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Crimes Contra As Relações de Consumo PDF
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Pós-Graduação
Código de Defesa do Consumidor em Direito Político
e Econômico
RESUMO
MACKENZIE
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Cad. de Pós-Graduação em Dir. Político e Econômico São Paulo, v. 4, n. 1, p. 69-78, 2004.
Cadernos de Como sabemos, o Código de Defesa do Consumidor possui uma estrutura
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bem definida e harmônica. Com isso, o artigo ora analisado procura reforçar o manda-
em Direito Político
e Econômico mento do artigo 9º do mesmo Código, pois este exige dos fornecedores de produtos
e serviços a obrigação de informar nos rótulos e mensagens publicitárias, de maneira
clara, os aspectos de nocividade e periculosidade do produto ou serviço que podem
colocar em risco a saúde ou segurança do consumidor. Tudo isso, está intimamente
ligado também aos direitos básicos do consumidor, que estão elencados no primeiro
inciso do artigo 6o.
Doutrinariamente, sua classificação é a seguinte,
Comum (quanto a legislação), próprio (quanto ao sujeito ativo), de perigo abstrato (quanto
a lesão do bem jurídico tutelado), de mera conduta (quanto ao resultado), omissivo
próprio (quanto a ação), principal (quanto a exigibilidade de consumação de outro crime),
unissubsistente (quanto ao fracionamento do iter criminis), unissubjetivo (quanto ao
número de sujeitos ativos), doloso ou culposo (quanto ao elemento subjetivo), de ação
única (quanto ao núcleo do tipo), de ação penal pública incondicionada (quanto à ação
penal) e instantâneo (quanto a duração) (PASSARELLI, 2002, p. 54).
De acordo com o art. 18, parágrafo único, do Código Penal, que positivou o princípio da
excepcionalidade, a figura culposa será admitida apenas quando expressamente prevista
no texto legal. Na Lei federal n. 8.078/90,o legislador optou por criminalizar as condutas
tipificadas no art. 63, § § 1º e 2º, quando o elemento subjetivo do agente for a culpa
stricto sensu.
Entre as modalidades de culpa em sentido estrito previstas pelo art. 18, inciso II do
Estatuto Repressivo, é adequada ao disposto no artigo de lei supratranscrito a figura da
negligência, podendo, eventualmente, somar-se a outra modalidade de culpa stricto
sensu.
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Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade Cadernos de
ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no Pós-Graduação
mercado: Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa. Parágrafo único. Incorrerá em Direito Político
nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado, imediatamente quando determina- e Econômico
do pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo
(PASSARELLI, 2002, p. 55).
No caso, fica evidenciado que o risco criado pelo produto deve ser minimizado: primeira-
mente, pelo próprio responsável (aviso e recall) e, secundariamente, pelas autoridades
competentes, incorrendo aquele nas penas de que trata o art. 64, sob análise em caso de
omissão de omissão de comunicação àquelas mesmas autoridades ou então não retiran-
do do mercado os produtos considerados perigosos ou nocivos, repita-se, além do que
normalmente deles se espera (FILOMENO, 2000, p. 620).
Este comando vem no sentido de punir aquele que executa serviços de alto
grau de periculosidade contrariando determinações de autoridade competente.
Filomeno (2000, p. 623), em seu comentário ao referido artigo, observa que
“se trata mais uma vez de norma penal em branco, pois as autoridades competentes
devem dispor e determinar as especificações que devem ser observadas nos serviços
perigosos”. O conceito de “alto grau de periculosidade”, não se confunde com o do
artigo 10 da mesma lei, pois estes serviços possuem sua periculosidade adquirida, e MACKENZIE
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Cadernos de por isso não podem e nem devem ser colocados no mercado à disposição do consu-
Pós-Graduação
midor.
em Direito Político
e Econômico Sua classificação doutrinária é a seguinte: é um delito comum, próprio, de
perigo, de mera conduta, comissivo, principal, simples, plurissubsistente, unissubjetivo,
doloso, de ação única e instantânea. É admitida a tentativa, pois como vimos, trata-se
de crime comissivo e plurissubsistente. Mais uma vez a sanção cominada é cumulativa.
O objeto jurídico tutelado é o direito do consumidor de ter sua vida, saúde e
segurança protegidas. O sujeito ativo é qualquer prestador de serviço que contrariar
determinação de autoridade competente na execução do serviço perigoso. Os sujeitos
passivos por sua vez são a coletividade, os consumidores difusamente considerados e
o exposto diretamente ao serviço perigoso prestado.
Para bem entender o parágrafo único do artigo, nos valemos do escólio Passarelli
(2002, p. 67-68):
Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natu-
reza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço
ou garantia de produtos ou serviços: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. §
1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. § 2º Se o crime é culposo; Pena
Detenção de um a seis meses ou multa (PASSARELLI, 2002, p. 67-68).
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Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou Cadernos de
abusiva: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. Parágrafo único – Vetado – Pós-Graduação
Incorrerá nas mesmas penas quem fizer ou promover publicidade de modo que dificulte em Direito Político
sua identificação imediata (BRASIL, 1990). e Econômico
Nesse artigo, o legislador pune quem fizer ou promover publicidade que sabe
ou deveria saber ser enganosa ou abusiva, ou seja, punirá o publicitário e o responsá-
vel pelo meio de veiculação da propaganda. Mas como saber o que é enganosa ou
abusiva? Temos aqui novamente uma norma penal em branco.
Tal dispositivo tem de se socorrer com o artigo 37 e parágrafos do mesmo
diploma legal, que conceitua o que vem a ser publicidade enganosa e abusiva.
O crime possui duas objetividades jurídicas. Uma é tutelar as relações de
consumo, e a outra é proteger a integridade psíquica de todos os consumidores. Esse
artigo, ao contrário do anterior, trata-se de crime de dano, pois se exige lesão do bem
jurídico tutelado, não bastando apenas o perigo.
Os sujeitos ativos são os profissionais que criam e produzem publicidade (pu-
blicitários) e os responsáveis pelo meio de veiculação dessa publicidade. Os sujeitos
passivos são os consumidores difusamente considerados e os expostos diretamente a
publicidade. Os elementos subjetivos do tipo são dois: o dolo (sabe) e a culpa (deveria
saber).
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa: Parágrafo único – Vetado – Incorrerá
nas mesmas penas quem fizer ou promover publicidade sabendo-se incapaz de atender à
demanda (BRASIL, 1990).
Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à publici-
dade: Pena Detenção de um a seis meses ou multa (BRASIL, 1990).
Este artigo, em sua tipificação, pune quem não organiza dados fáticos, técni-
cos, e científicos que dão base à publicidade. Tal preceito vem no sentido de efetivar e
garantira o que o Código de Defesa do Consumidor dispõe. Confirmando tal afirma-
ção, vejamos o artigo 36, parágrafo único: “o fornecedor, na publicidade de seus
produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interes-
sados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem”.
Filomeno (2000, p. 658), explicando sobre a necessidade e utilidade de ter-
mos essa proteção, ensina que:
A ação descrita na tipificação penal acima era muito comum antes do Código
de Defesa do Consumidor. Havia todo um aparato de cobrança, onde colocava o
consumidor devedor em posição vexatória e de grande humilhação. Com isso, se
sentiu a necessidade de criminalizar a conduta, para coibir os abusos que eram
costumeiramente cometidos. Com a tipificação, será punido cumulativamente com
detenção e multa, o fornecedor (sujeito ativo)1 que se valer de ameaça, coação, cons-
trangimento físico ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas, ou qualquer
outro meio que exponha o consumidor (sujeito passivo juntamente com a coletividade)
ao ridículo, ou que interfira no seu trabalho, descanso ou lazer, para que assim seja
cobrado e impelido a pagar a dívida.
Esse dispositivo veio no sentido de garantir e reforçar o que já veio disposto
anteriormente no Código, mais precisamente no artigo 42, que diz o seguinte,
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo,
nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. Parágrafo único. O
consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais,
salvo hipótese de engano justificável (BRASIL, 1990).
Sobre o crime exposto no artigo 71, Passarelli (2002, p. 86) comenta o se-
guinte,
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Cadernos de Temos como objetividade jurídica primeira, a relação de consumo. Secunda-
Pós-Graduação riamente se protege a honra, a incolumidade física e psíquica do consumidor lesado. Já
em Direito Político
e Econômico
a classificação que se dá a esse crime é a seguinte: é crime comum, próprio, de perigo,
de mera conduta ou material, comissivo, principal, simples, unissubsistente,
plurissubsistente, unissubjetivo, doloso, de ação múltipla e instantâneo. “Art. 72. Im-
pedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem em
cadastros, banco de dados, fichas e registros: Pena - Detenção de seis meses a um
ano ou multa” (BRASIL, 1990).
Esse artigo procura através de sua tipificação penal proteger o que já consa-
gra o mesmo Código no artigo 43, parágrafos 1o e 2o, que diz o seguinte:
Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações
existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados
sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes. § 1° Os cadastros e dados de
consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreen-
são, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco
anos. § 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser
comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele (BRASIL, 1990).
§ 3° O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá
exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comuni-
car a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas. § 4° Os bancos
de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de proteção ao crédito e
congêneres são considerados entidades de caráter público. § 5° Consumada a prescri-
ção relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respecti-
vos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou
dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores (BRASIL, 1990).
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O §3o acima citado regula o que vem a ser a correção “imediata”, e prevê um Cadernos de
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prazo de 5 (cinco) dias para que ela seja feita. O § 4º confere a esses bancos de dados
em Direito Político
e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres, o caráter público. Sendo assim há e Econômico
a possibilidade do interessado impetrar habeas data. O §5o diz que quando ocorrer a
prescrição no que diz respeito a dívida do consumidor, este não será mais obstado de
qualquer transação econômica, por informações impeditivas a concessão de crédito.
Ocorrendo a prescrição, a informação sobre isso no SCPC, por exemplo, torna-se
errônea, e se não for mudada, estará incorrendo em crime o responsável.
A tipificação em questão no referido artigo 73 visa proteger as relações de
consumo e a dignidade do consumidor diante da proteção ao crédito. A classificação
desse crime é a seguinte: é crime comum, próprio, de perigo, de mera conduta, omissivo
próprio, principal, simples, unissubsistente, unissubjetivo, doloso, de ação única e ins-
tantânea. “Art. 74: “Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequada-
mente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo; Pena - Detenção de um
a seis meses ou multa” (BRASIL, 1990).
Nessa tipificação criminal, pune-se quem deixar de entregar (sujeito ativo) ao
consumidor (sujeito passivo junto com a coletividade) o termo de garantia adequada-
mente preenchido com indicação clara do conteúdo. Esse artigo corrobora com o
disposto no artigo 50 da mesma Lei. Entrando na classificação doutrinária, achamos o
seguinte: é crime comum, próprio, de perigo, de mera conduta, omissivo próprio, prin-
cipal, simples, unissubjetivo, doloso, de conteúdo variado e instantâneo.
ABSTRACT
The present study it has as object the crimes against the foreseen
relations of consumption in the Code of Defense of the Consumer.
We will show until point this incriminated criminal norms are efficient
in the prevention of the abuse of the economic power in the case of
the consumption relations. We will still show the doctrinal classification
of the crimes, as well as its more important aspects, that if makes
indispensable in the study of the subject.
Keywords: Consumer. Consumption. Supplier. Relation of
Consumption.
NOTAS
1
Devemos ressaltar que é possível a cobrança de dívida por alguém a mando do fornecedor, que será considerado
no caso de crime como se fosse uma espécie de longa manus, como por exemplo, as empresas de cobrança.
2
Na verdade o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que tenha obrigação de fornecer tais dados, e o sujeito
passivo pode ser também qualquer pessoa que pretenda ver seus dados. MACKENZIE
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Cadernos de REFERÊNCIAS
Pós-Graduação
em Direito Político
e Econômico ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. São Paulo:
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São Paulo: R. dos Tribunais, 1995.
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