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Valor 1223
Valor 1223
23 Dec 2019
Valor Econômico
Marta Watanabe Investimentos chineses Destinos dos recursos
De São Paulo De janeiro a setembro Número de projetos Valor - em US$
bilhões Por áreas selecionadas - em US$ milhões
Leonardo Dell’Oso, sócio da PwC Brasil, diz que os dados da empresa de consultoria
e auditoria mostram também crescimento no volume de operações de fusões e
aquisições. “Neste ano até novembro tivemos dez operações em investimentos
chineses até o início de novembro. Devemos chegar a 12 até o fim do ano. Em 2018
foram sete ao todo.” A expectativa é de que haja expansão em 2020.
Num critério mais amplo, os dados divulgados pelos centros de estudos The Heritage
Foundation e American Enterprise Institute, ambos dos Estados Unidos, mostram que
os investimentos chineses no Brasil, incluindo o setor de construção, subiram de US$
1,51 bilhão para US$ 1,68 bilhão do primeiro semestre de 2018 para igual período
deste ano.
“Ou seja, é bastante claro que o interesse de empresas chinesas em investir no Brasil
se manteve em 2019, sobretudo em um momento em que houve uma série de leilões e
projetos de privatização”, diz Cariello. Empresas chinesas das áreas de infraestrutura
e energia apresentaram projetos volumosos em termos de valor. É perceptível que há
grande interesse chinês em continuar a investir nessas áreas.”
Apesar do esperado crescimento para este ano, o valor está distante dos registrados
em 2017. Segundo dados da Camex, em 2018 os investimentos chineses confirmados
somaram praticamente US$ 15 bilhões. Baumann pondera que em 2017 houve leilões
importantes com participação intensa da China. Foram operações que concentraram
valores altos. Um dos maiores do período foi o investimento da State Grid na CPFL
Energia, que ultrapassou US$ 12 bilhões de 2016 a 2017.
Dell’Oso, da PwC Brasil, avalia que a superação de divergências é algo que vem
sendo buscado. Ele lembra que há o efeito polarizador do atual conflito entre Estados
Unidos e China. Nesse cenário, houve, diz ele, um distanciamento mais recente do
Brasil em relação aos EUA em razão das declarações do presidente americano Donald
Trump sobre a desvalorização cambial pelo Brasil. “A diplomacia brasileira tem
deixado a questão ideológica de lado para centrar-se mais na questão mais comercial e
técnica.”
A retomada da economia brasileira veio de forma mais lenta que a esperada, mas as
projeções de expansão da economia em torno de 2,7% em 2020 num momento em
que a economia global deve se desacelerar traz perspectivas positivas para o Brasil,
diz Dell’Oso. Isso, avalia, traz o investidor estrangeiro como um todo, inclusive o
chinês que, além dos grandes projetos de infraestrutura, também passa a mostrar
interesse por maior diversificação na destinação de recursos, movimento favorecido
pela expectativa de um cenário com maior geração de emprego, renda e elevação do
consumo.
O Valor apurou que o chamado “Fundo IV” do Pátria vai encerrar a fase de captação
em janeiro e deve contar com patrimônio de R$ 10 bilhões a serem aplicados em
projetos novos de infraestrutura, com foco em transporte, energias renováveis e
saneamento. O fundo, que dará especial atenção a futuras concessões, conta com a
participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
que anunciou aporte de R$ 400 milhões na estrutura.
O maior desses quatro empréstimos, de US$ 200 milhões, terá como mutuário a
Agência de Fomento do Estado de São Paulo (Desenvolve SP) e prevê a construção
de infraestrutura em mobilidade urbana, saneamento e resíduos sólidos, detalhou o
especialista do NDB Marcos Thadeu Abicalil. O valor será destinado a prefeituras e
empresas municipais ou privadas em linhas de crédito administradas pela Desenvolve
SP.
Projeto com formato parecido e valor de R$ 150 milhões será desenvolvido junto ao
Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), para investimentos no
programa de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS) na
Região Sul, que prevê apoio a infraestrutura física e social (escolas, hospitais).
Outro empréstimo aprovado pela Cofiex vai para o governo do Pará (US$ 152,5
milhões), com o fim de melhorar rodovias estaduais e pontos de ligação com portos
fluviais, cidades e estradas federais. Fecha a lista um aporte de US$ 120 milhões para
a Prefeitura de Fortaleza, destinado à construção de corredores de ônibus e BRT,
programas de habitação, regularização fundiária e urbanização.
Só um dos cinco projetos submetidos pelo NDB não foi avalizado pelo governo: US$
300 milhões para o plano de investimentos da Sabesp, empresa de água e saneamento
de São Paulo. Abicalil diz que o projeto poderá ser autorizado em outro momento,
após a aprovação do novo marco regulatório do Saneamento.
O NDB concentrou 38% dos empréstimos aprovados neste fim de ano pela Cofiex
(US$ 1,63 bilhão) e mais da metade do limite para projetos subnacionais (US$ 1,2
bilhão). Superou, assim, demandantes como o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial. O protagonismo, diz Claudia Prates,
seria consequência da abertura do escritório regional do banco em São Paulo e da
filial de Brasília. Com equipe dedicada ao país, o NDB estaria conseguindo acelerar
processos e apresentar alternativas a clientes regionais.
Em 2019, foram aprovados empréstimo de US$ 500 milhões ao governo federal para
capitalizar o Fundo Clima (BNDES), além de US$ 300 milhões à Vale para obras na
Estrada de Ferro Carajás (PA) e no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira (MA),
além de US$ 50 milhões para financiar a construção e reforma de escolas de tempo
integral pela prefeitura de Teresina (Piauí). Em quatro anos de existência, o NDB tem
uma carteira total de US$ 12,8 bilhões, dos quais US$ 1,4 bilhão está no Brasil.
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23 Dec 2019
Valor Econômico
Marcos de Moura e Souza
De Belo Horizonte
Fora da área econômica, a palavra campeã no rol das analisadas foi “família”, seguida
por “Deus”. Foram 147 e 143 vezes, respectivamente. Dois termos muito presentes
nos discursos e entrevistas de Bolsonaro e que se encaixam no perfil de um político
fortemente identificado com eleitores religiosos — sobretudo evangélicos mais
conservadores.
Em quarto lugar, na lista de termos avaliados pelo Torabit, vem “imprensa”. Desde
que assumiu a Presidência da República, Bolsonaro fez várias críticas às reportagens
sobre ele e seu governo veiculadas pelos principais veículos de comunicação do país.
Muitas de suas queixas foram expressas em discursos e em entrevistas.
Mas nas redes, o tom não foi tão agressivo. Ao contrário. Pelo levantamento do
Torabit, ao longo de 351 dias (de 1 de janeiro a 17 de dezembro), Bolsonaro usou em
suas postagens a palavra “imprensa” 139 vezes. Em apenas 18 vezes, a palavra
apareceu em um contexto negativo; em 38, num contexto positivo; e em 82, num
contexto neutro, segundo a plataforma de monitoramento.
Por dez vezes, no entanto, “jornalista” foi citada pelo presidente nas redes em frases
negativas; duas de forma positiva e sete num tom neutro, segundo o Torabit.
Para Caio Túlio Costa, CEO do Torabit, mais do que os termos muito repetidos por
Bolsonaro, um aspecto que chama a atenção no levantamento são os termos pouco
mencionados por ele.
O termo “desigualdade”, por exemplo, foi citado pelo presidente nas redes sociais
nove vezes em 351 dias analisados; “pobre”,
oito vezes; e “pobreza”, duas. São palavras que estão na base de problemas sociais do
país, mas que costumam surgir com mais frequência no léxico dos partidos de
esquerda — aos quais o presidente se coloca como antagonista. Na seara ambiental, o
temo “mudança climática” não apareceu sequer uma vez e “clima”, apenas oito vezes.
A palavra “negro” não foi citada nas redes pelo presidente.
Costa avalia que além de se comunicar diretamente com a massa de seus
simpatizantes pela internet, Bolsonaro usa as redes para moldar o discurso de
governo.
“O conteúdo das redes do presidente ajuda a ditar a forma como os demais integrantes
do governo se posicionam”, lembra Costa. Às vezes o caminho é inverso: com
posições de alguns ministros reproduzidas por ele.
Bolsonaro tem 5,6 milhões de seguidores no Twitter. No Facebook, ele é seguido por
11,4 milhões. Seu canal de YouTube tem 2,63 milhões inscritos. E no Instagram, 14,6
milhões.
Seu recorde de audiência nas mídias sociais se deu, segundo o Torabit, no Carnaval
quando ele postou em sua conta no Twitter um vídeo com dois foliões em um bloco
em São Paulo praticando ‘golden shower’, um fetiche sexual no qual um parceiro
urina no outro. Bolsonaro comentou que era necessário expor o que chamou de
“verdade” sobre os blocos de rua.
Em agosto, outro pico de visualizações enviado pelo celular do presidente para sua
conta no Twitter foi quando elogiou a ação de policiais que mataram um sequestrador
que ameaçava passageiros na ponte Rio-Niterói. “Hoje não chora a família de um
inocente”, escreveu o presidente.
Além de mensagens que tratam de assuntos muito comentados nas redes, Jair
Bolsonaro também vem usando sua popularidade na internet para demarcar sua
posição político-ideológica como líder conservador e anti-esquerda. E a repetição dos
termo “esquerda” (71 vezes) e “PT” (67 vezes) dão conta como o assunto entrou com
frequência no seu diálogo com internautas.
As duas palavras apareceram mais até do que “pátria” (65 vezes) e “Forças Armadas”
(46) — dois termos diletos do ex-capitão do Exército. A palavra “democracia”
apareceu 59 vezes, segundo o levantamento do Torabit.
“PT” e “esquerda” apareceram mais também do que “corrupção” (62 vezes) e “Lava-
Jato” (17). Caio Túlio Costa lembra que esses dois temas foram assíduos na campanha
eleitoral de Bolsonaro e que, na comparação com outros termos, perderam relevância
no conjunto de mensagens do presidente nas redes sociais.
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23 Dec 2019
Valor Econômico
Análise Katsuji Nakazawa
Nikkei, de Tóquio
Apesar do grande alarde da mídia pelo mundo quando EUA e China acertaram a “fase
um” de seu acordo comercial no último dia 13, não se viu nem uma palavra a respeito
no horário nobre da TV estatal China Central Television nem na edição do “Diário do
Povo” nos dias seguintes ao anúncio. Praticamente não foram divulgados comentários
oficiais sobre o acordo comercial.
Ainda assim, um debate silencioso vem ocorrendo entre os chineses que acompanham
a política, sejam intelectuais ou cidadãos comuns. A maioria dessas conversas se dá
cara a cara, uma vez que comentários na internet estão sob estrita vigilância, agora
com a ajuda da inteligência artificial.
“Será que o presidente chinês Xi Jinping se rendeu ao presidente dos EUA Donald
Trump?”, questionam discretamente os chineses.
Retratar o acordo comercial como humilhante e traiçoeiro pode ser um pouco duro
demais. Contudo, Xi e sua equipe sempre argumentaram que a China teria a vantagem
numa batalha comercial prolongada com os EUA.
Só por esse motivo já seria um risco para os líderes chineses anunciarem rapidamente
o conteúdo do acordo com Washington. O acordo foi anunciado simultaneamente por
EUA e China, poucos dias antes do dia 15, quando entrariam em vigor novas tarifas
contra produtos chineses.
Segundo a apresentação dos principais pontos do acordo feita por Washington, a “fase
um” do acordo abrange sete áreas: proteção de propriedade intelectual, o fim da
transferência forçada de tecnologia, a expansão das importações de produtos agrícolas
e alimentícios dos EUA, a desregulamentação de serviços financeiros, o combate a
práticas cambiais “desleais”, a expansão do comércio exterior e a criação de um
mecanismo de solução de disputas.
As compras agrícolas pelos chineses devem subir de US$ 40 bilhões para US$ 50
bilhões por ano.
Trump está feliz com o feito. Embora os chineses tenham dito que o volume das
importações é algo a ser determinado pelas forças do mercado, na verdade, o país
aceitou metas numéricas, setor a setor.
Para Xi, que foi pego no contrapé pela guerra comercial em razão dos problemas
econômicos da China, o melhor que conseguiu foi proteger as estruturas fundamentais
de um governo autoritário de partido único.
Trump queria que a China abolisse subsídios industriais “desleais”. Também defendia
uma reforma das estatais chinesas e que Pequim direcionasse seu foco para empresas
privadas. Xi conseguiu adiar essas questões para a fase dois das negociações.
A única concessão que a China ganhou na “fase um” foi a suspensão das tarifas
restantes da quarta rodada e o corte pela metade das tarifas adicionais de 15% já
aplicadas em setembro. Mas o corte de 50% nessas tarifas só entrará em vigor 30 dias
depois de a “fase um” ser formalmente assinada. Assim, além de ser um corte de
pequeno impacto, não estará valendo até fevereiro, na melhor hipótese para os
chineses. Todo o restante do acordo resumiu-se à China aceitando exigências dos
EUA.
Xi não deveria confiar muito na posição de Trump. Se a “fase um” do acordo vier a
ser atacada pelos democratas como um fracasso e se o seu Partido Republicano, vier a
sofrer nas pesquisas, Trump pode voltar atrás e recorrer às tarifas para pressionar a
China.
Na sexta-feira, Trump tuitou que teve uma “conversa muito boa” com Xi por telefone
com relação ao acordo comercial. Xi, por sua vez, disse que “o acordo beneficia a
ambos e todo o mundo”, segundo a agência oficial chinesa Xinhua. A agência
destacou que as compras de bens agrícolas americanas pela China não foram
mencionadas na conversa e que Xi teria dito que enquanto os dois países “respeitarem
a dignidade nacional, a soberania e interesses cruciais do outro, eles vão superar as
dificuldades no caminho do progresso”.