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PROPOSTA METODOLÓGICA E
ESTUDO DE CASO
A troca rápida de ferramentas (TRF) tem por objetivo reduzir o tempo de preparação (ou setup) de
equipamentos, minimizando períodos não-produtivos no chão-de-fábrica. Como conseqüência, é possível
a redução do tamanho dos lotes de produção na manufatura. A TRF fundamenta-se em técnicas que
enfatizam o trabalho cooperativo em equipe e a proposição de formas criativas de melhoria de processos.
Este artigo apresenta uma proposta metodológica para a TRF, constituída dos seguintes passos: definição
do projeto, planejamento das atividades, treinamento da equipe de implantação, implantação propriamente
dita, acompanhamento e consolidação. Um estudo de caso desenvolvido na indústria moveleira ilustra
a metodologia proposta.
Palavras-chave: troca rápida de ferramentas, tempo de preparação, setup, metodologia SMED.
of Die (SMED – livremente traduzida por TRF o mais importante da implantação da TRF, ocorre
em tempos inferiores a 10 minutos), comparando- a distinção entre as operações de setup interno e
a às proposições de outros três autores: Mondem externo. No estágio 3 ocorre análise da operação
(1983), Harmon & Peterson (1991) e Black de setup, com o objetivo de verificar a possibilidade
(1998). O comparativo é complementado por de converter operações de setup interno em externo.
artigos que reportam surveys bibliográficos e No estágio 4 é realizada análise de cada ação das
aplicações da TRF. operações de setup interno e externo, buscando
Shingo (1996, 2000) define TRF a partir de sua racionalização por meio da eliminação de
uma visão primeiramente estratégica, seguida ajustes e operações do setup.
de conceitos para implantação da ferramenta e Esses estágios deixam claro que a TRF é
técnicas de apoio. Dois grupos de estratégias são composta por duas ações principais, análise e
sugeridos para minimizar as perdas decorrentes implementação, salientando a distinção entre as
da troca de produtos em uma operação: operações de setup interno e externo e a
1. Estratégias envolvendo habilidades: proce- racionalização dos elementos componentes das
dimentos eficientes no setup resultam do ações de setup. Para a aplicação dos estágios
conhecimento sobre o equipamento em conceituais da TRF, propõe-se o emprego de oito
estudo e da habilidade e experiência do técnicas: 1. separar operações internas e externas;
operador nas tarefas inerentes ao proce- 2. converter setup interno em externo; 3. padro-
dimento de setup. Em máquinas mais com- nizar a função dos elementos de setup; 4. utilizar
plexas, utiliza-se o conceito do preparador fixadores funcionais nos equipamentos ou elimi-
(operador especialista em preparação de nar fixadores; 5. utilizar dispositivos interme-
máquina), ficando o operador do equipa- diários para eliminar ajustes durante o setup
mento com as tarefas auxiliares da prepa- interno; 6. adotar operações paralelas; 7. otimizar
ração. operações eliminando a necessidade de ajustes;
e 8. mecanizar as operações.
2. Estratégias envolvendo tamanho de lote: A TRF proposta por Mondem (1983) consiste
para reduzir as perdas decorrentes de setups em quatro estratégias e seis técnicas de implan-
longos sobre o desempenho do sistema, tação. O conteúdo das estratégias segue o mesmo
uma solução é aumentar o tamanho do lote enfoque de Shingo (1996, 2000). As principais
para compensar a parada do equipamento. estratégias em Mondem (1983) são: distinção
A fabricação de grandes lotes, entretanto, das ações de preparação interna e externa; elimi-
pode ser indesejável se resultar em pro- nação de ajustes por meio de estudos na fase
dução antecipada ou formação de estoques. de projeto e busca de padronização das ferra-
A TRF permite a redução dos custos de mentas; e eliminação do processo de troca de
setup dos em lotes, resultando em lotes de ferramentas por meio da intercambiabilidade
fabricação de tamanho reduzido. entre peças e produção simultânea de várias
O processo de melhoria no tempo de troca de peças. O principal aspecto que diferencia as
ferramentas proposto por Shingo (2000) é técnicas em Mondem (1983) e Shingo (1996,
constituído de quatro estágios. No estágio 1, não 2000) está na proposta de análise conjunta da
se distinguem as condições de setup interno (que conversão do setup interno em externo e da
ocorrem com a máquina parada) e externo (que padronização da função, salientando a impor-
ocorrem com a máquina em operação). O objetivo tância de padronizar somente peças necessárias
é analisar a operação atual de setup, com à redução do tempo de troca da ferramenta,
participação dos operadores envolvidos na confrontando o custo do investimento com a
preparação em estudo. No estágio 2, considerado redução do setup.
166 Fogliatto & Fagundes – Troca Rápida de Ferramentas: Proposta Metodológica e Estudo de Caso
Harmon & Peterson (1991) não formalizam propõe o emprego de técnicas específicas,
uma proposta metodológica de TRF. Todavia, similares àquelas propostas por Shingo (1996,
alguns aspectos elencados pelos autores merecem 2000).
destaque. Eles propõem classificação das ope- McIntosh et al. (2000) apresentam um survey
rações de setup em três tipos: 1. mainline (ou bibliográfico e avaliação crítica do SMED.
principais) – operações que correspondem ao Segundo esses autores, a metodologia pode ser
setup interno; 2. offline (ou secundárias) – separada em três partes: 1. conceito; 2. metodo-
operações que correspondem ao setup externo; logia; e 3. programa de melhoria. A identificação
e 3. desnecessárias – operações que não con- e a aplicação de técnicas de melhoria estão rela-
tribuem para a melhoria do setup e que deveriam cionadas a cada uma das partes. No contexto
ser eliminadas. Os autores também propõem a de programa de melhoria, utilizam-se técnicas
eliminação do processo de tentativa e erro, utili- de Kaizen, sob o enfoque do comprometimento
zando documentação de regulagens, revisões da equipe de trabalho em utilizar a capacidade
periódicas e calibragens dos dispositivos de criativa na melhoria dos métodos existentes. A
controle e manutenção preventiva do equipa- consideração mais importante em McIntosh et
mento. al. (2000) diz respeito ao período de run-up
Para Black (1998), a TRF é um método cien- (período, após a realização do setup, até a esta-
tífico baseado na análise de tempos e bilização do processo, em que há possibilidade
movimentos relativos às operações de setup. de ocorrência de ajustes). Esse período de run-
A adoção da TRF não requer, obrigatoriamente, up, apesar de significativo, geralmente não está
grandes investimentos em equipamentos. Sua claramente identificado, fazendo com que não
estratégia de implantação da TRF é dividida seja percebido durante o tempo em operação do
em sete passos básicos, contrapondo-se aos equipamento.
quatro estágios de Shingo (1996, 2000). O Aplicações da TRF na indústria são reportadas
primeiro passo na metodologia de Black (1998) nos trabalhos de Moxham & Greatbanks (2000) –
é determinar o método existente, utilizando a indústria têxtil – e de Gilmore & Smith (1996) –
análise das operações com o estudo dos tempos indústria farmacêutica; outras referências a
e movimentos relativos à operação de setup. aplicações podem ser encontradas em McIntosh
Os passos 2, 3 e 4 (respectivamente, separar et al. (2000).
os elementos internos dos externos, converter
setup interno em externo e reduzir ou eliminar 3. Proposta metodológica para
os elementos internos) são essencialmente os
troca rápida de
estágios 2 e 3 de Shingo (1996, 2000). O estágio
4 de Shingo está detalhado nos passos 5, 6 e
ferramentas
7 (aplicar análise de métodos, padronização e A metodologia proposta para a TRF está
prática dos setups, eliminar os ajustes e abolir dividida em quatro estágios: 1. estratégico; 2.
o próprio setup, respectivamente). No passo 5, preparatório; 3. operacional; e 4. de comprovação.
utilizam-se técnicas de análise de métodos, com A descrição dos estágios, detalhada em suas etapas
a participação efetiva dos operadores de composição, é apresentada na seqüência.
examinando os métodos de realização do setup
interno. Treinamento e qualificação do operador, 3.1 Estágio estratégico
objetivando a multifuncionalidade, também
fazem parte dessa etapa. Para o passo 7, de 3.1.1 Convencimento da alta gerência
eliminação total ou realização automática do A alta gerência pode ser considerada o nível
setup, utiliza-se o conceito da intercambia- hierárquico da empresa que possui maior grau
bilidade entre peças. Para cada uma das sete de influência nas decisões que envolvam mu-
estratégias para redução do setup, Black (1998) danças que necessitem de investimentos ou
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tenham, como resultado final, alterações signi- plantação de metodologia para TRF. A equipe
ficativas no processo de manufatura da empresa. de implantação é responsável pela velocidade
O convencimento da alta gerência pode ser e pelo sucesso das ações no projeto de implan-
promovido pela visualização da necessidade de tação. Os times de implantação, conforme a
mudança e dos possíveis resultados de melhoria. Figura 1, são formados por funcionários que
Tais argumentos permitem obter o comprome- trabalham na melhoria das operações e pro-
timento dessa classe diante da introdução de um cessos; a equipe de implantação, por sua vez,
novo processo; no caso, uma metodologia para coordena e acompanha o desenvolvimento da
a TRF. implantação da TRF em toda a empresa.
No contexto da TRF, para o comprometimento De acordo com a estrutura do organograma na
da alta gerência é necessário o conhecimento dos Figura 1, a alta gerência e o coordenador possuem
seguintes aspectos: 1. estratégias e técnicas para a função de definir e acompanhar estrategicamente
a troca rápida de ferramentas; e 2. noção dos o projeto. A equipe de implantação é responsável
resultados que possam vir a ser alcançados. pela definição e acompanhamento de todas as ações
A necessidade de mudança, seja imposta pela do projeto de implantação da TRF. Os times de
alteração das características de mercado seja pela implantação e o nível operacional (operadores de
visualização das melhorias que podem ser alcan- máquinas e auxiliares) são os responsáveis pela
çadas, é favorável à solidificação da posição da implantação das ações definidas pela equipe de
empresa em seu mercado alvo. Esses dois implantação.
argumentos são suficientes para o início de um Algumas características importantes que a
projeto de implantação da TRF. Para a obtenção equipe de implantação deve possuir são: conhe-
de melhorias no tempo de setup, o conhecimento cimento dos processos, autonomia, capacidade
das estratégias e técnicas de aplicação da TRF de liderança, posição de respeito e presença de
e a noção dos resultados que possam ser alcan- representantes de todas as áreas da empresa.
çados formam uma base de conhecimento inicial
indispensável à alta gerência. 3.1.4 Treinamento da equipe de implantação
O conhecimento da metodologia de TRF a ser
3.1.2 Definição de metas repassado à equipe de implantação deve ser abran-
As metas para a implantação de um projeto gente, analisando todas as estratégias e técnicas
de TRF devem levar em consideração três fato- de aplicação, com base em casos bem-sucedidos
res: 1. existência e análise de indicadores que em relação à sua aplicação prática. Os seguintes
comprovem a situação inicial dos tempos de aspectos devem ser observados durante o treina-
setup antes do início do projeto; 2. definição do mento da equipe de implantação: 1. o número de
porcentual de redução de tempo de setup que participantes da equipe de implantação deve ser
se deseja alcançar; e 3. definição de cronograma suficiente para que haja pelo menos uma pessoa
de implantação que contenha a seqüência das da equipe em cada time de implantação, para
atividades de implantação, os responsáveis por atuarem como multiplicadores; 2. emprego de
atividade e uma estimativa de tempo para a con- exemplos práticos, com visitas a empresas que
clusão de cada atividade. já tenham adotado uma metodologia de redução
dos tempos de setup com sucesso; e 3. o conhe-
cimento adquirido pela equipe de implantação
3.1.3 Escolha da equipe de implantação deve ser o suficiente para possibilitar o repasse
A definição da equipe de implantação é um da metodologia a todos os participantes dos times
ponto de grande importância no projeto de im- de implantação.
168 Fogliatto & Fagundes – Troca Rápida de Ferramentas: Proposta Metodológica e Estudo de Caso
Alta gerência
Nível estratégico
Coordenador
Times de implantação
Nível operacional
Nível operacional
Quanto aos times de implantação, o treina- autoridade para tomada de decisões quanto a
mento pode ter enfoque voltado à aplicação prática investimentos e mudanças; e conhecimento de
da metodologia. O conhecimento de todas as sistemáticas para trabalho em grupos.
estratégias e técnicas é importante, mas pode A função do coordenador é de controle e acom-
ocorrer de maneira menos abrangente, objetivando panhamento das ações definidas no cronograma
o entendimento, a conscientização da necessidade de implantação. Nesse cronograma, todas as ações
de redução, o comprometimento de todos os elaboradas pela equipe de implantação devem ser
membros do grupo e a visualização de uma descritas em formulário-padrão, disponibilizado
oportunidade de melhoria em relação à redução a todos os membros da equipe de implantação.
dos tempos de setup. O treinamento pode ser
realizado pelos componentes da equipe de
3.2 Estágio preparatório
implantação, enfatizando características inerentes
à cultura da empresa. 3.2.1 Definição do produto a ser
inicialmente abordado
3.1.5 Definição da estratégia de implantação
Nesta etapa, os esforços devem estar dirigidos
A estratégia de implantação corresponde ao a produtos pertencentes à categoria A da curva
planejamento do projeto de TRF. O planejamento ABC dos produtos da empresa (para detalha-
é a atividade que envolve a identificação das mento sobre a classificação de itens usando a
alternativas potenciais de ação que possam curva ABC, ver Elsayed & Boucher, 1994, entre
satisfazer um objetivo e a avaliação dos meios outros). Toda a redução do tempo de setup obtida
necessários para sua implementação (Ghinato, nesses itens poderá ter maior impacto financeiro
1996). O primeiro passo para a definição da na empresa. Todos os produtos devem fazer parte
estratégia de implantação de uma metodologia da aplicação prática da metodologia de TRF.
de TRF é a definição de um coordenador para O uso da curva ABC pode determinar uma
o projeto (ver Figura 1). Como características seqüência de implantação da metodologia nos
de perfil do coordenador, devem ser observados produtos da empresa e essa seqüência deve levar
os seguintes aspectos: conhecimento das estra- a ganhos financeiros mais significativos, incre-
tégicas e técnicas para aplicação da metodologia mentando a motivação para maior utilização da
de TRF; capacidade de liderança; poder e metodologia na empresa. Produtos com ciclo de
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Os indicadores de resultados em uma meto- roupeiros é composta de móveis que são diferen-
dologia de implantação de TRF podem ser com- ciados por número e largura das portas, assim
provados pela medição do tempo de setup antes como por profundidade e altura do roupeiro.
e depois da implantação ou pelo cálculo do lote A linha de produção da empresa, cuja carac-
econômico de fabricação. O tempo de setup é terística é trabalhar com chapas de aglomerado,
um ótimo indicador para a aplicação de uma é composta por seis processos: 1. corte de chapas;
metodologia de TRF, pois é de fácil verificação 2. usinagem/colagem de bordas; 3. furação; 4.
durante toda a evolução da implantação. A cons- pintura; 5. usinagem/colagem de borda de peças
trução padronizada de dispositivos, ferramentas manuais; e 6. embalamento. Aproximadamente
e equipamentos é outro elemento para sua conso- 93% das peças fabricadas na empresa passam
lidação. A padronização deve ocorrer somente por esses processos.
nas partes (dispositivos, ferramentas e equi- Quanto ao volume de produção, nos dez pri-
pamentos) cujas funções são necessárias à troca meiros meses de 2001 foi produzida média
de ferramentas. O objetivo da padronização é mensal de 48.849 móveis. Para a efetivação dessa
minimizar a troca de partes no setup. produção, foram cortadas em média 40.816 cha-
Na evolução do projeto de TRF, um dos pas de aglomerado por mês.
objetivos é alcançar um processo estável. A estabi- Na Tabela 1 estão listados os setores incluídos
lidade é obtida pela repetição padronizada do setup na análise, o número de máquinas em operação
e dos tempos de produção. A garantia da repetição por setor e o porcentual médio do tempo de setup
dos tempos de produção depende da capacidade das máquinas relativamente a seu tempo total
do equipamento em manter estáveis as condições em operação, avaliado no período de junho a
de cada ciclo de produção. A conservação e a outubro de 2001. Nos setores e equipamentos
calibração do equipamento são fundamentais para da Tabela 1 são fabricados 92% das peças que
a estabilidade do processo. A realização de inspe- compõem os produtos da empresa.
ções programadas de manutenção ou de intervenção A aplicação prática da metodologia na empresa
do operador em pontos-chave do equipamento, seguiu os estágios delineados no Quadro 1. Alguns
resultados de um plano de manutenção preventiva, dos passos propostos foram aplicados e compro-
preditiva ou de um programa de manutenção vados; outros foram definidos e planejados com
produtiva total (Nakajima, 1988), é uma maneira resultados de médio e longo prazos, os quais não
de garantir a estabilidade do processo. se efetivaram até o momento da conclusão deste
trabalho.
4. Estudo de caso
4.1 Estágio estratégico
O estudo de caso aqui reportado foi realizado
4.1.1 Convencimento da alta gerência
no segundo semestre de 2001, em uma empresa
do ramo moveleiro, especializada na fabricação Para aplicação da metodologia de TRF, foram
de móveis cujas peças são manufaturadas a partir envolvidos os setores de engenharia, manutenção
de chapas de aglomerado. Os produtos fabricados e PCP, assim como os coordenadores e
pela empresa estão divididos em 9 famílias, em operadores de máquinas que estão ligados à
ordem decrescente de representatividade sobre gerência industrial da empresa. O convencimento
a receita; são elas: roupeiro, infantil, cômoda/ da alta gerência se deu por intermédio do gerente
escrivaninha, modulado, cama, mão-de-obra, industrial, que possuía bom conhecimento sobre
espelho, estante e cozinha. Os produtos da família as estratégias e técnicas para a implantação da
roupeiros representam o maior porcentual do metodologia, bem como noção dos resultados
faturamento da empresa, somando 65%. A família que poderiam ser alcançados.
172 Fogliatto & Fagundes – Troca Rápida de Ferramentas: Proposta Metodológica e Estudo de Caso
Definição de metas
deveria conter pelo menos um participante para e técnicas para a implantação da TRF, foi
atuar em cada setor listado na Tabela 1; 2. a equipe realizada no período de 20 horas, durante duas
deveria contar com dois participantes do setor semanas. O objetivo principal desse treinamento
de furadeiras; 3. cada participante deveria estar foi capacitar os participantes para atuarem no
pelo menos cursando nível superior; e 4. a equipe primeiro processo a ser abordado na metodologia
deveria contar com a participação de todos os de TRF, para então capacitá-los a serem os multi-
coordenadores da fábrica. plicadores nos times de implantação, numa
A equipe de implantação foi composta de sete segunda etapa de treinamento.
participantes: três coordenadores de fábrica, um
coordenador da manutenção, um coordenador 4.1.5 Estratégia de implantação
do PCP, um coordenador da engenharia e um
coordenador do projeto de implantação da TRF. A estratégia de implantação está definida no
cronograma de implantação, apresentado no Quadro
2. Os passos de implantação da metodologia de
4.1.4 Treinamento da equipe de implantação
TRF seguem as diretrizes apresentadas na seção
O treinamento da equipe de implantação foi 3, com destaque às etapas de treinamento da equipe
realizado pelo coordenador do projeto, de implantação e à aplicação prática do processo
dispensando a utilização de consultoria externa. piloto. A obtenção de resultados até a fase da im-
A parte teórica do treinamento da primeira plantação formará ambiente favorável à implan-
etapa, voltada à compreensão das estratégias tação dos passos seguintes.
Prazos
Atividade Respons. Pontos importantes
Início Fim
Preparar material didático para Preparar material com exemplos de
jun/01 ago/01 Ger. ind.
treinamento aplicação
Definir a equipe de Número deve garantir ao menos um
3/9/01 6/9/01 Ger. ind.
implantação multiplicador por setor da empresa
Treinamento da equipe de
10/9/01 28/9/01 Ger. ind. Enfatizar exemplos de aplicação
implantação
Definição do produto, processo Promover participação da equipe de
1/10/01 19/10/01 Ger. ind.
e operação iniciais impantação durante definição
Aplicação prática do processo Verificar número representativo de
1/11/01 15/1/02 Equipe
piloto medições (tamanho da amostra)
Filmagem e documentação do Documentar e filmar para utilização em
1/11/01 15/1/01 Equipe
processo piloto treinamento posterior
Verificar processos a serem
Definir os times de
15/1/02 28/3/01 Equipe trabalhados e qualificação dos
implantação
participantes dos times
Treinamento dos times de
15/3/01 – Equipe Utilizar a filmagem do processo piloto
implantação
Aplicação da TRF em todos os Medir resultados alcançados; utilizar
1/4/02 – Equipe
setores da empresa em treinamentos futuros
174 Fogliatto & Fagundes – Troca Rápida de Ferramentas: Proposta Metodológica e Estudo de Caso
brocas e agregados (cabeçotes com geometria dronização das brocas, manutenção e calibragem
diferente do padrão do equipamento, aplicados dos cabeçotes deveria resultar em apenas uma
em caso de furação fora dos padrões originais do conferência da peça antes do início da produção
equipamento) necessários à operação de setup; da segunda peça boa (no caso em estudo, ocor-
3. preparação e organização do material necessário reram três conferências da peça).
à operação de setup realizada por um terceiro
operador, o qual prepara todas as brocas, agregados 4.3.5 Praticar a operação de setup e padronizar
e gabaritos antes do término da operação anterior;
e 4. treinamento para participação mais efetiva As técnicas para prática e padronização do
do segundo operador durante a operação de setup. setup, segundo Shingo (1996, 2000), Mondem
(1983), Harmon & Peterson (1991) e Black
(1998), as quais a equipe de implantação utili-
4.3.4 Eliminar ajustes
zou para a definição das ações de melhoria da
Segundo Mondem (1983), os ajustes conso- operação de setup, estão ilustradas na Tabela
mem aproximadamente 50% a 70% do tempo 2. Todas as ações definidas até então foram
de setup interno. No caso da operação de furação, colocadas em prática, ocorrendo também trei-
as operações em que ocorreram ajustes – ajuste namento para os operadores que participaram
dos cabeçotes de furação (11’02’’) e conferência da operação de setup.
das peças (04’36’’) – somaram 14’38’’, valor A prática foi executada com a realização de
que corresponde a 44,4% do tempo de setup uma nova operação de setup, em que foram
interno. Esse número está próximo do definido aplicadas todas as melhorias apontadas pela equipe
por Mondem (1983). de implantação. Essa nova operação de setup
Para eliminar o tempo do setup interno no também foi filmada e documentada em uma nova
qual ocorrem ajustes, a equipe de implantação, lista de verificação.
analisando a filmagem e utilizando técnicas de Nessa nova operação, a preparação do kit de
solução de problema definiu como soluções: 1. ferramentas e materiais necessários ao setup
padronizar a altura das brocas; 2. padronizar a ocorre em paralelo, com a participação de um
altura do final do avanço dos cabeçotes de fura- terceiro operador. A partir da preparação do kit,
ção (profundidade do furo determinada pela inicia a operação de setup com o equipamento
altura da broca, considerando que todos os cabe- parado. Outro ponto relevante na nova operação
çotes finalizam o avanço na mesma altura); 3. de setup foi a utilização de duas cópias do mapa
manutenção e calibragem dos indicadores de de regulagem, uma para cada operador. Em uma
posição dos cabeçotes de furação; e 4. o conjunto das cópias havia o desenho da peça na outra face,
de ações de leitura do mapa de regulagem, pa- para a operação de conferência da peça.
Essa ação proporcionou a um operador execu- redução do tempo de setup (de 34’47’’ para
tar a colocação das brocas e agregados, enquanto 6’17’’) enquadram-se na TRF em tempos
o outro executava em paralelo o posicionamento inferiores a 10 minutos, proposta por Shingo
dos cabeçotes. (1996, 2000).
O tempo da nova operação de setup foi de
06’17’’, isto é, uma redução de 28’20’’ em 4.3.6 Eliminar o setup
relação à antiga operação de setup. Quanto aos A eliminação da operação de setup da divisão
operadores, na operação original de setup dos roupeiros não é possível, mas a aplicação dos
ocorria ociosidade do segundo operador de passos da metodologia proposta para a redução
10’42’’ (30,8% do total); na nova operação, a de seu tempo, utilizando as estratégias e técnicas
ociosidade do operador reduziu para 11” (2,9% que, segundo a equipe de implantação, foram as
do total). As reduções mais significativas mais adequadas para o caso em estudo, resultou
ocorreram nas operações de: 1. posicionamento em redução do tempo de setup. Algumas ações
de cabeçotes e colocação de brocas; 2. consulta voltadas à eliminação ou simplificação do setup,
ao desenho e conferência da peça; e 3. a partir dessa aplicação prática, acontecerão na fase
operações de ajuste de cabeçote de furação. As de projeto do roupeiro, visando à padronização do
ações voltadas à melhoria, definidas pela equipe maior número possível de furos e à obtenção de
de implantação, que causaram mais impacto maior intercambiabilidade entre peças.
na redução do tempo na segunda operação de
setup foram: 1. participação de um terceiro
4.4 Estágio de consolidação
operador na preparação do kit de ferramentas
utilizadas no setup; 2. elaboração do mapa de 4.4.1 Consolidação da TRF em todos os
regulagem; 3. treinamento dos operadores e processos da empresa
adoção de operações paralelas; 4. padronização A partir dessa aplicação prática, utilizando a
e identificação das brocas, agregados e gabaritos filmagem das situações inicial e final da operação
de furação; e 5. padronização da altura de fim de setup e obedecendo as datas do cronograma de
de curso dos cabeçotes de furação. A melhoria implantação, planejou-se a realização da conso-
alcançada foi significativa. Os resultados da lidação da metodologia de TRF na empresa.
Considerando-se que o número médio de e implantação. Tal metodologia pode ser aplicada
operações de setups da divisão dos roupeiros de maneira genérica, em diferentes setores indus-
é de 19 por mês, na situação inicial haveria triais.
tempo de setup de 660’53’’; após a aplicação A proposta procura enfatizar a criação de um
da metodologia, esse tempo foi reduzido para ambiente favorável à implantação e formação de
119’23’’. A redução de 541’30’’ proporciona times de implantação. A metodologia proposta
produção de 8.664 unidades adicionais. Con- é aplicada na análise do setup de uma operação
siderando, para fins ilustrativos, o custo unitário em uma indústria de móveis. Como resultados
de produção de R$ 0,419 como igual à margem principais, destacam-se a redução no tempo de
unitária do produto, a redução no tempo de setup da operação estudada de 83% e conseqüente
setup, analisando a operação de furação indivi- redução no tamanho do lote de fabricação do
dualmente, representaria vantagem econômica produto analisado.
de R$ 3.630,21 por mês para a empresa. Eviden-
temente, tal vantagem econômica estaria ligada
à existência de demanda para as 8.664 unidades
6. Agradecimentos
adicionais produzidas. Aos referees por seu cuidadoso trabalho de
revisão e pelas sugestões de modificação, as quais
5. Conclusão contribuíram de forma significativa para a melho-
ria da qualidade final do artigo. Ao Conselho
Neste artigo, propõe-se uma metodologia para Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-
troca rápida de ferramentas. Nela há clara dis- nológico (CNPq), pelo apoio ao prof. Fogliatto
tinção entre etapas de planejamento, preparação por intermédio do projeto 540710/01-6 (FIX).
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Abstract
Single-minute exchange of die (SMED) and alternative methodologies aim at reducing the time needed
for equipment setup, minimizing non-productive periods in the shop floor. That in turns enables production
of increasingly smaller lot sizes. SMED is based on a number of improvement techniques that emphasize
cooperative teamwork and the proposal of creative ways to improve existing processes. This paper presents
a methodology for rapid exchange of die, comprised of the following steps: project definition, planning
of activities, personnel training in SMED, implementation per se and follow-up and consolidation. A
case study from the furniture industry illustrates the methodology steps.
Key words: rapid exchange of tools, SMED methodology, machine set up time.