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NIRVANA A IDEIA - I A IDEIA - V

A Guerra Junqueiro Pois que os deuses antigos e os antigos Mas a Ideia quem é? quem foi que a viu,
Divinos sonhos por esse ar se somem, Jamais, a essa encoberta peregrina?
Para além do Universo luminoso, E á luz do altar da fé, em Templo ou Dolmen, Quem lhe beijou a sua mão divina?
Cheio de formas, de rumor, de lida, A apagaram os ventos inimigos; Com seu olhar de amor quem se vestiu?
De forças, de desejos e de vida,
Abre-se como um vácuo tenebroso. Pois que o Sinai se enubla e os seus pacigos, Pálida imagem, que a água de algum rio,
Secos à mingua de água, se consomem, Refletindo, levou... incerta e fina
A onda desse mar tumultuoso E os profetas d'outrora todos dormem Luz, que mal bruxulêa pequenina...
Vem ali expirar, esmaecida… Esquecidos, em terra sem abrigos; Nuvem, que trouxe o ar, e o ar sumio...
Numa imobilidade indefinida
Termina ali o ser, inerte, ocioso... Pois que o céu se fechou e já não desce Estendei, estendei-lhe os vossos braços,
Na escada de Jacob (na de Jesus!) Magros da febre d'um sonhar profundo,
E quando o pensamento, assim absorto, Um só anjo, que aceite a nossa prece; Vós todos que a seguis n'esses espaços!
Emerge a custo desse mundo morto
E torna a olhar as coisas naturais, É que o lírio da Fé já não renasce: E entanto, oh alma triste, alma chorosa,
Deus tapou com a mão a sua luz Tu não tens outra amante em todo o mundo
À bela luz da vida, ampla, infinita, E ante os homens velou a sua face! Mais que essa fria virgem desdenhosa!
Só vê com tédio, em tudo quanto fita,
A ilusão e o vazio universais.
A IDEIA - II A IDEIA - VI
TORMENTO DO IDEAL
Pálido Cristo, oh condutor divino! Outra amante não ha! não ha na vida
Conheci a Beleza que não morre A custo agora a tua mão tão doce Sombra a cobrir melhor nossa cabeça,
E fiquei triste. Como quem da serra Incerta nos conduz, como se fosse Nem balsamo mais doce, que adormeça
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra Teu grande coração perdendo o tino... Em nós a antiga, a secular ferida!
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,
A palavra sagrada do Destino Quer fuja esquiva, ou se ofereça erguida,
Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre; Na boca dos oraculos secou-se: Como quem sabe amar e amar confessa,
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra A luz da sarça ardente dissipou-se Quer nas nuvens se esconda ou apareça,
Perder a cor, bem como a nuvem que erra Ante os olhos do vago peregrino! Será sempre ela a esposa prometida!
Ao pôr-do-sol e sobre o mar discorre.
Ante os olhos dos homens — porque o mundo Nossos desejos para ti, oh fria,
Pedindo à forma, em vão, a ideia pura, Desprendido rolou das mãos de Deus, Se erguem, bem como os braços do proscrito
Tropeço, em sombras, na matéria dura, Como uma cruz das mãos d'um moribundo! Para as bandas da pátria, noite e dia.
E encontro a imperfeição de quanto existe.
Porque já se não lê seu nome escrito Podes fugir... nossa alma, delirante,
Recebi o batismo dos poetas, Entre os astros... e os astros, como ateus, Seguir-te-ha a travéz do infinito,
E assentado entre as formas incompletas Já não querem mais lei que o infinito! Até voltar comtigo, triunfante!
Para sempre fiquei pálido e triste.

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