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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

Curso de Graduação em Ciência e Tecnologia

Bethânya Alves Rodrigues

EDUCAÇÃO E ARTE: uma abordagem sobre impactos causados pelos agrotóxicos por
meio do teatro científico

Teófilo Otoni
2023
Bethânya Alves Rodrigues

EDUCAÇÃO E ARTE: uma abordagem sobre impactos causados pelos agrotóxicos por
meio do teatro científico

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Ciência e Tecnologia, como parte dos
requisitos exigidos para a conclusão do curso.

Orientadora: Valéria Cristina da Costa

Teófilo Otoni
2023
AGRADECIMENTOS

A princípio, gostaria de agradecer a Deus, pela vida, sabedoria e proteção por sempre me
conceder forças para seguir meus propósitos, mesmo quando as adversidades se fizeram
presentes.

À minha família, que é tão importantes para mim. Aos meus amigos, pela leveza da amizade,
em especial, a Ana Clara Sousa e Nathálya Alves, por terem sido tijolinhos na construção deste
projeto.

A minha orientadora, Professora Doutora Valéria Cristina da Costa, sempre muito solícita e
disposta a ajudar. A toda sua leveza e tranquilidade nesta trajetória, que me trouxe uma enorme
evolução pessoal, acadêmica e profissional, que carregarei para toda vida.

Por fim, agradeço aos demais membros do Grupo de Teatro Universitário Arte (com)Ciência,
pelas contribuições dadas durante a produção deste artigo; à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura
(PROEXC) da UFVJM e ao Instituto de Ciência, Engenharia e Tecnologia do Campus do
Mucuri, pelo apoio financeiro, estrutural e logístico dado ao Projeto “Arte (com) Ciência: o
teatro como possibilidade de formação de público e de discussão/divulgação de conhecimentos
científicos”.
RESUMO

Os agrotóxicos são compostos químicos usados para controlar as doenças provocadas por
insetos, larvas, fungos, carrapatos e de regular o crescimento da vegetação. São empregados em
larga escala no Brasil, causando impactos negativos diversos. Neste trabalho de conclusão de
curso, será retratada a escrita e importância de uma dramaturgia referente ao tema impactos do
uso de agrotóxicos, em especial, ao ambiente e à saúde humana. O texto foi produzido a partir
da definição da premissa, que é o ponto de partida para a construção da dramaturgia; seguida
pela caracterização dos personagens, atribuindo-lhes características físicas e psicológicas; pela
redação do plot, que consiste na síntese da história em uma frase contendo personagem, desejo
e conflito; pela elaboração do storyline, que é basicamente um resumo da história possuindo
aproximadamente cinco linhas, seguida pela escrita da versão final. A dramaturgia se refere a
uma abelha, que tem a sua colmeia contaminada por agrotóxicos e, em um momento de
desespero, encontra um menino, brincando com seu peixe, e desabafa com eles sobre isso. A
partir deste encontro, o menino conversa com o seu pai para tentar ajudar a abelha. Seu pai
começa a controlar as pragas de maneira agroecológica, passando a contribuir, assim, para a
construção de um ambiente melhor para todos os seres vivos. Por fim, entende-se que o texto
criado é um bom ponto de partida para se promover um rico debate com o público sobre o tema
estudado.

Palavras chave: Agrotóxicos. Teatro científico. Divulgação científica.


ABSTRACT

Pesticides are chemical compounds used to control diseases caused by insects, larvae, fungi,
ticks and regular vegetation growth. They are large-scale employees in Brazil, causing diverse
negative impacts. In this course conclusion work, writing and the importance of a dramaturgy
related to the theme impacts of the use of pesticides, in particular, on the environment and
human health, will be portrayed. The text was produced from the definition of the premise,
which is the starting point for the construction of the dramaturgy; then by the characterization
of the characters, attributing them physical and psychological characteristics; by writing the
plot, which consists of the synthesis of the story in a sentence containing character, desire and
conflict; by elaborating the plot, which is basically a summary of the story having
approximately five lines, followed by writing the final version. The dramaturgy refers to a bee,
whose hive is contaminated by pesticides and, in a moment of desperation, finds a boy playing
with his fish and tells them about it. From this encounter, the boy talks with his father to try to
help the bee. His father begins to control pests in an agroecological way, thus starting to
contribute to building a better environment for all living beings. Finally, it is understood that
the text created is a good starting point to promote a rich debate with the public on the subject
studied.

Keywords: Pesticides. Scientific theater. Scientific divulgation.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 6
2 METODOLOGIA .............................................................................................................. 8
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 10
3.1 Premissa ........................................................................................................................... 10
3.2 Plot .................................................................................................................................. 10
3.3 Storyline .......................................................................................................................... 10
3.4 Caracterização dos personagens ...................................................................................... 10
3.5 Texto dramatúrgico ......................................................................................................... 12
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 25
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 26
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1 INTRODUÇÃO

A humanidade pratica a agricultura a doze mil anos. Por outro lado, a agricultura
agroquímica sintética moderna, baseada em agrotóxicos, fertilizantes, etc, tem menos de cem
anos no planeta, logo, esses insumos químicos empregados atualmente possuem pouquíssimo
tempo de uso, quando se considera todo o período de existência da agricultura.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer, os agrotóxicos podem ser definidos como
“produtos químicos sintéticos usados para matar insetos, larvas, fungos, carrapatos, sob a
justificativa de controlar as doenças provocadas por esses vetores e de regular o crescimento da
vegetação, tanto no ambiente rural quanto urbano” (INCA, s.d., s.p.).
No Brasil, os agrotóxicos são regulamentados pela chamada Lei de Agrotóxicos, Lei Nº
7.802/1989 (BRASIL, 1989), alterada pela Lei Nº 9.974/2000 (BRASIL, 2000), que aborda a
temática de forma ampla, como se pode observar em sua ementa:

Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e


rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a
propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o
destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o
controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes
e afins, e dá outras providências (BRASIL, 1989).

Pelaez et al. (2015), considerando dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos


para Defesa Vegetal (SINDIVEG) e do Banco de Dados Comerciais da ONU (COMTRADE)
referentes a 2014, destacaram que,

a partir dos anos 2000, o Brasil tem apresentado a maior taxa de


crescimento das importações mundiais de agrotóxicos, transformando-
se no segundo maior mercado nacional, com vendas da ordem de US$
11,5 bilhões em 2013 (SINDIVEG, 2014), e no maior importador
mundial, com um valor de US$ 3 bilhões nesse mesmo ano
(COMTRADE, 2014) (PELAEZ et al., 2015, p. 155).

O uso de agrotóxicos causa diversos impactos, dentre os quais podem ser destacadas a
contaminação do ar, das águas, dos alimentos, das águas, dos solos, etc (MILLER JR., 2016),
colaborando para a disseminação de uma série de doenças crônicas modernas. Segundo dados
da Organização Mundial da Saúde, compilados no Dossiê da Abrasco, as principais doenças
relacionadas à intoxicação por agrotóxicos são: arritmias cardíacas, lesões renais, câncer,
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alergias respiratórias, doença de Parkinson, fibrose pulmonar, entre outras (CARNEIRO et al.,
2015).
Mediante o exposto, é de fundamental importância promover debates acerca do uso de
agrotóxicos e seus impactos. Para tal, foi produzido um texto dramatúrgico que será apresentado
neste trabalho de conclusão de curso. O potencial da proposta contida no texto pode ser bastante
significativa, ao levar em consideração que o teatro tem se mostrado uma ferramenta muito
importante para promover reflexões sobre diversos assuntos. Segundo Boal (2015), “o teatro é
uma forma de conhecimento e deve ser também um meio de transformar a sociedade.”
O teatro científico, ou teatro de temática científica, caracterizado por abordar temas da
ciência em uma perspectiva pedagógica, vem sendo bastante usado por diversos coletivos no
Brasil na divulgação científica, como relatado por Moreira e Marandino (2015) e, inclusive, o
Núcleo Arte e Ciência no Palco é um dos coletivos mencionados por esses autores. Conforme
as palavras do ator Carlos Palma, integrante desse grupo, “o que o teatro faz é pensar a nossa
existência, a nossa vida; se a ciência faz parte da nossa vida, então ela tem que estar no teatro”
(PALMA, 2005 apud MASSARANI; ALMEIDA, 2006).
Por meio do uso do teatro científico, o público é lembrado “de suas próprias
responsabilidades diante dos rumos que o conhecimento científico pode gerar em nossa
civilização” (THÜRLER, 2011). Ademais, Moreira e Marandino (2015) fazem uma importante
reflexão sobre o benefício do uso desse tipo de teatro, a saber:

A proficuidade dessa prática [teatro de temática científica] reside na


possibilidade de se conhecerem ciência e tecnologia para além dos seus
conceitos, experimentos ou produtos, focalizando uma abordagem mais
humanista. Assim, cientistas podem ser desnudados em seres humanos,
com suas emoções e conflitos, e os experimentos poderiam ser
contextualizados, conhecendo-se os interferentes sociais que
influenciaram nas grandes descobertas científicas. Nessa mesma
perspectiva, pode se problematizar o papel do cientista na sociedade, e
sua imagem, bem como questões a respeito do sentido da vida e do
mundo, e os dilemas éticos, políticos, religiosos e históricos
relacionados à ciência e à tecnologia.

Sendo assim, o objetivo deste artigo é retratar a escrita, bem como a importância, de um
texto dramatúrgico referente ao tema impactos do uso dos agrotóxicos, em especial, ao
ambiente e à saúde humana.
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2 METODOLOGIA

A princípio, foram realizadas pesquisas bibliográficas, leitura de livros, artigos,


discussões e textos que serviram de base para a produção desse trabalho de conclusão de curso.
Para a busca de textos científicos, foram consultadas as bibliotecas virtuais Scientific Electronic
Library Online (SciELO) e Google Acadêmico. Não foi feito um recorte temporal, mas
priorizou-se a leitura de bibliografias mais recentes. Nas buscas, foram utilizadas as seguintes
palavras chaves: “agricultura baseada na revolução verde”, “agrotóxicos”, “impactos
ambientais dos agrotóxicos”, “impactos à saúde humana pelo uso de agrotóxicos ”, “alternativas
ao uso de agrotóxicos” e “teatro científico”.
O texto dramatúrgico foi construído para o público infantojuvenil, de uma forma que as
informações pudessem ser compreendidas por todas as pessoas. Para a elaboração do texto,
foram utilizadas técnicas do Storytelling, termo que significa a capacidade de construir histórias
relevantes, descritas por Andrighetti e Freitas (2017). Inicialmente, foi definida a premissa da
história. Uma premissa é a ideia inicial, o ponto de partida para se construir o Storytelling. A
etapa seguinte consistiu na caracterização dos personagens, conferindo a eles atributos físicos
e psicológicos, e elaboração do plot, que é a síntese da história em uma frase. Para tal, foi
considerado o seguinte esquema: Personagem + Desejo + Conflito. A partir do plot, a premissa
começou a ser desenvolvida e avançou-se também para a redação do storyline, que é
basicamente um resumo da história contendo aproximadamente cinco linhas. Ele também pode
ter três linhas, cada uma representando um ato. No storyline, estarão os conflitos principais da
trama e como serão resolvidos (ANDRIGHETTI, 2017). Por fim, após o storyline é
desenvolvido o texto final, que será apresentado na próxima seção.
Para a elaboração deste texto dramatúrgico, contou-se com a colaboração do Grupo de
Teatro Universitário Arte (com)Ciência, criado em 2013. De acordo com Costa (2022), o
objetivo deste grupo é promover possibilidades de ensino-aprendizagem e de formação de
público por meio de espetáculos, performances e intervenções teatrais relacionados à
discussão/divulgação de conhecimentos científicos e às questões social e ambiental. O Arte
(com)Ciência se reúne semanalmente, com dois encontros (um para escritas dramatúrgicas e
outro para ensaios e montagens de peças) que, somados, duram aproximadamente duas horas e
trinta minutos e em que estão presentes estudantes e professores da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Campus do Mucuri, bem como representantes do
Instituto In-Cena. Nos encontros de escritas dramatúrgicas, foi possível socializar os
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conhecimentos obtidos a partir das pesquisas bibliográficas realizadas e o processo de


construção do texto dramatúrgico apresentado neste trabalho de conclusão de curso.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como mencionado na seção anterior, foi produzido um texto dramatúrgico, no intuito


de que esse texto possa ser utilizado para socializar, com o público infanto-juvenil,
conhecimentos sobre o tema impactos do uso dos agrotóxicos no ambiente e na saúde humana.
Na escrita deste texto, foram utilizadas técnicas do Storytelling. As etapas de construção deste
texto serão apresentadas a seguir:

3.1 Premissa
Pretende-se mostrar como a desinformação contribui para a má utilização dos agrotóxicos e
como isso afeta diversos pontos importantes, trazendo uma situação específica das abelhas.

3.2 Plot
Uma abelha tem a sua colmeia contaminada por agrotóxicos e, em um momento de desespero,
encontra um menino brincando com seu peixe e desabafa com eles sobre isso.

3.3 Storyline
A abelha Vick vagava preocupada quando encontrou o menino Tomás, com seu peixe Bento.
Decidiu desabafar sobre problemas que estavam acontecendo na sua família, por causa dos
agrotóxicos usados pelo pai de Tomás nas plantações. Ao longo da conversa, se torna nítido
que a falta de informações sobre o tema acaba prejudicando a saúde das pessoas, animais e meio
ambiente. Tomás conversa com o seu pai para tentar ajudar Vick. Seu pai começa a controlar
as pragas de maneira agroecológica, passando a contribuir, assim, para a construção de um
mundo melhor.

3.4 Caracterização dos personagens


O texto possui três personagens que participam ativamente da história, são eles um menino de
12 anos chamado Tomás, uma abelha cujo nome é Vick, e um peixe com o nome Bento, além
disso ele conta com um personagem que é citado e tem um papel importante no final da história,
que é o pai do menino Tomás. Essa história tem como intuito levar aos espectadores
informações importantes sobre os agrotóxicos e mostrar como esse produto impacta de forma
negativa na saúde de várias pessoas, animais, plantas e, também prejudica gravemente o meio
ambiente. A partir desse texto pretende-se que as pessoas reflitam sobre os métodos de
agricultura utilizados atualmente e que novas maneiras sejam aplicadas para que haja uma
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substituição por uma produção justa e sustentável. Optou-se por fazer a humanização dos
personagens, abelha e peixe, visto que são ótimos exemplos de seres muito prejudicados pela
utilização dos agrotóxicos na agricultura, para que esses animais pudessem dar os seus relatos
pessoais e explicar como esse produto afeta diretamente em suas vidas.

Tomás é um menino de 12 anos filho de um agricultor que está acostumado a uma vida na
fazenda onde mora com sua família, ele costuma acompanhar o pai e ajudá-lo nos cuidados
com as plantações existentes na propriedade. Por ser uma criança, ele não tem muito
conhecimento sobre os agrotóxicos e o mal que essa substância causa para os seres vivos e o
meio ambiente.

A abelha é um inseto muito prejudicado pelos agrotóxicos, visto que ela faz a polinização, um
processo muito importante, que é quando ela pega o gameta de uma planta e leva até outras
para que haja a reprodução da mesma. Se essa planta está contaminada pelos agrotóxicos, a
abelha acaba levando a substância para sua colmeia e transmitindo esse veneno para todas, o
que pode acarretar vários problemas como baixar a imunidade das outras abelhas ou até mesmo
causar a morte da abelha rainha.

Os animais aquáticos costumam ser prejudicados pelos agrotóxicos e um bom exemplo são os
peixes. O personagem Bento é um peixe de aquário que felizmente não possui o risco de ser
atingido por esse produto, porém ele conta a sua visão de como essa substância atinge outros
animais da sua espécie e outros animais aquáticos. No caso dos peixes, é algo que acaba
afetando não só a saúde desses animais, mas também pode ser passada através da cadeia
alimentar, até mesmo para os humanos.

O pai de Tomás é um personagem que não participa ativamente da história, porém ele tem um
papel de grande importância, que é a responsabilidade de tornar a mudança real. Ele é o único
que pode tomar uma atitude, que no caso seria a substituição do uso de agrotóxicos pela
utilização de métodos sustentáveis, como por exemplo a agroecologia.
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3.5 Texto dramatúrgico


Título: O desabafo da abelha Vick (Figura 1)

Figura 1. O desabafo da abelha Vick

Fonte: Ana Clara Sousa de Almeida, 2022.

Narrador: Um belo dia, em uma fazenda localizada na zona rural de Teófilo Otoni, no interior
de Minas Gerais, uma criança chamada Tomás, de 12 anos, filho de um agricultor, brincava, na
sala de casa, com o seu peixe, que vive em um aquário. Seu peixe se chama Bento e o Tomás
passa muito tempo com ele. Neste dia, vagava por lá uma abelha chamada Vick, que mora na
região da fazenda. Ela estava desesperada e muito triste, pois várias abelhas da sua colmeia
morreram e sua família estava doente. Sem saber como ajudá-los, ela procurava uma solução.
O motivo de tamanha devastação foi o uso de agrotóxicos na plantação do pai de Tomás. Ao
avistar Tomás, com o seu peixe Bento, a abelha Vick se aproxima para conversar um pouco.

Abelha Vick: Bom dia, rapazes, como vocês estão?

Narrador: Prontamente Tomás responde.

Tomás: Estamos bem e você, como está?


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Narrador: Então a abelha Vick desabafa.

Abelha Vick: Estou muito triste, minha família está doente e várias abelhas da minha colmeia
morreram por causa dos agrotóxicos utilizados na plantação dessa fazenda. Isso é um veneno e
está prejudicando a saúde de muitos por aqui. Não sei o que posso fazer para ajudá-los.

Narrador: Na mesma hora, Tomás em choque e retruca.

Tomás: Como assim? Tenho certeza que existe outro motivo para que isso tenha acontecido.
Meu pai não prejudicaria ninguém. Os agrotóxicos são usados apenas para matar as pragas que
infestam as plantações da nossa fazenda. São aplicados diretamente na plantação, portanto não
tem como chegar até as abelhas.

Abelha Vick: É aí que você se engana! Nós, abelhas, fazemos a polinização do néctar e do
pólen, ou seja, pegamos os gametas que estão nas flores e os levamos de uma planta para outra,
para que haja a reprodução. Portanto, temos contato direto com as plantas.

Tomás: E a polinização serve para quê?

Abelha Vick: A polinização é importante para a agricultura, para os ecossistemas e para a


sobrevivência de animais e vegetais. Para você ter noção, se houvesse a extinção das abelhas,
não haveria alimentos suficientes para todos os seres vivos.

Tomás: E são só os agrotóxicos que estão prejudicando as abelhas?

Abelha Vick: Não, os métodos de agricultura abusiva, a poluição e as alterações climáticas


também contribuem para a morte das abelhas. Entretanto, a ameaça mais preocupante são os
agrotóxicos pois, quando transportamos o néctar contaminado, provocamos o envenenamento
da colmeia e isso deixa o sistema imunitário de todas muito fraco, além de contribuir para morte
da abelha rainha.

Tomás: E os agrotóxicos prejudicam somente as abelhas?


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Narrador: Nesse momento, o peixe Bento, que estava quieto escutando a conversa do Tomás
com a abelha Vick, interrompe e resolve desabafar sobre o assunto também.

Peixe Bento: Infelizmente, todos os seres são prejudicados. Até mesmo nós, peixes, além das
plantas e outros animais aquáticos.

Tomás: E como os agrotóxicos conseguem chegar nas águas?

Peixe Bento: Acontece a contaminação por lançamento intencional ou acidental, por exemplo,
os agrotóxicos podem ser carregados por escoamento superficial vindo de locais como essa
fazenda, que utilizam o produto frequentemente.

Tomás: E o que acontece com os peixes que entram em contato com esses agrotóxicos?

Peixe Bento: Bom, isso depende do tipo de substância e do local atingido, mas pode ocorrer a
morte de várias espécies aquáticas. Além disso, os peixes que sobrevivem podem ser pescados
e ingeridos por seres humanos, contaminando-os.

Tomás: Espera aí! Vamos ver se eu entendi. Além dos agrotóxicos contaminarem diversas
plantas e animais por contato direto, também é possível haver contaminação pela cadeia
alimentar?

Abelha Vick: Isso mesmo.

Tomás: E em nós, seres humanos, esses agrotóxicos também causam algum efeito?

Peixe Bento: Sim. Podem causar várias doenças respiratórias, neurológicas, cânceres e até
mesmo a morte. Isso sem contar os vários outros sintomas. Alguns aparecem assim que se tem
contato com os agrotóxicos, outros só surgem após várias exposições repetidas a pequenas
quantidades.

Tomás: A contaminação nos seres humanos é pelos alimentos?


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Peixe Bento: Sim, mas também pela água contaminada, dispersão da substância no ambiente
que atinge áreas onde está a população ou, até mesmo, pelo contato dos trabalhadores rurais
com suas roupas contaminadas durante o processo de aplicação dos agrotóxicos.

Abelha Vick: Para o seu pai, que é agricultor e se expõe diariamente a esse produto, é ainda
mais perigoso. Ele pode se contaminar através da inalação, contato físico ou oral, na aplicação
ou no preparo. Muitos trabalhadores rurais não sabem, mas devem receber um treinamento ou
apoio técnico para mexer com esse tipo de substância.

Tomás: De vez em quando, eu o ajudo também.

Abelha Vick: Pois você, sua família, e quem mais ajudá-lo, podem se contaminar. Espero que
se cuidem e utilizem, pelo menos, proteção, como botas, luvas e máscaras respiratórias.

Peixe Bento: Como o seu pai escolhe os agrotóxicos que ele utiliza?

Tomás: Às vezes, ele compra o que a moça do balcão indica e, de vez em quando, alguns
vendedores autônomos vem aqui em casa vender esses produtos.

Peixe Bento: O correto seria utilizar agrotóxicos com prescrição agronômica. É muito
importante se informar sobre esses produtos. Existem pessoas que, assim como você, não sabem
muito sobre eles e acabam se prejudicando. Ouvi falar coisas absurdas como, por exemplo,
pessoas armazenando água para beber em frascos de agrotóxicos.

Abelha Vick: Nossa, que perigo! Posso imaginar como está a saúde dessas pessoas.

Peixe Bento: E não são só os agricultores que mantém contato diariamente com agrotóxicos.
Trabalhadores de empresas dedetizadoras, de transporte e comércio dos agrotóxicos e de
indústrias que os produzem também estão expostos à contaminação.

Abelha Vick: É verdade! Além disso, os agrotóxicos podem ser utilizados tanto nas atividades
agrícolas (na limpeza do terreno e preparação do solo, no acompanhamento da lavoura, no
depósito dos produtos, nas pastagens e nas florestas plantadas), quanto também são utilizados
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nas atividades não agrícolas, como em florestas nativas ou outros ecossistemas, por exemplo,
lagos e açudes.

Narrador: Nesse momento, Tomás, que estava sentado escutando todas aquelas novas
informações, se levantou e foi até o seu quarto, pegou o seu notebook e retornou para sala. Após
ligá-lo, ele iniciou a sua própria pesquisa sobre este assunto.

Tomás: Agora que vocês estão me contando sobre isso, eu me interessei em entender essa
situação direito. Vou pesquisar um pouco mais aqui na internet.

Narrador: Logo no começo da sua pesquisa ele se deparou com informações que o deixaram
intrigado.

Tomás: Poxa, escutem isso: “os agrotóxicos causam 70 mil intoxicações agudas e crônicas por
ano e que evoluem para óbito, em países em desenvolvimento”. Aqui também se fala que o
Brasil é o maior consumidor desse produto desde 2008 e isso ocorre por causa do agronegócio
e do setor econômico.

Peixe Bento: Isso faz muito sentido mesmo, se consideramos que o uso dos agrotóxicos
aumenta a produtividade das lavouras e preserva as espécies cultivadas, o que leva a uma
eficiência econômica. Daí o interesse no uso destes compostos, principalmente no Brasil, que
possui uma grande parte da economia baseada na produção agrícola.

Tomás: Um estudo mostra que, sem utilizar os agrotóxicos, a safra poderia ter uma perda de
100 milhões de toneladas. Isso levaria os produtores a terem que investir cerca de 33 bilhões
para obter a mesma produtividade e o custo interno do grão aumentaria 22,9%.

Abelha Vick: Dessas informações, já podemos perceber a importância da utilização dos


agrotóxicos para o setor econômico, porém isso entra em conflito com a justiça socioambiental.
Por exemplo, o solo, que retém grande parte dos contaminantes, com o tempo, vai perdendo
sua fertilidade, diminuindo sua biodiversidade e se tornando mais ácido. Sem falar do ar, em
que os agrotóxicos podem ficar em suspensão, causando a intoxicação das pessoas e de outros
organismos vivos que respiram o ar contaminado. Além disso, ainda tem a água, que
frequentemente é contaminada por esses produtos.
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Peixe Bento: E quem é responsável por fiscalizar esses produtos aqui no Brasil?

Narrador: Rapidamente Tomás, curioso, pesquisa e responde para o peixe Bento.

Tomás: Aqui diz que são realizadas inúmeras pesquisas e testes, que são apresentados para
registro de órgãos como o Ministério da Agricultura, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Todo o
processo demora aproximadamente 18 anos e só após serem registrados os produtos podem
estar disponíveis no mercado.

Abelha Vick: E o que exatamente esses órgãos fazem?

Tomás: Eles são responsáveis por atestar, não apenas a eficiência do produto para a lavoura,
mas a segurança para o meio ambiente e a saúde do ser humano. Por isso, é importante a
utilização acontecer conforme as recomendações que estão na bula, feitas especificamente para
cada tipo de produto. Além disso, a Anvisa, por exemplo, é responsável pelo monitoramento
dos resíduos de agrotóxicos nos alimentos.

Abelha Vick: Não é surpresa para ninguém que, infelizmente, alguns dos principais alimentos
da cesta brasileira apresentam irregularidades quanto ao uso de agrotóxicos. Além de alimentos
com teores dos produtos acima do limite máximo permitido, ainda existem os que contêm
substâncias não autorizadas para o tipo de alimento ou até mesmo proibidos no país. Ao meu
ver, o uso de agrotóxicos deveria ser substituído por um método mais sustentável. Vocês já
ouviram falar sobre a agroecologia?

Tomás: Não, o que é isso?

Abelha Vick: A agroecologia alia técnicas e saberes tradicionais a princípios ecológicos,


promovendo uma agricultura sustentável, em que saúde e vida digna são valorizadas. Creio que
a utilização da agroecologia trará benefícios imensuráveis para todos.

Peixe Bento: A mudança deve iniciar de algum lugar, mesmo sendo algo difícil de acontecer
da noite para o dia, é necessário que as atitudes comecem o quanto antes e, no futuro, as
recompensas vão aparecer.
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Abelha Vick: Sim, as mudanças devem começar o quanto antes! A minha colmeia já está
sofrendo as consequências decorrentes da utilização dos agrotóxicos e, no nosso caso, para que
isso acabe, só uma pessoa poderia tomar a atitude que vai resolver esse problema: o pai do
Tomás.

Tomás: Sinto muito que isso tudo esteja acontecendo. Eu não fazia ideia de nada disso. A falta
de informação é uma realidade que pode ser mudada. Ainda bem que conversamos e agora
compreendo um pouco mais. Vou conversar com o meu pai sobre isso e, pelo que conheço dele,
com certeza vai ajudar a mudar essa situação. Sei que existem muitas pessoas que não mudam,
mas meu pai não é assim. Espero que fique tudo bem com a sua família, Vick.

Narrador: Eles se despediram e Tomás foi conversar com seu pai que, em pouco tempo, mudou
sua maneira de agir e levou a agroecologia para dentro da sua fazenda, utilizando as técnicas
dessa forma de produção de alimentos em suas plantações. A família da abelha Vick se
recuperou e teve sua qualidade de vida aumentada significativamente. A mudança que ocorreu
nesta fazenda deve acontecer em todo o mundo, para que exista um futuro melhor para todos
os seres vivos e para o ambiente.

Fim da história.

A partir do texto produzido, se pretende chamar a atenção para os impactos que os


agrotóxicos podem causar ao ambiente e às pessoas e o que é possível fazer para evitar esse
processo. A principal mensagem, no entanto, que se quer deixar a partir do texto dramatúrgico
é a de que, considerando os malefícios causados pelos agrotóxicos, a melhor maneira de
colaborar significativamente com os seres vivos e com o meio ambiente é substituir esses
produtos por outras práticas que sejam mais sustentáveis. Uma boa opção de mudança é a
agroecologia, citada no texto, que pode ser debatida com o público para o qual este texto for
lido ou representado. Segundo a ONU, a agroecologia é mais justa socialmente, ela permite que
pequenos agricultores produzam alimentos de forma mais barata, além de ser ambientalmente
mais saudável (CÂMARA, 2012).
A agroecologia, entendida como “ciência, movimento político e prática social,
portadora de um enfoque científico, teórico, prático e metodológico que articula diferentes áreas
do conhecimento de forma transdisciplinar e sistêmica” (ABA, s.d.), tem o foco na agricultura
sustentável e é debatida de forma bastante rica por Altieri (2009), Gomes et al. (2013), Caporal
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et al. (2004). Importante abordagem sobre o assunto também é feita no documentário


“Guardiões da Terra - Agroecologia em Evolução” (GUARDIÕES, 2020), disponível na
plataforma YouTube, que retrata a evolução do movimento agroecológico no Brasil.
Nas pesquisas realizadas para a execução deste trabalho de conclusão de curso, uma
importante referência bibliográfica estudada foi o livro Primavera Silenciosa, da bióloga
marinha, escritora, cientista e ecologista Rachel Carson de Rachel, publicado em 1962. A obra
pioneira detalhou os efeitos adversos dos pesticidas e inseticidas químicos sintéticos,
retratando, em especial, o uso indiscriminado do DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) nos
Estados Unidos, destacando as principais consequências, em grande parte maléficos, do uso
deste produto ao meio ambiente e ao ser humano. O título do livro faz referência à mortandade
de pássaros em função de se alimentarem desses químicos. Segundo ela,

pela primeira vez na história do mundo cada um dos seres humanos está
agora sujeito a entrar em contato com substâncias químicas perigosas,
desde o momento em que é concebido até o instante que sua morte
ocorre. Em menos de dois decênios de usos pesticidas sintéticos foram
tão intensamente distribuídos pelo mundo – seja pelo mundo animado
seja pelo mundo inanimado – que eles aparecem virtualmente por toda
a parte. Tais pesticidas foram encontrados e retirados da maior parte
dos grandes sistemas pluviais, e até mesmo de cursos d’água que fluem
sem ser vistos por nós, através da terra, por via subterrânea. Os resíduos
das referidas substâncias químicas permanecem no solo ao qual tenham
sido aplicadas uma dúzia de anos antes. Elas entraram e alojaram-se no
corpo dos peixes, dos pássaros, répteis, animais domésticos e dos 14
animais selvagens; e o fizeram tão universalmente que os cientistas que
efetuam experiências em animais verificaram que se torna quase
impossível localizar exemplares que sejam de todos livres de
semelhante contaminação. Estas substâncias foram encontradas até em
peixes de remotos lagos existentes em topos de montanhas - em
minhocas que perfuram o solo nos ovos dos pássaros, e no próprio
homem. E isso porque as mencionadas substâncias químicas estão
agora armazenadas no corpo da vasta maioria de seres humanos,
independentemente de sua idade, elas aparecem no leite das mães, e
20

com toda a probabilidade nos tecidos dos bebês ainda não nascidos
(CARSON, 1962, p. 25-26).

A contribuição deste livro se deu em relação à necessidade da sociedade se preocupar


com problemas de conservação de recursos naturais, o que já era objeto de muitos outros
trabalhos no século XIX, que inspiraram políticas públicas conservacionistas adotadas pelos
Estados Unidos no início do século XX (MC CORMICK, 1992).
No Brasil, o uso dos agrotóxicos começou nas décadas de 60 e 70, com a chamada
revolução verde, que foi um processo de mudança na política agrícola no país, logo após a
segunda guerra mundial, com um falso discurso de modernização nos campos e um foco muito
grande na monocultura para exportação de matéria prima. O Brasil consome cerca de 20% de
todo o agrotóxico comercializado no mundo (PELAEZ et al., 2015). Além disso, em relação ao
uso de agrotóxicos por tipo de cultura, Pignati et al. (2017) constataram que, apenas no ano de
2015, o total de área plantada no Brasil foi de 71,2 milhões de hectares de lavoura, em que o
cultivo da soja correspondeu a 42%, seguido do milho (21%) e da cana-de-açúcar (13%), o que
correspondeu a um total de 82% da utilização de agrotóxicos no país.
Em 2019, o ministério da agricultura registrou 63 novos agrotóxicos, totalizando 325
números de pesticidas registrados no Brasil. Atualmente, no Brasil tem-se 504 ingredientes
ativos com registro autorizado, de uso permitido. Entretanto, destes, mais de uma centena são
proibidos na União Europeia, precisamente 149. Portanto, 30% de todos os ingredientes ativos
(agrotóxicos) utilizados no Brasil são proibidos na União Europeia (BOMBARDI, 2017).
Na escrita do texto dramatúrgico, os personagens foram escolhidos de forma a
possibilitar a criação de diálogos contendo informações sobre espécies e ambientes que são
altamente impactadas pelo uso de agrotóxicos, por isso foram escolhidos o menino, o peixe e a
abelha.
No que diz respeito ao ser humano, ele pode ser contaminado pelo contato direto com
agrotóxicos, ou por contato indireto como, por exemplo, pela ingestão de alimentos ou água
contaminados. Em março de 2015, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC)
publicou a Monografia da IARC volume 112, em que, após a avaliação da carcinogenicidade
de cinco ingredientes ativos de agrotóxicos por determinada equipe de pesquisadores de 11
países, com o Brasil incluso, classificou o herbicida glifosato e os inseticidas malationa e
diazinona como possíveis agentes carcinogênicos para humanos, e os inseticidas tetraclorvinfós
e parationa como prováveis agentes carcinogênicos para humanos. Segundo o INCA (Instituto
21

Nacional de Câncer), resíduos de agrotóxicos podem estar presentes em alimentos ultra


processados, como biscoitos, pães e pizzas (INCA, 2015).
A exposição dos seres humanos aos agrotóxicos é cotidiana. No contexto atual, é quase
impossível não estar, de alguma forma, em contato com estes produtos tóxicos. Em síntese, a
exposição aos agrotóxicos pode ocorrer, basicamente, por três formas: a contaminação
ocupacional (trabalhadores rurais e agricultores camponeses que lidam diariamente com tais
produtos), a contaminação alimentar (ingestão de alimentos contaminados com agrotóxicos,
aos quais estamos todos expostos) e a contaminação ambiental (“acidentes” na produção ou
aplicação de agrotóxicos (ROSA et al., 2011).
Conforme o perigo que causa ao ambiente, os agrotóxicos podem ser distribuídos em
quatro classes: produtos altamente perigosos ao meio ambiente (Classe I), como a maioria dos
organoclorados; produtos muito perigosos ao meio ambiente (Classe II), como o malation;
produtos perigosos ao meio ambiente (Classe III), como o carbaril e o glifosato; e produtos
pouco perigosos ao meio ambiente (Classe IV), como os procedentes de óleos minerais
(BRAIBANTE et al., 2012).
A classificação dos agrotóxicos utilizada para fins de registro e reavaliação pela Anvisa
é baseada no grau de toxicidade destas substâncias. A padronização da rotulagem dos
agrotóxicos orienta o agricultor de forma segura através da visualização dessas informações.
Essa classificação pode ser analisada na Tabela 1:
22

Tabela 1. Classificação dos agrotóxicos quanto à toxicidade

CATEGORIA 1 CATEGORIA 2 CATEGORIA 3 CATEGORIA 4 CATEGORIA 5 NÃO CLASSIFICADO

IMPROVÁVEL
EXTREMA- ALTAMENTE MODERADA-
POUCO TÓXICO CAUSAR DANO NÃO CLASSIFICADO
MENTE TÓXICO TÓXICO MENTE TÓXICO
AGUDO

PICTOGRAMA
SEM SÍMBOLO
SEM SÍMBOLO

PALAVRA DE SEM ADVERTÊNCIA


CUIDADO
ADVERTÊNCIA PERIGO PERIGO PERIGO PERIGO

CLASSE DE PERIGO

PODE SER
FATAL SE FATAL SE TÓXICO SE NOCIVO SE
ORAL PERIGOSO SE
INGERIDO INGERIDO INGERIDO INGERIDO
INGERIDO

PODE SER
FATAL EM FATAL EM TÓXICO EM NOCIVO EM
PERIGOSO EM
DÉRMICA CONTATO COM A CONTATO COM A CONTATO COM A CONTATO COM A
CONTATO COM A
PELE PELE PELE PELE
PELE

PODE SER
FATAL SE FATAL SE TÓXICO SE NOCIVO SE
INALATÓRIA PERIGOSO SE
INALADO INALADO INALADO INALADO
INALADO

COR DA FAIXA VERMELHO VERMELHO AMARELO AZUL AZUL VERDE

Fonte: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, 2019.


23

A presença do peixe no texto dramatúrgico visa chamar a atenção para o fato de que os
animais aquáticos também são frequentemente prejudicados pelos agrotóxicos que acabam
chegando até eles e os contaminando. Isso influencia em diversos aspectos na vida desses
animais, além de influenciar em outros seres pela cadeia alimentar, chegando até mesmo aos
humanos. Os agrotóxicos presentes em corpos d'água podem penetrar nos organismos aquáticos
através de diversas portas de entrada e seu grau de acumulação depende do tipo de cadeia
alimentar, da disponibilidade e persistência do contaminante na água e, especialmente de suas
características físicas e químicas (SPACIE et al., 1985). Os agrotóxicos se deslocam no
ecossistema aquático conforme mostrado na Figura 2.

Figura 2. Deslocamento dos agrotóxicos no ecossistema.

Fonte: Ana Clara Sousa de Almeida, 2022, adaptado de Silva et al. (2013).

Os índices de contaminação de águas por agrotóxicos no Brasil são bastante


desconhecidos. Ao se considerar dados sobre monitoramento de água para consumo humano
existentes no Sisagua, Neto (2010) constatou que, em 2008, da totalidade de sistemas de
abastecimento existentes no Brasil, somente 24% apresentavam informações sobre o controle
da qualidade da água para o parâmetro agrotóxicos. Segundo Silva et al. (2020), os órgãos
ambientais brasileiros têm pouco controle em relação ao baixo índice de monitoramento de
muitas substâncias na água destinada ao consumo humano, inclusive agrotóxicos.
24

Por fim, a presença da abelha no texto dramatúrgico visa chamar a atenção para o fato
de que, no Brasil, a intoxicação de colônias por agrotóxicos tem causado a elevada mortalidade
delas. O diagnóstico é de melgueira, ninhos e larvas normais, sem sinais visíveis de doenças e
pragas, abelhas adultas mortas, aparentemente subitamente, dentro e fora das caixas e abelhas
sobreviventes atordoadas e moribundas (KAHLOW et al., 2016).
A morte das abelhas, principais polinizadores no ecossistema, é preocupante pelo fato
de que elas prestam um serviço ecossistêmico considerado imensurável, porém essencial para
a manutenção da biodiversidade (BERINGER et al., 2019), além de aumentar a produção de
cultivos agrícolas (BLETTLER et al., 2018).
25

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após fazer a análise de vasta bibliografia, dialogar amplamente com integrantes do Arte
(com)Ciência e redigir o texto dramatúrgico, ficou muito evidente a necessidade de se buscar o
desenvolvimento de uma agricultura sustentável de base agroecológica e de abandonar a forma
de agricultura atual, compreendendo que os benefícios que essa atitude traria são imensuráveis
para a sociedade e para o futuro.
Ademais, ressalta-se que a metodologia utilizada na construção da obra dramatúrgica se
mostrou bastante adequada, em que cada etapa foi muito importante para o avanço da produção
do texto pretendido.
Considerando-se o texto dramatúrgico produzido, entende-se que ele, se apresentado de
forma teatral ou como contação de história, feitas, nesse caso, as devidas adaptações para tal, é
um bom ponto de partida para se promover um rico debate com o público infantojuvenil sobre
o tema impactos do uso dos agrotóxicos, em especial, ao ambiente e à saúde humana.
Por fim, vale destacar que a montagem dessa dramaturgia é algo que pode motivar muito
os estudantes do Ensino Fundamental e contribuir para que mais pesquisas, mediadas pelos
próprios professores, sejam feitas por eles, no sentido de compreenderem melhor a temática,
por isso incentiva-se o uso do texto produzido como ferramenta educacional pelos professores
que tiverem interesse em tal uso.
26

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