA

Alexei Bueno

Os eternos

p
-1—/
statuas
dos deuses brancos,

Um sem
mãos, sem a cabeça

Um outro,
a nos flancos
portar

O manto
de um desça
sol
que

Ou
suba,
aléia de
gestos

Alvos,
fitando
o oceano

Alheia
aos ventos funestos,

Ao
sopro
humano e inumano,

Fila
de risos sem boca,

Longos
olhares sem olhos,

Ouvidos
surdos à rouca

Conversação
dos escolhos,

Altivos,
friamente ígneos,

Lançando
dardos sem braços,

Sem
alma urdindo os desígnios

Mais certos os nossos


passos,
que

Imortais, de nós,
sonhos

Cristalizados, latentes,

Sem antes, hoje ou após,

Gélidos sobre as torrentes


\

138 Poesia Sempre


J

Do sal impreciso, erguidos

Nas decisões sem entraves,

A noite de astros vesticios,

De dia do asco das aves,

E inabaláveis, repletos

Da de si, exatos,
glória

Mutilados mais completos

a soma dos nossos atos,


Que

Totalidades corpóreas,

Sorrisos leves do eterno,

Deuses, fixas trajetórias

Paradas num fora interno,

Deuses, imortais, imotos,

Gestualizadas conquistas,

Chamas, vizinhos remotos,

Hálitos de idos artistas

é a lenda
Há tanto,
que quase

Terem sido, serem, sem

ausência os
alguma
Que pretenda,

E a morte morre também.


ítacci

uer tremam os céus

me auguram morte
Que

Ou se estorça o deus

Da úmida cratera

Contra
a minha sorte,

Itaca
me espera.

Cheire-me
o
gigante

Na inviolável
furna,

Beba
o mar bramante

A última

galera

Na exaustão
noturna,

Itaca
me espera.

Puxem-me
as sereias

Com
sonoros laços,

Prenda-me
em suas teias

Aquela
impera
que

Nos mortais cansaços,

Itaca me espera.

Lance-me bruxedos

A odiosa maga,

Mordam-me os rochedos

De dentes de fera

Onde o mar nos traga,

ítaca me espera.
140 Poesia Sempre
)

E lá longe brindem

Minha hora funesta,

Mesa e adega findem

Da mansão severa

Para a hedionda festa,

Itaca me espera.

E então durmam tortos

De risos vinhos,
e

Vivos mortos,
quase

Neles meu ser


gera

A ânsia dos caminhos.

Itaca me espera!
Helena

Ko cômodo onde Menelau vivera

Bateram.
Nada. Helena estava morta.

A última
aia a entrar fechou a

porta,

Levavam
linho, ungüento, âmbar e cera.

Noventa
e sete anos. Suas
pernas

Eram
dois secos recurvados.
galhos

Seus
seios até o umbigo desdobrados

Cobriam-lhe
três hérnias bem externas.

Na boca
sem um dente os lábios frouxos

Murchavam,
ralo lhe cobria
pêlo

O sexo
de
que perto parecia

Um
antigo de tons roxos.
pergaminho

Maquiaram-lhe
as vincadas,

pálpebras

Compuseram
seus ossos
quebradiços,

Deram-lhe
à boca uns rubores
postiços,

Envolveram-na
em faixas
perfumadas.

Então
chamas onívoras tragaram

A carne vontades.
cindiu tantas

que

sua sombra idosa entrou no Hades


Quando

As sombras dos heróis todas choraram.


142 Poesia Sempre

Alphonsus de Guimaraens Filho

Esta noite

f~j * ta tão terrível,


noite terrível,

tão noite. Debruçado


Tão
profunda,

teias de sombras do invisível,


Sobre as

o silêncio iluminado.
O homem
quer

Intermitente frêmito dorido,

Percute em tudo um canto atravessa


que

O céu longínquo de nós


já perdido

Mas onde atrai um sonho não cessa.


que

Fria noite total! Nela se apreende

há muito apagada e dissolvida


Luz

sopro de treva se rende


Como um
que

-
a vida.
À ânsia de claridade
própria

não mais, e navegando


Somos canto,

somos, cegos, esperando.


Noturnos
O enigma

p
-*¦
or
na realidade,
que,

mais forte
Quanto é a luz,

Me vem
a estranha vontade

De fugir,
de trobar clus?

Por
se tenho
que
presente

Um
sol real,
mais brilha,
que

Outro
sol oculto e ausente

Me
cega
e me maravilha?

No
real,
na irrealidade,

Paira
o espírito
buscando

Grave
fonte
da verdade

tendo,
Que, inda está sonhando.
Poesia
Sempre

Quando

liando tudo for eterno:

O dia, com suas fontes inaudíveis;

O amor, com seu canto de ave ausente;

A dor, com seus violinos sufocados.

tudo for eterno:


Quando

O azul, com seus silêncios inefáveis;

A luz, com sua oculta melodia;

A noite, com suas lâmpadas de lágrimas.

tudo for eterno:


Quando

A água, com seu ofego de esperança;

As flores, com seus líquidos suspiros;

As nuvens, com seus vôos de asas frágeis.

tudo for eterno.


Quando

tudo for eterno.


Quando

Aí, sim, então começarei a morrer.


César
Leal

Nassau

V-/ heguei a Pernambuco, eu era um


príncipe,

- -
Nobre
alemão
sem ódio nem temor

Trouxe
comigo a arte dos flamengos,

ao canhão
Junto o do
pincel pintor.

Fiz
do Recife
uma cidade eterna

com
tantas ao rio
dei beleza
pontes

os da
para terra eu fui duro na

guerra

e lhes
mostrei espada o fio.
de minha

De
volta
à Europa, no mar de longo,

lembrei -
os canaviais outros o tomem!

Na
Alemanha epitáfio:
escrevi meu

"A

morte do homem".
é a última vaidade
146 Poesia Sempre

Sutilissimo eterno

utilíssimo eterno habita


Cy
que

minhas saletas interiores

onde trago o tempo


guardado

noturno e resignado

sutilíssimo eterno interior

como um tálamo é
que

em minha alma limpa e sofrida

como água dormida em

pedra

eterna seiva alimenta


que

este tempo em mim retido

livre de flor

plumagem

forma exata imperecível

sinto-te assim como um trunfo

branda coroa do eterno

além das nuvens, das águas

ouço o teu metal desperto

se existes no ser completo

na cinza móvel das sombras

retiras de mim

por que

tudo o em mim não é

que pântano?
Análise
cia sombra

nalisa-se da sombra

seu
caráter

permanente:

manhã retraindo
pela

a imagem,
à tarde crescente.

E aquele a sombra
instante em
que

adelgaça
o corpo fino

como
se no chão entrasse

a
o sol se encontra
quando pino.

mira
a esse instante
Quem

em lado
oposição ao

onde luz antes


o sol era

logo vago
vê o
passo

da cresce
sombra agora
que

o corpo se filtra
de onde

até no limbo
fundir-se

em torno dela
que gravita.

Forma limbo a coroa


esse

traz federadas:
as sombras
que

soma de todas as sombras

num nó à noite atadas.



148 Poesia
/ Sempre

Chico Lino Filho

Abajur
de luz

o alpendre

da casa-grande

o abajur era

a lua.

nas enormes

janelas

a lua caía nem


que

luvas, minhas tias

as vestiam

noivos tinham
(os

de chegar).
promessas

talvez viessem

com a lua

e desmontassem
dela

com buquês de luar.

a lua era clara

entre os noivos

a também)
(e
janela

os abraços
fossem
que

o escuro.
para
Poema
ao bigode de meu avô

eu avô com bigode de alfenim

era
dono
de engenho,

tenho do
que seu bigode
pena

hoje
amargo.

seu
bigode
doce doce

diziam
as negras do engenho,

meu
avô
se ria

com
cara de tacho.

meu
avô
seu bigode
perdeu

de
alfenim
e as negras se foram

na lembrança
do bigode doce doce,

na velhice
perdido

deixou
de ser alfenim.

as
negras não o fim,
queriam

o bigode de alfenim.
queriam

mesmo
assim,

meu
avô o riso amargo,
preferiu

meu avô não soletra

o
mundo moderno nem as mulheres
gostosas

seus olhos espiam,


que

hoje, bigode raro, suja no


se mel

do seu catarro.
150 Poesia Sempr.

Meus córregos

os córregos recolhi

meus

pés.

eles na infância eram

meus sapatos fiéis.

hoje, não os calço.

trago-os na memória

curar meus
para

calos.

corri nos córregos, não

corri dos córregos.

o tempo me fez andar mais

rápido.

os córregos são imagens

me atravessam
que

como riachos.
Hilda
Hilst

crua a vida. tripa e metal.


Alça de

Nela
despenco: ferida.
mórula
pedra

É crua
e dura vida. um naco de víbora.
a Como

Como-a
no livor da língua

Tinta,
lavo-te Vida, lavo-me
os antebraços,

No
estreito-pouco

Do vida
meu corpo, vigas dos ossos, minha
lavo as

Tua
unha casaco rosso.
meu
plúmbea,

E
rua
de coturno
perambulamos
pela

Rubras,
corpo e copos.
altas de
góticas,

A vida corvos.
é o bico dos
crua. Faminta como

E lágrima
ser e mítica: arroio,
tão
pode
generosa

Olho
d'água, A vida é líquida.
bebida.
Poesia Sempre
152
)

omo se te assim te
VV
perdesse, quero.

Como se não te visse douradas


(favas

Sob um amarelo) assim te apreendo brusco

Inamovível, e te respiro inteiro

Um arco-íris de ar em águas
profundas.

Como se tudo o mais me

permitisses,

A mim me fotografo nuns de ferro


portões

Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima

No dissoluto de toda despedida.

Como se te nos trens, nas estações


perdesse

Ou contornando um círculo de águas

Remove-te ave, assim te somo a mim:

De redes e de anseios inundada.


as vinhas
V i as entre
éguas da noite
galopando

E altas.
buscando meus sonhos. Eram soberbas,

Algumas
tinham manchas azuladas

E o dorso reluzia igual à noite

E as manhãs morriam

Debaixo
de suas encarnadas.

patas

Vi-as
sorvendo as uvas
que pendiam

E os e orvalhados.
beiços eram negros

Uníssonas,
resfolegavam.

Vi os escombros
as éguas da noite entre

e ciladas.
Da Vi sombras, elfos
fui.
paisagem que

Laços entre as alfombras


de e
pedra palha

nome e meu retrato.


E meu
vasto, um engolindo

poço

Vi-as Intensas.
tumultuadas.

E mim me vi.
numa insone, a
delas,
154 Poesia Sempre
)

Lya Luft

1 J stes são os meus objetos:

têm uma não é do tempo,


pátina que

é minha dor

roçando neles sua mão aflita.

Este é o meu rosto:

uns olhos de demais, olham


que, procurar

só dentro. E se tudo desemboca na morte,


para

esse é o meu destino. É lá vou,


para que

esperança e
protesto,

segurando o candelabro dos amores

me iluminaram na vida.
que

singularmente,
(Resistirão,

ao meu último sopro?)


TV, comigo:
ão falem alto

andem na dos
sempre
ponta pés.

Principalmente,
não me toquem.

Finjam um absorto,
não vêem se tenho
jeito
que

se nem as
sempre entendo
perguntas

com a antigamente,
rapidez de

se
fatigada
pareço

e sem nunca fui.


como
graça

Façam meu redor.


silêncio ao

nem o místico.
Não me nada o cotidiano
interessa

Não do mercado
discutir os
quero preços

nem da eternidade.
os mistérios

grandes

Levo meu amado no


peito

braços sempre
como carrega nos
para
quem

uma morta.
criança
Poesia Sempre
156

onda, azul, no meu aquário.

peixe

Gruda na minha boca de vidro a tua boca:

do fio dos teus regiros farei asas

ou barbatanas me levem
que junto.

Depois, vem baixar na lama, onde os amores

acaba o mundo.
mergulham sempre,
quando

Peixe azul, na morte há novas águas:

ela espera nós, a rir,

por

no fundo.
Poesia Brasileira 157

Marcos
Konder Reis

O vinho branco do céu do amanhecer

e o vinho do céu do anoitecer.


tinto

o sol numa raquete: a luz e a sombra numa


quadra

de
arcanjos tênis.
a
jogar

trás das varas do


por
pomar,

o rosto seu chapéu de


radiante do com
palha
quintal

e uma a raia atravessa,


fileira de bandeirinhas,
que

verde,
como um sapo,
aquele rio,

ou rancor se desamarra
como um calafrio, o meu

do
não suportar,
que pode

e eu
manquejando cais.
passo pelo

raspar
e ficar comparando, na do engenho,
a mandioca
janela

a rapidez
dos ratos e dos
passarinhos,

uma
cama de farinha

entre menino respira


os rabanetes do canteiro, o

sob brancas do inverno


uma canga de sangue, as
paredes

cortadas
faca da cozinha.

pela

de nos vale ratificar as num

que palavras poema

e conhecer a das cores num de outubro?

proporção jardim
158 Poesia Sempre

de vale o raciocínio de andorinhas, se não


que
podemos

beber o céu de abril, se não abolir nossa vontade


podemos

de sentir o corpo de um e arrear a desordem como um fardo?


prazer

se não arredar desse lugar no mundo,


podemos
prontos para partir

equipados uma realidade rica de alegrias?


por

retroceder seria

me transformar num vira-lata, e tentar escapar,

com raiva, de um na bunda.


pontapé

recente, como a chegada de uma flecha,

ressurge, depois de lutos. regimentos e recursos,

o carisma de um rei. o sol no rosto de um novo reino,


popular

o bastão cintilante do comando, como de um relógio


ponteiro

marcando o tempo verdadeiro


de alegria.

legal: o erecto.

se levanta, como uma capaz


que guerreiro,
prece

de conceder a
paz.

eis um menino cavalgado um de asa,


por golpe

arriba entre os rasgados no varal.


que pijamas

o campo, o espaço livre, o rumo claro,

o ruibarbo dos telhados neste vale,

e corda me arrasta, o teu sorriso,


que

e te regando com meu choro.


gemendo
Poesia Brasileira

as
veredas
abertas
rodas de um
pelas
jipe

num
certo frio de sempre-vivas

a rendinha
das folhas no meu rosto

e seu
rumor
de redes
me arrancam da rotina.
que

o riso
rigoroso
de um rijo construtor de

prússias,

o risco
de uma resma de batalhas,

o rococó
das
minas e alemanhas,

o
bico
da ferrugem
corroendo os do mundo
guindastes

e as
rocas
restaurando
as veias de um destemor de espanhas.

escrever

um romance
ou fazer uma romaria?

colher
um
ramo de rosas ou rezar um rosário?

fazer
teu
rosto
rorejar de
prazer

°u
me
sentir
orvalhado certeza
pela

de

o
que da infância se desfaz do rocio como um suspiro?
pátio

na
mesa
do de antigamente, o molho de ferrugem do assado
jantar

e
as
batatas
morenas, o íubor do teu rosto, falo
quando

das
amoras
selvagens e da robustez do velho carvalho

havia
que lá nos fundos do
jardim.

na
o ruivo do
janela, crepúsculo
golfo

e
o rubi
numa torre do aeroporto.

10

no
estômago de um noviço,
primeiro os rudimentos da fé,

como
a incerteza da chama suspirada de uma vela.
Moacir Amâncio

Os mortos

D oem, os falhos enigmas,

não no vago corpo deles,

em nós, alguns leitores,


doem

os esquecidos da língua

onde se escritos.

guardam

Deveremos aprendê-la

- -

alfabeto e reconquista

soletrar iguais

para

dimensões de solidão?
Poesia Brasile 161
\

Desencontro
cio Dantas Motta

poeta

ou
o Anjo de Capote

"Sim,

Monte Sião do País das

Gerais
(também Aiuruoca chamado),

esquecida

filha."

D.M.

-^1
s ruas se desconformam

no
dobrar
de asas do dia

e
dos
becos vem a noite

em
ondas
sobre a cidade.

A surdina
de teu canto

aos
também se espalha
poucos

revelar na
para sombra

tua
eleição
dos exílios

são o
que mapa, a casa,

homens,
teu mundo, Sião.

Eu
te
nos bares,
procuro

mas
mesmo a voz de teu filho

não
faz eco aos versos úmidos,

veios
de fertilidade.

enquanto
fértil
possível

nas
escarpas e lajedos

de
uma Sião devastada

em
teu sobrepondo
peito

templos

presentes perdidos.
Sempre
Poesia
162

notícias de Sião,
Sem

n'Aiuruoca
perdido,

apenas se afastando
vejo

vão sumindo
e aos
poucos

cigarro e capote.
chapéu,
A de Eliot
do retrato

propósito

-L
aletó e
(funcionário
gravata público?)

o
moderno
poeta

senta-se
nos alfarrábios,

apóia
o no cabo do

queixo guarda-chuva

como
se o fizesse sobre um
grito

-
dobrado
em suas asas

e cita:
nunca mais.
Sempre
164 Poesia
)

Werneck
Ronaldo

Farol

um furor funâmbulo
az-se no fundo

h
J

só noite e mundo
noctâmbulo,

súbito
penumbra, preâmbulo

só do sono um sobressalto
surge

uma onda malsã


um susto,

chumbo da manhã-cobalto
no

do sobressono um salto
surge só

mergulho no mardrogado
um

marulho, maralto
engulho,

uma fresta
faz-se no sobressono

réstia, sobrepondo
uma

resta, luz canhestra


luz ao
que
Poesia rasileira J 165

Galo/Galo

ntre engasgos

& engulhos

acordo

sinalizando vômito

mais o cante
por que galo

ou não

indômito

ou não

há sempre

o levante

e a surpresa deste dia

onde
brindo

antes

mais uma vez

polissemia

ou não

é isso

não

é isso

de repente

me calo

e deixo ao seu ofício


galo

tão inesperado

tão
súbito

e violento

esse cantar

tão cantar

esse cantar
Poesia Sempre
166

tão nunca mais

tão auroras

tão sinfonia

de &
perdas pardais

tão cantar

esse cantar

tão agudo

tão
grande

tão ancho

a ele
que

me agarro

gancho

mais
para

este dia

ofereço à
que poesia
A UTORES INÉDITOS

André
Ricardo Aguiar

Culinária

a Chico
Uno

X cozinheira me encantava

no tempo
da serventia

e vacas
magras.

Tinha
os olhos crus,

era
a sua inocência

destemperada.

Do
tempo levou bolo

e suas
rugas foram servidas

em

grandes porções.

Seu
último forno

era
sem fogo, cemitério

de
outros fogões.
168 Poesia Sempre

Leitura da insônia

O telhado,

essa

quilha

me lê
que

muito antes

do leite da manhã

dos

garis

catam
que

restos de salário

e dos homens

de rara alvenaria,

esses
pássaros

trocam o rio
que

dia.
pelo
Carlos
Tamn

A
asa

palavra

O
desfia a fibra da
poeta
palavra

aberta

na
sua mesa cama banheiro

descasca
a escalpela
pele

depois

rasga
os músculos abre a ossatura

belisca
morde chupa

poeta

desmonta
aos risos

vértebra
fêmur crânio costela

localiza
o hirto fígado frio

seu
silêncio

e devagar
aproxima o dedo

aperta
mede textura

densidade

superfícies
ásperas

macera de sombras
e uma umidade

penetra

acende
um fósforo lâmpada

e descobre vértices, lava,


pântanos

encharcado

cegos
metros de intestinos
percorre

e encontra lume lanhos


lâmina

lentamente do olho
abre as lentes

e verte e séculos
léguas

de imagens em
procissão

como fundo do lago retém


o

tudo a superfície vê
o
que

e reflete
170 Poesia
J Sempre

destece a trama do corpo

feito de

palavras

o os fragmentos
poeta junta

e engendra outra engenharia

sonhou nos intestinos do cérebro


que

do seu cérebro alado e nu

faz um mundo

vagas de inundando
o mar
pier

sopros de terra afagando

peixes

afogando rãs

baleias tubarões

esfrega o vermelho dos crustáceos

se abre nos cascos

triste
galopa quando

e vê anjos constelações
gêneses

imóvel e silencioso
queda

o universo sopra favorável


quando

ouve valsas vândalas

e não dança

a não ser

um vento lhe alcança


quando

as asas amarelas

o mói os vidros do discurso


poeta

enquanto solene
penteia

as sereias vermelhas

recolhe os cacos estilhaçados

constrói outro aço

e no espelho se vê

artesão e artefato
Caiafa
Janice

Três
Cravos

T
-L res cravos de agudas

como unhas:
pontas

um
rubro
como um tango

outro
como neve branco

outro
branco
e encarnado

salpicado
de sangue

não é seu.
que

Três
cravos
indóceis

três
carnes

pulsantes

três
flores

passionais

de
revoluções,
de amores

perigosos. Flor dos


povos!

De
amantes cravo!
ferventes,

Três
cravos

frisados
minuciosamente

delicada
flor das insurreições.

Entre
os dentes

de talo recente
gosto

amarfanhadas no decote.
pétalas

Três
cravos!

Flor
flor

passageira,

da
viagem, flor da História,

Flor
acontece!

que

Três rubros
cravos

são rubros todos os cravos.


172 Poesia
) Sempre

-
-L y -L ílena disse o
poeta

vivo do teu nome,

o som ouço a repetir


que

na mudança da ênfase encanta-me.

Diria Lílitchka
assim:

-
Vladímir
o
do nome
poema

o
ama
poeta que

o som do meu nome... disse

ela: eu movo as sílabas

como versos. A musa

não troca o nome do

poeta

dinheiro e fama.
por

Vladímir Maiakóvski!

Afora o

poema

não há som faça


que

Lílitchka ou Milena

repetir cantábile e como hino

a sílaba,
em lugar do
que parece
poema

mas é o exclama desde antes do título!


que

a sílaba do nome.
primeira

Para Via e em homenagem a

"Lílitchka!

-
em lugar de uma

cartade Maiakóvski,
na tradução

de Augusto
de Campos.
Luiza
Franco Moreira

Integra

S
^ im, fiz bobagem:

cantei
o namorado de minha amiga,

seduzi
homens

não sabiam
que trepar, ou nem

se
interessavam,
saco;

desenfreada,
me maltratei

tinha bebido ou sempre


porque

o fumo me assanhava
que
pavores;

manipulei
alguns, também

fiz
vários
infelizes.

Mas
o imperdoável

é
isso não me diverte.
que
Promíscua, epetrarquista

D aquele moço com olhos azuis

me ficou

certo em espiar
prazer palavras

arrevezadas

rolarem na boca,

esse tinha olhos incertos


que

deixou minh'alma

de repente

com mania de

píncaros,

o teu olhinho estrábico

e rápido

nem lembro se cruel

sustenta a madrugada mais insone,

mesmo os bem mansos

crianças

com voz de choro e olho comprido

enfeitaram meu corpo e meu sorriso;

de dentro dessa tua barba imensa

tão distraída)
(eu

olhos bem nítidos

pouco

formaram

inesperada nos meus dias.

pausa
L
E T R A S U L

argentina

Estebán

Moore

No
bagas
una
historia dei amor

e de
tus

pies

perdidos en la noche clara

recorriendo

Ias cenizas dei fuego sin medida

todo
es inútil:

en
el invierno

tus
lábios
no
su lengua
poseerán

todo
es
inútil:

en
el invierno

la
voz
te nombra escalará la memória dei olvido
que
176 Poesia Sempre
)

Rojas
Gonzalo

con L
Escrito

a Liscano
Juan

J\^I.ucha lectura envejece la imaginación

Ias abejas mata el zumbido


dei ojo, suelta todas
pero

de lo invisible, corre, crece

tentacular, se arrastra, sube al vacío

dei vacío, en nombre

dei conocimiento,
pulpo

de tinta, la figura dei sol

paraliza

hay en nosotros, nos

que

viciosamente mancha.

lectura entristece, mucha envilece


Mucha

apestamos

a viejos, los
griegos

nosotros los turbios


eram los somos
jóvenes,

al ángel dei aire:


como si los dijeran algo distinto

papiros

nosotros los soberbios, ellos eran inocentes,


somos

nosotros los dei mosquerío, ellos eran los sábios.

lectura envejece la imaginación


Mucha

todas Ias abejas mata el zumbido


dei ojo, suelta
pero

de lo invisible, acaba

L de la famosa lucidez
no tanto con la

sino con esa otra L

de la libertad,

de la locura

ilumina lo hondo
que
de
lo lúgubre

dei
laberinto,

lambda

loca

luciémaga

antes
dei fósforo,
mucho antes

dei
latido

dei
Logos.
COLÔMBIA

Manuel Roca

Juan

dei los espejos


Canción

que fabrica

Jt^ abrico espejos:

Al horror agrego más horror,

Más belleza a la belleza.

Llevo la calle la luna de azogue:


por

El cielo se refleja en el espejo

Y los tejados bailan

Como un cuadro de Chagall

Cuando el espejo entre en otra casa

Borrará los rostros conocidos,

los espejos no narran su


Pues
pasado,

antiguos moradores.
No delatan

construyen cárceles,
Algunos

Barrotes
para jaulas.

Yo fabrico espejos:

más horror,
Al horror agrego

a la belleza.
Más belleza
COSTA
RICA

Oswaldo
Sauma

La
ventana

X o he creado
esta ventana

donde

depositan su luz
pájaros

con
certera
naturalidad

el viento
y mueve los árboles

con
un rigor
insospechado

he
yo creado
esta ventana

donde
al noroeste
el sol

despliega

sus al hombre
plumas

entre
que el insomnio

aguarda

el dia ofuscado

he
yo creado
esta ventana

donde
la luna llena desata

esa
necesidad
de la mujer

he
yo creado
esta ventana

donde
el colibrí

defiende
Ias amapolas con ciega ferocidad.
180 Poesia Sempre

CUBA

Félix Luis Viera

se haga leyenda
Quiero que

p
I J ra una calle estrecha de adoquines gastados, casi hundidos,

y tenía la calle a cada lado una Mera de álamos.

De manera todo estaba dispuesto la nostalgia;


que para

más cuando ocurrió en un crepúsculo frio de noviembre

y eran Ias nubes oscuras y macizas.

Ella iba sola, sola, aunque a mí,


prácticamente pues junto

eran mis pasos los pasos dei ausente.

Al final de la calle se abria una suerte de natural


plazuela

de yerba y roca, y luego el mar.

Había una lancha.

Del mar venían vocês que parecían una manada de lagrimeando.


perros

El adiós no se vio, ya estaba completamente oscuro.

Ahora, no parece realidad, por eso

quiero que se haga leyenda.


EL SALVADOR

Claribel
Alegria

Carta
a un desterrado

M i
Odiseo
querido

no es
ya má«
posible

esposo
mio

el tiempo
que vuele
pase y

no te cuente
y
yo

de
mi vida en Itaca.

Hace
mucho anos
ya

te fuiste
que

tu
ausência
nos

pesó

a tu hijo

a
mi.
y

Empezaron
a cercarme

pretendientes

eran
tantos

tan
tenaces
sus requiebros

apiadándose un dios
que

de
mi congoja

me
aconsejó tejer

una
tela sutil

interminable

te sirviera a ti
que

como
sudario.

Si llegaba
a concluiria

tendría
sin mora
yo

elegir un esposo.
que
182 Poesia Sempre
)

Me cautivó la idea

al avantarse el sol

me a tejer

ponía

destejía la noche.

y por

Así tres anos


pasé

ahora, Odiseo,
pero

mi corazón suspira un
por joven

tan bello como tú cuando eras mozo

tan hábil con el arco

con la lanza.
y

Nuestra casa está en ruinas

necesito un hombre
y

la sepa regir.
que

Telémaco es un nino todavia

tu un anciano.
y padre

De mi amor hacia ti

no ni un rescoldo.
queda

Telémaco está bien

siquiera su
ni
pregunta por padre

mejor ti
es
para

te demos mueito.

que pur

Sé los forasteros

por

de Calipso

de
y

Circe.

Aprovecha, Odiseo

si eliges a Calipso

recobrarás la
juventud

si es Circe la elegida

serás entre sus cerdos

el supremo.

Espero esta carta


que

no te ofenda
183
Letrasul

no invoques a los dioses

será
en vano

recuerda
a Menelao

con
Helena

esa
loca
por
guerra

han
la vida
perdido

nuestros
mejores hombres

estás
tu donde estás
y

no vuelvas,
Odiseo,

te
suplico

Tu
discreta
Penélope
184 Poesia Sempre
)

URUGUAI

Luiz Bravo

Círculo
de sangre

TT

-L JL ay un tiempo en uno llega al colmo de su finitud.


que

No es la muerte, sino el trânsito interrumpido.

(Pudiera ser la muerte un trânsito a otra carretera, en naves diferentes,

no es el tema).
pero

En el colmo de la finitud uno no sabe,

o sabe, no sabe como hacerlo


pero

como ser el otro


es.
que ya

Cualquier adolescente sabe, anos después lo olvida,


y

fue un festín de sangre.


que parirse

Después viene un cierto remanso

la vida es un circuito de sangre


pero

los hijos nacen envueltos en su roja


gasa.

El tiempo va tiniendose de líquidos diversos

lágrimas, leches, orina

lluvia, alcohol
jugos, y

otra sangre empieza a circular sin aviso

imprevisible.

Se anuncia con vuelve


charcos, el llanto,
pequenos

inexplicable, como el llanto dei bebê tantas noches.


Uno
no sabe, no saber,~ò no sabe saber
quiere

qué de lo
partes existe
que

eso -
uno era, no es
es,
que
y y ya

vienen
reclamando
otras corrientes.

La
sangre
de la metamorfosis implacable,

prosigue,

como
una ley la natüraleza sedentaria
que

concibe

como la sed
pasajera

la sed
pero hace al desierto

uno
y corre
la arena, descaman sus
por pies

el
espejo
se deshoja, uno cree sólo es espejismo
y que

cree
con un con la visión
que
jugar poco

con
enamorarse
de ella

con
tirarse
en la onda expansiva ésta desaparecerá.

Tiempo
después se da cuenta

está empapado
que en un circulo de sangre,

suya,
irreconocible, suya otra,
pero
pero

ajena
de tan real. Su otro líquido.

Es
cuando uno no no
no sabe, saber, o sabe saberlo
quiere

su sangre, la otra, se ha ido


que

siempre
para

el extrano, inexplicable, onírico, implacable


por

orifício
dei tiempo.
186 Poesia
Sempre

Salvador
Puig

Portuguesa

Cy abido es

Alfonso
X, llamado
que

también
Alfonso El Sábio
(Toledo-1221/

de tristeza-1284)
escribió en castellano

Las Partidas,
una Grande

General Historia otras


y
y

en su rodeado
prosas,
palacio

de intelectuales

mahometanos,
cristianos.
judios y

Y las Cantigas. Las Cantigas. En

las Cantigas disso:

graçasporén

gallego-portugués.

Cuando El Sábio

pasaba

de un aposento a otro, dejaba atrás

cristianos, mahometanos,
judios,

conversaba solo
y

las vocales viraban, las

consonantes estremecíanse.

Es un salón contiguo

Pessoa sonreía.
VENEZUELA

Vicente
Gerbasi

Los
oriu ndos dei

paraíso

J-J
os oriundos dei Paraíso

inventaron

Ias orquídeas

mueven
que el silencio de Ias horas.

Los
oriundos
dei Paraíso

hicieron
oler un rubi

el
nos acostumbra
que

la
tristeza

dei
Orinoco
sombrio.

Los
oriundos Paraíso
dei

lanzaron

Ias
más bellas mariposas vuelan entre Ias

que

de
los
viejos cafetales de Canoabo.

sY es Canoabo? lo hicieron?
qué ^Quiénes

Lo
hicieron dei Paraíso.
los oriundos

Allá
donde toda vastedad

suena
en los montes.

Y
en una de animales,
sabana
problada

en
un azul lejano de montanas,

donde
canta el.dia con sus aves,

donde
canta la noche con sus astros.

Los
oriundos dei Paraíso

son
de Canoabo.
188 J Poesia Sempre

MÉXICO

Emilio Pacheco
Jose

La

gota

-L a es un modelo de concisión:
gota

todo el universo

encerrado en un de agua.
punto

La representa el dilúvio la sed.


gota y

Es el vasto Amazonas el Océano.


y gran

La estuvo allí en el dei mundo.


gota principio

Es el espejo, el abismo,

la casa de la vida la fluidez de la muerte.


y

Para abreviar, la está de seres


gota poblada

se combaten, se exterminam, se acoplan.


que

No salir de ella,
pueden

en vano.
gritan

Preguntam como todos:

se trata,
ide qué

hasta cuándo,

mal hicimos

qué

estar de nuestra
para prisioneros gota?

Y nadie escucha.

Sombra silencio en torno de la


y gota

en donde no hay respuesta.


189

P
OESIA
PORTU CU E S A HOJE

Adília
Lopes

Uma
afirmação Pessoa sobre Milton
de

N,
âo escrevia Milton um verso

sem

o fizesse como se desse verso


que

dependesse

toda a sua fama futura

ela
não
escrevia um verso

Ela
não
era Milton

Para

dizer isto
poder

tinha-lhe

sido ler Milton


preciso

estudar
mais inglês ler melhor Milton

para

tentar
traduções de Milton e rasgá-las

tentar
Milton o comentar
parafrasear para

e
desistir
de o ler

a
com Milton
preocupar-se

deixou
de se com os seus versos

preocupar

ficaram numa lata de bolachas


que

e
ainda
lá devem estar

ter ido a
podia
para província

dar
lições de inglês
particulares

não
diria uma sobre Milton
palavra

mas as repetir
crianças haviam de

até
terem os olhos encarnados

How What's weather like today?


do do? the
you
190 Poesia Sempre
J

mas subitamente começou a dar erros de ortografia

deixou de escrever

versos não escrevia há anos


mas cartas recomendar criadas


para

ainda ia escrevendo

mas a uma criada


perguntaram

ao ver a carta de recomendação

se ela tinha trabalhado uma criada


para

criada ficou fula)


(a

então ela a esfregar o chão


passou

numa casa de

passe

esfregava o chão lavava as

paredes

fazia as camas da casa de


passe

sem dizer uma

palavra

abria a boca
(se
gaguejava)

como se chama? um comeu-lhe a língua?


gato

os clientes e as
da casa de
perguntavam-lhe prostitutas
passe

se lembrava de Milton
era raro)
(mas
quando

achava os clientes e as da casa de


prostitutas
passe

mais afáveis do Milton


que
191
Hoje
Portuguesa
Poesia

Ana
Hatherly

a dimensão
bebeu o elixir
Quando
perdeu

sonho é a
ponte

vai
do infinito ao infinito,
Que

E a medida
sem comparação,

E a
do se imagina.
presença
que

Sonhar
talvez
só seja

Reconhecer
o nem a alma sinta

que já

Nem
o
veja.
próprio
pensamento
192 Poesia Sempre

Antônio Osório

Peso do mundo

JTl. não é, nunca foi


poesia

uma enumeração ou composto

de exuberância, bondade,

altitude, nem arado

ou dádiva sobre chão

de mortos.
prenhe

Nem o arrependimento

de Deus ter criado o homem


por

com o rosto da sua memória,

ao lado dos seus vermes.

Tão-pouco fôlego dos amam


que

abrindo a límpida
porta

do corpo e chovendo sobre a terra,

ou carregam como tartarugas

o do mundo.

peso

Nem reverência um tigre,

por

leveza maligna de todas as

pela patas,

sonolência à estirpe

pela junto

aprisionada também

na dureza de ser tigre.

É o milagre de uma arma

total, de uma só

palavra

reduzindo o átomo à completa inocência.


193
Hoje
Portuguesa
Poesia

Eduardo
Guerra Carneiro

Major
Brown

M,ajor
Brown, de castanho vestido,

recorda
Browning
e o revólver aponta.

Depois
sorri,
devolve a arma aos
ganchos

da

e
parede outra bebida
prepara

com
mais
soda.
Maior tirou
prazer

ao

pensar o tiro, do atirar


que

a sério.
No sofá,
cachimbo aceso,

volta
a desfolhar
o suplemento

pensa no clube. Major Brown

arruma-se

em seu Imagina
canto.

^gres,
elefantes,
os
pantanais

da
Ásia.
Embarca
no veleiro

de
Conrad
e a espuma das ondas

afaga-lhe

as barbas, na maré do sonho.


Poesia Sempre
194

Fernando Pinto do Amaral

Litoral

a Rosa e a Maria Antõnia de Oliveira


para

as dunas vão
N.o ar agita
gritando
que

os Com eles

pássaros.

De vez em
te encontrarás.
quando

ofereces-te,

-
a isso se resume
imitas-lhes o vôo

a imortalidade? Nesse
gesto

um destino, a
repetes
programada

mas a sombra,
combinação dos
genes;

incerta sombra desses


a tão
gritos

onde irá fixar-se?

valer uma face?


De
que pode

horas lá
sol das cinco
O
para

escuros? Observas
dos óculos

a beleza
que passa,

ombros ao acaso,
recorte de uns
o

vida.
isso a chamam

que

nunca te iludiu,
Ciente do
que

o fim do mar,
olhas

um cirro esfarrapando
a linha de água,

as razões
os teus desejos,
todos

de um coração
que parte

Este vento
algures aí.
por

lábios, as
vai-te secando os
palavras,

leva a tua voz.


e
Hoje 195
Poesia Portuguesa

Luiz
Felipe
Castro Mendes

Camilo
Pessanba regressa a Portugal
(1915)

ste
mudou sem tu visses
país
que

e fala
do
aqui não ser.
que
podes

Tua
angústia
se nesse triste
prende

hiato
de
dizer.
palavras
por

Que nos
mudou não visse?
o teu sentir
que

Que
calada veio conter
palavra

mágoa

tão inteira te ferisse,


que

mais
do
ao coração, no entender?
que

Percebe

nesta
hora de mudança

°
lúcido
sinal
aqui despede
que

no
duro
limiar toda a esperança

e
recolhe
no teu verso o merece
que

°
mais
encanto da lembrança.
perdido
Poesia Sempre
196

Miguel Nava
Luiz

Não muita vez

vemos, mas, se
ão muita vez nos
Nu poucos

há falar
amigos
para

relâmpagos, de todos
me sirvo de
dos
quais

a minha fome.
ele o melhor vai com
é
que

Os dedos com me tocou


que

a onde a memória os move.


sob
persistem pele,

Tacteiam, impolutos. Tantas vezes

suor os traz consigo da memória, não tenho


o
que

na através
pele poro

do eles não
qual procurem

transpiro. A é o espelho da memória.


sair
quando pele
Paulo
Teixeira

Gand

aminha-se
tendo muro de resguardo
por

as
muralhas.
O sol é um astro anestesiado

e
mole
sob a monótona do céu.
grisalha

Avança-se
uma e outra estreita
por ponte

como
se fosse o de um navio.
passadiço

Dá-se
a volta ao fortaleza
da
parapeito

e
o outrora
é a memória. Ela confia-nos

histórias
de Filipe, o Belo e Gerardo, o Diabo

e
a fachada
das corporações onde viveu

gente com hábitos de fundibulário.

As
torres
são as vigas suportam o cenário.
que

No
seu abandono vivem de luar e saber.
pouco

Porque
o amanhã é de todos os momentos.

E
a todo
o momento o amanhã
quebra-se

com
estilhaços sobre as muralhas.

Dá-se
a volta ao da fortaleza
parapeito

e
a terra encontra naquilo a chamamos
que

universo
o vinte séculos foi um mistério.

que

Esta
contra a se afiaram os dias
pedra qual

será
como lajes num museu lapidar.

Porque
amanhã é o dia da surpresa.

De
um e do outro lado do aterro é a cidade
que

chegam
as figuras a adoração do Cordeiro.
para

Adão e Eva caminhar nus o altar


podem para

onde
o sacrifício ficou à espera de o acabarem.
199

POESIA NORTE-AMERICANA
HOJE

Almino
João

Lawrence
Ferlinghetti e o espírito de São Francisco

¦^V"ím
dia de abril, almoçamos em casa, com a de editores da City Lights, de velhos
presença

amigos
de e de mexicanos. Lawrence Ferlinghetti havia recentemente feito 75
passagem poetas

anos.
Excepcionalmente é dia de calor em São Francisco, abrimos as conversamos sobre
janelas,

Chiapas.
Uma entra, assustada, bate sobre o teto da casa. Bia, minha mulher, traz um lenço,
pomba

conseguimos
resgatar a do lado de fora, ainda assustada, nos olha longamente da
pomba que, já

floreira
da antes de levantar vôo. Lawrence fala sobre sua recente, sobre as festas de
janela,
pintura

Henry
Miller. Falta uma foto, todos concordamos e estamos de acordo à delícia daquela
quanto

tarde.
Lawrence se despede nos convidando a cerimônia da Columbus Avenue, dentro de uns
para

dias.

Recentemente,
ele mostrara, a o aplaudia na livraria Blackoak, em Berkeley, no lança-
para platéia que

mento
de These are my rivers, se a beat era o ele continuava interessado
que, geração passado,
pelos

contemporâneos e em fazer Leu, entre outros,


problemas aquele sobre Waco,
poesia política.
poema

Texas,
havia sido recusado uma revista. Fazia mais de dez anos vira
o no
que por prestigiosa
que

México,
num encontro internacional de Agora nos aproximamos
através de velhos amigos
poesia.

meus
mexicanos, ele edita.
que

Setenta
e cinco anos do a Columbus Avenue fechada,
lidos em rua, ali bem
poeta, poemas plena

da City Lights, sua livraria e editora, ainda


perto edita obras dificilmente
que em outras
publicáveis

O é reconhecido como o espírito


partes. de North Beach e da cidade de São Francisco.
poeta

"City
Recita
o de Ginsberg feito a ocasião, tem título Lights City"
para e abre com o
poema que por

"On
"
verso
Via Ferlinghetti & Kerouac Alley
heroes muse melancholy 2025 AD. A multidão
young

segue
a até a Via Ferlinghetti, inaugurada naquele momento. Circula de mão em mão, com a

"One
caligrafia
de Lawrence, sua receita de felicidade,
começa com aqueles versos:
que grand

boulevard
with trees/ with one café in sun/ with strong black coffee in very small cups."
grand

("Um boulevard com árvores/ com um café ao sol/ com café forte e
grande em taças
grande
preto

bem

pequenas").
Poesia Sempre
200

vamos o de Lawrence. Affonso


Poesia Sempre, até o Café El Grecco,
Lançamento da revista
preferido

Brasil a contribuição a revista. O


de Sant'Anna e Emanuel
Romano presenteia
pedem-lhe para poeta

este texto inédito.

o lançamento novo livro do Ginsberg e o no Enrico's,


depois, venho do
Semanas jantar
quando para

com suas conta-me a história trágica de seu irmão a


me mostra os
Lawrence passa
postais pinturas, que

-
This is not a Man
a execuções de condenados a morte tema de um daqueles
vida assistindo
postais,

-
lembro o a ser aqui, escreve no verso de outro
Sing Series) e,
(Sing poema publicado postal:
quando

'Ethnic 'Migrantpopulations."O
"In 'Flight

change bordes'(p. 2) to radi-


Through Time'please
a
poeta

'subversivos'

mais influentes e respeitados escritores norte-americanos das


beat, dos
cal,
pioneiro

com Gregory Corso, Allen Ginsberg e Kerouac) é também o


de 1950 e 1960
décadas (juntamente Jack

humano cuidadoso e
ser
gentil.

texto logo. Na devo dizer? no seu lirismo


as cartas este
Chegam-me Que,
para pressa, que
pedindo-me

"marginais"

brasileiros? no Brasil, as
talvez tenha influenciado
coloquial, Lawrence Que, poucas

seu mais recente livro, com novos e


sua obra estão editadas L&PM?
traduções de poemas
Que
pela

anos e 12 livros de
These are my rivers Directions) aparece
selecionados, (New poesia
quase quarenta

num inverno cinzento de Paris,


a City Lights Pictures a world,
depois
publicou from gone quando,
que

"álgebra

e decifrar a do lirismo"?
o descobriu a de René Char
poesia procurava
poeta

"Reading

Yeats I do not think/ oflreland/ but of midsummer


livro, ele escreveu
Naquele
primeiro que

then/ reading that copy I on Thirdavenue El." Yeats não


York/ and of my self back ("Lendo
New
found

verão de Nova York/ e em mim naquele tempo/ lendo aquela cópia


na Irlanda/ mas no
pleno
penso/

Parodiando às avessas o de North Beach, eu diria


no El na Terceira Avenida").
encontrei poeta
que

Francisco, sobretudo naquela não vivi; no bairro


Ferlinghetti, em São
lendo Lawrence
que
que, penso

velho rebelde, aquele chapéu de abas e o cachecol


nesse sorriso doce e tímido de um
italiano e pen-

durado ombros.
pelos
Lawrence
Ferlinghetti

A Flight
through time

W earing Apollinaire's derby I am in a zeppelin with a hundred dignitaries in tailcoats

from
ali world cruising about looking for a to declare looking for a soft
over the
place peace

landing
on earth Gardens are sighted on the horizon and the airship veers in that
for
peace

direction
discover there is no airfield and we veer off again The sky is lit with flares A
only to

man thinking he's a bird He straight


in tails with wings off the Eiffel tower
plummets
jumps

down in Provence It's midsummer


in front his friends I am off a sunflower
of
picking petals

A leans in a window where


million their huge drone in the night A sunflower
crickets sound

I am They fali
a calls I have ali the
boy leaning out Loulou Loulou someone
picked petals

Loulou Italy The


Loulou Oú es-tu It is hot in the dark room There are riots in France and

Americans is
killed Sacco and Vanzetti I saw Lindbergh land The zeppelin sails on There
jazz

on
the radio It's Sidney Bechet Paris 1930s the dignitaries toasting each other in champagne

and
American cigarettes The sends a Morse code to a ship at sea The band

pilot greeting

on The Captain sends back a round of drinks on the house sailing through the hot
plays

night world We
an endless flight around the out the of the at the end-
gaze portais gondola

less lit with leftover sun I am kneeling in short in


stars Night reveals the cities of earth
pants

a Friday rose Sunday setting a world


cathedral somewhere in France Christ died on and on

altitude word it The wine


record out of sight in the dark firmament I don't believe a of

doesn't heaven will it land


taste like blood The dirigible soars in the summit of Where ever

The dawn is On a lake far below the wood


eternal over the charts The

pilot pours pointing

boats on I am stretched out in a sailing-canoe in upstate New York


knock together Life sails

An of heaven An opera hat lies on in the lobby of


eagle soars in the summit a marble table

the the city a searches the sky making like a It's a


Paris opera High over a sound
plane gnat

it's it's a man There is a thrill in the air We are walking down the Avenue de
a bird
plane

1'Opèra The Metro entrance with its art-deco mouth and swallows us The zeppelin
yawns

flies into twenty-first century The zeppelin is life itself The zone we fly through end-
on the

less without without boundaries There are no more nations Migrant


borders
populations

sweep the earth in search of food and shelter We throw down our champagne The tv
glasses

shows the endlêss night sky We are watching an eclipse The universe endless stretches
202 Poesia Sempre

a where ali is light Where then O Endless One in end-


in the night There must be
away
place

We are heavenly bodies rapt in time hurtling through bent space


less eternity Where now

illuminate the landscape.


Flame-outs
Charles
North

Sonnet

T
-L
he dream: to have

more
time.

And ali the time?


suppose could have

you

Someone
walks up and deposits

in
outstretched hand,
your

not
time but
exactly;

of ali that is circumambient,

ali
that infinite
aura, the
pure possibility

that
although no one thing is lost

nothing
is exceptional.

Leaves
out the distance

pry

between
new construction and the old

bright waterfront
lights, massed for

and
mixed use alike. The

painter

back, shades his eyes.


pulls
Poesia Sempre
204

Lloyd Schwartz

Leaves

p
j no, necessary
very October it becomes important,

to see turning, to be surrounded


the leaves

by leaves it's not the symbolism,


turning;
just

the death,
to confront in the death of
year your

though the irony


one blazing farewell appearance,

isn't lost on that nature is most seductive


you

when it's about to die, flaunting the dazzle of its

incipient exit, an ending that at least so far

the effects of human acid rain)


(pollution,
progress

frightened enough to make believe


have not
yet you you

is, know this ending is a deception


is real; that
you

nature is always renewing itself


because of course

the trees don't die, they

just pretend,

in style, and retum in style: a new style.


out
go

Is it deliberate how far they make


you go

if live in the city to far


especially
you get

from home to see not trees


enough away
just

trees? The boring highways, roadsigns, high


but only

trucks as if they were


speeds, 10-axle
passing you

than to look at leaves:


in an even hurry
you
greater

for literal hours and it looks


so drive in terror

you

it's clouds
like rain, or snow, but
probably just

and wonder,
cloudy to see any color?)
(too you

memory, which road had the


the of
given poverty your

but it doesn't matter since


most color last
year

too late anyway, or too early

you're probably
Poesia Norte-Americana 205

whichever road take will be the wrong one


you

and come ali this way for nothing.


youVe probably

You'll
be driving along depressed when suddenly

a cloud
will move and the sun will muscle through

and
ignite
the hills. It may not last. Probably

won't
last. But for a moment the whole world

-
comes
to. Wakes up. Proves it lives. It lives

red,
orange, brown, russet, ocher, vermilion,
yellow,

Flame and rust. Flame and rust, the


gold.
permutations

of
burning.
You're on fire. Your eyes are on fire.

It
won't
last, don't want it to last. You
you

can't
stand any more. But don't want it to stop.
you

It's
what
come for. It's what
you've you'll

come
back for. It won't stay with but
you, you"11

remember that it felt like nothing else felt


you've

or something felt that also didn't last.


you've
VÁRIA

«<• m.lg. -,^„n._^lvWralS


W
^>>»„^
Hans Staden

Ilustração de Hans Staden


a sua obra:
para

Warhaftig
Historia und beschreibung eyner Landtschafft

der Wilden
/Nacketen Grimmigen
/ Menschenfressen Leuthen

/ in der Newenwelt
America
[Marburg, 1557]
gelegen
209

A CECÍLIA MEIRELES
H OMENAGEM

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210 PoesiaSempre
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Cecília Meireles D. Frussa


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4.

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Cecília Meireles aos 17 anos

desconhecido)
(fotógrafo
Homenagem a Cecília M e i r e l

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215
/

V.
RS O E VERSÃO

Ivan

Junqueira

"Archaischer

Torso Apollos", de Rilke

vem ocorrendo desde o número de Poesia


orno Sempre, esta seção tem
primeiro
por

objetivo ao leitor as distintas tradutórias de


oferecer um mesmo texto
possibilidades
poético,

se interessam arte de traduzir


assim àqueles uma visão multifaceta-
proporcionando que pela

mórficas e fonéticas, bem


da às suas exigências semânticas, como às inter-
quanto quanto

suscitar.
esse mesmo texto
pretações que poderá

"Archaischer

Torso Apollos", de Rainer Maria Rilke,


Escolheu-se desta vez o incluído
poema

Geditche, aqui traduzido, em épocas muito distintas,


na segunda série dos Neue
(1908)
por

revista e aumentada. Col. Rubáyát,


Manuel Bandeira traduzidos, 3-ed. Rio de
(Poemas

Ivo Barroso torso e o Rio de Record, 1991)


Olympio, 1956), (O e
Janeiro, gato, Janeiro,
J.

é tempo. Poemas selecionados, Curitiba, Posigraf, 1993).


Karlos Rischbieter
(Senhor;

"Archaischer

Torso Apollos" à fase de a


O o Rilke designou
pertence produção que próprio

"poemas

como a de seus objetivos", nos o autor reconhece a influência de Rodin, de


quais

foi secretário e cuja escultura lhe teria ensinado a arte de conferir contornos
quem particular

definidos aos seus até então musicalmente vagos. Diz Otto Maria Carpeaux tratar-se
poemas,

"influência "da

de uma estranha", vem de um escultor foi impressionista".


pois que parte que

Um crítico holandês, Vestdijk, chama a atenção os aspectos barrocos da rilkiana

para poética

desse fundamente marcado também barroca, da morte, à deve


período, pela presença, qual

sua transparência, os objetos e aqui representados são como símbo-


já que personagens que

los diáfanos de realidades se situam além da realidade. Nesse inclusive, a


que para poema,

"forma

estátua do deus é comparada à luz de uma lâmpada semi-apagada, como a


grego

rompida de uma estrela", muito embora, na superfície daquele torso mutilado, mas ilumina-

"não "Precisas

do dentro, não haja nenhum te fite". E conclui o mudar


por ponto que poeta:

tua vida." Ainda segundo Carpeaux, nessa advertência ética o existencialismo dos
primeiros
216 Poesia Sempre

está superado,
tornando
poemas Rilke um clássico à sua maneira: um clássico da morte, mas

"apesar
em sentido oposto ao de Valéry,
da afinidade secreta entre as Duineser Elegien e o

Cimetière marin
Rainer Maria Rilke

Archaischer
Torso Apollos

VV ir kannten nicht sein unerhõrtes Haupt,

darin die reiften.


Augenãpfel Aber

sein Torso noch wie ein Kandelaber,


glüht

in dem sein Schauen, nur zurückgeschraubt,

sich halt Sonst kõnnte nicht der Bug


glãnzt.

der Brust blenden, und im leisen Drehen

der Lenden Kõnnte nicht ein Lácheln

gehen

zu Mitte, die die Zeugung trug.


jener

Sonst stünde dieser Stein entstellt und kurz

unter der Schultern durchsichtigem Sturz

und flimmerte nicht so wie Raubtierfelle

und bràche nicht aus allen seinen Rãndern

aus wie ein Stern: denn da ist keine Stelle,

die dich nicht sieht. Du musst dein Leben ándern.


Torso arcaico de Apollo

Tradução de Manuel Bandeira

jl. Y ão sabemos como era a cabeça, falta,


que

De amadurecidas,
pupilas porém

O torso arde ainda como um candelabro e tem,

Só meio apagada, a luz do olhar, salta


que que

E brilha. Se não fosse assim, a curva rara

Do não deslumbraria, nem achar


peito

Caminho um sorriso e baixar


poderia

Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.

Não fosse assim, seria essa estátua uma mera

Pedra, um desfigurado mármore, e nem

Resplandera mais como de fera.


pele

Seus limites não transporia desmedida

Como uma estrela; ali não há


pois ponto

não te mire. Força é mudares de vida.


Que
Torso
arcaico de Apoio

Tradução de Ivo Barroso

X Y ão sabemos como era a cabeça inaudita,

onde as amadureciam. Glabro


pupilas

no entanto torso
o aclara como um candelabro,

onde apenas mais tênue, o seu olhar nos fita

e brilha. Senão como o


poderia plexo

do assim cegar-te, e iria, no impreciso


peito

arquear de da cintura, um leve riso


parte

correr esse centro, onde existia o sexo?


para

Seria um simples bloco mutilado e falto

e de seus ombros nunca o translucente salto

reluziria assim um lombo de fera


como

nem romperia as órbitas explodida


qual

estrela: ali nenhum se espera


pois ponto

não te veja. Tens


mudar tua vida.
que
que
arcaico de Apoio
Torso

Tradução de Karlos Rischbieter

sua cabeça legendária


i Vão conhecemos

Porém
as maturavam.
na
qual pupilas

como uma luminária,


seu torso ainda arde

mais tênue, se detém,


em seu olhar,
que

Senão o leve reflexo


fica e brilha.

do seu não te cegaria,


da curva
peito

no dos iria
nem o sorrir,
giro quadris,

centro o sexo.
correr esse
que portava
para

uma deformada
Seria apenas
pedra

de diáfana derrocada
sob os ombros

de fera não brilharia


e como
pêlos

toda sua forma rompida


e nem teria

lugar não haveria


como uma estrela:

mudar tua vida.


não te veja. Precisas

que
) 221

D EPOIMENTO

Affonso Romano de Sant'Anna

"A

Como escrevi Catedral de Colônia"

l~ii m na
1978 cheguei à cidade alemã de Kõln lecionar literatura brasileira
(Colônia)
para

universidade três ou meses. Diziam era Mas fazia


local durante uns
quatro que primavera.

um frio incômodo.

-
falar da catedral o único monumento teria resistido ao bombardeio dos alia-
Ouvira
que

dos na Mundial. Não me lembro de sua fotografia antes. Recordo-me ape-


Segunda Guerra

nas num dos dias de minha estada, ia andando Hohe Strasse, uma rua

que primeiros pela

meio estreita e cheia de lojas de repente, trás dos vejo irromper aquela
quando, por prédios

aguda e sombra, a'catedral. Andei mais um e o impacto foi ainda maior.


pesada pouco

vetusto, esse é o termo, edifício contrastava com a cidade reconstruída. Percorfi-com os


O

fachada, entrei, abismei-me nos seus detalhes.


olhos a

tinha em mente nenhum sobre ela.


Não
poema

Lá voltei muitas outras vezes, siderado.

Vindo de um com uma história rala e mal contada, a densidade da história européia

país

sempre me deixou atônito.

Um dia, creio no final de minha estadia, dei mim, no apartamento, escrevendo

que já por

uma meia dúzia de versos começavam assim:

que

A Catedral de Colônia

é uma escura montanha

de e espanto

pedra, palavra

mana aguda arquitetura.

A Catedral de Colônia

é um cipreste,
gótico

um cone de negro,
feno

um monte de trigo em
prece.
222 Poesia Sempre
)

A idéia era fazer um de uma


em versos curtos, repetindo
poema pequeno,
página,

arquitetonicamente a superposição de versos/pedras.

Voltei ao Brasil só com aqueles versos. Em Colônia, na verdade, havia acabado um longo

"A

me custou vários anos : fala do índio


poema, que Estava exausto. Não
grande
guarani".

tão cedo meter-me num longo coisa


queria exige a dedicação
poema, de escreve
que
quem

"A
romances. cheguei em Colônia, tinha, aliás, os
Quando fragmentos
de fala", mas
grande

não sabia ainda o era em conjunto. Vivi uma das


euforias criativas
que durante esse
grandes

texto. Espalhava os fragmentos daquele chão do apartamento,


dispondo as
poema pelo

folhas como azulejo, o significado interno daquilo o inconsciente


procurando fazia bro-
que

tar. Lá, longe da América é descobri o fio condutor do


carregava há
que algum
poema que

tempo do Rio Friburgo, nos fins de semana.


para

Portanto, não em mergulhar em outro texto longo. Mas, de repente,


pensava o da
poema

Catedral começou a crescer dentro e fora de mim. A com versos de sete


primeira parte

sílabas não esgotara o meu Tinha algo mais a dizer. E fui anotando. Sem saber no
pasmo.

ia dar, fui anotando. Essa idéia de a Cateral se foi construindo


que aos durante
que
poucos

uns seiscentos anos, fez com algo crescesse em mim. E aos


que uma
poucos percebi que

arquitetura se ia formando.
Comecei a abrir
poética cada temática com os versos de
parte

sete sílabas, como se fossem


ou torres do
Em breve,
pilares dizer, ao fim de
poema.
quer

sete anos, em 1985, o terminei, dei-me conta de a Catedral era


quando uma metáfora de
que

inúmeras coisas.

O se converteu numa longa viagem dentro de mim e dentro da história


poema européia.

Viagem de um brasileiro, mais ainda, de um mineiro, ainda mais, do menino viveu, lá,
que

em de Fora, enquanto os alemães consumavam a tragédia


Juiz da Segunda Guerra Mundial.

História universal e infância, os trópicos e a civilização, o índio e o colonizador, tudo isto se

foi misturando numa escrita carnavalizadora.


Mas o texto foi terminado aqui. A Catedral à

distância, no imaginário apenas. Trouxe de lá um imenso


dela botei no meu
pôster que

escritório. Compilei também muitas informações


históricas sobre ela. Ainda agora

para

escrever esse texto voltei aos manuscritos


sobraram
e encontrei, entre outras
que coisas, um

do Café restaurant Reichard am Dom Dionysos, onde rabisquei


guardanapo uns versos.

Não negar meus textos teóricos sobre a carnavalização não tenham


posso que tido efeito

na escrita. Está lá Mas


sabe ler. foi uma emoção diferente
para emocionada-
quem
praticar

mente o tanto lera. O final do onde imagino um carnaval na


que poema em frente à
praça

Catedral, e no as escolas de samba e os mitos brasileiros desfilam


qual ao lado dos mitos e
Depoimento 223
J

europeus é a tentativa de superar as dualidades e vivenciar um descen-


personagens
poética

tramento
histórico.

"A

A história sempre me atordoou. Minha obra, reconheço, está deste


prenhe pasmo.

Catedral de metáfora dessa símbolo de


Colônia" é a destruição e resistência,
perplexidade,

uma consciência erguida no tempo.


Affonso Romano
de Sant'Anna

Wie ich der Kõlner dom babe

gerschrieben

jLm 1978 kam ich nach Kõln, um wãhrend des Sommersemesters


Brasilianische
Jahre

Literatur an der dortigen Universãt zu unterrichten. Man sagte, es sei Frühling, aber es war

noch unangenehm kalt.

-
Von dem Dom hatte ich dem Gebãude, das wãhrend des ZweitenWeltkriegs von
gehõrt

den Bombenangriffen der Alliierten teilweise verschont sei. Ich erinnere mich
geblieben

nicht, eine Fotografie dieses Dom zuvor zu haben. Ich erinnere mich nur daran,
gesehen

dafí ich an einem der ersten Tage in Kõln die Hohe Straíâe entlanggegangen war, einer ziem-

lich engen StralSe voller Geschãfte, ais ich hinter den Háusern einen spitzen und
plõtzlich

schweren Schatten auftauchen sah: den Dom. Ich weiter auf ihn zu und der Eindmck
ging

wurde noch mãchtiger.

-
-
Das altehrwürdige Gebãude so der Ausdruck stand im Widerspruch zu der
passende

wiederaufgebauten Stadt. Ich Iieíâ meine Blicke über seine Fassade schweifen und war

verblüfít über die Fülle an Details.

Ich hatte keinerlei Gedicht darüber im Sinn.

Oft kam ich dorthin zurück, in Gedanken verloren.

Da ich aus einem Land mit einer seichten und entstellt überlieferten Geschichte kam,

machte mich die Dichte der europãischen Geschichte stets sprachlos.

Eines Tages, ich es war Ende meiner Zeit in Kõln, bemerkte ich, dalã ich in
glaube gegen

meinem Zimmer salã und ein halbes Dutzend Verse zu Papier brachte, die folgendermalãen

begannen:

"Der

Kõlner Dom

ist ein dunkler Berg

aus Stein, Worten und Schrecken

in einer spitzen Bauweise.

Der Kõlner Dom

ist eine Zypresse,


gotische

ein sch wa rzer Heukegel,

ein Weizenberg, der betet."


225
Depoimento J

Seite in kurzen Versen, in


Meine Absicht war, ein kleines Gedicht zu schreiben, auf einer

denen Überlagerungen Verse/Steine widerspiegeln sollten.


sich die architektonischen

mit diesen Versen nach Brasilien zurück. In Kõln hatte ich tatsãchlich ein
Ich kehrte nur

"A

ich lange hatte: fala


ausführliches Prosagedicht beendet, an dem
Jahre gearbeitet grande

Ich war erschõpft davon. So schnell


do índio Rede des Guarani-Indios).
(Die
guarani" groíSe

Prosagedicht in Angriff nehmen, da es die


wollte ich nicht wieder ein langes
gesamte

Ais ich in Kõln ankam, hatte ich bereits


Konzentration wie bei einem Roman beansprucht.

"Der

aber hatte noch keine Gesamtkonzeption. Bei der


Fragmente Rede" entworfen,
grolSen

ich eine der schõpferischen Euphorien. Ich ver-


Abfassung dieses Textes durchlebte
grolâen

wie eine Art Kachelmuster auf dem Boden des Zimmers


streute Fragmente dies Gedichts
die

aus dem Unbewuíâten Hervorgekommenen eine zusammenhãngende


und suchte in dem

weg von Amerika, entdeckte ich den Leitfaden des Gedichts, das ich
Bedeutung. Dort, weit

Nova Friburgo an den Wochenenden mit mir herumgetra-


zuvor lange in Rio de und
Janeiro

hatte.
gen

vor, mich in einen neuen, umfangreichen Text zu versenken.


Daher hatte ich keineswegs

Kõlner Dom in mir und auíàerhalb von mir zu


Aber begann das Gedicht über den

plõtzlich

siebensilbigen Versen hatte meine tiefe Empfindung nicht


entstehen. Der erste Teil mit den

Ich hatte mehr zu sagen. Und zeichnete dies auf. Ohne zu wis-
ausreichend wiedergegeben.

würde, zeichnete ich alies auf. Der Gedanke daran, dafí der
sen, wohin mich dies führen

nach innerhalb von sechhundert erbaut wurde, lielâ etwas in


Kõlner Dom nach und
Jahren

Und allmáhlich erkannte ich, dalã eine Architektur im Entstehen


mir entstehen.
poetische

war. Ich erõffnete thematischen Teil mit den siebensilbigen Versen, so ais
begriffen
jeden

die Pfeiler oder Türme des Gedichts. Plõtzlich, das heiíât nach sieben im
seien es
Jahren,

ich das Gedicht beendet hatte, wurde mir klar, dalã der Dom eine Metapher
1985, ais
Jahre

für unzãhlige Dinge war.

war zu langen Reise in mich selbst und in die europãische Geschichte


Das Gedicht einer

Zur Reise eines Brasilianers, vielmehr eines Mannes aus Minas Gerais, oder noch

geworden.

der dort, in de Fora lebte, wãhrend die Deutschen die


besser eines
Jungen, Juiz
gesagt,

Zweiten Weltkriegs erlebten. Weltgeschichte und Kindheitsgeschichte, die


Tragõdie des

und die Zivilisation, der índio und der Kolonisator, ali dies vermischte sich in einer
Tropen

Aber der Text wurde auf diese Weise zu Ende Der


karnevalisierenden Schreibweise.
geführt.

Dom weitweg, nur in der Phantasie. Ich hatte ein Riesenplakat des Doms mitgebracht, das

in meinem Schreibzimmer aufhángte. Ich sammelte auch viele


ich
geschichtliche
226 Poesia Sempre

Informationen darüber. Um diesen Text zu schreiben, kehrte ich wieder zu den


jetzt

zurück, die nicht verwertet wurden, und fand unter anderem eine Serviette
Manuskripten

"Café

Restaurant Reichard am Dom Dionysos", auf die ich einige Verse notiert hatte.
des

"Karnevalisierung"

Ich kann nicht leugnen, dafã meine theoretischen Schriften über die

EinfluE des Gedichts hatten. Wer zu lesen versteht, wird her-


einen auf die Abfassung dies

Aber war eine andere Erfahrung, das zu


ausfinden. es
ganz gefühlsmãlSig praktizieren,

hatte. Das Ende des Gedichts, wo ich mir eine


worüber ich so viel
gelesen

Karnevalsveranstaltung auf dem Platz vor dem Dom ausgedacht habe, in der Sambaschulen

zusammen mit den europãischen Mythen und Gestalten vor-


und die brasilianischen Mythen

Versuch, die Dualitãt zu überwinden und eine


beimarschieren, ist ein dichterischer

Dezentrierung vorzuleben.
geschichtliche

Die hat mich stets in Erstaunen versetzt. Meine Arbeit, das ich zu, ist voll
Geschichte
gebe

"Der

von diesem Staunen. Kõlner Dom" ist eine Metapher dieser Perplexitãt, ein Symbol der

Zerstõrung und des Widerstands, ein die Zeit errichtetes Gewissen.


gegen

Übersetzung von Ingrid Schwamborn


227
/

pOESIA REVISTA

Sérgio Alves Peixoto

e a Poesia
Emílio Moura

Arte Moderna de 22, Emílio Moura


feito do Grupo Mineiro da Semana de
T
A.
JL ei
endo
parte

aos radicalismos desse momento


com uma eminentemente avessa
nos surpreende
poesia

"moderna".

uma brasileira ansiosa se afirmar como


revolucionário
qual passou poesia por
pelo

obras desse fatalmente ficará


leitor, ao ler vez uma das
Um
qualquer poeta,
pela primeira

'modernista',

de um ou, menos, do
ao não encontrar o se espera
pelo que
perplexo que

tão ambíguo: uma vertente humorística, corro-


estamos acostumados a associar a esse termo

radicais com a versificação, de


siva ou meramente brincalhona, experimentalismos
presença

então se transformava rapidamente, entre


temática relacionada ao mundo tecnológico
que

na obra de Emílio Moura. E se o verso livre é uma


Nada disso está
outros aspectos.
presente

ele existe exatamente como uma necessidade


todos os seus
constante em
poemas,
quase

mera recusa à tradição versificatória: acentuar um dis-


interna, como
pensamento que
jamais

humana com seus impasses e sobre a com seus múltiplos


corre sobre a existência
poesia

e instantes metafísicos.
mistérios

se nutre a desse mineiro de Dores do Indaiá, cujos


É disso, na verdade, de
que poesia

no Centro Cultural da UFMG, no ano de


noventa anos de nascimento foram comemorados

1991.

falado. O amigo Drummond, em introdução às Poesias,


Dessa se tem
publi-
poesia pouco

os críticos Péricles Eugênio da Silva Ramos, Mário da


cadas em 1953 Olympio;

pela José

-
Faria todos reticentes em face da de Emílio. O
Silva Brito e Aloysio de
Jansen poesia

certo modo, depreciativo no diz respeito ao


bastante rigoroso e mesmo, de
que
primeiro

"monotonia

exclusivo", no estudo sobre o volume III de A


chamou de do tema
poeta,
que

Afrânio Coutinho, foi um dos se debruçou com


literatura no Brasil, organizado
por que

filosofante desse foi um filósofo sem filosofia.


mais vagar sobre a
poesia poeta que
228 Poesia Sempre

Indagações e mais indagações, repetidas e reiteradas, marcam a de Emílio Moura.


poesia

Todas sem respostas. Perplexidades sem saída, ou o Aloysio Faria


de chama de
que Jansem

"uma

fuga de se encontrar"? Inquietações ontológicas, angústias metafísicas, incomunicabili-

-
dade entre os homens e entre tudo. Divagações... Tudo, entretanto e isso é importante

-
acentuar sem o ranço de um intelectual à de um hermetismo forçado e
pedantismo procura

artificial. Na vida de homem comum, sua alegria e comunicabilidade


eram contagiantes,

segundo depoimentos de Fábio Lucas e Maria Luíza Ramos, dois de seus amigos

que partici-

das comemorações anteriormente mencionadas. Entretanto, menos em


param pelo poesia,

tem-se a impressão de Emílio Moura foi um opção existencial. Toda a


que prisioneiro por

sua obra revela essa impossibilidade de se encontrar um caminho, uma

possibilidade

mesmo de resposta. Até o encontro com a Musa de nada lhe valeu redundou em
porque

insolúveis buscas de uma em tentativas de captar instantes


pureza poética, plenamente

supremos, cheios, entretanto, de um vazio esmagador.

Poesia como sinônimo de desencontros; versos abrem caminhos o silêncio do


que para

ser. Uma obra ímpar dentro do de nossa Um ser revisto


panorama poesia. poeta que precisa

urgentemente esse homem moderno acredita ter lugar no


seu mundo. É
por que perdido

mas vale a Vale, menos, descoberta de ainda há um lugar em


perigoso, pena. pelo pela que

se a da vida em sua a
que permite prática plenitude: poesia.

Emílio Moura escreveu os seguintes livros de Ingenuidade; Canto da hora


poemas:

amarga; Cancioneiro; O espelho e a Musa; Poemas; O instante e o eterno; A casa;

Desaparição do mito; Habitante da tarde e Noite maior. Os três últimos, inéditos até a
publi-

Itinerário em 1969. Deste livro, não constam vários


cação de em
poético, poemas publicados

Ingenuidade, Canto da hora amarga, Cancioneiro e O espelho e a Musa, determinação


por

do considerou como sua obra a em Itinerário


poeta, que poética publicada poético.

A seguir, damos ao leitor uma antologia da de Emílio Moura:


pequena poesia
A Musa

estás acima do tempo.


1 \unca te exaltei,
porque

humanizou em ti realizar
Não sei mito se
para que pudesses
que

esse equilíbrio de realidade e de irrealidade.

desespero dos te conheceram ou


Só sei és a ou o
que paz poetas que

te desconhecem.
que

Vieste tão do alto!

e o ruído de teus ressoava


Ainda estavas infinitamente longe
já passos

vivamente dentro de meu sonho.

És anterior a ti mesma

e eu te esperei desde o
princípio:

E te descobrir minha veio alimentando


foi para que poesia pelos

tempos afora a sua infinita sede de


plenitude

E em ti és a
parou que própria poesia.

Na verdade, eu te esperava desde o


já princípio.

de Canto da hora amarga


230 Poesia Sempre

Soneto

dói em tudo isso não é tanto


O
que

a rosa não ser rosa, e a estrela, estrela:

não é haja no riso algo de


que pranto,

e amar a vida à de
força perdê-la.

-
Amor engano de um se
que procura,

no ávido e cego, criara,


que, já

Nem é isso o dói. Força tão


que pura,

amor se inventa, inventa, e não


jã pára.

Não Inventa e, múltiplo, se inventa,


pára.

tanto o amado se mira e se imagina

no é ledo inventar se acalenta.


que que

O dói é a certeza de tudo


que que

mais se banha em beleza, se termina,

e, ao ter algo a dizer-nos, mudo.


fica

De Desaparição do mito
A do

fábrica poeta

JL abrico uma esperança

como apaga
quem

algo sujo num muro,

e ali, rápido, escreve:

Futuro.

Fabrico uma
pureza

tão menina,

tão cristal e tão


fonte

de repente,
que,

é meu todo o horizonte.

Fabrico uma alegria

é de ver as coisas
que

como se só agora

é nascesse,
que

a aurora.

Fabrico uma certeza

exata

cada instante.

para

A vida não está atrás,

mas adiante.
I

, !

J#

WjHh

de Castro
Murilo Mendes
por Jorge
Murilo Mendes Revisitado 233
J

Luciana Stegagno Picchio

Murilo Mendes revisitado

.x JL fortuna de repente, ter tocado, não só no Brasil, mas também em Portugal


que, parece

e na Itália, a obra de Murilo Mendes tem sem dúvida na sua base as razões de uma

progra-

mada e renovada divulgação editorial culminada aqui com a edição, neste nosso 1994, da

sua Poesia completa e Prosa Nova Aguilar do Rio de há também outras


Mas
pela Janeiro.

razões talvez devam ser no Brasil, na da


tempestiva decisão casa
que procuradas, própria

editora de nesta altura, depois de tantos anos de à


proceder precisamente
perplexidade,

edição deste livro caro, complexo, mas


ter chegado a tempo saturar uma
que parece
para

real expectativa do A será é, como é composto,


por parte público. pergunta portanto: quem

o este brasileiro no ano de 1994, esgota em menos de três meses


que procura público que,

uma edição de um católico, místico, surrealista, basta figurar


preciosa poeta
quanto para

como desligado daquela realidade social, ecológica de só alimentar-se a


política, que parece

nossa vida Um nos anos do seu aparecimento,


30
quotidiana? poeta que, já primeiro parecia

fora do tempo, e mesmo do espaço, com a sua autocolocação no Caos, a sua temática

metafísica, a sua religiosidade crítica, mas contudo carnal, com uma Igreja apostrofada como

uma mulher toda curvas e sensualidade? Um emigrado as Europas no fim dos


poeta para

anos levando consigo o mito de via à noite,


50, sentado no seu Mozart vestido
quem
quarto,

de roupa azul, um músico, amigo de abstratistas, um do


poeta de vez
pintores
poeta qual

em chegavam ao Brasil mensagens crípticas apelidadas de murilogramas,


quando um
poeta

afinal morto há dezenove anos longe do Brasil, fora do circuito da nacional tão fácil
piedade

à comoção ao rápido esquecimento? Talvez é de um assim o Brasil da


quanto
poeta que

inflação, a Itália dos escândalos e dos roubos e talvez o Portugal da economia sacu-
próprio

dida e do desemprego neste momento. E não é acaso os maiores esti-


precisavam
por que

madores de Murilo são os aqui como lá. Sempre, desde se reconheceu


jovens,
quando poeta

fadado cometa de Halley, Murilo foi um futuro: na forma como na substância.


pelo
poeta

Hoje talvez este futuro está chegando, o futuro de então são eles, os da revolta radi-
jovens

cal, da revolta mesmo contra o foi a nossa revolta social, ideológica. Leiamos
que
política,

Murilo Mendes e aprendamos com eles a sermos

jovens.
E S E N H A S

Acordanoite. Ricardo Kubrusly. Rio de tem sem a mente as lê/e o corpo as


que
que

Editora Seis, 1993, I6lp.


Janeiro:
possibilita."

de Afonso Henriques Neto)


(Resenha Em assinado Pedro
prefácio poético por

Garcia, somos informados Ricardo é


que

de chama a atenção no tra- matemático, ou seja, descendente da linhagem


que pronto

O balho de Ricardo Kubrusly é o espontâ-


e o há nele sem-
pitagórica, que geômetra que

neo e informal entendimento entre, e se faz na tessitura dos É


poeta pre presente poemas.

ou seja, um estar muito à vontade do verdade. O equilíbrio, as


poesia, da simetria, a
questões

texto em relação à essência o dança das nos espelhos, os entre


poética que palavras
jogos

informa. Algo nos irá remeter a um certo o singular e o múltiplo, as linhas de força
que (do

espírito bastante nos da déca- mistério e da abstração) dos números, as


presente poetas

da de 1970, onde o tom irônico-coloquial equações, os teoremas, tudo de alguma forma

se atualiza na de Ricardo,
prevaleceu. sempre
poesia quase

Assim, antes de se examinar a estruturação banhada em fina ironia.

formal dos literários de O livro é extenso, e nos


um
particulares jogos quer parecer que

Kubrusly, há se navegar esse relaciona- corte, não necessariamente excessivo,


que por
poderia

mento mais-que-amoroso do escritor com o dar a ele maior consistência. Nessa


grande

universo em tempos idos da extensão


(dir-se-ia e entre os variados
poético temas tratados
(o

entrega algo dionisíaca do às diversas e amor, a violência, a metapoesia etc.) desta-


poeta

delirantes musas). Na verdade, Kubrusly está de camos os sobre as cidades de São


poemas

tal sorte envolvido nos acordes de Orfeu, o Paulo, Recife e Ouro Preto, bem como sobre o
que

leitor é logo conduzido ao centro de uma bairro de Botafogo, no Rio de Dentro


Janeiro.

"Lugar
atmosfera sonambúlica, onde corpus
o dessa temática urbana, citaríamos o dos
poético

se enlaça fortemente à daque-


acaso fores a São Paulo/Lá
particular palavra ("Se
pássaros"

le mais uma vez, busca liberar o fogo moram


que, sem asas/Voando em dimen-
pássaros

"onde

sagrado. Diz o a na sões apesar da evidente de


poeta: palavra pousa
precárias"),
perda

lagoa/o barco afunda, vôo impossível". A consciên- voltagem no terceto final.

cia mágica: a imagem criada a transformar em Há comentar também a constante recor-


que

'realidade'

tangível o universo da sensibili- rência ao soneto. A clássica forma fixa é utiliza-


pura

dade, A criação em estado mas fil- da com liberdade de movimento: as


poesia. puro, grande

"As

trada alma do
não exis- rimas, consoantes
pela ou toantes, ocorrem de forma
poeta. palavras
236 Poesia Sempre

Lugar dos se utiliza com consciência


pássaros poéticas, por quem

Cyro Patarra dos variados recursos técnicos da linguagem


para

tentar o vôo em busca da beleza-


para grande

a São Paulo do esquivo monstro da beleza-total,


Se acaso
que-cega,
fores

sempre a nos ocultar


Lã moram sem asas o outro lado. Outro? lado?
pássaros

Melhor largar da retórica viagem com


Voando em dimensões e seguir
precárias

Acordanoite.

Se acaso a São Paulo


fores

Busca a neblina dissolvida

A do Alcântara. Pedro
geometria professor

Por trás da densidade humana

Pellegrino. Rio de Editora 1993,


Seis,
Janeiro:

Sobe as colinas de Cotia

130p.

Não vã orientar-te â toa

de Roberto Pontes)
(Resenha

São Paulo é não orientãvel

Pellegrino é mineiro, sua


primeira

Segue este roteiro seguro

Pedro é Alambique 1976,


(poesia),
publicação

Corta a marginal com assalto

coletânea em figura ao lado de


que Joel

Transpassa a Universidade

Macedo, Rui Smith e Tereza Vignoli. A


geome-

Atento às do caminho
putas

tria do Alcântara, a rigor é


professor portanto,

Deixa a cidade trás sem


pra pena

o seu livro. O título não foi aproveita-


primeiro

Ela não tarda a alcançar-te...

do de nenhum dos 122 integram o


poemas que

acaso a São Paulo


Se volume, não foi também extraído de nenhum
fores

Procura o Sabiá
verso como é costume entre os autores. A única
Jardim

Lá mora um voa
que do título se acha num
pássaro (geometria)
palavra que

"Mais

verso de velho" 41), autobi-


(p.
poema

aleatória, apetece ao autor se uti- ográfico, tem com


(que o de outro
quando parentesco

"Carta",

liza também de versos brancos), e a mineiro, Drummond


de de Andrade. O
própria

"Faço

decassilábica é às vezes abandonada.


métrica diz: anos no calor/ Esta encalora-
poema

Para se dar rápida idéia da oficina sonetística de da Dolorosamente/ Revela a nova


passagem/

nesses ainda mais rápidos comen-


Kubrusly de meu rosto/ Cada vez mais outro/
geometria

"Cena "um

fiquemos com o final de 1":


tários, Cada vez mais exterior." Esta nos
pista permite

ecoa ao longe, a lua apaga./os holofotes


ler o Alcântara como alter ego do
grito professor

as mariposas/ eternizando as coxas hipótese


autor. Aliás, esta a única
queimam justificadora

d'isabel./ ao largo um ao sangue do título dado ao volume.


jovem quieto

alaga/ olhar recém-cortado à roupa rosa/ ao Na de Pedro Pellegrino


obra sente-se sua

brilho lâmina: mão d'isabel." temática romântica. Seu lirismo


preferência pela

Trata-se, em suma, de trabalho construído é referente à natureza e à vida rural. Sua natural

segurança nas flutuações seleção léxica em tomo de semas como


por quem possui gira
Resenhas 237

sabiá, ave, vagalume, orvalho, bruma, são exemplos de extrema delicadeza


pássaro, casimiriana,

cachoeira, água, rio, estrela, céu, montanha, a contrastar com os textos desabridos de

"Liberdade"
"Uma

árvore, vaga, onda, mar, fogo, luz,


pedra, galho, e coisa" 48), este
(p. 38) (p.

exemplo. A opção não é de estranhar, último blasfemo,


por pois satânico, byroniano.
portanto,

esta é uma marca de mineiridade, na tradição


Pellegrino optou forma epigramática.
pela

"Comédia"
dos seus árcades e românticos, e mesmo nos Seu mais longo é
poema 106),
(p.

autores modernistas das Alterosas. não dos 23 versos; e


que os mais breves
passa

"Passagem

No de Mariana" diz são os de versos,


(p. 90) em número
poema de oito; os
quatro

"Penso

ele: em Mariana/ Misturas de minha de três contam cinco e ainda dois dísticos:
que

"Menino "Coragem",
vida/ Onde separando enriqueci// Separei o na Missa" e respectiva-

ouro da Separei o ouro do cascalho/ mente, às e 122.


82
prata/
páginas

Separei arsênico do mais separei/ varia


O sua temática em torno de
pó/ Quanto um
poeta

Mais rico fiquei// Acumulei fortuna/ Habitei núcleo central constituído matéria de
por

Achei era Deus// Minha memória


palácios/ que (memorialismo centrado no assunto
grande

"conden-
fortuna/ Minha verdadeira fortuna/ Veio daquilo familiar), nos de síntese
(a
poemas

separar// Mariana." Ora, além saçâo" explicitada


que jamais pude Ezra Pound), nos
por

de cantar a impossibilidade de romper com as metafísicos


(ou se nos de captação
preferirmos,

origens, comprova nossa afirmação anteri- fenomenológica


das aparências) e nos
que de auto-

or, o bate na tecla da nostalgia romântica referência autobiográficos),


poeta (ou têm como
que

da inexplicável da referência, satélites os de suspensão de sentido, os


perda que per-
prover-

"Acumulei

siste em Sá-Carneiro e Pessoa: fortu- biais, os de humor, os oníricos, os


parabólicos,

na/ Habitei Achei era Deus." ou ainda os tratam do cotidiano


palácios/ que rural e os
que

Ainda cabe apontar a fusão do eu-lírico com textos calcados no discurso religioso.
paródicos

"A

o cosmos nos versos de boa herança"


(p. 75): Examinemos dois cabem na
poemas que

"De
"poética

criança cheguei ao vegetal/ Uma do espaço" de Gaston Bachelard. O


próximo

"íntima "A
árvore bem frondosa foi o meu final"; nos de é relação" 116):
(p. morada
primeiro

"Ânsia "Invade-me

de viver": agora esta emoção do homem é ar/ A ilusão casa/ A relação de

lenta/ verter cachoeiras// Ah! eterna casa com lar/


Querendo É a mesma de asa com ar." Nestes

ânsia de soltar as mãos das ou ainda versos temos a síntese de vinte


pedras";
páginas que

"Cachoeira

nos de das andorinhas" 126): Bachelard


(p. dedica ao estudo da fenomenologia

"Sonho

ser cachoeira/ Marulhar a vida inteira/


da casa, do do sótão, da cabana,
porão,
para

Saltar no ar/ Lírica cegueira".


mostrar nestes lugares o homem alcança a
que

"São "Canto

e da mata" 80),
(p. 92) (p. e a segurança.
João" O segundo é
proteção

"Testamento"
"Nesta
o explorando motivo folclórico, como
primeiro 71), onde se lê: data
(p.

se sabe uma das vertentes temáticas do roman- escrevo solenemente meu testamento/ Mãos

tismo alemão, e o segundo retomando o vazias/ Ünico bem cultivei em vida/ Ninho
que

emblemático sabiá dos românticos brasileiros, do Na verdade, o sumo bem o


pássaro."
que
r

P o e s i a Sempre
238 )

lega é o espaço de modismos nefastos à arte e à aqueles


em seu testamento
poeta poesia,

de acolhimento, simbolizado concha Gillo Dorfles ataca nas de seu


paz, pela que páginas

"revivalismo"

mesmo tempo ninho,


de suas mãos, ao Elogio da desarmonia-, o e
para-
puro

e forte. Os versos de
doxalmente frágil
simples neoclassicizante, barroquizante, ou

"Testamento"

figurar nas dez


bem
poderiam mesmo o dos chamados
pós-modernos.

Bachelard dedica à casa das aves,


Pellegrino consegue retrabalhar o lirismo
páginas que

Poética do espaço, ao lado dos de


em seu livro
romântico, retemperando-o com a experiência

"O

dizem: ninho tépido e


Caubère
Jean que mais recente dos modernistas brasileiros.

Onde canta o Lembra as


calmo/ (...)/
pássaro/

canções, os encantos/ O limiar Da velha


puro/

-
Anima(I) com o Cartas de Pedra.
casa".
poema

Lúcio Autran. Rio de Editora Seis,


O livro de Pedro Pellegrino tem, o
Janeiro:
portanto,

1993,
mérito de retrabalhar uma fonte mais do 332p.
que

de Victor Hugo Pereira)


(Resenha
válida da literatura brasileira, mantém ousadias

e ternuras na ordem do dia e sabe fugir dos

A discussão dos relacionados à


problemas

/l crise da representação situa-se na


poesia
Passagem de Mariana

de Lúcio Autran, tanto em sua dimensão

ontológica, trazendo à baila a discussão sobre


Imenso em Mariana

os limites da linguagem e o do
Misturas de minha vida papel poeta,

como sob a histórica,


Onde separando enriqueci perspectiva procurando

evidenciar as marcas de uma A insis-


geração.

tente indagação sobre a natureza da e


Separei o ouro da palavra
prata

da caracteriza, em especial, o conjunto


Separei o ouro do cascalho poesia

de reunidos na dolivro,
Separei arsênico do poemas primeira parte

denominada Anima(I) e dividida nas seções:


mais separei
Quanto

Sentido, Pele, Palavra. Partindo de eventos con-


Mais rico
fiquei

"Cartas

temporâneos à Inconfidência Mineira,

de relativamente autônomo
Acumulei
pedra", poema que
fortuna

constitui a segunda do livro, aborda em


Habitei
parte
palácios

a exclusão social a se sente sub-


Achei era Deus
particular que
que

metido o tema se anunciara em


poeta, que já

alguns textos das seções anteriores.


Minha
grande fortuna

Entre as definições de apresentadas


Minha verdadeira
fortuna poesia

em Anima(I), merece destaque a situa a


Veio daquilo separar
que jamais pude que

sua essência num confluente entre o


ponto

Mariana corpo/ o animal/ a alma. Em tom de teste-


Resenhas 239
)

"Fala

Uma homenagem-desabafo dirigida ao


corpo":
munho, declara o poeta
poema

"Descobri

o Luís Borges traz à cena da nova-


corpo/ o diz,
a linguagem do Jorge
que poesia

ani- mente a imagem do cão, freqüente na obra, e


ânima/ essa alma
sabe// Esse corpo
que

surge mais uma vez carregada


Acrescentando novos
mal/ momento total." pela
que

"ânima"
"Mistério

entre as concepções de e
das vozes ambigüidade
matizes a essa concepção,

"animal",

o autor explora em outros


de vincular a alma ao animal,
búlgaras", além poe-
que

"Borges,

cão absurdo", o escritor


de resgatar o se denomi- mas. Em
define um
projeto que

"o

a um cão cego, buscando


a voz argentino é associado
na som da alma", e se indaga sobre

"que
e a força de sua
caracterizar a sua clarividência
ouvimos de um olho de um cão". Coerente

considerada neste universal.


reiterada em vários textos
com a afirmativa poema
palavra,

fato de o escritor, associado ao


linguagem conduz Destaque-se o
deste livro de a
que poética

descrito em um dos versos


nada, esse de confluên- animal, ser também
ao silêncio ou ao
ponto

"dândi
-
utopia bus- do como burlesco" o
no citado, uma
cia revela-se, que
poema
poema

do denuncia a expettativa de Lúcio de a


do homem, e a tarefa
cada desde a origem que

"(des)

elabo- ou o olhar sejam


à da lagarta de
compara-se primitivo,
palavra primitiva,
poeta

conquistados um elaborado,
neste texto em
ração de tudo". E por processo que
que
justamente

se relaciona a certa sofisticação, e não à mera


linguagem, a
a desconstrução da
se tematiza

num espontaneidade.
disposição das transforma-se
palavras

Carlos Drummond de Andrade, Manuel


sinuoso desenho, construindo
graficamente

Bandeira e Cabral de Melo Neto são as


movimento. A construção
uma imagem visual do João

de destruição referências modernistas brasileiras


ao trabalho
do assemelha-se
principais
poema

- -
realiza, e se diante das Lúcio Autran situa seus textos.
a lagarta
e transformação
que quais

momentos deste livro, Relações com a cabralina surgem tanto


reafirma, em diversos
poética

"Trazemos

vazio: conosco no tipo de conceituai, como na insistência


a criação do
como
jogo

imagens, entre as se destaca a


se expande em espasmos/ nos em certas
um deserto/
que quais

do cão e da e também na
calando" ("Três"). pedra, preocupação

nesse modo de metalingüística, obsessiva. O


Uma tônica mais afirmativa
quase poema

"Galo" "Tecendo

se a manhã". No texto
conceber a criação literária aparece
quando parafraseia

restau- de Autran, o canto do animal não desperta mais


a como instrumento de
considera
poesia

"acorda

observa ninguém, o vazio", e finalmente se cala.


ração de um olhar como se

primitivo,

denominado Oferece-se a chave da diferença em relação a


em um dos textos
pequenos

"é "Tecendo
"Canto

na nosso a manhã", ao se descrever o tempo


anima(I)": tatuar
paisagem/

"galo"

Adão inteiro/ respiran- em se inscreve este outro como:


olhar
que
primeiro/ primeiro

"tempo

nos de mudos/ de mortos". Não é


do a miragem/ de tudo". Definição
que gaios

"O

vozes a mais ao a soli-


lembra, em mistério das búlgaras",
possível galo-poeta promover

"que

um dariedade social. Fica evidente a de


menção se faz à voz ouvimos de
perspectiva
que

Autran de no separa a sua


olho de cão".
que, período que
Poesia Sempre
240

do momento esperançoso em se
geração que

escrevia o Emparedado
cabralino, a linguagem se
poema

esvaziou de sua função de instrumento de inte-

comunitária.
gração AL restará
pedra

A impossibilidade a
de utilizar
sobre
palavra
pedra

referencialmente e de fazer dela um instrumen-


se te o
perder poema

to de convívio também a lamentação no


justifica

reproduzido a seguir:
um
poema (Eperde
poema

da
pedra

Palavra,
a rigidez, a
para quê?
palavra)

- -
Registrar o horror
Mais ser
grito
que pedra

sangra de um a outro horizonte?


dor maior
que

se a tiveres em volta

Apreender o som de um cão

uiva no escuro tateando seu eco?


Então da
que
pedra

sentirás o seio

- -
Aprender a dormir imaginar
não e
por fora, fria forra

com os sons de um vizinho amando?

A verás dentro
por

Nada diverso dos animais


meio
pelo

apenas som coagulado em letras.


escuro corpo

Branco, branco, branco,


O ar
que falta

é o silêncio
luz lateja

Nada mais.

pus, pulsante pedra

A estaria, reduzida a sua


Morto é leve
palavra portanto,
pedra

incomunicabilidade, como a expressão solitária


teve
peso que

animal. A escrita da apresenta-se


do
poesia é só memória

veículo esse silêncio a ficou


como
para que

condenado o homem. Esta


Vivo sei a
perspectiva justifica
palavra

"Cartas

de o texto
também em traduz
pedra", grande
que

final do livro de Autran, a identificação do


silêncio sem luz

o Manoel de tal,
com
poeta personagem

vivo na construção da Casa da Apenas


emparedado
pedra

Câmara e Cadeia de Vila Rica em maio de 1786. sem


poema
241
Resenhas

criam um certo clima definira em dos de


Os trechos em se
prosa, que grande parte poemas

"Anima(I)".

em relação aos aconteci-


de verossimilhança

Vila Rica, alternam-se com Confrontando essas duas colocam-


mentos de
poemas posições

do livro. O escreve se seguintes: Cabe ao


nesse livro dentro como as
poeta perguntas poeta

apelo vem das lamentar ou cultivar o silêncio? Estamos diante


responder ao
que pedras:
para

"Socorro!

Ajuda-me!" de uma de ascetas ou de emparedados?


geração

reaparece com Ou cabe aceitar as duas hipóteses ao mesmo


O
problema geracional

"Cartas

de de tempo? A se arrisca a discutir seu


nitidez em um dos
poemas poesia, que

"Ouro

Preto lugar no mundo, como a de Lúcio Autran,


intitulado (ouvindo
pedra",

"Dura

versos: é espaço deixar virem à tona


Gonzaga)", finaliza com os torna-se o
que para

fadada." Reafirma-se outros colocados


minha época/ ao silêncio esses e
paradoxos, pela

impôs- E isso,
essa vocação ao silêncio, definido como relação linguagem/ existência.
por quem

de criar a referencialidade, éxplican- a mais constantes sejam as


sibilidade constrói,
por que

"Se

mutilado/ traçou o rosto/ desta em contrário, está esboçando uma


do: um declarações

cidade// Eu me mutilo/ com imagens/ sem atitude afirmativa à da


quanto permanência

dizê-la." O uso da construir um como espaço ainda em


palavra para poesia privilegiado,

"No

objeto estético revela-se votado ao vazio: nossa época histórica, a


para problematização

entanto minha escultura/ de nada, e é das concepções de sujeito, linguagem e reali-


prossigo/

dura". A auto-referencialidade do dade.


poema justifica-

de uma época histórica, e


se como
problema

é o tom dominante
motivo de lamentação (que

comparada com a capaci- yls banhistas. Carlito Azevedo. Rio de


neste texto), sendo
Janeiro:

alguns tiveram. Imago, 1993, 69p.


dade de cantar a cidade
que poetas

nostalgia dos tempos, embora ítalo Moriconi)


Há uma certa de
(Resenha

o falar cidade.
duros, em (d)a
que poeta podia

Nesta final do livro, a homenagem aos este seu segundo livro, Carlito Azevedo
parte

da Inconfidência estabelece mais um N retoma e leva superior o


poetas para patamar

da tradição a Lúcio Autran se havia de mais em Collapsus lin-


ponto que quer que pessoal

vincular, e o Manoel de tal, excluí- O rigor, combinado novamente a esteti-


personagem guae.

do da sociedade e cuja única expressão é o cismo organiza aqui um conjunto


fin-de-siècle,

de socorro só alguns conseguem de mais orgânico e mais extenso o


(que
pedido poemas que

ouvir), serve à retomada do apre- no livro anterior. No lugar dos


apresentado
problema já

sentado anteriormente: o silêncio da clichês encontramos agora


poesia pseudo-eruditos,

de uma é imposto história. Dentro visual revela maturi-


uma complexa erótica
geração pela que

dessa o silêncio não dade e coragem. Sim, a coragem de enfrentar o


perspectiva, portanto,

de um aprendizado do despojamento, da desafiar os deuses, comparar-


desafio
provém poesia,

"(...)

da busca do olhar e da voz do como se mesmo a um deus no ato de criar: aliás


primitivo,
Poesia Sempre
242
)

deus não menos ser nos mais


/ / do
qualquer pede que pavor que pode percebido poemas

"Abertura" "A

não menos/ do volume: 13),


/ atear chispas." estratégicos (p.
pode que

"As

Sem medo Morte do mandarim" 14/5), a série banhis-


de fazer De ousar (p.
querer poesia.

"Metamorfose" "Seixos

na metáfora, fazer cultiva- tas" 20/25), 40),


literatura, ser letrado (p. (p.

do. Os resultados 41) e Las banistas 52).


fazem às intenções. (p. (p.
quentes" pequenas
jus

Poemas buscam tornar sensível a mútua


Esteticista é, a de Carlito ama os
pre- que
que poesia

entre o material-erótico e o imate-


ciosismos, os exotismos, os orientalismos, dependência

sói acon- rial da imagem mental.


maravilhamentos. E, como
pedrarias,

A imagem mental resulta do imperioso


tecer, estetiza é, deglute, em movimento
(isto gesto

"(...)

imperativo do concretizado nas táticas


de auto-reflexão) o kitsch: deixa e
poeta,
próprio

da abstração e da alusão. A abstração busca


em tuas mãos uma amarga se
/
que palavra

relações com o infinito. A alusão acontece


transforme / em lilases da estação /
passada

imagem. como infinito de retorno do simulacro:


Sem medo de fazer
(...)"
querer jogo

de ventos é o se lê num dos


Destemor ao construir um
que poe-
que permitiu poeta parangolé

"As

da série banhistas". Na epígrafe do


livro coeso, coerente, do começo ao mas
planejado

o reivindica Wordsworth: How


fim. livro,
poeta

e dos irmãos Campos se motionless! More motionless!


Desde Baudelaire

esteticismo requer flertar com o kitsch,


sabe
que

lixo. Tirar e almíscar da Abertura


tirar luxo do
pérola

Nesse universo imaginário,


bagatela cotidiana.

novos fatores, Desta


Azevedo introduz
Carlito
por janela

muito bem-vindo ao domou-se o infinito à esquadria:


exemplo um fator
Jabès

mundo de elemen- desde além, aonde a sobre a serra


Brasil. Mergulha então num
púrpura

tua / de a / assoma como desatando-se da lenha,


tais, de águas sobre
("e fogo fumaça
pele

de água"), mundo até aqui, nesta sobre o


brisa / rasgaduras /
flor quieta
fizesse

-
mundo em cujas bordas se lêem
de evocação da cópula deliqüescente,
parapeito

viram sabão, as deserções da


de viram ume,
que primeiras
pedras que

converte no imaterial da
mundo se
pétala- geometria.
que

banhistas de
do odor-idéia. As

pensamento,

em Sem movimento! Menos movimento! O dese-


imagens sinestésicas, urdidas
Carlito são

do de apresentação visual com o máximo de


barroquismos minimalistas: é o
jo
pontilhismo

à tentativa de domar o infinito ã


esteticista Daí as referências
pin- precisão,
fin-de-siècle.

esquadria, logo se deixa levar deserções


tura impressionista.
pelas

da Deserções incluem uma sufi-


Percorrendo o trajeto entre a materialidade
geometria. que

o cientemente racionalizada enrustida?)


da visão e a imaterialidade da imaginação, (ainda

fascinação eloqüência visível não


livro de Carlito Azevedo é um discurso lírico
pela perdida,

só na homenagem ao dos Prelúdios, mas


sobre as relações entre desejo e representação,
poeta
Resenhas

também no dedicado a Victor Hugo Ora o é cerebral e seus versos viram


poema poeta

linossignos, ora se entrega


(.Normandia, 33). a um discurso
p. pleno

Do mar revolto da antiga eloqüência, Carlito de anáforas. Mas tem bom senso de medida e

Azevedo recorta suas bagatelas, seus versos não chega a cair na verborragia. Em certos
poe-

com vocação de ágata e madrepérola.


mas, atinge a síntese, evitando adjuntos, advér-

bios, adjetivos. Sente-se, ao longo do


porém,

livro a marca da mas Sylvio


poesia práxis, goza

A vinha do desejo. Sylvio Back. São Paulo. de maior influência temática de como
poetas

Geração Editorial, 60 Aretine, Bocage, Verlaine e os fesceninos. Com


pp.

de Cairo de Assis Trindade) a diferença de não busca emoção ou


(Resenha
que

catarse. Nem tornar-se


parece pretender popu-

sem nunca ter feito lar.


consagrado,

um filme
Cineasta erótico ou mesmo Cada de A vinha do desejo mantém
pornô, poema

Sylvio Back, em seu terceiro livro de uma estrutura rígida de construção: o mesmo
poesia,

surpreende o leitor desavisado com a luxúria de número de versos em todas as estrofes. Back

suas imagens e a contundência de suas domina a técnica, mas comete o da rima


pecado

e da repetição desnecessária de certos


palavras.
pobre

Muitos ficarão chocados com a de termos. Dono de um repertório rico de elemen-


profusão

chulas abordando a temática do corpo tos, lança mão de arcaísmos,


palavras
gírias, galicismos,

e suas excreções. moral, anglicismos, neologismos, e da com


Questão que pouco polissemia

importa à Conceitos maniqueístas não as malícias do duplo sentido.


poesia.

existem no terreno da arte e do sexo. A Mas, de todos os elementos, o é


propos- palavrão

"a

ta de Sylvio está em causar e aqui a de résistance. Sylvio curte estéti-


poética prazer pièce

fazer leitor ca do
o escabroso", chegando a incursionar
pensar. pelo

Mais chegado ao humor do à sedução, o terreno do mau Como um


que perigoso gosto.

autor busca sempre o efeito do chiste. Manoel de Barros da escatologia.


quase

Um com o Back foge do lirismo e da estética conven-


parentesco pornoescatológico

"Sim"

Glauco Mattoso.
cional, com exceção do
(vide
poema

Pode-se até dizer a de Sylvio box), inserindo signos absolutamente antipoéti-


que proposta

seja apenas lúdica e o do cos, chegam a ser, numa leitura,


que procedimento que primeira

autor é o de brincar com as Mas é aparentemente ostensivos ao leitor comum.


palavras. jus-

tamente aí reside o maior mérito do Pode-se associar o autor à


que poeta.
poesia pornô,

Ele trabalha a à exaustão, esgotando surgida nos anos 80. Mas, muitas vezes, a
palavra
poéti-

suas múltiplas e encarando-a ca de Sylvio Back remete a antigas, tro-


possibilidades
piadas

como entidade carregada de volume, cadilhos e outras brincadeiras de infância, com


peso,

som, cheiro, carne, sangue, sobretudo imagem. o mesmo lúdico caracteriza


propósito que

Não fosse ele, antes de tudo, um cineasta. todo o livro.


quase
244 Poesia Sempr<

Os moralistas sentir-se-ão agredidos. Os

hipócritas
Sim incomodados.
Os lei-
profundamente

dirão não é e sim


gos
que poesia, pornografia,

mas, além da celebração ad nauseam do


tenho saudades
prazer

sexual, há um verdadeiro
caleidoscópio de ima-
das matinês conversadeiras

eróticas de alto nível


gens boca, lábios,
emborcavam besteiras poético:
que

língua, coxas, nádegas, falo,


corpos,
glande,

não

êxtase.
prazeres,

Um estilo
tenho saudades este A
pós-moderno perpassa

vinha de desejos, onde o desde


do meu o
obscuro poeta pratica
futuro promissor

haicai até o concreto,


aberto no anverso do verso poema passando pela

o epigrama, o chegan-
quadrinha,
poema-piada,

não

-
do ao
de sabor bem contem-
poema-minuto

"gozar
-
tenho saudades
/ sex defunto".
porâneo junto

das mil irretocãveis bronhas Os desenhos realistas de Glauco Cruz dão o

símil de Russell à mão colorido e o movimento adequados


Jane
perfeita-

mente ao espírito e à matéria do livro.

não

Com esta ousada edição de luxo, Luiz

tenho saudades
Fernando Emediato coloca no mercado uma

das horas ardidas em discussões


de no nível de
publicação poesia
primeiro

sobre causas urdidas eperdidas


mundo.

não

tenho saudades

Escadas improváveis. Pedro Garcia. Rio de

da impunidade dos vinte antanhos

Editora Seis, 1994,


Janeiro. 72p.

com tantos desenganos


puta

de Eunice Arruda)
(Resenha

não

i
scadas improváveis é o título do livro de
/

tenho saudades

JLy Pedro Garcia,


em 1993
publicado
pela

da sangria desatada com meninas

"teimoso"

Editora Seis, formada


um
por grupo

da rua da sopa do e da lua


peito "fundar

ou redescobrir
que procura o sentido

do
não
prazer".

Eis então Escadas improváveis-, uma home-

tenho saudades

nagem à linguagem. Deste


tem uma
poeta que

de alma coração corpo sentidos


quando

trajetória significativa. É de 1959 o seu


primeiro

sentido cor ação magma


faziam

livro Viagem norte. Seguem depois mais sete títu-

sim
los, entre eles Paisagem móvel índice
(1973), de
Resenhas
j 245

ambos merecedores de
(1986),
percurso
Disfarce

-
Cabeça em suponho este
prêmios. punho

traz dentro de si um crítico atento. Sabe


poeta

a máscara compunha o seu rosto a


que

o nome da é trabalho. Difícil ver-


que poesia

impedia de comer

dade. Difícil amor. Como o


poema

o o diabo amassou
pão que

"Verdade
=
amor":

então ela desafivelou a máscara e comeu

Estou a verdade
preparado para porque

o o diabo amassou sem saber


pão que

não tenho amor.

por(que)

Por isso estou a verdade•?


preparado para

o o diabo amassou
pão que

Sim, isso estou a


por preparado para

tem a mesma consistência


(im)pura do
pão

verdade.

Porque não tenho amor dor não tenho.

Estéril, estou a verdade. Língua solta. Seleção de Beth Fleury e Celso


preparado para

Cunha Rio de Editora Rosa dos


Júnior. Janeiro:

Mas, lendo e relendo, subindo e descendo Tempos, 1994, 184p.

estas escadas chega-se à conclusão óbvia: todas de Mário Pontes)


(Resenha

"não

são improváveis. Ou: há sentido ver-

dadeiro de um texto", como diz Paul Valéry.


esmo e muito
quando populares

Todo sentido é e convoca o leitor M abrangentes, as antologias necessitam


possível para

iluminar os espaços escondidos. E muitas de um critério. Visível como bandeira na


janela

leituras serão necessárias, importantes em dia de festa, o ideal é o critério


para que que possa

este livro seja apreendido em todos seus aspec- ser também uma e uma bússola.
provocação

tos; os leitores continuem o trabalho desta seja capaz de convencer o leitor de o


que Que
que

obra escrita e nunca encerrada.


está dentro daquele livro, e o acom-
graal
que

Para se chegar ao texto denso de Pedro na aventura de Talvez seja


panhe procurá-lo.

Garcia é renunciar às alegrias em demasia, mas é assim, um


preciso na
prematuras. querer pouco

Há se deter, durante muito base do suspense e da surpresa, as antolo-


que permanecer
que

tempo na de entrada desta até funcionam. falta de um eixo


porta poesia que gias Justamente por

a luz nos receba. O autor alerta: e de uma corrente excitante, Língua solta
próprio

não funcionar no sentido esperado


poderá

objeto impossível ao uso comum


suas organizadoras.
pelas

incomum ao homem O subtítulo de Língua solta, antologia de


possível

"Poetas

ao homem incomum.
brasileiras dos anos indica o
possível 90™,
quê?

Um critério Uma afinidade estilística


geracional?

Ou seja: áspera é a escada. relacionada com a época? Ou uma simples coin-

cidência de revelação das autoras? Uma


pista
Poesia Sempre
246 5

do mundo industrial-urbano, e leva a considerações


aparentemente mais segura está no texto intro-

sobre suas rotinas e seu tédio


dutório, no as autoras apresentadas universalizantes
são
qual

suas origens sugerindo-


programado.
primeiro pelas geográficas,

"melhores"

O mínimo é também a forma da


se foram escolhidas serem as
preferência
que por

de Beth Fleury, como é mais da metade


regiões de onde
e as mais representativas das para

das autoras reunidas em Língua solta. Mas aqui


Isso não ajuda muito,
também
procedem. pois,

a concisão em momento nenhum dá suporte a


sejam, é difícil admitir
que
por qualificadas que

filosofias. Os de Beth, longas frases

autoras ainda tão sintetizar poemas


jovens possam

dobradas em versos de um fôlego, são como


expressivas das
visões de mundo e tendências

de um trazem à superfície o calor

neste enorme jatos geiser:


milhares de mulheres
que, país,

nascidas em camadas
de
paixões profundas,
escrevem nos dias de hoje.
poesia

-
de história Tumultuosa e
carregadas
pessoal.
o mais conveniente no caso de
Assim, talvez

-,
dada a artesanias telúrica,
não obstante

o subtítulo, de
Língua solta seja alterar-lhe

"Poetas
"Poetas

brasileiras dos anos 90"


para

Parati, de Clarice Abdalla

e ir ao livro não como


brasileiras nos anos 90",

ir a uma antologia, a uma


se costuma

O mar dobra, requebra


mas como a um descontraído
exposição,

dispõem a na sussurra,
com seis autoras se
encontro janela,
que

O um corpo colonial crava unhas


do vêm escrevendo.
mostrar um
pouco que

a de e uma mulher enlouquece


menos uma vantagem:
truque tem
pelo

dentro do homem ama.


irregularidades do conjunto, a
desdramatizar as
que

Paramim Paranós
sucessão de altos e baixos dessas
inevitável

Parati.
obras ser como cordilheiras.
que pretendem

há vários. Um, sem dúvi-


Pontos altos? Sim,

"Fios

O horizonte verde-mar,
de tudo", como se intitula o segmen-
da, é

igual aos teus olhos, viaja


Vargas. Com três livros
to destinado a Suzana

num barco descobridor de incertezas.


exerce um bom domínio
Suzana
publicados, já

A música na
técnicas de se vale e
sobre as praça
que que

nossas mentes e ossos.


mínima, descònserta
no de estrutura
deságuam
poema

A abençoa os encontros
forma hoje tão associada à estética
pós-moder- procissão

de solteiros.
ao contingente ocasionais,
na. Mas Suzana ainda
fronteiriços,
pertence

A minha crise não é barroca, nem clássica,


o moderno, com seu constante
dos
que prolongam

nem tampouco de hoje.


das inquietações indi-
exercício de transposição

É esse turismo
mais ampla, a da
viduais uma esfera
genético
para

de solidão e sentimentos.
Assim, exemplo, a
história, se
quiserem. por

Paranós Paramim
espaços do mundo infan-
nostalgia dos
grandes

diante Parati.
transforma-se, nela, em atitude crítica
til
Resenhas 247

humor à flor do verso, um maior de inesperada, sarcástica, bem-humorada. Como


gosto

explicar-se do de indagar-se: assim é a boa não


que despreza nada do
poe- pé-na-estrada,
que

sia de Beth Fleury nas três dezenas de


lhe é oferecido: vai na mochila o
poemas
juntando

entram em Língua solta.


que o o harmônico, o con-
grande, pequeno,

A cede lugar ao lirismo na de trastante. O amálgama daí resulta é


paixão poesia
que picante.

Cláudia Castanheira, também se constrói Experimentem.


que

com miniaturas. Nela, a motivação romântica

denuncia-se aqui ou ali, mas não Em


prospera.

Cláudia Castanheira a não é matéria vul- O cerco da memória. Sérgio de Castro Pinto.
paixão

cânica; é matéria de e de apologia. Em Pessoa: Editora Universitária/UFPB,


1993,
poética João

-
Pauline Aiphen franco-brasileira
é e vive em 105
que p.

Paris nem uma coisa nem outra: no seu mundo de Armando Gens)
(Resenha

introvertido a continua viva, mas domina-


paixão

da desespero. Proibida de voar, ela tem, no


ão haver título
pelo mais sugestivo
poderia

entanto, traduzir-se em
N como O cerco da memória,
permissão para poemas uma
para

densos, de linguagem belamente elaborada. edição assinalar os 25 anos de


que pretende

Única entre as seis autoras ficaria à von- atividade de Sérgio Castro Pinto. Em
que
poética

tade numa antologia organizada critério sendo assim, o livro do


pelo apre-
poeta paraibano

regional, Francis Alves de Lima cresce senta uma via de dupla: de um lado cor-
justa:
pista

mente se atém aos mitos e aos ritmos rem os inéditos; ao lado destes,
quando
poemas

de seu mundo amazônico, com o emparelham-se aqueles


populares em obras
publicados

-
compensa o de suas descrições do anteriores Gestos lúcidos
que prosaico (1967), A ilha na

cotidiano, de suas enumerações e suas denún- ostra -


(1970) e Domicílio em trânsito
(1983)

cias sobre a sociedade e a condição feminina.


selecionados autor. E como decor-
pelo próprio

Bem, resta falar de Clarice Abdalla, e ela é a rência desta dupla, os leitores
pista
poderão

boa surpresa desta reunião de mulheres. divisar, através das 105 de se com-
páginas que

Inédita, até agora conhecida só con- o volume, um relato conciso da memória


pela põe

tribuição ao Clarice mostra aqui a do autor.


jornalismo,
poética

sua face um tantinho beat em uma série de Acompanhando esse relato, redesenhado na

"Flashes

de viagem", registram sua organização do livro, verifica-se


que pas- cronologi-
que,

sagem, de olhos abertos e nervos relaxados,


camente, houve uma deliberada inversão,
por

Nova York, Paris, Lisboa, Estrasburgo, Parati e, levando o leitor a caminhar da mais
produção

"O

finalmente, um chamado outro". A recente a mais antiga.


por país O tempo, então,
para

de Clarice Abdalla ainda vai necessitar não escoar; retido, acaba


poesia tornar-se
parece
por

de muita lima e muita lixa, mas não de aditivos. cíclico, consumando o encontro entre a estréia

O não lhe falta é força e criatividade. e a


que o sem dúvida, evoca uma
permanência, que,

Clarice é exuberante, sangüínea,


atípica concepção de tempo. Ou seja: o relógio
prismática,
248 Poesia Sempre
)

não dá conta do tempo da


já produção/invenção; sem,

fórmula

o relógio rompe-se e os como


perde ponteiros,

ilustra a realização da capa do livro, assinada Ifl/ão a embreagem,


por piso

Silvano Alves Bezerra da Silva. a


piso paisagem

Em relação aos desse livro-aniver- e a em


poemas ponhò primeira,

dizer salta aos olhos uma segunda, terceira e


sário,
pode-se que quarta

do epigramas, de segunda a sexta.


certa
preferência poeta pelos

como também fica a engenhosidade


patente

com os elabora. Ritmo ligeiro, concisão, vezes dou-lhe ré,


(às
que

conclusões agudas imprimem um estilo ner- mas ela sempre me escapa).

voso, contemporâneo e sarcástico aos


poemas-

inscrição. E mais, o acabamento e os arremates aos sábados e domingos

das são refinados, fugindo das deixo-me em morto


produções ficar ponto

soluções fáceis e dos trocadilhos óbvios diante dessas sem cor:


que fotos jã

costumam, na maioria das vezes, acompanhar

esta forma cultuada desde a Antigüidade. vistas de um retrovisor?


paisagens

Entretanto, a feição epigramática de


grande

número dos de O cerco da memória inesperadas. Por outro lado, destacam-se dois
poemas

- -,
convive harmonicamente com os em temas corpo e espaço meta-
se
poemas grandes que

série, atingem o alto em: morfoseiam de forma livre em muitos outros. A


que ponto

"Antagonismo:

máquina relação entre corpo e escritura torna-se tão ínti-


(fotografia)/revólver",

"Duas "Objetos

odes à borracha" e de lampião". ma na obra de Sérgio de Castro Pinto, não


que

E, com base nos títulos destas composições, é se deixar de associá-la ao utiliza-


pode processo

importante sublinhar a de objetos do na tatuagem. Escrita impressa no corpo sim-


profusão que

rondam o universo e lexical de Sérgio boliza, aqui, um crucial o eu-poéti-


poético ponto para

"lápis", "travesseiro",

de Castro Pinto. São co, se desloca rapidamente entre um


que

"pulôver", "cadarços", "sapatos", "gravata",

e outro: a busca de identidade num


poema

"chinelos", "dentadura", "paletó" "fronhas",

e mundo de coisas.
pleno

Tal tendência revela um certo Sem de


entre outros. vista a busca de identidade,
perder

do inventários devido à seria imperdoável omitir o contraste entre o


poeta pelos que,
gosto

imposta aos se regional e ó


expressão econômica universal, tão bem desenvolvido
poemas,

"Camões/Lampião",

mais róis de um mundo sem em


assemelham aos como também não

aura. mencionar o relevo adquirem as imagens


que

Se a visão cósmica do é trespassada da infância os de identificação.


poeta para processos

desencanto, as tiradas sarcásticas dão uma Entretanto, não se veja aí uma retomada dos
pelo

sacudidela no marasmo esplinético do viver signos da inteireza segundo os moldes românti-

contemporâneo, através de soluções lingüísticas cos. Na verdade, o olhar do e


percuciente poeta
Resenhas 249

a atitude de constante alerta acarretam a cor- As boutades e as


estão e
paródias
presentes

rosão desse código, através de um antidesenho: divertem,


mas não é difícil
foram
perceber que

"infância

rabiscada".
inseridas
num laboratório
onde se forja uma

Fechando o cerco, conclui-se os


nova linguagem,
que poemas como reza o Make it new de

de Sérgio de Castro Pinto incitam a curiosidade


Ezra Pound. Ainda há, neste Pandemônio,

do leitor e, não sendo a ela satis-


perversos, romantismo
à moda dos trovadores

provençais

fazem. E, como convém a todo bom tatuador, é e a fantasia dos simbolistas.

impossível atravessar O cerco da memória


sem riverão, Eva e Adão/ Sir Tristão, violador
pós

ser marcado ágil traço do eu-poético;


uma d'amores, ainda
pelo não revoltou
do Paraíso

vez marcado, é, igualmente, impossível não Perdido

exibir com orgulho a tatuagem introduz o ... dragões d'além mar/ cuspiam
que em nossa
fogo

"poe-

leitor na tribo de leitores dos instigantes


eros-dicção

mas-lâmina" do autor
além do mais
paraibano. me metafísica/pra
conferir
falta

ao sol solenidades/
e às da certa
galas galáxia

Pandemônio. Geraldo Eduardo Carneiro. São


isso ao rés-do-mundo
pompa:/por me confino/

Paulo: Art Editora, 1993, 128 Coleção Toda como dantes


p. cada vez mais moderno/ sem

Poesia.
acesso aos círculos do inferno.

de Bruno Cattoni)
(Resenha

a de Geraldinho
quem pense que geração

-
-
de letristas e trovadores só fez copiar
poetas

~M

\ ramaturgo e ensaísta, é na
poesia que

J.— Geraldinho Carneiro é um escritor sinistro


pop, (2)
pacto

não fosse ele um dos melhores letristas da músi-

ca brasileira. A temática de Os
popular ecoam na calçada
passos

-
Pandemônio livro de de debaixo
quarto das lâmpadas
poemas de Chelsea

-
Geraldinho atravessa o Brasil e o universo, o não há vestígio de estrelas

mítico e a humana. Urbi et Orbi.


quintessência a redoma de chumbo da névoa

Geraldo
comunica,
produz tem apaga os
poesia que esplendores da
que noite

a ver com os em sua experiência entrópi-


jovens se dia talvez uma
fosse
pedra

ca e cosmogônica,
e com os maduros, numa relampeasse
ao sol da vitrine

visão culta e da vida.


prática talvez a sombra não mais seguisse

Pandemônio
é o diário de bordo de um
o seu destino cego entre o trânsito

homem
do movimento cultural
que participou dos ratos e o rumor das águas de esgoto

brasileiro nas duas últimas décadas. Poemas


mas nada contraria a escrita dos astros

recentes escritos há mais tempo. Versos livres, em certa esquina uma mulher de luvas

"palavra

misturam o
que de negras
puxa palavra"

Drummond, com as anotações existenciais dos acende o isqueiro como se esperasse

beatniks norte-americanos.
poetas a chama da lâmina em riste
250 Poesia Sempre

o banal, ainda com inteligente vivacidade. duz com mais da vida, fusti-
que
prazer para perto

Contra isso, é dizer a novíssima


a anterior, neste com um vasto
preciso que gando processo,

brasileira se soltou num vôo acima dos elenco impiedoso de ironias e escárnios.
poesia

acadêmicos, das escolas estéticas, dos Sempre ocorre um salto assim, os ânimos,
jardins que

vales tristonhos do beletrismo. Geraldo é uma de um lado e de outro, se desorientam e exal-

dessas aves. tam, não


a compreensão do
permitindo que

fenômeno se faça logo de início. Só o tempo

em tua a língua caravela depositado indica o benefício as rupturas


fala
que

desenovela em busca de outros mares manter a tradição da


promovem para
poesia,

metáfora da a antifala como espelho da vida, em reno-


fala: permanente

ou inefável com caprichos vação e mudança.


fala

"marginal"

de boca navegada nunca dantes A 70, dita, na época, ou


geração

"do

AH SE EU SOUBESSE AMOR A TUA TRAMA mimeógrafo", foi uma espécie de arrastão

ao sul de decifrasse criador andou zanzando ruas, bares e


qualquer fala que pelas

esse de indecifrada teatros do Rio como um salto


país fala grande grupai.

amor não singra as minhas angras Poetas a três dois, contra o fundo violento
que por

mas sim me sangra em mar amor amor. repressão surgiram onde era
da
política, por

-
fabricar com alegria às vezes,
possível para

-
Geraldo Eduardo Carneiro é um
uma alegria seus desregramentos ver-
pan-estilista
pânica

brasileiro: desenha e costura a roupa da santa bais, No mundo brasileiro condenado então ao

com fazendas desbravadas, berloques silêncio,


cultura o importante era dizer coisa,
qualquer

do brechó de-tudo-que-ficou, com fosse fosse a forma os


preciosos qual pela qual gritos

retalhos fidedignos da fotografia de uma sufocados se tornavam audíveis. Como é

não a despe, cheio de tesão. comum nos momentos


explosão. de sofreguidão combati-
Quando

aí causos de Xerezade, olhos dis- va, boa do


Considere se fez nessa época foi ape-
parte que

de Capitu, e corte epistemológico de nas consumo instantâneo.


simulados Mas outra
para parte,

Diadorim. a inclui não só o trabalho de


que perdura,

E mais o leitor sonhar. alguns notáveis, também


como uma ati-
quanto poetas

tude coletiva mais fértil em relação à


poesia.

Fontes. Rio de Nos limites


Papéis de viagem. Luis Olavo em esta se elabora, a recuperação
que

Editora 1994, do da escrita, após anos de discussões


Seis,
384p.
faneiro: prazer

infrutíferas sobre morte ou ocaso, foi


de Leonardo Fróes) sua talvez
(Resenha

a melhor via marginais de


os então apon-
que

aos saltos. taram.


A ao anda
poesia, que parece,

jLJL Ou seja: toda vez ela se soleniza e Tantos anos depois do bom combate, Luis
que

engravata e ameaça transformar-se em Olavo Fontes demonstra nas dos


384
pro- páginas

dução muito séria, uma nova a recon- seus sólidos Papéis de viagem a origi-
geração que poesia
nada no arrastão dos 70 não era um simples

O eremita

modismo. Se ela só falava a às tribos


princípio

era no entanto uma explosão encadeada


jovens, A

xl. tarde sentado naquela cadeira amarela do

e autêntica, hoje se integra ao todo da literatu-


que

jardim

ra com a mesma força libertária de outros saltos

espiando imóvel a anda o movimento


quantas

antigos, como os o Romantismo


e o
que

do mundo.

Modernismo, cada a seu modo, deram tam-


qual

A borboleta branca a namorada existe


prova que

bém em seu tempo. Luis Olavo retém, da dicção

em outro século em outro


jamais planeta.

marginal, o foi
a feição mais
que provavelmente

Sem bússolas!

típica dela: uma espontaneidade ao


grande

Lã longe dois se amam num namoro


gaviões

dizer. Fala de coisas simples de coisas


até
(e

arquiteto.

secretas) com as mais sabendo


simples,
palavras

O eremita transforma-se num arquiteto de

compô-las com um domínio invulgar e


porém

nuvens e

firme da e do ritmo. Por isso, sua


plasticidade

outro Botocudo
a vida é dura e a
fuma
que

sobrepõe-se à instantaneidade dos temas


poesia

tarde mágica.

-
foram, muitas vezes, os temas comuns de
que

A tarde sentado naquela cadeira amarela do

-
sua época ligar-se, forma apurada, à
para pela

jardim

dos mestres de sempre.

maldizendo a castidade e só abandonando seu

O despojamento dos Papéis de viagem revela

se
posto

o autor se despoja ao realizar sua


que próprio

o refinadíssimo barco do crepúsculo o alentasse

"Varais

obra. ele escreve em ilumina-


Quando

à satisfação de suas necessidades mais básicas.

"ontem

dos": botões à luz de velas/


preguei

hoje lavei a roupa da casa/ estou ficando cada

se cria ao sabor da aventura. Contactá-la e


que

dia mais caseiro/ minhas meias secam é


que

conhecê-la nos Papéis de viagem, é a soma


que

uma beleza/ lá fora ocorrem discussões duelos

de 12 livros e resultado vinte


de anos na estra-

comércios", seu dizer e viver


percebe-se que

da, é ingressar num universo de alta originali-

são uma coisa una, da emana o modo sor-


qual

dade e voltagem onde se vê como a vivi-


poesia

ridente e meigo como ele olha entre


palavras

da continua fagueira a dar seus saltos.

as vãs do mundo.
para grandezas

O lugar do é essa distância, e desde


poeta

Rota de colisão. Marina Colasanti. Rio de

1974, estreou com Prato Luís


quando feito,

Editora Rocco, 1994, 118p.


Janeiro:

"de

Olavo a tem buscado e mantido cidade em

de Roberto Drummond)
(Resenha

cidade" cantos do Datados


pelos quatro globo.

do Afeganistão e da índia, de Sumatra e do Irã,


cresce ouvindo o nasce.
gente que poeta

de lugares nem sonhamos existam,


A Mas nunca nos disseram vezes,
que que às o
que,

seus de fatura exemplar são também o


poemas se esconde como um clandes-
poeta
passageiro

roteiro da expansão de uma cabeça tino. se disfarça


geográfico como um
Que
guerrilheiro.
Poesia Sempre
252
)

suas mãos no ateliê de Cézanne e depois


De líquida carne por

tomamos conhecimento de alguém amou


que

um homem sem rosto. A daí, Marina


partir
J\/j[eus seios tomam a
forma

Colasanti nos arrebata e nos seduz. seduzi-



do momento os contém.
que

dos, indiferentes a teorias literárias só


(que
Se colhidos boca
pela

é certo, exaltar a não sabemos


podem, poeta),
alongam ardidas
pontas.

se devemos ler os de Marina Colasanti


poemas
Se aprisionados na mão

como canta, como conspira ou


quem quem
acrescem à curva
própria

como reza.
quem
a curva doce da
palma.

Poeta itinerante, viaja os mundos


(não
que
E soltos ao vento
quando

tivesse ela nascido na Etiópia, vivido na Itália

no meu corpo em correria

até os 11 anos e vindo viver e vencer em terras

ondejam

do Brasil), Marina Colasanti é nossa numa


guia
como a maré a ãgua na bacia.
que faz

empolgante viagem. Ah, vontade de chegar


que

a minha e como se Minas tivesse


janela gritar,

mar e eu visse os navios lá longe, na


assume sua veia de Sua veia de passando
Que jornalista.

curva do horizonte, no oceano Atlântico,


cronista e mesmo de ficcionista. Tudo com
gritar

nos despistar e dizer: como um dia Tristão de Ataíde


como com
grandeza, para gritou

-
o nestes campos relação aos romancistas nordestinos
É inútil
(creio
procurar poeta que

escrevendo sobre Lins do Rego):


floridos.
José

-
Poeta ã vista
E, no entanto, o está lá, aguardando a
poeta

Também de soltar ao vento os ver-


hora. Como uma cotovia espera o momen-
gostaria
que

"Tempo

sos de colher". E reservaria um


to de cantar. Pois é o veio acontecendo, até
que

momento meus mortos nunca


Rota de colisão, com a
publicar poeta, grande para queridos,

Marina mim homenageados como merecem, lendo


Colasanti. Como Marina
poeta, poeta, por

se escondeu E em voz alta ouvissem:


Colasanti de nós. como chegava
para que

a nossos corações com seus contos, crônicas

buscam a libertação da mulher e histórias É a chuva cai


que quando

infantis, maus sherloques somos, não sus- e os se calam


que pássaros

da existência, tão forte, tão bela, de meus mortos

peitávamos que

cuja descoberta nos encanta e ale- no


uma
passeiam jardim.
poeta

Vejo a amiga esgueirar-se

gra.

atrás do tronco
Devo informar a interessar
quem possa que

há um no empoleirado
ler Rota de colisão foi uma aventura cheia de
parente galho

outro coteja
surpresas. A começar surpresa maior: a
quieto
pela

sobre a
descoberta da O começamos a sen-
pedra.
poeta. que

E os mais moços
tir, como uma súbita brisa,
quando penetramos
Resenhas 253

ainda à vida será então tudo um tem


presos pedra que poeta que

os caminhos. enfrentar hoje: tanto na interioridade do seu


percorrem

Protegido meu rosto ofício


(particularmente, as e as for-
palavras

na toca do capuz mas) na exterioridade meio,


(o as
quanto

tento ouvir-lhes as vozes.


condições a auto-afirmação, conflitos
para

Mas mais me esforce


etc).
por que
geracionais

ouço apenas a chuva.


A segunda face desse combate fica implícito

E me deixo -
ou não é levado em consideração autora
ficar
pela

sentada na neblina o sugere uma resistência frágil ou venci-


que já

como um buda de capa amarela. da. Mas a está explícita: Cláudia luta
primeira

com as e as formas o tempo todo e não


palavras

Andando numa bicicleta azul em Nova esconde a angústia nem o resultado a


que

"o

Iorque, ficando tempo de um em chega.


perfume"

Bogotá, morrer na Guerra do Um


preparando se destaca ostensivamente
para
procedimento

"Deus

Golfo, descobriremos -
é uma árvore" e se impõe no livro: a fragmentação vocabular
que

e ficaremos diante da do armário aberta. a decomposição de uma entre o fim de


porta
palavra

E, aí, não teremos mais dúvida, dúvida hou- um verso o


se e começo do seguinte, criando uma

vesse: uma das melhores notícias sobre a espécie de enjambement não entre de
poesia
partes

brasileira nos últimos tempos é Marina uma idéia distentida dois versos mas entre
por

Colasanti. de uma mesma com um intuito


partes palavra,

ou alcance visual ou semântico. O é


que preciso

agora é ver a funcionalidade ou rendimento


o

Saxífraga. Cláudia Roquette-Pinto. Rio de do


processo.

Ed. Salamandra, 1993, Este se apresenta sob três modalidades:


faneiro: 39p. um

de Pedro Lyra)
(Resenha tipo é aquele apenas divide a
primeiro
que

sem os dois fragmentos assumam


palavra, que

textos divididos em ou acrescentem ao léxico algum senti-


quatro partes
primitivo

compõem
rrinta d segundo livro de de do novo, como em:
poesia

Cláudia Roquette-Pinto. O título sugere a


culturalista autora: a lisa a


poética praticada pela pele

"Saxífraga"

é um termo raro, designa algo té o umbigo e logo


que Cp. 32)

com força
(lat.:
para quebrar frangerê) pedra

(saxum).
e só não se afigura a ausên-
que gratuito porque

A se aplica? O estar represen- cia de funcionalidade


que semântica é compensada
que pode

tado figura da
de alguma funcionalidade
pela pedra?
pela presença
gráfica

Evidente se aplica à sua a a configuração visual


que da Um
própria poesia, para
página.

ela está atribuindo esse A segundo tipo aquele


que é em a divisão léxica
portanto poder.
que
Poesia Sempre
254

aparentemente ao leitor
menos um em ela se dirige
sentido novo a
um
pelo que
gera próprio

fundo, dirige-se ao ou a si
como em: mas, no
dois fragmentos vocabulares,
dos poeta

Ela configurar, na
mesma.
primeira
pretende

de leitura e, na segunda, o
direção, o
e crispam esmer
processo

do Em ambos,
de escritura
ilham dorso abaixo a
(p. 32) processo poema.

uma idéia da necessidade de apro-


insinua-se

"mergulho",

sugerida imagem do
elemento sugere a idéia de fundamento,
em o segundo
pela
que

"queda"

a forma negativa de uma livre


ausente na mas sob
insulação do
protagonista, palavra

"tubo" "em "de

é num vazio, vertical", e li&erto


tipo, mais
inteira. Um terceiro
produtivo,

toda matéria". Ora, não é dissociar essa


os dois fragmentos sugerem
aquele em
possível
que

"queda"

da idéia de de consciência nem


novos, além do como
ambos sentidos perda
primitivo,

"matéria"

ausência de da de ausência de
essa
em:

-
condições em o resul-
substância
lív que poema

algo ao acaso e sem


taria como
ido lençol aves
produzido

maior consistência ideológica.


so ao escuro mur
31)
(p.

Pois bem: é exatamente ao deste


produto

"avesso"

solicita se chame de
fato a autora
a decomposição da
em que
palavra que
que

"poema",

apenas considera esta


de liberdade e isola-
introduz as idéias ("aves") que
porque

"queda" "construída".

Mas, ao longo de
matriz. É este seja
mento estranhas à
("só"),
palavra

- nem o autor
todo o texto, nem o leitor
e, infelizmente, o mais raro.
o mais praticam
produtivo

eles estão caindo e se


dois um só ato de construção:
todos os outros são dos
Quase primeiros

"não

cair, e são convidados a abolir a


e irri- deixando
tipos, o acaba saturando o texto
pode
que

-
num espontaneísmo no entanto,
não identifica a
tar o leitor menos que,
que queda"
paciente,

se opõe ostensivamente à textual de


funcionalidade do
prática
processo.

isso não constitui Cláudia.


É evidente
garantia
que

se lança. Não creio esse caminho, a Geração


afirmação de um
a que, por
poeta que
para

certo domínio 80 venha a construir uma obra capaz de con-


uma técnica, um
Pode revelar

-
- níveis mais elevados
de O leitor duzir a brasileira a
mas em função
formal
quê? poesia

menos ao a a conduziu a
uma tese, um
uma idéia,
posiciona- pelo patamar que
procura

à desistência Geração 60. O temos constatado na obra


autor, e ser levado
mento do já
que
pode

agora é uma ainda forte influên-


se encontram até
não encontrar, tão diluídos
produzida
por

ape- cia do distante Concretismo, o segura-


esvaziar o texto, deixando
ameaçam que,
que

mente, é caminho aberto o fracasso,


um
nas esse malabarismo lingüístico. para

-
se renúncia à criação de uma
de Cláudia onde
Mesmo os metapoemas poética própria,
pela

como se exige de toda


esperar a formalização da
geração.
proposta
poderia

-
são assim evasivos. O
desse
procedimento

"ao

leitor, em visita" 27),


mais expressivo deles é (p.
ao leitor, em visita

em vertical

pensa

então se digo tubo

num mergulho
derruba-te

assaltado

como o do sono

tombo no
(coração

estômago, o amor)

ao desaprumo um colapso
acrescenta

"presteza

e a vertiginosa

dos expressos",

no espaço

sói agora libertes


que

o tubo de toda matéria

-
- a
apenas de não abolir
cuida queda

o resta esta
que

construída
queda

a isto, diga:

poema
IVROS RECEBIDOS

'ra

Las constelaciones de la história


Rito Passa dentro, menina!
y p

otros Olga Curado


Marize Castro
poemas

Steven White São Paulo, Massao Ohno Editor,


Co-edição CCHLA/UFRN

-
Santiago Chile 1994, 110
Fundação Sta. Maria p.

América dei Sur Libreria Editorial


Rio Grande do Norte, 1993,
92
p.

A vida dividida
-
1982 21
p.

Maria Lúcia Félix

Primeiro livro de chuvas

Editora Estação Liberdade,


Metrô

Ilacyr Anderson Freitas

Secretaria Municipal de Cultura de


Adriano Espínola

de Fora, Edições D'lira, 1991, 72


J. Goiânia, 1993,
p. 95
Fortaleza, Edições Água, 1993, p.
205
p.

E Lúcifer dá seu beijo

Gaivota itinerante Sísifo no espelho

Ésio Macedo Ribeiro

Ethel Carvalho Araújo Ylacyr Anderson Freitas

São Paulo, Massao Ohno Editor,

Rio de Artes Gráficas e de Fora, Edições D'..lira, 1991,


Janeiro, 72p.
J.

1993, 70
p.

Editora, 1981,
55
p.

Depois do
O cerco da memória
paraíso

-
Suzana Elegia
3, e inventário

Wanderley Francisconi Mendes


Sérgio de Castro Pinto

Gerardo de Mello Mourão


-
Niterói RJ, Editora Cromos, 1993,70
-
Paraíba, Ed. Universitária p.
UFPB,

São Paulo, Edições GRD, 1994, 49


p.

1993,105
p.

A alma não encolhe na chuva

Gabriel
Chandal Meirelles Nasser

Passagem secreta
Eunice Arruda
Universidade de Sta. Catarina

Sá Earp
São Paulo, Massao Ohno Editor, Jorge
Editora da UFSC

1990, Rio de Ed, Taurus, 1993,84


50
p. Janeiro, Florianópolis, 1993, 117
p.
p.

A conquista do leitor:
Senhor, é tempo
jovem

Arte de rua

Uma alternativa
Rainer Maria Rilke proposta

Celso Gutfreind

Maria Salete Daros de Souza


Poemas selecionados

Porto Alegre, Tchê!, 1993, 102


p.
Editora da UFSC
Tradução e organização de Karlos

Florianópolis, 1993, 114


Rischbieter p.

A do
ponta punhal
Paraná, Editora Posigraf, 144
p.

Sonhos de vitrine

Gabriel Nascente

Marlene Andrade Martins

Goiânia, 1993, 8
Clássicos do regionalismo
p.
gaúcho

Belo Horizonte, Editora e Gráfica O

Luiz Coronel

lutador, 1993, 117


p.

Porto Alegre, Tchê!, 1994, 186


p. De auroras e outras

Elizabeth Gontijo Viver em Malabase

Entre os meus semelhantes

Silvio Castro
Belo Horizonte, Roma Editora,

Izacyl Guimarães Ferreira

Rio de Edit. Nórdica, 1993,


1993, 100 Janeiro,
p.

São Paulo, Scorlecci Editora,


João
66
p.

1994, 117
p.

altro
Questo frutto
A lira dissonante

Pirâmide noturna Maria Lúcia Verdi


Francis Paulina Lopes da Silva

Luiz Coronel lia Palma


de Fora, Zãs Gráfica e Editora
Juiz

Porto Alegre, Tchê!, 1993, 107 Itália, 1993,158


Ltda., 1992, 60
p. p.
p.
258 Poesia Sempre

Heidegger e a origem da obra de arte O sim da Aprendiz do nada


poesia

Iacyr Anderson Freitas Regina Carvalho Emil de Castro

-
de Fora, Edições D'lira, 1993, Editora da UFSC Universidade de Rio de Livraria Editora
Juiz Janeiro,

28 Sta. Catarina Cátedra, 1992,


30
p. p.

Florianópolis, 1993,
51
p.

Canto
As rédeas da solidão provisório

Inexílio
Marta Gonçalves
Mário Rodrigues
José

Francisco Marcelo Cabral


de Fora, Edições de Minas,
Editora Raiz, 1993, Juiz
Pernambuco, 52
p.

Rio de Imprinta, 1984, 10


Janeiro, 1992, 42
p.
p.

Salva de versos

-
Baile de Câmara Poemas
A cbama inextinguível

Paulo Cardoso

Francisco Marcelo Cabral


Alexei Rueno

Pernambuco, Edições Bagaço, 1992,

Rio de Imprinta, 1993,


36
Janeiro, p. Rio de Ed. Nova Fronteira,
Janeiro,
57
p.

1992, 274
p.

A dos ventos
geometria

Mar anterior

Álvaro Pacheco

O
(se)
que passa

Sérgio Campos

Rio de Ed. Record, 1992,


Janeiro,
Mônica Costa Bonvicino

-
Ilha do Governador RJ, Zás

117
p.
São Paulo, Iluminuras, 1991,
39
p.

Gráfica e Editora, 1994, 146


p.

Afeto analfabeto

Caras do Rio

As veias da noite Pedro Moraes Braga

Poética carioca

Paulo Cardoso Rio de Europa Gráfica e


Janeiro,

Org. Ângela Moura


por

Pernambuco, Edições Bagaço, 1993, Editora Ltda., 1993, 28


p.
Rio de Microart, 1993, 142
Janeiro, p.

79
p.

Vidência e acaso

O em chamas
paraíso

Maria Carpi
Marrons crepons marfins

Fábio Campana

Porto Alegre, Movimento, 1992,


95
Marize Castro p.

Editora Travessa dos Editores

- -
Natal Fundação Augusto RS,
José
Curitiba, PR, 1994, 125
p.
Nos da dor
gerais

Editora Clima, 1984, 157


p.

Maria Carpi

Primeiros vôos

Porto Alegre, Movimento, 1990, 64


p.

Desafio
Victor Hugo

Cláudio Limeira
São Paulo, Scortecci Editora,
Cristal João

Paraíba, A União Cia. Editora, 1980,


1992,
38
Inês Mafra p.

72
p.

Ed. da UFSC

O sentido comum das coisas


Florianópolis, 1993, 86
p.

Pátria de ninguém
Marlene Andrade Martins

Ivan Santtana
Poesia negra brasileira Belo Horizonte, Ed. O Lutador,

São Paulo, Scortecci Editora,


João Antologia 1992, 83
p.

1992, 42 -
p. Zilá Bernd Organizadora

Age Editora, Instituto Nacional do

Poetas brasileiros
Livro e Editora Igel

Sul-Americana Editores
Porto Alegre, 1992, 153
p.

Porto Alegre, 1992, 160


p.

Formas de la memória

Pura lira
Rosalba Campra

Hélio Póvoas
Córdoba-Argentina, Lerner Editor,
Júnior

Brasília, Thesaurus Editora de


1989, 109
p.

Brasília Ltda., 1993, 154


p.

Fragmentos

O equivocado e outros Glac Maria César Coura


poemas

Celso Furtado de Mendonça Belo Horizonte, Ed. da Autora,

-
Niterói RJ, Ed. Cosmos, 1989, 108 1992, 55
p. p.
Revistas e Impressos

Punto de Encuentro

Revista Literária
Grupo Surrealista de São Paulo

-
Abril 1992, Uruguai
Escrituras Suirealistas, 1993 junio,

- Poi té
Escritores da VFF Poesia

- Revista dos estudantes da UFSC


Niterói RJ, 1993

Março
94

Florianópolis
Revista do Escritor Brasileiro

Urbana
Dez. nQ
93, 5

Rio de 1993, na
Brasília 3
Janeiro,

O livrespaço
Correinho das artes

n®7e8
Suplemento da criança de

-1993
São Paulo
dezembro a março
92 94

Paraíba

La misma noche

González Diaz
Alegoria Juan

Cuadernos La de
Org. Marta Gonçalves puerta papel

Centro Provincial dei libro


Edições de Minas

la literatura. La Habana
Especial
y

Minas Gerais

Poesia na idade

Esther Moura

Rio de 1994
Janeiro,
261
s


Ç
OLABORADORES

"Um-
- Tarde Revelada Sal
Prêmio (1985),
ADÍLIA LOPES Nasceu em 1960. Publicou (1987), Jabuti,
jogo

"O

Fraclais e A Olho Nu
Poeta de Pondichéry", (1990) (1993).
bastante 1985, (1989),
perigoso",

"Maria
"O

1986, da Dama de Espadas", 1988,


Decote

"Opeixe
-
1992, na água", 1993. Está OSÓRIO Nasceu em Setúbal, Portugal, em
Cristina Martins", ANTÔNIO

e na França. Licenciado em Direito, exerce advocacia em


traduzida na Itália 1933-

ensaísta, colaborou em várias revistas


Lisboa. Poeta e

-
DE SANTANNA Nasceu em Belo
AFFONSO ROMANO
literárias Entre seus livros de
poesia
portuguesas.

Poeta, crítico.
Horizonte, MG
(1937). Aurora
professor, A Ignorância da Morte Décima
estão: (1985),

Publicou, entre outros, é este? e outros


Que país poe- Homens
e Planetário e Zoo dos (1990).
(1982)

mas A do índio
(1980). guarani perdido
grande fala

-
derrotas e O lado esquerdo GENS Professor do F.F.P/ São Gonçalo
na história e outras (1978) ARMANDO

do UERJ; da Faculdade de Educação UFRJ.


meu (1992).
peito professor

- Maria É
Belo ARMINDO TKEV1SAN- Nasceu em Santa
NETO Nasceu em (RS).
AFONSO HENRIQUES

e de História da Arte na liRGS.


Poeta, universitário.
Horizonte, MG poeta professor
(1944). professor

entre outros, A surpresa de ser O


e estrelas e Publicou, (1977).
Publicou, entre outros, Rostos
fraturas

e O moinho de Deus
Eros(1992). abajur de Píndaro (1973) (1985).
Tudo nenhum e Avenida
(1975), (1985)

-
Sueca, nascida Karlsham.
- BIRGITA LAGERBLAD
BUENO Nasceu em 1963. Poeta, tradutor.
ALEXEI

em Paris e Literatura na Sorbonne.


Estudou Desenho
Publicou vários livros de entre eles As escadas
poesia,

Moacyr Félix em 1952. Traduziu


Casou com o
Poemas e A decom- poeta
da torre (1984)
(1979/81),
gregos

vários autores suecos, entre os Stig Dagerman


Bach Seu último livro é quais
de S. (1989).
posição f.

e Astrid Lindgren e mais 15


A ilha dos condenados)
(
Lucernário
(1994).

Edições de Ouro. Ilustrou vários


livros suecos as
para

-
DE GUIMARAENS FILHO Nasceu em
ALPHONSUS livros brasileiros.

Poeta, entre vários,


Mariana, MG
(1918).
publicou,

-
ELISABETH Vive em
BORCHERS (1926)
O mito e o criador e
Lume de estrelas (1954)
(1940),

"Velbo

cemitério em maio" foi


Frankfurt/Main.
judeu
Discurso no deserto (1982).

vive, Suhrkamp Verfag, 1986.


tirado do volume
Quem

-
ANA HATHERLY Nasceu no Porto, Portugal (1929).

-
BRUNO CATTONI Nasceu no Rio de em
Janeiro,
Poeta, ensaísta, investigadora e tradutora. Entre seus

1957. Editor de textos da Central Globo de


Jornalismo.
livros de destacamos: O Cisne Intacto
(1983),
poesia

*Figuras"

de Brasileira) e
Livros (Civilização
poemas
Anacrusa e A Cidade das Palavras (1988).
(1983)

"Conspirações

e Inconfidências de um Caçador de

- -
PB Meninas Gerais"(Massao Ono Editor).
ANDRÉ RICARDO AGUIAR Nasceu em Itabaiana

assíduo do suplemento literário


É colaborador
(1969).

-
DE ASSIS TRINDADE Poeta. Autor de
CAIRO

das Artes e é inédito em livro. Atualmente


Correio

Poematemagia, Sacanageral, Liberatura


(individuais).

cursa a Faculdade de Letras.

Participa de várias antologias. Faz


performances poéti-

-
o com a Gang e a Dupla do Prazer.
DE FRANCESCH1 Nasceu em cas todo
ANTÔNIO FERNANDO
por país,

Oficina de Literatura, onde orienta teoria


Formado em Filosofia, E dirige uma
Pirassununga, SP (1942).
poeta

e técnica de criação literária.


e ensaísta. Livros de Caminho das Águas
poesia:
262 Poesia Sempre
J

-
- Tradutor, responsável, entre
no Rio de CURT MEYER-CIASON
CARLOS TAMN Nasceu (1959).
Janeiro

concursos de outros, tradução de Guimarães Rosa a


em livro. Premiado nos
Poeta inédito João para
pela

e Verve. É médico língua alemã.


Stanislau Ponte Preta
Jornal
poesia

e
psicanalista.

DORIS RUNGE, 1943. Vive em Cismar/Holstein. Os

de sorte e Do retrovisor foram extraídos


poemas Jogo
-
MEIRELES Nasceu no Rio de
CECÍLIA Janeiro

do livro Wintergrün, ed. Stuttgart Deutsche

Professora, folclorista. Sua


(1901/1964). poeta,

Verlagsanstalt, 1991. O Selo e o ensaio Como


poema
encaminha-a num sentido extremamente
evolução

surge um são inéditos.


poema?

colocando-a num de rara singulari-


pessoal, posto

como a maior figura feminina nas letras


dade,

"Pech
-
DURS GRÜNBEIN O für den zweiten
poema

Entre os vários livros escreveu, desta-


brasileiras.
que

Wurf" foi tirado do Frankfurter Allgemeinen (Jornal)

camos: Viagem Romanceiro da Inconfidência


(1939),

1992 ou cf. Suhrkamp-Verlag


93 (editora).

e Mar absoluto
(1953) (1945).

-
EDUARDO GUERRA CARNEIRO Nasceu em Chaves,

-
FILHO Nasceu em Coremas em 1959 e
CHICO IINO

em outubro de 1942. Publicou, entre outros livros de

Pessoa desde 1975. É autor de Paixão


reside em
João

anda tudo ligado Dama de Copas"


Isto (1970),
poesia,

movediça e Abajur de lua Colabora


(1989) (1992).

Contra a Corrente Profissão de


(1981), (1988),

assiduamente no Correio das Artes, revistas literárias e

é também autor de
(1990).
Jornalista profissional,

outros de Pessoa.
jornais João

argumentos, diálogos e textos a televisão, cinema


para

e rádio.

-
Nasceu em 4/7/1915 em Grog
CHRISTINELAVANT-

-
de St. Stefan/Karnten e faleceu em 1973 EMÍLIO MOURA Nasceu em Belo Horizonte, MG
Edling,
perto

Wolffsberg/karnten. Filha de minerador, cursou e Tomou no


em (1902-1971). Jornalista professor. parte

Após uma infância difícil, movimento modernista de 1920. Membro do de


apenas a escola
primária. grupo

com malhas tricotadas ela mesma. Sua A Revista defendendo a nacionalização da


trabalhou (1925)
por

inclina-se a um certo misticismo. Publicou, literatura. Estreou em livro em 1931, consagrando-se


poesia

Die unvollendete Liebe Baruscha com uma simples, de forma límpida e de


entre outros: (1949),
poesia pura,

im Mord assuntos da realidade cotidiana. Publicou, entre


Spindel (1959).
(1992),

muitos: Canto da hora amarga O espelho e a


(1936),

musa A casa e Itinerário


(1949), (1961)
- poético
CLARIBEL ALEGRIA Nasceu em El Salvador, 1925.

(1966).

Publicou Anillo de Silencio Via única e


(1948), (1965)

Sobrevivo Casa de Ias Américas, 1978).


(Prêmio

-
ERNSTJANDL, 1925 Vive em Viena. Brinde foi tirado

do volume Idílios, Luchterhand Literatur Verlag,

-
AHIMSA Nasceu em Porto Alegre É
CLÁUDIA (1963).

Frankfurt 1989, A noite está um demais


pouco quieta

em Tanztheater e Música.
e tradutora. Formação
poeta

do volume 100 anos de Lírica!, ed. Axel


(1954)
por

desde 1988. Publicou Allegro-


Vive na Alemanha

Marquardt, Zurique, Haffmans-Verlag 1922, Cp. com

melancólico e Vivace (1994).


(1992)

Luchterhand Verlag.

-
Paulo, SP. É
CLÁUDIO WIILER Nasceu em São -
poeta,
ESTEBÁN MOORE Nasceu em Buenos Aires,

ensaísta e tradutor. Entre os seus livros


publicados Publicou, entre
Argentina (1952). outros: La noche en

da Provocação Dias circulares


temos: (1981),
Jardins liamos Con Bogey en Casablanca otros
(1982),
y poe-

e Anotações um Apocalipse (1964).


(1976)
para mas e Poemas (.1982-1987).
(1987)

-
- Nasceu em Paulo, Poeta,
literário, EUNICE ARRUDA São SP.
CÉSAR LEAL Poeta, ensaísta, crítico
jornalista

os O autora de 8 livros, entre eles: Os momentos, As


e Publicou vários livros, entre
quais: pes-
professor.

estação e soas, As Gabriel. Coordena oficinas de


triunfo das águas A (1972)
(1968), palavras, poe-
quinta

sia na Oficina da Palavra


Os heróis (1)83). (SP).
263
Colaboradores /

-
1929 Vive em
- HANS MAGNUS ENZENSBERGER,
Villa Clara, Cuba, 1945.
Nasceu em
FÉLIXLUÍS VIERA

do volume 100
Munique. A alegria foi extraída
outros, Una melodia Jahr
Publicou, entre
Narrador e
poeta.

Zurich, Editora
Lyrik/, organizado Axel Marquardt,
David de Poesia,
bajo la Uuvia (Prêmio por
sin ton ni son

ao volume
Haffman, 1992. Acrobatas chineses
dei hijo Prêmio da
En el nombre (contos, pertence
1978)

Frankfurt em Main, Editora Suhrkamp.


Zukunftsmusik,
Crítica, 1983).

Caderno, 1, 41, 1994,


foi extraída de Akzente
A visita

cf. Editora Suhrkamp.


-
AMARAL Nasceu em 1960.
PINTO DO
FERNANDO

Acedia e A escada
Publicou livros de (1990)
poesia:
-
em Lambari, MG
LISBOA Nasceu
HENRIQUETA

Como ensaísta O Mosaico


de (1993).
Jacob publicou

ensaísta, tradutora e
Poeta,
(1904-1985). professora,

na
Fluido, Modernidade e Pós-modernidade
poesia

Lisboa vasta e significativa


Henriqueta pro-
possui

do Pen Clube
mais recente Prêmio
(1991),
portuguesa

raízes estéticas, como as de


Suas
dução
poética.

Traduziu As
1991, e Na órbita de Saturno
(1992). fio-

fase vêm do Simbolismo, com


inúmeros dessa
poetas

Baudelaire É Assistente
res do mal, de Charles (1992).

original e em
integração e saída
pessoal
passagem,

na Faculdade de Letras de Lisboa.

de 22. De sua obra, desta-


relação ao Modernismo

Pousada do ser
Casa de e
camos: (1979)
pedras

-
Nasceu em São Luís, MÁ
FERREIRA GULLAR (1930).
como uma das
É reconhecida hoje
(1982). grandes

Poeta, crítico de arte. Entre outros,


publicou
jornalista, de todos os tempos.
brasileiras
poetas

vertigem do dia e Toda


Poema sujo Na (1980)
(1976);

-
Nasceu em São Paulo
(1980). HILDA HILST (1930).
poesia Jaú,

dramaturga. Ganhadora dos mais


Poeta, ficcionista e

literários do dentre eles o


importantes
- prêmios país,
e tradutor. Entre
FLÀVIO Poeta, ensaísta
R. KOTHE

-
Crítica o Conjunto da Obra
Grande Prêmio da
para
e hermenêutica (ensaio
seus livros estão: Hermetismo

Críticos de Arte e o
Associação Paulista dos (1981)

do medo
e tradução) e Memorial (poesia).

do Livro, 1984. De
Câmara Brasileira
Prêmio
Jabuti,

livros: Roteiro
vasta obra destacamos os seguintes
sua

-
1924 Vive em
FRIEDERIKE MA YRÓCKER, nasceu em

Odes Mirenos e
Da morte, (1980)
do silêncio-(\959),

secar como a
Viena. Wird welken wie Gras ("Vai

Só desejo (1992).

ano 41, número 1,


foi extraído de Akzente,
grama")

criação do não é conheci-


1994. A data exata da
poema

-
1921, vive em Viena.
Nascida em
ILSE A1CHINGER

da.

"Antecipado"

volume Verschenkter Rat


é extraído do

ou Oferta de Solução), Frankfurt


Dado,
(Conselho

-
Poeta chileno nascido em Ovalle
GONZALO ROJAS -
Editora Suhrkamp, 1978.
a.M.

Publicou até
em 1917. Prêmio Reina Sofia
(Espanha).

La miséria dei hombre


o momento, entre outros,
-
Publicou os
INGEBORG BACHMANN (1926-1973)

e Antologia dei aire


Desocupado lectori1990)
(1946),

invocação do urso.
livros O tempo decisivo e A
grande

(1991).

Editora Piper, 1956.

-
Construção da
GOTTFRIED BENN, 1886-1956
frase
em Berlim e reside no
INGRIDSCHWAMBORN-Nasceu

Obras Reunidas de Gottfried


faz das
(Satzbau)
parte Leitora do Serviço Alemão
Rio de há dez anos.
Janeiro

WellershofWiesbaden e
Benn, vol. III, ed. Dieter
de Línguas
de Intercâmbio Acadêmico,
professora

Verlag, 1978. Cf. edição Klett-Cotta.


Múnchen Limes

na Universidade de Colônia (1984/1988)


Neolatinas

Construção foi escrito depois da


da
guerra.
frase de de Alencar.
Doutoramento sobre a obra
José

-
- de
MORICONI É de
H(ANS) ARTMANN, 1921 Vive em Salzburg. ÍTALO
C(ARL) professor pós-graduação

e autor de
In tirado do livro de Literatura Brasileira e Comparada
die tiefe seines bauches foi poeta,
poesia

1988) e A cidade e as ruas


Von in worte Salzburg Léu (Série
der wollust des dicbtens (Taurus-Timbre,
gefaJSt,

também ensaios de
foi tira- Poesia na UERJ, 1992). Escreve
Residenz-Verlag 1989. Ein bittrer verlust
Ç1955)

-
Verlag 1992. crítica literária e teoria cultural.
do de 100Jahre Lyrik! Zürich Haffmans
264 Poesia Sempre
J

-
literário e do Paraná. Foi da Caixa Econômica Federal
IVAN É crítico
(1934) presidente
JUNQUEIRA poeta,

na e Banco do Brasil em Brasília. Exerceu ainda o


Entre outros, Três meditações do
tradutor.
publicou:

rainha arcaica, Nova cargo de Ministro da Fazenda. Como tradutor,


corda lírica; Lós, RJ, 1977; A
publi-

-
movimentos, Gastão de cou: Rainer Maria Rilke, Senhor é Tempo
Fronteira, RJ, 1981; Cinco
poemas

selecionados, Editora Posigraf, 1993-


Holanda, RJ, 1982.

-
Nasceu em Ervália, MG Poeta, -
IVO BARROSO (1929).
LAWRENCE FERLINGHETTI Nasceu em 1919 em

sonetos de Shakespeare,
tradutor e critico, 30
publicou Nova York. Durante a Segunda Guerra Mundial
par-

T. S. Eliot e uma antologia de Traduções,


Os de
ticipou na Resistência Francesa como marinheiro. É
gatos

Seus livros Nau dos náufragos (1981)


O torso e o
gato. editor e livreiro.

Alcipe foram ambos editados


e Visitações de (1992)

em Portugal. -
LEONARDO FRÓES Poeta, tradutor,
jornalista.

Publicou, entre outros: A vida em comum


(1969),

-
CAIAFA Nasceu no Rio de É
(1958).
Janeiro
JANICE Esqueci de avisar estou vivo e Anjo tigrado
(1973)
que

da escola de Comunicação da
antropóloga,
professora
(1975).

e tradutora. Publicou Movimento na


UFRJ
punk

cidade: a invasão dos bandos sub


(1985).
-
LLOYD SCHWARTZ Poeta norte-americano,
que já

deu cursos e no Brasil, especialista na obra


pesquisou

-
R. LONGLAND Tradutora. Colaborou com
JEAN

de Elizabeth Bishop.

traduções da espanhola e
poesia portuguesa para

várias antologias. Editou e traduziu Selections


from

-
PICCHIO É catedrática de lín-
LUCLANA STEGAGNO

Contemporary Portuguese Poetry


(1966).

românicas na Universidade de Roma. Nasceu em


guas

Alexandria, no Piemonte. Especialista em literaturas

-
Nascido em Mossoró, RN, é
AIM1NO (1950)
JOÃO

de língua é autora de obras clássicas,


portuguesa,

do romance Idéias onde o


escritor, autor
para passar

como Storía dei Teatro Portoghese e La Letteratura

mundo. Seu sétimo livro, em agosto


do
publicado
fim

Brasiliana, entre outras, tendo sido uma das


principais

romance Samba-enredo Zero).


de 1994, é o (Marco

colaboradoras de Roman Recentemente


Jackobson.

Ed. Nova Aquilar, a edição crítica da


publicou, pela

no México, em 1939.
PACHECO- Nasceu
JOSEEMÍLIO

Poesia completa e Prosa de Murilo Mendes.

o Nacional de Poesia
Recebeu, entre outros
prêmios,

De sua vasta obra,


e o Malcom Lowry
(1969) (1991).

-
LUCLANA VIILAS BOAS CASTELO BRANCO É tradutora.

Fin de
destacamos: Ciudad de la memória (1989),

sigloQ1984) e Alta traición


(1985).

-
LUÍS BRAVO Nasceu em Montevidéu em 1957. É

colaborador da revista Último Reino Aires).


(Buenos
-
Taquaritinga, SP
PAULO PAES Nasceu em
JOSÉ

Publicou: Horizonte mudo Lluvia e


(1981), (1988)

Poeta, ensaísta e tradutor. Publicou, entre


(1926).

Gabardina a la sombra dei laud


(1989).

outros, os seguintes livros: Um todos (poesia


por

reunida), A está morta, mas não


poesia juro que fui

-
LUÍS FILLPE CASTRO MENDES Nasceu em 1950.

eu e Prosa seguida de Odes mínimas


(1991) (1992).

Licenciado em Direito, à carreira diplomáti-


pertence

ca, tendo estado colocado em Luanda, Paris e, atual-


-
ROCA Nasceu em Medellín, Colômbia
JUANMANUEL

mente, Estrasburgo. Publicou Recados, 1983, A Ilha

Livros Memória dei Agua (1973),


(1946).
publicados:

dos Mortos, 1991, Viagem de Inverno, 1993 e O de


entre jogo
País secreto Pavana con el diablo (1990)
(1987),

versos, 1994.
o fazer
outros. Sua obra foi traduzida
parcialmente para

inglês, francês, russo e alemão e é detentor de vários

-
LUÍS MIGUEL NAVA Nasceu em Viseu, Portugal
nacionais.
prêmios

Filólogo e tradutor. Publicou títulos como: A


(1957).

-
Curitiba É Inércia da deserção Rebentação e O
KARLOS RISCHBIETER Nasceu em (PR). (1981), (1984)

civil, formado Universidade Federal céu sob as entranhas


engenheiro (1989).
pela
Colaboradores 265

- -
LUÍZA FRANCO MOREIRA Poeta inédita. Professora MAURO MOTTA Nasceu em Recife, PE Poeta,
(1911).

assistente do Departamento Hispânico e Português da cronista, ensaísta, memorialista. Publicou, entre vários,

Universidade da Califórnia, em Berkeley. Autora do O e o catavento Itinerário e


(1962), (1975)
galo

estudo crítico The Great Gatsby. Antologia em verso eprosa


(1982).

-
- MOACIR AMÂNCIO Nasceu em Pinhal, SP
LYA LUFT Poetisa, ficcionista e tradutora. Além (1949).
de

Poeta, tradutor. Publicou Do objeto útil


vários romances de sucesso,
os seguintes jornalista,
publicou

- -
Prêmio 1993) e atualmente
livros de Flauta doce (1992
(1972) e Mulher no Jabuti prepara
poesia: palco

Figuras na sala.
(1984).

-
MOACYR FÉLIX Nasceu no Rio de em 1926.
-
BANDEIRA Janeiro
MANUEL Nasceu em Recife
(1886-1968).

Advogado, escritor e Publicou 13 livros, entre


Poeta, poeta.
de literatura, ensaísta e tradutor.
professor

os Um na cidade e no tempo Em
quais: poeta (1966),
Firma-se no cenário da literatura brasileira com uma

nome da vida e Neste lençol


(1981) (1992).
de renovador, da revolução modernista.
posição pioneiro

Sua obra entre nós de tal modo é


popularizou-se que

-
MURILO MENDES Nasceu em de Fora e
Juiz (1902)
lido todas as até hoje. Livros de
por gerações poesia

faleceu em Lisboa, Portugal Poeta e crítico


(1975). de
mais conhecidos: A cinza das horas
(1917),

arte. Pertence ã segunda de modernistas. Sua


Libertinagem e Estrela da manhã geração
(1930) (1936).

obra está sendo reavaliada crítica contem-


pela

Possui vasta obra da desta-


porânea. poética
- qual
MARCIA C. DE SÁ CA VALCANTI É adjunta
professora

camos: História do Brasil A em


(1932);
poesia pânico
da UFRJ, ensaísta, tradutora, entre outros, de

O visionário Mundo enigma


(1938); (1941); e
(1945)

Heidegger, Hõlderlin, Schelling, Celar.

Poliedro
(1974).

-
MÁRCIA TEÓPHILO Poeta brasileira reside em
que
-
OSKAR PASTIOR Nasceu em 1927 e vive em Berlim.

Roma há mais de 20 anos, desenvolvendo importante


"Sextina

com entrevista"foi extraído do Caderno IJG,

trabalho de divulgação de nossa literatura na Itália.

na 41, 1994. A data de elaboração do não é


poema

conhecida.

-
MARCO LUCCHESI Tradutor e ensaísta. Autor de

Faces da Utopia e de Poemas, de Khlébnikov.

-
OSWALD DE ANDRADE Nasceu em São Paulo, SP

Poeta, teatrólogo, romancista,


(1890/1954).
jornalista,

-
MARCOS KONDER REIS Poeta. Autor de vários livros,

ensaísta, crítico, memorialista. Espírito revolucionário,

entre os O Templo da estrela. Sol dos tristes e


quais
inconformista, irrequieto, vanguardista e foi
polêmico,

Campo de
flechas.
uma das figuras máximas do movimento modernista

brasileiro. Na alia o a originali-


poesia primitivismo,

-
MARIO PONTES 62 anos, foi durante muito tempo
dade, a fala a o lirismo. De sua vasta
popular, piada,

editor de cadernos iterários do do Brasil. É


Jornal
obra, destacamos: Memórias sentimentais de
João

-
autor de obras de fie Milagre na salina, Ninguém
;âo
Miramar, ls caderno de do aluno de
poesias poesia

-
ama os náufragos a de ensaios sobre
poesia popu-
Oswald de Andrade e Poesias escolhidas.

lar. Traduziu vários livros, entre os A colméia,


quais:

do Prêmio Nobel Camilo Cela.


José -
OSWALDO SAUMA Nasceu em 1949. Obra
poética:

Las huellas dei desencanto


(1982), Retrato de
família

-
MARK STRAND É autor de oito livros de O
poesia. (Prêmio Educa de Poesia, 1985) e El aire habitado

mais recentemente é Dark harbor, um


publicado
(1992).

longo com e cinco seções. No ano de


poema quarenta

1993 -
o Bollinger de Poesia. Neste ano PABLO NERUDA Nasceu em Paccal,
ganhou prêmio Chile

(1994) muda-se Baltimore, Maryland, onde Poeta cuja vastíssima obra abrange cerca
para (1904/1973).
pas-

sará a ensinar no The Writing Seminar da de três mil e foi merecedora, em 1971, do
John
páginas

Hopkins University.
Prêmio Nobel de Literatura. Entre seus livros, desta-
Poesia Sempre
266
)

-
em Mogúncia. wetter-
isla ROR WOLF, n. em 1932 Vive
la tierra, Memorial de
Residência en
camos:

atmosféricas", 1984) e hart-


verhàltnisse
General. ("condições
negra e Canto

dos de hart-
manns hinterzimmer ("o
quarto fundos

extraídos de Akzente, ano


mann", 1984) foram ambos
Fuga da morte de
1920-1970. O
PAUL CELAN,
poema

41, número 1,1994.


Deutsche Lyrik, editado
foi extraído do livro
1948 por

a.M. Suhrkamp. Cf. a


Brock, ed. Frankfurt
Hanspeter

-
Publicou Apalabrar,
SALVADOR PUIG É uruguaio.

de Celan editora Suhrkamp.


edição da obra
pela

apostar otros
Lugar a dudas e Si tuviera
que y poe-

mas.

-
em 1962 em Lourenço
TELXEIRA Nasceu
PAULO

SARAH KIRSCH, 1935. Vive emTielenhemme/FIolstein.


"As

imaginações da
Publicou
Marques (Moçambique).

Música de inverno foi extraído do livro


O
"A poema

brilhante", 1988,
1985, região
verdade",

Stuttgart Deutsche Verlagsanstalt, 1989,


Schneewárme,
"Arte
"Inventário
1991, da memória",
e despedida",

Mílvio encontra-se no volume Huckenwind.


o
"O poema

de Europa", 1993.
1992 e rapto

Langewiesche-Brandt 1977, cf. Deutsche


München

Verlagsanstalt.

-
e ensaísta. Doutor em
LYRA Poeta, crítico
PEDRO

-
Utiludismo a sociali-
letras. Publicou entre outros:

-
É e de Literatura
SÉRGIO PEIXOTO
poeta professor

e ideologia e
dade da arte Literatura (1979)
(1976);

Brasileira na UFMG.

Decisão (1987).

-
Nasceu em Barreirinha, AM
THIAGO DE MELLO

"Um
-
1929 Vive em Hamburgo.
PETER RÜHMKORF,

vários livros entre os


Poeta com
(1926). publicados,
"O

em torno do cérebro",
segundo caminho

eu canto e Mormaço na
Faz escuro mas (1965)
quais
"Outrora,

e os
sabugueiro, o estropiado"
quando

(1981).
floresta

retirados do volume Komm


rios ainda"foram
grandes

Klaus Wagenbach, Berlim,


raus! editado
(Saia!), por
-
Nasceu em Sant'Anna
THOMAZ ALBORNOZ NEVES

1992. Conf. Editora


Editora Klaus Wagenbach,

É e cineasta. Publicou
do Livramento, RS
(1963).
poeta

Rowohlt.

e realizou o curta-
Renée Poemas (1990)
(1987),

metragem O braço (1991).

-
alemão, ensaísta e
HAK É de
ROBERT
professor

o Instituto Goethe no Cairo.


atualmente dirige

em Caracas, Venezuela, e
VICENTE GERBASI- Nasceu

constitui um
faleceu em 1992. Sua obra
poética

-
Mora em
ROBERT GERNHART (1937)
dentro da contemporânea
espaço fundamental
poesia

"Homem "Poesias

Frankfurt/Main. Os
poemas feito",
venezuelana.

"Máximas

fazem do volume
e teimosas"
de parte
gatos"

Editora Haffman, 1987.


Corpos em Cafés. -
VICTOR HUGO PEREIRA Nascido no Rio de
Janeiro,

1950, é de Teoria da Literatura


em
professor-assistente

-
É contista e romancista,
ROBERTO DRUMMOND Atualmente
na UERJ e em teatro no IBAC.
pesquisador

"A

morte de D.J. em
outros livros, de
autor, entre o teatro de Nelson
termina Tese de Doutorado sobre

"Hilda

Paris"e Furacão".
Rodrigues e Eugene 0'Neill.

- -
de Memória cor- Nasceu em São Paulo, SP
PONTES É autor WILSON MARTINS (1921).
ROBERTO
poeta,

de longa e carreira.
em Literatura Brasileira, Crítico literário de
Mestre produtiva
professor
poral.

doutorado História da inteligência


da UFCe e cursa o Escreveu, entre tantos,
Literatura Portuguesa

PUC-Rio. A crítica literária no Brasil


de Língua Portuguesa na brasileira vol.) e
em Literaturas (7

semanal de crítica literária


Assina uma coluna
(1984).

do Brasil.
- no caderno Idéias do
e Dois livros Jornal
WERNECK Poeta
RONALDO
jornalista.

Selvaggia e Pomba
Selva (1976)
poema
publicados:

É assessor de comuni-
Dois outros na
(1977). gaveta.

Cultural Banco do Brasil.


cação do Centro
Endereço correspondência:
para

Poesia Sempre

Av. Rio Branco, 219

Rio de RJ 20040-008
Janeiro,

Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional

Conforme Decreto n2 1.825, de 20.12.1907.

Impresso no Brasil.

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As matérias exprimem a opinião de seus autores

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IMPRESSÃO E ACABAMENTO

GRAFSOFT

PROJETOS GRÁFICOS c

EDITORIAIS LIT)A.

-
Poesia Sempre- Ano 2 ne4

1994)
(agosto

Rio de Fundação Biblioteca Nacional


Janeiro:

Dep. Nacional do Livro, 1994-

v.; 26,5 cm

Semestral

ISSN 0104-0626

-
-
1. Literatura Periódicos. 2. Literatura História e

-
crítica Periódicos. I. Biblioteca Nacional
(Brasil).

Departamento Nacional do Livro.

CDD 808.8
<r«p*
esafl'

Staden ?), cronista, ilustrador.


H.ans (Alemanha,

Chegou ao Brasil volta de 1550,

por

desembarcando em Paranaguá, Paraná.

Sua obra, Warhaftig Historia und beschreibung eyner

Landtschafft der Wilden Nacketen Grimmigen


/ /

Menschenfressen Leuthen in der Newenwelt


/

America 1557], com ilustrações


[Marburg,
gelegen...

xilográficas ele executadas, constitui o

por primeiro

registro em livro sobre o Brasil.

Na capa e orelha:

Hans Staden, Xilogravuras

Ao fundo da capa: assinatura de Goethe,

ao acervo da
pertencente

Fundação Biblioteca Nacional.


Seleção de Doris Runge e Stephan Opitz

Ilse Aichinger Ingeborg Bénn Paul


/ Baehmann / Gottfried 1 Ceian /

Christine Lavant H. C. Artraann Elisabeth Borchers Durs Hans


/ / / Grünbein /

Magnus Enzensberger Robert Sarah Kirsch


/ Gernhardt / Ernest / /
Jancll

Frieclerike Mayrõcker Pastior Wolf


/ Oskar / Peter Rühmkorf Doris Runge / Ror
/

Alexei Bueno / Alphonsus de Guimaraens Filho César Leal


/ /

Chico Linc Filhõ Hilda Hilst Lya Lufr Marcos Koncler Reis
/ / / /

iVIoacir Amâncio / Ronaldo Werneck

André Ricardo Aguiar Carlos Tamn Caiafa Luiza Franco Moreira


/ / /
Janice

"

Como surge um Doris Runge


poema?",

"Brasil

e Alemanha, Relações literárias", Wilson Martins

"A

Affonso Romano de Sant'Anna: Còmo escrevi Catedral de Colônia"

"Archaischer

Confronto de traduções: Torso Apollos", de Rilke

Poesia Portuguesa Floje

Letrasul

Poesia Norte-Americana Hoje: com inédito de


poema

Lawrence Ferlinghetti

Poesia Brasileira em Tradução: com de Thiago

poema

de Mello, traduzido Pablo Neruda

por

Fundação BIBLIOTECA NACIONAL

jfcfe

M I N I S T É R I O I. A C IJ 1- T IJ R /V

ISSN Q104-0626

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