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LUANA SOUZA SERAFIM DE LIMA

ESTRESSE TÉRMICO NAS ATIVIDADES DA HIDROMETRIA

São Paulo
2020
i

LUANA SOUZA SERAFIM DE LIMA

ESTRESSE TÉRMICO NAS ATIVIDADES DE HIDROMETRIA

Monografia apresentada à Escola Politécnica


da Universidade de São Paulo para a
obtenção do título de Especialista em
Engenharia de Segurança do Trabalho.

São Paulo
2020
ii

Dedico este trabalho à minha irmã, que


me acompanha e apoia a minha trajetória
rumo ao crescimento profissional.
iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ser a lâmpada para os meus pés e o pão para a minha alma,
socorro presente e me abençoar com força e inteligência. Agradeço também à
minha família que me apoia a seguir em frente.
Agradeço também às minhas amigas Beatriz, Carla e Juliana, que me motivam e são
a família que eu escolhi ter. Agradeço ao meu colega de trabalho Joilson por realizar
o trabalho de campo junto comigo, e foi paciente para que eu coletasse os dados.
Aos professores da USP que tanto me ensinaram dedico gratidão eterna. Quero
honrá-los e aplicar todos os ensinamentos que me foram passados.
iv

Todo mundo chama de violento um rio


turbulento, mas ninguém se lembra de
chamar de violentas as margens que o
aprisionam.
(Berlot Brecht)
v

RESUMO

LIMA, Luana Souza Serafim de. Estresse térmico nas atividades de hidrometria.
2020. 57f. Monografia (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho).
Programa de Educação Continuada. Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. São Paulo. 2020.

O presente estudo pretende apresentar a sobrecarga térmica das atividades de


hidrometria, quantificá-la a partir do IBUTG, classificá-la em insalubre ou não, e
determinar a necessidade de tal risco compor o PPRA da organização. Para o
cálculo do IBUTG foram consideradas as metodologias presentes nas Normas
Regulamentadoras 15 e 09, além da Norma de Higiene Ocupacional 06 da
Fundacentro. Para o ensaio de medição de sobrecarga térmica foram utilizados os
seguintes itens: medidor de estresse térmico com visor digital, papel, caneta e
relógio digital para anotar os resultados e horários das leituras ao longo do dia.
Foram selecionados dois períodos de 1h para o cálculo do IBUTG de acordo com a
metodologia da NHO-06, para então classificar o ambiente e a atividade em
insalubre, ou não de acordo com a NR-15. E também foi considerada a metodologia
da NR-09 para avaliar se o risco deve compor o PPRA com as suas devidas
medidas preventivas e corretivas. O local de avaliação é representativo do ponto de
vista de temperaturas ambientes e taxa metabólicas em que os trabalhadores estão
expostos. Os resultados obtidos indicaram insalubridade, e o risco deve compor o
PPRA com as devidas medidas preventivas e corretivas para garantir que a saúde
dos trabalhadores de tais atividades seja preservada.

Palavras-chave: Estresse térmico. Sobrecarga térmica. Calor. Hidrometria. NR-15.


NR-9.
vi

ABSTRACT

LIMA, Luana Souza Serafim de. Heaty strain on activities of hidrometry. 2020. 57f.
Monografia (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho). Programa
de Educação Continuada. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São
Paulo. 2020.

The study aims to present the thermal overload of hydrometry activities, quantify it
from the IBUTG, classify it as unhealthy or not, and determine the need for such risk
to compose the organization's PPRA. For the calculation of IBUTG, the
methodologies present in Regulatory Norms 15 and 09 were considered, in addition
to Fundacentro Occupational Hygiene Standard 06. For the thermal overload
measurement test, the following items were used: thermal stress meter with digital
display, paper, pen and digital clock to record the results and times of the readings
throughout the day. Two periods of 1 hour were selected for the calculation of the
IBUTG according to the NHO-06 methodology, to then classify the environment and
the activity as unhealthy, or not according to the NR-15. And the NR-09 methodology
was also considered to assess whether the risk should compose the PPRA with its
appropriate preventive and corrective measures. The assessment site is
representative from the point of view of ambient temperatures and metabolic rate at
which workers are exposed. The results obtained indicated unhealthy conditions, and
the risk must compose the PPRA with the appropriate preventive and corrective
measures to ensure that the health of workers in such activities will be preserved.

Keywords: Heaty strain. Thermal overload. Heaty. Hidrometry. NR-15. NR-9.


vii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Reações do organismo à exposição ao calor ........................................... 16


Figura 2 – Quadro 1 do anexo 3 da NR-15 ............................................................... 19
Figura 3 – Quadro 2 do anexo 3 da NR-15 ............................................................... 20
Figura 4 – Quadro 3 do anexo 3 da NR-15 ............................................................... 21
Figura 5 – Avaliação da sobrecarga térmica e fisiológica por calor........................... 26
Figura 6 – TLV de sobrecarga térmica ...................................................................... 27
Figura 7 – Bacia do Rio Paraopeba, local de medição: Mário Campos .................... 31
Figura 8 – Caminhonetes com barcos ....................................................................... 32
Figura 9 – Detalhe de instalação do cabo ................................................................. 32
Figura 10 – Detalhe de instalação do cabo ............................................................... 33
Figura 11 – Passagem de cabo de aço ..................................................................... 33
Figura 12 – Cabo de aço instalado............................................................................ 33
Figura 13 – Detalhe de amostrador para coleta de água .......................................... 34
Figura 14 – Detalhe do amostrador para coleta de água .......................................... 34
Figura 15 – Detalhe das amostras coletadas ............................................................ 35
Figura 16 – Exemplo de equipamento de medição acústica e barco ........................ 36
Figura 17 – Equipamento de medição acústica......................................................... 36
Figura 18 – Amostrador US DH-59 ........................................................................... 37
Figura 19 – Detalhe do amostrador para sedimentos ............................................... 37
Figura 20 – Detalhe de amostrador para sedimentos ............................................... 38
Figura 21 – Sonda de qualidade de água MS5 da Hydrolab ..................................... 38
Figura 22 – Detalhe de medição de qualidade da água ............................................ 39
Figura 23 – Detalhe do cabo ..................................................................................... 39
Figura 24 – Guardar o barco ..................................................................................... 40
Figura 25 – Vista à montante da estação estudada .................................................. 41
Figura 26 – Vista à jusante da estação estudada...................................................... 41
Figura 27 – Margem de acesso ao rio ....................................................................... 41
Figura 28 – Mapa de Riscos...................................................................................... 42
Figura 29 – Medidor de estresse térmico .................................................................. 44
Figura 30 – Instalação do equipamento para realizar as medições .......................... 45
Figura 31 – Sugestão de cobertura para barco ......................................................... 50
viii

Figura 32 – Uniforme ................................................................................................. 51


Figura 33 – Certificado de calibração do medidor de estresse térmico ..................... 57

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Doenças e sintomas provocados pela exposição ao calor ...................... 14


Tabela 2 – Taxa metabólica por atividade (trechos).................................................. 22
Tabela 3 – Estabilização do equipamento ................................................................. 46
Tabela 4 – Dados coletados em campo, na Estação de Mário Campos (22/02/2019)
.................................................................................................................................. 46
Tabela 5 – Dados para IBUTG “1”............................................................................. 47
Tabela 6 – Dados para IBUTG “2”............................................................................. 47
Tabela 7 – IBUTG “1” ................................................................................................ 48
Tabela 8 – IBUTG “2” ................................................................................................ 49
Tabela 9 – IBUTG “1” ................................................................................................ 52
Tabela 10 – IBUTG “2” .............................................................................................. 52

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Mapa de Riscos ...................................................................................... 43


ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABHO Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais


ACGIH American Conference of Governmental Industrial Hygienists
ASHRAE American Society of Heating, Refrigerating, and Air Conditioning
Engineers
BEI Biological Exposure Indices
Bpm Batimentos por minuto
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
EPI Equipamento de Proteção Individual
IBUTG Índice de Bulbo Úmido de Termômetro Globo
IREQ Índice de Isolamento Requerido
ISO International Organization for Standardization
kcal/h Quilocaloria por hora
mmoles Milimol
LEO Limite de Exposição Ocupacional
NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health
NHO Norma de Higiene Ocupacional
NR Norma Regulamentadora
PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PMV Predicted Mean Vote
PPD Predicted percentage of dissatisfied
PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
TLV Threshold limit values (valor limite de tolerância)
W Watt
WCI Wind Chill Index
x

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 11
1.1. OBJETIVO ...................................................................................................... 12
1.2. JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 12
2. REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................... 13
2.1. O HOMEM COMO MÁQUINA TÉRMICA E SUA INTERAÇÃO COM O
AMBIENTE ..................................................................................................... 13
2.2. AVALIAÇÃO DO CALOR ................................................................................ 16
2.3. ÍNDICE DE AVALIAÇÃO TÉRMICA ............................................................... 17
2.4. A NORMA REGULAMENTADORA 15............................................................ 18
2.5. A NORMA DE HIGIÊNE OCUPACIONAL 06 DA FUNDACENTRO ............... 21
2.6. A NORMA REGULAMENTADORA 9.............................................................. 25
2.7. ACGIH e ABHO .............................................................................................. 25
2.8. DIFERENÇAS ENTRE AS NORMAS ............................................................. 28
3. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................. 30
3.1. LOCAL E ATIVIDADES .................................................................................. 30
3.2. MAPA DE RISCO ........................................................................................... 40
3.3. EQUIPAMENTO ............................................................................................. 44
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 48
4.1. INSALUBRIDADE ........................................................................................... 48
4.2. NHO-06 e NR-09 ............................................................................................ 50
5. CONCLUSÕES .............................................................................................. 54
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55
ANEXO ..................................................................................................................... 57
CERTIFICADO DE CALIBRAÇÃO DO MEDIDOR DE ESTRESSE TÉRMICO ........ 57
11

1. INTRODUÇÃO

Nem todas as partes do corpo humano possuem a mesma temperatura, e os limites


normais de temperatura basal variam de 36ºC a 38ºC. O organismo tolera muito
mais as variações de frio (hipotermia) do que as variações de calor (hipertermia). Há
casos registrados de hipotermia em que o corpo atinge o “estado de hibernação”, e o
coração parou de bater quando a temperatura atingiu 20ºC. Já na hipertermia
quando a temperatura basal ultrapassa 42ºC as células neurológicas sofrem danos e
30% dos casos resultam em óbito (Ashcroft, 2001).

Para fins ocupacionais a sobrecarga térmica é a combinação da temperatura


ambiente com a taxa metabólica, que varia em função do tipo de atividade a ser
executada. Conceitos atuais consideram também o tipo de vestimentas utilizados
pelo trabalhador. Ao exceder os limites estabelecidos aumentam-se os riscos de
danos à saúde relacionados ao calor (ACGIH, 2017).

Em 1943 foi promulgada a CLT, no seu texto já havia a denominação de “segurança


e higiene do trabalho”, e em 1978 foram criadas as primeiras Normas
Regulamentadoras como um esforço de consolidar a legislação fragmentada e trazer
novos conceitos à época como o limite de tolerância (USP, 2018a).

O limite de tolerância está associado a um agente ambiental e à caracterização de


insalubridade nos casos que constam na NR-15, resultando no pagamento de um
percentual sobre o salário mínimo vigente. O não cumprimento das disposições
legais por parte do empregador implica em penalidades, podendo responder em
diversas esferas judiciais (USP, 2018c).

A legislação brasileira adotou o IBUTG como índice de sobrecarga térmica para


determinar os limites aceitáveis da exposição, devido a sua simplicidade de cálculo
(USP, 2018b). Diversos ambientes de trabalho tem o risco de estresse térmico e
controle se faz necessário para que se possa preservar a saúde desses
trabalhadores. Em situações difíceis de controlar a fonte emissora de calor, é
necessária a adoção de medidas administrativas, como pausas ao longo do dia.
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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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1.1. OBJETIVO

O objetivo do presente trabalho foi acompanhar a variabilidade térmica de um dia


padrão das atividades de hidrometria, para então quantificar a sobrecarga térmica e
classificá-la em insalubre ou não, e se o risco deve compor o PPRA da organização
com as devidas medidas preventivas e corretivas.

1.2. JUSTIFICATIVA

A justificativa desse trabalho consiste no risco de estresse térmico que usualmente


não é discutido na área de hidrometria. As atividades de coleta de dados em campo
são realizadas em ambiente aberto, sem conforto climático e na maioria das vezes o
socorro médico, próximo às localidades em que trabalhadores atuam, é dificultoso e
não é célere. Há relatos de insolação, desidratação, câimbras, e exaustão pelo calor.
Por esses motivos, estudos quantitativos da sobrecarga térmica, medidas
administrativas e de engenharia podem ser considerados para alcançar melhores
condições laborais e contribuir na preservação da saúde destes trabalhadores.

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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. O HOMEM COMO MÁQUINA TÉRMICA E SUA INTERAÇÃO COM O


AMBIENTE

Situações em que haja diferença de temperatura entre a superfície do corpo humano


e o ambiente haverá troca de calor, e o corpo poderá absorver calor ou perder. Os
mecanismos de troca de calor entre o corpo e o ambiente podem ser resumidos da
seguinte forma (USP, 2018b):

 Condução: necessita do contato entre dois corpos, normalmente envolve


sólidos. Cada material tem a sua condutividade térmica particular que o torna
condutor ou isolante. Geralmente a troca térmica por condução ocorre pelo
contato do corpo com ferramentas ou superfícies.
 Convecção: essa troca é realizada entre dois fluídos. No corpo humano
pode-se exemplificar essa troca entre o ar presente no sistema respiratório e
o ar ambiente.
 Radiação: é feita através da radiação infravermelha, o corpo de maior
temperatura perde calor para o corpo de menor temperatura. Essa troca pode
ser verificada no estudo desse trabalho, no qual o trabalhador foi exposto a
um ambiente com incidência solar.
 Evaporação: o maior mecanismo de defesa humano contra o calor é o suor.
Quando o suor absorve energia suficiente para mudar do estado líquido para
o gasoso, ele automaticamente resfria o corpo. A evaporação será a única
defesa do organismo, caso a temperatura ambiente esteja mais alta do que a
do corpo.

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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O equilíbrio homeotérmico é dado pela seguinte equação:

Onde:
M: calor produzido através do metabolismo, e é sempre positivo, porque o organismo
sempre produz;
C: calor absorvido ou perdido por convecção e/ou condução;
R: calor absorvido ou perdido por radiação;
E: calor sempre perdido por evaporação;
S: calor absorvido no organismo.
Se S=0, toda a carga térmica recebida é dissipada.
Se S>0, o organismo armazena calor, condição de hipertermia.
Se S< 0, o organismo cede calor, condição de hipotermia.

A taxa metabólica dependerá de diversos fatores como o metabolismo basal (calor


gerado para a manutenção das funções vitais do corpo), posição e movimento do
corpo, tipo de trabalho, obesidade, desnutrição, idade e sexo (Coutinho, 2019).

O corpo humano oferece mecanismos de defesa quando submetido ao calor intenso,


os principais são (BREVIGLIERO, POSSEBON, SPINELLI, 2017):

 Vasodilatação periférica: consiste em um maior fluxo de sangue na


superfície da pele, aumentando a superfície de contato com o ambiente e
promovendo assim maior perda de calor. Em algumas situações pode haver
danos a alguns órgãos que ficam com a irrigação deficiente.
 Sudorese: o número de glândulas sudoríparas ativadas será proporcional ao
calor que deve ser perdido. Esse mecanismo de defesa refresca o corpo por
evaporação do suor.

A tabela abaixo resume as doenças que se manifestam no organismo quando os


mecanismos de termorregulação deixam de funcionar apropriadamente:

Tabela 1 – Doenças e sintomas provocados pela exposição ao calor


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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Doença Sintomas Efeitos


Hipertermia ou Dor de cabeça, Alteração no centro regulador, pele
intermação vertigem, desmaio e quente e seca, pulso e movimentos
desconforto respiratórios fracos e rápidos, e
abdominal aumento da pressão
Insolação, golpe Convulsões, delírios, Pele quente, seca e arroxeada,
de calor, choque alucinações e coma temperatura corpórea >40,5ºC e
térmico alterações do sistema nervoso central
Prostração Dor de cabeça, Pele pálida e úmida com temperatura
térmica, exaustão tonturas, mal-estar, variável, distúrbios circulatórios
do calor fraqueza
Cãibras do calor Contrações Perda de cloreto de sódio devido à
musculares dolorosas sudorese interna
e violentas
Catarata Dificuldade para Opacificação do cristalino devido à
enxergar exposição prolongada à radiação
infravermelho.
Fonte: BREVIGLIERO, POSSEBON, SPINELLI, 2017

Os efeitos adversos do calor no organismo podem ser esquematizados no seguinte


fluxograma:

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 1 – Reações do organismo à exposição ao calor

Fonte: USP, 2018b

Coutinho (2019, p. 257) destaca que as doenças ocupacionais podem ser


prevenidas ao se adotar acompanhamento médico, admissional e periódico, e
também programas de aclimatação que consistem na adaptação gradual do
trabalhador ao ambiente.

2.2. AVALIAÇÃO DO CALOR

Inúmeros fatores influenciam as trocas térmicas, destacam-se os seguintes fatores


para a quantificação da sobrecarga térmica (BREVIGLIERO, POSSEBON,
SPINELLI, 2017):

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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 Temperatura do ar: a troca entre o organismo e o ambiente pode ser


avaliada pela diferença de temperatura, porque a quantidade de calor ganha
ou perdida pelo corpo humano é proporcional a essa defasagem. É medido
através de termômetros.
 Umidade relativa do ar: é a relação em porcentagem da expressão da
quantidade de vapor de água no ar dividida pela quantidade máxima de vapor
de água possível na mesma temperatura (ar saturado). É medido através de
psicrômetros.
 Velocidade do ar: essa variável influência na troca de calor entre o ambiente
e o organismo, caso haja diferença de temperatura entre o corpo e o
ambiente haverá troca por condução-convecção. Também atua na remoção
do suor da superfície da pele, contribuindo para a evaporação do mesmo, e
contribuindo para a sensação de conforto térmico. É medido através de
anemômetros.
 Calor radiante: se o organismo estiver perto de uma fonte que emite
considerável quantidade de radiação infravermelha irá absorver calor, e esse
fator contribui de forma significativa para a sobrecarga térmica.
 Tipo de atividade: a natureza do trabalho desenvolvido contribui para a
produção de calor produzido pelo corpo, quanto mais intensa é a atividade
desenvolvida pelo trabalhador, maior será a quantidade de calor produzido
(taxa metabólica).

2.3. ÍNDICE DE AVALIAÇÃO TÉRMICA

Existem diversos índices de avaliação termoambiental, e cada um tem o seu campo


de aplicação. Coutinho (2019, p. 258) resume as diversas metodologias de análise e
a condição de aplicação:

 Para avaliações em ambientes moderados, como escritórios, utilizam-se os


índices de temperatura efetiva, estabelecidos pela NR-17 ou da norma
ASHRAE 55-94, e os índices Predicted Mean Vote (PMV) que expressa a
sensibilidade humana ao calor ou frio, e Predicted percentage of dissatisfied
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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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(PPD) que é a porcentagem de pessoas insatisfeitas com o conforto


ambiental, ambos os conceitos são da norma ISO 7730/94.
 Para avaliações de ambientes frios, como câmaras frigoríficas, há a NR-15
anexo 9 e a CLT, artigo 253 na legislação brasileira, e a norma internacional
ISO/TR 11079/1993 que estabelece o Índice de Isolamento Requerido (IREQ)
e o Wind Chill Index (WCI) que é o índice de resfriamento pelo vento.
 Para avaliações de ambientes quentes, como trabalhos em fornos ou
ambientes abertos, a ISO 7933/1989 estabelece a taxa requerida de suor. Há
também o Índice de Sobrecarga Térmica (IST) e o Índice de Bulbo Úmido –
Termômetro Globo (IBUTG), o último é utilizado pela legislação brasileira e o
foco deste trabalho.

2.4. A NORMA REGULAMENTADORA 15

A Norma Regulamentadora 15 (NR-15), concebida no ano de 1978, trata das


atividades ou operações que são consideradas insalubres. Para esta normativa são
consideradas atividades nocivas à saúde do trabalhador as que ultrapassarem os
limites estabelecidos em seus anexos. No item 15.1.5 é definido o conceito de limite
de tolerância:

Entende-se por "Limite de Tolerância", para os fins desta Norma, a


concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a
natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde
do trabalhador, durante a sua vida laboral.

São estabelecidos na norma os graus de insalubridade, classificados em grau


mínimo, médio ou máximo. Há um adicional no salário do trabalhador de acordo com
o grau de insalubridade, e a base de cálculo é o salário mínimo regional. Não há o
pagamento de mais de um adicional de insalubridade, sendo considerado apenas o
mais alto dentre os fatores identificados.

O anexo 3 da referida norma trata dos limites de tolerância para exposição ao calor.

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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A metodologia utilizada para a avaliação do estresse térmico é o Índice de Bulbo


Úmido Termômetro de Globo - IBUTG, e há duas equações para a avaliação, uma
específica para ambientes sem a incidência de carga solar e outra equação
considerando a carga solar.

Onde:
tbn = temperatura de bulbo úmido natural;
tg = temperatura de globo;
tbs = temperatura de bulbo seco.

A NR-15 normatiza também os três tipos de termômetros a serem utilizados:


termômetro de bulbo úmido natural, termômetro de globo e termômetro de mercúrio
comum. O seu posicionamento para medição deve ser de forma a melhor
representar a exposição do trabalhador, ou seja, na maior área do corpo atingida
pela fonte de calor.

Caso o local de descanso seja realizado no mesmo local de execução da atividade


deve-se utilizar o quadro 1 do anexo:

Figura 2 – Quadro 1 do anexo 3 da NR-15

Fonte: Brasil (1978)

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Caso o local de descanso seja diferente do local de execução da atividade deve-se


utilizar o quadro 2 do anexo:
Figura 3 – Quadro 2 do anexo 3 da NR-15

Fonte: Brasil (1978)

A taxa de metabolismo nesse caso será calculada com a média ponderada de uma
hora.

O cálculo do IBUTG médio ponderado será dado pela seguinte fórmula:

̅̅̅̅̅̅̅̅̅

Onde:
Mt = taxa de metabolismo no local de trabalho;
Tt = soma dos tempos, em minutos, dos tempos em que se permanece no local de
trabalho;
Md = taxa de metabolismo no local de descanso;
Td = soma dos tempos, em minutos, dos tempos em que se permanece no local de
descanso;
IBUTGt = valor de IBUTG no local de trabalho;
IBUTGd = valor de IBUTG no local de descanso.

A norma ainda deixa definida a taxa de metabolismo em função do tipo de atividade,


e usa como unidade [kcal/h].

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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 4 – Quadro 3 do anexo 3 da NR-15

Fonte: Brasil (1978)

O anexo finaliza no quadro 3, não definindo a metodologia de medição, nem


especificando os equipamentos de mensuração (termômetros).

2.5. A NORMA DE HIGIÊNE OCUPACIONAL 06 DA FUNDACENTRO

A NHO-06 tem o objetivo de estabelecer critérios e procedimentos para a avaliação


de estresse térmico. É uma norma atual, do ano de 2017, e traz importantes
definições como:

 Aclimatização: é a adaptação fisiológica do trabalhador ao ambiente com


exposição sucessivas e graduais. Essa prática visa reduzir a sobrecarga
fisiológica do estresse térmico. Todas as normas consideram em sua
metodologia indivíduos aclimatados ao ambiente em que atuam.
 Nível de ação: valor, que acima dele, medidas de prevenção devem ser
tomadas, visando a prevenção da saúde do trabalhador.
 Ponto de medição: é o ponto escolhido para o posicionamento do
equipamento para a realização da medição.
 Limite de exposição ocupacional: representa as condições sob as quais se
acredita que a maioria dos trabalhadores possa estar exposta, repetidamente,
durante toda a sua vida de trabalho, sem sofrer efeitos adversos à sua saúde.
No caso de estresse térmico é relacionado ao valor de IBUTG e a taxa
metabólica da atividade [M].
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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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 Valor teto: é o valor máximo de IBUTG, relacionado à taxa metabólica que


um trabalhador não mais consegue manter o equilíbrio térmico, e aumenta a
sua temperatura basal em 1ºC em 15 minutos.

O critério de avaliação é o IBUTG determinado na NR15, porém para a unidade para


a taxa metabólica foi adotado o Watt [W], para a conversão de W para kcal/h. A
NHO-06 define:

[ ] [ ]

Onde:
M = taxa metabólica (tabelada de acordo com a atividade).

A NHO-06 amplia as possibilidades de atividades em relação à NR-15, e define as


taxas metabólicas. Abaixo um trecho de interesse para o presente trabalho:

Tabela 2 – Taxa metabólica por atividade (trechos)


Atividade Taxa metabólica (W)
Em pé, agachado ou ajoelhado
Em repouso 126
Trabalho leve com as mãos 153
Trabalho moderado com as mãos 180
Trabalho pesado com as mãos 198
Trabalho leve com um braço 189
Trabalho moderado com um braço 225
Trabalho pesado com um braço 261
Trabalho leve com dois braços 243
Trabalho moderado com dois braços 279
Trabalho pesado com dois braços 315
Trabalho leve com o corpo 351
Trabalho moderado com o corpo 468
Trabalho pesado com o corpo 630

_________________________________________
1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Atividade Taxa metabólica (W)


Em pé, em movimento
Andando no plano
1. Sem carga
2 km/h 198
2. Com carga
10 kg, 4 km/h 333
30 kg, 4 km/h 450
Subindo rampa
1. Sem carga
com 5° de inclinação, 4 km/h 324
com 15° de inclinação, 3 km/h• 378
com 25° de inclinação, 3 km/h 540
2. Com carga de 20 kg
com 15° de inclinação, 4 km/h 486
com 25° de inclinação, 4 km/h 738
Descendo rampa (5 km/h) sem carga
com 5° de inclinação 243
com 15° de inclinação 252
com 25° de inclinação 324
Trabalho moderado de braços (ex.: varrer, trabalho em 320
almoxarifado)
Trabalho moderado de levantar ou empurrar 349
Trabalho de empurrar carrinhos de mão, no mesmo 391
plano, com carga
Trabalho de carregar pesos ou com movimentos 495
vigorosos com os braços (ex.: trabalho com foice)
Trabalho pesado de levantar, empurrar ou arrastar 524
pesos (ex.: remoção com pá, abertura de valas)
Fonte: Fundacentro (2017)

A NHO-06 então apresenta os limites de exposição e o nível de ação para


trabalhadores aclimatizados, que é igual ao limite de tolerância para os
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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
24

trabalhadores não aclimatizados. A partir da NIOSH (2013) oferece os valores teto


de exposição. A norma ainda traz em seu texto a consideração do tipo de vestimenta
do trabalhador, prática já utilizada pelas normas internacionais.

Também é apresentado um capítulo de medidas preventivas e corretivas. As


medidas preventivas devem ser tomadas a partir do nível de ação, e as medidas
corretivas devem ser tomadas a partir do Limite de Exposição Ocupacional (LEO)
(Fundacentro, 2017).

As medidas preventivas citadas são:

 Monitoramento periódico da exposição, sendo necessária uma avaliação


sistemática e repetitiva dos níveis de exposição e medida de controle, para
verificar a necessidade de novas medidas de controle ou alteração das
medidas existentes;
 Disponibilização de água e sais minerais;
 Treinamento dos trabalhadores, incluindo itens como riscos da exposição ao
calor, aclimatização, pausas no trabalho, condutas em situações de
emergência, limitações das medidas de controle, doenças que possam limitar
o trabalho sob a condição de sobrecarga térmica, entre outros;
 Controle médico, admissional e periódico;
 Permissão de interrupção da atividade quando o trabalhado sentir extremo
desconforto, ou sentir alguns dos efeitos relatados na Tabela 1 – Doenças e
sintomas provocados pela exposição ao calor.

As medidas corretivas citadas são:

 Modificação do processo ou da operação de trabalho;


 Utilização de barreiras refletoras ou absorventes;
 Adequação da ventilação;
 Redução da umidade relativa do ar;
 Introdução de pausas;
 Disponibilização de locais climatizados.
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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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2.6. A NORMA REGULAMENTADORA 9

A norma regulamentadora 9 estabelece a obrigatoriedade do PPRA, sua última


atualização é de dezembro/2019. O anexo 3 deste documento traz um texto sobre o
calor, baseado na NHO-06 da Fundacentro.

O benefício de trazer um resumo da NHO-06 no seu texto é que os conceitos


apresentados no documento da Fundacentro tomam força de lei, uma vez que as
normas desta instituição são hierarquicamente inferiores às NR’s e não possuem
força de lei.

A NR-9 traz no seu corpo uma tabela mais abrangente de taxa metabólica em
relação à NR-15, já utilizando o Watt [W] como unidade de medida, o incremento de
IBUTG em função das vestimentas, e os conceitos de medidas preventivas e
corretivas.

Estabelece que na impossibilidade de se encontrar uma taxa metabólica adequada


na tabela, que sejam feitas associações entre as situações. Adicionalmente
determina o nível de ação e o limite de exposição ocupacional.

2.7. ACGIH e ABHO

A ACGIH faz a tradução dos TLV’s e BEI’s de origem americana, elaborados pela
ACGIH anualmente. O livreto aborda os Limites de Exposição Ocupacional (TLV’s)
para agentes químicos e físicos, e também os Índices Biológicos de Exposição
(BEI’s).

No item de estresse térmico traz o conceito de um programa de gerenciamento, e


define como objetivo desse item a manutenção da temperatura basal em +1ºC da
temperatura normal de uma pessoa média (37ºC), e não deve ultrapassar 38,3ºC
(ACGIH, 2017).

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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
26

Abaixo está o fluxograma que auxilia na tomada de decisão no programa de


gerenciamento de sobrecarga térmica:

Figura 5 – Avaliação da sobrecarga térmica e fisiológica por calor

Fonte: ACGIH (2017)

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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 6 – TLV de sobrecarga térmica

Fonte: ACGIH (2017)

No gráfico da Figura 6 o IBUTGef é o IBUTG medido acrescentado de do fator de


ajuste de vestimentas.

Como sinais fisiológicos de estresse térmico são definidos:

 A frequência cardíaca manter-se acima de 180 bpm (batimentos por minuto)


menos a idade em anos do trabalhador (exemplo: 180 – idade); ou
 A temperatura do corpo é mais alta do que 38,5ºC; ou
 A recuperação da frequência cardíaca é maior do que 120 bpm após um
minuto do pico do esforço do trabalho; ou
 Há sintomas de fadiga, vertigens ou tonturas.

Aumentará o risco de desenvolver doenças relacionadas ao calor, caso o


trabalhador apresente os sintomas abaixo:

 Sudorese intensa mantida por horas; ou


 Perda de 1,5% da massa corporal durante a jornada de trabalho;
 Excreção de sódio urinário menor do que 50mmoles em 24h.

O trabalhador, caso apresente algum sintoma, deverá ser mantido em um local


fresco e sob a observação de uma pessoa especializada. Na impossibilidade, o

_________________________________________
1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
28

mesmo deverá ser levado imediatamente ao hospital, e a situação deve ser tratada
como emergência. Para tanto faz-se necessário um plano de emergência.

2.8. DIFERENÇAS ENTRE AS NORMAS

A NR15 é a mais antiga dentre as normas, e considera [kcal/h] como unidade de


medida para a taxa metabólica. Já a NHO-06 considera [W] como unidade como
unidade metabólica, e na metodologia de cálculo do IBUTG é considerado o
incremento de vestimenta, conceito este que é baseado na ACGIH, no cálculo do
IBUTGef.

A NR-15 tem peso de lei e atualmente o cálculo que consta no anexo 3 é a


metodologia oficial para a determinação de situações insalubres. O procedimento de
medição, as medidas de proteção e correção apresentadas na NHO-06 devem ser
respeitadas, e pode-se apresentar o cálculo do IBUTG com o incremento de
vestimenta no relatório final, porém não será considerado para fins de insalubridade.

A NHO-06 ainda traz um extenso quadro de taxas metabólicas, o que facilita a


decisão por um valor adequado a cada situação, diminuindo a subjetividade. A
conversão entre as unidades de [W] para [kcal/h] ainda é definido no documento,
sendo simples a utilização da tabela da NHO-06 e a conversão para a linguagem da
NR-15.

Para estudos quantitativos de estresse térmico, com a finalidade de mapear riscos,


deve-se utilizar a metodologia apresentada na NHO-06, e comparar os resultados
com os quadros presentes na NR-09. Uma vez ultrapassado o limite de tolerância,
deve-se avaliar a insalubridade de acordo com a NR-15.

A NR-09 define o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e


estabelece que na situação de estresse térmico, se as informações obtidas no
reconhecimento dos riscos não forem suficientes, deve-se proceder com a avaliação

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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
29

quantitativa. Dependendo dos resultados quantitativos medidas de correção ou


proteção devem ser tomadas.

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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
30

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho acompanhou um dia de trabalho para a realização de atividades


de hidrometria. A rotina do trabalhador consiste em viajar por uma região e a cada
dia medir as condições do rio em um determinado ponto.

Os pontos a serem medidos podem ser fixos com ensaios regulares ao longo do
ano, e realizar todos os ensaios naquele mesmo ponto, a fim de se criar um histórico
hidrológico, ou podem ser pontos de localização variável de interesse hidrológico,
como áreas com cheias ou cotas muito baixas.

O ponto de medição avaliado se enquadra na condição variável e tem interesse


público, porque é o primeiro ponto a jusante do Rio Paraopeba da Barragem do
Córrego do Feijão, em Minas Gerais, que rompeu no dia 25/01/2019. Este desastre
ambiental provocou o despejo de grande quantidade de rejeitos no rio,
contaminando as águas e provocando a necessidade de monitoramento
emergencial.

Medições de descarga líquida, coleta de sedimentos e qualidade de água eram


executadas diariamente nesse ponto. Apesar de ser um ponto novo, e não oficial
para visitação regular dos trabalhadores da área, a estação hidrometerológica é
representativa do ponto de vista de sobrecarga térmica e esforço físico.

3.1. LOCAL E ATIVIDADES

O local de medição do estresse térmico foi o primeiro ponto a jusante do ponto de


rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, e foi nomeado como “estação de
Mário Campos”. A medição de sobrecarga térmica foi realizada ao longo do dia
22/02/2019, durante o período laboral da equipe.

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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 7 – Bacia do Rio Paraopeba, local de medição: Mário Campos

Fonte: CPRM (2019)

Abaixo seguem as atividades e suas características:

Descer o barco:
O barco de alumínio é fundamental para a realização de todas as atividades ao
longo do dia. O veículo náutico possui massa de aproximadamente 65kg. Ao descer
o equipamento da carroceria de uma caminhonete o trabalhador exerce grande
esforço físico, e o mesmo ainda deve ser carregado até a margem do rio, se
enquadrando na taxa metabólica de 450W.

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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 8 – Caminhonetes com barcos

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Passar o cabo:
O cabo de aço se faz necessário como guia para garantir que todas as medições
comecem e terminem na mesma posição. O cabo possui extensão aproximada de
50m e massa de 25kg, considerando seu carretel. Esse equipamento deve ser
retirado da caminhonete e carregado até a margem do rio. O trabalhador ao
executar essa atividade, com carga e em movimento, gasta aproximadamente
333W.

Figura 9 – Detalhe de instalação do cabo

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 10 – Detalhe de instalação do cabo

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Figura 11 – Passagem de cabo de aço

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Figura 12 – Cabo de aço instalado

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Coleta de água:
Toda a coluna de água deve ser coletada, para isso se usa um amostrador US DH-
59 ou AMS-3, com massa de 10kg. Dependendo da profundidade do rio e da sua
velocidade há a necessidade de utilizar um lastro com peso adicional para garantir a
verticalidade do ensaio. O objetivo desse procedimento é de colher amostras para
envio posterior a laboratórios. Essa atividade é executada sentada no barco, com
movimento vigoroso de um braço para descer e subir o amostrador pela coluna da
água com velocidade constante. É um trabalho pesado, ajoelhado, e com taxa
metabólica teórica aproximada 261W.

Figura 13 – Detalhe de amostrador para coleta de água

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Figura 14 – Detalhe do amostrador para coleta de água

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Análise de água coletada:


Esta etapa é executada fora do barco, e a amostra coletada é dividida em
recipientes menores e adicionada soluções padrão. São armazenadas em
embalagem específica e mantidas sob refrigeração. A atividade requer que as
amostras sejam agitadas para que todo o sedimento presente seja dissolvido no
líquido, é um trabalho sentado, com atividade moderada e taxa metabólica teórica
aproximada de 153W.

Figura 15 – Detalhe das amostras coletadas

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Preparo de equipamento de hidrometria:


O equipamento de hidrometria é armazenado desmontado dentro de embalagem
específica de transporte. Consiste em equipamento de medição acústica, que perfila
a profundidade e velocidade do rio. O equipamento é conectado e apoiado sobre
uma prancha, o “hidroboard”. O conjunto tem massa aproximada de 7kg. Toda essa
atividade é executada em pé com o equipamento no chão. O mesmo é levado
manualmente até a margem do rio. Essa atividade possui taxa metabólica média de
290W.

Medição de descarga líquida:


A medição de descarga líquida é executada por equipamento acústico, e é feita
sentada no barco com os dois braços. A intensidade varia de acordo com a
correnteza, e no dia estudado a correnteza estava leve. Um trabalhador acompanha
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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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a medição no computador, enquanto o outro movimenta o barco orientado pelo cabo


de aço. A taxa metabólica aproximada da atividade é de 216W.

Figura 16 – Exemplo de equipamento de medição acústica e barco

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Figura 17 – Equipamento de medição acústica

Fonte: SonTek (2020)

Sedimentos:
Toda a coluna de água deve ser amostrada. Na situação estudada se usa um
amostrador US DH-59 ou AMS-3, com massa de 10kg. Dependendo da
profundidade do rio e da sua velocidade há a necessidade de se utilizar um lastro
com peso adicional para garantir a verticalidade do ensaio. O objetivo desse
procedimento é de coletar amostras de diversos colunas ao longo do perfil do rio,
para envio posterior a laboratórios. Essa atividade é executada de forma agachada
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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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no barco, com movimento vigoroso do corpo para descer e subir o amostrador pela
coluna da água com velocidade constante. É um trabalho pesado, ajoelhado, e com
taxa metabólica aproximada de 550W.

Figura 18 – Amostrador US DH-59

Fonte: USGS, USA (2020)

Figura 19 – Detalhe do amostrador para sedimentos

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 20 – Detalhe de amostrador para sedimentos

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Qualidade da água:
Essa atividade é executada sentada, com o movimento de todo o corpo.Para sua
realização um trabalhador manter o barco fixo e o outro monitora os dados no
computador ao mesmo tempo verifica o posicionamento da sonda. Para essa
atividade a taxa metabólica teórica é de 216W, trabalho leve com dois braços.

Figura 21 – Sonda de qualidade de água MS5 da Hydrolab

Fonte: OTT (2020)

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 22 – Detalhe de medição de qualidade da água

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Guardar o equipamento de hidrometria:


O equipamento de hidrometria é retirado do rio e higienizado. É transportado da
margem até a caminhonete, desmontado e armazenado dentro de embalagem
específica de transporte. Essa atividade possui taxa metabólica média de 290W.

Guardar o cabo:
O cabo de aço deve ser desmontado e enrolado em um carretel. Deve ser carregado
manualmente da margem do rio até a caminhonete. O cabo possui extensão
aproximada de 50m e massa de 25kg. O trabalhador ao executar essa atividade,
com carga e em movimento, gasta aproximadamente 333W.

Figura 23 – Detalhe do cabo

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Subir o barco:
O barco deve ser retirado do rio e carregado manualmente até a caminhonete. O
mesmo deve ser guardado no topo da carroceria da caminhonete. O barco de
alumínio possui massa de aproximadamente 65kg. Ao executar essa tarefa o
trabalhador exerce grande esforço físico com carga em movimento, se enquadrando
na taxa metabólica de 490W.

Figura 24 – Guardar o barco

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Todas as taxas metabólicas consideradas nas análises acima são de trabalhadores


aclimatados.

3.2. MAPA DE RISCO

O estresse térmico é um dos riscos com maior número de queixas entre os


trabalhadores dessa área, e presente em todas as estações.
O mapa abaixo representa, sem escala, a estação estudada e todos os riscos que a
população está exposta:

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 25 – Vista à montante da estação estudada

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Figura 26 – Vista à jusante da estação estudada

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Figura 27 – Margem de acesso ao rio

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 28 – Mapa de Riscos

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá ênfase aos aspectos abordados e contribui para a
credibilidade do trabalho.
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Quadro 1 – Mapa de Riscos


TAG RISCO DESCRIÇÃO CONTROLE RECOMENDADO
1 Acidentes, Lama escorregadia Cuidado no acesso ao rio
médio
2 Acidentes, Afogamento Uso de EPI’s e não fazer medição em
médio dias chuvosos
3 Biológico, Contaminação por Uso de EPI’s e acompanhamento
baixo contato com a água, médico periódico
esgoto doméstico
4 Químico, Contaminação por Uso de EPI’s e acompanhamento
médio contato com a água médico periódico
com metais pesados
5 Físico, Estresse térmico Hidratação e pausa entre as
médio atividades
6 Radiação, Radiação solar Uso de protetor solar e reaplicação ao
médio longo do dia, uso de bonés e chapéus,
camisetas de mangas compridas e
guarda-sol
7 Ergonômico, Esforço físico intenso, Estacionar a pick-up o mais próximo
médio levantamento e possível da estação, usar carrinho
transporte manual de manuais, e mecanizar processos
peso
8 Acidentes, Cortes por Local adequado para manuseio de
médio ferramentas ferramentas, EPI adequado
9 Acidentes, Parasitas e insetos Uso de repelente com icaridina,
médio acompanhamento médico periódico,
mapear pontos de socorro médico
10 Acidentes, Ataque de animais Uso de perneiras e calçado de
baixo peçonhentos segurança, mapear pontos de socorro
médico
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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3.3. EQUIPAMENTO

Para a determinação da sobrecarga térmica foi utilizado um medidor de estresse


térmico de acordo com a NHO-06. O equipamento é composto de três sondas, um
termômetro de globo, um termômetro de bulbo seco e um termômetro de bulbo
úmido.

Figura 29 – Medidor de estresse térmico

Fonte: Instrutherm (2020)

A maioria das atividades é realizada dentro do barco, que possui superfície refletiva
e aumenta o desconforto térmico. O barco não possui espaço, superfície plana e
estabilidade o suficiente para instalar o equipamento dentro, por isso optou-se por
instalá-lo sob um tripé, na margem do rio para garantir a sua integridade.

Não houve necessidade de alteração do equipamento ao longo do dia porque o local


de trabalho foi o mesmo durante a execução de todas as atividades.

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Figura 30 – Instalação do equipamento para realizar as medições

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

De forma sintetizada a NHO-06 define os critérios gerais para compor os ensaios de


IBUTG:

 Desconsiderar nuvens passageiras;


 Verificar a estabilidade do sensor;
 Realizar pelo menos 5 leituras estáveis no período de 1h;
 Variação máxima de ± 0,4ºC entre as leituras.

O equipamento é analógico e possui visor digital, e para se registrar as medições


utilizou-se um caderno, uma caneta e um relógio digital para anotar os horários.

As limitações do avaliador em realizar cinco leituras por hora, especificado na NHO-


06, decorreu da dificuldade em executar as atividades laborais descritas acima e
fazer concomitantemente a leitura do equipamento. Pelo fato do equipamento ser
analógico não houve a possibilidade de registrar e armazenar os resultados com um
intervalo compatível ao estipulado na norma, portanto para a presente pesquisa
foram consideradas 4 leituras mínimas por hora.

Para a verificação da estabilidade das leituras o equipamento permaneceu por 35


minutos estabilizando com o ambiente.
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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Tabela 3 – Estabilização do equipamento


Hora Tg Tbs Tbn
09:10 25,0 25,0 25,0
09:15 27,0 26,9 26,8
09:20 27,4 27,3 27,2
09:30 28,1 28,0 28,0
09:40 28,9 28,8 28,6
09:45 29,0 28,8 28,6
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

Os dados abaixo foram registrados ao longo de um dia, com a respectiva atividade:

Tabela 4 – Dados coletados em campo, na Estação de Mário Campos (22/02/2019)


Hora Tg Tbs Tbn Atividade
09:45 29,0 28,8 28,5 Descer o barco
10:00 29,0 29,0 28,8 Passar o cabo
10:20 29,5 29,4 29,2 Passar o cabo
10:45 29,7 29,7 29,5 Coleta de água
11:05 30,1 30,0 29,7 Análise da água coletada (geoquímica)
11:20 30,1 30,1 29,7 Preparo de equipamento de hidrometria
11:45 30,2 30,1 29,7 Medição de vazão do rio
12:00 30,2 30,2 30,0 Medição de vazão do rio
12:15 30,2 30,2 30,0 Sedimento
12:30 30,5 30,5 30,1 Sedimento
12:45 30,6 30,6 30,1 Sedimento
13:00 30,6 30,6 30,1 Qualidade da água
13:20 31,2 31,2 30,6 Qualidade da água
13:35 32,1 32,1 31,4 Finalizar para almoço
15:00 30,2 30,2 29,8 Qualidade da água
15:15 31,1 31,1 30,7 Coleta geoquímica
15:30 32,2 31,8 30,7 Análise geoquímica
15:45 32,2 31,9 30,7 Análise geoquímica
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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Hora Tg Tbs Tbn Atividade


16:00 32,3 32,3 31,0 Análise geoquímica
16:15 31,9 31,9 31,0 Guardar equipamento
16:30 31,0 30,9 30,0 Guardar cabo
16:45 30,1 30,1 29,4 Guardar barco
17:00 28,3 28,3 27,8 Finalizar
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

Para análise do IBUTG foram extraídos apenas os seguintes trechos da tabela para
análise:

Tabela 5 – Dados para IBUTG “1”


Hora Tg Tbs Tbn Atividade
12:15 30,2 30,2 30,0 Sedimento
12:30 30,5 30,5 30,1 Sedimento
12:45 30,6 30,6 30,1 Sedimento
13:00 30,6 30,6 30,1 Qualidade da água
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

Tabela 6 – Dados para IBUTG “2”


Hora Tg Tbs Tbn Atividade
15:30 32,2 31,8 30,7 153
15:45 32,2 31,9 30,7 153
16:00 32,3 32,3 31,0 153
16:15 31,9 31,9 31,0 Guardar equipamento
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para o cálculo de sobrecarga térmica foram utilizadas as seguintes metodologias:


 NR-15, que estabelece se há insalubridade;
 NHO-06 e NR-09, para compor o programa de prevenção de riscos
ambientais.

As duas metodologias são similares, porém a NHO-06 e a NR-09 consideram o


incremento de sobrecarga térmica em função da vestimenta.

4.1. INSALUBRIDADE

Para o cálculo de insalubridade foi utilizada a metodologia descrita na NR-15.A taxa


metabólica está em [W] e posteriormente convertida para [kcal/h].

Tabela 7 – IBUTG “1”

Taxa metabólica
Hora Tg Tbs Tbn Ponderada IBUTG
[W] [kcal/h]
[kcal/h]
12:15 30,2 30,2 30 550 472,91 30,06
12:30 30,5 30,5 30,1 550 472,91 30,22
401,12
12:45 30,6 30,6 30,1 550 472,91 30,25
13:00 30,6 30,6 30,1 216 185,73 30,25
IBUTG 30,20
Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

O período avaliado IBUTG “1” excede o limite de tolerância, a atividade do período é


pesada. Como o ambiente é de difícil controle, a melhor alternativa sugerida seria a
de mecanizar o processo de coleta de sedimentos. O limite de tolerância para esta
situação não deve ultrapassar 30,00 (IBUTG para locais com descanso no próprio
local de trabalho).

_________________________________________
1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
49

Tabela 8 – IBUTG “2”

Taxa metabólica
Hora Tg Tbs Tbn Ponderada IBUTG
[W] [kcal/h]
[kcal/h]
15:30 32,2 31,8 30,7 153 131,56 31,11
15:45 32,2 31,9 30,7 153 131,56 31,12
161,01
16:00 32,3 32,3 31 153 131,56 31,39
16:15 31,9 31,9 31 290 249,36 31,27
IBUTG 31,22
Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

O período avaliado IBUTG “2” excede o limite de tolerância, a atividade do período é


leve/moderada. Como o ambiente é de difícil controle, a melhor alternativa seria a
adoção de pausas durante o período laboral. O limite de tolerância para esta
situação não deve ultrapassar 30,00 para atividades leve e 26,7 para atividades
moderadas (IBUTG para locais com descanso no próprio local de trabalho), em
ambas situações os valores foram excedidos.

Os dois períodos avaliados deram resultados insalubres, e medidas corretivas


devem ser estabelecidas, tais como as sugeridas a seguir:
 Mecanização de atividades mais pesadas como a execução do ensaio de
sedimentos;
 Utilização de barreira refletora no barco;
 Períodos de descanso;
 Utilização de ferramentas de trabalho mais leves, substituir o cabo de aço por
cordas;
 Disponibilização de água e outros líquidos para repor os sais perdidos;
 Exames periódicos específicos;

_________________________________________
1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
50

Figura 31 – Sugestão de cobertura para barco

Fonte: Martinelli Pesca (2020)

Medidas de caráter preventivo também devem ser adotadas:


 Treinamentos para identificação dos sintomas decorrentes da exposição;
 Condutas a serem adotadas em situações de emergência;
 Interrupção do trabalho quando um membro da equipe apresentar sintomas
de sobrecarga térmica;
 Mapeamento dos pontos de atendimento médico mais próximos;
 Redução do tempo de exposição.

4.2. NHO-06 e NR-09

Para a análise feita de acordo com a NHO-06 deve-se considerar o incremento de


vestimenta. O ambiente em que os trabalhadores estão expostos possui temperatura
do bulbo seco próxima à temperatura do bulbo natural, fisicamente isso significa que
o ar está próximo da condição de saturação, o que dificulta a perda de calor corporal
por evaporação, e acentua a condição de insolação (Ashcroft, 2001). Nesta situação
vestimentas de qualidade, que não favoreçam a retenção do suor, são
extremamente necessárias para favorecer o conforto térmico destes trabalhadores.

O uniforme disponibilizado pela organização para os trabalhadores dessas


atividades são:
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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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 Camisetas de gola careca: tecido de poliamida e poliéster, gramatura de


120g/m²; malha dupla-face que apresenta de um lado microfibra de poliéster
levemente trabalhada e do outro lado aparece a poliamida com efeito
"furadinho", tecnologia “dry”, na cor azul marinho;
 Calças com conceito easy care (fácil de lavar, seca rapidamente e não
precisa ser passado a ferro). Cós reto na frente com fecho e passante, perna
destacável com zíper que a transforma em bermuda. Baixa taxa de absorção
e retenção de suor. Tecido RIP STOP com proteção UV 50+; tecido de
Poliamida Amni UV50+ - 100% poliamida;
 Chapéu tipo australiano/ safari: confeccionado em tecido com proteção raios
UVA e UVB, 67% algodão e 33% poliéster, gramatura 260,0 g/m2, com abas
pespontadas de 11 cm e velcro lateral para prender, parte interna com a
lateral forrada em tecido sintético, alça com regulagem, forrado e pespontado
e com botão na parte posterior para prender a aba quando necessário. Cor:
caqui.

Figura 32 – Uniforme

Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Os uniformes fornecidos favorecem a evaporação do suor, e não interferem na


sobrecarga de estresse térmico, portanto o incremento de ajuste do IBUTG em
função da vestimenta é de 0ºC.

_________________________________________
1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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Tabela 9 – IBUTG “1”

Taxa metabólica
Hora Tg Tbs Tbn Ponderada IBUTG
[W]
[W]
12:15 30,2 30,2 30 550 30,06
12:30 30,5 30,5 30,1 550 30,22
466,50
12:45 30,6 30,6 30,1 550 30,25
13:00 30,6 30,6 30,1 216 30,25
IBUTG 30,20
Fonte: Arquivo pessoal (2020)

O limite de exposição da situação IBUTG “1” para trabalhadores aclimatados para a


taxa metabólica de 466,50W é de 26,0ºC, e o nível de ação é de 22,3ºC. De acordo
com as referidas normas, medidas de controle devem ser tomadas e o risco compor
o PPRA.

Tabela 10 – IBUTG “2”

Taxa metabólica
Hora Tg Tbs Tbn Ponderada IBUTG
[W]
[W]
15:30 32,2 31,8 30,7 153 31,11
15:45 32,2 31,9 30,7 153 31,12
187,25
16:00 32,3 32,3 31 153 31,39
16:15 31,9 31,9 31 290 31,27
31,22
Fonte: Arquivo pessoal (2020)

O limite de exposição da situação IBUTG “2” para trabalhadores aclimatados para a


taxa metabólica de 187,25W é de 30,5ºC, e o nível de ação é de 27,8ºC. De acordo
com as referidas normas, medidas de controle devem ser tomadas e o risco compor
o PPRA.

De acordo com a NR-09 como medidas corretivas devem reduzir a exposição


ocupacional ao calor a valores abaixo do limite de exposição são:

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1
Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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 Adequar as rotinas de trabalho;


 Alternar as rotinas com maiores taxas metabólicas para serem realizadas
durante o início da manhã, ou em períodos mais amenos;
 Disponibilizar locais mais amenos para os trabalhadores.

A norma ainda prevê a integração com o Programa de Controle Médico de Saúde


Ocupacional (PCMSO), no item 3.2.3:

O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO, previsto


na Norma Regulamentadora nº 7, deve prever procedimentos e avaliações
médicas considerando a necessidade de exames complementares e
monitoramento fisiológico quando ultrapassados os limites de exposição
previstos no Quadro 2 desse anexo e caracterizado risco de sobrecarga
térmica e fisiológica dos trabalhadores expostos ao calor.

Caso medidas preventivas e corretivas não sejam adotadas ou quando essas


medidas não forem suficientes, será caracterizado risco de sobrecarga térmica e
fisiológica com possibilidade de lesão grave a integridade física ou a saúde dos
trabalhadores (NR-09, 2017).

A organização deverá elaborar um plano de emergência contendo minimamente os


seguintes itens:
 Meios e recursos necessários para o primeiro atendimento ou
encaminhamento do trabalhador para atendimento;
 Informação a todas as pessoas envolvidas nos cenários de emergências.

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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5. CONCLUSÕES

Pode-se afirmar que o objetivo deste trabalho foi atingido, porque foi monitorado um
dia de trabalho típico das atividades de hidrometria. Com a ressalva de apenas 4
leituras para o período de uma hora, foi possível calcular o IBUTG desse período.

A partir deste dado foi possível determinar que o Limite de Exposição Ocupacional
foi ultrapassado. Os números obtidos no presente estudo fundamentam os relatos
de câimbras, dores de cabeça e mal-estar durante a execução das atividades.

Aconselha-se que os processos envolvidos nesta atividade sejam mecanizados,


sejam instaladas coberturas refletoras do calor no barco, a adoção de períodos de
descanso, e a substituição das ferramentas atuais de trabalho por ferramentas mais
leves, além da disponibilização de água fresca. A organização ainda deve se
preocupar com os exames periódicos dos funcionários.

Atividades efetuadas com sobrecarga térmica possui poucas patologias crônicas,


como exemplo a catarata do calor. Os efeitos desta exposição são agudos e o
trabalhador pode vir a óbito rapidamente, o que reforça a necessidade de cumprir os
quesitos legais estabelecidos nas Normas Regulamentadoras 15 e 09, e na Norma
de Higiene Ocupacional 06 da Fundacentro.

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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REFERÊNCIAS

ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Hygienists. Limites de


Exposição Ocupacional para Substâncias Químicas e Agentes Físicos &
Índices Biológicos de Exposição. Traduzido pela ABHO, 2017.

Ashcroft, Frances M. A vida no limite: a ciência da sobrevivência. Tradução.:


Borges, M. L. X. de A. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 315.

BRASIL, Fundacentro. Norma de Higiene Ocupacional 06 – Avaliação da


Exposição Ocupacional ao Calor: procedimento técnico: avaliação da
exposição ocupacional ao calor. 2ª edição. São Paulo: Fundacentro, 2017. p.47.

BRASIL, Secretaria de trabalho do Ministério da Economia (ME). Norma


Regulamentadora 09 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-
09-atualizada-2019.pdf. Acesso em 24/02/2020

BRASIL, Secretaria de trabalho do Ministério da Economia (ME). Norma


Regulamentadora 15 – Atividades e Operações Insalubres. Disponível em:
http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-
regulamentadoras/norma-regulamentadora-n-15-atividades-e-operacoes-insalubres.
Acesso em 11/02/2020

BREVIGLIERO, E.; POSSEBON, J. SPINELLI, R. Higiene ocupacional: agentes


biológicos, químicos físicos. 9ª ed. São Paulo, 2017. p. 449.

COUTINHO, A. S. Higiene e Segurança do Trabalho. In: Mattos, F. S. M.; Másculo,


F. S. (Orgs.). 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. p. 247-269

CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Boletim de


monitoramento compartilhado do rio Paraopeba. Disponível em:

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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http://www.cprm.gov.br/sace/boletins/Paraopeba/20190222_21-20190222%20-
%20214156.pdf. Acesso: 15/02/2020.

INSTRUTHERM. MEDIDOR DE STRESS TÉRMICO MOD. TGD-200 CONFORME


NOVA REVISÃO NHO 06. Disponível em: https://www.instrutherm.net.br/seguranca-
e-medicina-do-trabalho/temperatura-e-umidade/medidor-de-stress-termico-mod-tgd-
200.html. Acesso em 17/02/2020.

MARTINELLI PESCA. Capota de Sol + Capa de proteção (lona nylon 600).


Disponível em: https://www.martinellipesca.com.br/mart-27935. Acesso em
25/02/2020.

OTT hydromet. Hydrolab MS5 - Mulitparameter Mini Sonde. Disponível em:


https://www.ott.com/en-us/products/water-quality-2/hydrolab-ms5-mulitparameter-
mini-sonde-57/. Acesso em: 15/02/2020

SONTEK. RiverSurveyor discharge, bathymetry and current profiling, S5 and


M9. Disponível em: https://www.sontek.com/media/pdfs/riversurveyor-s5-m9-
brochure.pdf. Acesso em 17/02/2020.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Escola Politécnica Programa de Educação


Continuada. Higiene do Trabalho- Parte A. Epusp- EAD/ PECE, 2018a. 153p

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Escola Politécnica Programa de Educação


Continuada. Higiene do Trabalho- Parte B. Epusp- EAD/ PECE, 2018b. 415p.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Escola Politécnica Programa de Educação


Continuada. Legislação e Normas Técnicas. Epusp- EAD/ PECE, 2018c. 216p

USGS - United States Geological Survey. US DH-59 Depth integrating suspended


hand line sampler. Disponível em:
https://water.usgs.gov/fisp/products/4101005.html. Acesso em: 17/02/2020.

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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.
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ANEXO

CERTIFICADO DE CALIBRAÇÃO DO MEDIDOR DE ESTRESSE TÉRMICO

Figura 33 – Certificado de calibração do medidor de estresse térmico

Fonte: Arquivo pessoal (2019)


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Citação é a menção no texto de informações ou pontos de vista de outros pesquisadores, o que dá
ênfase aos aspectos abordados e contribui para a credibilidade do trabalho.

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