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E o BTS chegou na escola Marília de Dirceu!

Mateus Nascimento1

21 de novembro de 2019. Na tarde desse dia, os estudantes da escola pública municipal


Marília de Dirceu (Ipanema-RJ) inauguraram a Exposição Fotográfica “100 anos do
Movimento Primeiro de Março”, cujas imagens retratam o processo de luta política pelo
estabelecimento do governo provisório da República da Coreia em 1919. Algo lindo de
se ver: estudantes do ensino fundamental mostrando, ao som de k-pop, a importância da
cultura asiática na construção de seus futuros e a defesa da educação pública!

O que a história diz sobre o tema da exposição?

O início do movimento se dá com a promulgação da Declaração (proclamação) da


Independência e sua leitura pública – tradicionalmente, se acredita que a leitura foi feita
no Pagoda Park (que fica na capital Seul) em 1 de março de 1919. Depois disso, as ruas
foram tomadas e o lema “Viva a independência da Coreia!” aos poucos fortaleceu várias
manifestações pela independência pelo país. Com a visão política em transformação e a
cultura coreana brigando pelo seu espaço no meio da dominação japonesa, vemos o
processo transformador. Até as mulheres também encontraram novas oportunidades
após o movimento para expressar suas opiniões pela primeira vez na Coreia. A data é
importantíssima e é um feriado nacional na Coreia do Sul.

Voltando a escola...

Sob a liderança do professor David Leal, professor de história da rede pública do RJ


lotado nesta escola, articulista e diretor artístico do Instituto Cultural Brasil-Japão
(ICBJ-RJ), as belas e os belos estudantes do ensino fundamental da Escola Municipal
Marília de Dirceu organizaram a recepção e a curadoria da exposição fotográfica
intitulada “100 anos do Movimento Primeiro de Março e do estabelecimento do governo
provisório da República da Coreia”.

Aproximadamente 35 fotos em cavaletes de madeira espalhados pelo pátio da escola


formavam um interessante circuito que contava essa história visualmente. O prof. David
1
Mestrando em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal
Fluminense (UFF); professor de história e pesquisador do CEA – Centro de Estudos Asiáticos – da UFF e
do MidiÁsia, Grupo de Pesquisa de Comunicação e Cultura Contemporânea da Ásia. E-mail para contato:
mateus_nascimento@id.uff.br.
e sua turma tiveram apoio, primeiramente, da escola que sedia, cuja diretora é a profa.
Cláudia Maria Libório, uma visível combatente pela educação, ao permitir tal iniciativa;
do Consulado Geral da República da Coreia em São Paulo (o RJ ainda não tem um
consulado, ficando sob a jurisdição paulista), representado pelo comissário Kim Yong-
min, que foi a instituição que cedeu as imagens e os cavaletes; do Conselho Nacional da
Unificação -Divisão Brasil, na pessoa do sr. Sung Ju Na; da Confederação Brasileira de
Taekwondo, representada pelo seu coordenador de artes Marciais, o reconhecidíssimo
mestre Kim Yong Min; contou também com apoio do MidiÁsia – Grupo de Pesquisa
em Mídia e Cultura Asiática Contemporânea – da UFF, representado pelo pesquisador
Mateus Nascimento. Cada um dos apoiadores dispôs de alguns minutos para falar em
prol da exposição.

Destaco as falas do senhor Sung Ju Na e do mestre Kim, os quais defenderam o papel da


escola pública na formação das próximas lideranças do país, e elogiaram o ineditismo
da atitude desses estudantes, pois estariam com olhos voltados no futuro, que vem (e já
chegou!) sob liderança da Ásia. O mestre Kim também se comprometeu em oferecer
aulas de taekwondo para todas e todos os interessados, destacando que é pela educação
e pela percepção do cenário político contemporâneo (“com os olhos na Ásia, rumo ao
futuro”, disse) que os estudantes poderão transformar a realidade carioca.

Como se não bastasse toda o trabalho envolvido em sediar uma exposição, algumas
estudantes abrilhantaram a exposição com apresentações de k-pop ao som de BTS e
outras bandas conhecidas. Natália Souza Lopes Reis, Iasmin Rodrigues Melo e Sabrina
Victoria Alves Rodrigues Gomes dançaram lindamente e trouxeram um discurso contra
a prática dos haters, ao final da primeira apresentação.

Nas suas palavras, o caso da cantora Sulli, atriz e cantora do grupo F(X), encontrada
morta em outubro de 2019, deveria nos ensinar uma lição de quão mal o desrespeito e a
prática do ódio gratuito – o cerne do conceito de hater – podem fazer2. Segundo a aluna,
é trágico que em pleno séc. XXI, com tantas diferenças e diversidades na humanidade,
pessoas sejam mortas ou atacadas psicologicamente por serem ou terem gostos
diferentes. A estudante encerrou chamando a atenção para o fato de que gostar de
2
A cantora foi massivamente criticada após a exposição não proposital de seus seios ter viralizado na
internet. Imediatamente depois, foi punida administrativamente e afastada de alguns de seus trabalhos.
O quadro deu origem a uma reclusão da cantora que tempos depois foi encontrada morta em sua
residência. Muitos culpam o dano psicológico causada pela enxurrada de mensagens com ofensas e
críticas severas de membros da comunidade de fã do k-pop, no contexto das rixas entre fãs de grupos A
e B.
cultura asiática tem sido ainda tema do bullying e provocou os seus colegas – e a nós,
“os adultos” – a uma reflexão e a uma ação contínua, contra os preconceitos. Belíssimo.

A exposição estará também na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, no palácio Pedro


Ernesto, Praça Floriano (próximo ao Teatro Municipal do RJ) no centro da cidade entre
os dias 26 e 29 de novembro. Na ocasião da abertura, contamos com as presenças
confirmadas dos mesmos apoiadores e a presença do cônsul geral da República da
Coreia em SP, Hak You Kim para solenidade de abertura.

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