Disciplina: RAD5044 – Laboratório de Pesquisa em Sustentabilidade nas
Organizações: Desenvolvimento de Competências Empresariais. Profa. Dra. Adriana Caldana Aluno: Júlio César Teixeira Artigo: One Step Forward, Two Steps Back: How Negative External Evaluations Can Shorten Organizational Time Horizons 1) Síntese do artigo: O artigo tem como objetivo principal avaliar a assimetria de avaliações externas nos horizontes temporais organizacionais, sendo a principal hipótese desenvolvida a de que a diminuição dos intervalos de tempo organizacional em função de downgrades de analistas financeiros é maior do que o alongamento desses intervalos, na ocorrência de upgrades. Os autores afirmam que o estudo apresenta duas formas de contribuição para a comunidade científica, uma teórica, ao dar ênfase nos aspectos cognitivos que levam ao encurtamento dos horizontes temporais das organizações, e outra, relacionada a metodologia, por meio do desenvolvimento de uma medida cognitiva obtida através da análise textual dos relatórios trimestrais das recomendações dos analistas do mercado financeiro para as 98 empresas extrativistas, objeto de estudo. Na sequência são apresentadas a revisão da teoria, as fundamentações das hipóteses formuladas, bem como sua explicitação formal, o método utilizado para afirmação ou refutação delas, a fonte de dados, os resultados, suas análises e considerações finais, nas quais, basicamente, todas as 5 hipóteses são confirmadas. 2) Apreciação crítica: Em minha opinião o artigo apresenta muitas lacunas passíveis de questionamento, cujo aprofundamento não cabem nesse momento. Entretanto irei mencioná-las resumidamente a seguir. A base para a formulação da hipótese principal é a teoria da perspectiva, que formula, que nós somos propensos a dar um peso maior as perdas do que aos ganhos, ao avaliarmos alternativas. Então do ponto de vista teórico, isso já está bastante sedimentado, e daí derivar que recomendações de downgrade de analistas financeiros tem um peso maior do que upgrades, nos horizontes temporais da organização, não representa um achado totalmente novo. Continuando, será que somente essa análise financeira desfavorável é a responsável pelo encurtamento dos horizontes temporais? Muitos outros aspectos podem ser levantados, por exemplo, o tipo de atividade da empresa, as crenças subjetivas dos gestores, vocação para planejamento ou não, o cenário econômico no qual uma decisão é tomada, sendo assim, uma forte limitação é que a pesquisa foi realizada em um único setor da economia, o extrativista, não passível de extrapolação para as demais organizações. Entretanto, gostaria de chamar a atenção para o que talvez seja o maior problema do estudo. Os autores querem demonstrar as causas do encurtamento dos horizontes temporais, atribuindo um peso maior às avaliações externas negativas de analistas financeiros, tomadas nas teleconferências trimestrais de resultado. Pois bem, existe alguma coisa mais de curto prazo do que uma análise trimestral? A própria fonte de dados está enviesada, pois ela é voltada muito mais para o curto prazo, do que para o longo prazo, por que não utilizar relatórios anuais, evitando-se ruídos temporários de um trimestre ruim ou bom? Outro ponto, em qual aspecto o mercado está focando naquele momento em que uma recomendação de compra ou venda foi feita? Existe uma crise econômica? Esta crise é geral ou somente para um setor específico? E os analistas, não tem vieses também? As respostas seriam diferentes para outros setores, e a capacidade de pagamento das empresas, levariam a elas a focar mais no curto ou no longo prazo? Entre as 98 empresas utilizadas há uniformidade em todos esses parâmetros? As motivações dos dirigentes são as mesmas a ponto de poder-se afirmar que as respostas das organização são uniformes? As bases sobre as quais as hipóteses estão formuladas também apresentam alguns problemas. A primeira é decorrência direta da teoria da perspectiva. A segunda afirma que avaliações positivas não sejam capazes de alargar o horizonte temporal, mas não explicitam de onde tiram essa conclusão. A quarta hipótese está apoiada em estudos publicados há bastante tempo, portanto, consolidados, donde se pergunta, qual a contribuição à teoria, uma vez que somente corrobora o que já se sabia. Por último, a quinta hipótese não leva em consideração a disponibilidade de capital das empresas, de modo a demonstrar como isso influi na decisão de investimentos de curto e longo prazo. O artigo ainda não explicita como alguns dados foram obtidos, ao afirmar que foram incluídas variáveis fictícias. Quais são essas variáveis? Qual o critério de escolha delas? E, finalmente, qual a contribuição metodológica? Nunca foi utilizado a análise textual para a criação de um construto?
3) Relacionamento com outras teorias, perspectivas ou áreas: Antes de
apresentar outras teorias com as quais o artigo pode se relacionar, se faz necessário demonstrar que em um momento, os autores descrevem que os investidores de curto prazo representam, em média, uma participação de 1% a mais na composição acionária. Esse fato não é explorado, e pode-se supor que somente isso já seria um dos motivos que levaria ao encurtamento dos horizontes temporais da organização, o que em nenhum momento é comentado. Na discussão os autores afirmam ainda que a cognição dos horizontes do tempo afetam a tomada de decisões das empresas, e que estes são influenciados por avaliações externas. Bem, implementar ações, não baseadas em processos cognitivos, ou contrárias a estes, somente seria esperado de sujeitos com algum grau de debilidade mental. Qual a contribuição dessa afirmação? Finalizando, podemos vislumbrar relações do presente estudo com outras teorias, como por exemplo, a teoria da agência, em que os administradores estão mais propensos a buscar resultados de curto prazo para se beneficiarem, ainda que sua remuneração esteja atrelada, em parte, a resultados de longo prazo, pelo simples motivo de que a longevidade em cargos de alta direção é bastante reduzida. Outra teoria relacionada, seria a teoria de sistemas, pois a empresa é influenciada por diversas variáveis externas e internas que influenciam a tomada de decisão, que inclusive são negligenciadas no presente estudo.