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 Article rank

 23 Dec 2019
 Valor Econômico
 Marta Watanabe Investimentos chineses Destinos dos recursos
 De São Paulo De janeiro a setembro Número de projetos Valor - em US$
bilhões Por áreas selecionadas - em US$ milhões

Investimento chinês cresce neste ano e deve acelerar nos próximos

Retomada da infraestrutura tende a impulsionar ingresso de recursos, apontam


analistas

Os investimentos chineses no Brasil devem terminar o ano com avanço em relação a


2018 e as perspectivas são de crescimento ainda maior para os próximos anos. A
retomada do programa de privatizações e concessões a partir de 2020, aliada à
esperada melhora no ritmo de recuperação econômica, deve garantir a participação
dos chineses não somente em grandes projetos de infraestrutura como também
viabilizar diversificação e investimentos em projetos novos (“greenfield”, segundo
representantes do governo, de empresas e analistas. Como pano de fundo, há a
percepção de esforço do governo dos dois países para superar divergências políticas.

ANDRÉ COELHO/VALOR Renato Baumann: crescimento econômico deve


favorecer diversificação do interesse dos chineses no país

Segundo dados da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao Ministério da


Economia, os investimentos chineses no Brasil somaram até setembro US$ 1,87
bilhão neste ano, praticamente empatado com os US$ 1,8 bilhão em igual período do
ano passado.

Segundo Renato Baumann, subsecretário para investimentos estrangeiros da


secretariaexecutiva da Camex, o último trimestre deverá somar aos números parciais
valores importantes. Entre eles, o subsecretário ressalta o investimento a ser feito pelo
consórcio formado pelos grupos chineses CCCC e CR20 para a construção da ponte
SalvadorItaparica. Sem concorrentes, o consórcio venceu o leilão no último dia 13. O
investimento total previsto é de R$ 5,3 bilhões, mas o governo estadual da Bahia
contribuirá com aporte de R$ 1,5 bilhão. Com as operações do último trimestre, os
investimentos devem superar os US$ 3,5 bilhões de investimentos totais do Brasil em
2018, diz ele.

Os dados da Camex se referem a investimentos confirmados, considerados como os


anúncios de aportes direcionados a empreendimentos e projetos no Brasil, cuja
informação seja passível de confirmação por mais de uma fonte de dados. Os valores
contemplam não só fusões e aquisições, nos quais o investidor investe em um negócio
já existente, como também o chamado “greenfield”, no qual o investidor constrói uma
estrutura para uma nova operação.

Leonardo Dell’Oso, sócio da PwC Brasil, diz que os dados da empresa de consultoria
e auditoria mostram também crescimento no volume de operações de fusões e
aquisições. “Neste ano até novembro tivemos dez operações em investimentos
chineses até o início de novembro. Devemos chegar a 12 até o fim do ano. Em 2018
foram sete ao todo.” A expectativa é de que haja expansão em 2020.

A consultoria britânica Dealogic, que contabiliza também operações de fusões e


aquisições, mostra que os investimentos chineses cresceram de US$ 195,5 milhões em
2018 para US$ 784,5 milhões neste ano, com dados atualizados até o início de
dezembro.

Num critério mais amplo, os dados divulgados pelos centros de estudos The Heritage
Foundation e American Enterprise Institute, ambos dos Estados Unidos, mostram que
os investimentos chineses no Brasil, incluindo o setor de construção, subiram de US$
1,51 bilhão para US$ 1,68 bilhão do primeiro semestre de 2018 para igual período
deste ano.

Tulio Cariello, coordenador de análise do Conselho Empresarial Brasil China


(CEBC), diz que ainda é cedo para afirmar o montante, mas, segundo ele,
“possivelmente houve um aumento no valor dos investimentos em 2019, se
comparados a 2018”. Para Cariello, isso deve acontecer sobretudo por conta de
grandes projetos em estudo por empresas chinesas no Brasil. Empresas com presença
já consolidada no país, diz o coordenador, anunciaram que seguiriam ampliando seus
investimentos por aqui.

Além da vitória do consórcio da CCCC e da CR20 no leilão da PPP estadual da ponte


Salvador-Itaparica, Cariello destaca que a BYD indicou interesse em comprar a
fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP). Houve ainda anúncio de parceria de
CNOOC e CNODC Petroleum com a Petrobras no leilão do pré-sal. O governo de
São Paulo, lembra Cariello, anunciou que a PowerChina deve participar das obras da
Linha 2-Verde do metrô paulistano.

“Ou seja, é bastante claro que o interesse de empresas chinesas em investir no Brasil
se manteve em 2019, sobretudo em um momento em que houve uma série de leilões e
projetos de privatização”, diz Cariello. Empresas chinesas das áreas de infraestrutura
e energia apresentaram projetos volumosos em termos de valor. É perceptível que há
grande interesse chinês em continuar a investir nessas áreas.”
Apesar do esperado crescimento para este ano, o valor está distante dos registrados
em 2017. Segundo dados da Camex, em 2018 os investimentos chineses confirmados
somaram praticamente US$ 15 bilhões. Baumann pondera que em 2017 houve leilões
importantes com participação intensa da China. Foram operações que concentraram
valores altos. Um dos maiores do período foi o investimento da State Grid na CPFL
Energia, que ultrapassou US$ 12 bilhões de 2016 a 2017.

Em 2018 o processo de privatizações e concessões do governo federal ficou


paralisado e a expectativa é de que isso seja retomado com mais intensidade no
primeiro semestre de 2020, no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos
(PPI), em áreas de infraestrutura de grande interesse dos chineses, como ferrovias e
hidrelétricas, aeroportos e portos, entre outros, diz Baumann.

Para ele, estão superadas as apreensões anteriores em relação às declarações do


presidente Jair Bolsonaro, em 2018, quando ainda era candidato às eleições. Ele cita a
reativação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação
(Cosban) e a viagem de Bolsonaro à China, seguida da visita do presidente Xi Jinping
ao Brasil como sinalização nesse sentido.

Dell’Oso, da PwC Brasil, avalia que a superação de divergências é algo que vem
sendo buscado. Ele lembra que há o efeito polarizador do atual conflito entre Estados
Unidos e China. Nesse cenário, houve, diz ele, um distanciamento mais recente do
Brasil em relação aos EUA em razão das declarações do presidente americano Donald
Trump sobre a desvalorização cambial pelo Brasil. “A diplomacia brasileira tem
deixado a questão ideológica de lado para centrar-se mais na questão mais comercial e
técnica.”

A retomada da economia brasileira veio de forma mais lenta que a esperada, mas as
projeções de expansão da economia em torno de 2,7% em 2020 num momento em
que a economia global deve se desacelerar traz perspectivas positivas para o Brasil,
diz Dell’Oso. Isso, avalia, traz o investidor estrangeiro como um todo, inclusive o
chinês que, além dos grandes projetos de infraestrutura, também passa a mostrar
interesse por maior diversificação na destinação de recursos, movimento favorecido
pela expectativa de um cenário com maior geração de emprego, renda e elevação do
consumo.

Baumann diz que os grandes projetos de infraestrutura devem continuar sendo


relevantes nos investimentos chineses, mas o crescimento econômico favorece a
diversificação. De acordo com dados da Camex, os investimentos com recursos
origem China em 2019 foram divididos principalmente em eletricidade — US$ 785,6
milhões — e em indústria — US$ 1,08 bilhão. Na área industrial, um investimento
destacado pela Camex foi a confirmação da empresa de tecnologia Huawei, em
agosto, de aporte financeiro de US$ 800 milhões no Estado de São Paulo.
 Article rank
 23 Dec 2019
 Valor Econômico
 Gabriel Vasconcelos
 Do Rio

Banco do Brics aprova 1 operação de private equity no país

No apagar das luzes de 2019, a diretoria do New Development Bank (NDB), ou


“Banco do Brics”, aprovou sua primeira operação de private equity no Brasil. Trata-se
do aporte de US$ 100 milhões em fundo de investimentos em infraestrutura do Pátria
Investimentos. Na semana passada, o NDB também obteve aval do governo federal
para preparar quatro projetos junto a governos e bancos de desenvolvimento regional
com garantias da União. São empréstimos que somam US$ 622 milhões e serão
aprovados ao longo de 2020.

ANA PAULA PAIVA/VALOR Claudia Prates: desembolsos seguem


requerimentos do fundo e contam com a chancela de instrumento multilateral

O Valor apurou que o chamado “Fundo IV” do Pátria vai encerrar a fase de captação
em janeiro e deve contar com patrimônio de R$ 10 bilhões a serem aplicados em
projetos novos de infraestrutura, com foco em transporte, energias renováveis e
saneamento. O fundo, que dará especial atenção a futuras concessões, conta com a
participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
que anunciou aporte de R$ 400 milhões na estrutura.

Procurado, o Pátria confirmou o negócio, sem dar detalhes. A diretora do NDB no


Brasil, Claudia Prates,

se limitou a dizer que os desembolsos ocorrerão de acordo com os requerimentos do


fundo e destacou a importância, para o fundo, de contar com a chancela de
instrumento multilateral. Ela informou que o aporte ocorre de simultaneamente a
outra operação análoga, inclusive em valores, com o Fundo Nacional de
Investimentos em Infraestrutura da Índia (NIIF, na sigla em inglês). A estratégia do
NDB, disse a executiva, será analisar a performance dessas operações antes de
replicá-las.

A diretriz em 2020 para o Brasil é aumentar o volume de aprovações com garantia


soberana, informou Claudia. O país é o único dos cinco sócios — Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul — no qual o volume de empréstimos sem garantia supera
os de projetos respaldados pelo Tesouro. Por isso a importância das quatro
recomendações obtidas na última quarta-feira junto a Comissão de Financiamento
Externos (Cofiex), do Ministério da Economia.

O maior desses quatro empréstimos, de US$ 200 milhões, terá como mutuário a
Agência de Fomento do Estado de São Paulo (Desenvolve SP) e prevê a construção
de infraestrutura em mobilidade urbana, saneamento e resíduos sólidos, detalhou o
especialista do NDB Marcos Thadeu Abicalil. O valor será destinado a prefeituras e
empresas municipais ou privadas em linhas de crédito administradas pela Desenvolve
SP.

Projeto com formato parecido e valor de R$ 150 milhões será desenvolvido junto ao
Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), para investimentos no
programa de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS) na
Região Sul, que prevê apoio a infraestrutura física e social (escolas, hospitais).

Outro empréstimo aprovado pela Cofiex vai para o governo do Pará (US$ 152,5
milhões), com o fim de melhorar rodovias estaduais e pontos de ligação com portos
fluviais, cidades e estradas federais. Fecha a lista um aporte de US$ 120 milhões para
a Prefeitura de Fortaleza, destinado à construção de corredores de ônibus e BRT,
programas de habitação, regularização fundiária e urbanização.

Só um dos cinco projetos submetidos pelo NDB não foi avalizado pelo governo: US$
300 milhões para o plano de investimentos da Sabesp, empresa de água e saneamento
de São Paulo. Abicalil diz que o projeto poderá ser autorizado em outro momento,
após a aprovação do novo marco regulatório do Saneamento.

O NDB concentrou 38% dos empréstimos aprovados neste fim de ano pela Cofiex
(US$ 1,63 bilhão) e mais da metade do limite para projetos subnacionais (US$ 1,2
bilhão). Superou, assim, demandantes como o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial. O protagonismo, diz Claudia Prates,
seria consequência da abertura do escritório regional do banco em São Paulo e da
filial de Brasília. Com equipe dedicada ao país, o NDB estaria conseguindo acelerar
processos e apresentar alternativas a clientes regionais.

Em 2019, foram aprovados empréstimo de US$ 500 milhões ao governo federal para
capitalizar o Fundo Clima (BNDES), além de US$ 300 milhões à Vale para obras na
Estrada de Ferro Carajás (PA) e no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira (MA),
além de US$ 50 milhões para financiar a construção e reforma de escolas de tempo
integral pela prefeitura de Teresina (Piauí). Em quatro anos de existência, o NDB tem
uma carteira total de US$ 12,8 bilhões, dos quais US$ 1,4 bilhão está no Brasil.

 Article rank
 23 Dec 2019
 Valor Econômico
 Marcos de Moura e Souza
 De Belo Horizonte

Bolsonaro festeja economia nas redes e evita falar sobre pobreza

Os caminhos da economia, valores da família e citações reiteradas a Deus foram


algumas das obsessões do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais ao longo deste
ano. A Amazônia também foi tema frequente, assim como o trabalho da imprensa. No
outro extremo, pobreza e desigualdade foram quase imperceptíveis.

ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL Bolsonaro: presidente fez 7.403 postagens


entre 1 de janeiro a 17 de dezembro, média de 20 mensagens por dia

O levantamento foi feito pela plataforma de monitoramento digital Torabit a pedido


do Valor. A empresa fez uma varredura nas 7.403 mensagens postadas pelo presidente
no Twitter, Facebook, YouTube (neste caso, as palavras nas legendas dos vídeos
foram analisadas, e não as palavras ditas nos vídeos) e Instagram da zero hora de 1o
de janeiro até as 12h30 de 17 de dezembro. Só no Twitter, seu canal favorito de
comunicação, Bolsonaro escreveu ou replicou um total de 3.665 mensagens — o
equivalente a pouco mais de 10 mensagens por dia.

O Torabit circunscreveu sua análise a um conjunto de substantivos e nomes próprios


que tratam de desafios para o país (como “economia”, “desigualdade” e “corrupção”);
que tratam de assuntos aos quais Bolsonaro mostra predileção (“família”, “Deus”,
“pátria”, “Forças Armadas”); e que tratam de temas que, via de regra, são encarados
por ele de forma pejorativa. Por exemplo: “esquerda”. Entre esses termos, o mais
repetido foi “economia”: 357 vezes. A palavra “emprego” apareceu 99 vezes em seus
posts.

Bolsonaro chegou ao Planalto embalado por expectativas de retomada rápida do


crescimento econômico e da criação de empregos. Conseguiu aprovar a reforma da
Previdência e o ritmo de geração de postos de trabalho parece caminhar para um
reaquecimento. Mesmo assim, o país deve fechar o ano com um crescimento de
apenas 1%.

Fora da área econômica, a palavra campeã no rol das analisadas foi “família”, seguida
por “Deus”. Foram 147 e 143 vezes, respectivamente. Dois termos muito presentes
nos discursos e entrevistas de Bolsonaro e que se encaixam no perfil de um político
fortemente identificado com eleitores religiosos — sobretudo evangélicos mais
conservadores.
Em quarto lugar, na lista de termos avaliados pelo Torabit, vem “imprensa”. Desde
que assumiu a Presidência da República, Bolsonaro fez várias críticas às reportagens
sobre ele e seu governo veiculadas pelos principais veículos de comunicação do país.
Muitas de suas queixas foram expressas em discursos e em entrevistas.

Mas nas redes, o tom não foi tão agressivo. Ao contrário. Pelo levantamento do
Torabit, ao longo de 351 dias (de 1 de janeiro a 17 de dezembro), Bolsonaro usou em
suas postagens a palavra “imprensa” 139 vezes. Em apenas 18 vezes, a palavra
apareceu em um contexto negativo; em 38, num contexto positivo; e em 82, num
contexto neutro, segundo a plataforma de monitoramento.

Por dez vezes, no entanto, “jornalista” foi citada pelo presidente nas redes em frases
negativas; duas de forma positiva e sete num tom neutro, segundo o Torabit.

A Amazônia também ganhou destaque nas postagens de Bolsonaro. A palavra foi


citada 136 vezes e o termo “meio ambiente”, 82 vezes. A forma como seu governo
tratou em um primeiro momento do aumento das queimadas na Amazônia este ano —
desqualificando dados científicos e até acusando ONGs ambientalistas de terem
patrocinado focos de incêndio — colocou o presidente sob foco internacional, como
um líder pouco afeito a abraçar a bandeira de preservação da floresta. A leitura do
Torabit mostra que o contexto das citações de Bolsonaro à Amazônia e ao meio
ambiente foi em sua grande maioria neutro.

Considerando não apenas a lista de palavras analisadas pelo Torabit a pedido do


Valor, os cinco termos mais repetidos nas mensagens do presidente foram “Brasil”
(1.773 vezes), “presidente” (1.644), “Bolsonaro” (1.072), “governo” (965) e
“jairbolsonaro” (905). Mas a frequência dessas palavras não traduz exatamente
preocupações de Bolsonaro. São termos que, acima de tudo, o identificam nas redes.

Para Caio Túlio Costa, CEO do Torabit, mais do que os termos muito repetidos por
Bolsonaro, um aspecto que chama a atenção no levantamento são os termos pouco
mencionados por ele.

O termo “desigualdade”, por exemplo, foi citado pelo presidente nas redes sociais
nove vezes em 351 dias analisados; “pobre”,

oito vezes; e “pobreza”, duas. São palavras que estão na base de problemas sociais do
país, mas que costumam surgir com mais frequência no léxico dos partidos de
esquerda — aos quais o presidente se coloca como antagonista. Na seara ambiental, o
temo “mudança climática” não apareceu sequer uma vez e “clima”, apenas oito vezes.
A palavra “negro” não foi citada nas redes pelo presidente.
Costa avalia que além de se comunicar diretamente com a massa de seus
simpatizantes pela internet, Bolsonaro usa as redes para moldar o discurso de
governo.

“O conteúdo das redes do presidente ajuda a ditar a forma como os demais integrantes
do governo se posicionam”, lembra Costa. Às vezes o caminho é inverso: com
posições de alguns ministros reproduzidas por ele.

Bolsonaro tem 5,6 milhões de seguidores no Twitter. No Facebook, ele é seguido por
11,4 milhões. Seu canal de YouTube tem 2,63 milhões inscritos. E no Instagram, 14,6
milhões.

Seu recorde de audiência nas mídias sociais se deu, segundo o Torabit, no Carnaval
quando ele postou em sua conta no Twitter um vídeo com dois foliões em um bloco
em São Paulo praticando ‘golden shower’, um fetiche sexual no qual um parceiro
urina no outro. Bolsonaro comentou que era necessário expor o que chamou de
“verdade” sobre os blocos de rua.

Em menos 24 horas, foram mais de 4 milhões de visualizações. O post foi apagado


depois da repercussão no Brasil e no exterior.

Em agosto, outro pico de visualizações enviado pelo celular do presidente para sua
conta no Twitter foi quando elogiou a ação de policiais que mataram um sequestrador
que ameaçava passageiros na ponte Rio-Niterói. “Hoje não chora a família de um
inocente”, escreveu o presidente.

Além de mensagens que tratam de assuntos muito comentados nas redes, Jair
Bolsonaro também vem usando sua popularidade na internet para demarcar sua
posição político-ideológica como líder conservador e anti-esquerda. E a repetição dos
termo “esquerda” (71 vezes) e “PT” (67 vezes) dão conta como o assunto entrou com
frequência no seu diálogo com internautas.

As duas palavras apareceram mais até do que “pátria” (65 vezes) e “Forças Armadas”
(46) — dois termos diletos do ex-capitão do Exército. A palavra “democracia”
apareceu 59 vezes, segundo o levantamento do Torabit.

“PT” e “esquerda” apareceram mais também do que “corrupção” (62 vezes) e “Lava-
Jato” (17). Caio Túlio Costa lembra que esses dois temas foram assíduos na campanha
eleitoral de Bolsonaro e que, na comparação com outros termos, perderam relevância
no conjunto de mensagens do presidente nas redes sociais.

 Article rank
 23 Dec 2019
 Valor Econômico
 Análise Katsuji Nakazawa

Xi teria se rendido à Donald Trump?

Nikkei, de Tóquio

Apesar do grande alarde da mídia pelo mundo quando EUA e China acertaram a “fase
um” de seu acordo comercial no último dia 13, não se viu nem uma palavra a respeito
no horário nobre da TV estatal China Central Television nem na edição do “Diário do
Povo” nos dias seguintes ao anúncio. Praticamente não foram divulgados comentários
oficiais sobre o acordo comercial.

Ainda assim, um debate silencioso vem ocorrendo entre os chineses que acompanham
a política, sejam intelectuais ou cidadãos comuns. A maioria dessas conversas se dá
cara a cara, uma vez que comentários na internet estão sob estrita vigilância, agora
com a ajuda da inteligência artificial.

“Será que o presidente chinês Xi Jinping se rendeu ao presidente dos EUA Donald
Trump?”, questionam discretamente os chineses.

Retratar o acordo comercial como humilhante e traiçoeiro pode ser um pouco duro
demais. Contudo, Xi e sua equipe sempre argumentaram que a China teria a vantagem
numa batalha comercial prolongada com os EUA.

Só por esse motivo já seria um risco para os líderes chineses anunciarem rapidamente
o conteúdo do acordo com Washington. O acordo foi anunciado simultaneamente por
EUA e China, poucos dias antes do dia 15, quando entrariam em vigor novas tarifas
contra produtos chineses.

Em Pequim, vice-ministros de governo participaram de uma entrevista coletiva


realizada na noite do dia 13. A mídia chinesa noticiou o acordo como notícia de
última hora. Mas a notícia não saiu no dia seguinte nem no “Diário do Povo” nem no
horário nobre da CCTV, o jornal e a rede de TV mais consagrados do país.

Não participaram da entrevista os ministros da Agricultura, do Comércio e da


poderosa Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento. Tampouco o principal
negociador da China, o vice-premiê Liu He. Em vez disso, o anúncio foi feito por
burocratas.

Segundo a apresentação dos principais pontos do acordo feita por Washington, a “fase
um” do acordo abrange sete áreas: proteção de propriedade intelectual, o fim da
transferência forçada de tecnologia, a expansão das importações de produtos agrícolas
e alimentícios dos EUA, a desregulamentação de serviços financeiros, o combate a
práticas cambiais “desleais”, a expansão do comércio exterior e a criação de um
mecanismo de solução de disputas.

O acordo será de cumprimento obrigatório, o que exige a aprovação pelo Congresso


Nacional do Povo. Ao incorporar um dispositivo para que os EUA monitorem,
mensurem e avaliem o progresso da China no cumprimento do que foi acertado, o
acordo acabou sendo o tipo de “tratado desigual” que Pequim tanto tentou evitar em
abril — quando as duas partes haviam compilado um esboço de 150 páginas. No
início de maio, Pequim rejeitou 30% do texto acertado pelos negociadores por
considerar o acordo desequilibrado.

O acordo de dezembro inclui metas numéricas: a China deve elevar as importações


provenientes dos EUA em US$ 200 bilhões nos próximos dois anos, com o propósito
de diminuir o desequilíbrio comercial entre os dois países.

As compras agrícolas pelos chineses devem subir de US$ 40 bilhões para US$ 50
bilhões por ano.

Trump está feliz com o feito. Embora os chineses tenham dito que o volume das
importações é algo a ser determinado pelas forças do mercado, na verdade, o país
aceitou metas numéricas, setor a setor.

Para Xi, que foi pego no contrapé pela guerra comercial em razão dos problemas
econômicos da China, o melhor que conseguiu foi proteger as estruturas fundamentais
de um governo autoritário de partido único.

Trump queria que a China abolisse subsídios industriais “desleais”. Também defendia
uma reforma das estatais chinesas e que Pequim direcionasse seu foco para empresas
privadas. Xi conseguiu adiar essas questões para a fase dois das negociações.

Olhando em retrospectiva, a China talvez tivesse um acordo melhor em abril. Embora


fosse, da mesma forma, um acordo desigual, a China poderia ter driblado as novas
tarifas e, talvez, evitado que o crescimento econômico caísse para 6% no terceiro
trimestre — menor expansão desde 1992.

Em vez disso, na época, a estratégia da China foi apostar numa política de


“autodependência” e de “guerra prolongada”.

Na ocasião, as autoridades chinesas acreditavam o ciclo da eleição presidencial


americana iria inclinar a balança a seu favor. Provavelmente pensaram que poderiam
lidar com Trump usando as importações agrícolas como moeda de barganha. Pequim
sabe que a reeleição de Trump pode depender dos eleitores de Estados agrícolas.

Mas ao contrário do que esperavam, o passar do tempo trabalhou a favor de Trump.


Desde abril, a economia chinesa se desacelerou mais do que Pequim poderia aceitar.
Pensar que Trump poderia ser dobrado com promessas de mais importações agrícolas
foi um grande erro de julgamento. Xi acabou não tendo opção a não ser chegar a um
acordo com Trump.

A única concessão que a China ganhou na “fase um” foi a suspensão das tarifas
restantes da quarta rodada e o corte pela metade das tarifas adicionais de 15% já
aplicadas em setembro. Mas o corte de 50% nessas tarifas só entrará em vigor 30 dias
depois de a “fase um” ser formalmente assinada. Assim, além de ser um corte de
pequeno impacto, não estará valendo até fevereiro, na melhor hipótese para os
chineses. Todo o restante do acordo resumiu-se à China aceitando exigências dos
EUA.

Xi não deveria confiar muito na posição de Trump. Se a “fase um” do acordo vier a
ser atacada pelos democratas como um fracasso e se o seu Partido Republicano, vier a
sofrer nas pesquisas, Trump pode voltar atrás e recorrer às tarifas para pressionar a
China.

Na sexta-feira, Trump tuitou que teve uma “conversa muito boa” com Xi por telefone
com relação ao acordo comercial. Xi, por sua vez, disse que “o acordo beneficia a
ambos e todo o mundo”, segundo a agência oficial chinesa Xinhua. A agência
destacou que as compras de bens agrícolas americanas pela China não foram
mencionadas na conversa e que Xi teria dito que enquanto os dois países “respeitarem
a dignidade nacional, a soberania e interesses cruciais do outro, eles vão superar as
dificuldades no caminho do progresso”.

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