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FILOSOFIA DO DIREITO E HISTÓRIA

Para compreender a Filosofia do Direito é preciso investigar o que os filósofos


disseram sobre o direito e a justiça ao longo da história da Filosofia.
Foi com os gregos que o Direito começou a se revelar sistematicamente. Sócrates ao
aceitar tomar o veneno que lhe ofereceram, deixou fixada a importância de se respeitar as
leis. Ele podia ter optado por recorrer ao Pritaneu e ficar livre da morte; mas ele obedeceu às
leis e aceitou a sentença, pois acreditava firmemente que não se faz justiça com as próprias
mãos. Ademais, com sua grande inteligência e perspicácia, ele poderia ter tentado corromper
seus algozes, convencendo-os a não o condenar em troca de algum favor ou benefício. No
entanto, ele preferiu seguir a lei de modo integral. Atualmente, esses dois aspectos (tanto da
obediência às leis quanto da honestidade no processo) continuam sendo de suma importância
e perfeitamente atuais. Com as notícias divulgadas atualmente, vêm à tona diversas
informações nesse sentido, de pessoas que tentam burlar o processo jurídico e levar os
juristas a ficarem do lado do erro.
Em Platão surge uma íntima relação entre o justo e a pólis. Em suas obras “A
República” e “As leis” ele trata diretamente da justiça social. Platão defendia que, para a
justiça ser aplicada, o governante deveria ser uma pessoa que tivesse alcançado a episteme
(conhecimento científico), logo, um filósofo. Somente o rei filósofo não seria capaz de
elaborar as leis da cidade a partir de sombras e aparências.
Depois de Platão, seu discípulo Aristóteles também filosofou sobre o direito,
considerando-o como uma arte. Para ele, “o justo é uma ação, de tal sorte que homem justo é
o que faz atos justos”. Contudo, a distribuição dos atos justos deve visar à equidade, a norma
geral deve ser interpretada particularmente em cada caso concreto. Isso é a equidade, a qual
pode ser manipulada, visto que o direito é refém do homem que o formula, que o interpreta e
que o aplica. Sendo assim, é preciso formar o homem, formá-lo como virtuoso, formá-lo
como correto, formá-lo como justo, a fim de que o direito efetive a prática da justiça.
Com o surgimento e o predomínio da filosofia cristã durante a Idade Média, o
pensamento jurídico também foi alterado. Se com o Aristóteles, o direito é a arte do bem e da
equidade, com Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, o direito deve estar fundamentado
na vontade divina. Em sua obra “Civitas Dei”, Santo Agostinho descreve a cidade ideal a
partir dos valores cristãos da caridade, da paz e da comunhão com Deus. Para ele, o justo é
aquele que Deus pronuncia como tal. Já São Tomás de Aquino, em sua “Suma Teológica” se
preocupou em listar os três tipos de leis que regem a vida humana: lei natural, lei eterna e lei
humana. A lei eterna é a vontade de Deus. A lei natural é aquela obtida por meio do
raciocínio do homem. E a lei humana é aquela inventada que trata das aplicações particulares.
Na Idade Moderna, tanto o modelo artesanal aristotélico quanto o modelo teológico da
patrística e da escolástica foram superados, dando lugar à técnica. “O direito moderno torna-
se previsível, reprodutível, controlável”. Somente na modernidade ficou minuciosamente
estabelecida a associação entre direito e Estado. “O justo passa a ser a aplicação correta da
norma estatal”.
Com a filosofia dos contratualistas, por exemplo, foi determinado que somente o
Estado poderia agir por intermédio da força de forma legítima, pois os indivíduos deveriam
abrir mão de alguns direitos, como o direito de utilizar da violência em nome de si mesmo.
Somente com Immanuel Kant, o filósofo da revolução copernicana do conhecimento,
o direito adquire uma abordagem de universalidade racional jamais vista anteriormente. Kant,
ao propor o imperativo categórico como critério de legitimidade de uma ação, acabou
estabelecendo que as pessoas devem agir apenas segundo uma máxima tal que possa querer
ao mesmo tempo que se torne lei universal. Com isso, a justiça é universal e acessível a todos
os homens dotados de razão.
SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES NA VISÃO DA FILOSOFIA DO DIREITO
Alfredo de Aguiar Luz Junior
Gabriela Guimaraes Nassyrios
Pedro Paulo Viana Rossa
Thaís Salomão Salhab
Thaiz Helena Nepomuceno dos Santos

INTRODUÇÃO
O presente artigo busca traçar um paralelo entre as visões dos Filósofos Sócrates, Platão e
Aristóteles com o Direito, onde a teoria filosófica se aplica o Direito.
Notar-se-á que por mais que Platão e Aristóteles fossem discípulos de Sócrates, cada um
apresentava seus conhecimentos sem repetirem as ideias uns dos outros.

SÓCRATES (470 - 399 A. C)
- Não deixou registros, apenas discípulos;
- Conhecido como parteiro de ideias;
- Levava o indivíduo a negar aquilo que afirmava.
O método socrático consistia em ironia e maiêutica. A ironia visa eliminar
a doxa (opinião), assim ficava perguntando para que as pessoas se contradissessem, com a
finalidade de que as reconhecessem que não tinha conhecimento sobre o assunto tratado.
A maiêutica visa a epsteme (conhecimento, ciência) através da dialética. Da maiêutica
tem-se a obstetrícia em grego, que é a arte do parto para animais, mas aqui usado como o
parto de ideias.
- Opinião não é conhecimento;
- Ortodoxo é aquele que toma sua opinião como única e não aceita discutir;
- “Só sei que nada sei”;
- Espsteme é quando “cai a ficha”.
Para Sócrates e Platão, conhecimento não é algo que se ensina, se transmite, o único que
pode chegar ao conhecimento é o próprio indivíduo, raciocinando.

O JULGAMENTO DE SÓCRATES
Com a utilização de seu método, criou muitas inimizades. Acabou por ser, pela acusação de
não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novas divindades e corromper a juventude.
Após um julgamento conturbado acabará por ficar com duas opções, ou a pena de morte, ou
ser alimentado no Pritaneu, enquanto fosse vivo, como herói ou benemérito da cidade.
Vendo-se entre a morte e as impossíveis recompensas, para não abrir mão de sua própria
consciência, Sócrates optara pela morte.
Conflito entre a justiça e a segurança jurídica, respeito às leis positivas.
A obediência às leis é a condição necessária, mas não suficiente para realizar a justiça
(ideia do bem), dizia que “era a única possibilidade de fazer justiça, pois não se faz justiça
com as próprias mãos, pois ao desrespeitar já esta se cometendo uma injustiça”.
Textos de apoio:
- Apologia de Sócrates;
- Criton;
- Fedon.

PLATÃO (429 - 347 A. C)


- Grande discípulos de Sócrates;
- Foi quem escreveu tudo o que conhecemos sobre a filosofia de Sócrates.
Os pré-socráticos faziam teoria de tudo, o que teria sido o erro deles. Depois de Sócrates se
pensou em primeiro fazer uma teoria sobre a própria teoria, sobre a capacidade cognitiva
humana, dizendo quais são os limites.
Reação contra o relativismo sofista – cada objeto seria único, singular, por exemplo, duas
cadeiras diferentes teriam teorias diferentes, com uma teoria para cada cadeira, mesmo que
só mudasse a cor, o que contradiz a experiência. Dessa forma, para se fazer uma teoria,
precisa-se de um método.
Problematização do conhecimento – não pode confundi-los, como faziam os pré-
socráticos.
1. Conhecimentos sensíveis – apreendidos através dos sentidos, conhecimentos do
individual, particular, empírico. É relativo, pois depende de quem faz a experiência, o que
pode variar que indivíduo para indivíduo.
2. Conhecimentos inteligíveis – apreendidos através do intelecto, conhecimento das Ideias
(eidos). Racional, por exemplo, conhecimentos matemáticos, buscando as essências,
o eidos.
- Caso só tivéssemos o conhecimento sensível, cada conhecimento seria único e singular,
dessa forma os sofistas deixam de ter razão quanto a isso.
- O que os conhecimentos inteligíveis conhecem são os eidos, no sentido de essência, de
arquétipo ideal perfeito de qualquer coisa, por exemplo, o arquétipo cadeira só é alcançado
pela via inteligível, pois é a intelecção, o eidos, do que é cadeira que faz com que
entendamos que todas as outras variações de cadeiras pertençam ao gênero cadeira.
* Então, grande parte da confusão feita pelos pré-socráticos, dava-se pela confusão desses
dois principais tipos de conhecimento.

MITO DA CAVERNA (A REPÚBLICA, LIVRO III)


É uma história contada por Platão, que tem duas vertentes, política e epistemológica.
É uma forma metafórica de tratar dessas coisas que são complicadas, deixando o texto mais
acessível para quem não era filósofo.
Nessa história, as pessoas vivem acorrentadas em uma caverna e um dia a corrente de uma
delas rompe, permitindo que ela possa sair do lugar em que esta, de onde só via sombras,
dessa forma ela poderia ver o que eram as sombras na realidade.
Quando esta pessoa vai contar para as outras pessoas, elas a matam, pois apesar de que
fosse verdade elas não viram, então para elas era um desaforo.
*Essa pessoa que morre é Sócrates, por seu compromisso com a verdade e muitas vezes as
pessoas não querem a verdade, preferem viver na doxa, que aqui é a metáfora política.
O compromisso epistemológico que corresponde à parte sensível são as sombras, e a vida
inteligível é o sujeito que consegue se soltar e ao ver a luz fica cego por um momento,
perdendo o senso de realidade, que é dado pela sensibilidade, mas mesmo assim ele se
arrisca a ir para fora da caverna, e pela sua razão, pela via inteligível conhece a verdade,
deixando de lado a aparência, buscando a essência.

A REPÚBLICA
- Principal livro de Platão;
- Trata de um projeto de como deveria ser uma sociedade justa e perfeita.
- O nome República é uma adaptação feita pelos Romanos do que anteriormente
era Dipoliteia perité tes dikes, que significava estudo da polis sob a justiça.
Defendia que uma sociedade justa era uma sociedade estratificada em três classes:
1. Filósofos – razão – direção;
2. Guerreiros – força, coragem, defesa, ordem;
3. Trabalhadores – sensibilidade, nutrição, economia.
Os filósofos seriam os responsáveis pela direção, pelo governo, pela elaboração das leis,
representariam simbolicamente a razão, a cabeça.
Desse modo, os filósofos não se deixariam enganar pelas aparências, pois teriam a via
inteligível do conhecimento mais desenvolvida, por isso conseguem, mesmo desconfiando
das aparências, enxergar a ideia do bem, do eidos, o que faria com que estivessem mais
aptos a elaborar boas leis.
Os guerreiros representariam a força, coragem deste Estado e cuidariam da defesa e da
ordem que mantém a organização interna, como o corpo.
Os trabalhadores seriam responsáveis pela produção de matérias, bens, alimentos,
riquezas, comércio, construções, funcionando como a base.
Para saber quem entraria em qual classe, Platão propõe o seguinte:
- Acabar com a família, pois a família prejudica o interesse público, colocando o interesse
privado antes do público, devido às relações amorosas e de bens. Assim, todas as crianças
que nascessem deveriam ser criadas e educadas pelo Estado sem a interferência dos pais,
possibilitando que o indivíduo descobrisse qual é a sua aptidão natural sozinho, esta aptidão
esta ligada com o eidos, a psique de cada indivíduo.
- Filósofos e Guerreiros seriam proibidos de ter qualquer vida privada, somente a vida
pública lhes seria cabida, ou seja, não poderiam estabelecer qualquer tipo de união estável e
não poderiam acumular riquezas não existir desvio de funções.
- Trabalhadores poderiam acumular riquezas e ter família, mas não criar os filhos.

CONCEPÇÃO ORGÂNICA DE JUSTIÇA


Não tinha igualdade, nem liberdade – Arete.
Sendo assim, para Platão a Justiça seria o equilíbrio dessa sociedade, o equilíbrio entre as
partes. Os indivíduos para ele seriam como células de um corpo e quando uma não realiza
sua função prejudica o corpo, com isso seria necessário elimina-la (eugenia – busca o
melhoramento da raça).
A justiça não começa com os indivíduos, é uma concepção orgânica de justiça, porém acaba
chegando neles.

COMUNISMO ARISTOTÉLICO
Comunismo no sentido de tudo ser comum ao interesse de todos, e aristocracia é o governo
dos melhores, dos excelentes (em cada função).
Arquétipo das utopias totalitárias segundo Kalr Popper
Este modelo trata do melhoramento da raça como as células que não realizam sua função.
Não haveria mudança de classes, pois a aptidão se enquadra em todas, o que desregularia o
corpo.
Norma como mimeses da Ideia do Bem
Os filósofos teriam a capacidade de elaborar normas o mais próximo possível
do eidos benéfico, sendo assim o mais próximo da justiça.
Tem-se a ideia de uma sociedade o mais justa possível.
Estrutura da psique humana (República, Fedon)
Entende-se aqui, a psique como a alma.
1. Racional – conhecimento;
2. Irascível – paixões (amor, ódio, inveja, desejo de poder, coragem);
3. Concupiscível – apetites (prazer, dor).
Podendo-se fazer um paralelo com a estrutura da sociedade perfeita, pois fica divida em três
classes e cada uma corresponde a uma parte da sociedade e aqui à alma humana,
respectivamente em 1, 2 e 3, onde a 3, que seria a base do Estado, passa a ser o ‘ventre’ do
indivíduo.
Observa-se então que há um paralelo entre a estrutura da psique e a da republica, onde ele
dirá que uma sociedade equilibrada, que na visão dele ser a aristocracia, tende a produzir
indivíduos equilibrados e uma desequilibrada tente a produzir desequilibradamente os
indivíduos.
O que move o ser humano são os impulsos – paixões e apetites – e para Platão, para a
sociedade ser justa, a parte racional humana tem que controlar as outras duas, determinando
as direções humanas.

FORMAS DE GOVERNO (REPÚBLICA, LIVRO VIII)


Segundo ele, qualquer sociedade se enquadra em uma dessas formas, descrevendo como
uma sociedade pode sair da melhor forma de governo e chegar na pior, dessa forma, na
visão de Platão, sair da Aristocracia e chegar na Tirania.
Aristocracia – governo dos excelentes, busca do pleno bem.
Timocracia – governo dos melhores, mas que foram corrompidos pela paixão.
Oligarquia – governo de poucos (ou de um grupo), dos que governam pelo interesse
próprio, o que faz com que o interesse do resto seja excluído e o extremo da exclusão são os
mendigos, e segundo ele, ter mendigos nas ruas de uma cidade é sinônimo de que a
sociedade esta doente. Em sua história, por exemplo, diz que podiam ser os filhos dos
timocratas, mas não é porque não filhos que vão ter as mesmas aptidões. Trazendo a visão
de Platão para a atualidade, o Brasil seria considerado uma Oligarquia.
Democracia – quando os que foram excluídos da oligarquia tomam o poder, por meio de
um golpe de estado. É a forma de máxima liberdade, só que para isto fica muito próximo da
máxima escravidão (tirania). Platão não gosta de Democracia, pois mataram Sócrates em
uma democracia direta, sem motivos concretos. Para ele é uma forma de governo instável,
onde todos podem decidir, não só aqueles que tem aptidão, o que pode levar à uma guerra
civil, pois é de fácil manipulação pela retórica.
Tirania – sujeito que tira a sociedade de uma guerra civil tem a ele delegado plenos
poderes e quando querem o tirar o poder, mesmo quando realizou seu objetivo, como ele
tem plenos poderes não vai querer devolver e se necessário usara os poderes que tem para
impedir que isso ocorra. Dando assim a máxima forma de escravidão e perseguição aos
críticos.
A expulsão do poeta – arte da cidade para evitar revoltas sociais e desordem social, por
isso, não é a toa que as utopias totalitárias vão controlar a arte.
“As Leis” – ultimo livro de Platão onde ele escreve e depois reformula vários conceitos da
República, amenizando-os, por exemplo, a aristocracia será mesclada com a democracia,
mas ainda prevalece, e afirma ainda que a lei esta acima de tudo.

ARISTÓTELES (384 – 322 A. C)


Vai criticar, romper, com o dualismo de Platão que sugere a existência de dois planos.
Traz as ideias platônicas para a imanência do mundo:
1. Hilemorfismo – que segundo Aristóteles, é todo ser composto de forma e matéria, tudo
aquilo que é sensível a matéria, o que se pode toca, experimentar, perceber, e pela
intelecção é possível chegar a uma forma (Hile = matéria; mofismo = formas);
2. Teleologia – estudo dos fins (teleos = finalidades). Na concepção de Aristóteles, o
universo é teleológico, ou seja, tudo o que existe tem uma finalidade, e é justamente este
fim que determina como as coisas são, sendo assim, tem-se a relação entre forma e matéria,
pois a forma que a matéria terá determina o que ela será.
Por exemplo, para Aristóteles, a finalidade do homem é a felicidade.
3. Ato/ Potência – Aristóteles buscava explicar o movimento e a modificação das coisas
com esta ideia, como por exemplo, o conhecimento. Então para ele, uma coisa esta em ato
ou potencia, por exemplo, uma semente é arvore em potencial, ela tem a finalidade de ser
uma arvore, e se ela se torna uma arvore, ela se atualiza, e do ponto de vista de um
marceneiro ela passa a ser uma mesa em potencial. Dessa forma, pode-se dizer que o que é
vivo é morto em potencial.
Aqui imanência aquela que esta compreendida na própria essência do todo, é aquilo que é
acessível, o contrario de imanência é a transcendência.
A psique (alma) é a forma dos seres que se movem por si mesmos, o que para ele não tem
nada de místico, afirmando ainda que a alma se divide em diferentes graus:
Alma vegetativa – dos seres mais simples, responsáveis pelas funções mais simples,
aqueles que não sentem e não percebem, por exemplo, uma planta. (Daí que se tem a
expressão ‘coma vegetativo’);
Alma sensitiva – tem a capacidade de sentir, perceber e interagir com os outros, por
exemplo, animais, peixes;
Alma racional – alguns seres com capacidade de sentir, pensar, raciocinar (assim que
explica o conhecimento, pois, segundo ele, só se desenvolve através da política em
sociedade), por exemplo, homem, no caso de Aristóteles, os gregos, homens, atenienses.
O homem só se desenvolve (racionalmente) se vive em sociedade política, caso contrário
vai ter só potencialidade, mas se não tiver as condições não desenvolverá sua alma racional,
o que é completamente diferente do pensamento cristão, que o homem não se contaminaria
pelo pecado original, quando isolado da sociedade, portanto falaria a língua de Deus.
Conhecimento é a reação entre as formas, onde se considera a matéria separada das
formas, e só a alma racional pode fazer isso.

ÉTICA A NICÔMACO
Importante obra de Aristóteles, onde o livro V é um dos mais importantes.
O homem só existe dentro da Polis, ‘zoon politikon’ é a organização a partir das leis.
Afirma que a Polis é ontologicamente anterior à própria existência do homem, que  só se
desenvolve em meio político.
Tudo tem uma essência que é determinada por um fim, de acordo com a teleologia.
A finalidade do homem é a felicidade (eudaimonia), no entanto, para Aristóteles a
felicidade não é o estado de felicidade, o sentimento, e sim a ação, a atividade através da
qual o homem realiza plenamente as suas aptidões, a prática de virtudes (que para ele é a
excelência, Arete).
As virtudes aqui são sempre o meio termo, a moderação (sophorosýse), assim, tanto se
exceder quanto se abster em algo é um vicio, e a virtude é o equilíbrio, dessa forma pode-se
dizer que a justiça, para Aristóteles, é o equilíbrio.
Além disso, as virtudes são divididas entre:
1. Dianoéticas – as que são mais teóricas, racionais como arte, ciência, sabedoria,
intelectos e prudência (phróneses).
Prudência que para ele é a capacidade de moderação intelectual de distinguir o certo,
errado, justo e injusto, é a existência de que nos organizemos em sociedade.
2. Éticas – as que vem do étos (caráter que é conseguido através do hábito, por exemplo,
escovar os dentes, que se desenvolve com a repetição):
I. Temperança – moderação entre dor e prazer, experiência – arte da moderação;
II. Fortaleza ou coragem – moderação entre coragem e covardia;
III. Generosidade – moderação entre ser avarento e pródigo;
IV. Justiça – moderação do justo.
A norma do ponto de vista da virtude é aquela que regula uma conduta, e para Aristóteles, é
justa quando leva a prática da moderação, leva a ter caráter, ou seja, ter temperança,
fortaleza, generosidade e justiça, e as leis tem papel fundamental nisso, pois elas regulam o
cidadão. Leis boas dão forma ao caráter do indivíduo e as ruins o deformam.
Aristóteles vai dizer que para que alguém atinja a plenitude não pode trabalhar, tem que ser
rico, ter escravos e amigos interessantes, e só dedicar o tempo todo, ou seja, quem trabalha
não atinge a plenitude, pois nasceu para ser escravo. Então apenas homens, não mulheres,
ricos, atenienses e com amigos interessantes com essas mesmas características. (Marx
acompanha parte disso)

JUSTIÇA POLÍTICA
1. Natural (physikon dikaion) – tendências universais variáveis à todos os seres humanos,
porém sofrem influencias culturais podendo sofrer modificações, portanto não são
imutáveis como as leis da natureza.
Compara o fogo com o braço direito, pois o fogo será o mesmo em qualquer lugar, porque
depende da combustão, das leis naturais, já o braço direito é mais desenvolvido na maior
parte dos seres humanos, ou seja, é uma tendência e não uma lei natural, podendo se
modificar, por exemplo, um destro se esforçando pode se tornar ambidestro.
Dessa forma ele contraria a crítica que os sofistas fizeram aos pré-socráticos, pois os
sofistas diziam que existissem leis naturais as leis de todos os povos seriam pelo menos
parecidas e Aristóteles diz que existem sim, porém são mutáveis, então o direito natural
pode se modificar, pois não é como as leis da natureza.
2. Convencional (nomikon dikaion) – normas baseadas na pura convenção para dar bases à
ordem, por exemplo, dirigir no Brasil e na Inglaterra.
Modos de aplicação de justiça
1. Distributiva: “a cada um segundo seu mérito”. O critério para determinar o mérito varia.
Numa aristocracia é a excelência, numa politéia é a liberdade, numa oligarquia é a riqueza
ou berço, dessa forma, pode-se concluir que é distribuída do Estado para os indivíduos,
considerando o mérito de cada um. (Proporção geométrica, por exemplo, a pratica de um
crime x fará com que o sujeito receba a pena de 2x para desestimulá-lo de cometer crimes,
o mesmo acontece com as boas ações dos indivíduos, então se fez uma boa ação é
premiado).
2. Corretiva (comutativas, signalagmáticas): “que cada um dê ou receba o que a parte
contrária deve dar ou receber”. Relação de coordenação, equilíbrio dos indivíduos:
I. Voluntária – a relação ocorre sem problemas e por livre vontade.
II. Involuntária – é quando há um desequilíbrio, um abuso, o Estado equilibra pela força
que tem. (Proporção aritimétrica).
Equidade (epieikeia) para ele significa bom senso como instrumento jurídico. A norma é
geral e o caso concreto, assim, o bom senso para usar e adequar a norma, ou seja, adaptar a
lei ao caso concreto. Então para o juiz decidir com equidade, ele teria que imaginar como o
legislador teria elaborado a lei naquele caso.
A Polis objetiva e subjetiva da responsabilidade
- injusto: nexo causal (acontecimento).
- injustiça: vontade (intenção).
Segundo Aristóteles algo pode ser injusto sem ser injustiça. Para configurar o injusto é
necessário demonstrar o nexo causal. Para configurar a injustiça é necessário configurar
além do nexo causal, uma ação voluntária. Ação voluntária é aquela executada de maneira
intencional e sob controle do agente, sem ignorar a pessoa afetada, o instrumento
empregado e o resultado.
Tipos de erro:
- A conduta que causa dano não extrapola a conduta razoável – a ignorância nesse caso
reside no agente.
- A conduta que causa dano extrapola a conduta razoável – a ignorância nesse caso reside
no agente.
- A conduta que causa dano é consciente, mas não é deliberada – a ignorância nesse caso
reside na situação, a pessoa sabe o que esta fazendo, mas esta louco pela paixão.
Formas de Governo (Política, livro III, cap. VIII):
Formas boas: Monarquia, Aristocracia e “Politéia” (constituição)
Formas corrompidas: Tirania, Oligarquia e Democracia.
Monarquia é bom desde que o monarca governe visando o interesse público, o problema é
que ele pode se corromper e o governo virar uma Tirania, governando e visando os
próprios interesses.
Aristocracia é o governo da excelência, dos melhores público, quando visão o interesse
público vira uma Oligarquia.
Politéia é a forma de governo popular, ou seja, os próprios cidadãos que governariam,
quando isso se corrompe vira uma Democracia, não visando o interesse público, pois as
pessoas podem ser manipuladas e vir a acontecer algo que não é certo, como, por exemplo,
a morte de Sócrates.
Aristóteles é o primeiro a esboçar a separação dos “poderes” – no sentido de funções
(Política, livro VI, capítulo XI):
- Assembleia Popular – elaboração das leis (legislativo hoje);
- Magistratura administrativa – escolhem-se os competentes, aptos para administrar
(executivo hoje);
- Magistratura jurídica – conselho dos anciãos, mais experientes, visando dirimir
conflitos (judiciário hoje).
(Magistratura como sendo cargo político)
Dimensões da ação humana
1. Theoria – atividade contemplativa, que não modifica o mundo a princípio;
2. Poiésis – técnica, atividade, prática, tem efeito no mundo (organização, produção);
3. Praxis – mistura theoria e poiésis, uma coisa esta junto com a outra, as duas acontecem
juntas, a ação e o pensamento, é a essência do zoon politikon.

BIBLIOGRAFIA:
REALE, Miguel. "Filosofia do Direito" - 20ª Ed. Saraiva: 2002.
MASCARO, Alysson Leandro. "Filosofia do Direito" - 4ª Ed. Atlas: 2014
BITTAR, Eduardo C. B.; Almeida, Guilherme Assis de. "Curso de Filosofia do Direito" -
11ª Ed. Atlas: 2015
ARISTÓTELES E O DIREITO
Gabriel Chalita

A concepção de direito em Aristóteles está profundamente interligada à sua concepção de


justiça. O direito existe para que a justiça prevaleça. O direito existe para que o sistema
normativo convirja para a realização da justiça. O direito existe para que um juiz se aplique
à equidade. Já no Livro I, da Ética a Nicômaco, ele relaciona conhecimento e justiça. Volta
a um conceito já defendido por Platão de que o erro se dá muito mais pela ignorância do
que pela opção. Cada homem julga corretamente os assuntos que conhece e é um bom juiz
de tais assuntos. Assim, o homem instruído, a respeito de um assunto, é um bom juiz em
relação ao mesmo, e o homem que recebeu uma instrução global é um bom juiz em
geral.5  Quer com essa assertiva valorizar os dois aspectos. O conhecimento particular, o
assunto em tela, o problema específico. E, também, o outro aspecto. O geral. O que os
gregos convencionaram chamar de Paideia, conhecimento da humanidade. Um juiz que não
conhece de humanidade não conseguirá julgar como se deve um caso específico, porque o
caso específico ocorre na humanidade. De outra sorte, um juiz que conhece de humanidade,
mas não se debruça sobre o caso que haverá de julgar poderá cometer injustiças. O direito,
na visão aristotélica, constrói-se nessa preocupação de fazer com que a justiça prevaleça. A
justiça prevalecerá quando as cidades compreenderem a importância de se educar os
homens para que sejam virtuosos. A virtude vem do aprendizado teórico e prático das
comparações entre os injustos e os justos. Da observação do comportamento social, do
hábito; enfim, de gostar, desde sempre, do que é correto e de desgostar do que é errado.Se a
justiça pode parecer um valor mais subjetivo, e o direito um sistema que existe para garanti-
la, ambos convalidam a tese de que as leis existem para melhorar as sociedades. E as
sociedades existem para garantir às pessoas o direito à felicidade. As mais perfeitas leis
sem a presença dos homens que buscam a perfeição serão inúteis. As leis existem para as
pessoas e das pessoas dependem para sua correta interpretação e aplicação.  Aristóteles
dedica apenas o livro V da Ética a Nicômaco a um tratado mais específico sobre a justiça.
Entretanto, nos dez livros da Ética a Nicômaco, ao tratar dos elementos que compõem o
homem e a sociedade, quer demonstrar que não haverá sistema jurídico perfeito capaz de
prevalecer sem a ação humana. O direito será sempre refém do homem. Do homem que o
formula, do homem que o interpreta, do homem que o aplica. Por isso, para que o direito
efetive a justiça é preciso formar o homem, formá-lo como virtuoso, formá-lo como
correto, formá-lo como justo. O direito visa a construir essa justiça que garanta ao homem a
liberdade. Ao suprir as necessidades da vida humana, a cidade, o estado, visam a garantir a
liberdade. Ser livre para governar e ser governado. Ser livre para compreender que a ética é
um código de conduta que visa a um bem. A um bem comum. Não há bem individual onde
não há bem comum. O bem individual depende do bem comum. Isso porque é o homem um
animal social que só se desenvolve na sociedade e que, na sociedade, aprende a ser livre,
virtuoso, justo.

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