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Sumário: Introdução – O regime jurídico dos consórcios públicos – O regime jurídico estatutário e a
estabilidade do servidor – A estabilidade do servidor na Súmula nº 390 do Tribunal Superior do Trabalho –
A estabilidade do servidor nas decisões do Supremo Tribunal Federal – Considerações finais – Referências
Introdução
O objetivo do presente estudo é o de trazer ao debate a compatibilidade, ou
não, entre o regime jurídico dos consórcios públicos e a estabilidade do servidor
público contratado sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho, notadamente
à luz dos recentes posicionamentos jurisprudenciais adotados pelo Supremo Tribunal
Federal e pelo Tribunal Superior do Trabalho.
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Prevê o art. 1º: “Esta Lei dispõe sobre normas gerais para a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios contratarem consórcios públicos para a realização de objetivos de interesse comum e dá outras
providências”. O art. 3º dispõe: “O consórcio público será constituído por contrato cuja celebração dependerá
de prévia subscrição de protocolo de intenções”. O art. 8º determina: “Os entes consorciados somente
entregarão recursos ao consórcio público mediante contrato de rateio”. Por fim, diz o art. 13: “Deverão ser
constituídas e reguladas por contrato de programa, como condição de sua validade, as obrigações que um
ente da Federação constituir para com outro ente da Federação ou para com consórcio público no âmbito
de gestão associada em que haja a prestação de serviços públicos ou a transferência total ou parcial de
encargos, serviços, pessoal ou bens necessários à continuidade dos serviços transferidos”.
2
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 675.
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Após a entrada em vigor dessa lei, na lição de Celso Antônio Bandeira de Mello,3
os consórcios públicos são definidos da seguinte forma:
3
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.
p. 657.
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4
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administração Pública. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 442.
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Estabilidade significa que o servidor não pode ser demitido sem proces-
so administrativo ou judicial; é uma garantia constitucional do funcioná-
rio; é vínculo ao serviço público, não ao cargo. A efetividade é vínculo do
funcionário ao cargo: diz respeito à titularidade de atribuições de respon-
sabilidade específicas de um cargo.6
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores
nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso públi-
co. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
§1º - O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
5
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 513.
6
SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional Positivo. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 697-698.
7
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 443.
8
Idem, p. 444.
9
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella; FERRAZ, Luciano A.; MOTTA, Fabrício. 2. ed. Servidores Públicos na Consti
tuição de 1988. São Paulo: Atlas, 2014.
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Para edição da supracitada Súmula, foram usados como precedentes jurisprudenciais os seguintes julgados:
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Item I - ERR 459515/1998 - Juíza Conv. Glória Regina Ferreira Mello, DJ 02.08.2002 - Decisão unânime;
ERR 412005/1997 - Min. Milton de Moura França, DJ 31.05.2002 - Decisão unânime; ERR 422996/1998
- Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, DJ 03.05.2002 - Decisão unânime; ERR 481163/1998 - Min. Carlos
Alberto Reis de Paula, DJ 05.04.2002 - Decisão por maioria; ROAR 421648/1998 - Min. Ives Gandra
Martins Filho, DJ 24.11.2000 - Decisão unânime; ROAR 420755/1998 - Min. João Oreste Dalazen, DJ
20.10.2000 - Decisão por maioria; ERR 330200/1996 - Min. Vantuil Abdala, DJ 06.10.2000 - Decisão
unânime; ROAR 387511/1997 - Min. José Luciano de Castilho Pereira, DJ 29.09.2000 - Decisão por maioria;
ERR 224870/1995 - Min. Vantuil Abdala, DJ 12.02.1999 - Decisão unânime; ERR 174844/1995 - Min.
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Rider de Brito, DJ 27.11.1998 - Decisão unânime; RR 572678/1999, 2ªT - Min. Renato de Lacerda Paiva,
DJ 09.08.2002 - Decisão unânime; RR 425656/1998, 2ªT - Juiz Conv. José Pedro de Camargo, DJ 10.08.2001
- Decisão unânime; RR 557968/1999, 3ªT - Min. José Luiz Vasconcellos, DJ 01.09.2000 - Decisão unânime;
RR 570448/1999, 4ªT - Juiz Conv. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, DJ 26.04.2002 - Decisão
unânime; RR 669215/00, 5ªT - Min. João Batista Brito Pereira, DJ 26.04.2002 - Decisão unânime; Item II
- ERR 522150/1998 - Min. Milton de Moura França, DJ 20.04.2001 - Decisão unânime; ERR 329807/1996 -
Min. Wagner Pimenta, DJ 22.09.2000 - Decisão unânime; ERR 279741/1996 - Min. Milton de Moura França,
DJ 28.04.2000 - Decisão unânime; ERR 292039/1996 - Min. Milton de Moura França, DJ 07.04.2000
- Decisão unânime; RR 394890/1997, 2ªT - Min. José Luciano de Castilho Pereira, DJ 03.03.2000 -
Decisão unânime; RR 312513/1996, 3ªT - Min. José Luiz Vasconcellos, DJ 26.05.2000 - Decisão unânime;
RR 625486/2000, 4ªT - Min. Milton de Moura França, DJ 01.12.2000 - Decisão unânime.
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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit., p. 563.
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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella; FERRAZ, Luciano A.; MOTTA, Fabrício. Op. Cit., p. 150.
12
Ibidem.
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Assim, fica claro que, para o Supremo Tribunal Federal, a estabilidade prevista
no art. 41 da CR/88 é aplicável somente aos servidores públicos estatutários, sub-
metidos à relação de Direito Administrativo, não sendo ela estendida aos servidores
contratados pelo regime celetista, por não serem investidos em cargo público, mas
sim em função pública.
Ibidem.
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Considerações finais
Por todo o exposto, a Súmula nº 390, do Tribunal Superior do Trabalho, mantém
a estabilidade prevista no art. 41 da Constituição da República aos servidores públi-
cos celetistas da Administração direta, autárquica e fundacional, ao passo que, para
o Supremo Tribunal Federal, o servidor público não investido em cargo público, mas
exercente de função pública mediante contrato regido pela Consolidação das Leis do
Trabalho, não é beneficiário da estabilidade.
Conclui-se, portanto, que, para salvaguarda do direito dos jurisdicionados e dos
servidores públicos, é necessário promover uniformidade sobre o tema, o que deve
ser matéria de reflexão nos Tribunais Superiores, a fim de se evitar que o antagonis-
mo em tela seja fonte inescusável de insegurança jurídica.
The Legal Regime of Public Consortia and the Server Stability for Public Contractor Consolidation of
Labor Laws
Summary: The aim of this study is to bring to debate the compatibility, or otherwise, between the legal
regime of public consortia and stability of civil servants employed under the regime of the Consolidation
of Labor Laws, especially in light of recent jurisprudential positions adopted by the Supreme Court and
the Superior Labor Court. For the development of this work, the method used is the deductive, based on
doctrinal research, examination of relevant legal texts and precedents, and is structured as follows: first,
the legal regime of public consortia will be analyzed; then far will be brief analysis on the compatibility or not
between the statutory legal system and the public server stability, examining themselves, in the final part of
the study of development, the theme of structuring the light of doctrine and case law of the Superior Labor
Court and the Supreme Court. With the development of this work, the aim is to contribute to the discussion
of the issue of the stability of CLT public servant under the public consortia, and for a critical reflection
on the need for standardization and pacification of the relevant case law. In the final considerations, will
be made to summarize the current status of the topic, with the statement that, to safeguard the right of
jurisdictional and public servants, we need to promote uniformity on the subject, which should be food
for thought in the Courts higher, in order to prevent the screen antagonism is inexcusable source of legal
uncertainty.
Key-words: Legal Framework. Public Consortia. Stability. Public Server. Jurisprudential position.
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