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A criação da personalidade jurídica foi sem dúvida alguma uma das grandes
criações no Direito e uma verdadeira inovação nas relações humanas. Por meio
desse instituto, relações comerciais e empresariais foram estimuladas, favorecendo
em muito o empreendedorismo, pois permite às pessoas resguardarem seus bens
pessoais, dando segurança para aqueles que se arriscavam em relações comerciais
complexas.
Porém, com o passar do tempo, verificou-se que em alguns casos a
Personalidade Jurídica passou a ser usada como verdadeiro escudo, permitindo que
fosse usada para enganar ou causar prejuízos, de forma intencional.
Como meio de solucionar este problema, surgiu uma teoria chamada de
disregar doctrine ou “doutrina de desconsideração”.
Conforme as lições de Ramos (2013), esta teoria teve construção
essencialmente jurisprudencial, tendo sido positivada bem mais tarde. Aponta-se
como caso pioneiro o caso Salomom & Co. Ltd, ocorrido na Inglaterra em 1897.
Outros autores também apontam o caso State versus Standard Oil Co., ocorrido nos
Estados Unidos, Ohio, em 1892.
Resumidamente podemos dizer que a doutrina da desconsideração traz a
possibilidade afastar os benefícios e as características da personalidade jurídica, no
que diz respeito à autonomia e à separação patrimonial, permitindo a
responsabilização e execução do patrimônio pessoal dos sócios por dívidas
contraídas pela empresa / pessoa jurídica.
Ainda nas lições de Ramos (2013, pág. 407), para efeitos da
desconsideração da personalidade jurídica, inicialmente esta só era possível quando
houvesse prova efetiva de fraude. Era uma ideia subjetiva, que requeria
demonstração inequívoca de uma intenção de prejudicar os credores. Atualmente,
esse conceito mudou, pois já não se exige mais a prova de fraude com intuito em
enganar, de forma que este conceito passou a ser mais objetivo, bastando a
caracterização de abuso da personalidade jurídica, ou ainda o seu desvio de
finalidade ou a confusão patrimonial.
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Por ser um instituto de grande importância, nosso estudo irá percorrer suas
principais características, de forma clara e objetiva, sem a intenção de esgotar o
assunto, já que o mesmo é complexo e traz vários reflexos no Direito.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 A criação da Personalidade Jurídica
Com isso fica evidente que a personalidade jurídica passa a ser real, a
existir e produzir ações no mundo real, ou seja, um ente com patrimônio e
personalidade própria. Essas características são muito importantes e com efeitos
positivos nas relações comerciais e financeiras, além disso, também podem
funcionar como um verdadeiro escudo, protegendo o patrimônio pessoal dos sócios,
que nada tem haver com o patrimônio da empresa. É o que vemos quando as
pessoas jurídicas fracassam, pois a responsabilidade de cada sócio fica restrita ao
patrimônio e capital social integralizado da empresa.
Desta maneira, por muito tempo houve uma proteção exagerada do sócio,
esquecendo-se que a pessoa jurídica, embora seja um ente ficto, também precisava
ser protegida, enquanto instituto fundamental para as relações comerciais e
empresariais, pois geram efeitos financeiros reais nas pessoas e na sociedade,
como um todo. E o que é pior, pessoas de má-fé passaram a usar a autonomia
patrimonial da pessoa jurídica para aplicar golpes ou fraudar credores, pois sabiam
que seus bens pessoais não poderiam ser executados.
Foi assim, sob essa ótica que se criou doutrinariamente a figura da
desconsideração da personalidade jurídica, tanto para proteger os credores em caso
de situações de má fé e fraude, bem como para proteger a própria Pessoa Jurídica,
enquanto instituto do Direito.
É o que passaremos a ver a seguir.
3. CONCLUSÃO
Concluímos, primeiramente, que a desconsideração da personalidade é uma
importante ferramenta de preservação do próprio conceito de pessoa jurídica. Certos
de que a Personalidade Jurídica é essencial em determinadas relações comerciais e
empresariais, deve ser protegida enquanto instituição de direito, não podendo em
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hipótese alguma servir de escudo para ações irregulares dos sócios e proprietários
que queiram agir com fraudes e má fé.
Tendo em conta que a desconsideração é uma atitude excepcional, deve ser
aplicado com certo comedimento, na certeza de que é por meio dele mesmo que se
sustenta o próprio conceito de personalidade jurídica e esta por sua vez é capaz de
fomentar as relações comerciais e empresariais, produzindo e fortalecendo a
circulação de mercadorias, bens e riquezas.
Um aspecto muito importante de se ressaltar é que a desconsideração não
põe fim à pessoa jurídica, o que ocorre é que sua autonomia fica suspensa por um
determinado tempo, por isso não deve ser confundido com o instituto da
despersonificação, pois enquanto a primeira é provisória e temporária, esta última de
certa forma “extingue” a pessoa jurídica.
Embora tenha sido positivada em 2002, no artigo 50 do Código Civil, a
desconsideração já era largamente usado nos tribunais, por jurisprudência.
Também é importante lembrar que justamente por ser uma matéria que está
sujeita à jurisdição, a desconsideração somente pode ser decretada pelo Poder
Judiciário.
Por fim, entendemos que este é um tema de extrema importância para o
Direito, pois tanto protege a pessoa jurídica quanto os cidadãos que se relacionam
com ela.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Novo
Código Civil, Exposição de Motivos e Texto Sancionado. Brasília: Senado Federal.
2002.
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RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo:
Método. 2013.