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Sírio Possenti
Professor da Universidade Estadual de CAMPINAS – UNICAMP
RESUMO
ABSTRACT
O objetivo deste trabalho é tentar mostrar que ço “pessoal”, a ser tratado possivelmente no domí-
enunciação, autoria e estilo, conceitos que, supos- nio que se tem chamado, em mais de um lugar, de
tamente, não poderiam conviver numa mesma teo- singularidade. A tentativa de tornar esses concei-
ria, podem ser reinterpretados de maneira produti- tos produtivos e relevantes em conjunto será
va, sem qualquer violência teórica, ou seja, podem esboçada (apenas esboçada) em relação a textos
ser compatibilizados entre si e com a Análise do escolares, considerados mal acabados pelos mais
Discurso. Isso exige, no entanto, em primeiro lugar, óbvios parâmetros usuais, especialmente os esco-
que se retire o estilo do domínio, para uns exclusi- lares.
vo, do romantismo; em seguida, que se redefina 1. A noção de estilo mais corrente é, a rigor,
autoria, de modo a fazer com que o conceito não se romântica, e só fez sentido na medida em que foi
aplique apenas a personalidades (os próprios “au- compreendida como a expressão de uma subjetivi-
tores”), ou seja, para que não funcione apenas em dade (unitária, psicológica). Tanto a estratégia do
determinada relação de autor-obra, por um lado, e desvio quanto a da escolha, categorias alternati-
que não seja concebido apenas como idiossincrasia, vamente utilizadas na tradição da estilística, tanto
por outro; finalmente, requer-se uma concepção de para descrever um fato de língua (ou de texto)
enunciação tal que possa dar conta simultaneamente quanto para descrever uma atividade psicológica,
da produção de discurso a partir de uma posição confirmam basicamente esta inscrição romântica.
(institucional, por exemplo) e como acontecimento A escolha tem sido entendida, talvez injustamente,
irrepetível, marcado eventualmente por algum tra- como uma opção entre alternativas dadas, seja en-
“E terrivelmente violento um menino este dias É terrivelmente violento. Um menino, esses dias,
sem quere porque o outro empurrou ele ele esbarou sem querer, porque o outro empurrou ele, ele es-
no ouro muleque ele já foi pra sima dele ai ele barrou no outro moleque, ele já foi pra cima dele,
chingou o muleque”. aí ele xingou o moleque.
Afirmações como “escrevem como falam e fa- possível em decorrência de um olhar claramente
lam errado” é que são aterradoras. Dizer que as enviezado, que desconhece, para dizer pouco, a
frases só fazem sentido se lidas em voz alta só é natureza de certos ingredientes que certamente são
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Recebido em 01.05.01
Aprovado em 07.05.01
Autor: Sírio Possenti, doutor em Ciências pela UNICAMP, é professor associado na UNICAMP, no
Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem, e pesquisador do CNPq. Publicou:
Por que (não) ensinar gramática na escola (1996), Os humores da língua (1998), A cor da língua e
outras croniquinhas de lingüista (2001) (Campinas: Mercado de Letras) e Mal comportadas línguas
(Curitiba: Criar Edições, 2000), além do trabalho citado nas referências bibliográficas.
Endereço para correspondência: Rua Plínio Aveniente, 284, 13084-740, Campinas/SP.
E-mail: possenti@correionet.com.br