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INTRODUÇÃO
O presente artigo busca traçar um paralelo entre as visões dos Filósofos Sócrates, Platão e
Aristóteles com o Direito, onde a teoria filosófica se aplica o Direito.
Notar-se-á que por mais que Platão e Aristóteles fossem discípulos de Sócrates, cada um
apresentava seus conhecimentos sem repetirem as ideias uns dos outros.
SÓCRATES (470 - 399 A. C)
- Não deixou registros, apenas discípulos;
- Conhecido como parteiro de ideias;
- Levava o indivíduo a negar aquilo que afirmava.
O método socrático consistia em ironia e maiêutica. A ironia visa eliminar
a doxa (opinião), assim ficava perguntando para que as pessoas se contradissessem, com a
finalidade de que as reconhecessem que não tinha conhecimento sobre o assunto tratado.
A maiêutica visa a epsteme (conhecimento, ciência) através da dialética. Da maiêutica
tem-se a obstetrícia em grego, que é a arte do parto para animais, mas aqui usado como o
parto de ideias.
- Opinião não é conhecimento;
- Ortodoxo é aquele que toma sua opinião como única e não aceita discutir;
- “Só sei que nada sei”;
- Espsteme é quando “cai a ficha”.
Para Sócrates e Platão, conhecimento não é algo que se ensina, se transmite, o único que
pode chegar ao conhecimento é o próprio indivíduo, raciocinando.
O JULGAMENTO DE SÓCRATES
Com a utilização de seu método, criou muitas inimizades. Acabou por ser, pela acusação de
não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novas divindades e corromper a juventude.
Após um julgamento conturbado acabará por ficar com duas opções, ou a pena de morte, ou
ser alimentado no Pritaneu, enquanto fosse vivo, como herói ou benemérito da cidade.
Vendo-se entre a morte e as impossíveis recompensas, para não abrir mão de sua própria
consciência, Sócrates optara pela morte.
Conflito entre a justiça e a segurança jurídica, respeito às leis positivas.
A obediência às leis é a condição necessária, mas não suficiente para realizar a justiça
(ideia do bem), dizia que “era a única possibilidade de fazer justiça, pois não se faz justiça
com as próprias mãos, pois ao desrespeitar já esta se cometendo uma injustiça”.
Textos de apoio:
- Apologia de Sócrates;
- Criton;
- Fedon.
A REPÚBLICA
- Principal livro de Platão;
- Trata de um projeto de como deveria ser uma sociedade justa e perfeita.
- O nome República é uma adaptação feita pelos Romanos do que anteriormente
era Dipoliteia perité tes dikes, que significava estudo da polis sob a justiça.
Defendia que uma sociedade justa era uma sociedade estratificada em três classes:
1. Filósofos – razão – direção;
2. Guerreiros – força, coragem, defesa, ordem;
3. Trabalhadores – sensibilidade, nutrição, economia.
Os filósofos seriam os responsáveis pela direção, pelo governo, pela elaboração das leis,
representariam simbolicamente a razão, a cabeça.
Desse modo, os filósofos não se deixariam enganar pelas aparências, pois teriam a via
inteligível do conhecimento mais desenvolvida, por isso conseguem, mesmo desconfiando
das aparências, enxergar a ideia do bem, do eidos, o que faria com que estivessem mais
aptos a elaborar boas leis.
Os guerreiros representariam a força, coragem deste Estado e cuidariam da defesa e da
ordem que mantém a organização interna, como o corpo.
Os trabalhadores seriam responsáveis pela produção de matérias, bens, alimentos,
riquezas, comércio, construções, funcionando como a base.
Para saber quem entraria em qual classe, Platão propõe o seguinte:
- Acabar com a família, pois a família prejudica o interesse público, colocando o interesse
privado antes do público, devido às relações amorosas e de bens. Assim, todas as crianças
que nascessem deveriam ser criadas e educadas pelo Estado sem a interferência dos pais,
possibilitando que o indivíduo descobrisse qual é a sua aptidão natural sozinho, esta aptidão
esta ligada com o eidos, a psique de cada indivíduo.
- Filósofos e Guerreiros seriam proibidos de ter qualquer vida privada, somente a vida
pública lhes seria cabida, ou seja, não poderiam estabelecer qualquer tipo de união estável e
não poderiam acumular riquezas não existir desvio de funções.
- Trabalhadores poderiam acumular riquezas e ter família, mas não criar os filhos.
COMUNISMO ARISTOTÉLICO
Comunismo no sentido de tudo ser comum ao interesse de todos, e aristocracia é o governo
dos melhores, dos excelentes (em cada função).
Arquétipo das utopias totalitárias segundo Kalr Popper
Este modelo trata do melhoramento da raça como as células que não realizam sua função.
Não haveria mudança de classes, pois a aptidão se enquadra em todas, o que desregularia o
corpo.
Norma como mimeses da Ideia do Bem
Os filósofos teriam a capacidade de elaborar normas o mais próximo possível
do eidos benéfico, sendo assim o mais próximo da justiça.
Tem-se a ideia de uma sociedade o mais justa possível.
Estrutura da psique humana (República, Fedon)
Entende-se aqui, a psique como a alma.
1. Racional – conhecimento;
2. Irascível – paixões (amor, ódio, inveja, desejo de poder, coragem);
3. Concupiscível – apetites (prazer, dor).
Podendo-se fazer um paralelo com a estrutura da sociedade perfeita, pois fica divida em três
classes e cada uma corresponde a uma parte da sociedade e aqui à alma humana,
respectivamente em 1, 2 e 3, onde a 3, que seria a base do Estado, passa a ser o ‘ventre’ do
indivíduo.
Observa-se então que há um paralelo entre a estrutura da psique e a da republica, onde ele
dirá que uma sociedade equilibrada, que na visão dele ser a aristocracia, tende a produzir
indivíduos equilibrados e uma desequilibrada tente a produzir desequilibradamente os
indivíduos.
O que move o ser humano são os impulsos – paixões e apetites – e para Platão, para a
sociedade ser justa, a parte racional humana tem que controlar as outras duas, determinando
as direções humanas.
ÉTICA A NICÔMACO
Importante obra de Aristóteles, onde o livro V é um dos mais importantes.
O homem só existe dentro da Polis, ‘zoon politikon’ é a organização a partir das leis.
Afirma que a Polis é ontologicamente anterior à própria existência do homem, que só se
desenvolve em meio político.
Tudo tem uma essência que é determinada por um fim, de acordo com a teleologia.
A finalidade do homem é a felicidade (eudaimonia), no entanto, para Aristóteles a
felicidade não é o estado de felicidade, o sentimento, e sim a ação, a atividade através da
qual o homem realiza plenamente as suas aptidões, a prática de virtudes (que para ele é a
excelência, Arete).
As virtudes aqui são sempre o meio termo, a moderação (sophorosýse), assim, tanto se
exceder quanto se abster em algo é um vicio, e a virtude é o equilíbrio, dessa forma pode-se
dizer que a justiça, para Aristóteles, é o equilíbrio.
Além disso, as virtudes são divididas entre:
1. Dianoéticas – as que são mais teóricas, racionais como arte, ciência, sabedoria,
intelectos e prudência (phróneses).
Prudência que para ele é a capacidade de moderação intelectual de distinguir o certo,
errado, justo e injusto, é a existência de que nos organizemos em sociedade.
2. Éticas – as que vem do étos (caráter que é conseguido através do hábito, por exemplo,
escovar os dentes, que se desenvolve com a repetição):
I. Temperança – moderação entre dor e prazer, experiência – arte da moderação;
II. Fortaleza ou coragem – moderação entre coragem e covardia;
III. Generosidade – moderação entre ser avarento e pródigo;
IV. Justiça – moderação do justo.
A norma do ponto de vista da virtude é aquela que regula uma conduta, e para Aristóteles, é
justa quando leva a prática da moderação, leva a ter caráter, ou seja, ter temperança,
fortaleza, generosidade e justiça, e as leis tem papel fundamental nisso, pois elas regulam o
cidadão. Leis boas dão forma ao caráter do indivíduo e as ruins o deformam.
Aristóteles vai dizer que para que alguém atinja a plenitude não pode trabalhar, tem que ser
rico, ter escravos e amigos interessantes, e só dedicar o tempo todo, ou seja, quem trabalha
não atinge a plenitude, pois nasceu para ser escravo. Então apenas homens, não mulheres,
ricos, atenienses e com amigos interessantes com essas mesmas características. (Marx
acompanha parte disso)
JUSTIÇA POLÍTICA
1. Natural (physikon dikaion) – tendências universais variáveis à todos os seres humanos,
porém sofrem influencias culturais podendo sofrer modificações, portanto não são
imutáveis como as leis da natureza.
Compara o fogo com o braço direito, pois o fogo será o mesmo em qualquer lugar, porque
depende da combustão, das leis naturais, já o braço direito é mais desenvolvido na maior
parte dos seres humanos, ou seja, é uma tendência e não uma lei natural, podendo se
modificar, por exemplo, um destro se esforçando pode se tornar ambidestro.
Dessa forma ele contraria a crítica que os sofistas fizeram aos pré-socráticos, pois os
sofistas diziam que existissem leis naturais as leis de todos os povos seriam pelo menos
parecidas e Aristóteles diz que existem sim, porém são mutáveis, então o direito natural
pode se modificar, pois não é como as leis da natureza.
2. Convencional (nomikon dikaion) – normas baseadas na pura convenção para dar bases à
ordem, por exemplo, dirigir no Brasil e na Inglaterra.
Modos de aplicação de justiça
1. Distributiva: “a cada um segundo seu mérito”. O critério para determinar o mérito varia.
Numa aristocracia é a excelência, numa politéia é a liberdade, numa oligarquia é a riqueza
ou berço, dessa forma, pode-se concluir que é distribuída do Estado para os indivíduos,
considerando o mérito de cada um. (Proporção geométrica, por exemplo, a pratica de um
crime x fará com que o sujeito receba a pena de 2x para desestimulá-lo de cometer crimes,
o mesmo acontece com as boas ações dos indivíduos, então se fez uma boa ação é
premiado).
2. Corretiva (comutativas, signalagmáticas): “que cada um dê ou receba o que a parte
contrária deve dar ou receber”. Relação de coordenação, equilíbrio dos indivíduos:
I. Voluntária – a relação ocorre sem problemas e por livre vontade.
II. Involuntária – é quando há um desequilíbrio, um abuso, o Estado equilibra pela força
que tem. (Proporção aritimétrica).
Equidade (epieikeia) para ele significa bom senso como instrumento jurídico. A norma é
geral e o caso concreto, assim, o bom senso para usar e adequar a norma, ou seja, adaptar a
lei ao caso concreto. Então para o juiz decidir com equidade, ele teria que imaginar como o
legislador teria elaborado a lei naquele caso.
A Polis objetiva e subjetiva da responsabilidade
- injusto: nexo causal (acontecimento).
- injustiça: vontade (intenção).
Segundo Aristóteles algo pode ser injusto sem ser injustiça. Para configurar o injusto é
necessário demonstrar o nexo causal. Para configurar a injustiça é necessário configurar
além do nexo causal, uma ação voluntária. Ação voluntária é aquela executada de maneira
intencional e sob controle do agente, sem ignorar a pessoa afetada, o instrumento
empregado e o resultado.
Tipos de erro:
- A conduta que causa dano não extrapola a conduta razoável – a ignorância nesse caso
reside no agente.
- A conduta que causa dano extrapola a conduta razoável – a ignorância nesse caso reside
no agente.
- A conduta que causa dano é consciente, mas não é deliberada – a ignorância nesse caso
reside na situação, a pessoa sabe o que esta fazendo, mas esta louco pela paixão.
Formas de Governo (Política, livro III, cap. VIII):
Formas boas: Monarquia, Aristocracia e “Politéia” (constituição)
Formas corrompidas: Tirania, Oligarquia e Democracia.
Monarquia é bom desde que o monarca governe visando o interesse público, o problema é
que ele pode se corromper e o governo virar uma Tirania, governando e visando os
próprios interesses.
Aristocracia é o governo da excelência, dos melhores público, quando visão o interesse
público vira uma Oligarquia.
Politéia é a forma de governo popular, ou seja, os próprios cidadãos que governariam,
quando isso se corrompe vira uma Democracia, não visando o interesse público, pois as
pessoas podem ser manipuladas e vir a acontecer algo que não é certo, como, por exemplo,
a morte de Sócrates.
Aristóteles é o primeiro a esboçar a separação dos “poderes” – no sentido de funções
(Política, livro VI, capítulo XI):
- Assembleia Popular – elaboração das leis (legislativo hoje);
- Magistratura administrativa – escolhem-se os competentes, aptos para administrar
(executivo hoje);
- Magistratura jurídica – conselho dos anciãos, mais experientes, visando dirimir
conflitos (judiciário hoje).
(Magistratura como sendo cargo político)
Dimensões da ação humana
1. Theoria – atividade contemplativa, que não modifica o mundo a princípio;
2. Poiésis – técnica, atividade, prática, tem efeito no mundo (organização, produção);
3. Praxis – mistura theoria e poiésis, uma coisa esta junto com a outra, as duas acontecem
juntas, a ação e o pensamento, é a essência do zoon politikon.
BIBLIOGRAFIA:
REALE, Miguel. "Filosofia do Direito" - 20ª Ed. Saraiva: 2002.
MASCARO, Alysson Leandro. "Filosofia do Direito" - 4ª Ed. Atlas: 2014
BITTAR, Eduardo C. B.; Almeida, Guilherme Assis de. "Curso de Filosofia do Direito" -
11ª Ed. Atlas: 2015
ARISTÓTELES E O DIREITO
Gabriel Chalita