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A Escola de Chicago
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Como resistência entendemos o ato individual ou grupal de não aceitar determinadas imposições ditadas
pela sociedade ou por outros grupos, buscando alternativas para se adaptar às exigências.
2
2
COULON, A. A Escola de Chicago. Campinas: Papirus, 1995, p. 8.
3
Estamos considerando a data de fundação desta instituição de acordo com as informações contidas em um
artigo de Howard Becker (1996). Segundo Coulon, ela foi fundada em 1890.
4
Op. cit. pp. 15 - 16.
3
suas raízes filosóficas no pragmatismo. Ele foi formulado por Charles Peirce e
William James, mas foi desenvolvido principalmente por George Herbert Mead.
Outras influências, nem todas igualmente importantes, também deram suporte
para certos pensadores da Escola de Chicago, como por exemplo as idéias de
evolução de Darwin e a teoria da relatividade de Einstein.
Na visão pragmática, ´´(...) a atividade humana deve ser considerada sob o
ângulo de três dimensões que não podem ser separadas: biológica, psicológica e
ética. Ao agir o indivíduo persegue uma meta, tem sentimentos e emoções. É por
isso que o ensino da psicologia seria necessário à filosofia´´ 5. Mas que isso, os
filósofos de Chicago acreditavam que as duas disciplinas deviam influenciar a
realidade. Neste sentido, o pragmatismo acreditava que o filósofo estava
envolvido com a vida de sua cidade e deveria se interessar tanto pelo seu
ambiente quanto pela ação social que tivesse por fim a transformação social.
O interacionismo simbólico, como o próprio nome indica, sublinhou a
natureza simbólica da vida social. O estudo sociológico, na perspectiva de Mead,
deveria analisar os processos pelos quais os agentes determinam suas condutas,
com base em suas próprias interpretações do mundo que os rodeava 6. Desse
modo, ´´(...) as significações sociais devem ser consideradas como produzidas
pelas atividades interativas dos agentes´´ 7. O pesquisador só poderia ter acesso a
estes fenômenos particulares - as produções sociais significantes dos agentes -
quando participasse, também como agente, do mundo que se propunha a
estudar. Portanto, a concepção que os agentes têm do mundo social é, em última
instância, o objeto essencial da investigação sociológica 8.
Arnold Rose resumiu brevemente as principais proposições do
interacionismo simbólico de Mead em cinco hipóteses que valem a pena destacar:
1) vivemos em um ambiente ao mesmo tempo simbólico e físico, e somos nós
quem construímos as significações do mundo e de nossas ações nele com a
ajuda de símbolos; 2) graças a esses símbolos ´´significantes´´, distintos dos
´´signos naturais´´, temos a capacidade de ´´tomar o lugar do outro´´, por que
temos em comum com os outros os mesmos símbolos; 3) temos em comum uma
5
Op. cit. p. 17.
6
In: Coulon, Op. cit. p. 20.
7
BLUMER, In: Coulon, Op. cit. p.19.
8
Neste aspecto, o interacionismo caminha na direção inversa da concepção durkheimiana do agente, que
acredita que as manifestações subjetivas não pertencem ao domínio da sociologia.
4
9
In: Coulon, Op. cit. pp. 21 - 22.
10
Op. cit. p. 22.
5
11
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989, p. 34.
12
In: MARTINS, C. B. Estrutura e ator: a teoria da prática em Bourdieu. 1987(mineo.) p. 5.
6
O Conceito de Habitus
19
In: Coulon, Op. cit. p. 31.
20
In: MARTINS, Op. cit. p. 10.
9
que lhe foi feito pela sociedade... Atributos aprovados e sua relação com a face
fazem de cada homem seu próprio carcereiro: trata-se de uma coerção social
fundamental mesmo que todo homem goste de sua cela´´ 27. Todavia, é importante
observar que, ao contrário de Durkheim e do próprio Bourdieu, a sociedade não
se coloca ao homem como um Deus; na realidade as relações sociais se dão ao
nível das interações, permitindo ao indivíduo um poder de ação maior na
elaboração da sua face, por exemplo. Assim, observa Goffman: ´´(...) se uma
pessoa sabe que, como resposta à sua modéstia, receberá elogios, poderá
buscá-los conscientemente´´28
Na perspectiva de Bourdieu, a noção de resistência é bem diferente da do
interacionismo. Ele chega mesmo a criticar o conceito de interação da Escola de
Chicago. Segundo ele: ´´(...) as interações, que proporcionam uma satisfação
imediata às disposições empiristas - podemos observá-las, filmá-las, registrá-las,
em suma tocá-las com a mão -, escondem as estruturas que se concretizam
nelas. Esse é um daqueles casos em que o visível, o que é dado imediatamente,
esconde o invisível que o determina. Assim, esquece-se de que a verdade da
interação nunca está inteira na interação tal como ela se oferece à observação´´ 29.
A noção de resistência, pode ser considerada para este autor como um ato
residual, a menos que a sociedade esteja passando por uma crise muito
acentuada. A sociedade possui ´´ritos de instituição´´ que conseguem fazer crer
aos indivíduos consagrados que eles possuem uma justificação para existir, ou
seja, que sua existência serve para alguma coisa.
Neste sentido, Bourdieu destaca que a fórmula que subtende a magia
performativa de todos os atos de instituição é: ´´torne-se o que você é´´. Assim,
´´a função de todas as fronteiras mágicas (...) consiste em impedir que os que se
encontram dentro, do lado bom da linha, de saírem, de saírem da linha, de se
desclassificarem´´. Mais que isso, observa ele: ´´(...) a estratégia universalmente
adotada para eximir-se duradouramente da tentação de sair da linha consiste em
naturalizar a diferença e transformá-la numa segunda natureza através da
inculcação e da incorporação sob a forma de habitus´´30.
27
Op. cit. p. 81.
28
Op. cit. p. 91.
29
BOURDIEU, P (1990). Op. cit. p. 154.
30
BOURDIEU, P. A economia das trocas lingüísticas. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo/Edusp,
1996, pp. 102 - 103.
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Referências Bibliográficas