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CAPÍTULO VIII.

A Lâmpada da Consciência

O OBJETIVO DO ensino neste capítulo técnico e epistemológico é distinguir os aspectos funcionais da


consciência original daqueles relativos à consciência refletida, nos níveis microcósmico e macrocósmico.
Tanto Isvara quanto o Jiva são combinações da consciência original e consciência refletida, mas seus meios
refletores são diferentes. O meio refletor do Jiva produz os três corpos, e o meio refletor de Isvara, todo o
cosmos. Não há identidade no nível da reflexão devido à diferença entre os meios refletores.
A metáfora da reflexão apresenta um problema particular. Enquanto um espelho e o reflexo nele existem em
locais separados, a consciência refletida e a consciência original existem no mesmo lugar, porque a
consciência original permeia toda a reflexão. A consciência refletida é para a experiência na realidade
aparente. Para moksa, a identidade do inquiridor precisa mudar da consciência refletida para a consciência
testemunhante e original.

Cognição ~ O Mundo Exterior

1 a 2. Embora os raios de luz que incidem em uma parede escura com um espelho o façam na parede e no
espelho igualmente, eles apenas se refletem no espelho. Da mesma forma, a consciência incide sobre o
Corpo Denso e o Corpo Sutil igualmente, mas só é experienciada no Corpo Sutil.
A reflexão é composta de consciência original e consciência refletida, mas elas são fisicamente indistinguíveis.
No entanto, a luz é mais brilhante no espelho do que na parede. Da mesma forma, o Corpo Denso é pervadido
pela consciência original, mas esta não é experimentada, porque o corpo é Tamas, que absorve a luz. A
consciência original é experimentada no Corpo Sutil como o seu reflexo, porque o Corpo Sutil é feito de Sattva.

3. Da mesma forma, a consciência original ilumina o espaço entre as modificações do pensamento no Corpo
Sutil, bem como a ausência de pensamentos no sono profundo, mas só pode ser reconhecida nos espaços
entre as modificações, porque não é absorvida pelo vritti - ou pelo sono profundo.
Quando a mente, ocasionalmente, não é modificada entre duas experiências específicas, apenas a
consciência original é experimentada. Diz-se, no jargão popular, que uma pessoa está "fora do ar" ou "não
existe" durante esses intervalos, porque a consciência refletida está inativa. A mente dos indivíduos que
eliminaram a maioria dos samskaras Rajásicos e Tamásicos gira "para dentro", por assim se dizer, e permanece
por períodos consideráveis em um estado natural de "meditação", que é a experiência da consciência original.
Quando a mente é muito Rajásica, a consciência refletida presta atenção obsessivamente às experiências e a
consciência original não é apreciada. Particularmente, os indivíduos Rajásicos não experimentam brechas
entre as experiências - os pensamentos continuam acumulando novas experiências; portanto, a prática de
japa apoiada pelo karma yoga é recomendada para eles. No japa, um pensamento intencional a respeito do
ser substitui os pensamentos mundanos e o espaço entre as repetições é gradualmente ampliado, dando ao
Jiva a chance de experimentar o "silêncio", isto é, a consciência original. No sono profundo, somente a
consciência original é experimentada, porque a consciência refletida não está presente devido ao fato de o
Corpo Sutil estar fundido no Corpo Causal, o qual é livre de pensamentos.

Os versos 4 a 16 discriminam cognitivamente a consciência testemunhante original, não experienciadora, da


consciência testemunhante experimentadora/conhecedora, analisando suas respectivas funções, presentes
em nossa experiência cotidiana. A consciência refletida converte objetos desconhecidos em objetos
conhecidos. A consciência testemunhante original é ciente tanto do conhecimento como da ignorância de
todos os objetos que estão fora do alcance da percepção do Jiva.

4. Um objeto externo, como um pote, é iluminado por um pensamento inerte que assume a forma do objeto
no Corpo Sutil, mas o conhecimento "eu conheço o pote" é devido à presença da pura consciência (o
princípio conhecedor).

5 a 6. Antes de um pensamento/objeto surgir, o Corpo Sutil carece do conhecimento do objeto ao qual está
associado, mas depois que o pensamento aparece, o conhecimento do objeto ocorre porque o
pensamento/objeto é iluminado pela consciência original. Tanto a ignorância prévia quanto o
conhecimento atual do objeto se devem à presença da consciência original, não à reflexão.
Quando um pote é experimentado, a consciência pervade e ilumina o pensamento, e produz o reflexo que
ilumina o pensamento. A seguir, o reflexo ilumina o objeto e o conhecimento do pote surge no meio refletor,
o Corpo Sutil. Então, devido à consciência original, dizemos: "Eu conheço o pote". Ao mesmo tempo, sabemos
que conhecemos o objeto. Em todo conhecimento, ocorrem dois conhecimentos distintos: o conhecimento-
objeto e o conhecimento do conhecimento-objeto. A consciência refletida tem apenas uma função: converter
objetos desconhecidos em objetos conhecidos. Ela aparece e desaparece conforme o surgimento e o
desaparecimento dos pensamentos. O segundo conhecimento - ignorância e/ou conhecimento do
conhecimento-objeto - é responsabilidade da consciência testemunhante original, não experienciadora, a
qual está sempre presente. Quando as escrituras igualam a consciência original à consciência refletida, a
equação indica a semelhança entre as duas, não uma identidade total. Quando você aponta sua imagem em
uma foto, diz “Este sou eu”, mas a pessoa com quem você está falando entende que a imagem lhe é
semelhante, mas não é você.

7 a 8. Quando um objeto está dentro do alcance da percepção do Jiva e aparece como um pensamento no
Corpo Sutil, não se pode dizer que seja conhecido, porque tanto o Corpo Sutil quanto o pensamento não
são sencientes. Uma vez que uma cognição tenha sido produzida e o conhecimento ocorrido, o Corpo Sutil
retorna a uma condição não modificada. Se o Corpo Sutil não for iluminado pela consciência original, a
cognição dos objetos não tem como ocorrer.

9 a 13. A consciência pura não pode ser o seu reflexo no pensamento, porque é anterior ao pensamento e
ao conhecimento do objeto. Portanto, o Corpo Sutil, no qual a consciência é refletida, é a causa do
conhecimento e da experiência, ao passo que a consciência pura está livre do conhecimento e da
experiência.

14 a 16. A cognição "Isto é um pote" é devido ao reflexo da consciência no Corpo Sutil, mas o conhecimento
"Eu conheço o pote" é devido à presença de pura consciência original, de modo que o conhecimento de um
objeto envolve consciência pura e consciência refletida.
Três objetos são iluminados pela consciência original: (1) o pote conhecido/desconhecido, (2) a reflexão e (3)
o pensamento no Corpo Sutil. A reflexão não desloca a original, porque a original pervade o objeto material
antes que a reflexão o ilumine e o torne conhecido. Objetos conhecidos são pervadidos tanto pela consciência
original quanto pela consciência refletida. O conhecimento dos objetos é um processo que acontece no
tempo, mas o conhecimento do conhecimento não é limitado pelo tempo; acontece instantânea e
simultaneamente, porque a consciência original está sempre presente.

Os versos 17 a 26 discriminam, intrinsecamente, a "experiência" da consciência original não experienciadora


da consciência refletida experienciadora. O ser refletido é experimentado quando há pensamentos,
experiências particulares, um senso de localização e um senso de dualidade. Embora a consciência
testemunhante não experienciadora esteja presente, a sua presença é ofuscada pela entidade
experimentadora. Quando experiências pontuais são resolvidas e o silêncio é experimentado, ou quando a
pessoa dorme, ela é “experimentada” como uma consciência testemunhante não-local e
autoexperienciadora

A consciência refletida vem e vai. Quando os pensamentos surgem, o reflexo surge, e quando os pensamentos
se vão, o reflexo se vai. Mas a consciência original, testemunhante e autoexperienciadora, está sempre
presente. É natural e intrínseca, enquanto a consciência refletida é não-essencial e não se trata do ser. A
experiência da pura consciência testemunhante não é possível sem a consciência refletida.
Para experimentá-la sem a reflexão, você teria que remover o Corpo Sutil do Corpo Denso, porque o Corpo
Sutil é responsável pela reflexão. Remover o Corpo Sutil do Corpo Denso é chamado de morte, o que torna
sem sentido a questão da experiência. Portanto, o melhor que você pode fazer é resolver a mente no estado
de vigília ou ir dormir, o que é suficiente para que você entender a diferença entre a testemunha original e
a reflexão.

Cognição ~ O Mundo Interior


17 a 19. Quando o “sentido do eu” está associado a emoções como desejo, medo, raiva, preocupação etc,
o ser refletido é dominante e a consciência original é obscurecida. Uma bola de ferro em brasa em uma
sala escura ilumina apenas a si mesma, não os objetos na sala.
Pensamentos extrovertidos e intensos se iluminam e passam pelos sentidos para envolver e iluminar os
objetos dos sentidos, mas pensamentos introvertidos subjetivos são menos rajásicos e apenas iluminam a si
mesmos. Um verme luminoso só ilumina a si mesmo, não os objetos em seu ambiente. Eles não têm o poder
de revelar objetos externos. Quando você está em seu próprio mundo interno (pratibhasika satyam), não está
ciente do que está acontecendo no mundo exterior.

20. Todas as modificações subjetivas são produzidas em série com pequenas lacunas entre cada uma.
Tornam-se latentes no sono profundo, estados de desmaio e no nirvikalpa samadhi.
Embora o Corpo Sutil produza uma reflexão contínua no estado de vigília, o jogo das emoções em uma pessoa
produz flashes brilhantes de consciência refletida, precedidos e seguidos de intervalos curtos através dos
quais a luz difusa da consciência original testemunhante brilha. A ausência de consciência refletida é revelada
no sono profundo, etc., onde não há senso de localização e dualidade, nem variação na luminosidade. As
experiências do silêncio e do sono profundo, e a experiência da consciência testemunhante são idênticas,
mas não há estado em que não haja consciência refletida. Enquanto você viver, a consciência original e a
refletida estarão presentes. Objetos externos, para serem conhecidos, demandam pensamentos. No entanto,
pensamentos (e emoções) não podem ser conhecidos por pensamentos, mas sim por manterem
consciência refletida o suficiente para revelarem a si mesmos. Eles são autoevidentes; conforme aparecem,
são conhecidos. Não é necessário um conhecimento especial para saber que você se encontra em um estado
emocional específico. A emoção - dor, por exemplo - ilumina a si mesma. Com referência ao complexo corpo-
mente, todas as sensações são autoconhecidas, autoevidentes.

21. Esse fator (princípio) não modificável que testemunha o intervalo entre o desaparecimento e o
surgimento de pensamentos sucessivos - o momento em que não estão manifestos - é a pura consciência
original.

22. Tanto a consciência pura quanto a consciência refletida estão envolvidas na revelação de objetos
externos e internos. Isso é evidente pelo fato de haver mais luz nos pensamentos do que no silêncio entre
eles.
A luz da consciência original é difusa, não concentrada, já que pervade tudo. Quando o Corpo Sutil está ativo
no estado de vigília, ele concentra a luz da consciência original e o mundo parece brilhante, de modo que a
consciência original é ofuscada e ignorada. Se você vier da luz solar intensa para a luz habitual de um recinto,
o mesmo parecerá escuro por alguns instantes até os olhos se ajustarem. Se for permitido à mente consciente
esgotar seus pensamentos, ela experimentará a consciência original como paz ou como o silêncio que não se
opõe ao som. A consciência testemunhante não-experimentadora nunca é experienciada como um objeto
pelo Jiva, mas, para fins de discriminação, é como se fosse experimentada quando a mente está quieta,
porque uma mente inativa é tal como se estivesse ausente. Também é experimentada no sono profundo pelo
mesmo motivo.

23. Ao contrário de um objeto externo, que requer um pensamento no intelecto que o revele, o intelecto
não revela a si mesmo, porque é um objeto inerte - mas é revelado à luz da pura consciência.

24. Como o Jiva é uma combinação de pura consciência e consciência refletida, é manifesto e não-manifesto.
Portanto, não pode ser a consciência imutável e não dual.
Não é manifesto como consciência pura, e manifesto como consciência refletida. Porque nem sempre está
presente, não é real. Às vezes, as escrituras dizem que a testemunha não-experimentadora é quem
experiencia a bem-aventurança e, às vezes, dizem que somente o Pragna Jiva é o experimentador. Não há
contradição real, porque o Pragna Jiva é um reflexo da consciência original testemunhante, não-
experienciadora, no “satya-pradana-prakrit” e, como tal, é quase idêntico a ela, assim como os raios do sol
não são nada além da luz solar original.
Tecnicamente, o Prajna e a consciência pura, saksi, são diferentes, mas experimentalmente não há diferença;
portanto, a consciência original é ao mesmo tempo não-experimentadora e experimentadora.
25. Os antigos professores deixaram clara a natureza da pura consciência em passagens como "É a
testemunha do Corpo Sutil e suas funções".

26. Eles também declararam que a consciência pura, a consciência refletida e a mente se relacionam entre
si como um rosto, seu reflexo no espelho e o espelho. Esse relacionamento é revelado pelas escrituras e
pelo raciocínio. Assim foi descrito o Jiva.
Este exemplo é pertinente porque existe uma identidade entre a consciência original e a consciência refletida.
O "eu" (o Jiva) é uma mistura de três componentes: consciência original, consciência refletida e o Corpo Sutil,
o meio reflexivo, o espelho mental que sustenta o reflexo. A sempre experienciada consciência original
ilumina a face refletida (o Jiva), e o meio reflexivo - o espelho do Corpo Sutil - ilumina os sentidos que, por
sua vez, iluminam as propriedades dos elementos.

Versos 27 a 58. Omiti esses versos minuciosos incluindo uma discussão dos méritos relativos a três
ensinamentos sobre a natureza do Jiva: pratibimba vada, avicheda vada e abasa vada. Pratibimba vada é o
ensinamento de que o Jiva é a consciência refletida nos três corpos e Isvara é a consciência refletida na criação.
Às vezes, o Jiva é apresentado como semelhante ao espaço dentro de um pote para contrastá-lo com o espaço
onipresente. Nesta forma, é chamado avicheda vada prakriya, o ensino do “recinto”. Ambas as ideias
aparecem nos Upanishads e nos ensinamentos de Gaudapada e Shankara. De qualquer forma, uma vez que
o Jiva, posteriormente, é negado como o ser, o ensino usado para descrevê-lo é apenas uma questão de
contexto e conveniência. A terceira ideia, abasa vada, da qual Vidyaranya é um defensor, é chamada de ensino
da "aparência".
Existem dois argumentos principais no Vedanta sobre como entender a aparência do Jiva na consciência. Um
argumento (a “escola” de Vivarana) é a teoria da reflexão. Segundo ele, o Jiva é um reflexo da consciência
quando a ignorância (Avidya) está em operação. E Isvara também é um reflexo quando Maya está operando.
Consciência original pura e o Jiva são duas "faces" da consciência que aparecem no espelho do Corpo Sutil
Macrocósmico. Essa ideia é conhecida como Mukhya Samanadhikaranya. O segundo argumento é chamado
de teoria do recinto ou limitação. Segundo ela, a consciência se torna limitada quando Maya faz com que
Isvara e o Jiva apareçam.
O exemplo usado pelos proponentes dessa visão (a "escola" Bhamati) é o espaço do pote. Eles dizem que o
espaço que aparece dentro de um pote está na verdade limitado pelo pote. Swami Vidyaranya não aceita
esse argumento. Ele diz que, se é verdade que a consciência se torna um indivíduo limitado (Jiva), mesmo um
pote, que é pervadido pela consciência, se tornaria um Jiva. Mas é claro que os potes não são seres
conscientes. Essa visão também não se sustenta porque o espaço é mais sutil que os objetos e os pervade
completamente. Portanto, não é limitado por eles. Ele aceita uma teoria da reflexão, modificada, conhecida
como teoria da aparência (abasa vada).
A teoria de Vivarana diz que a reflexão é real e idêntica à consciência, mas a teoria da aparência diz que a
reflexão é "na aparência", ou aparentemente, real. A teoria da reflexão pura diz que o Jiva e a consciência são
idênticos, mas a teoria da aparência diz que ambos parecem ser idênticos. Esse "parecer" é chamado de
subflação. A corda parece ser uma cobra. A cobra é negada na corda quando o fato de se perceber a cobra é
neutralizado pelo conhecimento. Isso significa que uma explicação para um fenômeno específico não faz mais
sentido quando outra explicação, diferente, fizer mais sentido.

Esses argumentos são minuciosos demais? Sim e não. No que diz respeito a moksa, sim, se a distinção entre
sujeito – a consciência - e objetos que nela aparecem é compreendida. Nesse caso, Isvara e Jiva são apenas
objetos de pensamento aparecendo na consciência, embora, do ponto de vista da realidade aparente, eles
se refiram a objetos reais. Como objetos de conhecimento, eles podem ser descartados como não-ser.
Mas não, se a distinção entre consciência e objetos não for clara, porque os iogues, indivíduos orientados
para a experiência, podem realizar sua natureza como consciência identificando o pensamento "eu sou
consciência", quando ele surge no Corpo Sutil. Para fazer isso, eles precisam considerar a reflexão como sendo
real. Como os iogues não estão atentos à distinção entre consciência e os objetos na consciência, eles se
consideram conscientes e veem o ser como um objeto, quando, na verdade, é o contrário. No entanto, é raro
que os iogues se tornem discriminadores, já que aceitam a realidade do Jiva e concebem moksa como uma
experiência de samadhi. Portanto, a ideia de Vivarana é útil para eles.
Esse argumento pode ser rastreado até os Upanishads, que apresentam tanto o Yoga quanto o Vedanta como
meios para a iluminação. E origina-se na relação incestuosa entre a consciência sem ação e não-
experienciadora e as ações geradas nela. Na verdade, não há distinção, porque a realidade é não-dual. Mas
há uma distinção aparente se levarmos em conta o mundo. E, por falta de entendimento dessa aparente
distinção, os Jivas permanecem atados à experiência. A opinião que eu endosso é que o Yoga é um meio
indireto, adequado para purificar a mente. Vedanta é o meio direto, porque a realidade é não-dual. Portanto,
a solução final só pode ser o conhecimento, que não é ação.
Mencionei acima que não usei a palavra "chidabasa" para me referir ao Jiva, mas defini o Jiva como
consciência mais o Corpo Sutil (ou as Cinco Bainhas) para simplificar a terminologia e alinhá-la com a maneira
como ensino Vedanta. Isso não quer dizer que chidabasa, usado quase que exclusivamente por Vidyaranya,
não seja uma excelente palavra reveladora.

Jiva, Isvara e Maya

59 a 62. Os Shiva Puranas descrevem a consciência como não-dual, autoluminosa e o bem maior. Está além
de Isvara e Jiva. As escrituras declaram que Jiva e Isvara são ambos reflexos da consciência em Maya. Eles
são, no entanto, diferentes dos objetos densos, pois são reflexivos e revelam objetos. Por revelarem objetos,
para todos efeitos, podem ser considerados dotados de consciência.

63 a 64. Se o Corpo Sutil pode criar o Jiva e Isvara no estado de sonho, não é difícil imaginar que Maya
possa criá-los no estado de vigília. Se Maya pode criar Isvara, quão difícil é entender que ela cria as
qualidades de Isvara?
Isvara é dotado das seguintes qualidades: conhecimento absoluto (jnana), total desapego (vairagya),
capacidade de criar, sustentar e resolver (virya), fama absoluta (yasas), total abundância (sri) e soberania
(aisvarya).

65 a 67. No entanto, não pense que Maya possa criar a consciência. A consciência nunca nasceu. Todos os
textos do Vedanta dizem que a consciência é não-dual e incriada. A lógica não se aplica a Maya. Maya é
contraintuitiva e irracional.

68. Um investigador deve basear seu conhecimento nas escrituras.


Não na intuição ou na interpretação, inspirada na ignorância, da experiência pessoal - ou em crenças e
opiniões inspiradas na ignorância, obtidas das palavras de seres iluminados ou aparentemente iluminados.

versos 69 a 76. O objetivo da investigação não é estudar Jiva e Isvara, pois são apenas ferramentas de ensino
que ajudam o Jiva investigador a perceber sua identidade como consciência não-dual.

69. Isvara cria os três corpos e os três estados. O Jiva cria a ideia de servidão e libertação.
Jiva aqui significa Viswa, a entidade do estado de vigília, sob o feitiço de Avidya. Quando ele não sabe quem
é, busca liberação ou satisfação nos objetos. A criação do Jiva são as projeções nascidas da autoignorância.

70 a 71. A consciência é sempre sem associações. Ela não muda. Para a consciência, não há morte e nem
nascimento, nem servidão, nem busca e nem liberação. Essa é a verdade. Medite nela dessa maneira.

72. As escrituras indicam a realidade além dos Corpos Sutil e Denso, usando conceitos acerca do Jiva, Isvara
e o mundo.

73. Acharya Sureshvara diz que qualquer método que elimine a ignorância sobre a natureza do ser é
aprovado pela tradição.

74. Pessoas tolas e ignorantes acerca do verdadeiro significado das escrituras andam a esmo, enquanto os
sábios, que entendem o seu significado, habitam o oceano de felicidade.
75. Tal como uma nuvem a verter torrentes de chuva, Maya cria Isvara, Jiva e o mundo. Assim como o
espaço, o qual não é afetado pela chuva, a pura consciência que sou permanece totalmente inalterada por
qualquer coisa criada por Maya. Esta é a convicção dos sábios.

76. Aquele que reflete continuamente sobre esta “Lâmpada da consciência” permanece sempre como a
consciência autorreveladora.

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