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Irene Fialho
Mário Vieira de Carvalho
José Brandão
Índice
Nota prévia 9
Glossário 179
«A MORTE DO DIABO» E AS «VISÕES»
DE CARLOS FRADIQUE MENDES
Irene Fialho
O Diabo foi celebrado, na sua morte, pelos sábios
e pelos poetas.1
1
Eça de Queirós. Contos I. Edição Crítica de Marie-Hélène Piwnick. Lisboa: Imprensa Nacional
– Casa da Moeda, 2009, p. 81.
2
Eça de Queirós. A correspondência de Fradique Mendes. 5.ª ed. Porto: Livraria Chardron de Lello
& Irmão, 1919, p. 6.
3
Idem, ibidem.
14 A MORTE DO DIABO
4
Idem, p. 7.
5
Idem, ibidem.
6
V. A Revolução de Setembro. A. 30, n.º 8167, 20 Ago. 1869, pp. [1]-2.
7
Idem, p. [1].
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8
Eça de Queirós. A Correspondência de Fradique Mendes, p. 8.
9
Idem, p. 22.
10
Idem, p. 30.
11
V. Leconte de Lisle. «La tristesse du diable» in Poèmes Barbares. Paris: Lemerre, 1862,
pp. [295]-297.
12
Eça de Queirós e Jaime Batalha Reis. Cartas e recordações do seu convívio. Porto: Lello & Irmão,
1966, p. 131.
16 A MORTE DO DIABO
13
V. Glossário.
14
No conto «O Senhor Diabo», o Satã de Eça apresenta-se aos humanos sob a forma de um ho-
mem pálido, de grandes cabelos negros, tocando guitarra e confessando: «- Estou velho. Vai-se-
-me a vida. Sou o último dos que combateram nas estrelas. Os abutres já me apupam. É estranho:
sinto nascer cá dentro, no peito, um rumor de perdão […]. Vou achando risível a obra dos Seis
Dias. As estrelas tremem de medo e de dor. A Lua é um sol fulminado. Começa a escassear o
sangue pelo mundo e a aparecer muito a tinta. Eu tenho gasto o mal. Fui pródigo. Se eu no im
da vida tinha de me entreter perdoando e consolando – para não morrer de tédio! Sê infame,
lamacento, poder, vil e imundo, e sê todavia um astro no céu, impostor! E todavia o homem não
mudou, é o mesmo.» Responde-lhe o seu pajem: « – Também os diabos se vão! Adeus, Satã.» Cf.
Eça de Queirós. Textos de Imprensa I (da Gazeta de Portugal). Edição Crítica das Obras de Eça de
Queirós. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2004, pp. 93-94.
15
V. Carlos Reis e Ana Teresa Peixinho. «Introdução» a Eça de Queirós, Textos de Imprensa I (da
Gazeta de Portugal). Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós. Lisboa: Imprensa Nacional –
Casa da Moeda, 2004, p. 40.
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nar pelas almas tristes que caem diariamente nos seus domínios.
Soçobra de fadiga sensabor, essa «doença horrível» que «estende
silenciosamente a sua rede em volta da alma» dos «Poetas do
Mal» nas Prosas Bárbaras: em seu torno «[…] espalha-se uma
moleza errante: calam-se os coros interiores: aparecem os deses-
peros lentos, as angústias frias: os braços caem nos desconsolos,
como asas dum pássaro ferido16 […] na alma há também um
Cristo morto – a Fé»17. Teria o Diabo perdido a Fé?
Nos seus primeiros textos ficcionais Eça demostra uma «atra-
ção por Satã, «a figura mais dramática da História da Alma», ou
pelas suas encarnações e metamorfoses», atração resultante de
uma tendência «para tudo o que é dual, tudo o que na vida con-
juga, de forma desconcertante, o sublime e o grotesco»18.
É assim que dedica um dos textos da Gazeta de Portugal à
interpretação por J. Petit de Mefistófeles no Fausto de Gounod.
Na ópera, para Eça, o protagonista não é Fausto, mas o Diabo:
É ele quem
16
V. ainda o poema de Leconte de Lisle: «Enveloppé du noir manteau de ses deux ailes».
17
V. «Poetas do Mal» in Eça de Queirós. Textos de Imprensa I. Ed. cit., p. 87.
18
V. Carlos Reis e Ana Teresa Peixinho, op. cit., p. 41.
19
Eça de Queirós. «Meistófeles – J. Petit» in Textos de Imprensa I. Ed. cit., p. [155].
18 A MORTE DO DIABO
20
Idem, p. 157.
21
Idem, pp. 158-159.
22
Idem, p. 160.
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in Dicionário Universal Português Ilustrado (sob a direção de Fernandes Costa), vol. vi, M-Mag.
24
pelo seu encanto pela música, patente nos temas tratados – por
vezes apenas nos títulos dos folhetins: «Sinfonia de Abertura»,
«O Macbeth», sobre a ópera de Verdi, «A ladainha da dor», sobre
o Fausto de Gounod e o já mencionado «Mefistófeles», enquanto
personagem dissonante do Satã de «O Senhor Diabo».
33
Eça de Queirós. Contos I. Ed. cit., p. 363.
34
Jaime Batalha Reis. «Anos de Lisboa» in Antero de Quental – In Memoriam. Porto: Mathieu
Lugan Editor, 1896, pp. 447-448.
35
«Investigação por Alfredo Borges da Silva – Lisboa – MCMXX».
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Mário Vieira de Carvalho. Eça de Queirós e Ofenbach: a ácida gargalhada de Mefistófeles. Lisboa:
36
37
Jaime Batalha Reis. «Anos de Lisboa (Algumas Lembranças)». Ed. cit., p. 460. Carlos Reis diz
a este propósito: «quando um dos responsáveis pela poesia fradiquista, concretamente Antero
de Quental, discorda das linhas de força inspiradoras dos Poemas do Macadame («a poesia não
pode ser o grito da agonia: é a voz mais pura e mais íntima do coração: é mesmo nas vascas da
morte, é sobretudo nas horas da provação, um hino, carmen»), uma tal discordância acaba por
constituir uma espécie de «efeito de real»; por outras palavras: distanciando-se, no plano estético-
-ideológico, da criatura de que era cocriador, Antero acaba implicitamente por lhe reconhecer
o direito a uma vida e poética próprias.» V. Carlos Reis. Estudos Queirosianos. Lisboa: Presença,
1999, p. 139.
38
, Eça de Queirós. «Um Génio que era um Santo» in Almanaques e outros dispersos. Ed. cit.,
p. 306.
39
Idem, pp. 306-307.
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40
«- O Sol da Navarra ópera-burlesca, letra de Alfredo Ataíde, representada em 1870 e em que
Augusto Machado intercalou alguns trechos compostos para uma opereta, A Morte do Diabo,
poema de Eça de Queirós e Jaime Batalha Reis, que não chegara a ser concluída.» V. Diário de
Notícias, quinta-feira, 28 Fev. 1884, pág. [1].
41
Em O Ocidente, 6.º Ano, Vol. VI, n.º 148, de 1 de fevereiro de 1883, pp. 26-27, assinado com a
abreviatura de um pseudónimo de Batalha, «V. de D» e no Dicionário Universal Português Ilustra-
do, Vol. VI, Lisboa: Tipograia do Dicionário Universal Português Ilustrado, 1884, pp. 133-134
(sem assinatura).
42
Manuscrito no espólio de Batalha Reis da Biblioteca Nacional, cota E4/57-7.88. Infelizmente,
as cartas de namoro de Batalha Reis a Celeste Cinatti não têm datas, o que permitiria aproximar
acontecimentos de referências literárias e históricas.
26 A MORTE DO DIABO
43
V. «Um mistério na estrada de Sintra», Diário de Notícias, 1870, 6.º Ano, n.º 1708, domingo, 18
de setembro, p. 1 («A conissão dela»).
44
Cf. «Poemas do Macadame» in O Primeiro de Janeiro – órgão do centro eleitoral portuense, 1.º
Ano, 1869, domingo 5 de dezembro, n.º 272, Porto, p. [1].
45
A incapacidade da personagem Marcos Vidigal d’ A Correspondência de Fradique Mendes para
encontrar um pseudónimo digno, exigido por Fradique, com que pudesse assinar os poemas das
«Lapidárias», levou-o a pôr o verdadeiro nome do autor n’A revolução de Setembro, escusando-se
da inépcia com a frase «Sublimidade não é vergonha!» V. A Correspondência de Fradique Mendes.
Porto: Livraria Chardron de Lello & Irmãos, 1900, p. 17.
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46
Cf. «Anos de Lisboa», Ed. cit., p. 462.
47
V. A Folha – microcosmo literário, n.º 2, 5.ª Série, 1873, pp. 13-14.
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48
Antero de Quental. Odes Modernas – 2.ª edição contendo várias composições inéditas. Porto-Braga:
Livraria Internacional de Ernesto Chardron e Eugénio Chardron, 1875, p. 65.
49
Antero de Quental. Os Sonetos completos (publicados por Oliveira Martins). Porto: Livraria Por-
tuense, 1886, p. 64.
50
Antero de Quental. Raios de Extinta Luz – Poesias Inéditas (1859-1863). Lisboa: M. Gomes
Livreiro, 1892, pp. [145]-146.
51
Antero de Quental. Primaveras Românticas. Versos dos vinte anos. Porto: Imprensa Portuguesa,
1872.
52
Op. cit., pp. [153]-156.
53
Jaime Batalha Reis. «Anos de Lisboa (Algumas Lembranças)». Ed. cit., p. 460.