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Ano II

Número 4
Julho/Agosto/Setembro/2009

Revista feita por e para aquaristas amantes da natureza

Distribuição Pantanal do Mato


Gratuita Grosso do Sul

Projetando um plantado
Parte 3: O que adquirir ?

Peixes da bacia do rio Tibagi


Siluriformes

Espécies exóticas em
ambientes aquáticos
Sumário
Editorial 4 - Pantanal do Mato Grosso do Sul
Estrada pantaneira e seus mistérios
Roberta Mochi de Miranda
Estamos iniciando o Ano II da Revista terá direito a uma “assinatura” de um ano
Aqualon com todo o gás necessário para que (4 edições) de cortesia, com possibilidades
ela continue assim por muitos e muitos anos. de aumentar para mais tempo, dependendo
Este “bebezinho” que estava engatinhando do tamanho do anúncio ou se a loja indicada
até hoje quer andar com passos firmes para continuar mantendo este anúncio. 10 - Projetando um plantado
elevar cada vez mais o seu nível de informa- Parte 3: O que adquirir?
Americo Guazzelli
ção. Agradecemos novamente aos parceiros - Como se fosse um sócio-benemérito, uma
que continuam nessa caminhada, anuncian- espécie de colaborador que ajudaria finan-
tes, colaboradores e leitores. Juntos podere- ceiramente a manter a revista ativa com um
mos ir além do imaginado! valor mínimo anual de R$ 15,00 para cobrir
Com o sucesso crescente da revista, muitos despesas, com isso, também receberia as 4
12 - Galeria de Peixes
leitores da versão em PDF têm nos enviado edições referentes a uma anuidade. Chantal Wagner Kornin & Cinthia C. Emerich
e-mail solicitando a assinatura da revista im-
pressa, que, diga-se de passagem, possui uma Para qualquer uma dessas possibilidades,
qualidade gráfica de primeira. Só quem tem favor entrar em contato no e-mail: revistaa-
ou já teve o prazer de folheá-la sabe do que qualon.com.br
estamos falando. Porém, como a revista é de 13 - Galeria de Plantas Aquáticas
distribuição gratuita e assim desejamos que Rony Suzuki
ela permaneça, sendo distribuída aos anun- Um abraço da Equipe Aqualon.
ciantes que a repassam aos seus clientes, não
temos um sistema de assinaturas.
Mas, como o nosso objetivo é am-
pliar e difundir o máximo possí- 15 - Peixes da bacia do rio Tibagi I:
vel o aquarismo, para podermos Siluriformes
Oscar Akio Shibatta
atender esses pedidos, resolvemos
encontrar uma maneira de os
aquaristas que desejarem receber
a edição impressa possam recebê-
la na comodidade de sua casa. 18 - Espécies Exóticas em Ambientes Aquáticos
João Luis “Johnny Bravo”
São essas as duas maneiras:
- O aquarista que conseguir
convencer um lojista da sua ci-
dade a fazer um anuncio nela,

Revista Aqualon 3
plantas eu desconhecia.
Na foto 01, o sapinho
Ferreirinha.
Nesse mesmo brejo
encontramos uma es-
pécie muito diferente
de Taturana. Ela passa foto 02
todo o seu período lar-
val na água, depois da
metamorfose se torna uma foto 03
mariposa. Como disse o nos-
so guia, muito pouco se sabe
sobre ela. Na foto 02 pode-
mos ver mais detalhes dela.
Mais adiante encontra-
mos alguns pés de Araçá.
Fomos ansiosamente para
apanhar as frutas, mas
ainda estavam verdes. Só

Pantanal do Mato Grosso conseguimos alguns fru-


tos maduros para matar a

do Sul
saudade de seu gosto doce
e levemente ácido. Na foto
03 podemos ver os pés de foto 04
Estrada Pantaneira e seus Mistérios Araçá (Psidium araca
Raddi). Na foto 04, alguns dos perigos escondidos
Por: Roberta Mochi de Miranda entre as folhas.
Fotos: Roberta M. de Miranda e William P. de Paula Logo após a parada dos Araçás, encontramos
essa linda lagoa (foto 05), cheia de Copeinas
Viagem maravilhosa, do começo ao fim, a expectativa é muito bonito,
sempre vem primeiro. Além dos mantimentos e equipa- chamado de Fer-
mentos, o item mais importante é a máquina fotográfica! reirinha, mas o
Ela será a “eternizadora” de todos os seus momentos, seja bicho era muito li-
ela simples ou moderna. geiro para a minha
A primeira aventura foi no sábado, assim que chega- câmera.
mos em Coxim. Nosso guia, que é um experiente aqua- A foto acima mos- 01
foto
rista, disse que avistara muitos peixes ornamentais no ri- tra o brejinho dos Fer-
beirão próximo ao município, principalmente Coridoras. reirinhas, com muitas
E lá fomos nós. Antes de chegar ao ribeirão, tivemos al- plantas aquáticas como foto 05
gumas paradas. A primeira foi para pegar um sapinho que ninféias e juncos. Muitas
4 Revista Aqualon
(Copeina sp.). As Co-
peinas eram muito
bonitas e mansas, pois
bastava um pequeno
pedaço de pão para
que grandes cardumes
viessem banquetear em
nossas mãos.
Finalmente chega-
mos ao ribeirão que o
guia tinha falado. Re-
almente estava cheio de
foto 06 peixes ornamentais, até
me arrependi de não ter foto 08 foto 09
condições de tirar fotos
submersas. E a vegetação típica dava um show. Na foto “Toque de Midas”. E mesmo
06 podemos ver um formoso Buriti (Mauritia flexuosa) no aquário ele mantém o tom
Alevino de Pacu-Peva Hemigrammus ulrey
que adora lugares alagados e várzeas. É uma árvore típica dourado.
Descobri um jeito para (Metynnis maculatus)
do Pantanal.
A seguir (fotos 07 e 08) podemos observar a vegeta- fotografar os peixes (foto
ção submersa e alguns de seus habitantes. Um fato mui- 09). Podemos identificar as
to curioso é o peixinho dourado que aparece na foto 08. seguintes espécies: Corydora
Ele é um Neon negro (Hyphessobrycon herbertaxelrodi), (Corydoras polystictus), Co-
mas podemos observar uma variação na coloração de seu peina (Copeina sp.), Neon
dorso, esse fato ainda é inexplicado, chamado apenas de Negro (Hyphessobrycon
herbertaxelrodi), Mato
Grosso (Hyphessobrycon
foto 07 serpae), Poptella (Poptella
paraguayensis), Hemigram- Mato Grosso (Hyphessobrycon serpae)
mus (Hemigram- Mato Grossos Transparentes
mus ulrey), Mato (Phenacogaster tegatus)
Grossos transpa-
rentes (Phenaco-
gaster tegatus)
e alguns que eu
não pude identi-
ficar.
O sábado foi
uma aventura
e tanto, e o do- Poptella paraguayensis

Revista Aqualon 5
mingo foi uma aventura ainda maior. Não acordamos tão cedo quanto queríamos, mas
conseguimos ver muitos animais e plantas. foto 11
Já na estrada Transpantaneira, a primeira parada foi para fotografar essa linda planta
do cerrado que tem um fruto que lembra um cacho de guaraná (foto 10).
Depois de termos fotografado a planta, vimos um Tamanduá Bandeira fêmea com um
filhotinho nas costas. Mas, até conseguir tirar a máquina, ela já tinha ido embora. Logo
em seguida tivemos o consolo: um Taman-
Jurupari (Satanoperca Leucosticta) duá Mirim (Tamandua tetradactyla) bem
camarada. Esse bicho é muito engraçado,
Acará Festivo (Mesonauta festivus) ele anda igual um cachorro atordoado...
As patas dele são meio viradas para den-
tro, nem se incomodou muito com nossa
Apistogramma trifasciata presença, foi logo se dirigindo para a mata
após uma refeição de cupins (foto 11).
A nossa próxima surpresa foi esse Ja-
buti andarilho (foto 12). O Jabuti-piranga
(Geochelone carbonaria) do Pantanal. É
um bicho muito sossegado da ordem dos
Quelônios.
Pseudocurimata lineopunctata Já havíamos visto tanta coisa e o passeio
estava apenas no começo.

foto 10

foto 12

Melequinha
Corydoras polystictus Ochmacanthus batrachostomus

6 Revista Aqualon
Andamos mais um pouco, e avistamos algo an- Quati (Nasua nasua) (foto
dando rapidamente na lateral da estrada. Era um 19). Tem a maior parte da sua
Tatu Peludo (Chaetophractus villosus) (foto 14). Deu alimentação a base de frutas,
tempo apenas de mirar a câmera e bater uma foto. mas, quando há escassez, torna
Porque quando descemos do carro para pegá-lo e tirar sua dieta mais carnívora. Ge-
algumas fotos o danado se escondeu no meio dos Ca- ralmente vivem em grupos, po-
raguatás (Bromelia balanceae) (foto 15). E ali ficou dendo ter até vinte indivíduos.
escondido, não teve acordo. Esse é um macho solitário que
Enquanto tentavam pegar o Tatu em meio aos estava à procura de alimento.
foto 14 Caraguatás espinhosos, decidi observar a vegetação foto 19 Quando notou nossa presença
nativa. Foi quando me deparei com essa planta muito tratou de sair às pressas.
interessante, a Aristolochia sp. A principio pensei se Onde tem lagoa, geralmente
tratar de uma planta carnívora, mas não pertence a essa classificação. tem sapo. Olhem esses sapinhos que saiam de pequenos
Ela se especializou em capturar moscas para efetuar a polinização (fotos buracos na areia (fotos 20 e 21). Não encontrei identifi-
16 e 17). cação para eles, mas o nosso guia nos informou que eram
Essa planta prende as moscas dentro de suas flores e consegue isso venenosos e nenhum animal se interessava em comê-
através do seu mau cheiro. Ela as prende temporariamente até a abertura los. E, realmen-
das anteras e liberação dos grãos de pólen. Depois ela libera as moscas, te, como eram
que vão para outra flor e acabam por depositar o pólen sobre o estigma abundantes!
desta, polinizando-a. Isso não impede que algumas moscas morram no Havia muitos no
foto 15 processo. chão e, dentro da
Quando se está passeando, tudo é motivo para foto, até uma manilha lagoa, pareciam
de escoamento de água infestada de morcegos (foto 18). formigas.
Quando estávamos passando por uma clareira encon- Uma planta
tramos um animal muito comum na América do Sul, o que até podemos
foto 20
foto 18

foto 17

foto 16 foto 21

Revista Aqualon 7
encontrar em alguns lagos artificiais é a Ludwigia foto 27
sedoides (foto 22). Aqui no Pantanal elas crescem foto 22
nos alagados e nas terras úmidas, suas folhas se
assemelham a losangos e formam um mosaico na-
tural.
Abaixo vemos um inseto bem diferente, chama-
se Formiga Leão (Myrmeleon brasiliensis) (foto 23).
Ela é a larva de um inseto da ordem Neuroptera.
Seu desenvolvimento se completa no período re-
produtivo, se tor-
foto 23 nando um inseto
muito delgado de foto 28
foto 24
asas frágeis e pergamináceas.
Na fase adulta, ainda se ali- (fotos 27 e 28). Afinal, a paisa-
menta prendando outros inse- gem era muito bonita e queria
tos e tem atividades noturnas. descobrir que espécies grandes
Na fase de larva possui duas habitavam ali. Não demorou
mandíbulas fortes que usa para muito até descobrirmos quais
prender suas vítimas e sugar peixes seriam, depois de fisgar-
seus fluídos. Sua armadilha é um buraco mos umas dez piranhas, desco-
na areia em formato de cone, capturando brimos que naquele ambiente
formigas e insetos que nele caiam. ela era a espécie predominante.
Depois de andar muito, ver plantas, Havia muitas pegadas de foto 29
ver bichos e belas paisagens, paramos animais na areia. Adorava ob-
para descansar, apreciar a paisagem e pes- servá-las, cada bicho tinha sua
car. Afinal, muitas pessoas apreciam um impressão característica. Na foto 29 podemos observar as pegadas de uma Anta (Tapirus
bom peixe assado. O lugar que paramos terrestris). Ao anoitecer vimos uma enorme Anta. Quem sabe não foi ela a autora dessas
era muito bonito, tinha um rio bem raso pegadas? Mas como ela é muito ligeira e estava muito escuro, vou ficar devendo a foto.
de águas avermelhadas, uma ponte de ma- foto 25 Depois de um dia inteiro de passeio guarda-
deira bem antiga e vegetação típica. Pode- mos tudo, recolhemos todo o lixo e começa-
mos identificar duas espécies de plantas mos a longa jornada de volta para casa. Mas
aquáticas nas fotos 24 e 25, as Lentilhas d’Água (Salvina natans) e os Aguapés foi ai que ficou interessante, porque na volta
(Eichhornia azurea). começaram a aparecer os animais de hábitos
Quando chegamos armamos nossas redes e almoçamos. Ficamos descansando noturnos. Vimos lebres, lobinhos, anta, capi-
por algum tempo. Mesmo descansando, ainda encontramos algumas surpresas. varas. Ficamos muito felizes pelo passeio, e
Veio correndo, de repente, vindo da mata, um pequeno Veado Campeiro (Ozo- eu mais ainda pela oportunidade de fotografar
toceros bezoarticus) (foto 26). Parecia assustado e até imaginamos que estivesse animais em seu habitat natural.
fugindo de algum animal. Ficou bem próximo de nós e não se importou em posar
para algumas fotografias.
foto 26
Apesar de não comer carne, arrisquei molhar a isca para ver o que conseguia

8 Revista Aqualon
Projetando um plantado
Parte 3: O que adquirir?
Texto: Americo Guazzelli
Fotografia: Rony Suzuki
Com layout definido, plantas, hardscape e aquário, o que mais precisaremos
para colocar em andamento nosso projeto?
São mais alguns itens que nos ajudarão na manutenção da montagem e na Substrato fértil: Os industrializados são práticos
e as recomendações dos fabricantes devem ser se-
obtenção do sucesso, desde que bem escolhidos. guidas, sem esquecer de observar se são compostos
Filtro: São inúmeros modelos e tamanhos dispo- Lâmpadas: Existem lâmpadas específicas para pelos nutrientes necessários para o desenvolvimen-
níveis no mercado. Todos possuem seus pontos plantados e são as mais recomendadas. A utiliza- to das plantas e se necessitam de camada isolante.
fortes, mas em plantados precisamos de um equi- ção de 1 watt para cada litro de água nos permite A facilidade na montagem e a qualidade que mui-
pamento que faça seu trabalho com eficiência e utilizar plantas mais exigentes. Essa regra é ape- tos deles possuem podem nos oferecer tranqüilida-
não gere muita movimentação na água, evitando o nas uma base, existindo outros fatores que pode- de. Outros substratos férteis podem ser utilizados,
desperdício de CO2. Filtros internos são inviáveis rão alterá-la. Uma opção mais em conta seriam as mas, se queremos economia e eficiência, não pre-
por disputar espaço com as plantas e ficarem apa- lâmpadas fluorescentes, tubulares ou compactas, cisamos citar nenhum além do húmus com laterita,
rentes. Os do tipo hang que possuem temperatura de cor em 6500 K que podem ser isolados eficazmente com uma ca-
on podem criar efeito e dão um bom resultado. Ainda há a opção de mada de areia de filtro de piscina, que também tem
cachoeira, necessitando se misturar esses tipos de lâmpadas, obtendo ótimo preço. Mas o barato dá mais trabalho, visto
que o nível de água do uma média em torno de 8000 K. Em aquários que precisaríamos encontrar húmus de qualidade e
aquário cubra seu re- mais altos há a necessidade do uso de lâm- confiável, passar por todas as etapas de tratamen-
torno. O mais indicado padas HQI ou T5, que possuem maior poder to e isolá-lo corretamente, ou o resultado esperado
para plantados é o do de penetração. HQI é uma lâmpada de des- pode não vir e ainda nos trazer dores de cabeça.
tipo canister. carga em alta pressão muito eficiente, porém,
A filtragem é tão esquenta muito e isso precisa ser levado em
importante que alguns consideração antes da elaboração do projeto.
aquapaisagistas usam A T5 está surgindo como uma excelente op-
mais que um canister, ção para todos. Ela pode chegar a diminuir a
dependendo do tamanho proporção de watts/litro para a metade, em al-
do display, para poder guns casos, desde que em calha com eficiente
cobrir todas as áreas. material refletivo.
10 Revista Aqualon
Aquecedor: Costuma-se recomendar aquecedores Painel: Existem nas lojas do ramo painéis próprios
para plantados com potência conforme o clima da para cobrir o vidro de trás do aquário. Também são
região. Observe a necessidade das plantas e peixes utilizados papéis colantes coloridos tipo “contact”.
que irá manter. A cor deve ser definida com critério, pois irá in-
Termômetro: É interessante para conferir facil- fluenciar no layout.
mente a temperatura de seu aquário. Nem todos
são exatos. Existem os digitais, de mercúrio e de
fita. Na hora da compra pegue vários do mesmo
tipo e escolha um dos que estão marcando a mesma
temperatura.

Gás Carbônico: Existem equipamentos especí-


ficos para a injeção de gás carbônico em nossos
aquários, que nos dão segurança, tranqüilidade e
constância na injeção. É um investimento que vale
cada centavo. Porém, se não houver como adquirir
esse sistema, podemos optar pela injeção através
Instrumentos: Não há como trabalhar com plantas da famosa “garrafada”, que é uma receita caseira
sem uma boa pinça para o plantio e tesoura para disponível em todos os fóruns de aquarismo. Esta
podas. Existem outros opcionais que podem facili- opção é paliativa, pois apresenta oscilação na pro-
tar o trabalho, até mesmo a redinha de pegar peixes dução e injeção do gás, o que atrapalha o desen-
ajuda na coleta de restos de podas. Verifique o que volvimento das plantas, já o sistema com cilindro,
o mercado oferece. além de manter a constância, possibilita controlar
e dosar a quantidade a ser injetada no aquário. Di-
visores de saída de CO2 com ajustes finos comple-
mentam o sistema com um bom difusor do gás.
Espero que a seqüência de artigos tenha ajudado
de alguma forma a tornar a montagem e manuten-
ção dos plantados mais fáceis e agradáveis. Creio
que isso ocorra sempre que planejamos nossos pas-
sos em qualquer projeto.

Revista Aqualon 11
Peixes
Por: Chantal Wagner Kornin
foto: Chantal Wagner Kornin

&
Cinthia C. Emerich

foto: Cinthia Emerich


foto: Chantal Wagner Kornin
Iriatherina werneri
Meinken, 1974 Fêmea Hyphessobrycon megalopterus
Nome Popular: Arco-íris Agulha Aceita muito bem alimentos vivos como (Eigenmann, 1915)
Família: Melanotaeniidae daphnias, microvermes e náuplios de ar-
Origem: Ásia e Oceania. têmia. Nome Popular: Tetra Fantasma Negro, dadeira dorsal maior, todas as nadadeiras
Tamanho: Aproximadamente 4 cm. Dimorfismo Sexual: Machos são mais Black Phantom Tetra negras e o ventre é retilíneo. A fêmea
Comportamento: Preferem nadar nas esguios e as nadadeiras se estendem em Família: Characidae possui coloração mais clara, nadadeiras
partes intermediárias e superiores do longos filamentos, o que dá o nome à Origem: América do Sul / Alto da Bacia anal, ventrais, peitoral e adiposa verme-
aquário. espécie. A nadadeira dorsal é colorida e do Paraguai e Rio Guaporé. lhas e o ventre roliço.
Sociabilidade: Manter em grupos, na se abre como um leque em disputas com Tamanho: Aproximadamente 4 cm. Método de reprodução: Ovíparo, são
proporção de duas fêmeas por macho. outros machos. O corpo é acinzentado e Comportamento: Ficam a maior parte considerados disseminadores livres, pois
Agressividade: São peixes pacíficos e tí- pode ter suaves listras verticais pretas. do tempo na camada intermediária do a fêmea libera os ovos na água e o ma-
midos, um pouco territoriais com machos Fêmeas tem o corpo amarelado e não tem aquário. cho nada em volta fertilizando-os. Não
da mesma espécie. Estão sempre dispu- as barbatanas longas. Sociabilidade: Cardumes, sempre em ocorre cuidado parental nesta espécie, a
tando hierarquia, abrindo suas nadadeiras Reprodução: Ovíparos. Em trios ou ca- quantidade superior a 5 peixes. partir do momento que os filhotes apre-
e “tremendo” em um ritual muito bonito. sais, a proporção ideal é de um macho Agressividade: Ocorrem disputas entre sentarem nado livre, pode-se começar a
As disputas de território não passam de para várias fêmeas, pois os machos as os machos pela hierarquia do cardume, alimentação com infusórios e nauplios
pequenas perseguições, mas os machos disputarão incessantemente. Relatos in- mas são pacíficos com os demais habi- de artêmias. Conforme forem crescendo,
submissos podem se tornar muito tími- dicam que depositam os ovos sobre fo- tantes do aquário. alimentos maiores podem ser oferecidos.
dos, principalmente em aquários muito lhas de plantas e a desova ocorre princi- Manutenção: Aquário bem plantado e
pequenos. palmente nas primeiras horas da manhã. com volume mínimo de 50 litros para
Manutenção: Aquário bem plantado Não é uma espécie de difícil reprodução, comportar cardumes maiores.
com áreas de sombra e abrigo, mas com basta um aquário de aproximadamente Temperatura: 24 a 28 ºC
um espaço aberto para os peixes se mo- 60 litros com musgo e plantas de folhas pH: 6,2 a 7,0
vimentarem. finas. Água bem limpa e TPAs são essen- Alimentação: Onívoro, come de tudo.
Temperatura: 26 a 30 ºC ciais, os ovos eclodem em poucos dias e Complementar a dieta à base de ração

foto: Rony Suzuki


pH: 6,0 a 7,0 os alevinos devem ser alimentados, de- com alimentos vivos ao menos uma vez
Alimentação: Aceita qualquer tipo de pois de completarem uma semana de na semana.
ração, desde que em pedaços pequenos vida, com náuplios de artêmia, infusórios Dimorfismo sexual: O macho é muito
o suficiente para caberem em sua boca. ou outra alternativa. mais escuro que a fêmea, apresenta a na- Fêmea

12 Revista Aqualon
Plantas aquáticas
Por: Rony Suzuki

Myriophyllum aquaticum
(Vellozo) Verdcourt, 1973
foto: Rony Suzuki

Folhas emersas

Família: Haloragaceae
Origem: América do Sul
Hábito: Aquática emergente
Tamanho: 30 a 50 cm de altura

foto: Rony Suzuki


Temperatura: 10 a 29 °C
Iluminação: Intensa
Ph: 6 a 9
Manutenção: Relativamente fácil
Crescimento: Rápido
Propagação: Sua reprodução é feita através do corte e replantio do caule.
Plantio: Ideal para compor a área posterior do aquário. Melhor se plantada em
molho com 2 ramos e espaçamento de uns 3 cm.

Excelente planta para compor a parte traseira do aquário, sua cor dourada con-
trastando com as de folhas verdes ou mesmo as vermelhas dão um toque todo
especial à montagem. A Myriophyllum aquaticum cresce muito rápido necessi-
tando várias podas seguidas. Jamais deixe chegar à superfície, caso isso ocorra,
em pouco tempo já estará lançando as folhas emersas, sendo que a readaptação
ao meio submerso é um pouco difícil.
A bacia do rio Tibagi localiza-se no estado
Peixes da bacia do rio Tibagi I: do Paraná, percorrendo, de sul a norte, uma ex-
tensão de aproximadamente 550 km. Tem como
principais atrativos turísticos as formações ro-

Siluriformes
chosas do Parque Estadual de Vila Velha, em
Ponta Grossa, e um belíssimo cânion cortado
pelo rio Iapó no Parque Estadual do Guartelá,
em Tibagi. O município de Londrina é o mais
populoso dessa bacia, situando-se na região
norte do estado, na margem esquerda do rio, de
onde capta água para o seu abastecimento.
Oscar Akio Shibatta Na bacia do rio Tibagi ocorrem peixes das
ordens Siluriformes, Characiformes, Gymno-
Universidade Estadual de Londrina tiformes, Perciformes, Cyprinodontiformes e
Synbranchiformes. A mais rica é Siluriformes,
com cerca de 50 espécies. Esta ordem é consti-
tuída pelos peixes de couro, tais como os bagres,
ou com tegumento composto por placas ósseas,
tais como os cascudos. Normalmente apresen-
tam barbilhões bem desenvolvidos e que são uti-
lizados como órgão sensorial (tátil, gustativo e
olfativo). O corpo geralmente tem a região ante-
rior deprimida dorso-ventralmente e a posterior
comprimida lateralmente. Com essas caracterís-
ticas, podem se abrigar entre rochas e troncos de
árvores e manter uma atividade noturna.
Por ser um rio encaixado, e por apresentar vá-
rias formações rochosas em seu leito, a principal
característica do rio Tibagi são suas águas cor-
rentes. Um dos peixes que apreciam o ambiente
torrentícola é o cascudo. O interessante é que
sob esse nome popular foram identificadas 26
espécies, pertencentes a 11 gêneros, na bacia do
rio Tibagi. Uma dessas espécies foi recentemen-
te descrita e recebeu o nome Hypostomus multi-
dens, devido à grande quantidade de dentes. Em
vida, essa espécie é belíssima, com padrão de
colorido castanho escuro, quase negro, e pintas
amarelas, mais intensas que as de Hypostomus
albopunctatus (fig. 1). Por apresentarem carac-
teres morfológicos muito similares entre as es-
Fotografias: Rony Suzuki pécies, o estudo taxonômico dos cascudos é um
dos mais complexos dentro da nossa ictiofauna e, espécie se abriga em meio às frestas de troncos
certamente, muitas espécies novas ainda serão des- Siluriformes submersos, de onde saem à noite para se alimentar.
critas. Dentre as espécies presentes na bacia e com Loricariidae No aquário o exemplar dificilmente será visto.
certo interesse para a aquariofilia estão aquelas do O candiru-açu, Cetopsis gobioides (fig. 7) é rela-
gênero Ancistrus (fig. 2). Machos desse gênero tivamente raro na bacia e sua biologia é pouco co-
apresentam cirros ou tentáculos na região dorsal do nhecida. Assim como muitos bagres é um predador
focinho, o que lhes conferem um aspecto estranho e deve ser mantido apenas com peixes maiores.
e, por isso, atraente aos aquaristas. Muito populares na aquariofilia, os limpa-fundo
Outro peixe que aprecia a correnteza é o ba- da família Callichthyidae, gênero Corydoras, tam-
grinho Pseudopimelodus aff. pulcher, muito belo, bém estão presentes na bacia. A espécie mais co-
com o corpo de coloração alaranjada intercalada mum na região baixa da bacia, inclusive em Lon-
com largas faixas negras (fig. 3). Nada se conhece drina, é Corydoras aeneus, que possui um colorido
sobre a sua biologia, mas já observei que formam avermelhado com uma mancha escura triangular
grandes cardumes na época do verão e são encon- Fig. 1. Hypostomus albopunctatus, de coloração na região dorsal do tronco (fig. 8). Já Corydoras
trados em pequenas corredeiras, tais como as do rio escura com pintas amarelo-claras, é um dos belos paleatus (fig. 9) é mais freqüente na região mé-
das Cinzas. Esta espécie pode ser confundida com cascudos da bacia do rio Tibagi. Vive em corredei- dia e alta da bacia. Esta espécie apresenta o corpo
outra, Microglanis garavelloi (fig. 4), devido ao ras e se alimenta de algas e detritos. castanho claro com manchas e pintas escuras que
padrão de colorido. Mas, observando atentamen- lhe conferem um padrão de colorido muito bonito.
te, é possível diferenciá-las. Ao contrário de P. aff. Além disso, o macho tem a nadadeira dorsal mais
pulcher, esse bagrinho não forma cardumes e não alongada. Alimentam-se de detrito que se acumula
é coletado em corredeiras. Na bacia ainda ocorre no fundo dos rios e, por isso, não é agressivo com
uma outra espécie da família Pseudopimelodidae outros peixes. Da mesma família, na bacia ainda
chamada Pseudopimelodus mangurus, ou bagre- temos Callichthys callichthys e Hoplosternum lit-
sapo, que tem padrão de colorido similar, mas atin- torale, conhecidos popularmente como cambojas
ge maior tamanho. Apesar de serem peixes pouco ou caborjas. São de colorido pardacento a acinzen-
ativos e de permanecerem escondidos em meio às tado e o corpo é mais alongado e maior que o de
rochas e troncos, não devem ser colocados com Corydoras.
peixes menores, pois podem predá-los. Na bacia ainda podemos encontrar várias espé-
Nas corredeiras ainda se encontram mandis do cies da família Heptapteridae, representadas por
gênero Pimelodus. Além de pintas escuras, estes bagrinhos dos gêneros Cetopsorhamdia, Impar-
tem um belo colorido dourado, como em Pimelo- finis (Fig. 10), Phenacorhamdia, Pimelodella e
dus maculatus, ou prateado, como em Pimelodus Rhamdia. Muitas delas preferem riachos de água
heraldoi (fig. 5). Já observei que são peixes ativos corrente, mas também vivem em rios. Outra famí-
em aquários, principalmente na hora da refeição. lia interessante é Trichomycteridae, com espécies
São onívoros, consumindo todos os tipos de ali- dos gêneros Trichomycterus e Ituglanis ocorren-
mento. Deve-se ter especial cuidado no manuseio do principalmente nas cabeceiras dos riachos, em
desses mandis, porque possuem espinhos pungen- Fig. 2. Este exemplar de Ancistrus sp., embora de
águas limpas e oxigenadas. São peixes alongados,
tes nas nadadeiras peitorais e dorsal, formando um com pintas ou manchas escuras no tronco.
procedência desconhecida, é semelhante à espé-
tripé defensivo, cujas picadas podem ser muito do- A maioria dessas espécies não é muito comum
cie da bacia do rio Tibagi. No detalhe observam-
lorosas. nas lojas, provavelmente porque o público que as
Outra espécie que utiliza o tripé defensivo é Ta- se os tentáculos que se desenvolvem no macho apreciam é muito limitado, por razões tais como a
tia neivai (fig. 6), da família Auchenipteridae. Essa adulto. ausência de atividade diurna, não se expondo facil-
16 Revista Aqualon
Pseudopimelodidae mente, e por serem predadoras vorazes. Mas, com Callichthyidae
certeza, são tão belas e interessantes quanto as que
são usualmente comercializadas. Afinal, parafrase-
ando o ditado popular, “a beleza está nos olhos de
quem vê”.
No próximo artigo abordarei a ordem Chara-
ciformes, onde se encontram os ágeis e coloridos
peixes que tanto atraem os aquaristas.

Auchenipteridae

Fig. 3. Pseudopimelodus aff. pulcher, coletado no Fig. 8. Corydoras aeneus, coletado no ribeirão
rio das Cinzas, é uma espécie nova que está sen- dos Apertados. Provavelmente é a espécie mais
do descrita pelo autor. popular entre os limpa-fundo.

Fig. 6. Tatia neivai, coletado no rio Tibagi, se es-


conde no meio de frestas de troncos de árvores.
Cetopsidae
Fig. 4. Microglanis garavelloi, coletado em Jataizi-
nho, no córrego Taquari, que deságua diretamen-
te no rio Tibagi.
Fig. 9. Exemplar macho de Corydoras paleatus,
Pimelodidae com os primeiros raios alongados da nadadeira
dorsal.
Heptapteridae

Fig. 5. Pimelodus cf. heraldoi, coletado no rio Ti- Fig. 7. Cetopsis gobioides, coletado no rio Tibagi.
bagi. Tem aparelhos sensoriais, tais como olhos e Peixes desse gênero são conhecidos como can- Fig. 10. Imparfinis schubarti, da bacia do rio Tiba-
barbilhões, bem desenvolvidos. diru-açu na região norte do Brasil. gi, é uma espécie muito comum nos riachos.
Revista Aqualon 17
A invasão do equilíbrio

Espécies Exóticas em O equilíbrio natural é sustentado por distintas partes:


químicas, físicas e biológicas – mas aqui vamos levar a
conversa para o ponto de vista biológico, olhando para
os efeitos que os seres vivos exercem, e centrando nos

Ambientes Aquáticos
peixes. Originalmente, toda espécie tem um papel, ou
seja, ocupa um nicho no seu ambiente. Quando chega,
de repente, uma espécie que não é dali e ela consegue
passar por todos os testes a que é submetida, ela pode
rapidamente afetar as regras que reinavam ali durante
muitos anos e mudá-las para sempre. Falar de nicho não
significa apenas dizer que uma espécie é base ou topo de
uma cadeia alimentar, mas sim atribuir a uma funciona-
lidade, que significa algo muito mais estrutural. E como
sabemos, uma máquina que perde ou danifica uma peça
pode ter todo seu funcionamento comprometido.
Para entender esse lance de nicho pensem na seguinte
situação, dada por um exemplo clichê de nossas ‘funções
sociais’. Domingão, dia que você quer relaxar e de re-
pente toca a campainha. Sabe aqueles vizinhos que até
hoje você fez questão de desviar na rua, por já ter tido
a péssima experiência de conhecê-los? Pois é, são eles.
Espécimes mais que exóticos. Claro que chegam na hora
da comida e sem trazer nada. A mulher já chega dando
pitaco no que sua mina estava fazendo na cozinha e em
poucos minutos já tomou da mão dela a colher, o fogão e
o controle. Você chama mais um casal para ajudá-lo nessa
Texto: João Luis “Johnny Bravo” tarefa de contê-los, não tão exóticos, mas que vivem em
outra região, porém, tudo que acontece é que ao invés de
Fotos: Rony Suzuki um, agora, se tem dois casais a beira do desespero. Horas
depois, indignado e esgotado, você foge para sua poltrona
preferida a fim de praguejar contra esses cidadãos infa-
A natureza lutou muito, milhões e milhões de anos a alimentado com sua ilimitada capacidade criativa, o ho- mes, mas se depara com alguém usando-a e tomando a
fio, sem feriado ou fim de semana de descanso, para apre- mem decidiu que podia mudar, pois entendia que poderia cerveja que você havia deixado gelando exclusivamente
sentar ao jovem ser humano algo sobre o equilíbrio da contornar qualquer problema. E com todas as facilidades para si – era justamente o amigo que você havia chamado
natureza e suas tênues fronteiras. Apresentou aos recém- e oportunidades surgidas ao longo das gerações humanas, para te ajudar, mas que se cansara antes de você na tarefa
abertos olhos um mundo repleto de diversidade de cores, as espécies começaram a ser levadas de um lugar para o de repulsa e controle das pragas. É aí que você percebe
formas, aromas e gostos. Diversidade esta, dividida con- outro, por motivos que vão desde a necessidade alimentar que apenas Chuck Norris seria capaz de expulsar aquela
forme decidiram os cataclismos e tratados interespecífi- dos povos, passando pelos requintes exóticos de nossos gente da sua casa e você acaba se vendo sem saída. Isso
cos, amadurecidos sob incontáveis eras, fora da concepção convivas do planeta Terra, até questões que envolvem a é perder o nicho.
temporal humana. Mas em alguns poucos (pouquíssimos) saúde, sem contar os inúmeros ‘oops’ (introduções aci- Muitas vezes as espécies exóticas agem assim, ocu-
milhares de anos, munido de sua maior arma, a razão, e dentais). Que mal há nisso? Perguntam-se alguns. pando o espaço e consumindo os recursos dos seres nati-
18 Revista Aqualon
vos, excluindo ou chegando antes destes e ignorando as espécie para se tornar uma ‘boa invasora’ depende, (caramujos do gênero
regras do novo ambiente. Mesmo espécies que têm certa basicamente, de seu potencial invasivo Biomphalaria). É o que
afinidade com o sistema, mas não são exatamente dali, e da vulnerabilidade do sistema chamamos de Controle
podem vir a ocupar um nicho e atrapalhar em certo mo- (ambiente) à invasão. Para o Biológico. Mas aí que
mento, não previsto. primeiro ponto, consideram-se está, se alguém pensar
coisas como o número de indiví- só em acabar com as
A definição da ameaça duos inseridos no ambiente, se há pestes, pode ser que
mais de uma tentativa de inserção na verdade esteja é
Assim, para os efeitos deste artigo (pelo menos), etc. Depois disso, começamos a nos criando um novo
entendam espécie exótica como aquela que vem de um preocupar com a maneira natural da- problema (ecológi-
lugar absolutamente distinto, cujas regras e parâmetros quela espécie se comportar: Ela gera co), pois, depen-
diferem do ambiente destino; normalmente são espécies muitos indivíduos? Seus estágios de dendo do que se
vindas de fora do país, como a tilápia da África ou a car- crescimento são curtos/rápidos? Ela fizer, ameniza-se
pa da Ásia. Como estaremos vendo os efeitos da invasão tem alta capacidade de se espalhar pelo de um lado, mas
de espécies alienígenas, mesmo os conceitos de espécies ambiente em que foi introduzida? E quão instala-se um outro a médio
alóctones (comuns na legislação ambiental), que são as resistente ela é em relação aos fatores d e n s ou longo prazos. É bom acentuarmos que
que vêm de outras regiões (por exemplo, um tucunaré físico-químico-biológicos oferecidos pelo splen para afetar uma outra espécie, habitat ou ecossis-
Betta
amazônico no pantanal), estarão inclusos na nossa con- ambiente que a recebe? Saibam vocês que tema não é necessário que a invasora haja diretamente,
versa aqui sob a mesma ótica da exótica (rimou). Existem tais espécies ‘ninjas’ existem. Quanto ao segundo aspecto basta que ela seja mais hábil no uso/alcance dos recursos
espécies nocivas dentro e fora de um mesmo país, o que levantado, vulnerabilidade do ambiente, além dos aspec- ou que traga consigo um parasita diferente do que o am-
nos mostra que as fronteiras geopolíticas são ignoradas tos físicos (climáticos) e químicos, é interessante avaliar biente está acostumado a lidar.
pela biodiversidade. a ecologia: O ambiente oferece lacunas (nichos abertos)? Dentre os exemplos selecionados, começo o Betta
Primeiro, vamos tentar definir quais são as ameaças E organismos capazes de exercer controle? splendens (Beta), vindo da Ásia. Esse peixe tem um re-
que espécies que não pertencem ao ambiente em que conhecido potencial de predação de larvas de mosquitos,
foram introduzidas podem causar. Cabe ressaltar que Como os peixes ornamentais se encaixam nisso? fato este que atrai as autoridades em saúde a utilizá-las
dentre os principais agentes que aceleram a degradação no combate a surtos de doenças. Historicamente são os
ambiental, como supressão de habitat, fragmentação de Peixes ornamentais são colocados no ambiente não machos que possuem a maior capacidade de ‘papa lar-
ecossistemas ou mudanças climáticas, destaca-se com apenas pelas mãos de hobbystas e criadores desavisados, vas’, mas as pesquisas atuais mostram que as fêmeas
louvor a introdução de espécies exóticas. E não sou eu desatentos, descuidados ou mal-intencionados, espécies não ficam nada atrás. Um indivíduo adulto é capaz de
quem diz, vide a Convenção sobre Diversidade Biológica como as citadas, e outras mais, acabam chegando às nos- eliminar de 400 a 500 larvas por dia. Esse peixe foi utili-
(CDB), da qual o Brasil é signatário, que possui trechos sas águas com propósitos já predeterminados e com selo zado nos estados do Ceará e Pernambuco para combater
que pedem aos membros buscar impedir a introdução de de legalidade, mesmo sem o mosquito Aedes aegypti, transmissor da
espécies exóticas ou que realizem seu controle e erradi- nenhuma garantia de que vão Dengue. Segundo a FAO, no Brasil, o beta
cação, ou, mesmo, consulte nossas leis, como o Decreto se comportar. Muitas vezes os está reproduzindo, ou seja, consegue estabe-
4.339/02 (que institui princípios e diretrizes para controle peixes ornamentais são postos lecer populações, já na Flórida-EUA (1977),
e erradicação das espécies exóticas) e a Lei 9.605/98 (que na natureza pelos programas populações desse peixe foram erradicadas
incrimina quem introduzir espécime animal no país, sem de governo que visam contro- devido ao frio.
parecer técnico oficial favorável e licença expedida por lar vetores de doenças, como Isso me faz pensar, pois, sabendo não
autoridade competente). Destaco ainda a Portaria IBA- os mosquitos transmissores existir peixes semelhantes no Brasil, me per-
MA 145-N/98, que estabelece normas para introdução, da dengue (Aedes aegypti) gunto por que não foi escolhida a alternativa
reintrodução e transferência de espécies alóctones e exó- e da malária (mosquitos do de fazer introduções de um só sexo, colocan-
ticas. gênero Anopheles), ou o ca- Biomphalaria sp. do fêmeas na região A e machos na região
Segundo, é bom entendermos que o sucesso de uma ramujo da esquistossomose B, não conectadas? Assim você aproveitaria
Revista Aqualon 19
pidamente estoques locais de alimento, e continentes. Este, em específico, é um dos mais robus-
sem contar o fato que no Brasil temos tos barbos (peixes do gênero Puntius), os quais já são ci-
poecilídeos com certa proximidade ao tados na literatura como tendo uma ampla resistência aos
guppy, o que poderia propiciar hibri- parâmetros ambientais (particularmente a água). Todavia,
dização. alguns estudos já apontam que seus alevinos são suscetí-
veis a copépodos e ostrácodos (crustáceos planctônicos).
Pequenas pestes
As aparências enganam
O Xiphophorus hellerii (espa-
da), mais um poecilídeo, não fica O ‘bobão’ Carassius auratus (kinguio, peixe-dourado
atrás e também já está presente ou japonês), que tomamos até cuidado para não misturá-
em dezenas de países na África, lo com espécies ultra-ativas para não danificar suas nada-
ta
ticula Ásia, ilhas oceânicas e também nas deiras ou provocar ferimentos, embora não seja utilizado
ilia re
Poec Américas. Tem alguma (baixa) resistência à sa- pelos programas de controle biológico, tem seu papel pre-
linidade, sabe-se que não prolifera ocupante no cenário de introduções
em temperaturas abaixo de 15 ºC de espécies exóticas. Oriundo da
100% das proles, que sempre têm machos e fêmeas, e e acima dos 29 ºC, mas parecem Ásia, já tem relatos na literatura por
evitaria que se reproduzissem no ambiente. Existem pes- ignorar parâmetros como oxigênio ter se estabelecido em mais de 20
quisas sendo feitas no Brasil, com o mesmo foco, sobre as ou condições hidrológicas. Assim países (inclui-se o Brasil). Atribui-
espécies Trichogaster trichopteros (tricogaster), Poecilia como os poecilídeos citados aqui, se que suas introduções provenham
reticulata (guppy) e Poecilia sphenops (molinésia negra), também parece precisar de vege- tanto de formas deliberadas quanto
todas com alto potencial para predar larvas de mosquito. tação para evitar a predação. Tem acidentais, sempre associado ao
Para mim, as duas últimas preocupam mais, pois temos sido encontrado em vários am- Xiphophorus hellerii propósito de ornamentação. Presen-
peixes do gênero Poecilia naturais do Brasil e não se bientes criados pelo homem. São te em rios, lagos, tanques etc. que
pode descartar o risco de hibridização. capazes de coexistir com outras possuam baixo fluxo de água, tem
Poecilia reticulata (Guppy), espécie linda nos aquá- espécies de poecilídeos, como o ignorado temperatura, pH, oxigênio
rios e horrível no ambiente estrangeiro. Embora tenha boa peixe-mosquito (Gambusia punc- ou salinidade nos casos estudados
tolerância à salinidade, sabe-se que o quesito temperatura tata), uma característica dessas, mundo a fora, todavia, encontra-se
a limita em tomar conta de tudo; a espécie requer água junto com sua ampla dieta e rapi- uma faixa de altitude em que está
morna (temp. mínima de 23ºC segundo os relatos lidos). dez de reprodução (indivíduos de limitado, entre 200 e 1000 metros.
Cabe ressaltar que tanto esta espécie quanto a molly ca- 4 meses já podem estar maturos Disso eu não sabia! Se considerar-
recem de ambiente bem vegetado para evitar a predação sexualmente), além de outras já ci- Puntius conchonius mos ambientes com fundo lodoso,
por outros peixes. Coisas assim tranqüilizam aqueles que tadas aqui, levam esta espécie a ser seu hábito forrageiro pode acentuar
mantêm os olhos sobre a proteção do meio ambiente, mas considerada uma peste. O Xipho- a turbidez da água, arrancar plantas
não nos permitem sequer piscar. Sabe-se que esse peixe, o phorus maculatus, o plati, pode ser pela raiz ou mesmo interferir sobre
guppy, está espalhado por mais de 40 países e mesmo nos comparado ao seu congênere nessa espécies que utilizam o substrato
frios, em águas aquecidas (ex: fontes geotermais), faz-se tarefa de invasão. para desova (não só de peixes, mas
presente. Em ambiente natural o guppy pode até mesmo Outro conhecido peixe orna- também insetos, plâncton e anfí-
perder suas chamativas cores ou aumentar a média de ta- mental citado na literatura de inva- bios). Dependendo da quantidade
manho para evitar os predadores, neste último caso ele sões é o barbo conchonius ou bar- de peixinhos dourados fazendo isso
responde se houver alta disponibilidade de comida. E é bo rosado (Puntius conchonius), no ambiente, é facilmente aceitável
talvez nesse quesito que possam vir a prejudicar espécies como os demais exemplos também a possibilidade de ocorrer um ‘efei-
Carassius auratus
nativas, pois são muito prolíficos e podem consumir ra- se encontra em uma série de países to cascata’ no resto do ecossistema,
20 Revista Aqualon
bus correto’, serem capazes de antecipar e amplificar os Sei que minha capacidade de influenciar ou levar novas
danos que um ecossistema em desequilíbrio pode ofere- reflexões é limitada, mas tento aproveitar sempre que me
cer. São elas a quem chamo de ‘ninja’. dão a oportunidade. Se ao menos uma pessoa se importou
As tilápias (Oreochromis niloticus e Tilapia rendalli) com o que leu aqui ou em outro texto, já posso considerar
são peixes habilidosíssimos para ocupar nichos, pois são meu esforço válido, como meta atingida. Quem sabe esse
espécies que parecem ignorar as restrições ambientais, ‘um’ possa fazer algo mais, ou bem melhor? Eu não sei,
resistindo a diversos tipos de intempéries e possuem um mas gostaria de ver. Acho que, nesse caso, vale a pena se
vasto cardápio alimentar, sem contar que são agressivas sentir como uma espécie exótica, ou seja, uma espécie
– como o são os ciclídeos normalmente – e protegem diferente de tudo que se vê ao redor, pensando diferente,
sua prole. A carpa (Cyprinus carpio), por sua vez, é uma fazendo diferente e acreditando que pode mudar algo.
coadjuvante dedicada, pois onde se instala fica pratica-
mente impossível de ser erradicada. Se acabasse por aqui Boa jornada no exotismo!
poderia até pensar bem desses peixes, pois sabe-se que
podem ajudar no combate ao caramujo da esquistosso-
mose (gênero Biomphalaria), mas não há como pensar
Astronotus ocellatus
em proteção da natureza ou gestão ambiental pensando
uma vez que peças-chave podem ter seu número reduzi- numa escala micro ou demasiadamente pontual.
do. A Austrália registra um indício de que o japonês tem
provocado ameaça à população de uma truta nativa (Mac- E os exemplos não findam
cullochella macquariensis).
O Rony sabe quanto tive que cortar deste texto, cerca
Olhando para o futuro de metade, para caber na revista, mas o assunto tem tan-
tos exemplos e tantas repercussões que fica difícil resu-
Em termos de Brasil, podemos facilmente encontrar mir e pontuar o essencial. A cada dia o ser humano tem
exemplos de espécies exóticas causando danos sobre nos- uma nova idéia e põe a natureza à prova, considerando o
sos ecossistemas. As espécies de tucunaré (Cichla spp.), mundo sem fronteiras ou limites. Mas o que será que a
peixes do nosso país, mas que aqui no texto consideramos Terra nos diz hoje? O que será que nos falta? Aprender a
exóticas quando fora de sua distribuição natural, tamanho ouvir, ver, sentir? Falta humildade, respeito? Para que se-
é o poder de seu impacto, são conhecidas por atuarem guir nesse ritmo tão acelerado? Que bom que os aquários
direta e fervorosamente sobre espécies de peixes. Nossas nos fazem parar para contemplar. Nesses dias velozes mal
espécies também fazem fama fora daqui, o oscar (Astro- temos tempo para dizer bom dia ao vizinho e saber como
notus ocellatus), encontra-se estabelecido (reproduzindo ele está, ou mesmo saber quem é ele, quem dirá pensar.
e feliz da vida) na Flórida e no Mississipi (EUA), desde a Aproveite um desses dias em que você se dá ao luxo de
década de 50. Embora não tenha encontrado detalhes dos parar e tente um olhar diferente, mais amplo e completo.
danos, se existem registros é porque alguém se preocupou Como é comum nos textos que venho escrevendo,
com algo. O que será? Será esse peixe o inspirador da pode-se perceber que estou sempre buscando trazer o
famosa frase: ‘The Oscar goes to...’? aquarista para a responsabilidade, mostrando a ele onde
Fazendo uma leitura de todo texto e tecendo algumas ele está dentro do hobby e que não basta apenas achar que
conclusões, vemos que não dá para colocar a culpa 100% dentro de casa se está protegido. Somos responsáveis,
numa espécie exótica, pois sempre tem um conjunto de mais que imaginamos. Sou um tipo de pessoa (ou pelo
efeitos e condições que auxilia as catástrofes. Mas tenho menos tento ser), que pensa como o Balian, de Cruzada
convicção que certas espécies, com sua robustez nata, (filme), que tinha entalhado em sua forja “Que tipo de ho-
têm uma chance infinitamente maior de, ‘tomando o ôni- mem é o homem que não tenta tornar seu mundo melhor”.
Revista Aqualon 21
EXPEDIENTE:
Revista Aqualon é uma publicação da Aqualon - Aquaris-
mo em Londrina. Com distribuição gratuita, visa divulgar
o aquarismo em todos os seus segmentos, desde os aquários

Seja um aquarista consciente:


propriamente ditos até os aspectos ecológicos que o hobby
abrange.

Editor: Rony Suzuki


* Não solte peixes, plantas ou qualquer outro ani- * Não coloque juntas espécies de peixes de pH di- Coordenação: Americo Guazzelli e Rony Suzuki
Projeto gráfico e diagramação: Evandro Romero e Rony
mal aquático nos rios ou lagos. A soltura desses ferentes. Certamente uma delas será prejudicada,
Suzuki
animais pode causar impactos ambientais muito podendo adquirir doenças e contaminar todo o res- Periodicidade: Trimestral
sérios, prejudicando fauna e flora nativa! tante. Tiragem: 2000 exemplares
Revisão: Americo Guazzelli
Fotografia: Chantal Wagner Kornin, Cinthia C. Emerich,
* Não superalimente os seus peixes, pois o excesso * Não inicie o hobby se não estiver disposto a dis- Roberta M. de Miranda, William P. de Paula e Rony Suzuki
de alimento pode poluir a água do seu aquário. pensar os cuidados básicos que os peixes exigem. Colaboraram nessa edição: Americo Guazzelli, Chantal
Com pouco tempo de dedicação obterá sucesso e Wagner Kornin, Cinthia C. Emerich, Oscar Akio Shibatta,
João Luis “Johnny Bravo” Roberta M. de Miranda e Rony
* Não compre rações vendidas em saquinhos plás- isto se transformará em lazer. Suzuki
ticos transparentes. A luz retira todas as vitaminas
e proteínas da ração. Estas também não possuem * Seja observador. É preciso conhecer o comporta- Para anunciar na revista: revistaaqualon@gmail.com
(43) 3026 3273 - Rony Suzuki
prazo de validade. Procure comprar rações de boa mento dos habitantes de seu aquário para se anteci-
qualidade que você notará a diferença na saúde de par aos problemas que possam surgir. Colaborações e sugestões: Somente através do e-mail: re-
seus animais. vistaaqualon@gmail.com
* Lembre-se: Peixes são seres vivos e não merca- As matérias aqui publicadas são de inteira responsabilida-
* Não Superpovoe o aquário, pois o excesso de dorias que podem ser descartadas a qualquer mo- de dos autores, não refletindo necessariamente a opinião da
peixes debilitará todo o sistema de filtragem do mento. Preserve a vida! Revista Aqualon. Não publicamos artigos pagos, apenas os
cedidos gratuitamente para desenvolver o aquarismo.
aquário, podendo levar seus peixes à morte.
* Finalizando, PESQUISE! Atualmente podemos Permite-se a reprodução parcial ou total dos artigos e outros
* Não compre peixes que estejam em aquários usar a internet como uma forte aliada para alcançar materiais divulgados na revista desde que seja solicitada sua
que tenham peixes doentes ou mortos. Eles podem um aquarismo saudável e consciente. Temos vários utilização e mencionada a fonte.
transmitir doenças para todos os peixes que você já sites/fóruns que pregam a prática correta do aqua- A Revista Aqualon, poderá ser baixada gratuitamente em ar-
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