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APONTAMENTOS
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HISTÓRIA E INSTITUIÇÕES DA MADEIRA
Sécs. XV- XVIII
APONTAMENTOS
ALBERTO VIEIRA
O infante D. Henrique assumiu, desde 1433, de pleno direito a posse das ilhas e,
como tal, tratou, no imediato, de estabelecer uma adequada estrutura
administrativa:
• procedeu à distribuição das terras pelos seus apaniguados que
estiveram empenhados no reconhecimento delas;
• estabeleceu os regimentos para o governo das capitanias;
• definiu os seus direitos e usufrutos;
• ordenou o lançamento de sementes - cereais - e o transplante de
videiras e socas de cana.
jurisdição cível e crime, limitada; "com sua jurdiçom civel e crime salvo em
sentença de morte ou talhamento de membro...".
•
• Usufruto de rendas e direitos: "com todollos djreitos e rendas dellas assy
como as nos de djreito avemos e devemos aver".
• Capacidade de livre intervenção na valorização do espaço: "outrossy lhe
damos poder que elle possa mandar fazer das dictas jlhas todollos proveitos
e bemfectorias aquellas que entender por bem e proveito das dictas jlhas".
• distribuição de terras pelos seus criados e demais povoadores: "E dar ja
perpetuo ou a tempo ou aforar todas as dictas terras a quem lhe aprouver".
No último ponto a coroa estabelece que a referida concessão de terras fosse feita
"sem prejuízo da forma do foro per nos dado as ditas ilhas em parte nem em
todo nem amealhamento do dito foro", com a capacidade de o poder "quitar
parte ou todo". Esta situação remete-nos para a existência de um diploma
anterior do mesmo monarca, que não J possível encontrar e que alguns fazem
coincidir com os capítulos de uma carta de D. João I, inserida noutra de 7 de
Maio de 1493. isto é, aspectos em que a coroa não abdica da sua própria
intervenção:
Na mesma data a coroa concedeu também todo o espiritual das ilhas à ordem
de Cristo. Esta doação foi feita a pedido do infante: "E por o jnfante dom
anrrique meu irmão regedor e governador de dita ordem que no lho Requereu".
No entanto, a coroa reserva para si "o foro e o dizimo de todo o pescado que se
nas ditas ilhas matar".
No período que medeia até 1497 o governo das ilhas esteve entregue à Ordem
de Cristo, sendo a administração assegurada por governadores e
administradores vitalícios. Apenas entre 1470-79, em face da menoridade destes
- no caso D. João(1470-71) e D. Diogo(1472-74)- o governo foi assegurado por D.
Beatriz, na qualidade de tutora dos seus filhos. Em 1484 a sua administração
passou para a posse do Duque D. Manuel que, quando foi coroado rei em 1495,
abriu uma porta para a mudança desta estrutura institucional, concretizada em
27 de Abril de 1497. Assim desaparece o senhorio passando as ilhas para a
posse da coroa.
As duas cartas posteriores, que legitimam a posse das capitanias do Porto Santo
e Funchal, seguem de perto este enunciado, acrescentando alguns pormenores,
que aqui não mereceram qualquer referência. Assim, na de 1 de Novembro de
1446, em que o rei concedia a posse de ilha do Porto Santo a Bartolomeu
Perestrelo, acrescenta-se estas novas regalias:
Esta estrutura de poder foi alvo de alterações no final do século XV, por acção
de D. Manuel. Em 1497 o monarca acabou com o senhorio, passando para a
coroa toda a capacidade atribuída em 1433 ao senhorio. Esta nova situação
condicionou a capacidade de intervenção dos capitães, confrontados com a
presença de funcionários régios e a presença de novas estruturas da fazenda
real e justiça. Mesmo assim o capitão continuou a ser um interlocutor activo,
por iniciativa própria ou através do seu ouvidor, nos municípios.
O senhorio português das ilhas iniciou-se em 1433 com a entrega por D. Duarte
ao infante D. Henrique, na qualidade de administrador da Ordem de Cristo, do
governo temporal e religioso das ilhas da Madeira, Porto Santo e Desertas. De
acordo com a carta de doação o infante recebia o poder de administrar e
distribuir as terras, de forma a torná-las rentáveis. Num segundo momento o
infante, na qualidade de donatário, procedeu à subdelegação de poderes nos
três primeiros povoadores -- João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz e Bartolomeu
Perestrelo -- procedendo à partilha do arquipélago em três capitanias: Machico
(1440), Porto Santo (1446) e Funchal (1450). As datas da não coincidem, havendo
quem especule sobre isso. Estamos de novo perante mais um problema
académico que pouco interessa ao debate do tema.
A alçada dos capitães estava limitada apenas ao nível da justiça, pois eles não
poderiam suplantar as competências exaradas na carta do senhorio, que lhe
retiravam o direito de apelo e sentença no caso de morte ou "talhamento" de
membro. Todavia o infante ao conceder em 1440 a capitania da parte de
Machico a Tristão Vaz declarava que este lhe pertencia, o que levou D. Afonso
V a rectificar na carta de confirmação da capitania do Funchal a João Gonçalves
Zargo, em 25 de Novembro de 1451. Aí o monarca é peremptório: "honde diz na
carta do dicto meu tyo que a apelaçom de morte e talhamento de menbro venha
perante elle, queremos que venham perante nos segundo he conteudo na carta
[1433] del Rei meu senhor e padre susso escrito".
A intervenção dos capitães do donatário é, muitas vezes, plenipotenciária,
esquecendo-se que os seus poderes estavam limitados ao estabelecido nas cartas
e às inúmeras restrições que se sucederam noutros diplomas régios. O facto de
no início eles terem sido os principais representantes da soberania nestes
espaços criou hábitos plenipotenciários, que teimaram em deter mesmo quando
passaram a estar confrontados com a presença de novas instituições e
funcionários. No caso madeirense sabe-se que até à morte do infante D.
Henrique a figura e presença do capitão era dominante nos vários aspectos
administrativos. Deste modo os funchalenses, à morte do infante D. Henrique,
em 1461 apresentaram ao novo senhor um rol de reclamações em que
clamavam por medidas capazes de frenar o livre-arbítrio do capitão do Funchal.
A afirmação da estrutura de poder municipal foi uma das respostas mais
adequadas à omnipresença do capitão. Mas, esta comunhão de interesses nem
sempre vingou junto do senhorio e, depois, da coroa.
Está ainda por definir a política seguida pelo senhorio e coroa na distribuição
das capitanias criadas nos quatro arquipélagos. Insiste-se no facto de que elas
foram concedidas aos usufrutuários como recompensa pelos serviços prestados
ao senhorio ou rei. Todavia isto não esclarece o porquê de uns receberem uma,
duas ilhas ou apenas parte delas.
O MUNICÍPIO
O governo local até 1461 regeu-se pelo foral henriquino, concedido à ilha em
data incerta. Mas nele não se consignavam todas as determinações possíveis,
pelo que muito ficava ao arbítrio do capitão. Foi contra o poder magestático do
capitão e servidores que os vizinhos do Funchal reclamaram ao novo senhor da
ilha, em 1461, a plena afirmação da estrutura municipal. Os regimentos e
regulamentos que se seguiram e uma maior actividade do ouvidor do senhorio
motivaram a nova estratégia de governo do infante D. Fernando para as áreas
do senhorio.
As primeiras décadas do século XVI são definidas por uma profunda alteração
na estrutura municipal madeirense. Assim os municípios sede das capitanias
foram desmembrados dando lugar a novos. No Funchal tivemos a criação dos
da Ponta de Sol(1501) e Calheta(1502), enquanto em Machico foi apenas o de
Santa Cruz(1515), ficando toda a costa norte sob a alçada de Machico até 1744,
altura em que surgiu o primeiro município em S. Vicente.
1
. Vereação de 17 de Novembro de 1869, 1 e 15 de Dezembro de 1869.
2
. CMSV, l1 6, fl. 49, 23 de Dezembro de 1891
3
. CMSV, l1 4, fl.24, 29 de Dezembro de 1879, l1.5, fls. 58-58v1, 23 de Dezembro de 1885
4
. Vereação de 24 de Outubro e 7 de Novembro de 1878.
5
. Cf. Código Administrativo aprovado por decreto com força de lei de 17 de Julho de 1886, Porto, 1886.
No século XX o poder municipal foi alvo de várias transformações, sendo de
assinalar as alterações políticas ocorridas até 1926 que demarcaram inúmeras
mudanças. Em 1910 com a República a estrutura camarária será alvo de novas
mudanças. A lei de 13 de Outubro de 1910 retoma o código de 1878. Aqui ganha
força a autonomia municipal, acabando-se com a figura do administrador do
concelho, cujas funções passam para a alçada do presidente. De acordo com a
lei n.1 88, de 7 de Agosto de 1913, os mandatos eram trienais, sendo os
vereadores eleitos pelos cidadãos com capacidade para isso. Assinala-se uma
mudança significativa na estrutura municipal. A presidência da Câmara é
assegurada por um presidente, vice-presidente, secretário e vice-secretário. A
Vereação deu lugar à comissão executiva composta de cinco elementos, sendo
um presidente, um vice-presidente um secretário e dois vogais. Esta tinha
funções deliberativas e deveria reunir-se quatro vezes no decurso do ano civil.
6
. Vereação de 2 de Janeiro de 1914.
seu representante e acumula as funções policiais que havia sido do
administrador. O município é assim definido pela figura do presidente, do
conselho municipal e de Câmara Municipal. Para a Madeira foi definida uma
situação especial que ficou exarada no estatuto aprovado em 1947. Os mandatos
do presidente e vice-presidente eram estabelecidos por quatro anos e ninguém
se poderia escusar. Os vereadores eram eleitos pelo conselho para um mandato
de três anos. O seu exercício era gratuito e obrigatório.
Até 1933 os corpos administrativos da Câmara, são eleitos todavia estão sob a
tutela de uma figura de nomeação de confiança do governo, isto é o
administrador do concelho. A partir de 1933 muda a filosofia do governo
municipal. extingue-se a figura do administrador do concelho, substituído pelo
presidente que passa a ser de confiança do governo, sendo de nomeação,
enquanto os Vereadores são eleitos, mas afectos ao poder político. Uma das
alterações mais significativas tem lugar com as república. De acordo com a lei
n.1 88 de 7 de Agosto de 1913 estabeleceu-se a existência em cada concelho de
uma Câmara Municipal eleita definida pelo senado municipal e comissão
executiva. O primeiro era uma assembleia deliberativa e tinha a obrigação de
reunir duas vezes no ano, enquanto a segunda era eleito pelo senado, sendo a
substituta da Vereação a quem competia acudir ao expediente.
Uma das alterações mais significativas no período que decorre até 1933 ocorre
com as república. De acordo com a lei nº 88 de 7 de Agosto de 1913 estabelece a
existência em cada concelho de uma Câmara Municipal eleita definida pelo
senado municipal e comissão executiva. O primeiro era uma assembleia
deliberativa e tinha a obrigação de reunir duas vezes no ano, enquanto a
segunda era eleito pelo senado, sendo a substituta da Vereação a quem
competia acudir ao expediente.
Não existiam regras precisas para a redacção das actas, a sua estrutura
dependia da capacidade do escrivão. Somente a partir de 1872 sabemos da
necessidade de uma estrutura que facilitasse a sua consulta posterior. Assim, a
primeira parte era ocupada com o despacho do expediente referente aos ofícios
recebidos e requerimentos apresentados pelos munícipes. Nos anos quarenta do
nosso século, de acordo com o estatuto dos distritos autónomos, esta passará a
ter uma estrutura rigorosa: primeiro o despacho dos ofícios presentes de
diversas repartições. depois os requerimentos, normalmente de obras,
seguindo-se as deliberações das sessões e as contas presentes para pagamento
A comarca persistiu na sede do concelho até à suas extinção em 1926. Isto terá
sido resultado da falta de condições oferecidas à presença dos magistrados. Em
1910 o delegado do procurador régio na comarca queixava-se de terem atirado
alguns tiros de espingarda e arremessado pedras à sua janela. Já na década de
vinte era a falta de habitação e condições condignas para que os magistrados
exercessem a sua actividade que levou à extinção da comarca, passando S.
Vicente a depender da Ponta de Sol. A situação levou a insistentes reclamações
da Câmara. Assim, em 1928 a Vereação reclamou junto do inspector judicial de
visita à Vila, uma passagem pelo concelho afim de averiguar de "visu" a
realidade e "os grandes sacrifícios para a população do norte da ilha que lhes
trouxe a extinção da comarca". Daqui resultou a criação do julgado municipal a
24 de Outubro de 1931. Esta reclamação continuou por muito tempo mas só em
1962 foi atendida. A Vereação de 17 de Janeiro de 1963 propõe um voto de
regojizo da forma como o povo recebeu o novo juiz da comarca. O regozijo é
manifesto e o presidente decidiu promover uma "festa de carácter popular por
motivo da restauração da comarca". A habitação que havia sido uma óbice para
a continuidade da comarca teve andamento imediato. A 28 de Março decidiu-se
avançar com o projecto da casa dos magistrados que ficou concluída no ano
imediato.
OS FUNCIONÁRIOS
A ALÇADA
De um modo geral podemos considerar que o município nos séculos XVI e XVII
desfrutava de ampla autonomia e de elevada participação das gentes na
governança. Todavia a prática municipal veio a revelar alguns atropelos que
levaram a coroa a limitar a alçada por meio de funcionários régios, como o
corregedor. Tendo em conta a situação criada pelos monarcas filipinos, quando
da união das coroas peninsulares (1580-1640), procuraram cercear os poderes
dos municípios portugueses procedendo a algumas mudanças na estrutura na
orgânica.
Definida que foi a estrutura de poder municipal importa agora saber como
intervinham na sociedade em que se inserem. Mas isto só se torna possível
quando se encontrem disponíveis os livros dos acórdãos . No caso das ilhas
persistem inúmeras lacunas que impossibilitam um estudo exaustivo. As mais
antigas de vereações que se conhece, ainda que incompleta, são a da Câmara do
Funchal, que se inicia em 1472. Por isso, e tendo em conta que a maioria das
deliberações são conjunturais e de que só as posturas, porque perdulárias,
poderiam expressar melhor a situação, optamos por analisar as últimas
disponíveis apenas para o Funchal, Angra, Ponta Delgada, Ribeira Grande e
Vila Franca do Campo.
AS INSTITUIÇÕES RÉGIAS
Num e noutro lado as situações são quase idênticas, sendo os capitães, cientes
da real importância nas capitanias, o principal motivo de discórdia. Em 1516 foi
o do Funchal a incompatibilizar-se com o corregedor negando-se a aceitá-lo
como tal, o que levou a coroa a suspendê-lo e o seu ouvidor. Caso parecido
sucedeu seis anos depois em S. Tomé, sendo expulso o capitão João de Melo e
para o seu lugar nomeado um governador, repetindo-se com o da Ribeira
Grande em Santiago, em que ele foi substituído pelo desembargador da Casa da
Suplicação.
Dos direitos arrecadados, de início pelo senhorio, depois pela coroa, temos o
dízimo sobre os rendimentos fixos ou qualquer valia, sendo uns de usufruto do
donatário e outros da Ordem de Cristo. A esta primeira fiscalidade sobrepöe-se
outra assente nas principais produções com valor comercial. Dos cereais era o
dízimo das colheitas, enquanto do vinho era uma determinada quantidade
daquele que fosse posto à venda nas tabernas, que ficou conhecido como a
imposição do vinho(1485), cujo valor ia na totalidade para as obras de
enobrecimento da vila do Funchal.
AS RECEITAS
O debate político cola-se por vezes à História na busca das razões que
fundamentem tal relacionamento institucional. E neste caso mantém
actualidade o relacionamento da ilha com o continente europeu, uma relação
colonial que só poder dos liberais viu acabar em completa ruptura com o
passado. Na verdade, até então a Madeira merecia um tratamento idêntico ao
demais espaço colonial. Aliás, estava sob a mesma alçada do conselho
Ultramarino (1643-1833). Note-se que nas páginas do Patriota Funchalense, o
bastião da liberdade de opinião, reclamava-se contra o tratamento de colónia
feito pelos “mandões de Lisboa”. Deste modo desde 1832 a ilha deixou de ser
uma colónia, passando a província administrativa, igual às demais do
continente. A Reforma de Mouzinho da Silveira é o corte radical com o passado
pelo menos em termos jurídicos, o que não implica que no plano real esse tipo
de relacionamento se tenha mantido até 1974.
Este episódio revela o vigor demonstrado pelos madeirenses na defesa dos seus
interesses tem e pode ser reafirmado no papel do senado da câmara do Funchal.
Na verdade, a Madeira era desde 1433 um espaço fora do controle da coroa,
dependendo do Mestrado da Ordem de Cristo e tendo o Infante D. Henrique
como senhor. O infante D. Henrique, como senhor da ilha recebia um tributo de
1.500.000 reais, isto é 40,54% do total dos réditos da sua casa senhorial. João de
Barros refere que o mestrado da Ordem de Cristo auferia da ilha anualmente mais
de sessenta mil arrobas de açúcar. Todavia, esta riqueza estava na mira da coroa
pelo que D. Manuel, que também foi senhor da ilha, deu a machadada final no
processo de auto governo dos madeirenses ao proceder em 1497 à
“nacionalização” da Madeira. A carta régia que faz a ilha realenga, revertendo
toda a riqueza para a coroa, é clara quanto ao peso económico nas finanças do
reino: "he huma das principaes e proveitozas couzas que noz, e real coroa de
nosso reynos temos para ajudar, e soportamento de estado real, e encargos de
nossos reynos". Esta ideia da ilha perdurou por muito tempo de modo que em
1836 ainda continuava a afirmar-se “que é uma das mais preciosas jóias da coroa
de Vossa Majestade”.
Reposte 37%
Padrões 14%
Esmolas 34%
Diversos 15%
RECEITAS 1506
Colonias
54,9%
Madeira
5,3%
Açores
0,5%
Reino
39,3%
Até a década de trinta do século XVI os reditos fiscais resultantes da produção e
comércio do açúcar asseguravam parte importante das fontes de financiamento
do reino e projectos expansionistas. Este rendimento em finais do século XV e
princípios da centúria seguinte era superior a cem mil arrobas, atingindo em 1512
as 144.065 arrobas, o que corresponde a 45.380.475 reais. Este açúcar, depois de
retirada a redizima, isto é, a décima parte que era propriedade do capitão do
donatário, era utilizado pela coroa de formas diversas, como meio de pagamentos
dos salários, esmolas aos conventos (Santa Maria de Guadalupe, Jesus de Aveiro,
Conceição de Braga) e misericórdias (Funchal, Lisboa, Ponta Delgada), benesses a
príncipes e infantes da Casa Real e despesa aduaneira da ilha, enquanto a parte
sobrante era vendida, directamente em Flandres pelos feitores do rei, ou por
mercadores, por vezes, a troco de pimenta. A sua aplicação na ilha era eventual,
resumindo-se às despesas eventuais como a construção da Sé e alfândega do
Funchal, que receberam, respectivamente, 1.000 e 3.000 arrobas de açúcar. Neste
grupo, mas com um carácter quase permanente, poder-se-á incluir o pagamento
dos inúmeros pedidos de socorro e abastecimento das praças marroquinas, o
provimento das armadas da Índia, por norma, em vinho. Sobre as assíduas
despesas com o socorro às praças africanas podemos citar, a título de exemplo, o
concedido entre 1508 e 1514 a Safim. Neste período gastaram-se mil arrobas de
açúcar e 83.815 reais, enquanto em 1531 o provimento de vinhos as armadas da
Índia orçou em 124.490 reais.
Em 1529 com o Tratado de Saragoça foi encontrada uma solução provisória que a
curto prazo parecia agradar a ambas as partes. D. João III viu-se forçado a pagar
350.000 ducados para assegurar a posse das Molucas que afinal se encontravam
dentro da área de influência de Portugal. Mais uma vez é possível assinalar uma
ligação à Madeira, pois terá sido, segundo alguns, o madeirense António de
Abreu o primeiro explorador. Por outro lado os madeirenses contribuíram com
avultada quantia de empréstimo para o pagamento do referido contrato. Manuel
de Noronha ficou com o encargo de arrecadar a contribuição madeirense. João
Rodrigues Castelhano é referenciado também como recebedor do referido
empréstimo, tendo desembolsado da sua fazenda 300.000 reais. A este juntaram-
se Fernão Teixeira com 150.000 reais e Gonçalo Fernandes com 200.000 reais. O
pagamento fez-se nos anos de 1530-31 à custa dos dinheiros resultantes dos
direitos da coroa sobre o açúcar.
Madeira
60
Açores
C. Verde
40
20
0
1506 1518-19 1588
A Madeira, na primeira metade do século XVII, enfrentou dificuldades
económicas que se reflectiram nas fianças públicas. Deste modo a fonte de
receitas transferiu-se para as demais possessões e mesmo os Açores atingem
valores mais elevados que a Madeira. A situação vinha evoluído neste sentido
desde o ano de 1588. O quadro financeiro do ano de 1607 revela a precária
situação das finanças madeirenses conduzindo a que a despesa representasse
94% da receita, o que correspondeu ao valor mais elevado. Mesmo assim a
despesa não suplanta 1,5% do total. Já em 1619 é evidente a recuperação
económica da ilha subindo o saldo para os cofres do reino a 5,9%.
80,00%
saldo
60,00%
despesa
40,00% receita
20,00%
0,00%
1607 1619
40.000
30.000
20.000
10.000
0
1607 1619 1620 1681
0
1506 1518 1526 1580-88 1607 1619
Perante este quadro somos forçados a afirmar que a partir do século XVI os dados
estatísticos revelam-nos que Portugal tinha a principal fonte de riqueza nas ilhas e
possessões ultramarinas. Apenas a conjuntura resultante da união dinástica na
década de oitenta conduziu a uma quebra acentuada da receita das colónias. Em
qualquer das circunstâncias os novos espaços gerados com os descobrimentos
revelam-se em todos os momentos dos séculos XVI e XVII como a mais valia e
principal fonte de financiamento.
140
120
100
ilhas
80 reino
60 colonias
40
20
0
1506 1518 1588 1607 1619