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Outono de 1951
1t ou.
ARVORE
folhas de poesia
Direcção e Edição
de
António Luís Moita, António Ramos Rosa, José Terra, Luís Amaro, Raul de Carvalho
POETAS ESTRANGEIROS:
"' Fernandes Fafe; «As Palavras Interditas», do
Eugénio de Andrade; «Corpo Visível», de Má-
rio Ccsariny de Vasconcelos; «Coral», de Sofia
Apresentação de algumas traduções de de Mello Breyner Andresen ; «Poemas», de
Stephen Spender, por j orge de Sena .. . 38 Alberto de Lacerda; «Linha do Horizonte>, de
Aguinaldo Fonseca.
Poemas de Stephen Spender .............. . 41
A margem duma leitura de René Char, D esenho de Lima de Freitar
por António Ramos Rosa .............. . 45 Extra-texto a seguir à púg. lG
,
Sobre os Partidarismos em Poesia
,
por ..Alvaro Salema
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homens de hoje - e que não podem deixar de ser de hoje. Batalham os
partidos poéticos em torno de fórmulas, como se os dividisse a ambição de
um mundo muito acanhado; mas o seu mau partidarismo, ainda quando o
repudiam, é o de negarem a possibilidade da autêntica poesia sob esta ou
aquela fórmula adversa, como se através de todas não se exprimisse, melhor
ou pior, a responsabilidade humana do poeta vivendo irredudvelmente no seu
tempo. A poesia é agora '}1Uito mais um acto do que uma inspiração.
Só pode desejar-se que o acto poético seja inspirado, que traduza com since-
ridade ardente as verdades Íntimas ou as inquietações colectivas - ambas
igualmente sociais porque comunicam a verdade do homem inevitàvelmente
social; que seja bela, quando adere ao tumulto ou quando se insurge contra
ele; que condense em beleza ordenada e em significação acessível os ecos
inúmeros que a realidade de todos repercute na alma de cada um. Tudo isso
estará acima das fórmulas e das negações de fórmulas - e será sempre vã
:< demonstração de que a poesia não é poética ou é mais poética por estar
dentro ou fora de quaisquer fórmulas. Se a poesia possuir o dom do con-
tágio emotivo, quer traduza um estado de alma recôndito, quer uma realidade
exterior trivial mas profundamente impressionada e impressionável, estará
sempre na linha da poesia de todos os tempos e também na linha da poesia
de hoje. Toda a verdadeira poesia é fiel à humanidade e por isso partidária.
O debate dos partidarismos, quaisquer que eles sejam, é que é estranho à
poesia e ignora-a ainda quando julga afirmá-la. Em nome do realismo ou
sem ele o gen:.iíno poeta será sempre um fecundo fabricante de ideal, desper-
tando no mais profundo das almas individuais o rumor dos sonhos que trans-
portam os homens à aspiração de outro destino; e numa época em que a
aspiração de forçar o destino se comunica temeràriamente a camadas cada vez
mais numerosas e mais veementes de seres humanos, a poesia criadora de
ideal será tanto mais poética quanto mais profundamente traduzir o Ímpeto
interior de cada homem na marcha de todos os homens.
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