Você está na página 1de 14
J—-MEMORIAS DE ROMMEL, por Romoet Gr sig) -MEMORIAS DUM COMUNISTA, por Owaldo Pera | EM EUROPEUNO Pats DOS DOLARES or Raymond G! tragen) A—CREPOSCULO DE UM GENIO, por Jing Thosvand 5. —PASSAPORTE PARA A SIBERIA, por Marcel Gigli G—TUGI DA SIBERIA, por Stvomir Rawice 7.0 HOMEM QUE SALVOU LONDRES, por cose 8. DEZASSETE ANOS EM CAMPOS DE CONCENTRA. (CAO SOVIETICOS, por Andrée Senter 9.-DOSSIER DO NACIONAL-SOCIALISMO, por Walther Hofer 10, ~BNSAIO SOBRE AS LIBERDADES, por Raymond Aron ENSAIO SOBRE AS LIBERDADES assalatiados (pelo menos daqueles que trabalham ainda sobre a matéria), Os consumidores nunca dispuseram de tantos ‘meios de uma libertagio (relativa) das servidoes da vida quotidiana. As méquinas do lar doméstico re- duzem os esforgos penosos da mulher, da mesma ‘maneira que as maquinas das fabricas’reduzem os esforgos penosos dos homens. Nunea tamanha [rae- ‘gio da populagdo teve possibilidade de conhecer tantos paises estrangeiros, de percorrer tantos mic Thares de quildmetros, de escapar também com tanta’ facilidade a0 provincianismo, Se a liberdade real € liberdade de escolha, o consumidor vé-se realmente ceda vez mais livre, com a marcha para a opulencia. Sim, mas as satisfag6es ainda nao acompanham a jn pacigncia dos desejos ¢ a obsessio do ctescimento Sria, a par de coergSes suplementares, uma mobili- dade pouco compativel com a seguranca desejada, Os cidadaos, com os seus sulzagios, escolhem pelo menos entre duas equipas, se nao entre duas politicas. Sim, mas talvez nunca a corrida aos arma- ‘mentos, os conflitos internacionals tenham mostrado tantas parecencas com uma fatalidade contra a qual ‘a consciéncia ergue um protesto solene, talvez vito- rioso a longo prazo ou ao olhar de Deus, mas impo- fente nesta tetra ¢ quanto A durago da existencia, individual. Nem os governantes nem os regimes podem eli- minar as duas causas tltimas das coergdes @ que fe acha subnctia « candgio de todos ¢ de cada lum: o volume das sociedades e o rigor de uma orga nizagio que a ciéncia comanda imperiosamente a cada instante ¢ cuja revisio incessante ela ditige im- periosamente através do seu proprio progresso, 14 Ao longo das piginas precedentes enpregémos a palaveaberdade ora no singular ors no ler sai scmpre procurhe previa, em cada cranilo, Sree Goel» gem fram o Sgn Guo pluel, Pos outa palaveaa, presupazemos que Shisebinberdadsss nto gma tberdade por excel ch ow ie qs, cm ada soda fen ‘thom a liberdade. de fazer certs coisas, mas i Caan’ a berdade de fazer outras, Quanto acs SBiectoe” contentados ‘ou, no,” destas Herdades, ‘eotamo‘e or ain de ao ald ose ‘he ngenue, de, lingvagem corentenenteempre- a Fema como ponto de partida Tocqueville Fin, a gpestio ene au Ibereades dian formals ee iberdedes ditas reais © confrontamas das focotian emo com acute e com a nosen expeienca etal. Procisimos passa dat ideas de ontem para Sritando de hoje e vice-versa © deans manciraten- famoc luninar sre aopectos dest © dos valores ue realize ov ata SY Gereme parecer que se podiam fazer ts objec- es Tundamentas a este eneaio uc, te peas suas Sistaoen oe destnu ¢ fe Ger CONCLUSAO, ral. ‘2 ser apenas 18s RAYMOND ARON tum esboco. Jé que nfo definimos rigorosamente, analticamente aguilo que merece recebet 6 nome de ‘erdades, subsumines ‘um por um oa sinultinea: mente sob'o mesmo eoncelto dieltos insets na Tel « ‘capaciiades efecvas, « partcpagio na coh Piblica e a limitagio reciproca dos poderes, a vida dos invidcy eergenisicto do Esa, Ao seu © usual, ndo teremos comparado 0 que & neon, vel nem teremos. baptzado com © mesmo nome fronts ee a gu ae deve times 5 8 opiniao publica ou ox partidos politics se em, penham em os confundie?® POUNEOS Sm segndo iar eemoy td acto par no Segui, numn outro pont, a oplnio ¢ os partidos s Pata afimarmes. implictamente ov explictameats i nin eos do greats pl grease em a auséncia de eoeriao (FA, Hayek) conate tua ‘eantncia niberiagel NS7®%) cont Por skin, fcimos no plano da anise social niio interrogimos 0 actor individual. Onitiaos toda dicta tbre‘9 ado de conporamcno ue, metafiscamente ou moralmente, merece or ie livre, Pea 7 lo temos a pretensio, nesta breve conclusfo, de responder plenamente a estas objec ou de Dreencher ental lacunas. © gue noe gactamn oot Salienta, mediante una espécle de exame rerospee tiv, sentido e on limites destas tds confersarias Talves nfo seja mau atermo-nos a uma defini anata da Iberdade no entde sol dete terme, 185 wen vce 5 en (Fr oe ne oan oor eee Se ae es oe eee Sea cS eee ee 2 ee Se ee Sh ee [oo eee Lee ones oe ae Soe a Se ae cee ‘mos, equivale a sermos subtraidos A dependéncia re~ ee Se ene ee ae See wile ees oahee ers Se ee ggg nam (t=) Dimonsons of freedom, Nove Torus, 1861, p08, () Toit po 8 187 Tr eee RAYMOND ARON Ace ners Guu nee Auectamente sobre a annem elite ee ‘Bcd vote ¢ sean: fr de pay fazer qualquer coisa e ser capaz de fazer qualquer Ete iad erate ee ae ae ‘@ ser no-liberdade (unfreedom) pita een eee dos outros. : amen Ivica cacao a eae Pear pee ol le lhe Foose ce eee a 1 ld ue meio pr ew wc Seer iene y eater oe Seem pen oe) Ey eats € ots, i ve eal wt alt, Fae eres ee et ‘que citamos, ne eee elses ee ee Pay eee SS Ga PG aoa viele Bie ear ee ae de pagar as despesas da escolaridade (").. A ial Seecencicers eaves Sc Spare Berea ee Pecicineas Cre Fosos actos gracas a lei que proibe aos outros que i, pa. (0) Teds pam 188 bh lh i ll ala: BNEATO SOBRE AS LInmRDADES ‘me impegam realizé-los (ie & igreja da minha prefe- réneia, dar publicidade as minhas opinlGes, viajar no estrangeito). Por dltimo, as leis consistem fre~ ‘quentemente em tomar alguns actores livres relati- vamente a certos actos tornando outros actores niio- livres relativamente aos primeiros. Na ordem poli~ tiea, a decisdo do Supremo Tribunal tira aos Estados a liberdade de manterem a segregasio, uma lei tor~ hharé.amanha muitos cidadios ndo-livres de recusarem 4 tm negro um emprego ou 0 arrendamento de um ‘andar ou de o pér fora do seu estabelecimento. Nesta espécie de andlise, toma-se evidente que nfo tuma totalidade dos poves. Toda a lei tira algumas liberdades a uns, mas confere ao mesmo tempo algu- mas liberdade a outros ou a todos. ‘A luz destas observacGes, propositadamente su indrias, evoquemos primeiro a controvérsia historica ‘entre contra-revolicionaiios ¢ revolucionérios, entre ‘0s defentores das liberdade concretas de que goza~ wam sob o antigo regime comunas, universidades, fordens, pessoas, e os partidarios da liberdade ins- taurada gracas & destruicéo do antigo regime, Os contra-revolucionaios, a seguir & Revolugao Pran- cesa, procuram, segundo a dialéctica dos conflitos histérieos, retomar aos adversarios a palavra sa- grada, Nao 0 individuo isolado, impotente, da Sociedade de dinheiro, eriada pela burguesia, que € livre; na realidade é eseravo de um Estado anénimo, de uma sociedade cruel em que o homem é estranho ‘20 homem quando nio é inimigo dele. Ontem os mesmos.individios encontravam-se integrados em comunidades vivas, cada uma das quais gozava de Tiberdades que 0 absolutismo real respeitava: porque 19 © poder monarguico era, sob certos aspectos, noe “indepeadente (no dependia da escolhe nen da aprovacio dos govemalos). Mas no se estendia 2 tudo e detinha-se nos limites dos diettos e das liber. dades que a tradicio reconhecia 8s pessoas as colectvidades. Tocquevile, um homem saido. da aristocyacia mais antiga, compreendia a argumentar ‘lo contra-revolucionariae era sensivel 20 contraste entre as liberdades de que alguns gozavam sob antigo regime ea igualdade dos sibditos do Império polesnico. A obediéacia a0 rei nao, the parecia servil porgue exprimia a fe na legitimidade monde, cquica (*).” Mas via igualmente o outro aspecto da crise histériea As liberdates concretas de alguns — pessoas ou colectividades ou ordons-— signifca, ‘vam ndo-liberdades para outros e- como ja nlo se justificavam pelos’ Services prestados, aparecamn como privlégios. Analiticamente, estes privlegios fram lberdades coneretas (por excmplo, nao-dejens déncia relativamente aos funcionstios fiscais na determinagio dos impostos a pagat), mas, una ver ligados a estatutos, contradisiam 0 sentido da igual. dade que a atenuacio efectiva das heterogencidades socials espalhava, Os governos ou, pelo menos, a ‘inoria activa deles, desejavam uma certa liberdade politica, designagso grosscira das reformas que ha. veriam reduzido 0 absolutisino real dando aos Fran: cesea a liberdade de eocolherem representantes que, (2) A quatt do anber quando & ue 8 alo‘berade & inte ila aolicndesprezapeopstiadamante 190 Tyee eae ere s RNGAIO SOBRE AS LIBBRDADES or sua ve, teriam Uberdade para diseutir as les 0 controlar os actos do Poder- Tocqueville, cujo espicto comparava sem cessar os trtg destincs francis, Inglés e americano, con- Servave no fundo da alg @ notin da alors: Gio que teria correspondido aos seus anselos de ais fberata beak a evolugio progrssiva das Iberdades- “privilégios no sentido dos direitos democrtico, a iabugho 2 tolos de diteltos igual confiemados pola lel (X tem a mesma iberdade de Y relativa- Reentehacgdo a ca lei probe a ¥ que impeca que X xen am rade) ingle ee wid imagem aproximada da revolucio que teria ecurvado sem desetraizars a nabresa francasa sob o inpério das les. A Amecca oferecia 0 espectaculo da evo- fteko que chegara ao seu temo. A igualdade dos Inuividiog perante a le, a austnela de alsosratas onsttlam a infrecetrtia social: a. dependencia dos governantes em relagho aes governados gragas Asko. a sneaguatdn das iberlades peoon (a Jet probe a Y-—indiiduo ou grupo=—que n= pect X-—individuo ou, grupo—de escolher 0 seu Fepresentante ou o seu culto) asseguravam a todos @ equivalents da Hberdade, pivlgio e orgulho dos feadais, a saber a obediencia no serv, a aceltag fm dados acto, da nlo-liberdade, aclagdo senda ‘io como coeredo, as como voniade propria Embora Tocqueville nunca tenha distinguido ri- gorosamente og conesion que mals gostava. de em= Sregar, exists um texto celebre que se prestaria b Eadugiona inguagem que nés empregamos, Trata-se das ttinas lnbas do peftclo de «L-Ancien Régime fla Revolutions: Nem o- préprios déspotas negam fue a liberdode eoja excelente: 0 que 8 querom @ 33 Oy Rap etre pa eles sistem que odor oe cute sho de Bec teas ee pe eco e eer igs cada ee ee ee Be eect ee ee Poe cia apa coo es Cae ete pecan ai ee ee eee ee ee ic ems no vaca) etna note 6 Beate ee as Pe free sett Soe esata gee eee reer pegs Pai wutnacas cave time te cae pete eee ea nee Fee ee eau prcaiasannne taf ee cee ee ee eo pe Prgth aeee Mabie ee gcse satis gent eas ec ee ee ee do cidadio, Que todo o cidadio tenha a ieriade ee ee ea ee Sor Sumy arto all on md” esterase acne ae aa Cas as suas opiniées ou aderir a um credo religioso, aa Cee fe tap ence a oe ek ry Historica que encontra a sua expresso ao mesmo tempo mais célebre e mais eloquente na obra marsista. cidadio — escreve o jovem Marx —nfio deve ser livre somente num Estado Inginauo ¢ emo que transcendente, compardvel a vida de além-mund da alma salva; deve ser livre na sua vida quotidiaa, na sua actividade profissional, enquanto ser de neces- sidade ou de trabalho. Mas que significa concreta- ‘mente esta liberdade real, oposta as liberdades for- mais dos burgueses? Efectivamente, como nés vinos, distinguem-se varlos significados: 1") Abaixo de tum minimo de recursos, 0 trabalhador ado tira ne- hum beneficio das liberdades pessoais ou politcas, no € capaz de as utilizar, nio tem portanto para cle valor algum; 2.) © trabalhador acha-se isolado na sua particularidade, incapaz de comunicar con © universal, enquanto na e através da vida police, © cidadio comunica por intermédio da eleicao com © Estado; 3°) O individuo acha-se prisioneiro da divisio do trabalho, incapaz de realizar as viruali- dades de que € portador. Fica a ser para sempre tum ser mutllado; 4) Na economia capitalista, o di- absiro 6 rei: o homem s6 voltaré a tomar um contacto directo e autintico com o homem desde que suprima a mediglo alienante do dinheiro; 5.°) O trabalho € fe sera sempre o dominio da necessidade, a liberdade 86 se pode desenvolver no descanso: a exigéacia primeira é reduzir a duragio do dia de trabalho, Nenhuma das definigGes da liberdade real que se pode extrair destas indicagoes entra na definisfo ‘analitica que apresentamos. Segundo a definigio banal da liberdade real, a mesma que & euprimida pela formula empregada na Carta do Atlantico, Freedom [rom want, a ndo-lberdade zeal no implica 13 See ae RAYMOND ARON necessiriamente dependéncia em relagio a actores doterminados: o contexto social é que € efectivamente fonte de sujeicéo, Ou ainda: a liberdade real, se- guado esta defingao, equivale aquilo a que nos cha- fivamos mais ateés capacidade (ability) e do liberdade, ‘Numa sociedade em que néo existe es- cola gratuita, 0 operérlo sem recursos” sulicientes ppara mandar os filhos & escola, no ¢ por esse facto do-tiore de os mandar instru, 0 que nio tem € relos para isso, € ineapaz. Nao interest disci 9 convém ou no empre- felatvomente a un actor determinado e a nfo-capa cidade, como consequéncle da fala de mets. His: SGrleamente, o que parece signficativo embora con- teatio ao rigor do vocabuléri € a confusio, na nossa Epoca, entee a ndo-lberdade e a nio-cepacidade. O facto de se passar dagucla para esta explca-se pei- ameito pela fogica da fgualdade,a seguir pela ambipéo prometeica. A igualdade social ou politica de forma Alguma implica a igualiade econémica, mas requer Institigbes tais que todos os individuos disponham A endian ‘ules para se semen excluidos da colectividade por causa da, sua mi ou da so Inoranca” May esta Toga igualdade ‘no tera sido mantida tho fdeilmente seas socedades modeenas, conscientes do seu. poder de producio, nfo se tivessem progressivamente convencido de que a liberdade de todos e de cada um podia ser assegue rada gracas & tGenica ¢ & organlzagio. ‘A liberdade-capacidade gue as leis socials ou a sedistribuicio dos rendimentos dio & maioria dos cidadios nas sociedades desenvolvidas ao se reve- Tou aliés contraditéria com as liberdades pessoais e 19h ERE ENSAIO SOBRE AS LinENDADMS policas, expressio concseta da definigdo analitica Sue eltamos mais acima. As sociedades que denon ‘amos democratico-liberais, sem haverem levado a abo uma zeconcilagao, sempre imperfeita, entre di- feitos politicos que 880 iberdades direitos socials que aio eapacidades, 6 indicam 0 caminho ao fim do qual esta reconeiliacso ge desenha no hosizonte. E certo que esta liberdade-capacidade nao dé ‘a0 individu possibilidade, segundo 0 sonho do joven Marx na ideologia alema de ser no mesmo dia cacador, pescador e estrtor: néo suprime a mediagio do dinketro: no subtal o trabalhador & disciplina dlo trabalho. A sintese do particular © do universal za sociedade civil nfo permaneceu, em contrapartida, dima utopia; mas, ao realiar-se,redusiu as liberdades de cada um com 0 pretexto de acabar por realizar f lberdade-poder de todos. ( isolamento do trabalhador na sua pasticular- dade tinba, aos olhos de Marx, dus causas: a pro- priedade privada dos instrumentos de produgio, 03 mecanisnes, (ou, @ anarquia) do mercado, “Ore 2 Supressio da primeira causa no elimina evidente- hente nem a Givaio nema diseiplinn do trabalho. ‘A supressio do mercado nao eliminou mais a media- 40 do dinhelo, Mais ainda: a planificagdo autori- tania, tal como foi praticada na Unio Sovictica, aio deixou que o8 individuos conservassem a esfera de autonomia relativamente aos outros e & colectvi- dade que as liberdades burguesas reservam, sem que dessa maneita se vencessem as dependéncias ou Set~ vid8es sociis contra as quais Marx se insurgia, Nesta altura surge um tercero sentido, radical- mente diferente do sentido analitico da liberdade: a Iiberdade da propria colectvidade relativamente a os RAYMOND ARON ‘outrém, homem ou agente natural. A liberdade dos ppovos pode-se deduzit, por analogia, da liberdade individual. Sou livre se Y ndo me impede de fazer {sto ou aguilo e se nio sou castigado, seja qual tenha sido a minha escolha; da mesma maneiza 0 povo — pessoa colectiva— quer ndo ser dependente de tum Estado considerado como estrangelro. Mas se «a liberdade do povo argelino» pode, com rigor, ser submetido analdgicamente sob © conceito de liber dade analiticamente definido, a liberdade de criar a sociedade comunista ou de clevar a taxa de erese!- ‘mento em 7 ou 8% por ano € a transposigao analitica, a nivel do tod da iberdade-cpacidade. # certo que os comunistas pretendem ser apenas os agentes dda necessidade hist6rice, enquanto os planificadores ‘autoritérios, nas sociedades que no se regem pelo marxismo-lenisismo, confessam as suas anbigges prometeicas, Mas quer num caso quer no outro € a Colectividade e do 0 individuo gue & livre e que se considera capaz d@ agir, de criar, de organizar. ‘Se nos ativermos a0 bom uso das palavras, talvez fosse melhor do utiizarmos a mesma palavra para as liberdades —no-impedimento pelos outros ot pela ameaca das sangBes — para as liberdades-capar Gidades a que aspiram os individuos e para a liber- dade-poder colectivo de criagio, por outras palavras, para as liberdades dos liberals, para as dos socialistas ‘ou dos defensores do Welfare State e para as dos planificadores, que julgam que a liberdade & cons- encla da necessidade ou que desesperam de pro- mover 0 erescimento econémico através de outros cos que nfo os de um rege hierirqucoe ttle thrio. regime d& a alguns uma autosida fo contolada sobre milsoes de homens em dominos 16 ENSAIO SOBRE AS LibsRDADES cada vez mais vastos. Mas a sensagio de participar neste poder colectivo deveria comunicar & maior parte uma espécie de sucedineo da conviegéo da liberdade, Nao ha dvida que a liberdade dos planificado- res—poder de alguns — & negacio radical da liber- dade dos liberais. Mas o planificador argumenta que 56 a coergdo permiticd 0 erescimento gragas a0 qual nascerio as liberdades-capacidades e finalmente a3 Iiberdades dos liberais. Seria deplorivel confundit esses significados, mas talvez nio seja inttil com preender os processes histérieos, se no mesmo I6- ‘ico, através dos quais sio exigidas uma pela outza Todos os partidos, aqui no Ocidente, reivindieam a palavra liberdade, da mesma maneira que o mundo, soviético a disputa ao Ocidente, A referéncia & definigio analitica permite resolver os debates? E estes que dio testemunho de uma divergéncia radical quanto aos valores ou & respectiva hierarquia? Segundo a definicao analitica, que apresentamos, nenhum membro de uma sociedade ¢ totalmente livre relativamente a todos (salvo, por hipStese ideal, 0 tirano perfeito) © nunca um individuo se acha des- provide de toda a liberdade, isto &, impedido por outros ou sob a ameaga de sang6es de fazer scja 0 ue for. No entanto, nao se conclui dat que se deva renunciar ao eritério da liberdade para comparar as sociedades e que, como certos individuos sio mais livres e outros menos livres seja em que sociedade 7 oa id ~~ RAYMOND ARON for, a propria nogio de sociedade livre seja despro- vida de significado. Uma primeira resposia & dificuldade é-nos su- gerida pelo encontro entre uma ideia, propria dos Hlgsofos cléssicos, e uma consequéncia lagica da definigSo, neutra e objectiva, da liberdade, Montes- quieu escrevia que a seguranca é a primeira forma dda liberdade, Ora se X tem a liberdade de fazer a, se nfo se vé impedido nem pelos outros nem pela lameaca de sangbes, s6 pode conhecer esta liberdade fe gozar dela com a condigio de saber quais si0 as ameaces de sangées suspensas sobre a sua cabeca. Por outras palavras, a formulagéo exacta pelas leis do que & permitido ¢ proibido & a condicéo necessi- ria para se estar de sobreaviso quanto aquilo a que outrora se chamava arbitrariedade e que se traduz aise lien Openers xismo-leninismo podem argumentar que os cidadaos, sovigticos mostsam indiferenca pelas eleicBes cha- tmadas livres, isto €, pela liberdade de escolher entre dois ou varios candidatos, mas nfo que mostram indiferenca pela violagao da

Você também pode gostar