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A CULTURA É UM CAMPO

DE BATALHA
por Percival Puggina. Artigo publicado em 22.01.2020
 

 Quatro décadas de hegemonia cultural ao longo do século passado (período


que inclui intensa atividade com viés político durante os governos militares)
conferiram à esquerda brasileira uma estatura superior à que corresponde às
ideias em que se abastece. No campo cultural, a esquerda vencia
por walkover (ou por WO). O PT, por exemplo, discutia consigo mesmo,
como bem comprovavam suas muitas correntes internas. Foram longos anos
dedicados à construção de narrativas, ao controle das cabeças de ponte por
onde avançavam os companheiros e à propaganda que viabilizava mais e mais
terreno para suas batalhas.
 Foi exatamente quando, com Lula e Dilma, os frutos do poder caíram nas
mãos do partido que a Terceira Lei de Newton se fez sentir. O esquerdismo
saturava as opiniões nacionais (ação) forçando a direita a sacudir a letargia
que a acompanhava desde os governos militares (reação). Muito habilmente,
de modo sistemático, a esquerda brasileira operava um discurso cujo único
intuito era provocar constrangimento em quem não fosse de esquerda.

O leitor destas linhas, se jovem, deve estar se perguntando se leu certo e se


isso funcionava. Leu sim, meu amigo. E funcionava. Não éramos muitos, aqui
no Rio Grande do Sul, no ambiente cultural e político, os que não caímos
nessa velhacaria.

O upgrade intelectual e cultural da direita foi acontecendo gradualmente


enquanto o governo petista mostrava a que vinha e contava com intenso
ativismo no ambiente cultural. Não se trata de querer uma plêiade de artistas
politicamente neutros. Isso não existe, mas a sociedade percebeu que foram
longe demais, que serviam a uma causa, que havia uma irrigação financeira
descabida e o tema virou conteúdo durante a campanha eleitoral de 2018. Era
de se esperar; artistas são assunto.

A cultura persiste como território do partido e palco de guerra. Vale observar


que nos últimos anos, enquanto militantes saltavam do barco esquerdista em
todos os portos, os da cultura permaneceram firmes, a postos. Há ali um
ativismo cevado, em muitos casos bem remunerado, que se crê titular de
direitos irrefutáveis. No entanto, o trabalho feito pela esquerda ao longo das
décadas não gera direitos eternos. Não lhe concede o poder de vencer sempre
por WO.

Não há por que esperar do governo Bolsonaro que reproduza os critérios e


conceitos da esquerda e a mantenha em suas posições de mando. Houvesse a
esquerda promovido conciliação ao longo dos muitos anos anteriores, seria
viável, hoje, propor isso e declarar extinta a guerra cultural. Mas agora é tarde.
A esquerda quer receber o que não deu.

_______________________________
* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 
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Comentários
Luiz R. Vilela . 22.01.2020
Há muito que pergunto a mim mesmo, se novela de televisão, musica
sertaneja, esportes que usam e abusam dos animais e tantas outras práticas,
seriam "cultura"? A "cultura" no Brasil, seriam estes modismos, quase sempre
bem remunerados e passageiros? As "celebridades" televisivas seriam os
expoentes culturais do pais? E também a elite intelectual, ou é o próprio povo,
que na sua "pobreza" cultural, passa dar valor a coisas completamente
vulgares, que não tem valor algum como atividades de entretenimento e muito
menos de cultura? A esquerda, aposta na ignorância, até porque é a praia
deles, pensar que atores de novelas televisivas, só porque aparecem nas
televisões do pais inteiro, possam ser referências como formadores de opinião
ou que tenham dotação intelectual acima da média? É triste ver que esta
cultura caolha, se inseriu na guerra ideológica, não porque quer tornar o povo
mais sábio e culto, mas porque deseja é "faturar" horrores, vendendo o seu
prestígio, aos poderosos de plantão, que compram o prestígio alheio, para ter
ganhos políticos. A esquerda política e essa pseudo intelectualidade cultural,
formada pela classe artística de baixíssima qualidade brasileira, se igualam e
se merecem, pois ambos se valem da própria ignorância, para ter lucros.
Aqueles que dizem que levam "cultura" ao brasileiros, na verdade acham que
o governo deve apenas lhes dar dinheiro para que promovam de livre arbítrio,
toda sorte de "porcarias"para justificar o que recebem. A cultura no Brasil,
anda de mal a pior, pois agora mesmo, acabaram de defenestrar um "nazista"
do meio. Já não falta mais nada.

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