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ANO ACADÊMICO 2018-2019 - Giulia-Nemeye Giubertoni - 2018253536

U M L ISBOETA ENTRE AS R OSAS DE I TÁLIA


UM JORNALISTA PORTUGUÊS VIAJANDO PELA PENÍNSULA ITÁLICA NO SÉCULO VINTE

INTRODUÇÃO

Entre todos os tipos de literatura, a assim chamada “Literatura de Viagem1” apresenta sem dúvida um imenso
potencial e produtividade que a destaca. O que a constitui e a distingui é um pacto textual entre dois processos: um
primeiro processo de (1) aceitabilidade do diferente e do incomum experienciado pelo viajante / escritor e um
segundo processo associado à (1) representação realista (e mais ou menos científica) de um lugar. Isso se desenvolve
feito um verdadeiro testemunho autobiográfico.

O vasto tópico da “viagem na literatura” será primeiramente então introduzido.

Mais adiante no documento me referirei à especificidade de Artur Portela. A base deste breve ensaio é, portanto, o
propósito de me referir concretamente à experiência duma obra dedicada a uma viagem pelo meu país: a Itália. A
viagem realizada por este jornalista lisboeta passa pelas maiores cidades Roma, Florença, Veneza, Nápoles e Assis e
vem descrita no seu livro Itália de Rosas.

O estilo e a sua linguagem estética de Portela distinguem-se pela grande presença de momentos de digressão sobre
fatos culturais ou históricos relacionados ao lugar que o jornalista está visitando. Pois ele, freqüentemente e de bom
grado, lançará luz sobre detalhes e curiosidades relativas aos lugares e aos monumentos visitados, assim como aos jeitos
de ser dos italianos que observa. Isso sem dúvida torna a história da sua viagem cultural italiana mais que exaustiva.

Uma visão geral de cada seção será fornecida e, em seguida, este trabalho fornecerá uma análise mais específica
destinada a analisar uma característica particular de Portela: estilo / imagens poéticas / descrição dos italianos / atenção
à espiritualidade.

No final do documento se encontra um comentário pessoal sobre o livro e sobre o desenvolvimento deste meu
trabalho.

1
No decorrer do documento, refirirei-me a esse tipo de literatura adotando três termos diferentes: “Literatura de Viagem” (com o substantivo no
singular), “Literatura de Viagens” como citação implícita ao antigo grego “ὁδοιπορικός” : “viagens” (plural do substantivo ‘viagem’) presente no
último termo possível, quer dizer: “literatura odepórica”.
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1. A LITERATURA DE VIAGEM

Por “literatura de viagem” entende-se um subgénero literário que se manterá central e vivo do século quinze
até o final do século dezenove, sem porém desaparecer nos séculos seguintes. Os textos, de caracter composito,
entrecruzam literatura com história e antropologia, indo buscar no decorrer da viagem (real ou imaginaria, por mar ou
por terra ou por ar que seja), sempre novos temas, motivos e formas.

Sem dúvidas, eram viagens de perigrinaçao as primeiras que desde o século décimo terceiro incentivaram a mobilidade
europeia, pelo menos no Ocidente do mundo. Essas foram as primeiras experiências que apresentam relatos que
houveram grande projecção e influência, sendo a idéia da peregrinação religiosa algo que vem “do fundo dos tempos”,
e são comuns a todas as culturas e religiões2.

Provavelmente não existe um espectro equívoco da literatura odepórica para descrevê-la, pois existe um
amplo espectro que dificulta uma sua identificação clara. Porém, podemos aceitar a definição dada pelo autor
Fernando Cristovão, em cujo acordo, ela pode se definir um “...subgénero literàrio com individualidade semelhante à de outros
subgénereos de estatuto reconhecido com a diferença, porém, de que o reconhecimento daquele, enquanto tal for mais tardio”3.
Sempre nos referindo à dificuldade de definir o que é a “literatura da viagem”, vem a contribução do Dicionário Da
Literatura Portuguesa (1996) dirigido por álvaro Manuel Machado. Nesse verá adoptada a expressão “literatura de
viagens”. Data-se o seu “início” no século décimo terço, em pleno Renascimento4.

Além disso, na “Literatura de Viagens” em si tem convivido com o tema da ‘viagem’ múltiplas razões possíveis pelas
quais o(s) protagonista(s) começa(m) “errar”: (1) peregrinação, (2) comércio, (3) erudição ou até (4) pura imaginação.
Isso dà então ocasião a confusōes e ambiguidades5. Combinando o interesse à aventura com o potencial interesse
científico ou a simples curiosidade, contos de viagem constituem uma literatura que, embora rapidamente conquiste o
favor do público leitor, pode dar origem a resultados diferentes.

CLASSIFICAÇÕES POSSÍVEIS

Pela grande variedade das suas formas possíveis, quaisquer ambições teóricas em relação a “literatura de
viagem” ficarão frustradas. Autores, editores e mais tarde criticos proposeram agrupar os diversos textos em função de
outros aspectos, tais como o (1) destino geografico: “conforme ao fato de se dirigir à Ásia, à África, à America (...)” ou
(2) “em função dos protagonistas: missionários, mercadores, marinheiros, soldados, embaixadores de ocasião ou de prazer;
outros distinguiram segundo aspectos científicos, predominantemente históricos e marítimos (...)”6.

Além disso, se não for pela motivação que estimula o deslocamento, outra alternativa para agrupar os relatórios de
viagem poderia ter em consideração (3) o tipo de veículos pelo qual a viagem ocorreu. Inegável que o uso de um
catamarã, de uma bicicleta ou de um par de botas mudarão indubitavelmente as percepções e as necessidades do
viajante.
Velocidade oposta à calma e ao silêncio, a presença (ou ausência) de trânsito influenciarão a subjetividade do viajante
no decorrer da sua excursão e, portanto, o tornarão mais ou menos consciente de si mesmo como “espectador” ou
“observador” do mundo que passa à sua volta. Enfim, a escolha de um veículo assim como a experiência do trânsito, é
central. Modelos de ação e conhecimento guiam a sensibilidade daquele que viaja; eles param o olhar em certos
detalhes à custa dos outros e, em uma inspeção mais próxima, ou o empurram para o caminho.

2
Destacam os “relatos e descrições de viagem que não se limitavam a manifestar a fé dos peregrinos, mas serviram também para divulgar lendas e
mito de caractér fabuloso” assim como informação sobre “novas terras, usos e costumes, que ao mesmo tempo que estimularam o gosto europeu
de sair à procura de novas terras e de novas emoções”. Cristovão, F. “Para Uma Teoria Da Literatura De Viagens.” em Condicionantes
Culturais Da Literatura Da Viagem, pp. 38-39.
3
Cristovão, F. Introdução. Op. cit., p. 13.
4
Cristovão, F. Introdução. Op. cit., p. 23.
5
Cristovão, F. Introdução. Op. cit. p. 38.
6
Cristovão, F. “Para Uma Teoria Da Literatura De Viagens”. Op. cit., p. 37.

~2~
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OUTROS CÓDIGOS

Além disso, a escrita da literatura de viagem basear-se-à em grande medida na capacidade de fazer interagir e
atuar mais de um só código literário (e extra-literários, se o autor decidir incluir fotos por exemplo), integrando-os
num único sistema narrativo. Isso pressupõe uma outra capacidade do autor de saber acessar a diferentes setores da
produção cultural.

O ROTEIRO

A história entendida como o roteiro da viagem pode pré-exister a sua escritura (e conviria por evidentes
razōes organizativas tais como orçamento 7 ), mas a viagem em si sempre constitui o elemento primário. Uma
premeditada idéia sobre onde o passeio irá se desenvolver pode possivelmente guiar melhor a memória de quem escreve
“a posteriori”, assim como orientar melhor os leitores que dessa forma vão conseguir acompanhar mais facilmente o
roteiro dos lugares para onde vão ser levados.

O AUTOCONHECIMENTO

Tal como pode se mostrar como fonte de enormes transtornos, qualquer viagem pode também ser interpretada
como uma forma de autoconhecimento. A cultura à qual o viajante pertence se revelará fonte de descontinuidades e
contradições com aquilo que se conhecerá “longe de casa”: isso se repercutirá no viajante. Relacionando-se com a
imagem do Outro, e aos relatórios cujos eles são portadores.

O diário, o conto da viagem, traz então a nos uma história de um caminho (mais ou menos aventureira dependendo das
vontades de quem escreve) e que por sua vez está frequentemente entrelaçada com longas descrições e considerações. O
escritor também pode se mover livremente num grande repertório de registros, cada um dos quais faz referência a
sistemas de valores diferentes.

7
“No caso de uma viagem de longa duraçao, depois de ter decidido o empreendimento, seria também imprenscindível um certo
tempo de preparação no qual acertavam-se as passagens, arrumavam-se as bagangens, reunia-se o dinheiro ncessário, procuravam-se
autorizações e recomendacões e faziam-se as devidas despedidas.” - em Augusto, Sara. “Peregrinações: Roma E Santiago De
Compostela”, p. 92, no livro de Cristovão, F. (1999). Literatura De Viagens: Condicionantes Culturais Da Literatura De Viagens.

~3~
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2. ROSAS DE ITÁLIA

O AUTOR ARTUR PORTELA

Estamos no século vinte. O Artur Portela é um jornalista. Decide viajar para a Itália. Não está claro o
porquê dele ter escolhido visitar a península itálica. Porém, nem sempre é necessário ter uma razão antes de se embarcar
numa viagem, pois afinal de contas uma viagem não é outra coisa senão uma experiência, que pode até vir a ser uma
arma para se autoconhecer.

Sair de Portugal para Portela não significa fugir de casa ou duma sociedade na qual não consegue se identificar. O
escritor não viaja carregado em seus ombros de “pedregulhos de incertezas”. Nada disso: o seu olhar para o horizonte se
demonstra principalmente e primeiramente curioso. E não só: ele é tão curioso como muito preparado.
O passeio pela Itália constituirá para ele uma oportunidade de observar, anotar o mais curioso para depois explicá-lo
amigavelmente a nos, os seus leitores. Têm histórias e nomes de tantos artistas que merecem certa atenção e reverência
por terem produzido obras-primas artísticas sem igual, e Portela não se esquece de nada e de ninguém.

A OBRA: ROSAS DE ITÁ LIA

Rosas de Itália foi um livro aparentemente escrito em movimento contínuo, numa sucessão continua de
pensamentos e consideraçoes do autor. No entanto, isso não permite ao leitor se identificar com o que está sendo
contado, por ser um trabalho que se presta a diferentes níveis de leitura: além de ser um diário de viagem, ao mesmo
tempo em que constitui um conjunto de anotações pessoais do autor sobre o contexto histórico-cultural.

O TÍTULO

Como previamente mencionado, não estamos expostos aqui a um caminho (tipicamente odépórico) de
crescimento, de “busca interna” e de “viagem de autoconhecimento”. O Portela é um turista interessado que nos conta a
sua Itália, concentrando-se não apenas em citar nomes de artistas, pintores e intelectuais, mas também se enfocando nas
paisagens: no mar, nas flores... Flores das quais provavelmente deriva o título Rosas da Itália. Mas “flores” indica
mesmo um elemento da flora? Ou é metafora para algo especial?

FEMINIZAÇÃO DA ITÁLIA

A curiosidade empírica que provoca-se por uma situação de enfrentamento com uma alteridade é amiúde
subordinada com uma fantasia causada pelo prazer estético e material. Uma espécie de exotismo.

No estilo narrativo de Portela, especificamente, é rastreável uma chamada “feminização” da Itália, tema que pode se
ligar ao tema do subentendido significado da escolha do título “floreal” da obra.
O país é visto com olhos não de explorador ou jornalista, mas de “homem interessado”, surpreso pela beleza das
mulheres italianas ...“mais fragrantes do que flores e mais belas do que fruto” (p. 284). Através de uma precisão
descritiva que não se limita às paisagem ou aos monumentos dos lugares, Artur Portela inclui rostos, pernas, cabelos, e
que tem como parâmetros as obras de arte (italianas obviamente) em cada relato.

O título Rosas da Itália na minha opinião poderia então até se referir ao componente feminino frequentemente e de
boa vontade descrito por Portela.
Isso pode suscitar umas criticas, pelo menos em mim. As mulheres são e não são como flores: embora as pétalas não
se abram nem com força e nem (só) com calor (do sol) e carinho e ternura também não sejam suficientes para
conquistar mulheres... não pode se negar que uma mulher, assim como um homem, não é nada além de ...uma pessoa.
Independentemente do sexo então, quando um ser sente-se amado e ama por sua vez, aì sim, el@ se abre e, sim,
vai querer abrir o seu mundo. Por essa razão, a eventualidade que seja essa a razão do título de Portela, altamente
retrogada e sexista, eu não podia não lamentar essa referência - independentemente do fato de essa estar possivelmente
só implícita.

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O ESTILO

Ao começar ler o livro de Artur Portela, não tarda muito, que o estilo narrativo se torne grandioso, no
sentido de exuberante, como uma abudante panoplia de informações sobre ciências e artes. A preocupação
descritivista acaba quase por invadir a própria descrição dos lugares, maximamente tratando de cidades capitais de
cultura tais, como Roma por exemplo.

A escrita de Portela nos acompanha e nos guia de maneira original. Freqüentemente a estrutura da narração muda.
Intercaladas com partes de descrições altamente caprichosas:

p. 149
(FLORENÇA) Grandes manchas de cores esbatidas ficam ainda espalhadas pelo céu, e suavemente vão se
apagando. A noite, com o seu miserioso manto, em que as estrelas fulgem como lágrimas de
oiro, fica pensando, sonhando, dormindo, tal a estátua simbólica que Miguel Ângelo, nas
capela dos Médicis, pôs aos pés do duque de Nemours. (...)

...momentos “menos intelectuais” entre...

 relatos de experiências positivas nos comboios italianos (experiencia uma terceira classe tão limpa e
moderna que quase pensa ter se enganhado):

Pag. 128
Parece um Embarcamos numa comfortável terceira classe, com corredor, estofod, ar condicionado,
sonho, até que equivalente a um salão de primeira nos nossos “rápidos” de luxo. Não quero acreditar.
o revisor Digo para o pintor António Lino, que me acompaha:
aparece... é - Olhe que há engano, homem! O nosso bilhete dá-nos lugar em assentos de pau e não de
realidade! sumaúma!
(...)
Quando vem o revisor, está tudo bem. São aqueles mesmos os lugares.

 ambiguidades e emoções quase carnais em relação a uma estátua (a Vénus Capitolina)...

p. 116
(ROMA) Confesso: atrevida e pecaminosamente, depois de ter espreitado se algum cérbero vigiava,
apalpei o mármore e senti a polpa da carne – a sua tépida calentura naquele corpo de leite
que desabrochara, há muitos séculos, sob o cinzel ardente de um génio enorme e desconhecido,
que a fizera a mais amada das mulheres e a mais perfeita das deusas (...)

 ...ou nos quais tenta intender (consequentemente explicar) ou falar italiano:

p. 77
(ROMA) Quando muito, o “prego” usual, que quer dizer “desculpe”, e, para um amigo mais querido que se
avista, o “ciau” a palavra intraduzível da cortesia italiana que significa qualquer coisa como
“escravo” – de amor ou de amizade.
p. 112
(ROMA) ...saboreiam os “gelatti”

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ITINERÁRIO DE VIAGEM

UMA ROTA ESPECÍFICA OU NÃO?

O livro é dividivo por 5 seções, cada uma dedicada a uma cidade visitada. A jornada começa em ROMA no
livro. No entanto, os cápitulos (ROMA - FLORENÇA – VENEZA - NAPOLES e ASSIS) apresentam subdivisões
internas, e não significa que o itinerário siga a sucessão das cidades de maneira rígida, que no caso resultaria num
itinerário bem pouco inteligente, incluindo absurdas idas e voltas do norte para o sul e vice-versa:

CIDADES DIREÇÃO NO MAPA

1. ROMA ↓ SUL

2. FLORENÇA ↑ NORTE

3. VENEZA ↗ NORDESTE

4. NAPOLES ↓ SUL

5. ASSIS ↑ NORTE

No entanto, de vez em quando o mesmo autor nos confia no curso do livro mencionando “que anos passaram” (como no
caso de ASSIS) ou que ele se refugiu em Nápoles, “porque estava muito quente em Roma”. De qualquer forma,
podemos ter certeza que saiu de Roma para alcançar a cidade de Florença, pois ele escreve ao começo da relativa seção
que “deixa as malas no albergo de Roma” e que “(...) em pouco mais de quatro horas (o comboio) leva-nos rápidamente
a Florença”.

ACOMPANHADO OU SOZIN HO?

Em geral, como acabamos de observar na última citação (“leva-nos rápidamente a Florença”, p. 128), Artur Portela
usa muito frequentemente o pronome objeto relativo à primeira pessoa do plural “nos” ou conjuga o verbo com o
pronome sujeito correspondente “nós” (“eram, precisamente, 4 horas quando (nós) lhe batemos à porta”, p. 160), quase
sugerindo a presença dum acompanhador de viagem. No entanto, não está definitivamente claro se ele viajou
acompanhado e, no caso com quem. Pode ser que ele adopte esse sujeito plural porque:
1. Com ele há uma mulher que conheceu na viagem anterior, ou na viagem corrente;
2. Com ele há, mais simplesmente, um amigo e/ou colega de trabalho;
3. Por outro lado, o senhor Portela pode adoptar o “nós” como plural de modéstia, tipo de plural freqüentemente
usado na linguagem escrita por um narrador de uma história que quer limitar a sua individualidade no que está
escrevendo e relatando. De qualquer forma, isso causa uma evidente falta de humildade. Porém pode ter sido
adoptado para dar mais vivacidade a certas sensações ou reflexões que passam pela cabeça do escritor.

Essas hipóteses surgem de algumas passagens, nomeadamente:


1. A figura da mulher que acompanha sugere-se nos trechos:

p. 195
(ROMA) Ontem, fomos ao Coliseu ver o nascer da Lua (...)

p. 204
(FLORENÇA) Estreitei Jeny (...). Como se nada visse, beijei-a de novo, enquanto o Arno passava sob os
braços da Ponte Veccha, e dos nossos também. (...) Abandonámos a sombra de Cellini e
encaminhámo-nos para o lado posto da Ponte Vecchia (...)

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2. Um colega:

p. 297
(ASSIS) Embora sempre a subir, estávamos no bom caminho (...)
Surgiu-nos uma velha criada, que ouvindo o nosso cacharolete trilingue entendeu que éramos
turcos.
– Nem turcos, nem suevos: portugueses! Queira dizer ao Senhor Professor que está aqui um
jornalista de Lisboa.
E subimos a escadaria, entrando para a casa de jantar (...).

3. Plural de modéstia / plural de “vivacidade”:


p. 314
(ASSIS) Temos de reconhecer que a poesi religiosa é comovente!

p. 216
(VENEZA) À nossa esquerda estava a igreja de São Marcos, com cinco cúpulas não muito altas (...)
p. 253
(VENEZA) È que Veneza, para sermos exactos, não tem apenas uma fisionomia lânguida, dolente, mórbida
(...).

AS CIDADES NO ESPECÍFICO

No geral, esse esquema muito pouco pormenorizado nos ajudará entender quanto tempo e páginas Artur Portela quis
dedicar a cada sua etápa:

Cidade Intervalo de Notas


páginas

ROMA pp. 11-124 O primeiro capítulo nos fala sobre a viagem.


Artur Portela se concentra nos vários tipos de passageiros que serão seus companheiros de viagem. Há
páginas inteiras dedicadas à situação política italiana (nomeam-se Mussolini, Togliatti, Plano Marshall, o
governo de Gasperi, Casa de Sabóia), descrições de obras de arte (La Fornarina, por exemplo),
monumentos.
Não faltam menções de vários artistas, a comprovar o grande conhecimento de Portela.
Nota-se ao mesmo tempo uma atenção ao povo dos italianos, às garotas italianas, aos casais de amantes,
mas também a questões como o salário médio, a greve de transporte ou a importância dos domingo e do
totocalcio.
Portela de vez em quando tenta falar italiano, mas as tentativas não são das melhores...!

FLORENÇA pp. 127-208 Esta seção dedicada a Florença começa com a agradável surpresa da Portela de se encontrar num trem
confortável, apesar do fato de que não se trate de um vagão de luxo, porém não há erros, e é mesmo o
lugar onde ele teria que estar, pois passa o revisor e está tudo bem.
Compartilha então connosco a paisagem que vê da janela do trem, as descrições resultam cheias de
pormenores poéticos: o leitor ficará encantado.
Na cidade, Portela se dará conta que está em períoo de eleições eleitorais.
É feita referência a várias obras (de Tiziano, Botticelli, Massaccio, Leonardo da Vinci, Cimabue), tanto
artísticas e literárias (a Divina Comédia, em primeiro lugar, ou a figura de Giovanni Pascoli).
Portela terá a honra de conhecer pessoalmente o intelectual italiano Giovanni Papini, ele fala das sua
últimas produções literárias e Salazar, democracia. No último capítulo desta seção, Artur Portela conhece
uma mulher, ela tem um nome em inglês (Jeny), então ela poderia bem ser uma turista. Não é a primeira
rapariga que o jornalista português vai conhecer durante a viagem pela Itália, aparentemente ele não é
apenas um homem culto mas também fascinante.

VENEZA pp. 211-266 A secção do livro dedicada à Veneza caracteriza-se por metaforas e descrições largamente poéticas
Utilizam-se frequentemente palavras regionais: venezianas.

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Portela visita em Veneza durante a Bienal, um evento internacionalmente famoso no mundo artístico. Ele
parece gostar, mas ele não adora-a. Na lagoa, até experienciará de se perder, mas não se desencoraja por
isso: Afinal, é típico dos estrangeiros não conseguirem se orientar facilmente na Veneza das ruas estreitas
e entrelaçadas.
Portela parece um viajante muito curioso, pois ele falará com um gondoleiro, que o faz compartilhar de
uma lenda popular sobre uma jovem mulher que se mergulhou na água do canal para escapar do pai
violento que queria matá-la (pois ele tinha descoberto o relacionamento amoroso dela). Talvez não seja
uma história verídica, como a figura de Bianca que aparece logo depois. Bianca se apresenta como uma
doce “veneziana” que se despede tristemente de Portela. Não entendemos bem que tipo de relação havia
entre os dois, em qualquer caso a viagem do português não pode parar. Deve deixar Veneza e a
“veneziana”. Ela lhe diz adeus esperando que “tu ritorni, amore!” (“que tu retornes, amor” quer dizer, que
Artur Portela volte à lagoa).

NÁPOLES pp. 269-278 Nápoles parece uma cidade de grandes contradições. Há uma parte bonita, cheia de flores (pois, essa
descrição faz principalmente referência à ilha no Golfo de Nápoles, Capri), que se opõe às descrições
relacionadas à parte mais pobre da cidade (“favelas sem sol”).
Atenção dedica-se aos (numerosíssimos) italianos, ao jeito desse povo, à sua religiosidade. Os autores que
comprovam o conhecimento da Portela aqui são: Curzio Malaparte, a Divina Commedia, a canção popular
napolitana Marechiare.

ASSIS pp. 281-326 A última seção é dedicada à região da Úmbria, e precisamente em Assis. Mostra-se a cautela e
sensibilidade do autor, que passará alguns dias nas descrições da flora e fauna da Úmbria. A Umbra, pois,
é freqüentemente chamada “coração verde” da Itália. Enfim, constitui uma região famosa por suas
paisagens intocadas, imersa no verde das colinas, montanhas e vales, e onde não faltam aldeias antigas que
encantam.

Acescrente-se que no livro de Artur Portela não està presente um mapa. As mapas adquiriram importância
especial não pelas informações geográficas e históricas que facultavam, mas sobretudo porque guiavam os leitores nos
itinerários descritos. Se tornarão então úteis que assim como havia colecções de narrativas, portateis, de bolso, também
existiam atlas de formato reduzido, para levar em viagem8.

Notei quatro caractéristicas principais em Portela, pois seguem uma analise aprofundizada sobre quatro das
cinco cidades visitada pelo autor. Isso fornecerá uns exemplos concretos aos rasgos do autor da segunda columna.
Portando selecionei a cidade de... para analisar/indicar...
 Roma 1. A estilo geral, a erudição;
 Veneza 2. As imagens poéticas e os comentários até arrogantes sobre um evento de Portela
como a Bienal;
 Nápoles 3. Os italianos, as sensações e as contradições do lugar;
 Assis 4. A espiritualidade.

ROMA
No geral, o caso das peregrinações à cidade de Roma deverão ser consideradas em toda a sua complexidade.
De fato, tal como aconteceu com Jerusalem, a “urbs” de Roma tornou-se uma cidade santa, no específico desde o seculo
dois um dos principais objetivos de qualquer viajante cristão: constituia uma outra cidade santa, e além disso um destino
menos difícil de alcançar.
É lá, em Roma, que se conserva a doutrina veiculada pelos apostolosos Pedro e Paulo, transmetida fielmente por cada
um dos seguintes bispos locais. Ainda há uma verdadeira atração excercida por Roma, devida à sua beleza

8
Condicionantes Culturais Da Literatura Da Viagem, capítulo de introdução.

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acompanhada por uma extraordinaria riqueza artística e histórica que a tornou enorme centro de interesse. Claramente,
também para os portugueses, Roma foi um “centro da piedade peregrinante”, cidade onde então gostavam deslocarse
peregrinos em grande numero, aliando os mais diversos motivos: obediencia ao Papa ou ao ensinamento dos apóstolos.

É então Roma, capital italiana, a primeira cidade que o autor abordará e visitará no seu Rosas da Itália.
Tem grandes descrições, que evidentemente comprovam uma preparação e erudição por parte de Portela. Ele
gosta mesmo de nos contar algo da cidade, assim como das pessoas, quer dizer, dos tipos humanos, usos e costumes
desconhecidos ou curiosos com os quais ele se enfrenterá no exterior. Os leitores encontrarão uma recostruição grafica
do lugar, a traça dos monumentos, idéias e noções mais ou menos aprofundizadas sobre o que Portela conhece e visita
no decorrer da excursão.

Não faltam:

 apreciamentos às mulheres italianas (como mencionado na seção do título):

Pag. 26
(...) pintam-se com coquetismo e vestem-se com económica simplicidade, sem uma jóia, um
atavio, numa elegância natural aristocratizada pelos séculos, e os seus corpos rítmicos,
ondulantes, bem marcados de formas – a pujança dos seios das figuras de Rafael do Vaticano,
tornam-nas eufóricamente triunfais.
Pelo visto, Roma não possui apenas estátuas de perdra, também as tem de carne!

Pag. 79
E que belas são estas italianas, todas sem chapeu, (...) cabelos encaracolados, ou cortados
como os dos pajens de Carpacio.

 ou a revelação de ter se perdido:

Pag. 89
Buscando a Foi-me assaz díficil descobrir a igreja de São Pietro in Vincoli (...) ...inimigo das plantas
igreja, em vão topográficas, resolvi perguntar aos polícias que; ao centro de cada rua, dirigem, sem batuta, os
[Nota-se que os diversos naipes da orquestra do trânsito, onde morava o famoso “Moisés” de Miguel Ângelo.
dois lugares As indicações foram tão precisas que dei volta ao Colseu Romano, perdendo-me depois,
estão quase 30 quase irremediàvelmente, nas termas de Caracala.
minutos
distantes um do
outro]

O relato de viagem de Artur Portela não presenta ilustraçoes. Porém, ilustrações passam pelas descrições cada vez mais
abundantes e perfeitas.

Pag. 36
Sobre o Coliseu A grandiosa ruína, mutilada, com escalavradas massas de materiais, onde ainda
se distinguem as bancadas e os corredores, ia, lentamente, revelando as suas
gigantescas formas decrépitas.

Enxergando os monumentos e os quadros, Portela nos traz histórias de proporções notaveis...

Pag. 32
Sobre a Ali, estava diferente, quase impudica, de seios à mostra, olhos de córnea verde e pupilas negras, grandes
Fornarina e fulurantes, nariz grosso, lábios túmidos e sensuais de bacante, segurando as pregas de um manto
vermelho, rico de cor, que, há séculos, lhe aquece a epiderme morena e voluptuosa.
Um turbante, sobre os cabelos pretos, estranho gavarim, embora sem pedrarias, dá-lhe um ar exótico de
cigana ou de arménia em serralho de paxá. Não é um tipo italiano, nem serviu de modelo a qualquer das
místicas Madonas do artistas. Pergunta-se: porquê?
...
(...) é curioso verificar que Rafael Sânzio – que criou na pintura um tipo ideal de mulher, verdadeira aurora
mística de beleza, como na “Virgem do Grã Duque”, loura, doce, rosto oval, para não dizer ogival, tão suaves
são as suas linhas, olhos velados, vago sorriso a esboçar-se na comissura dos lábios, que parecem guardar um
segredo inefável – tivesse amado aquela mulher estranha, mesmo feia, que pode ter sido apaixonante,

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mas que não acusa uma centelha espiritural, um bater de asas de sensibilidade, um frémito de alma, que
pudesse inspirar tão divinos pinceis.

...Alguma coisa ele até inventa, num evidente tentativa de intrateternos com exclamações:

Pag. 33
Sobre a Mas o artista subime marcou-a, para além dos tempos, om a sigla do génio
Fornarina imortal, escrevendo o seu nome numa manilha verde, que ela ostenta no braço
esquerdo, nítido, perfeito, com todos os caracteres – contraste no ouro puro
daquela obra-prima, como a dizer à posteridade: “FOI MINHA!”

VENEZA
Como previamente mencionado (se veja a tabela), a secção do livro dedicada à Veneza caracteriza-se por
metaforas e descrições largamente poéticas, e também a vontade de compartilhar algumas sensações e opiniões do
autor. A primeira impressão da cidade é que é muito semelhante a uma ruína. Porém, não podia ser de outra forma,
pois é a noite é a parte do dia que mais fascina e intriga o jornalista lisboeta: “todas as noites Veneza oferece uma nova
surpresa voluptuosa”. Lemos que:

p. 255
...parece um búzio translúcido, senão uma rosea nuvem suavemente pousada
sobre uma laguna.

Veneza estendia os braços coleantes dos seus canais, mais bela e voluptuosa do
que nunca.
O céu parecia arder entre púrpuras opulentas e roxos brocados, como no
esplendor dos tectos do Palácio ducal, deixando cair sobre as águas uma chuva
de topázios e esmeraldas coruscantes.

Portela nomeia a população, descreve-a, entre os “bambinos” (que -não supreendentemente- brincam como em
Lisboa), “gondolieres” e mulheres. Dessas se diz:

Pag 225
As mulheres se reclinavam na amurada, molhando nas àguas os longos
cabelos, de louro veneziano, lembravam aquelas figuras admiràveis de
Vénus e de Ariadna, de seios exuberantes e doirados, que Tintoreto pintou
galantemente, amando-as com frenesi sensual …

E também se
viaja “a olhos ...estavamos no Lido a ver as ninfas banhando os corpos nacarados, languidos
abertos” na p. e ondulantes como gondolas, nas aguas sensuais do Adriatico...

Tem também um comentário sobre como se tratam os turistas, definidos ironicamente “objetos de exportaçao continua”
(página 213). Descreve “ragazzi e ragazze” também. Se canta, eles estão evidentemente felizes (pag. 215).

No momento em que Portela fica em Veneza, nos contará que está a acontecer uma festa: o Presidente da
República chegou para inaugurar a famosa Bienal de Veneza (“Biennale di Venezia), que define evento e lugar que
deve-se inevitavelmente visitar e divertidamente definido “um auténtico gelato onde hà todos os sabores esteticos”. Ele
se lembra e compartilha connosco as impressões das obras definidas uma “batalha de cores”.
O autor nos confessa que a exposição não o encantou nem desencantou. Se dedica porém a exclarecer-nos o plano
topográfico da Biennale: “o plano é constituido por um grande pavilhao central – e por diversos anexos espalhados
pelos jardins”. Começa depis uma lista dos pintores presentes: Delleani (1840-1908), Zandomeneghi (1841-1917), Sulti,
Cassinari, Guttuzo, Casorati, Usellini, Sassu, Chirico, Berr, Migneco, Rosai, Trombadori, Pietro Longhi ...até chegar a
uma clara conclusão:

...hà mais,muitos mais, centenas deles, mas nao merece a pena enumera-los porque sao

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desconhecidos em Portugal.

Nesta seção, há comentários pessoais e exclamações, como: “tinha ternura os pincéis desse homem!” ou “estes dois
pintores são románticos? Sem dúvida!” ou“ qual o título? Ignoramos!” ou comparações com artistas mais conhecidos
“nada do claro ou trágico de Goia!”. Uma consideração um tanto arrogante segue, ou talvez trata-se mais simplesmente
de uma tentativa de ser engraçado aos leitores:

...hà dezenas de trabalahos desse genero, mas nada dentro de inteligivel. (…)
A admissao è facilima. (…) Até eu entrava!

Enfim, Portela pode não ter gostado da Bienal, mas gosta de Veneza e talvez “bêbado com tanta beleza”, imagina
cenários, situações, sempre conotada pela presença de personagens artísticos (como a Venus do Botticelli):

em qualquer dos casos, Venus, tal como Boticelli a pintou, tinha emergido naquele mesmo
instante, bionda e nua, das águas do mar.

Utilizam-se frequentemente palavras italianas, em específico as venezianas “campielli” (praceta), “rii” (beira
do rio), “calli” (ruas) e “fundamente” (rua ao lado do canal, o à beira da água). Fala-se sobre o transporte local:
gôndolas e “vaporetti”. O italiano de Portela não está errado, porém mistura gramatica, sintaxe e morfologia do
português e italiano, originando formas como:

Venezia, és um pezzo del paradiso cadutto del cielo!

Na Veneza de Portela obviamente não faltam as gôndolas. Se para para nos narrar duma gôndola
caracterizada por “uma bela voz”: trata-se da “Galleggiante” que nos explica ser uma barca dos musicos que aos
domingos, segundo parece, percorre os canais e as “fondamente” dos hotés de luxo. Há então alguns parágrafos
dedicados a uma pequena digressão sobre essa gôndola musical.

Como muitas vezes acontece com qualquer turistas nesta cidade na região do Vêneto, Artur Portela também vai
achar difícil encontrar o caminho certo em Veneza, e por isso terá que pedir instruções. Ele pergunta qual poderia ser
o melhor caminho para chegar a praça de San Marco. Um senhor lhe responderia logo: “- Náo terá que fazer mais do
que simplesmente seguir a cadeia de multidão! Vai e volta com ela, direitinho”. Uma técnica que Artur Portela decidirá
adotar e que se revelará justa: ele escreve: “assim foi”.

O autor também nos confessa que pouco a pouco sentirá em Veneza o terrível feitiço da morte, pois os
prédios de aparência decadente parecem ser verdadeiros mausoléus. Refere-se de novo à decadência elegante da
cidade: “a àgua bate-lhes, lodosa e bronzeada, nos degraus das escadarias. Todos tem um aspecto de mumias a
desfazerem-se. Os portões caem, roidos pela ferrugem. Nem uma cabeça assoma a um balcão. Quase todas as janelas,
em forma de ferradura, estão entaipadas por venezianas de madeira. “
Pequena digressão sobre os trágicos amores que Veneza assistiu. Grandes amantes em Veneza perderão sua felicidade
aqui: tais como Sand, Musset, Wagner, Byron, D. Juan: o autor estudou a lição e compartilha gentilmente a
aprendizagem e os conhecimentos dele.

Parece-nos que Portela está hospedado em um hotel ou até alugou um quarto em algum lugar na “laguna”.
Ele não tem que pagar pouco, pois a verdade é que ele mesmo descreve o que pode enxergar do quarto. A posição é
pitoresca e de uma passagem incrível: o Canal Grande.

Veneza, como foi mencionado antes, é uma cidade que o jornalista gosta, porém o assusta durante a noite
porque lhe parece cidade inanimada, sem alma, “votada à ruina e à morte. Serà esse seu fascinio e o seu destino? ....
Navegamos no meio de uma cidade fantasma”. Tal cenário misterioso, assustador e fascinante é também banalizado,
trazido de volta à realidade do nosso hoje em dia, onde os fantasmas são inofensivose substituídos por: “anúncio da
Coca-Cola. Menos letra - mas verdadeiro!”

Veneza deixa também que o autor viaje no tempo “dà-os a impressao triunfal dos seus séculos de glòria, tal
como o Canaletto a pintou”, e “numa tal profusão de motivos e arabescos arquitectónicos... construida pela

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magnificência de uma republica de mercadores, marinheiros, e corsaros” ... “evoca esse passado opulento”, assim
como “uma apoteose da riqueza”. Menciona-se o conceito de “ritmo arquitectónico”, de acordo com o qual “não há
uma superfície que não tenha interesse para a sensibilidade nem para uma poesia das alma”: o Portela estudou e nos dá
lições.

Aparece a história da linda Loredana. “Morosini” é o gondoleiro que conta a Portela e a nos que ela era uma
jovem mulher que o pai dela tentou matar pois não concebia que a filha não fosse mais “pura”. Ela conseguiu escapar e
entrar no canal, mergulhando-se na água. Seja como for, a lenda narra que corpo nenhum foi depois encontrado, e é por
isso que é necessário contar a historia “que è bem na alma desta Veneza misteriosa e fascinante”.

O capítulo dedicado a Veneza termina com a história de uma outra mulher. Bianca é uma mulher que
supostamente se juntou a Artur Portela. É assim, sem introduções particulares, que aparece a figura de Bianca, “a
doce”, “de sorriso de madona”, da “carne palida”, “mãos pequininas” ou “mãos esvoaçantes como pombas de Veneza”
e que encarnava a cidade maravilhosa:

No colo alto, um colar de pedrarias que (Artur) comparava sempre às luzes de são Marcos, quando
os vaporetti passavam, na noite fulgida da estrelas, para o Lido que, ao longe, rebrilhava, no díades
dos seus neuons faustosos, jà sobre as àguas cerúleas do Adriático

do mesmo fascínio dos roteiros ignorados dos canais dessertos e silenciosos que cingem
languidamente a capiosa rainha do mar.

Bianca é de qualquer forma maiormente caracterizada pela tristeza “com um sorriso triste” no momento da despedida
(“do adeus irrevogável”), pois o autor continuará a viajar e conhecer o resto da península e ela vai ficar na cidade de
Veneza. Mulher bem vestida, ela não descobre o corpo, que de fato: “o corpo de camelia (estava) evolto nas rendas
begras de Burano, como uma tunica sagrada” e por isso “parecia mais belo”.
Bianca chora, pela tristeza que sente por ter que deixar o seu amante, e até rezando e faz um pedido “de total de
penitencia”. O jornalista português fica curioso e pede-lhe para se explicar melhor. Aí, ela “travou-(lhe) docemente o
braço e disse apenas, ofertandome a boca em fogo, sequiosa de paixão “che tu ritorni amore”. ...Excelente italiano
presente pela primeira vez na obra de Artur Portela, pois esta frase subjuntiva que expressa desejo é gramaticamente
corretísima!

NÁPOLES
Parece, seguindo a sucessão de capítulos de cidade para cidade, o ponto de partida que a posição dessa seção
nos sugeriria seria que o autor para Napoles de Veneza. Ao mesmo tempo, porém, isso não é certo pois o mesmo autor
escreve logo que nos “dias em uma cidade parece fumegar de calor, como se tivesse sido, outra vez, incendiada por
Nero” ... eis porque (ele) se encontra em Nápoles, aparentemente saindo da capital italiana .

Seja como for, Artur Portela começa a descrever a cidade de Napoles (p. 269), referindo-se ao fato de que
“Amphitrite (deusa dos mares), de ouros cabelo e peito de bacante, poderia ter nascido por cima da uma gruta azzurra”.
Ele também chama Capri “baixel de flores”. Napoles vem descrito como um cenário (p. 274).

O autor Curzio Malaparte é nomeado (p. 270). Senhor Portela é interessado e informado sobre a figúra desse
autor, e pede informações adicionais sobre ele, mas à ouvir a pergunta, as pessoas “olham-me de sobrecenho carregado,
como se tivesse proferido o mais baixo insulto”.
A razão por esse comportamento vem logo explicada pelo mesmo Portela: o presidente do município promoveu um
processo por causa da produção literária do escritor, pois constituiu uma figura controversa na cena literária italiana,
passandode ser defensor do fascismo, até adversário do mesmo. Sua escrita trata de fatos autobiográficos, imaginários, e
conota-se por freqüentemente exageradas descrições das atrocidades da Segunda Guerra Mundial. O Portela nos relata
sobre esse assunto que: “tinha redigido a obra em frances… e um colega parisiense… e daì certos exageros, traços
grossos, além de expressoes duras” (p. 270).

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Comece logo uma descrição de Napoles: ela é:

Uma escala maritima do Mediterraneo, colorida, gritante, levantina e exuberante, mercado e


empório, porto e cidade, ainda com fortalezas do tempo da dominação espanhola que
arregaham as bocarras dos elhos canhões contra um imaginário corsario.

o cone do Vesuvio, bem perto, vem visto por Portela como:

empenachado de fumo, agora sustituído por uma nuvem branca que podia dar uma fotografia quase
dramática.

Nas descrições da cidade aparecem imagens fortes, características e muito impactantes: entre algumas:
“aqui são a rua e um multidão que dominam” (p. 271); as estradas começam feitas “arteiras (...) estreitaspara esta
população de um milhão e duzentas mil almas” (p. 272). Muitas pessoas vivem aqui e estão presentes na rua e isso faz
com que o Portela as compare a enxames de abelhas ou pulgas.

As hipérboles são as protagonistas no relato dedicado à essa cidade muito animada. O mercado é descrito como uma
instalaçío de “centenas, senão milhares, de tendas e tabuleios”; pois “ao ar livre, num grande mercado de ondas se
vende de tudo: ... ... corvos domesticados, tripas de boi, frutas, hortaliças, postais, oculos e milhentas coisas mais”.
Das pessoas se diz: “um espesso formegueiro de gente”, “rios humano”. Como seja no espécifico essas pessoas, diz-se
logo depois no detalhe: “è uma gente ardente, morena ou vermelha, que fala alto, qu grita, que gesticula, cheia de cor,
de animaçao, vibranes em exclamacoes earrebatadas ao mais pequeno incidente” (p. 272-273).

Importante a descrição da parte mais pobre da cidade, talvez por esse motivo a que mais enfeitiçou e encanta o
jornalista Artur Portela. Por exemplo, ele nos conta como nestas “favelas sem sol”:
p. 276
A vida domestica, o caldo para o jantar, o coser à máquina, a lavagem dos vegetais,
até mesmo o que pode ser mais intimo, faz-se cá fora, onde as mulheres se sentam,
trabalham ou ralham, num confuso burburinho.

As casas são chamadas até “tugúrios”: habitações choças, algo nada luxuoso, de fato, típico de áreas degradadas. Nessa
área o cheiro define-se, eufemisticamente “caractéristico”. Referindo-se ao mercado, porém, o Artur Portela cria
verdadeiros “francesismos”: a descrição foca-se na sujidade, pois...
p. 276
Os tabuleiros de peixe, de hortaliças, de mariscos, ocupam metade da calçada
estreita, coberta de detitos putrefactos e de fétidas escorrencias

Desde a mitade do capítulo, então, se Napoles foi primeiramente descrita como um paraíiso de cores e flores, veio
depois incessantemente indicado como um lugar “confuso, bárbaro, repugnante, encardido por vezes, com notas
violentas de rubro”.

Artur mostra aqui a sua erudição também. Citando a Divina Comédia, o jornalista compara o “torvelinho
verdadeiramente labiríntico de bairros pobres, com prédios altos e estreitos algurjas sem sol, quelhas sem luz, becos
cegos” ao “épico sobre-humano da Divina Comedia” – só que aqui a visita se desenvolve “mesmo sem a sombra doce e
confiante di Virgilio”.
O famoso ditado não falta: mesmo Artur Portela (p. 271) escreve que quem-quer “veja Nápoles e depois morra” . Esse
ditado foi pela primeira vez formulado por Johan Wolfgang von Goethe: “Siehe Neapel und stirb”. O que o Portela quer
dizer é que Napoles é uma cidade “diferente de tudo que se pode imaginar”.
Se lembra noemar também a celebre janela (“‘a fenestella”) do poeta e escritor napolitano Salvatore di Giacomo que o
inspirou (“Marechiare” é o seu poema).

O autor se interessa ao modo de viver dos Napolitanos.

Com relação à religião, Ele nota logo que “em cada cunhal, em cada casa, em cada loja, hà sempre uma Madona”. A
população dos Napolitanos parecem mesmo “profundamente religiosos”. Ao mesmo, ao entrar numa igreja,
provávelmente movido pela curiosidade, tudo lhe parecerá “muito simples, e ingênuo” (p. 273).

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Descreve as mulheres presentes na Missa, estas entoavam uma “preghiera” (oração), que ressoava. Elas formavam um
coro maravilhso, de “notas de amor”. Elas são “lindas napolitanas vestidas com garbo” em via Roma. O autor conhece
os quadros neo-realistas de cinema de Sica ou Genina (p. 275), pois compara a visão dessas senhoras com o que se vê
no cinema neo-realista italiano (podemos citar o filme “L’oro di Napoli” do 1954 onde vemos Sophia Loren).
Ainda falando de mulheres, Portela observa uma mulher que amamenta ou filho “com nobre orgulho”. Outra cena que
lhe captura a atenção é “a roupa que enxuga”. Na página 276, se diz delas também que “as mulheres, de grandes olhos
negros, como as heroínas do teatro siciliano, fitam-nos com assombro, como se viéssemos de um estranho país”. Tal
atitude é típica de mulheres de países onde essas não eram independentes ou livres, mas pertencentes a sociedades
patriarcais.

É dado um exemplo concreto do temperamento dos napolitanos, sobre o qual a Portela ainda não havia se
concentrado. Há uma briga (p. 277): “dois rapazes engalfinham-se em rija pancadaria”, porém mais de que duas
pessoas envolvam-se, por exemplo “mulheres armadas de paus e vassouras”. A conclusão do autor ao ter partecipado a
essa situação é que os Napolitanos sao assim: “ com o ‘cuore’ ao pé da boca”: em italiano se diz “avere il cuore sulle
labbra”: ser espontâneos e impulsvos.

O capítulo termina com Artur Portela voltando ao seu hotel tarde pela noite, hórario que ele define “altas
horas” (em italiano “a ore piccole”, traduzível em “oras pequenas”. A lua é cheia, e nos deixa com a imagem poética
desde a baìa de Napoles” que, numa personificação, lhe “canta a sua mais linda barcarola” (p.278), que é uma
composição vocal ou instrumental, geralmente na forma de uma canção e conotada por um movimento calmo, inspirado
no balanço que se experiência num qualquer barco que flutua.

ASSIS
A cidade de Assis é então introduzida. Aparece uma descrição da viagem para chegar à cidade de Assis. Artur
Portela chega de comboio: “flexível como um harmonio, se adapta às curvas e controcurvas repetidas e bruscas”.

O autor viaja pela parte da noite, pois ele mesmo diz que acordou às 6h, de repente na cidade de Assis, cidade de
“andorinhas assobiando sobre a cidade angelical” (p.281). Não faltam belas descrições desses animais cantando, ou
melhor, “gritando de alegria”.

Diz-se que a viagem para Assis foi tão veloce assim como sombria. Não havia sol (p. 284) a Umbria é uma
região no geral descrita como triste, “com os seus lobos e como suas fragas bruscas e inacessíveis”. E agora a
paisagem é descrita; na opinião de Portela a paisagem na região da Umbria é de uma serenidade extasiante:

Varias páginas “Os montes lilases e suaves linhas da Umbria” ...

“Uma extensa e calma planicia”,

“(...) uma vegetação tão macia, tão lisa que parece pintada em vidro”.

“oliveirinhas cinzentas marcam os caminhos, e os pinheiros de coma rala”.

Trata largamente ao silêncio: ele é até “sobrenatural, do outro mundo, envolvia, apaziguava tanto a vida como as
coisas”. O “testemunho” italiano de Portela na Umbria é cada vez mais atento aos fenômenos atmosféricos como o
sol ou as nuvens, ou o silêncio da natureza: “de repente aparecem como as vistas, uma perspectiva vira-se e o céu abre-
se numa clareira de sol”, escreve-se. E ainda exclamações:

“Não faltou, no espaço ainda embolado de nuvens, um arco-íris esperança: que poésia!”

As casas de Assis são estreitas, e em cada peitoril “caiam cravos vermelhos e perfumados geranios”; ou de
uma “calçada ingreme, enre balcões de geránios, cravos e petúnias”: as flores (citando o título da obra) tnão estão
faltando nem sequer aqui. No geral, Assis revela-se por ser um lugar silencioso onde sò se veem sombras. As vozes são

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mais baixas, como se tivessem recéio de romper este silêncio dos séculos (p. 287). Tudo de Assis pode se resumir em
uma expressão exclamátiva típica da escrita de Portela: (p. 289): “tudo terra, humildade, natureza e pobreza!”.

O que destaca Assis, é o fato de ser chamada “Jerusalem da Itália”: a -talvez exagerada- atenção apenas
dedicada às características calmas e pacíficas da cidade é imediatamente então justificada pela explicação que segue: é
esta a cidade na qual São Francisco (p. 285) e Santa Clara (p. 292) viveram e morreram. A história de São Francisco é
contada, e depois o famoso cantico dele que declama “Frate Sole, Soror Luna e le stelle, Soror Acqua, Soror nostra
mater Terra!”. Nas paredes afrescada por Giotto se podem ver as fases que marcam o percurso espiritual do San
Francesco, chamado também “Poverello”.

Em seguida, Artur Portela parece que se lembra da sua profissão de jornalista e, talvez por causa de uma
engraçada espécie de distorção profissional, ele dá um toque jornalístico a esta última seção do livro. O autor aqui
tem uma inspiração e pensa bem em dar origem a uma entrevista. Tal entrevista acontece com um escritor experto
“franciscano”, que é um dinamarquês chamado Joergenssen. Embora se diga que “Assis è bem pequena!”, e que
por “cabe no coraçao” (p. 294), Portela e assistente para encontrar a casa do escritor, os dois pedirão indicações.
O senhor Joergesson será encontrado e entrevistado pelo autor do livro. A figura do humilde frade católico italiano
permite eles ampliarem o discurso: os dois se perguntam se a defesa da humildade promulgada por San Francesco foi
realizada e se espalhou.

Este último capítulo do livro e, portanto, esta última cidade, se desenvolve e vem experiênciada de forma
diferente se for comparado com os outros e antecedentes relatos que Portela nos fornece tratando das outras cidades que
ele conhecerá e visitará na Itália. De fato, depois de uma seção dedicada a uma estadia e um encontro com um
intelectual dinamarquês que se mudou para a Úmbria, ocorre uma “prolepsis” (oposto de “analepsis”, em inglês
“flashback”): 10 anos se passaram e Artur Portela retorna (pelo menos idealmente) para Assis, refirindo-se à
personagem do Frei Fernando.

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CONCLUSÃO

A literatura de viagem é apresentada como um tipo de literatura perfeita para aqueles que visam conciliar a
cultura empírica com a maravilha romântica. Se a errância humana se traduz, privilegiadamente, em percursos que
marcam os estádios da evolução do homem e do seu modo de ver o mundo, da mesma forma também os textos que a
relatam dessa errância dão igualmente lugar importante à relação dos reinos da natureza com o modo de como esses
podem ser descritos. O ar que se respira lendo esse livro escrito por Artur Portela é sempre novo, graças ao autor que
resulta ser muito bom e brilhante em deixar nos imaginar os lugare que visita e as várias sensações que tais panoramas
lhe suscitam, além de trazer a história para trás desses certos sítios e a nossa época.

Distingui-se um inovativo “prazer da descoberta escondida atrás da próxima colina” em Portela. Ele não se limita a nos
contar o que ele vê, pois faz isso admirando-o. Consegue então entregarnos um romance inteligente, no sentido que esse
livro não constitui um devaneio do escritor, pois ele faz sempre referência a uma fatos e situações reais e tangíveis
que denotam também a sua cultura. De qualquer forma isso vem intervalado por anedoctas, exclamações e notas
comicas, como por exemplo a anotação -por mim (enquanto italiana) confirmada- que “uma via Roma” e um “corso
Humberto” são “infalíveis em todas as cidades italianas”.

Pessoalmente, porém, acho que não fui capaz de ter uma profunda empatia com o escritor Autor Portela e
como a viagem se desenvolve no enredo em si. Estruturado com poucos diálogos, mas com muitas exclamações
pessoais e informação cultural, Artur Portela parece ter adotado uma técnica literária por meio da qual em vez de me
sentr particularmente estimulada para (re)conhecer um pais tão interessante e cheios de estímulos culturais como o meu,
esses estímulos pareceram-me demasiados! A literatura de viagem, normalmente apaixonante, e que potencialmente
faz com que o leitor queira mesmo viajar ao lado do autor (mesmo que por pouco tempo), aqui na minha opinião não
funcionou.

No entanto, poder-se-ia dizer que a Portela cumpriu esse grande papel dos autores de literatura de viagem:
dar a possibilidade de fazer visitar lugares mesmo a quem permanece sentado na poltrona. A ‘viagem’ trata-se
sempre de uma oportunidade única de contactos com espaços e gentes diferentes. Portela aguça a sua curiosidade, e o
conhecimento e, conseguentemene, a experiência, perguntando, conhecendo e (provavelmente) se apaixonando por
lugares e pessoas – que depois nos nomea.

Fala e interessa-se por italianos e italianas (sobretudo essas), até pelas crianças (os “bambinos”) e faz também
comparações com o pais natal dele, Portugal, e a sua cidade de Lisboa. Um exemplo pode ser o seu pensamento de
quão possa ser unternacional uma brincadeira infantil: “as crianças brincam, como em Lisboa, como em toda a parte do
mundo, nos mesmos jogos de uma pura e angelica fraternidade bambinesca”; ou sobre o greve frequente dos transporte
na Itália, que poderia até “ser ocasião dos obesos portugueses virem fazer uma cura de pedestrianismo a Roma:
emagreciam com certeza!”.

Observa os italianos, nos gestos e atitudes deles. È um povo disponivél, pois quando o Artur Portela não conseguirá se
orientar, até um barbeiro se disponibilizará, “indo à porta, mesmo de tesoura na mão” para lhe indicar a direção justa.
Ademais, são espontâneos e impulsivos, que é um bem e um mal ao mesmo tempo, sobretudo quando hão brigad pelas
rua (como aconteceu em Nápoles).

Além disso, para ter sido uma estadia na Itália, destaca-se o fato que não haja muita atenção e cuidado em descrever
a gastronomia italiana, pois essa é uma das culinárias mais famosas pelo mundo. Se encontra uma vez a menção de ter
entrado num “magnifico restaurantes (...) com tartines (...) tão coloridas como a paleta de Van Gogh”. No entanto, não
se debruça sobre este ponto. Pelo contrário, todo o discurso termina com um meio-zangado “...saimos. Cà fora, no
restaurante, comia-se bem e caro.”

Para concluir, essa obra escrita pelo lisboeta Artur Portela pode sem dúvidas entrar se classificar como
literatura de viagem, embora a grande atenção ao mundo feminino que de vez em quando apareceu-me evitável e um
pouco inapropriada. Enfim, o escritor parece ter gostado do roteiro que completa e do fato der satisfeito a demonstração
dos seus conhecimentos culturais (mas também linguísticos: “a dextra”, “tanta cosa bella ragazza”) e, pois nos deixa

com imensas imagens romanticas que só elas chegam para~ motivar


16 ~ uma viagem para o belo país da Itália.
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BIBLIOGRAFÍA

Cristovão, F. (1999). Literatura De Viagens: Condicionantes Culturais Da Literatura De Viagens. Coimbra: Almedina,
CLEPUL.

Em específico: Cristovão, Fernando. “Para Uma Teoria Da Literatura De Viagens”, página 13.
Cristovão, Fernando. “A Literatura de Viagens e a História Natural”, página 13.
Augusto, Sara. “Peregrinações: Roma E Santiago De Compostela”, página 83-87.
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Falcão, A. M., Nascimento, M. T., & Leal, M. L. (1997). Literatura de Viagem. Narrativa, História, Mito. Lisboa: Ed.
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Em específico: “Truth Lies And Representation”, página 121.


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Portela, A. (1937). Rosas de Itália. Lisboa: Livraria Bertrand, [19--?].

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