primeiro grau da liberdade, é o grau mais baixo da
liberdade. Para mim, conforme as palavras de Marx, “a ver- dadeira liberdade consiste, para cada um, em ver em cada homem não a limitação mas a realização da sua liberdade”. A liberdade é a união de todos nós para cri- ar um mundo mais livre. Mas é um sentimento de liberdade a que a criança não pode chegar por si pró- pria, não o alcançará sem uma longa e constante inter- venção do adulto. (Georges Snyders)
Leituras complementares
1 [Democracia e educação]
(…) a maioria dos seres humanos ainda não goza de liberdade
econômica. Suas ocupações são escolhidas pelo acaso e pela premência das circunstâncias; não são a expressão normal de suas aptidões em atuação recíproca com as necessidades e re- cursos do ambiente. As nossas condições econômicas ainda re- duzem muitos homens a uma condição servil. A consequência é não ser liberal a inteligência daqueles que são os senhores da situação, na vida prática. Em vez de pugnarem resolutamente pela submissão do mundo aos fins humanos eles dedicam-se a utilizar-se dos outros homens para fins tanto mais anti-hu- manos, quanto mais egoístas. Semelhante estado de coisas explica muitos fatos de nossas tradições históricas educacionais; projeta luz sobre a contra- dição de objetivos entre as diferentes partes do sistema escolar, 500/685
sobre a natureza estreitamente utilitarista da educação element-
ar e sobre o caráter estreitamente disciplinar ou cultural da edu- cação superior. Contribui para a tendência a isolar as matérias intelectuais até os conhecimentos tornarem-se escolásticos, acadêmicos ou técnicos e para a convicção dominante de que a educação liberal é contrária às exigências de uma educação que atenda aos reclamos da vida prática. Mas, por outro lado, esse estado de coisas contribui para definir o problema particular da educação hodierna. A escola não pode refugir diretamente aos ideais implantados pelas an- teriores condições sociais. Mas a escola pode contribuir para a melhoria dessas condições, por meio do tipo de mentalidade in- telectual e sentimental que formar. E justamente neste ponto as verdadeiras concepções de in- teresse e disciplina são da máxima importância. As pessoas cu- jos interesses se ampliaram e cuja inteligência foi exercitada ao contato com coisas e fatos, em ocupações ativas com finalidade (seja no jogo, seja no trabalho), poderão com mais probabilid- ades escapar às alternativas de uma cultura puramente acadêm- ica e ociosa, de uma prática dura, áspera, acanhada de vistas e simplesmente “prática”. Aquilo que mais precisa ser feito para melhorar as condições sociais é organizar a educação de modo que as tendências ativas naturais se empreguem plenamente na feitura de alguma coisa, alguma coisa que requeira observação, a aquisição de conhecimentos informativos e o uso de uma ima- ginação construtora. Oscilar entre exercícios seriados e intens- ivos para se conseguir a eficiência em atos exteriores sem o con- curso da inteligência, e uma acumulação de conhecimentos que se supõe bastarem-se a si mesmos, significa que a educação aceita as presentes condições sociais como definitivas e por esse meio assume a responsabilidade de perpetuá-las. Uma reorgan- ização da educação de modo que a instrução se efetue em con- exão com a inteligente realização de atividades com um escopo 501/685
será um trabalho lento. Ele só pode efetuar-se aos poucos,
dando-se um passo de cada vez. Mas isto não é uma razão para aceitarmos nominalmente uma filosofia educacional e adotar- mos outra na prática. Será antes um incentivo para empreen- dermos o trabalho de reorganização animosamente e nele prosseguirmos com perseverança.
John Dewey, Democracia e educação: in-
trodução à filosofia da educação. 4. ed. São Paulo, Nacional, 1979, p. 149 e 150. 2 As pedagogias não diretivas
A pedagogia não diretiva, e a pedagogia de Neill, especial-
mente, assenta na ideia de que o desejo da criança serve de fun- damento a todo o edifício. É uma espécie de primeiro termo, eu diria quase uma voz da natureza; é o termo do qual tudo de- pende e que de nada mais depende. Vou ler um trecho de Neill: “deixada em liberdade, longe de qualquer sugestão adulta, a cri- ança pode desenvolver-se tão completamente quanto as suas ca- pacidades naturais lhe permitam; Summerhill é um lugar onde os que têm capacidades naturais e a vontade necessária para fazer-se sábios se farão sábios, ao passo que os que só têm capa- cidade para ser varredores irão varrer as ruas”. Mas, pessoalmente, eu penso que o desejo da criança não é a voz da natureza; o desejo da criança é o resultado do seu modo de vida; é a resultante de muitas influências que sobre ela se ex- ercem; em grande parte, o desejo está em relação com a classe social da criança. Os filhos de operários indiferenciados não têm imediatamente os mesmos desejos que os filhos dos engenheir- os ou dos médicos. O desejo de estudar álgebra não se reparte igualmente por toda população.