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Material Teórico
A Era Vitoriana: Auge do Império Britânico
Revisão Técnica:
Prof.ª Dr.ª Nathalia Botura
Revisão Textual:
Prof. Esp. Bruno Reis
A Era Vitoriana: Auge
do Império Britânico
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as
atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
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Unidade: A Era Vitoriana: Auge do Império Britânico
Contextualização
Tenho certeza de que você já deve ter percebido a importância do contexto sócio-histórico.
Já foi mencionado anteriormente que a Revolução Industrial foi de extrema importância para
a humanidade. Então, sugiro que você assista ao vídeo disponível em:
Vídeo: https://youtu.be/jt-o3EBQPMU
Outro material muito rico sobre todo o período vitoriano elaborado pela BBC você
encontrará disponível em:
Vídeo: https://goo.gl/bdsY3
O material está em inglês, mas você terá muitas informações sobre o período, sobre a
Revolução Industrial e a rotina das pessoas naquela época.
Também indico um ótimo documentário em seis partes sobre a vida de Oscar Wilde. Deixo
os links de quatro delas, mas você pode ver mais. Vale a pena, estão disponíveis em:
https://youtu.be/cqRwZz7n8o8
https://youtu.be/gehpDtxANEE
https://youtu.be/O6S0AmZFw7k
https://youtu.be/nSkNvzbgS_E
Para encerrar, deixo um vídeo sobre a vida de Charlotte Brontë, a autora de Jane Eyre,
disponível em:
Vídeo: https://youtu.be/V6tTWuZ6M84
Aproveite as indicações. Assista à todos os vídeos. Tenho certeza de que seu conhecimento
expandirá bastante, não apenas no que concerne à literatura, como também em termos de
conhecimentos gerais.
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A Rainha Vitória (1819-1901) e o Desenvolvimento Mundial
Imagine toda essa revolução trazida nessa época em que o moralismo e o puritanismo
imperavam. Tudo isso causou grande estranhamento para a maioria das pessoas e fez com
que muitas delas repensassem seus valores.
Percebemos que esse foi também um período de muitas contradições. Ao mesmo tempo que
as inovações, as invenções e as teorias darwinianas aconteciam, o puritanismo e o moralismo
ainda estavam fortemente presentes na sociedade, porém, nas ruas da cidade de Londres,
havia muitos mendigos, prostitutas e ladrões; além disso, ainda havia o trabalho infantil. Se
pensarmos em tudo isso, as pessoas viviam uma grande contradição de valores, não é mesmo?
Como não poderia ser diferente, os reflexos desse contexto apareceram na literatura e
nas artes. Houve um grande desenvolvimento artístico na época. Na literatura, os romances
vieram com força total.
Os romancistas dessa fase podem ser divididos em três grandes grupos: o primeiro grupo,
dos chamados early Victorians, autores do princípio da era vitoriana que são: Charles Dickens
(1812-1870); as irmãs Brontë, Emily Brontë (1818-1848) e Charlotte Brontë (1816-1855), e
George Eliot (1819-1880), cujo verdadeiro nome era Mary Ann Evans.
Entre os escritores do segundo grupo, os chamados late Victorians, podemos citar:
Rudyard Kipling (1865-1936), Thomas Hardy (1840-1928) e Oscar Wilde (1854-1900),
irlandês radicado em Londres.
Já os autores considerados precursores do modernismo são: Joseph Conrad (1857-
1924), polonês naturalizado inglês, e Henry James (1843-1916), estadunidense também
naturalizado inglês.
Como já sinalizamos acima, focalizaremos duas obras de dois escritores significativos desse
período: o conto O príncipe feliz, de Oscar Wilde, e o romance Jane Eyre, de Charlotte Brontë.
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Unidade: A Era Vitoriana: Auge do Império Britânico
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O que faz com que os contos de Wilde sejam considerados obras-primas é que o autor
consegue inserir problemas sociais em suas histórias. Foi mais ou menos nessa época que o
autor tomou consciência de sua homossexualidade, portanto, os contos lhe permitiam escrever
sobre sua descoberta e sobre o moralismo da era vitoriana de forma velada.
A primeira coisa que você deve fazer é ler o conto. Você encontrará
vários links que dão acesso a ele no Material Complementar.
Importante!
O conto apresenta pelo menos três temas: o primeiro diz respeito à beleza que é efêmera e
não leva a nada; o autor aponta que o único sentimento capaz de produzir mudança é o amor.
O segundo tema diz respeito à diferença que o amor e o sacrifício podem fazer e o terceiro diz
respeito ao abismo entre o pobre e o rico, entre governantes e governados.
Para que você entenda os três temas mencionados, vamos retomar um pouco a história do conto.
Quando o príncipe vivia em seu palácio, não conseguia perceber o que realmente acontecia
fora dele, vivia feliz e pensava que, da mesma forma que ele, as outras pessoas também viviam
felizes. Após sua morte, fizeram uma estátua do príncipe toda folhada de ouro e com várias
pedras preciosas. Essa estátua, que ficava em uma coluna bem alta, foi posta em uma praça.
Essa obra de arte era admirada por todos os habitantes da cidade.
Lá do alto, a estátua do príncipe podia ver toda a cidade e perceber o sofrimento de seu
povo. A estátua chora ao ver tanta miséria, por querer ajudar as pessoas e não poder. Porém,
aparece um pássaro que passava o verão por ali e é essa ave que o ajudará a minimizar a dor
de seu povo.
Uma das características mais significativas dos contos de fada é exatamente a personificação
de animais, como é o caso da andorinha no conto, e a vida que objetos inanimados, como a
estátua do príncipe e o junco por quem a andorinha se apaixona, ganham. Observe o trecho
a seguir:
“Far away,” continued the statue in a low musical voice, “far away
in a little street there is a poor house. One of the windows is
open, and through it I can see a woman seated at a table. Her
face is thin and worn, and she has coarse, red hands, all pricked by
the needle, for she is a seamstress. She is embroidering passion-
flowers on a satin gown for the loveliest of the Queen’s maids-of-
honour to wear at the next Court-ball. In a bed in the corner of
the room her little boy is lying ill. He has a fever, and is asking for
oranges. His mother has nothing to give him but river water, so he
is crying. Swallow, Swallow, little Swallow, will you not bring her
the ruby out of my sword-hilt? My feet are fastened to this pedestal
and I cannot move.”
“I am waited for in Egypt,” said the Swallow. “My friends are
flying up and down the Nile, and talking to the large lotus flowers.
Soon they will go to sleep in the tomb of the great King. The King
is there himself in his painted coffin. He is wrapped in yellow
linen, and embalmed with spices. Round his neck is a chain of
pale green jade, and his hands are like withered leaves.”
“Swallow, Swallow, little Swallow,” said the Prince, “will you not
stay with me for one night, and be my messenger? The boy is so
thirsty, and the mother so sad.”
Disponível em: https://goo.gl/mMkyL7
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Unidade: A Era Vitoriana: Auge do Império Britânico
O excerto mostra que a estátua do príncipe está muito triste e pede que a ave o ajude e leve
o rubi de sua espada para que a mãe de um garoto doente possa ter condições financeiras de
cuidar do menino.
Assim a história vai se desenrolando, a estátua pede para que o pássaro fique mais e mais
tempo para levar as partes preciosas de seu “corpo” para ajudar as pessoas da cidade.
Com a chegada do inverno, a ave se perde de seu bando, a estátua já não tem mais
nada de precioso que possa contribuir para melhorar a vida das pessoas da cidade. Ela nem
consegue mais enxergar, pois seus “olhos”, duas safiras, também foram retirados para ajudar
os necessitados. Então, a estátua fica feia e já não chama mais a atenção das pessoas da cidade
e passa a ser vista como um estorvo. Veja o que acontece a seguir.
“The ruby has fallen out of his sword, his eyes are gone, and he is
golden no longer,” said the Mayor in fact, “he is litttle beter than
a beggar!”
“Little better than a beggar,” said the Town Councillors.
“And here is actually a dead bird at his feet!” continued the Mayor.
“We must really issue a proclamation that birds are not to be
allowed to die here.” And the Town Clerk made a note of the
suggestion.
So they pulled down the statue of the Happy Prince. “As he is no
longer beautiful he is no longer useful,” said the Art Professor at
the University.
Then they melted the statue in a furnace, and the Mayor held a
meeting of the Corporation to decide what was to be done with
the metal. “We must have another statue, of course,” he said,
“and it shall be a statue of myself.”
Disponível em: https://goo.gl/mMkyL7
Notamos o descaso dos governantes da cidade com relação à estátua do príncipe. Estavam
mais preocupados com sua beleza, sua opulência e não com o que ela representava. Por isso,
como ela já não era mais útil aos propósitos dos governantes, eles mandam derreter a estátua
e começam a pensar em qual seria a personalidade homenageada para fazerem uma nova
estátua, tão suntuosa quanto a do príncipe feliz.
Diante de todas essas informações, vamos pensar sobre a mensagem que o autor queria
nos transmitir.
Começaremos a partir do título: O príncipe feliz, será que o príncipe era realmente feliz?
Percebemos que não. Então, podemos concluir que, no próprio título, o autor já demonstra
ironia e tem a intenção de fazer uma crítica aos dirigentes que só conseguem enxergar o que
lhes é conveniente.
Percebemos também que, ao apontar todas aquelas pessoas pobres da cidade, famintas,
doentes, com pouquíssimos recursos, o autor retrata as pessoas que viviam na época da
Revolução Industrial, em péssimas condições de vida, conforme já discutimos anteriormente.
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Outro tema importante e que aparece de forma bastante sutil é o homossexualismo. O amor
entre o príncipe e o pássaro, que transcende o materialismo e a hipocrisia dos governantes da
cidade, é forte e eterno. Observe o trecho final.
Ao derreter a estátua, observaram que seu coração não derretia e, como já não tinha mais
serventia, foi jogado fora. O coração da estátua acabou caindo ao lado do corpo do pássaro.
Porém o amor dos dois durará para sempre, pois Deus está feliz com a atitude deles de ajudar
os mais necessitados; o pássaro continuará cantando no jardim da eternidade e o coração do
príncipe viverá para sempre.
O autor nos mostra que a sociedade não será capaz de desenvolver o amor enquanto for
materialista, intolerante e hipócrita.
Espero que você tenha gostado do conto e fique curioso para ler mais obras desse autor tão
emblemático.
Agora vamos conhecer um pouco sobre a obra Jane Eyre, de Charlotte Brontë. Você
já deve ter lido o romance. Há várias indicações a respeito dessa obra na seção Material
Complementar. Inclusive, você poderá assistir ao filme (há várias versões) que também lhe será
bastante útil para entender a análise que será feita a seguir.
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Unidade: A Era Vitoriana: Auge do Império Britânico
Nem sempre saber sobre a vida do autor é útil para entender a obra.
Em nosso caso, teremos de contar um pouco da história de Charlotte
porque grande parte de sua obra está relacionada à sua vida. Vamos
saber um pouco mais sobre ela.
Charlotte Brontë (1816-1855) foi a terceira de seis filhos. Sua mãe
faleceu quando ela tinha apenas 5 anos de idade. Charlotte e seus
irmãos ficaram sob os cuidados de uma tia. Em 1824, a autora e
suas irmãs foram enviadas para uma escola católica em Lancashire;
suas irmãs mais velhas acabaram morrendo de tuberculose nessa
escola, que é descrita em detalhes em Jane Eyre, o que veremos
mais adiante.
J. H. Thompson/Wikimedia Commons
Charlotte incentivou suas irmãs, Emily e Anne a escreverem. As irmãs usavam pseudônimos
masculinos, Currer, Ellis e Acton Bell, por causa do preconceito que havia na época com
relação às mulheres e por terem certeza de que o feminino da época não estava contemplado
em suas narrativas, muito ao contrário, os temas de seus romances, em particular Jane Eyre e
Wuthering Heights, de Emily Brontë, traziam temas turbulentos que não seriam bem aceitos,
principalmente se soubessem que tinham sido escritos por mulheres.
Todos os irmãos da autora foram morrendo, Charlotte foi a única sobrevivente dos seis
irmãos.
Charlotte casou-se em 1854, com Arthur Bell Nicholls, que, assim como seu pai, era um
homem da Igreja. Estudiosos afirmam que seu marido é retratado em Jane Eyre nas figuras de
Rochester e St. John, personagens que serão discutidas posteriormente.
Então, vamos ao resumo da obra.
Jane Eyre
Jane Eyre é considerado um romance gótico, pois retrata lugares sombrios, apresenta
elementos misteriosos com o objetivo de criar uma atmosfera de terror. Como exemplos de
lugares sombrios na obra, podemos citar Lowood, Moor House e Thornfield, além disso, não
podemos nos esquecer da personagem Bertha (que será retomada posteriormente), que cria
uma situação de mistério em grande parte da obra.
O romance é também considerado uma autobiografia ficcional, a narradora conta a história
de sua vida a partir dos dez anos de idade, até cerca de vinte e oito anos. Por isso, a narrativa
acontece em primeira pessoa, é a própria Jane quem conta essa história.
Jane é uma órfã que vive infeliz na casa da tia que a detesta. Como se não bastasse, a
menina ainda tinha vários problemas com seus primos, principalmente com John Reed. Veja
o trecho a seguir, que mostra John Reed machucando Jane.
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You have no business to take our books; you are a dependant,
mamma says; you have no money; your father left you none; you
ought to beg, and not live here with gentlemen’s children like us,
and eat the same meals we do, and wear clothes at our mamma’s
expense. Now, I’ll teach you to rummage my book-shelves: for
they are mine; all the house belongs to me, or will do in few years.
Go and stand by the door, out of the way of the mirror and the
windows
(BRONTË, 1994, p. 12).
Jane gostava de ficar na biblioteca lendo, o lugar era seu refúgio, porém, geralmente era
perturbada pelo primo. O excerto nos mostra a crueldade das palavras de John, com o objetivo
de fazê-la sentir-se menor, à margem. Mas o pior ainda está por vir, John não fica apenas nas
palavras, ele a agride, atira lhe um livro e a faz sangrar. Observe a seguir o que acontece com
Jane, que é verdadeiramente a vítima da situação:
“Then Mrs. Reed subjoined: ‘Take her away to the red-room, and
lock her there’. Four hands were immediately laid upon me, and I
was borne upstairs”
(BRONTË, 1994, p. 13).
Apesar da crueldade de John Reed, é Jane que é posta de castigo e que fica trancada no
quarto vermelho (“the red-room”). Mesmo com o sangramento da personagem, fato notório
de que tinha sido vítima do primo, ela ainda é considerada culpada.
Esses pequenos trechos já sinalizam que a vida de Jane na casa de sua tia não era nada fácil.
Um dia, após um confronto com ela, Jane é enviada para um internato.
Nossa protagonista era bastante impetuosa, pois, mesmo vivendo sob o jugo de sua tia
e enfrentando todos os problemas naquela casa, dizia o que pensava. Observe o excerto a
seguir, que retrata esse enfrentamento quando sua tia convida o Sr. Broscklehurst, da escola
Lowood, para levar Jane para o internato. Sua tia tece comentários nada lisonjeiros com
relação à nossa personagem.
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Unidade: A Era Vitoriana: Auge do Império Britânico
Note que Jane não se curvava à sua tia, desde pequena era impetuosa e estava em busca
de liberdade. De qualquer maneira, como não tem alternativa, acaba indo para Lowood. E lá
perceberemos que a vida de Jane continuará não sendo fácil.
Quando Jane chega a Lowood, percebe que a escola é muito pobre, as crianças chegam
a passar fome, pois a comida é racionada e de má qualidade. Além disso, as crianças são
humilhadas. Veja a seguir a primeira impressão de Jane ao chegar à escola.
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“She treats me like a visitor”, thought I. “I little expected such a
reception; I anticipated only coldness and stiffness: this is not like
what I have heard of the treatment of governesses; but I must not
exult too soon”
(BRONTË, 1994, p.237 ).
Esse pensamento de Jane, na verdade, é uma dura crítica da autora em relação à rígida
hierarquia social da Inglaterra vitoriana. A autora discute o complicado papel da governanta da
época, pois geralmente era uma mulher culta e, como sabemos, cultura era privilégio de poucos
naquele tempo. Outro fato importante é que a governanta ocupa um lugar na casa, lida com a
família, porém não pertence a ela, é assalariada e tratada mais ou menos como serviçal.
Jane sente-se bem em Thornfield Hall por vários motivos: foi bem acolhida pela Sra.
Fairfax, encontrou seu grande amor, Edward Rochester, e teria se casado com ele se não
tivesse descoberto Bertha, sua esposa, que vivia trancada em um dos quartos da casa por
apresentar problemas mentais. Jane recusa-se a fazer papel de amante na vida de Rochester
e vai embora de Thornfield Hall.
Depois de muitas aventuras, já que Jane, desapontada com a descoberta da esposa de
Rochester, sai sem dinheiro, levando apenas algumas roupas, nossa personagem chega a
Moor House, que é o quarto espaço da narrativa.
Nesse local, é acolhida por duas moças e um rapaz, os irmãos Rivers, os quais mais tarde
descobre serem seus primos. Com o passar do tempo e com a intimidade criada em virtude
do cotidiano compartilhado na casa, seu primo St. John lhe pede em casamento, mas Jane
não aceita.
Nossa heroína “ouve” a voz de Rochester chamando-a e vai ao seu encontro. Quando ela
chega a Thornfield Hall, percebe que o local está todo queimado e que não há mais ninguém
ali. Descobre, então, que Rochester vive em um lugar afastado, Ferndean Manor, e, por
consequência do incêndio, está cego e sem um dos braços.
Esses acontecimentos com Rochester podem ser entendidos como a decadência física do
personagem e também como sua decadência moral e existencial, decorrente de suas próprias
atitudes durante toda sua vida. De qualquer maneira, Brontë ainda procura mostrar aos
leitores que, apesar de tudo, Rochester tem uma atitude louvável: a tentativa de salvar as
pessoas do incêndio, ato de bondade que acaba por deixá-lo cego e fazê-lo perder um braço.
Paradoxalmente, notamos que é ao perder a visão que o personagem consegue “enxergar”
suas atitudes impróprias, sua justa punição pelo poder divino.
Jane, profundamente abalada depois de saber do ocorrido, segue para Ferndean Manor, o
quinto e último local da narrativa.
Ali, Jane encontra um Rochester fragilizado e triste. Os dois percebem que o amor ainda
existe e resolvem finalmente ficar juntos para viver esse sentimento.
Perceba que há uma inversão da situação atual de Rochester ao final do romance: antes, o
personagem era o provedor de Jane, o patrão, agora, Jane é independente financeiramente
e é ela quem passa a proteger e a sustentar Rochester. Nitidamente, uma inversão de papéis
atípica para o contexto vitoriano.
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Unidade: A Era Vitoriana: Auge do Império Britânico
No último capítulo, Jane conta sobre sua felicidade com Rochester e sobre os filhos que
tiveram. Porém, apesar de tudo isso, o casal continua vivendo à margem da sociedade, já que
vivem em um local afastado, Ferndean Manor.
Agora vamos pontuar algumas questões marcantes na obra.
Note o uso da linguagem desafiadora e política desse excerto: revolt, rebellions, restrains,
narrow-minded, privileged. Esse léxico nos faz perceber que a autora traz a questão política
para o problema do gênero.
Então, a única saída para a personagem foi trabalhar como governanta que, como já discutido
anteriormente, era uma profissão ambígua na sociedade vitoriana. Jane é o contraponto do
feminino vitoriano: enfrenta os problemas e não tem medo de externar o que pensa.
Outra personagem desse universo é Bertha, a esposa louca de Rochester, que fica trancada
no quarto. Ela representa os medos femininos no contexto vitoriano. Bertha representa o
sobrenatural e o sexo, não tolerados na sociedade vitoriana; também representa o alter ego
de nossa protagonista, ou seja, é o oposto de Jane, porque Jane teve de se ajustar aos
valores daquela sociedade, então, mesmo pensando de forma diferente, procura um trabalho
e tenta encontrar um lugar nessa sociedade. Já Bertha, que não se encaixa nesse contexto,
é considerada louca e isolada em um quarto, ficando literalmente à margem, escondida onde
não pode ser vista.
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Bertha cria todo um mistério na história praticamente desde a chegada de Jane a Thornfield
Hall. Essa atmosfera, como já foi discutido, é uma das características do romance gótico,
porém Bertha só é publicamente revelada quando ateia fogo em Thornfield Hall e morre
queimada. Com essa atitude, Bertha destrói, não apenas os valores materiais, já que não sobra
absolutamente nada da propriedade, mas também Rochester, que fica cego, perde um braço e
perde Thornfield Hall, mais do que isso, perde seu poder patriarcal. A personagem usa o fogo
para mostrar às pessoas que ela estava ali, que ela existia.
Outras duas mulheres importantes para Jane são Helen Burns, sua amiga no Instituto
Lowood e a professora Srta. Temple. Vamos discutir um pouco sobre elas.
Helen Burns representa tolerância e aceitação. Helen e Jane são muito diferentes, já que
Jane tem dificuldade de aceitar as injustiças e luta, na medida do possível, contra elas. Helen
acredita que o bem vencerá o mal na eternidade e que os maus serão punidos por Deus. Ela
acaba morrendo nos braços de Jane por causa da epidemia de tifo que assolou a escola. Esse
é um fato autobiográfico também, Helen representa as irmãs de Charlotte, que morreram
muito jovens no internato onde estudavam. Diferentemente de sua amiga, Jane procura amor
e felicidade aqui na terra. Veja o trecho a seguir que retrata a relação afetiva das amigas:
Percebemos uma relação fraternal entre as duas. Uma nos braços da outra sem dizer nada,
uma reconfortando a outra naquele contexto tão difícil e cruel para meninas tão jovens.
A Srta. Temple acabou sendo um exemplo para Jane, que era tratada pela professora com
respeito e compaixão. É o papel positivo da figura feminina para Jane, que segue seus passos
e acaba se tornando professora do Instituto Lowood, porém descobre que ser professora ali
não é suficiente para que ela seja feliz. Nossa personagem quer mais e, por isso, segue para
Thornfield Hall em busca de sua felicidade.
Espero que você tenha gostado da obra e tenha compreendido sua relação com o contexto
sócio-histórico da época.
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Unidade: A Era Vitoriana: Auge do Império Britânico
Material Complementar
Livros:
Com relação à obra de Charlotte Brontë, você encontrará a seguir dois links com as obras
completas também em inglês e em português. A obra em português está disponível em:
https://goo.gl/GgkWwi
(Último acesso em: 18/12/2017)
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Referências
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Unidade: A Era Vitoriana: Auge do Império Britânico
Anotações
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