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(17,94). Por outro lado, a mandioca, sendo des, objetivando a geração de emprego
considerado um dos produtos básicos da e renda para um número considerável
dieta alimentar, teve um aumento signi- de famílias e cooperando assim para o
ficativo na área colhida, passou de 14.367 desenvolvimento local.
hectares colhidos para 26.881 hectares, no Mikulcak et al. (2015) destacam que,
período de 1995/96 a 2006 (ALMEIDA; diante de um ambiente cada vez mais
KUDLAVICZ, 2011). globalizado, as propriedades rurais são
A multifuncionalidade da proprie- confrontadas com enormes desafios para
dade é uma questão comum no contexto alcançar o desenvolvimento. E faz-se ne-
rural, pois desperta a consciência e reco- cessário usar vários mecanismos para a
nhece os valores de várias oportunidades geração de renda, como a diversificação
da propriedade, tais como, amenidades da produção.
ambientais, oportunidades de turismo Com relação à análise das princi-
rural, a qualidade dos alimentos, gestão pais atividades pecuárias desenvolvidas
da paisagem, a preservação da biodiversi- nas propriedades pesquisadas, a maio-
dade, junto com a produção de alimentos ria (63,74%) dos entrevistados destacou
e fibras (BARBIERI; VALDIVIA, 2010). que não possui animais na propriedade
Desse modo, a diversificação da (Tabela 5), cultivando apenas culturas
produção, além de ser uma prática fun- agrícolas.
damental para o equilíbrio ecológico, Com relação aos dados do Censo
tão importante aos sistemas agrícolas, Agropecuário de 2006, a produtividade do
também é considerada uma estratégia gado bovino, comparado ao ano de 1996,
para a geração contínua de renda pelos teve um acréscimo de 3,17%. No entanto,
agricultores familiares ao longo do ano, quando comparado ao volume de produ-
considerando a sazonalidade de produção ção de lavoura temporária, percebe-se que
de cada espécie cultivada (GOMES et al., o estado de Mato Grosso do Sul deixou de
2014). Através desta pesquisa, percebeu- ser, no período em análise, a terra do boi
-se uma diversidade de culturas agrícolas gordo para ser a terra da soja (ALMEIDA;
e de atividades pecuárias nas proprieda- KUDLAVICZ, 2011).
não possui animais em suas proprieda- ganho para as famílias, pois, se não pu-
des, destacando-se a produção agrícola. dessem produzir esses alimentos, teriam
As demais famílias, 36,26% da amostra, que adquiri-lo no mercado.
combinam cultivos agrícolas e criações. Com relação ao modo de comer-
Essa diversificação é primordial para a cialização da produção por parte dos
geração de renda e fixação do homem no agricultores pesquisados, há uma grande
meio rural. Grande parte desses produtos, diversidade de formas, conforme consta
no entanto, não é utilizada somente para na Tabela 6. Destacando-se o armazém/
a geração de renda, mas, sim, para o au- cerealista e a venda direta, com 52,75% e
toconsumo, sendo esse item um grande 25,82%, respectivamente.
Segundo Helfand e Pereira (2012), através da união dos agricultores seria pos-
é cada vez mais visível a necessidade sível minimizar alguns gargalos existentes.
de maior integração entre as atividades A despeito dos ganhos financeiros,
agrícolas e não agrícolas. Bem como novas fica evidente a importância da diversifica-
formas de organização do trabalho, para ção da produção, sendo primordial para a
garantir um rendimento maior no meio venda e para o consumo da família. Além
rural. disso, a renda externa se faz importante,
Diante do exposto, a renda obtida pois representa um complemento para o
fora da propriedade já é uma realidade agricultor familiar, sendo que boa parte
bastante antiga e comum na agricultura provém de rendimentos da Previdência
familiar. Segundo Shanin (2008), os agri- Social.
cultores familiares, destacando os séculos Por fim, num contexto de desenvol-
XX e XXI, passaram a adquirir flexibilida- vimento local/regional, é importante dar
de para encontrar novas formas de ganhar mais atenção à agricultura familiar, deixar
a vida, assim, combinando trabalho no de vê-la como ‘agricultura de subsistência’
campo e fora dele. e enxergar nela o seu potencial de inserção
Essa realidade não existe apenas no produtiva e de mercado. Trata-se de um
Brasil. Em torno de 63% das unidades pro- segmento muito importante para o abas-
dutivas na Europa possuem pelo menos tecimento, a produção e a distribuição de
um membro familiar que desempenha alimentos e, como tal, deve ser tratada
atividades não agrícolas ou fora do esta- pelo setor público tanto quanto pelo pri-
belecimento. Com o passar do tempo, o vado. Destaca-se que mais estudos são ne-
próprio Banco Mundial produziu estudos cessários para avaliar o papel dos próprios
estimulando a combinação de atividades produtores nesse contexto, bem como sua
agrícolas e não agrícolas para a redução inserção nos canais de comercialização.
da pobreza e melhoria da situação socio-
econômica nas áreas rurais (ESCHER et Agradecimentos
al., 2014).
À Fundação de Apoio ao Desenvol-
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS vimento do Ensino, Ciência e Tecnologia
do.
Com base nos resultados obtidos a
partir da pesquisa realizada, é possível REFERÊNCIAS
verificar a importância da agricultura fa- ALMEIDA, Rosemeire Aparecida de;
miliar tradicional em Dourados-MS para KUDLAVICZ, Mieceslau. A potencialidade
a manutenção das famílias no campo, da pequena unidade de produção em Mato
bem como sua participação na produção Grosso do Sul: os censos agropecuários
de alimentos para a geração de renda e 1995/96 e 2006 em debate. In: FAISTING,
também para o consumo familiar. No A. L.; FARIAS, M de F. L. de (Org.). Direitos
entanto nota-se que estes agricultores pos- humanos, diversidade e movimentos sociais: um
suem uma pequena quantidade de terra diálogo necessário. Dourados, MS: Ed. UFGD,
e, na maioria dos casos, precisam unir 2011. p. 45-66.
atividades agrícolas e não agrícolas para AUGUSTO, Cleiciele Albuquerque; SACHUK,
aumentar seus rendimentos financeiros. Maria Iolanda. Competitividade da agricultu-
Com relação aos canais de comercia- ra orgânica no estado do Paraná. Caderno de
lização, as cooperativas não foram muito Administração, v. 15, n. 2, p. 9-18, 2008.
representativas na amostra. Destaque-se BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada
que esta poderia ser uma excelente alter- às Ciências Sociais. 1. ed. Florianópolis: UFSC,
nativa para a obtenção de ganhos, pois 1994.
Sobre as autoras:
Gleicy Jardi Bezerra: Graduada em Administração e mestre em Agronegócios pela
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Doutoranda em Agronegócios pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: gjardibezerra@gmail.com
Madalena Maria Schlindwein: Doutora em Economia Aplicada pela Esalq/USP.
Professora e Pesquisadora da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail:
MadalenaSchlindwein@ufgd.edu.br