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Jerónimo Pizarro
Rui Sousa
Exemplos literarios
Nacionalismo tradicionalista:
1º grau: <C>
2º grau: Castilho.
3º grau: □
Nacionalismo integral:
B[ernardim] Ribeiro 1. Cantigas populares6. 3rd poets of B
2nd poets of <A>/C\
2. Bernardim Ribeiro. 2nd poets of B
1st poets of C
Pascoaes 3. Teixeira de Pascoaes. 2nd poets of A
1st [poets] of B
Nacionalismo cosmopolita:
1. Camões 1st poets of period C.
2nd poets of B
3rd [poets] of A
2. <Spec> Guerra Junqueiro 2nd poets of A
1st poets of B.
□ 1st poets of A.7
6
Pessoa parece ter corrigido a primeira disposição, introduzindo um elemento novo na sequência que inicial-
mente começaria por Bernardim Ribeiro.
7
Documento inédito, com a cota 55-33r-v. Novamente, pode ver-se o espaço deixado em branco pelo autor
como indicação possível de uma certa relutância em explicitar o seu estatuto na grelha histórico-literária apresentada.
Há muito que Espanha tem, em sentido lato, não só uma política mediterrânica
como trans-mediterrânica. Mais atlânticos, é natural que a nossa preocupação seja
um pouco diversa ou tenha essa outra componente. Mas como Península o nosso
destino é um só e não há razão para o deixarmos definir apenas, nem essencialmen-
te, por aquelas nações que até agora hegemonizaram a política europeia. O nosso
lugar não pode ser ocupado por mais ninguém (Lourenço, 2005: 74).
É verdade que neste texto, como noutros de O Outro Lado da Lua, Eduardo
Lourenço se ocupa sobretudo dos problemas contemporâneos relacionados com
a dificuldade portuguesa de se adaptar ao novo estatuto de ex-potência africana e
com a necessidade de redispor os países peninsulares no contexto de uma nova
noção geoestratégica de Europa, com a entrada para a UE. No entanto, a sua
análise histórica do percurso de relações entre os blocos aquém e além-Pirenéus,
entre a pertença e o afastamento, faz dessa conquista de uma forma outra de ser-
Essa «equilibrada síntese» é a mesma que afasta Pessoa, quer dos excessos
tradicionalistas reconhecidos no programa da Renascença Portuguesa, quer das
várias elites políticas que, segundo a sua versão da história portuguesa, abdicaram
do grande momento de penetração portuguesa no quadro das grandes nações ci-
vilizadoras para sucessivamente o tornarem dependente de valores estrangeiros.
Não renunciando a nenhum desses vectores, a Península Ibérica, segundo Pessoa
Ce fut un grand malheur pour nos deux peuples, mais surtout pour nous, car
l’Espagne, dans sa détresse d’ex-grande puissance, toujours en première ligne sur le
front européen était, malgré tout, contrainte de se forger un corps culturel efficace,
concret, une réponse, en quelque sorte, au défi européen. Elle le fait soit sur le mode
de l’émulation à la manière de Feijóo, avec son Théâtre Critique, soit sur le mode
apologétique, comme celui qui de Saavedra et de Gracián arrive jusqu’à Juan Pablo
Forner, et aboutit au grand dialogue de l’Espagne de Charles III avec l’Europe des
Lumières, en particulier la France. Mise en cause, ou mise en question, l’Espagne se
doit de répondre, non seulement dans la sphère de la polémique, mais aussi dans
celle, plus noble, des changements et des réformes.
Emerge nesta passagem uma conclusão afim daquela a que Pessoa, à semelhança
de alguns seus contemporâneos, como Castro Osório, recorreu no contexto das polémi-
cas relacionadas com o Conde Hermann de Keyserling, um dos grandes nomes dessa
Europa que se via como exclusiva proprietária da definição do que deveria entender-se
por cultura europeia, remetendo no processo a Península para as margens. Tendo estado
em Portugal em 1930, Keyserling escreve um capítulo sobre o país no livro Das
Spektrum Europas, cuja primeira edição de 1928 (traduzida para espanhol com o título
Europa. Análisis espectral de un continente, em 1929) se dedicava a vários países europeus,
incluindo Espanha, mas ignorava por completo Portugal. O texto, traduzido no segun-
do número da revista Descobrimento, no Verão de 1931, transmite praticamente todos
os lugares-comuns do modo como a Europa compreendia o relativo exotismo cultural
da Península Ibérica, desde logo a convicção de que os portugueses pouco ou nada po-
deriam trazer de relevante ao futuro cultural europeu, sobretudo se persistissem presos a
uma verdadeira ferida originária, a ruptura com o ibérico.
Keyserling está de acordo com Pessoa e com Lourenço num aspecto – Portugal e
Castela representam os dois eixos fundamentais de um organismo peninsular, contendo
em si forças de sentido oposto em torno das quais a Península deverá promover as razões
da sua integração no contexto europeu –, mas os seus argumentos acabaram por suscitar
da parte de Pessoa e dos directores da Descobrimento uma curiosa reacção10. Na sua lei-
tura, o problema não era tanto o pouco rigor das posições assumidas pelo conde alemão,
10
Quanto a este assunto, cf. Sousa, 2021.
Em primeiro logar, e como já o notou João de Castro Osorio, Portugal não é pro-
priamente um paiz europeu: mais rigorosamente, se lhe poderá chamar um paiz
atlantico – o paiz atlantico por excellencia. […] Acresce que, tanto quanto hoje o
podemos ver, ha /de origem europeia/, só duas nações fóra da Europa com alma para
poder ter Imperio – os Estados Unidos e o Brasil. Os Estados Unidos, porém, e
como já foi dito, estão já no seu imperio, que é material, e que é o Quinto lmperio
de Inglaterra. (Hypothese Oriental – Russia, Japão, China) (Pessoa, 2011a: 251)
Além desses traços profundos que determinam uma direcção cultural dife-
rente, por exemplo o impacto da presença árabe na Península Ibérica, Pessoa sa-
lienta o peso da aventura expansionista no modo como os povos ibéricos devem
preparar-se para se contraporem novamente ao modelo impositivo de cultura
europeia representado pelas outras nações:
Seja como fôr, esse periodo das descobertas marcou o que somos. Fomol-o incomple-
tamente, porque agimos inibericamente! Todos nós de aqui – portuguezes, castelha-
nos, catalães – só attingiremos a nossa maioridade civilizacional quando, confederados
na lberia, pudemos, lidos na desgraça e na experiencia triste de tanto passado, affrontar
a Europa outra vez, reconstruir o nosso predominio dos tempos em que o mundo era
nosso, de outra maneira, para outros fins, □ (Pessoa, 2011b: 78).
Referências
Baptista, Maria Manuel (2003). Eduardo Lourenço: a paixão de compreender. Porto: Asa.
Buescu, Helena (2013). «Eduardo Lourenço: Inquiétude Réflexive et Tradition Européenne», in Maria
Graciete Besse (org.) Eduardo Lourenço et la Passion de l’humain (pp. 185-195). Paris: Éditions
Convivium Lusophone.
Lourenço, Eduardo (1988). Nós e a Europa ou as Duas Razões. 2ª ed. Lisboa: INCM.
— (1999). Portugal como Destino; seguido de Mitologia da Saudade. Lisboa: Gradiva.
— (2005). O Outro Lado da Lua: a Ibéria segundo Eduardo Lourenço. Porto: Campo das Letras.
— (2011). Pequena Meditação Europeia: a propósito de Guimarães. Lisboa: Verbo.
Pessoa, Fernando (1998). Cartas entre Fernando Pessoa e os directores da Presença. Ed. Enrico Martines.
Lisboa: INCM.
— (2009). Sensacionismo e Outros Ismos. Ed. Jerónimo Pizarro. Lisboa: INCM.
— (2011a). Sebastianismo e Quinto Império. Ed. Pedro Sepúlveda e Jorge Uribe. Lisboa: Ática.
— (2011b). Ibéria: Introdução a um Imperialismo Futuro. Ed. Jerónimo Pizarro e Pablo Javier Pérez
López. Lisboa: Babel.
— (2016). Obra Completa de Ricardo Reis. Ed. Jerónimo Pizarro e Jorge Uribe. Lisboa: Tinta-da-china.
Pizarro, Jerónimo, Fernanda Vizcaíno e Rui Sousa (2019). «A colecção pessoana de Santo Tirso:
adenda», Pessoa Plural — A Journal of Fernando Pessoa Studies, 16: 369-413. Em linha: https://
doi.org/10.26300/4dkr-hd11
Real, Miguel (2008). Eduardo Lourenço e a Cultura Portuguesa. Lisboa: QuidNovi.
Sousa, Rui (2021). «Pessoa, Keyserling, Castro Osório: Notas sobre a identidade nacional em torno de
‘Descobrimento’ (1931-1932)». Pessoa Plural – A Journal of Fernando Pessoa Studies, 19: 104-146.
Em linha: https://doi.org/10.26300/xzv5-yg53