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Acta Scientiarum

http://www.uem.br/acta
ISSN printed: 1983-4675
ISSN on-line: 1983-4683
Doi: 10.4025/actascilangcult.v37i2.25243

As frases sem texto


MAINGUENEAU, D. Frases sem texto. Tradução de Sírio Possenti et al. São Paulo: Parábola
Editorial, 2014. 200 p. ISBN 978-85-7934-083-3

Andre William Alves de Assis1* e Raquel Tiemi Masuda Mareco2


1
Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Pres. Antônio Carlos, 6627, 31270-901, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. 2Universidade Estadual
de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. *Autor para correspondência. E-mail: assis.awa@gmail.com

O livro Frases sem texto de Dominique As alterações realizadas nessas retomadas em


Maingueneau, professor da Université Paris-Sorbonne enunciados que foram, ou não, sobreasseverados
(Paris IV), foi originalmente publicado em 2012 na compreendem o tema do segundo capítulo do livro,
França com o título Les phases sans textes. Traduzida A enunciação aforizante. Para Maingueneau, nada
por Sírio Possenti et al. para o português, é uma obra impede o destaque de uma sequência de texto que
ainda pouco conhecida no Brasil. Os 12 capítulos não foi sobreasseverada. Nesse sentido, nada impede
que compreendem a obra trazem textos de que locutores se tornem, constantemente na mídia,
Maingueneau que abordam noções diversas, sobreasseveradores involuntários de enunciados que
perpassando conceitos como citação, não produziram. As alterações que se evidenciam
sobreasseveração, aforizações, hiperenunciador, entre um enunciado proferido por um locutor e o
dentre outros, ampliando-os em análises de corpus destacado pela máquina midiática podem ser
composto, em sua maioria, de materiais da mídia observadas em ‘destacamentos fracos’, pela
francesa. As discussões têm como objeto principal o proximidade com o texto-fonte (uma entrevista em
fenômeno das pequenas frases. uma página de revista que destaca uma fala, por
Logo no início do primeiro capítulo, Enunciado exemplo); ou ser dificultada em ‘destacamentos
destacável, enunciado destacado, Maingueneau afirma, fortes’, em que o destaque não é contíguo ao texto
enfaticamente, que não basta observar que uma frase fonte, impossibilitando o seu acesso (uma notícia de
foi destacada de um texto; para ele, é necessário jornal impresso que retome uma fala proferida em
observar como essa frase se apresentava antes de seu um debate político, por exemplo). Ao abordar a
destacamento. O autor aborda o conceito de noção de ‘enunciação aforizante’, Maingueneau
‘sobreasseveração’, considerado neste trabalho como agrupa, em um plano enunciativo, as ‘aforizações
a tentativa do enunciador antecipar um primárias’ (provérbios, adágios, slogans, máximas),
destacamento. Essa prática, afirma o autor, não é desprovidas de um texto fonte, e as ‘aforizações
recente. Pode ser observada desde textos clássicos, secundárias’, resultado de destacamento de textos
como o excerto de Misantropo de Molière fonte para compor outros textos. Essa distinção entre
(MAINGUENEAU, 2014, p. 13-14), a aforizações primárias e secundárias não é histórica e,
publicações/gêneros mais atuais/corriqueiros, como sim, contextual. Aliás, o contexto de acolhida de
as publicidades e os debates políticos. O conceito de uma aforização, assevera Maingueneau, é o que
sobreasseveração não tinha sido aprofundado em define se se trata de uma aforização primária ou
trabalhos anteriores e, ao nosso ver, é um dos secundária. O autor privilegia no livro essas
avanços deste livro. Em Maingueneau (2008, 2010), aforizações secundárias, oriundas ou não de
por exemplo, sobreasseverar era um conceito dúbio sobreasseverações, frases que são retomadas por um
que poderia ser compreendido de diferentes formas processo de destacamento de texto, rotina
pelos pesquisadores, sobretudo por sua permanente nas mídias ao evocar acontecimentos
similaridade/aproximação ao conceito de aforização. sociais.
Ao especificar essa noção já no capítulo 1, o autor Como evocação, as aforizações secundárias
contribui para a compreensão dos processos de retomam enunciados atestados; as aforizações
‘destacabilidade’ e de ‘destextualização’, que primárias retomam um já-dito. Em muitos casos, o
explicam a prática da sobreasseveração, de ‘saída do uso das aspas é o que diferencia os dois estatutos,
texto’. afirma Maingueneau em A cena da aforização, terceiro
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capítulo do livro. Nesse capítulo, o autor considera o leitor por meio de enunciados inscritos no contexto
uso das ‘aspas’ fundamental para atestar a existência enunciativo, por isso são interpretados como
das aforizações, além de contribuir, em alguns predicados. A partir do momento em que uma
gêneros, para a construção da ‘cena da enunciação’. sequência de texto é retomada como aforização em
O ‘aforizador’, que surge de uma lógica de citação, um texto, considerado por Maingueneau como
não cumpre o papel de quem fala para um manifestação de um gênero de discurso, ela passa a
destinatário específico, restringido pelo gênero do constituir um bloco, que pode ser reconhecido
discurso; pelo contrário, ele se dirige a um auditório também como ‘sentenças’, ‘palavras’, ou, como
que não pretende intervir na enunciação, não atualmente denominam os profissionais da
compreende o mesmo plano enunciativo. Exemplo comunicação na França, ‘aforizações’ ou ‘pequenas
disso é abordado na publicidade do banco BNP frases’. Essas pequenas frases podem ser mais ou
PARIBAS (MAINGUENEAU, 2014, p. 35), em menos prototípicas (fortes), conforme acumulem
que se apresenta um enunciado generalizante que índices textuais (que assegurem sua concisão),
confere ao banco o estatuto de aforizador. lexicais (escolhas verbais), aspectuais (que as
O aforizador de enunciados destacados de um texto generalizem), sintáticos e prosódicos (ritmo) e
carece de um nome próprio; em geral, o que é semânticos (presença de tropos), garantindo sua
destacado pela mídia provém de indivíduos famosos retomada, sua circulação no espaço público.
(atores, políticos, celebridades) que se tornam No quinto capítulo, Thesaurus e comunidade,
autoridades efêmeras a respeito daquilo que Maingueneau aborda a noção de ‘hiperenunciador’
enunciam. Na mídia, geralmente, o aforizador é ao tratar do surgimento de um sistema que ele
representado por uma foto de rosto, que funciona denomina ‘particitação’. Ao contrário das aforizações
como uma assinatura e favorece seu reconhecimento secundárias, as particitações (palavra que mistura
como subjectum. Contudo, Maingueneau deixa claro aforização e citação) correspondem às aforizações
que a apropriação de rosto não exclui a possibilidade primárias. Ocorre particitação, de acordo com
de existência de aforizadores coletivos, casos como Maingueneau, quando o enunciado: pode ser
os dos partidos políticos, de empresas, de um casal memorizado e se apresenta de forma autônoma; não
etc. Em Maingueneau (2010), o autor abordou é marcado como citação, sua fonte é oculta; é
brevemente o conceito de aforizador. Naquele generalizante e pertence a uma memória coletiva
momento, ele priorizou sistematizar os processos de (um thesaurus); implica um hiperenunciador que a
sobreasseveração e de aforização, de forma bastante valide. O hiperenunciador e as particitações não
breve no capítulo um, em que poderíamos tinham sido aproximadas à noção de aforização em
compreender o surgimento de um aforizador. Maingueneau (2004), em uma publicação na revista
No livro em tela, Maingueneau define o aforizador Langages. Em Maingueneau (2014), a aproximação
como uma confluência entre sujeito da enunciação e entre aforização e hiperenunciador é considerada
sujeito jurídico/moral, um subjectum. inevitável. Candidatas ideais à particitação, a maioria
Ampliando a discussão das frases sem texto, das aforizações é proveniente de ‘aforizações
Maingueneau questiona, no capítulo quatro, sentenciosas’, tais como os provérbios e os adágios
Aforização, frase, texto, se uma unidade inferior à frase jurídicos. Além dessas aforizações sentenciosas, o
poderia se constituir como aforização. Em busca de autor problematiza as ‘particitações de grupo’
respostas, analisa grupos nominais (frases com (slogan militante, canto de torcedores, gritos e frases
predicados não verbais). Propõe, dessa forma, de uma manifestação) que permitem, por meio das
denominar enunciados como ‘Ousada, enunciações, a fusão imaginária de grupos (estáveis
anticonvencional, viva a ninguém deixa indiferente’, ou transitórios) em um enunciador coletivo; o caso
que pode ser um título de um blog ou de uma dos ‘slogans comerciais’, que não se referem a uma
notícia, como ‘aforizações-eco’: não se trata de instância, mas a uma marca; e as ‘particitações
enunciados que retomam uma fala, um responsável; escriturais’, frases célebres atribuídas a personagens
são frases não verbais que se apresentam com marcantes, escritores, filósofos etc.
características de uma aforização prévia completa. O autor inicia o sexto capítulo, intitulado A fala
Embora o autor reconheça que a aforização sentenciosa, considerando que as aforizações
(primária/secundária) seja uma frase, ele considera secundárias são inseparáveis de algumas práticas
que o que a caracteriza, fundamentalmente, é a pertencentes a algumas comunidades, podendo
tensão existente entre ela e a lógica do texto, permanecer durante muito tempo ou serem bastante
instituindo enunciados autônomos. Não há essa efêmeras. No exemplo de Montaigne
tensão nas aforizações-eco, em que o destaque (MAINGUENEAU, 2014, p. 84), em que há um
intenta, de forma geral, apenas atrair a atenção do encadeamento de quatro sobreasseverações,
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Maingueneau retoma o conceito de particitação e informacional’, que visa a um fazer-saber sob um


explica que esse tipo de citação está intimamente conhecimento partilhado que valida a enunciação;
relacionado à ‘sobreasseveração sentenciosa’. Autores um ‘enquadre testemunhal’, que pretende anular a
como Montaigne são considerados como uma espécie dimensão informacional a favor de uma convicção,
de ‘intermediador’, pois ao mesmo tempo em que emoção ou experiência; um ‘enquadre acional’, que
citam aforizações consagradas, também produzem é encenada por um ator (social, político etc.) e
sobreasseverações que são aforizações em potencial. pretende mudar uma situação. Esses três enquadres
O próprio contexto de uma obra como essa, assim são exemplos abundantes na imprensa escrita e
como os enunciados nela inscritos, tendem a ser podem ser sintetizados como ‘regimes de
sentenciosos, permitindo sua dissipação. Há, para atualidade’. Oposto a esse regime, Maingueneau
Maingueneau, um jogo permanente entre a observa um ‘regime memorial’, apreendidos pelos
aforização e a destacabilidade, que pode ser ‘enquadramentos histórico’, em que a aforização é
observado em práticas de construção e em retomadas inerente à narrativa, e ‘sapiencial’, em que a
de coletâneas, de fichas de homens letrados, de aforização é um ponto de vista. Todos esses
sentenças do teatro clássico, e outros que agrupam enquadramentos, acrescenta o autor, correspondem
sentenças, colecionam, servindo, muitas vezes, para a diversas figuras prototípicas de aforizador e a
uma meditação (reflexão), ou mesmo de base para diferentes cenas que funcionam como fundo para a
novas produções. aforização.
Saindo do campo dos enunciados primários, em Aforização e enigma, nono capítulo do livro, retoma
As ‘pequenas frases’, sétimo capítulo do livro, e aprofunda a diferenciação entre os regimes de
Maingueneau dá destaque às ‘pequenas frases’ que se atualidade e memorial, enfocando o ‘enquadramento
tornam base de comentários diversos na sociedade e hermenêutico’. Esse enquadre abarca aforizações
adquirem estatutos diversos, como títulos de notícias marcadas pelo uso de tropos (metáforas, paradoxos
de jornais ou de páginas de internet, frases em etc.), cuja autoridade é reconhecida pelos membros de
legendas de programas de TV, mensagens de twitter, uma comunidade. Maingueneau assevera que o
título de vídeo no youtube etc. O autor apresenta, locutor que se utiliza da fala do outro (como o
como exemplos de pequenas frases, os enunciados jornalista) deve, também, apropriar-se do contexto de
‘Que vergonha, Barack Obama’, proferido por Hillary origem dessas falas, para que os membros de uma
Clinton durante as eleições presidenciais americanas comunidade aceitem sua interpretação. O autor
em 2008, e ‘Obama é jovem, bonito e bronzeado’ apresenta alguns procedimentos de apropriação de
(MAINGUENEAU, 2014, p. 100), dito por Silvio enunciados, dentre os quais destaca o uso de figuras
Berlusconi em 2008. Consideradas como efêmeras, de linguagem (metáforas, paradoxos), o uso de
essas pequenas frases são derrapadas, deslizes que se palavras de alguém considerado como ‘Mestre’, que
multiplicam no espaço social dia após dia. Tratando-as podem ser acumulados para garantir o caráter
como ‘panaforizações’, Maingueneau observa nessa enigmático da aforização. Em exemplos de aforizações
prática um processo pandêmico de aforização que, em de frases célebres, o autor propõe uma discussão em
um determinado momento, estão tão disseminadas na torno das diferenças entre a situação de enunciação
sociedade. Essa pandemia de pequenas frases permeia primeira e a de suas aforizações, em casos como ‘I
toda a mídia, sendo, por vezes, traduzidas e repetidas have a dream’ (eu tenho um sonho) de Martin Luther
em outros idiomas. Para o autor, a panaforização é King, que sai de um momento enunciativo específico
orquestrada pela máquina midiática, por isso é difícil e passa a ser retomado, inserido em outras cenas,
não se questionar sobre o porquê de seu sucesso, que dirigir-se a outros públicos, a outras comunidades.
pode advir de fatores distintos, como coerções Nessa discussão, destaca-se a figura do ‘aforizador
enunciativas e coerções ideológicas dessa maquinaria. enigmático’ que, segundo o autor, é um sujeito que
No início do capítulo oito, Interpretar as “[...] está na fronteira do indizível, em contato com o
aforizações, Maingueneau explica que a interpretação absoluto” (MAINGUENEAU, 2014, p. 147).
de enunciados destacados de um texto varia de Interpretações de aforizações em dissertações
acordo com o enquadramento que lhe é dado. Dessa escolares é o tema que inicia o décimo capítulo,
forma, o intérprete é obrigado a construir uma O universo escolar. Segundo o autor, para que uma
alteridade, que pode (às vezes) ser observada no aforização seja selecionada como tema deve
enunciado. É assim que a mídia faz circular pontos apresentar-se como enigmática, sem permitir uma
de vista próprios em vez de falas dos aforizadores. abertura muito ampla das possibilidades de sentido
Nessa linha de raciocínio, Maingueneau apresenta para que não ocorra uma descontextualização. Ao
diferentes tipos possíveis de enquadramentos e seus abordar o discurso e as aforizações literárias, o autor
funcionamentos discursivos na mídia: ‘enquadre explica que é comum a utilização de aforizações
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destacadas de um texto como temas de dissertação. (MAINGUENEAU, 2014, p. 163), de Jane Austen
Quando isso ocorre, a construção da interpretação ou de H. von Kleist as cartas que eles escreveram para
dessas aforizações constitui uma argumentação que seus editores, não as lemos como pertencentes a
passa a ser parte integrante do exercício de escrita. certo gênero, mas como fragmentos da obra dessas
No caso de aforizações autônomas, o autor adverte autoridades da literatura. Para Maingueneau, há uma
que é impossível limitar seu potencial semântico, mudança de estatuto, pois ao ser inserido em uma
pois elas não mantêm nenhum vínculo como texto- obra, o texto passa a ser lido como uma expressão de
fonte. Entretanto, ao escrever uma dissertação, é um sujeito singular, e não como um gênero.
preciso apoiar-se em uma interpretação estabilizada Aforizador e auctor libertam-se, portanto, da lei que
para que o argumento construído seja mais limita o lugar da fala ao lugar da enunciação do texto
facilmente aceito. Maingueneau também aborda e do gênero. O auctor se liberta dessas leis,
nesse capítulo a noção de fórmula filosófica, convertendo os fragmentos de uma unidade superior
diferenciando o thesaurus literário do filosófico. Este à obra, enquanto o aforizador se liberta no sentido
último, cujo caráter é mais polêmico, mantém uma contrário: o texto se desfaz em aforizações. Essas
relação privilegiada com a aforização sentenciosa aforizações pertencem ao regime das ‘enunciações
que, por sua vez, permite condensar tudo, ou parte desatadas’.
da doutrina à qual se refere o fragmento. Como foi possível observar, o funcionamento
Em No limiar do texto, décimo primeiro capítulo do discursivo de frases sem textos é amplamente
livro, Maingueneau se propõe a analisar sermões da analisado pelo autor, que dá maior destaque aos
época clássica e epígrafes. Para o autor, as aforizações enunciados destacados de um texto, sem deixar de
são inseridas no início dos textos que compõem esse explorar também as aforizações primárias em suas
gênero, portanto são a entrada do texto. No discurso análises. Embora traga avanços e um
religioso (aquele que tem como fonte de sabedoria aprofundamento teórico sobre as frases sem texto
um livro), muitas aforizações já são bastante que circulam nas mídias, o percurso de leitura exige
conhecidas e repetidas, como as apresentadas em um conhecimento prévio a respeito dos conceitos
sermões. No entanto, para Maingueneau, os reunidos no livro. Certamente, esta será uma obra
indivíduos são capazes de tecer comentários de uma bastante visitada por linguistas e por profissionais da
sequência que não possui características de uma comunicação, haja vista que a grande quantidade de
aforização prototípica, o que evidencia a força da conceitos agrupados para análise do funcionamento
inspiração do orador e a força do texto. Já no caso das das pequenas frases na mídia possibilita análises
epígrafes, as aforizações não emergem do texto, elas consistentes de novas problemáticas discursivas.
funcionam como um ornamento. Ao utilizar uma
epígrafe em um livro, como o exemplo retirado da Referências
Poética de Aristóteles, “O homem [...] é o mais MAINGUENEAU, D. Hyperénonciateur et ‘particitation’.
mimético (mimetikotaton) de todos os animais e é Langages, v. 38, n. 156, p. 111-126, 2004.
pela mimese (diá mimesios) que ele adquire os MAINGUENEAU, D. Cenas da enunciação.
primeiros conhecimentos”. (MAINGUENEAU, Organizado por Sírio Possenti e Maria Cecília Pérez de
2014, p. 168), pressiona-se o leitor a postular que há Souza-e-Silva, diversos tradutores. São Paulo: Parábola
um sentido entre a epígrafe selecionada (que Editorial, 2008.
condensa uma doutrina) e o livro. O leitor é assim MAINGUENEAU, D. Doze conceitos em análise do
responsável por construir essa relação. discurso. Organizado por Sírio Possenti e Maria Cecília
Enunciação e Anunciação é o último capítulo do Pérez de Souza-e-Silva, diversos tradutores. São Paulo:
livro. Nele, Maingueneau retoma questões Parábola Editorial, 2010.
relacionadas à aforização para abordar a noção de MAINGUENEAU, D. Frases sem texto. Tradução de
‘autoria’. Em Maingueneau (2010), o autor propôs Sírio Possenti et al. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.
subdividir autoria em três níveis: autor responsável,
autor-ator e auctor. Em Maingueneau (2014), o
autor centra sua análise na acepção de ‘autor Received on October 10, 2014.
reconhecido por uma obra’, o ‘auctor’. Assim como Accepted on March 24, 2015.
o aforizador, o auctor se institui pela interferência de
terceiros, que operam o desligamento de seus
enunciados em relação aos gêneros. Dessa forma, License information: This is an open-access article distributed under the terms of the
Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution,
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