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PSICÓPIO
psicópio

REVISTA VIRTUAL DE
PSICOLOGIA HOSPITALAR
E DA SAÚDE

Editor
Susana Alamy

Ano 4 - Número 7 - Fevereiro a Julho-2008


Edição Semestral - Distribuição Gratuita
PSICÓPIO: REVISTA VIRTUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
Revista Semestral - Distribuição Gratuita
Ano IV, Número 7, Fevereiro a Julho-2008

Editor: Susana Alamy


Idealização e Realização, Capa, Editoração Eletrônica, Diagramação e Arte Final: Susana Alamy
WebMaster: Carlos Alexandre de Melo Pantaleão

Conselho Editorial:
Susana Alamy - psicóloga clínica e hospitalar, psicoterapeuta, professora de psicologia hospitalar e supervisora de
estágios em Belo Horizonte/MG. CRPMG 6956
Elisângela Lins - psicoterapeuta, psicóloga clínica e hospitalar, professora de psicologia do CESUR – Centro de Ensino
Superior de Rondonópolis. CRPMT 1281-2
Luciane Jordão Pereira - psicoterapeuta, psicóloga clínica, gestora em saúde da Prefeitura Municipal de Itabira/MG.
CRPM G 18744
Glenda Rose Gonçalves-Chaves - advogada, bacharel em Letras, mestre em Direito Internacional e Comunitário (PUC-
Minas), mestre em Literatura Brasileira (UFMG), professora de Direito Constitucional e Direito Administrativo.

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ALAMY, Susana (Ed.). Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, Belo Horizonte, a.4, n.7, fev.-jan
2008. Disponível em: <http://br.geocities.com/revistavirtualpsicopio/>. Acesso em: (dia em números) (mês abreviado
em letras minúsculas) (ano).

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do artigo em letras comuns). Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, Belo Horizonte, a.4, n.7,
fev.-jul 2008. Disponível em: <http://br.geocities.com/revistavirtualpsicopio/>. Acesso em: (dia em números) (mês
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Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. i
PSICÓPIO: REVISTA VIRTUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
Revista Semestral – Distribuição Gratuita
Ano IV, Número 7, Fev-Jul-2008

SUMÁRIO

Editorial ............................................................................................................................................................................................... iii

O psicólogo e questões éticas no contexto hospitalar ................................................................................................................. 05


Janaína Bianca Barletta (Aracaju/SE)

A atuação do psicólogo no suporte ao paciente, família e equipe multiprofissional no processo da humanização


hospitalar ............................................................................................................................................................................................. 14
Kleumar Brasil de Carvalho (Manaus/AM)

Aspectos psicológicos que predispõem ao aparecimento e desenvolvimento do câncer ...................................................... 23


Marta Betania Cardoso Tavares Luzete (Brasília/DF)

As doenças psicossomáticas podem manifestar-se em crianças ................................................................................................ 30


Fernanda Oliveira (São Carlos/SP)
Rosangela Tezori (São Carlos/SP)

Qualidade de vida e suporte social em pacientes renais crônicos: revisão teórica ................................................................. 32
Rosemeri Siqueira Pedroso (Porto Alegre/RS)
Gabriela Sbardelloto (Porto Alegre/RS)

A atuação do psicólogo na Unidade de Terapia Intensiva ......................................................................................................... 36


Priscila Carvalho de Mello (Três Rios/RJ)

Acompanhantes hospitalizados ....................................................................................................................................................... 40


Valdirene Camargo Mendonça Teixeira (Cuiabá/MT)

Do sofrimento humano e do alívio da alma .................................................................................................................................. 50


Rodrigo Garcia Martins (Cruz Alta/RS)

Depoimento pessoal - A dor física ou da alma: qual delas dói mais? ...................................................................................... 51
Jeanine Schuabb Duarte (Brasília/DF)

Modelo de anamnese para pacientes com epilepsia .................................................................................................................... 53


Susana Alamy (Belo Horizonte/MG)

Legislação brasileira sobre saúde - Lei n .8.142 .......................................................................................................................... 55

Agenda ................................................................................................................................................................................................ 58

Formulário para envio de artigos, normas e termos .................................................................................................................... 60

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. ii
EDITORIAL

Queridos Leitores e Colaboradores,

É com grande alegria que lhes escrevo neste momento, pois com esforço e dedicação chegamos ao número 7, ao 4º. ano,
da nossa Psicópio: revista virtual de psicologia hospitalar e da saúde. Uma revista que pode facilmente ser baixada
gratuitamente da internet, bastando que entre no endereço http://br.geocities.com/revistavirtualpsicopio/ para ver o seu
conteúdo e clicar no link “download de todas as edições ” que o levará ao UOL Disco Virtual. Logo em seguida digite a
senha 121212.

Nossa idéia mantém-se firme, de ser um lugar de publicações, um lugar democrático que incentive as pessoas a
escreverem, sejam artigos científicos, depoimentos pessoais, relatos de casos, anamnese e tudo o mais que julgarem
interessante, sejam produções de profissionais ou de estudantes. Recebemos os materiais enviados e os analisamos, na
medida do possível damos retorno a todos. E muitas vezes não nos estendemos nas respostas por absoluta falta de
tempo, pois nosso trabalho é solitário e demanda persistência.

Neste número publicamos: O psicólogo e questões éticas no contexto hospitalar (Janaína Bianca Barletta- Aracaju/SE) ;
A atuação do psicólogo no suporte ao paciente, família e equipe multiprofissional no processo da humanização
hospitalar (Kleumar Brasil de Carvalho - Manaus/AM); Aspectos psicológicos que predispõem ao aparecimento e
desenvolvimento do câncer (Marta Betania Cardoso Tavares Luzete - Brasília/DF); As doenças psicossomáticas
podem manifestar-se em crianças (Fernanda Oliveira - São Carlos/SP e Rosangela Tezori - São Carlos/SP); Qualidade
de vida e suporte social em pacientes renais crônicos: revisão teórica (Rosemeri Siqueira Pedroso - Porto Alegre/RS e
Gabriela Sbardelloto - Porto Alegre/RS); A atuação do psicólogo na Unidade de Terapia Intensiva (Priscila Carvalho
de Mello - Três Rios/RJ); Acompanhantes hospitalizados (Valdirene Camargo Mendonça Teixeira - Cuiabá/MT); Do
sofrimento humano e do alívio da alma (Rodrigo Garcia Martins - Cruz Alta/RS); Depoimento pessoal - A dor física ou
da alma: qual delas dói mais? (Jeanine Schuabb Duarte - Brasília/DF); Modelo de anamnese para pacientes com
epilepsia (Susana Alamy - Belo Horizonte/MG); Legislação brasileira sobre saúde - Lei n .8.142; e agenda de eventos.
Temas que não se esgotam e que poderão ser trazidos novamente nos próximos números.

A seleção para publicação neste número obedeceu como um dos critérios a data de envio e outro, o tema abordado,
assim contamos com a compreensão de todos que enviaram seus artigos, e que os tiveram aprovados, pedimos que
aguardem os próximos números para verem a Psicópio brindada com seus artigos.

Um dos critérios para aprovação dos artigos é a devida citação e transcrição de partes de textos já publicados, que
devem vir entre aspas, com o nome do autor e demais critérios de bibliografia. Mesmo aquelas transcrições da internet,
sem que tenham um autor, devem vir entre aspas e ser citada a URL de consulta e sua data. Pois prezamos e
respeitamos os autores, bem como seus direitos autorais ; também respeitamos os autores anônimos, merecedores de
reconhecimento. Outros critérios importantes a serem considerados na seleção do texto são: uso do português, que deve
vir em linguagem compreensível e sem erros, e a formatação do texto, que deve atender aos critérios estabelecidos por
esta revista.

Aproveitamos para reforçar o convite para que você envie seu texto, que será analisado com critério e respeito.
Agradecemos os inúmeros e-mails recebidos, sempre incentivadores e motivadores, demonstrando a importância da
Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde na formação e na vivência de cada um dos seus leitores.
Agradecemos aos nossos colaboradores, pacientes, professores e supervisores que incentivam seus alunos a produzirem
e publicarem seus escritos, nossos leitores, e à determinação de cada um em fazer permanecer uma revista de
distribuição gratuita e sem patrocinadores.

A responsabilidade pelos artigos publicados é inteiramente de seus autores e as opiniões expressadas nos mesmos não
necessariamente condizem com a opinião do Editor.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, fev. a jul. 2008, Ano 4, n.7. iii
Todas as correspondências deverão ser encaminhadas para a Psicópio: revista virtual de psicologia hospitalar e da
saúde, e-mail: revistavirtualpsicopio@yahoo.com.br. Os e-mails que forem dirigidos aos autores das matérias
publicadas serão repassados aos mesmos.

Desejamos-lhes um Feliz 2008, cheio de realizações e alegrias e que neste ano todos nós possamos contribuir para o
saber publicando e falando dos nossos estudos e das nossas experiências.

Sejam bem-vindos!!!
Com o meu abraço,

Susana Alamy
Verão de 2008

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, fev. a jul. 2008, Ano 4, n.7. iv
O PSICÓLOGO E QUESTÕES ÉTICAS
NO CONTEXTO HOSPITALAR
Janaína Bianca Barletta1

INTRODUÇÃO

A importância do fazer do psicólogo tem sido cada vez mais reconhecida por diversos setores e distintas classes
profissionais. Nesse sentido, o psicólogo vem ganhando espaço de trabalho e a demanda para o seu atendimento vem
sendo uma constante nos mais diferentes contextos. O mesmo acontece com a área da saúde. O profissional da
psicologia tem dominado técnicas e adequado antigas formas de atuação que inicialmente tinham um setting terapêutico
bem definido e específico. Atualmente o psicólogo da saúde está presente em diversas instituições e comunidades. No
âmbito hospitalar, o psicólogo tem se especializado para atender às suas funções da melhor forma possível.

É inegável que os fatores psicossociais interferem diretamente no desenvolvimento do processo saúde-doença,


influenciando na melhora ou piora do paciente, no tempo de adoecimento, na manutenção da saúde. Assim, alguns
fazeres do psicólogo já são esperados, como o atendimento pré e pós-cirúrgico, atendimento a pacientes crônicos, em
UTI, gestantes e maternidades de neonatologia patológica, entre outros; todos com intuito de identificar os aspectos
psíquicos envolvidos, minimizando possíveis dificuldades. Mas, o papel do psicólogo hospitalar tem recebido outras
funções, que vem sendo pontuada por diversos autores de diferentes abordagens teóricas. Assim, além do atendimento
às pessoas acometidas por alguma enfermidade, o trabalho do psicólogo se estende aos familiares e equipe de saúde.

Apesar disto, muitas vezes o trabalho do psicólogo no hospital não é de conhecimento de todos. É muito comum ouvir
de diversos profissionais que o psicólogo é essencial no atendimento hospitalar, mas estes não sabem definir qual o seu
papel e sua função. Outra idéia que está muito difundida é que o psicólogo ‘conversa’. Isto leva muitos atendentes e
pacientes interpretarem que sua função pode ser suprida por qualquer outro profissional ou que é muito simples e fácil
seu trabalho.

Ainda assim, verifica-se que o psicólogo tem sido apontado como um pilar importante frente ao processo de
humanização e da potencialização da atuação dos outros profissionais no hospital. Nesse sentido, muitas vezes o
psicólogo faz a mediação entre o profissional de saúde e o paciente, no intuito de adequar à linguagem, estabelecer uma
relação com uma efetiva aliança terapêutica, pautada em preceitos que estão baseados em atributos profissionais
inerentes da profissão, como a empatia, o respeito e a ética. Tal atuação leva o psicólogo estar em situações delicadas,
em que uma postura madura por parte do profissional deve ser evidenciada. Dessa forma, o objetivo deste texto é
refletir algumas situações extremas de vivência hospitalar que o psicólogo enfrenta para equilibrar a relação de saúde
entre pacientes e profissional, questionando aspectos éticos e bioéticos.

Para tanto, inicialmente se faz necessário relembrar o breve histórico da psicologia hospitalar no Brasil, fazendo uma
conceituação da área. Esse entendimento é primordial devido a grande confusão epistemológica entre psicologia da
saúde e psicologia hospitalar. A partir deste esclarecimento, num segundo momento, o texto voltará para seu objetivo
primário.

PSICOLOGIA DA SAÚDE E PSICOLOGIA HOSPITALAR

Uma das áreas reconhecidas pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP sobre a atuação profissional está ligada ao
âmbito hospitalar. Assim, o CFP ortoga o título de Especialista em Psicologia Hospitalar para o psicólogo que
comprovar sua atuação específica e/ou prestar prova de título. Tal reconhecimento deve-se muito ao fato de que no
Brasil esta denominação é utilizada como equivalente à psicologia da saúde, nome conhecido no restante do mundo.
Apesar disto, existem diferenças essenciais entre esses dois conceitos, que implicam desde o tipo de exercício

1
Especialista em Psicologia Clínica da Saúde/UnB – Mestre em Psicologia na área Desenvolvimento Humano no Contexto Sócio-
Cultural/UnB; Professora de graduação da Universidade Tiradentes/SE; Professora de pós-graduação da Faculdade Atlântico.

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profissional até as possibilidades de locais de atuação (CASTRO & BORNHOLDT, 2004).

De acordo com a história, a partir do desenvolvimento tecnológico e científico, especialmente depois do Relatório de
Flexner, o trabalho da medicina foi deixando de lado atuações místicas e alternativas, e focando cada vez mais em
aspectos específicos da doença, sempre baseado nas causas biológicas do adoecimento. Verifica-se neste momento que
o ser humano começou a ser departamentalizado e sua concepção pautava-se no conceito do dualismo cartesiano.
Apesar dos benefícios e avanços conseguidos em função desta forma de trabalho, a medicina se distanciou da
complexidade biopsicossocial do ser humano e, por conseguinte do paciente (BARLETTA, 2002).

Como resultado, esta medicina científica entrou em crise nos anos 70, uma vez que se mostrava ineficiente e ineficaz
para responder à demanda naquele momento. Isto ocorreu devido alguns motivos: (a) aumento excessivo de custo para
tratamento da saúde por causa da incorporação da tecnologia e especialização profissional, (b) limite da medicina em
diminuir a mortalidade e morbidade, assim como, de aumentar a expectativa de vida da população, (c) avanços lentos e
pequenos no tratamento de doenças crônicas e degenerativas e, (d) aparecimento de doenças iatrogênicas,
psicossomáticas, ocupacionais e neoplasias (SILVA JÚNIOR, 1998).

Foi a partir do questionamento a respeito do modelo biomédico que novos modelos de intervenção, incluindo outras
disciplinas da saúde, apareceram. Neste momento foram observadas evidências da interferência de variáveis
psicológicas e sociais no processo saúde-doença, o que promoveu a participação do psicólogo nas equipes médicas
(BARLETTA, 2002; TRAVERSO-YÉPEZ, 2001).

É dessa forma, que ainda nos anos 70, surgem duas áreas de atuação: a Psicologia da Saúde e a Medicina
Comportamental. A Medicina Comportamental foi definida como a integração das ciências médicas e comportamentais,
baseada em estudos que mostravam a relação entre saúde e comportamento e nos princípios do behaviorismo e do
cognitivismo (BARLETTA, 2002; TRAVERSO-YÉPEZ, 2001). Apesar disto, ainda no início do século XX, por volta
dos anos 30, Freud já desenvolvia uma linha teórica denominada Medicina Psicossomática, a qual apontava o “papel de
conflitos emocionais na aparição de sintomas que não mostravam nenhuma causa física imediata”, pautada nos
conhecimentos da psicanálise (TRAVERSO-YÉPEZ, 2001, p.50). Por causa da contemporaneidade, muitos autores
consideram os termos como sinônimos, porém outros ressaltam que a psicologia da saúde trabalha em uma perspectiva
social e utiliza-se de conhecimentos gerados na psicologia de uma forma geral, enquanto a Medicina Comportamental e
a Medicina Psicossomática se utilizam de conhecimentos de linhas teóricas específicas, porém ambos têm o mesmo
objetivo (BARLETTA, 2002).

A despeito da inserção dos psicólogos nas equipes interdisciplinares, apenas em 1997 que a American Psychological
Association - APA - oficializou a especialidade da psicologia no contexto da saúde. O nome conferido por essa
associação foi Psicologia Clínica da Saúde, e se baseou na primeira proposta de definição da área, dada por Joseph
Matarazzo em 1982: “um conjunto de contribuições científicas, educativas e profissionais, que as diferentes disciplinas
psicológicas fazem à promoção e manutenção da saúde, à identificação dos correlatos etiológicos e diagnósticos de
saúde, à doença e as disfunções relacionadas, à melhora do sistema sanitário e à formação de uma política sanitária”
(BARLETTA, 2002; TRAVERSO-YÉPEZ, 2001, p.51). Dessa forma, a psicologia da saúde aplica seus princípios,
técnicas e conhecimentos nos problemas inerentes ao processo saúde-doença, tendo como base o modelo
biopsicossocial. Vale ressaltar que a atuação do psicólogo da saúde independe do contexto, podendo ocorrer em
hospitais, centros de saúde comunitários, PSF, organizações não-governamentais, domicílios, empresas, escolas, entre
outros.

Enquanto no âmbito mundial a psicologia da saúde vinha se firmando, no final da década de 80, surgiu no Brasil a
Psicologia Hospitalar. Foi assim chamada devido ao fato de que as políticas de saúde no país estavam (e ainda estão)
centradas no hospital, priorizando o modelo assistencialista e paternalista de atenção secundária e terciária. Apesar do
movimento sanitarista no Brasil, que tem como luta a construção e implantação de um sistema de saúde democrático e
eficaz, estar cada vez mais forte, as ações ligadas à saúde coletiva ficaram em segundo plano (CASTRO &
BORNHOLDT, 2004; TRAVERSO-YÉPEZ, 2001). A partir deste referencial, o trabalho com saúde no país tem, a
priori, um lugar pré -determinado, que define o nome da especialidade em psicologia e a distancia das atividades
práticas por ela desenvolvidas. Essa idéia é corroborada na fala de Castro e Bornholdt (2004), o qual afirma que:

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“... o hospital passa a ser símbolo máximo de atendimento em saúde, idéia que, de alguma
maneira, persiste até hoje. Muito provavelmente, essa é a razão pela qual, no Brasil, o trabalho da
Psicologia no campo da saúde é denominado Psicologia Hospitalar, e, não, Psicologia da Saúde.”
(p.50).

Além da APA, outro órgão internacional, o Colégio Oficial de Psicólogos da Espanha – COP – aponta o trabalho do
psicólogo em hospitais como um dos possíveis locais de atuação do psicólogo da saúde. Para este órgão o psicólogo que
atua na instituição hospitalar deve ter por base os princípios da psicologia da saúde, o que transforma a atuação
hospitalar como uma estratégia da atuação em saúde (CASTRO & BORNHOLDT, 2004).

Atualmente o termo Psicologia da Saúde está sendo cada vez mais discutido no Brasil, levantando uma série de
questionamentos sobre aspectos do trabalho da psicologia neste campo. Nesse sentido, verifica-se uma aproximação da
psicologia com as políticas públicas em saúde e a saúde comunitária, apontando para a necessidade do trabalho voltado
também para a atenção primária e repensando as questões epistemológicas da psicologia hospitalar. Reforçando essa
idéia, em 2006, ocorreu o I Fórum Nacional de Psicologia e Saúde Pública, promovido pelo CFP e oficinas de
Formação de Psicologia em Saúde, promovidas pela Associação Brasileira de Ensino em Psicologia – ABEP. Ainda
assim, no país a ênfase do trabalho em saúde está no contexto hospitalar.

Pensando no âmbito hospitalar, o psicólogo deve utilizar-se dos recursos técnicos já conhecidos da psicologia, como
observações sistemáticas, técnicas de entrevistas entre outros. O profissional também deve se informar a respeito do
paciente e seu adoecimento, buscando conhecer questões sobre diagnostico, prognóstico, riscos, cuidados necessários,
propedêutica, tempo de internação. Fazer um diagnóstico situacional também se faz necessário. Tais conhecimentos são
importantes para que possa ser traçado uma intervenção, com objetivos claros, estabelecendo forma de atendimento,
tempo de duração do processo terapêutico e técnicas a serem utilizadas, isto é, um anteprojeto de trabalho (ALAMY,
2001).

Além desse trabalho voltado diretamente para o paciente, a psicologia pode influenciar no processo de humanização,
isto é, enfatizar além da competência, pré-requisito primordial para qualquer profissional da saúde, o atendimento às
demais necessidades, especialmente de caráter relacional. Assim, o psicólogo tem focado esse aspecto seja no próprio
atendimento seja na atuação de outros profissionais. A partir desse foco sua atuação deve resgatar a importância dos
aspectos emocionais inerentes ao processo saúde-doença e o respeito à vida humana, nas mais diversas situações,
envolvendo aspectos sociais, éticos, educacionais, religiosos, culturais e psíquicos das relações humanas. Nesse sentido,
o trabalho do psicólogo deve ajudar a construir um atendimento em saúde em que a “competência e cortesia, técnica e
educação, saberes e humanidade, andem de mãos dadas...” (PINHEIRO, 2005, p. 28).

A partir desta visão, a psicologia torna-se imprescindível no acompanhamento de pacientes e familiares, uma vez que os
ajuda a lidar com os aspectos das doenças que levam às alterações emocionais, como a associação às idéias de morte,
sofrimento e solidão. A eficácia de sua atuação auxilia no entendimento do processo de adoecimento, na adesão ao
tratamento, na colaboração da família, na comunicação com a equipe e, por conseguinte, na eficácia da atuação dos
outros profissionais (CASTRO, 2001). Para tanto, é fundamental que o psicólogo conheça e caminhe pelos
conhecimentos de áreas distintas, com intuito de estabelecer uma comunicação efetiva entre a equipe profissional, assim
como, fundamentar as próprias metas de atuação. Tal conduta se baseia na mudança dos aspectos da saúde, em que um
único profissional não consegue dar conta de todas as variáveis inseridas no adoecer e na complexidade humana. O
trabalho em equipe se torna essencial, e “distingue-se pela homogeneidade dos objetivos a serem atingidos” (RIBEIRO,
ARAÚJO, MESQUITA, MACHADO, CARREIRO & CAL, 2004).

A interdisciplinaridade pode ser considerada como uma forma extremamente positiva para resolução de alguns
problemas entre a equipe de saúde e na assistência ao paciente. Um dos problemas que podem ser amenizados é o da
comunicação entre a equipe. Outro problema é o da comunicação de algum diagnóstico, resultado ou tratamento para o
paciente. Em geral, credita-se ao profissional médico, por sua formação, tal papel. Porém, “nem sempre essa
competência técnica lhe confere condições emocionais para fazê-lo” (CREPALDI, 1999, p. 93). No trabalho em equipe,
o profissional de medicina pode encontrar respaldo emocional, deixando-o mais à vontade para desempenhar tal função,
assim como a equipe tem maiores condições de aproximar-se do paciente e dos familiares, assegurando assistência
biopsicossocial. Verifica-se que no trabalho interdisciplinar, um profissional pode ser apoiado por outros da mesma

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 7
equipe. Porém, a equipe interdisciplinar, isto é, “àquela equipe envolvida nos esforços para se tratar com dignidade o
paciente, considerando-o nos seus aspectos biológicos, sociais, psicológicos e es pirituais” (ALAMY, 2003, p. 209) é
considerada exceção no hospital, pois na grande maioria encontra-se equipes multidisciplinares ou mesmo EUquipes2 .

Apenas para considerar alguns exemplos sobre a comunicação intra-euquipes e comunicação de um óbito para
familiares, faz-se menção a duas cenas ocorridas em um hospital de referência do interior do país. Neste hospital atuam
vários profissionais da saúde de áreas distintas, mas que não trabalham em equipe efetivamente. O primeiro caso
ocorreu na maternidade, em que uma mãe em trabalho de parto estava extremamente assustada, nervosa e solitária. O
psicólogo foi chamado, pois as auxiliares de enfermagem não sabiam o que fazer para acalmar a paciente que se
encontrava aos berros no quarto destinado as mulheres neste estágio. O médico já havia passado para ver a paciente há
duas horas, mas disse para as auxiliares que esperaria um pouco mais. Desde então, a paciente foi alterando sua
conduta, ficando mais agressiva e gritando mais forte, uma vez que as dores foram tornando-se insuportáveis e não
havia nenhum acompanhante. Ao mesmo tempo as auxiliares não podiam ficar com uma única paciente, pois a
maternidade estava lotada. O trabalho do psicólogo foi o de dar suporte emocional para a paciente naquela situação.
Inicialmente ele ensinou a respiração adequada para o trabalho de parto, reconstruiu aquele processo junto com a
paciente, além de ficar ao seu lado. Por volta de uma hora após o início do trabalho do psicólogo, o médico responsável
pela paciente retornou para levá-la ao centro obstétrico. Ao entrar no quarto, questionou com a auxiliar de enfermagem
quem era aquela pessoa que se encontrava com a paciente, quem havia permitido sua entrada e o que ele fazia ali. O
próprio psicólogo tomou a palavra, respondendo as questões, mas continuou como um intruso e não mereceu uma
olhada sequer do outro profissional. Nesta situação, nota-se a falta de conhecimento entre os próprios membros do que
deveria ser uma equipe, além da falta de conhecimento de seu fazer, sua ação. Para Crepaldi (1999) “em primeiro lugar
é necessário pensar como os profissionais desumanizam-se mutuamente no cotidiano do hospital... a começar pelas
relações hierarquizadas e assimétricas que a realidade institucional lhes impõe”. (p. 93).

Uma outra dificuldade cotidiana encontrada nesta instituição de saúde é informar a família sobre o óbito do paciente.
Nesse sentido, o médico assina o laudo, mas delega a função de informar para a enfermagem, que por sua vez delega a
comunicação para o fisioterapeuta, que passa para a nutricionista, para a assistente social, etc. Em geral, a informação é
emitida pelo vigia da portaria do PS, local onde geralmente a família fica esperando, uma vez que não se permite o
acesso ao paciente, especialmente se este se encontra na UTI. Segundo Crepaldi (1999) a tarefa de comunicar pode ser
delegada àquele membro da equipe que tenha maiores condições para efetuar a tarefa, sempre respeitando a dor e o
sofrimento dos envolvidos. Os profissionais escolhidos devem estar tecnicamente e emocionalmente preparados, e caso
seja necessário obter mais informações, acompanham o paciente a presença do médico. Mas será que o porteiro deve
exercer este papel? E os profissionais de saúde, o que pensam a esse respeito? De fato, o porteiro não tem formação
adequada para tal função, mas se àqueles profissionais que, pelo menos em tese, o tiveram não se sentem preparados, o
que fazer? Se houvesse um trabalho em equipe, possivelmente esta situação seria diferente.

Pautado neste raciocínio, um fator essencial no atendimento diz respeito às questões éticas, perpassando pelo
questionamento do que é ser ético, pelo código de conduta profissional e pela deontologia aplicada à psicologia, assim
como, princípios bioéticos inerentes à área da saúde.

ÉTICA EM PSICOLOGIA HOSPITALAR

A palavra ética tem sua origem grega nos termos éthos ou êthos, sendo que o primeiro significa hábito e o segundo se
traduz no lugar onde se vive habitualmente, a maneira de ser ou a forma de pensar. Assim, a palavra ética implica na
ciência relativa aos costumes, ao modo de vida, incluindo o caráter e a moral do homem (OLIVEIRA & CAMÕES,
2002). A ética é considerada a filosofia moral, uma vez que problematiza e interpreta os valores morais. E o que são os
valores morais? São aqueles concernentes ao bem e mal, ao permitido e proibido, que norteiam o caminhar de uma
sociedade e regulam as relações sociais. Porém a moral está diretamente atrelada a livre escolha de ação do sujeito
perante qualquer situação, ainda que sua sociedade lhe vislumbre a conduta correta (MEDEIROS, 2002). Segundo esse
mesmo autor, pode-se dizer que:

2
VILAS BOAS, Andréia Cristina. Relato escrito em sala de aula virtual do Curso de Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde,
2007.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 8
“A moral, portanto, refere-se à normativa oriunda da sociedade, refere-se aos costumes, normas e
regras que permeiam o cotidiano e que visam a regular as relações entre os sujeitos. A ética é a
reflexão crítica sobre a moral, ou seja, pensar naquilo que faz, repensar os costumes, normas e
regras vigentes na sociedade”(p. 31)

Para Segre (2002) a ética é resultante do desenvolvimento do indivíduo, estabelecendo-se para cada um de forma
singular, como uma self-ética. Enquanto a moral resulta de valores sociais, impostos pelos grupos nos quais o indivíduo
pertence, seja ele a família, comunidade, religião, profissão, etc. Sendo assim, a moral seria resultado da obediência,
pois traz consigo a noção de prêmio ou castigo. Nesse sentido, reforça-se a idéia de que a ética se diferencia da moral
pela postura crítica de cada indivíduo frente às normas e condutas estabelecidas.

Partindo desse pressuposto, se assume que o ser ético requer mais do que o conhecimento das normas implícitas e
explicitas de uma sociedade. O sujeito ético assume postura ativa e dinâmica, uma vez que questiona, problematiza,
flexibiliza e repensa a situação antes de partir para a ação, não se limitando apenas às circunstancias ou àquilo que é
considerado moralmente certo ou errado (MEDEIROS, 2002). A ética leva o psicólogo a ver o paciente como uma
pessoa singular e que está em relação constante com o mundo ao seu redor. Segundo Aristóteles (apud Oliveira &
Camões, 2002, p. 2) “ser ético é muito mais que um problema de costumes, de normas práticas. Supõe uma boa conduta
das ações, a felicidade pela ação e a alegria da auto-aprovação diante do bem feito”.

Além das normas morais vigentes, que norteiam as ações e relações sociais, as normas jurídicas regulam tais ações.
Assim, diferentemente da moral, as normas jurídicas não permitem que convicção individual e a liberdade de escolha
norteiem a ação do sujeito. As normas jurídicas são impostas e obrigatórias para todos, e sua desobediência implica em
punição por órgãos competentes. Vale ressaltar que existe um sistema jurídico único enquanto existem diversas morais
em uma mesma sociedade (MEDEIROS, 2002).

O termo deontologia, que se insere nas normas jurídicas e está voltado para categorias profissionais, também tem sua
origem na Grécia, o qual déon ou déontos significa dever, enquanto logos implica em tratado, estudo. Nesse sentido,
deontologia é relativa ao conjunto de deveres, princípios e normas adotados por profissionais. Isto é, a deontologia
aplicada à psicologia é o conjunto de códigos éticos adaptados às particularidades do exercício profissional específico
da área levando em consideração questões culturais do país (OLIVEIRA & CAMÕES, 2002). Ao se falar de
deontologia é necessário abordar a diceologia, em que a palavra grega dikeos significa direito. Entende-se então a
diceologia como um conjunto de códigos dos direitos profissionais. Ambos são codificações resultantes do convívio
social, ligado mais aos aspectos moralistas, a fim de regulamentar harmonicamente o grupo profissional (SEGRE,
2002).

Segundo Oliveira e Camões (2002), os códigos de ética podem ter funções normativas, vinculativas e reguladoras.
Porém, este código não deve ser apenas uma teorização sobre o que é certo e o que é errado, e não deve proporcionar
soluções pré-fabricadas. Deverá sim conter “a condensação de reflexões constantes do ser humano, como sujeito de
mudanças, e por outro lado, a cristalização de normas e condutas comportamentais do agir psicológico” (p. 2).

Como o código de ética está pautado nos valores universais, sócio-culturais e àqueles inerentes à profissão, tornam-se
flexíveis e dinâmicos de acordo com as mudanças sociais e profissionais, requerendo uma contínua reflexão. Neste
sentido, o terceiro e último código de ética profissional do psicólogo foi aprovado pelo CFP em julho de 2005, e entrou
em vigor no mês de agosto do mesmo ano. De acordo com este código, sua função primária não seria de normatizar a
natureza técnica do trabalho, mas assegurar um padrão de conduta que fortaleça o reconhecimento da psicologia,
respeitando os valores relevantes para a sociedade brasileira e para as práticas desenvolvidas no país (CFP, 2005).

De acordo com o código de ética, o trabalho do psicólogo tem como princípios fundamentais o “respeito e a promoção
da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a
Declaração Universal dos Direitos Humanos” (CFP, 2005, p.7). Além disso, o trabalho do psicólogo deve visar à
promoção de saúde e a qualidade de vida das pessoas e coletividades. Nesse sentido, deverá contribuir para eliminar
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, assim como, deve estar
atento à sua responsabilidade social. Outro ponto importante a ser citado do código de ética do psicólogo é o veto a
qualquer ação que induza às convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 9
qualquer tipo de preconceito, respeitando o outro com suas diferenças e singularidades (CFP, 2005).

Apesar do código de ética da psicologia estar preocupado com questões relacionais e de direitos humanos, devido sua
função coercitiva o agir de acordo com suas normas não caracteriza necessariamente uma postura ética. O código de
ética não traz respostas precisas às questões éticas, apontando para a necessidade de uma reflexão crítica de seu
conteúdo. Desta forma,

“fica demarcado, portanto, o caráter referencial do mesmo, ou seja, que este serve como um
relevante norteador para as atividades dos profissionais da categoria, pois trata de direitos, deveres
e responsabilidades. As particularidades de cada situação exigem uma ampla reflexão que inclui o
Código de Ética Profissional do Psicólogo, mas não se limita a ele” (MEDEIROS, 2002, p. 33)

Em conseqüência ao processo, anteriormente supracitado, de modernização da saúde pautada na cientificidade, houve


um contínuo processo de despojamento dos pacientes, conforme denominado por Crepaldi (1999), no qual o paciente se
desfaz de tudo aquilo que o caracteriza como indivíduo singular, perdendo sua identidade. Além disso, a visão dos
profissionais cada vez mais específica de partes do ser humano acarretou em práticas pouco éticas, gerando uma
calosidade profissional em relação ao sofrimento e a dor do outro. O comprometimento apenas com a eficiência técnica
e com a doença gerou condutas que desfavoreceram a humanização e os direitos dos pacientes.

Essa forma de atendimento tornou-se tão comum que, muitas vezes, profissionais com um grau de excelência técnica
cometem absurdos sem perceberem a ocorrência da falta ética. Por vezes, pacientes em situações de extrema
vulnerabilidade são apelidados, humilhados ou mesmo feitos de chacota entre a equipe. Em um hospital regional foi
realizada uma cirurgia de fêmur de uma paciente de 65 anos, senhora simples, da roça e que se encontrava bem acima
do peso ideal. Durante a intervenção estavam presentes três ortopedistas, a enfermeira-chefe do centro cirúrgico, uma
auxiliar de enfermagem e a psicóloga, que participou a pedido da própria paciente. No início do ato cirúrgico, com a
necessidade de virar a paciente de lado, alguns membros da equipe iniciaram uma série de piadinhas do tipo: essa vaca
gorda parece um hipopótamo, arranca essas banhas e faz toucinho, entre outras mais. Neste momento a paciente já
estava sedada, mas consciente, ou seja, ouvindo toda a conversa. O resultado negativo desta situação foi vivenciado no
pós-cirúrgico, quando a paciente passou a recusar o atendimento de qualquer profissional e a não aceitar a prescrição
médica. Com isso, a paciente teve uma série de complicadores na sua recuperação e passou a ser taxada como uma
péssima paciente. Nessa situação toda a dignidade e integridade da paciente foram desrespeitadas, uma vez que a ação
de saúde foi baseada apenas no ato técnico cirúrgico, desconsiderando quaisquer outros aspectos. Assim, ratifica-se que
o questionamento e o repensar das condutas profissionais devem fazer parte da rotina de ação dos mesmos. Nesse caso,
uma pergunta surge ardentemente: qual deve ser a postura ética dos profissionais que não concordam com a atitude de
alguns membros da equipe? Qual a postura ética do psicólogo, que a priori, não faz parte da equipe cirúrgica, nesta
situação?

Alguns princípios norteiam essa busca de possibilidades de respeito a todos, especificamente no campo da saúde, de
acordo com a bioética. A bioética é a parte da ética que enfoca as questões da vida humana e, por conseguinte, da saúde
e da morte (SEGRE, 2002). Nesse sentido, tais princípios norteiam todo e qualquer profissional de saúde, não se
limitando a atuação do psicólogo. Quatro princípios são fundamentais para os profissionais que atuam com a assistência
a saúde: da beneficência, da não-maleficência, da autonomia e da justiça e equidade.

O princípio da beneficência é regra básica na relação com o paciente, pois foca o bem do mesmo como alvo essencial
da construção da saúde, evitando a ocorrência de prejuízos em função da intervenção do profissional. Atrelado a este
princípio está o da não-maleficência, isto é, não fazer o mal (MEDEIROS, 2002; PIVA & CARVALHO, 1993). É
importante relembrar que o bem do paciente, norte da ação de qualquer profissional de saúde, não necessariamente tem
o mesmo significado para ambos. Assim sendo, pode haver uma lacuna entre os objetivos na relação de saúde. Mais
uma vez certifica-se a importância da comunicação e enfatiza -se o papel do psicólogo neste processo.

Os princípios bioéticos não são estáticos, dependendo da ocasião, um dos princípios se sobrepõe ao outro. Isto é, em
situações nas quais ainda existem medidas que tenham benefícios, mesmo que tragam algum grau de sofrimento, a
preservação da vida torna-se o primeiro objetivo. Porém, se não existe mais terapêutica medicamentosa e que o paciente
é considerado terminal, em fase de morte inevitável, o alívio do sofrimento torna-se o principal foco da conduta (PIVA

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 10
& CARVALHO, 1993). Um dos pontos relevantes nessa questão é saber quando há esta inversão de expectativa, em
que momento se pode dizer que o paciente é terminal. De acordo com Torres (2003) um marco que acendeu a discussão
sobre o tema foi o caso de Karen Quinlan, que internada na UTI aos 21 anos em coma por abuso de drogas foi
considerada como paciente terminal, sem possibilidade de reversão do quadro. Enquanto familiares tentavam retirar o
respirador e outros aparelhos que a mantinham viva, o médico responsável e sua equipe se negaram a fazê -lo. Por fim,
após ganhar na justiça pelos princípios da não-maleficência e da autonomia, os aparelhos foram desligados, mas a
paciente continuou viva por nove anos. Para Castro (2001) o princípio da não-maleficência inevitavelmente “deve ser
avaliado baseando-se no princípio do respeito à autonomia” (p. 50).

O princípio da autonomia refere-se à escolha individual, ao poder da tomada de decisão frente às situações que afetem a
própria vida, perpassando pelos aspectos relacionais, de bem-estar e integridade total. Tal princípio tem como pilares os
valores, necessidades e prioridades pessoais. Para que o princípio da autonomia seja evocado é preciso que haja,
incondicionalmente, alternativas para ação. Mas, muitas vezes, o paciente não tem conhecimento ou informação sobre
possibilidades diferenciadas de tratamento e suas conseqüências na relação de saúde. O direito ao consentimento livre e
informado algumas vezes é deixado de lado, não permitindo a participação do paciente na escolha da ação. Outras
vezes, apesar de receber informação, o ruído na comunicação é demasiado, o que acaba por levar o paciente a não
compreender as alternativas, suas implicações, benefícios e conseqüências colaterais (MEDEIROS, 2002; TORRES,
2003). Alguns exemplos dessa dificuldade são: o uso de linguagem não acessível, com jargões técnicos; a rapidez e o
pouco detalhamento da informação; a falta de coerência e consistência na informação; a contradição entre a linguagem
verbal e não verbal; fatores psicológicos que distorcem a informação, entre outras barreiras. Segundo Muñoz e Fortes
(apud Medeiros, 2002) “a pessoa autônoma tem o direito de consentir ou recusar propostas de caráter preventivo,
diagnóstico ou terapêutico que afetem ou venham a afetar sua integridade físico-psíquica ou social” (p. 35).

No intuito de exemplificar tal situação, contar-se-á um caso de dificuldade de compreensão das conseqüências da
intervenção. Um paciente, queixando-se de muita dor no dente, foi encaminhado para o médico oncologista de cabeça e
pescoço pelo dentista, em atendimento ambulatorial. Este paciente tinha um tumor maligno na mandíbula inferior que
precisava ser retirado. Após examinar e diagnosticar o médico informou que precisaria fazer uma cirurgia para retirar o
tumor, o que iria acarretar em perda óssea, ou seja, que um pedaço do osso facial seria retirado. Neste caso foi explicado
ao paciente como deveria ser o procedimento e suas conseqüências. O paciente aceitou a intervenção e o tratamento,
concordando com a necessidade da operação. Em seguida da alta hospitalar, após a intervenção cirúrgica, o paciente
entrou com uma ação contra o médico e contra a equipe de saúde, alegando que não sabia que iria ficar com o rosto
deformado. A deformidade facial é uma conseqüência do ato cirúrgico, isto é, uma iatrogenia. Porém, se não houvesse a
operação os efeitos da doença seriam muito piores, podendo acarretar na morte do paciente. Neste caso, é extrema
importância que o paciente compreenda as conseqüências positivas e negativas da intervenção e da não intervenção para
que, junto com a equipe possa tomar uma decisão. A psicologia pode facilitar o entendimento da situação e diminuir o
vácuo existente entre a equipe e o paciente.

O sujeito que tem autonomia é alguém determinado pela liberdade de ação, porém essa autonomia individual não
significa uma liberdade total. Existe a autonomia do paciente, mas também a autonomia do profissional de saúde. Isto
implica em dizer que toda ação tem conseqüências que podem afetar as outras pessoas. Pode surgir então um conflito
entre as partes, uma vez que alguns pacientes recusam intervenções enquanto os profissionais fazem de tudo na busca
da saúde; ou mesmo quando pacientes e familiares querem insistir no tratamento e os profissionais recusam as
intervenções por considerá-las fúteis. Verifica-se a necessidade de re-significar o conceito e o limite da autonomia,
levando em consideração a medicina tecnológica e os valores individuais de todos os envolvidos na situação. É preciso
considerar os desejos do paciente e as tradições éticas do profissional (MEDEIROS, 2002; TORRES, 2003). Para tanto
é preciso incluir a chamada ethics of care nas discussões, isto é, a ética do cuidado, que também leva em conta o
envolvimento emocional que continua negligenciado no atendimento em saúde (SEGRE, 2002; TORRES, 2003).

Alguns pacientes abrem mão dessa prerrogativa, ao anunciarem que não desejam receber informações sobre sua doença.
Qual a postura do profissional, neste momento? Não informar seria não permitir que o paciente exercesse sua
autonomia na tomada de decisão, ao mesmo tempo em que informar arbitrariamente seria também a quebra da decisão
do paciente em não saber. Mais uma vez, deve-se retomar alguns pontos já mencionados, antes de se tomar uma posição
frente à situação.

Por último, mas não menos importante, não se pode deixar de mencionar o princípio da justiça e eqüidade, que tem por

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finalidade discutir a distribuição dos recursos na saúde e o acesso do paciente a um nível satisfatório de tratamento,
resgatando o conceito de imparcialidade (CASTRO, 2001; MEDEIROS, 2002). Atualmente, existem muitas políticas
públicas na saúde que apontam na direção de um sistema universal, mas, apesar disto, ainda existe uma grande
diferença nos atendimentos. Verifica-se que cada vez menos a população tem condições financeiras para arcar com
custos de tratamentos, apenas uma pequena parcela se encaixa neste perfil. Uma parte da população mantém despesas
com planos de saúde, o que não garante assistência integral. Mas a grande parcela da população depende da assistência
gratuita, que se encontra sucateada e sem condições de abranger a todos. Este princípio abarca uma grande
complexidade de questões, incluindo política, economia, distribuição de renda (MEDEIROS, 2002).

Para finalizar esta reflexão, mais um caso será exposto, para que cada leitor possa rediscutir a postura ética individual e
de equipe. Em um hospital universitário houve uma briga entre a equipe que cuidava de pacientes soropositivos. Assim,
surgiram duas equipes de saúde. Uma delas passou a atender os pacientes apenas ambulatorialmente, enquanto a outra
equipe, além do atendimento ambulatorial (em dias diferentes da primeira equipe) ficou responsável pelos pacientes
internados. Um paciente de 28 anos, sem família, muito conhecido de todos os profissionais, mas que era atendido pela
primeira equipe, teve uma piora em seu estado de saúde e foi internado no pronto socorro. Este paciente permaneceu
por três dias no isolamento, sem acompanhamento de qualquer uma das duas equipes, e finalmente faleceu por
negligência de atendimento. A primeira equipe responsabilizou a segunda, alegando que não era responsável pela
internação. A segunda equipe responsabilizou a primeira, alegando que não era responsável por aquele paciente, e que o
PS não era internação efetiva na clínica médica. Neste exemplo uma briga pessoal entre equipes acarretou
conseqüências de extrema gravidade. Muitas perguntas são feitas, mas poucas respostas são encontradas. Qual a postura
ética que as equipes deveriam tomar? Qual a postura ética dos outros profissionais frente a essa situação? E qual a
posição da direção da instituição? Se o paciente não estivesse em um hospital público, teria um atendimento
diferenciado? Por ser um hospital-escola, como fica o ensino aos estudantes de saúde frente a essa situação?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme Castro (2001) afirma, pode-se dizer que uma pessoa é ética quando esta apresenta “maturidade emocional
que permita lidar com situações conflitantes, que tenha vida interior equilibrada e um bom grau de adaptação à
realidade do mundo” (p.48). Nesse sentido, a psicologia e a ética juntas podem contribuir para estudos e reflexões do
processo saúde-doença.

Com o que foi exposto no texto, certifica-se a importância de uma reflexão a respeito das ações do psicólogo (e de todos
os profissionais de saúde), não se limitando a uma consulta ao código de ética profissional ou aos princípios da bioética,
e sim a uma inter-relação dos mais diversos instrumentos supracitados. Fica claro que o psicólogo não deve priorizar
aquilo que considera bom e correto em detrimento dos valores, crenças e princípios do paciente. Por outro lado, os
psicólogos devem permanecer autênticos as suas próprias crenças e valores, sem desconsiderar as obrigações para com
o paciente. A postura ética permite a coexistência de valores, possibilitando uma ação que sirva a todos, que seja
flexível para conciliar todas as crenças sem comprometimento dos direitos legais dos pacientes (CASTRO, 2001;
MEDEIROS, 2002).

O presente trabalho não pretende esgotar qualquer discussão sobre a ética do fazer do psicólogo enquanto profissional
de saúde, apenas tem a intenção de levantar algumas questões e reiniciar uma discussão indubitavelmente importante.
Muitos aspectos não foram aqui abordados, mas a partir desta pequena reflexão sobre os aspectos éticos e bioéticos que
norteiam os fazeres profissionais, incluindo o trabalho da psicologia, nota-se que acima de tudo o respeito ao próximo,
respaldado pela empatia, são aspectos imprescindíveis . As estratégias do psicólogo hospitalar devem ser de suporte aos
pacientes, seus familiares e equipe de saúde, no intuito de minimizar o sofrimento, estabelecer uma boa relação entre a
equipe e entre equipe e paciente, maximizar a comunicação e estabelecer vínculos efetivos. Tais estratégias devem
sempre levar em consideração o paciente em toda sua complexidade biopsicossocial, assim como, as especificidades do
atendimento.

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____________________
Recebido em 21/06/2007
Aprovado em 21/08/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 13
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO SUPORTE AO PACIENTE,
FAMÍLIA E EQUIPE MULTIPROFISSIONAL
NO PROCESSO DA HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR
Kleumar Brasil de Carvalho1

RESUMO

Neste artigo pretende-se descrever “a atuação do psicólogo no suporte ao paciente, família e equipe multiprofissional
no processo da humanização hospitalar”. A atuação do psicólogo é abrangente ao lidar com o paciente, a família e a
equipe multiprofissional. No contexto hospitalar o psicólogo, irá atuar para uma melhor recuperação junto a todos de
forma consciente e humana atendendo principalmente as condições emocionais envolvidas no processo da doença e
internação. A metodologia utilizada nesta pesquisa foi bibliográfica, onde se procurou nortear vários compêndios para
aprofundamento do tema proposto.

INTRODUÇÃO

A intenção desse artigo é relatar “a atuação do psicólogo no suporte ao paciente, família e equipe multiprofissional no
processo da humanização hospitalar”.

No âmbito do contexto hospitalar o psicólogo reveste-se de um instrumental muito poderoso no processo de


humanização do hospital, através da sua atuação e da condição de análise das relações interpessoais. Esta busca ocorre
através de um ajustamento e identificação entre paciente, família e demais equipe interdisciplinar para uma melhor
recuperação junto a todos de forma consciente e humana atendendo principalmente as condições emocionais envolvida
no processo da doença e internação.

De acordo com Severo (1993), a Psicologia fornece condições e técnicas para possibilitar as relações interpessoais que
são a mola mestra da Humanização Hospitalar.

Tanto o paciente como sua família deve receber atenção, ajuda e consideração, torna-se necessária a ação da equipe
interdisciplinar, onde o psicólogo desempenha papel fundamental.

A assistência psicológica, dentro do hospital, busca o alívio emocional do paciente e de sua família, sendo que muitas
vezes a ajuda a ser prestada implica uma mobilização de forças, em que a angústia e ansiedade estão presentes.

É importante que o psicólogo possa trabalhar também com a equipe multiprofissional, vivenciar psicologicamente a
situação, ajudando na exteriorização dos sentimentos, percebendo as angústias e criando condições para a vivência e
compreensão dos sentimentos.

Para Figueiredo e Filho (2001), se a doença é o maior sofrimento, o maior sofrimento da doença é a solidão, quando o
médico se recusa a ouvir o que o paciente tem a lhe dizer, isto tem o caráter de uma proscrição, uma excomunhão para o
paciente, muitas vezes, as pessoas não têm com quem se queixar de seus males.

Neste processo, o psicólogo é o profissional que deverá estar voltado à atenção afetiva, é aquele que ouve o outro lado
das queixas do paciente e seus posicionamentos sem estar voltado ao tratamento clínico médico, e auxilia também na
redução de sofrimento e dor do paciente durante o processo de hospitalização.

1
Psicóloga, CRP 01/8549, com especialização em Psicologia Clínica.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 14
Enquanto para Camon (2003), a conquista de o espaço hospitalar desenha-se como uma das maneiras que a psicologia
dispõe para fazer prevalecer seus preceitos de ajuda e compreensão humana; uma maneira própria de dizer coisas que
possam amainar a dor daquele que sofre e padece no leito hospitalar; um jeito novo de mostrar o valor da escuta no
desmoronamento dos sonhos e ilusões de um paciente desiludido; uma sistematização de conceitos que abarcam uma
compreensão em toda a sua multiplicidade; uma visão de mundo onde a humanização dos relacionamentos é mostrada
não apenas como possível mais como efetivação do real.

O psicólogo tem importante contribuição no sentido da humanização no hospital, humanizar o atendimento é socorrer
quanto às circunstâncias e necessidades do outro, assim como tornar mais humanas as condições de trabalho do pessoal
hospitalar.

O Psicólogo e a Psicologia Hospitalar – Breve Relato

Segundo Chiattone (1997), a atuação do psicólogo na área hospitalar iniciou-se na década de 50. Neste início haviam
somente chamados isolados; mas com o passar dos anos e com o trabalho sério desenvolvido por estes profissionais,
esta especialidade passou a ganhar força respeitabilidade e espaço.

Para Camon (2003), cabe ao psicólogo a responsabilidade da conquista do hospital como campo de sua atuação
profissional. E esta perspectiva apenas se tornará real quando sua reflexão o levar ao encontro de parâmetros que o
conduzam a uma atuação permeada pela multidisciplinaridade institucional.

Este mesmo autor reforça ainda que ao longo dos últimos 20 anos, houve um acréscimo no número de profissionais
psicólogos atuando na área hospitalar, mas algumas dificuldades ainda persistem. Por melhor que seja o embasamento
teórico, surgem dificuldades dentro da instituição para as quais somente a prática fornecerá subsídios que poderão levar
à sua solução. Como esta é uma área relativamente nova, a instituição hospitalar muitas vezes não sabe o que pedir ao
psicólogo, e cabe a ele, então, mostrar à instituição o que pode ser oferecido em termos de atuação e ajuda ao paciente.

De acordo com Campos (1995), importantes trabalhos na área hospitalar estão sendo feitos em vários países. No Brasil
o estado de São Paulo, destaca-se o pioneirismo do trabalho da Dra. Matilde Beder, que em 1954 iniciou o trabalho
hospitalar no Hospital das Clínicas.

Campos diz ainda que nos hospitais da Europa e da América do Norte, a atenção dos psicólogos para com o
comportamento humano prevê técnicas de enquadramento, sensibilização e modificação de comportamento e técnicas
clínicas de uma forma geral.

Segundo Camon (1996), as mudanças na estrutura da morbidade e da mortalidade nas sociedades modernas durante os
últimos 80 anos sugerem que a Psicologia precisa reconhecer seu potencial de contribuição no controle da doença e na
promoção da saúde física.

A Psicologia segundo Campos (1995), é a ciência cujo objeto de estudo inclui a análise, predição e a modificação dos
fatores que afetam o comportamento. Dentre as diversas áreas de estudo da Psicologia, a Psicologia Hospitalar tem sido
definida como um agregado de contribuições específicas das áreas educacional, científica, profissional e, porque não
dizer, institucional.

Quando os modelos teóricos existentes não fornecem uma aplicabilidade imediata à instituição, cabe ao psicólogo
definir sua estratégia de atuação. Assim sendo, é ele que irá ao encontro dos pacientes e definirá porque eles precisam
de seus serviços.

As perspectivas da Psicologia Hospitalar de acordo com Chiattone (1997) são bastante promissoras e alentadoras.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 15
Promissoras porque determinam a própria trajetória de suas conquistas e realizações. Alentadoras por tratar-se de uma
prática que se iniciou sem um determinismo que pudesse unificá-la a partir de pressupostos, diretrizes e construtos, mas
que cresceu além de seus próprios limites.

A Psicologia hospitalar ajudou e ajuda a humanização da prática dos profissionais da saúde dentro do contexto
hospitalar. É determinante da própria mudança da postura médica diante de um quadro intenso de patologias onde os
aspectos emocionais passaram a ser considerados no quadro geral do paciente.

Campos (1995), fala que o psicólogo tem uma atuação dentro do hospital, como um profissional da saúde, envolvendo o
indivíduo e as áreas sociais e da Saúde Pública, buscando sempre o bem-estar individual e social do ser humano.

Para Camon (2003), uma das primeiras dificuldades surgidas quando se pensa na atividade do psicólogo na realidade
hospitalar é sua inserção na instituição. A formação do psicólogo é falha em relação aos subsídios teóricos que possam
embasá-lo na prática institucional. Cria -se um abismo entre o esboço teórico de sua formação profissional e sua atuação
prática. A realidade hospitalar apresenta condições que vão exigir do acadêmico algo além de discussões meramente
teórico-acadêmica. Valores éticos e ideológicos irão surgir ao longo do caminho e exigirão performances jamais
imaginadas antes de sua ocorrência.

Alamy (2003), também relata que os pacientes devem ser atendidos por psicólogos hospitalares preparados
especificamente para esta função, reforça o seu pensamento quando diz: “tirar simplesmente o psicólogo do seu
consultório e leva-lo para um hospital não garantirá a qualidade do trabalho, porque são funções distintas, que são os
cuidadores naturais da alma”.

O psicólogo, no contexto hospitalar, depara-se com um dos direitos básicos que está sendo negado a maioria da
população, a saúde. A saúde em princípio um direito de todos, passou a ser um privilégio de poucos em detrimento de
muitos. A precariedade de saúde da população é sem dúvida alguma um agravante que irá provocar posicionamentos
contraditórios, e, na quase totalidade das vezes, irá exigir do psicólogo uma revisão de seus valores acadêmicos,
pessoais e até mesmo sócio-políticos.

Para tentar amenizar esta precariedade e o direito a saúde, foi criado pelo Ministério da Saúde o Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que tem como objetivo fundamental aprimorar as relações entre
profissionais, entre usuários hospital e comunidade, visando a melhoria da qualidade e a eficácia dos serviços prestados
a população.

A humanização hospitalar tem como meta principal no seu trabalho de humanização, a dignidade do ser humano e o
respeito por seus direitos, visto que a pessoa humana deve ser considerada em primeiro lugar. A dignidade da pessoa,
sua liberdade e seu bem-estar são todos os fatores a serem ponderados na relação entre o doente e o profissional da
saúde.

De acordo com Pessini e Bertachine (2004), é inegável a contribuição da Psicologia no contexto hospitalar,
principalmente nos últimos anos, com objetivo de resgatar o ser humano para além de sua dimensão física e biológica e
coloca-lo num contexto maior de sentido e significado nas suas dimensões psicosociais.

O Psicólogo e o Suporte ao Paciente

De acordo com Figueiredo e Filho (2001), etimologicamente, “paciente quer dizer sofredor. Mas nossos pacientes da
assistência pública, em muitos lugares, sofrem duplamente – sofrem pelo sofrimento em si e pela forma como são
atendidos”.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 16
Estes mesmos autores citam Platão quando este diz: “o maior erro dos médicos é tentar curar o corpo sem tentar curar a
alma. Corpo e alma são um e não podem ser tratados separadamente”.

Fazendo um paralelo ao pensamento de Platão, podemos dizer que o paciente durante o seu processo de adoecer, não
deve ser visto como uma parte e sim como um todo, dotado de sentimentos emoções, medo, angustias.

É do conhecimento de todos nós que a doença, a internação, as intervenções cirúrgicas trazem alterações profundas na
vida do indivíduo que se encontra internado em um hospital.

Espera-se que o psicólogo considere que o paciente, como pessoa humana, é dotada de uma personalidade para a qual
contribuem os fatores físicos, biológico, e também o fator social.

Faz-se necessário que o psicólogo leve o indivíduo a conhecer suas potencialidades, perceber as relações com suas
atitudes e suas próprias experiências, sua doença e suas reações no seu contexto de vida, fortalecendo suas
possibilidades pessoais de enfrentar e lidar com as situações de crise, buscando evitar ou aliviar o sofrimento
psicológico que causam.

Campos (1995), fala que o psicólogo sendo um profissional da saúde poderá facilitar ao paciente a identificação e o
reconhecimento do que está acontecendo com ele, ou seja, informando o que existe, o que está vivendo e o significado
para ele. Procedendo assim, estaria atendendo o indivíduo como um ser, que pensa, sente que vive socialmente e é
atingido pelo meio.

A autora cita ainda que, na investigação clínica da doença, é importante que o psicólogo possa entendê-la como
conseqüência do diálogo entre o indivíduo e o mundo, não tratando a doença como algo estranho no doente, buscando
conhecer e entender os aspectos emocionais subjacentes às queixas orgânicas.

No seu trabalho, o psicólogo poderia ir ao encontro do paciente, não esperando apenas que seja encaminhado. Poderia
criar condições, para que o paciente aja, intervenha se manifeste e contribua efetivamente no processo de sua
reintegração física, psicológica e social.

A assistência que o psicólogo presta ao paciente faz com que este esteja consciente de seus deveres, mas também de
suas responsabilidades, não delegando apenas aos outros profissionais ou parentes, a incumbência de cuidar dele.

É importante que o psicólogo deva elaborar com o paciente as explicações já dadas pelos profissionais médicos quanto
à doença que tem as intervenções, mutilações e prognóstico, fazendo o acompanhamento que se fizer necessário do
ponto de vista psicológico.

Assim, o paciente, sentindo-se compreendido, percebe-se mais seguro, amparado, aceito e assistido como um todo,
podendo entender sua doença tanto no aspecto fisiológico como nas implicações emocionais, conscientizando-se do que
é real e das fantasias.

Para Campos (1995), os hospitais são geralmente planejados para fornecer tratamento somático eficaz, não para levar
em consideração as necessidades psicossociais e a qualidade de vida dos pacientes. O mesmo se aplica às rotinas de
enfermaria e aos horários diários. Muitas vezes a relação médica paciente é substituída por exames de laboratório,
radiografias, medicamentos, etc. Esquecendo-se que, por trás de um diagnóstico há uma pessoa com um nome, uma
história e que tem a necessidade de entender esse momento de angústia despertada.

Alamy citando Cembranelli (2003), o melhor hospital em tecnologia, sem éticas, sem delicadezas, sem amor, não

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 17
produz bem estar ou curas, pelo contrário desertifica o ser humano.

Alamy (2003) continua reforçando que o paciente na maioria dos hospitais passa a ser mais um leito, ou uma patologia.
Enfatiza ainda que não seja raro em alguns hospitais o paciente ser tratado como o rim do leito xx.

Segundo Camon (2003), a despersonalização do paciente deriva ainda da fragmentação ocorrida a partir dos
diagnósticos cada vez mais específicos que, além de abordarem a pessoa em sua amplitude existencial, fazem com que
apenas um determinado sintoma exista naquela vida.

Nesse contexto surge a psicologia falando da necessidade de se escutar a dor do paciente, de abranger a totalidade dos
relacionamentos pessoais e familiares do paciente, para uma compreensão mais ampla da patologia que o acomete.

De acordo com Camon (1996), a psicologia, a despeito das categorizações e classificações vigentes, vem demonstrando
que a angústia de um paciente é diferente da de um outro e que, embora até possam apresentar reações orgânicas
semelhantes, ainda assim o sofrimento de uma pessoa não tem como ser dimensionado com o de outra.

Este autor continua defendendo o seu ponto de vista quando fala que a depressão de um jamais será vivida pelo outro;
jamais se terá como apresentar o nível de sofrimento que a depressão provoca. A depressão deste será diferente de tudo
o que foi vivido anteriormente por ele mesmo.

Quando Camon (1996) se refere ao paciente hospitalizado, não se devem excluir os processos emocionais e sociais na
tentativa de compreender e diagnosticar a doença, desde sua instalação até seu desenvolvimento.

Dando continuidade ao pensamento do autor, é ilusório pensar que o tratamento é sempre visto pelo paciente como uma
experiência benéfica e desejável. A literatura sugere amplamente que tratar a doença implica em uma série de ameaças:
à integridade física, à auto-imagem (muito relevante no caso de cirurgias, principalmente as mutiladoras), ao equilíbrio
emocional e ao ajustamento a um novo meio físico e social. O ambiente hospitalar, o tratamento e a manipulação do
paciente pôr pessoas desconhecidas, agridem-no tanto física quanto emocionalmente.

Pinheiro, Leida Mirian Hercolano (2005), relatam que se o médico ou a equipe não tiver a sensibilidade para escutar o
paciente hospitalizado, o psicólogo é o profissional preparado para escutar o seu corpo e até o seu silêncio. Neste
momento o psicólogo escutando o sofrimento do paciente estará contribuindo para amenizar a dor provocada pelo
processo do adoecer.

Uma das atribuições do psicólogo hospitalar segundo Camon (2003), é buscar informações sobre a história do paciente,
lembrando que o diagnóstico, o prognóstico e técnicas de intervenção só terão importância ao se considerar que não se
trata só de doenças, mas sim de pessoas doentes. Negligenciar neste momento e desconhecer a história do paciente, o
trabalho do psicólogo fica uma lacuna.

Para o paciente que se acha no momento da doença só e confuso, perdido no labirinto da sua dor, de sua angustia, o
Psicólogo dará a sua mão que se estende do alto do abismo para impedir a queda definitiva do paciente, e até mesmo
ampara -lo para passar a sensação de que ele não está sozinho neste mundo e que será compreendido e ajudado no
decorrer de sua enfermidade.

O Psicólogo e assistência aos familiares

A assistência aos familiares é de extrema importância na medida em que a relação família, doença e paciente evidencia
a existência de um núcleo familiar e não somente de um doente, agravado pelo fato de que, não raro, existe a

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 18
possibilidade de que somente a família continue existindo.

Segundo Camon (2003), a família, ao ser englobado no atendimento hospitalar, receberá condições e sustentáculos
emocionais para que o paciente encontre alívio no sofrimento provocado pelo afastamento do núcleo familiar.

O autor continua enfatizando que paciente-família é um binômio indivisível, e como tal deve ser abordado no contexto
hospitalar, com o risco de perder-se um aspecto muito importante na intervenção do psicólogo: as implicações
emocionais que um processo de hospitalização provoca no núcleo familiar.

A atuação do psicólogo junto a família também visará o esclarecimento das condições necessárias ao restabelecimento
físico e emocional do paciente, orientará discussões que envolvam as atitudes da relação médico-paciente, bem como
aspectos inerentes ao processo de hospitalização.

A atuação deve se dar ao nível de comunicação, reforçando o trabalho estrutural e de adaptação desses familiares ao
enfrentamento da intensa crise. Nessa medida, a atuação deve se direcionar em nível de apoio, atenção, compreensão,
suporte ao tratamento, clarificação dos sentimentos, esclarecimentos sobre a doença e fortalecimento dos vínculos
familiares.

Para a família de acordo com Campos (1995), o diagnóstico de uma doença grave, potencialmente terminal é fator de
ruptura e de intensa desestrutura psicológica. Assim como os pacientes, as famílias também passam por diferentes
estágios que envolvem um primeiro momento de choque e descrença (negação), seguido de raiva e ressentimento para
adentrar posteriormente num estágio norteado pela culpa por condutas ou sentimentos em relação ao paciente.
Posteriormente, a família encaminha-se para o estágio de tristeza (depressão) para, ao final, atingir a condição de
aceitação. Essas reações também se mostram presentes durante a evolução do tratamento.

De acordo com Camon (1986), a reação inicial da família é de choque, acompanhada por medo e ansiedades agudos do
possível resultado fatal da doença. Descrença ou mesmo negação estão associados com o choque, especialmente se o
paciente não parecer doente; seguem-se raiva e ressentimento, acompanhados de culpa. Tristeza e mesmo depressão
clínica vêm em seguida. Na maioria dos casos, a aceitação da situação “e o resultado final”.

Campos (1995), fala que além do acompanhamento psicológico desses familiares durante o período de hospitalização e
tratamento, o psicólogo poderá também realizar grupos de familiares com objetivo informativo ou operativo para
buscar e proporcionar espaço de reflexão e expressão de sentimentos, angústias, medos e fantasias, além de informar e
orientar os pais minimizando o impacto emocional e o stresse vivenciado.

O psicólogo esclarecerá seu desempenho junto ao doente, participando da rotina da enfermaria, muitas vezes contando
com a colaboração de um familiar. Além do trabalho em grupo, o psicólogo faria o trabalho de apoio psicológico
individual. Os familiares precisam ter a oportunidade de falar da doença, de seus medos fantasias sobre a morte, a
evolução da doença, expressando seus sentimentos.

Para Camps (1995), o psicólogo orienta a família nos casos de internação, nos períodos de volta à casa e nos retornos ao
hospital. Também nos caos de alta, saída do hospital, permanência em casa, reintegração às atividades familiares e
sociais, ou retorno à vida cotidiana.

Alamy cita Kubler-Ross (1998), que neste período de internação os parentes passam horas esperando nos corredores,
andando ao léu, sem nenhum tipo de informação sobre o quadro de saúde do seu ente querido, angustia dor, sentimento
de onipotência em não poder ajudar o paciente.

Neste momento é importante a intervenção do psicólogo, incentivando os familiares a perguntar sobre a evolução do

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 19
tratamento da doença, devendo esta conduta ser considerada um direito da família e do paciente.

Pode ocorrer que a família por ficar regredida, pode acabar vendo a figura do psicólogo como alguém esclarecedor que
irá sanar todas as dúvidas a respeito dos procedimentos hospitalares. Embora possa parecer fantasia, não deixa de ser
alentador neste momento de angustia contar com alguém que a escute.

Também nos casos em que as melhoras não são previstas, ou nos casos de morte, o psicólogo tem uma atuação: coloca-
se à disposição para assistir as famílias, oferecendo apoio, orientação e trabalho ou reflexão, ou seja, a família precisa
de ajuda psicológica e compreensão tanto quanto o paciente.

O Psicólogo no suporte a Equipe Multiprofissional

A relação do psicólogo com os demais profissionais de equipe da saúde deve abranger a totalidade das possibilidades
desta interação. O plano inicial, no entanto, não exclui possíveis vertentes que surjam com o decorrer do trabalho.

Segundo Camon (2003), muitas das vezes o profissional de saúde não deixa de ser assolado por sentimentos
ambivalentes de onipotência e impotência, principalmente em caso de óbito.

Este mesmo autor diz que a atuação do psicólogo junto a estes profissionais será de facilitador do fluxo dessas emoções
e reflexões, e sinalizar quando suas defesas se exacerbaram tanto, a ponto de alienarem-se de si mesmos, de seus
próprios sentimentos, favorecer a compreensão de sua onipotência.

De acordo com Campos (1995), o psicólogo precisa na equipe buscar a conscientização de todos os profissionais para o
trabalho multiprofissional. Ajudando cada profissional a ter claras suas funções, definindo seus objetivos, facilitando a
comunicação entre os membros da equipe, sendo, muitas vezes, o interlocutor entre os membros da equipe e com os
pacientes e familiares. O psicólogo buscará alertar os profissionais para a necessidade do conhecimento das atividades
dos outros membros da equipe, trocando informações e buscando atender o mais completamente possível o paciente.

Campos pontua ainda, que é conveniente junto à equipe multiprofissional, que o psicólogo discuta os casos ou situações
emergentes no ambulatório e enfermaria, visando melhor compreensão da situação do paciente, criando espaço para as
manifestações emocionais do paciente e sua família.

O trabalho em equipe, além de acrescentar conhecimentos e dividir ansiedades, favorece o surgimento de soluções. É
importante que o psicólogo busque sua integração na equipe, estando presente onde estiverem acontecendo os fatos.

Para Camon (2003), cabe ao psicólogo a responsabilidade da conquista do hospital como campo de sua atuação
profissional. E esta perspectiva apenas se tornará real quando sua reflexão o levar ao encontro de parâmetros que o
conduzam a uma atuação permeada pela multidisciplinaridade institucional.

Segundo Campos (1995), os profissionais da Saúde sofrem um desgaste muito grande no seu trabalho com o doente. O
psicólogo estaria atuando junto a estes profissionais no sentido de dar subsídios ao atendimento do paciente, além de
também poder dar suporte, no sentido de uma consultoria, ou ajudar na manutenção do equilíbrio pessoal.

Campo diz ainda, que há necessidade de uma inter-relação entre os diferentes profissionais, que devem ver o paciente
como um todo, tendo uma atitude humanizada. É importante que o psicólogo transmita seus conhecimentos e
percepções do paciente aos membros da equipe, para que estes possam ter uma visão integral do paciente.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 20
Enquanto que Severo (1993), ressalta que ao iniciar o seu trabalho numa instituição, o psicólogo deve esforçar-se para
criar um relacionamento harmonioso com toda a equipe. O psicólogo deve conhecer e fazer conhecido seu trabalho a
todos os que integram a equipe multiprofissional.

Tendo este comportamento com certeza o psicólogo, estará contribuindo para o processo de humanização hospitalar,
além de estar procurando desenvolver seu trabalho de forma interativa com toda a equipe.

CONCLUSÃO

Diante do contexto apresentado, infere-se que a atuação do psicólogo no âmbito hospitalar é de fundamental
importância, quando este profissional estará ajudando na melhoria da qualidade do atendimento aos pacientes,
familiares e equipe multiprofissional durante o processo de internação do paciente.

A atuação do psicólogo no processo de humanização hospitalar propõe-se acompanhar o paciente num momento
especial de sua vida, em que prevalecem à dor e o sofrimento, ajudando-a a encontrar a melhor maneira de enfrentar e
vivenciar a doença que se interpôs no caminho de uma meta de sua vida.

O atendimento também é extensivo aos familiares onde o psicólogo orienta a família nos casos de internação, nos
períodos de volta a casa e nos retornos ao hospital, incentivando os familiares a perguntar sobre a evolução e tratamento
da doença, esta conduta deve ser considerada um direito da família e do paciente.

Tão importante quanto à atuação junto aos pacientes e familiares é o apoio à equipe multiprofissional, onde o psicólogo
deverá incentivar o trabalho em equipe a conscientização e consideração dos aspectos emocionais das doenças dos
pacientes e dos familiares.

Infere-se que durante o adoecer do paciente, o psicólogo desempenha importante atuação dentro do contexto de
humanização hospitalar, onde o psicólogo trata o paciente como pessoa, com todos os seus sentimentos que a internação
pode lhe causar, é um olhar como um todo, e não mais como apenas um doente, ou uma parte deste ser.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma. Belo Horizonte: [s.d], 2003.

CAMOM, Valdemar Augusto Angerami et ali. Psicologia Hospitalar Teoria e Prática. 3ª. ed. São Paulo: Pioneira,
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_______. O Doente a Psicologia e o Hospital. 3ª. .ed. São Paulo: Pioneira, 1997.

_______. Psicologia Hospitalar. A Atuação do Psicólogo no Contexto Hospitalar. 3ª .ed. São Paulo: Traço, 1986.

_______. A Psicologia no Hospital. 2ª. ed. São Paulo: Traço, 1987.

CAMPOS, Terezinha Calil Padis. Psicologia Hospitalar. A atuação do Psicólogo em Hospitais. 2ª. .ed. São Paulo:
EPU, 1995.

CHIATTONE, Heloisa Benevides de Carvalho. A Psicologia fora dos Consultórios. São Paulo, Maio 1997.

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PRESSINE, L. Bertachini, L. Humanização e cuidados paliativos. São Paulo: edições Loyola, 2004.

PINHEIRO, Leida Mirian Hercolano. A importância da psicologia para a humanização hospitalar. Psicópio: Revista
Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, a.1, v.1, n.1, jan.-jul. 2005. Disponível em:
http://geocities,yahoo.com.br/revistavirtualpsicopio

SEVERO, Márcia Casella. Estratégias em Psicologia Institucional. São Paulo: edições Loyola, 1993.

____________________
Recebido em 02/06/2007
Aprovado em 02/07/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 22
ASPECTOS PSICOLÓGICOS QUE PREDISPÕEM AO APARECIMENTO E
DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER 1
Marta Betania Cardoso Tavares Luzete 2

O ser humano é um ser complexo que está em constante interação com o meio, transformando-o e criando cultura, e
sendo por ele influenciado. Suas ações decorrem da interação dos seus aspectos bio-psico-sócio-espirituais associada à
sua história de vida.

O ser saudável tem a harmonia de todos estes aspectos. Quando ocorre um fato que desequilibra um destes fatores, o
corpo é afetado como um todo. Ele, então, mobiliza seu sistema de defesa para reequilibrar-se. Porém, se o
desequilíbrio é continuo e intenso, a doença se manifesta.

“O Câncer, por exemplo, surge como uma indicação de problemas em outras áreas da vida da pessoa, agravados ou
compostos de uma série de estresses que surgem de 6 a 18 meses antes de aparecer o Câncer. Foi observado que as
pessoas reagiram a esses estresses com um sentimento de falta de esperança, desespero, desistindo de lutar por uma vida
melhor. Acredita-se que essa reação emocional dispara um conjunto de reações fisiológicas que suprimem as defesas
naturais do corpo, tornando-o suscetível à produção de células anormais”. (1)

Como se vê o Câncer não é desenvolvido por uma única causa, mas pelo somatório de várias causas. Neste artigo,
enfocarei principalmente os aspectos psicológicos que debilitam o organismo e o predispõe ao aparecimento e
desenvolvimento do Câncer, evidenciando a importância da esperança na manutenção da saúde.

E o que é Esperança?

Esperança é acreditar com confiança que se conquistará algo que se deseja. Ela está presente em todos os atos da vida. É
ela que nos faz acreditar que temos condições de aprender, de conseguir um emprego, de conquistar o ser amado, de
adquirir os bens que desejamos e de vencer as adversidades que surgem no decorrer da vida. Ela faz com que nos
sintamos senhores do nosso destino e decidamos que viver vale a pena.

Este sentimento de esperança nasce nos primeiros meses de vida, quando o mundo ainda é desconhecido para o bebê. E
a segurança básica que este estabelecerá com sua mãe será a semente da esperança que o acompanhará pela vida afora.
Durante seu desenvolvimento, cada situação nova que a pessoa conseguir enfrentar satisfatoriamente reforçará essa
confiança básica e o ajudará a aumentar o seu próprio sentimento de esperança.

E quando não se tem esperança?

Lawrence Le Shan, psicólogo experimental por formação e clínico por experiência, que trabalhou com pacientes de
câncer por mais de trinta e cinco anos, fala em seu livro O câncer como ponto de mutação (7), que as pessoas que não
tem esperanças sentem que só há dois caminhos em suas vidas:

“Elas podem ser elas mesmas, relacionar-se, existir, criar, à sua própria maneira. Se assim fizerem, ficarão
sozinhas, pois consideram que “sua maneira” de ser não é aceitável para os outros. A solidão será muito grande
para ser suportada. Ou podem seguir o segundo caminho: adaptar-se aos desejos e exigências dos outros,

1
Trabalho produzido durante o Curso Virtual Psicologia Hospitalar e da Saúde, ministrado pela psicóloga Susana Alamy.
2
Formada em Pedagogia e Psicologia, Marta Betania C.T. Luzete sempre atuou como pedagoga. Trabalhou como ‘Técnico em
Assuntos Educacionais’ do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, participando na
elaboração da Bibliografia Brasileira de Educação – BBE e na revisão do Thesaurus Brasileiro da Educação - Brased. Atualmente,
trabalha com acompanhamento escolar de alunos de 1ª a 4ª séries e, recentemente, participou do ‘Curso Virtual Psicologia Hospitalar
e da Saúde’ ministrado pela psicóloga Susana Alamy.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 23
enterrar sua singularidade, sua individualidade, e então serem aceitos pelos outros e – nas palavras de um
paciente – “receber migalhas de amor, o suficiente para quase sobreviver”. Entretanto, se seguirem este
caminho, ainda se sentirão basicamente sozinhas. Elas serão aceitas pelo que fazem, não pelo que são. Além
disso, irão se juntar ao resto do mundo na rejeição a si mesmos, e este será um fardo adicionalmente cruel e
pesado. Considerando possíveis os dois caminhos, a perspectiva parece realmente árida e o desespero
justificado. [...] O problema subjacente ao desespero é a crença de que o eu não pode ser aceito pelo que é“.
(1992, p. 107-109)

Observe que, na ausência de esperança, não há perspectivas de uma vida melhor.


A pessoa sem esperança não se sente feliz e adoece com mais facilidade.

Como a desesperança predispõe o organismo às doenças?

A Dra. Susan A. Everson, uma pesquisadora assistente do Departamento de Epidemiologia da Escola de Saúde Pública
da Universidade de Michigan e seus colaboradores sugerem “que a desesperança na vida pode afetar os níveis de um
composto chamado serotonina no corpo.” (apud 4)

A serotonina é um neurotransmissor que regula o humor, o prazer, o apetite, entre outros. Quando as células do cérebro
estão com níveis baixos de serotonina ficam incapacitadas para mandarem mensagens de bem-estar.

John Gordon, da Universidade de Birmingham, e sua equipe encontraram provas de que a serotonina pode ajudar a
destruir células cancerígenas. (apud 9)

Percebe-se, então, que a desesperança torna possível o desenvolvimento do Câncer. Para os autores do livro Com a vida
de novo (3), a desesperança faz a pessoa sentir como se estivesse “andando sem sair do mesmo lugar”, pois, não tem
esperança de solucionar seu problema. Para estas pessoas “uma doença grave ou a morte parece ser uma saída ou um
deferimento do problema.” Apesar de nem todos os pacientes terem consciência disto “muitos, porém, se lembram de
ter experimentado sentimentos de desespero alguns meses antes do aparecimento da doença. Esta desistência da vida
tem uma função importante na interferência com o sistema imunológico e pode, através de mudanças do equilíbrio
emocional levar a um aumento da produção de células anormais. Do ponto de vista físico, cria -se um clima que é ideal
para o desenvolvimento do Câncer”.

Qual é a ligação entre emoções e Câncer?

As emoções são reações naturais que têm uma finalidade adaptativa. Elas preparam o corpo para enfrentar ou se
esquivar de situações adversas bem como favorecem a aproximação e cooperação.

“O próprio termo "emo ção" (do latim, e + movere, mover-se, afastar-se) já trás implícito em si mesmo uma
ação imediata. A relação entre emoção e reação imediata fica bem explicitada nas crianças. Mas, é na criatura
adulta civilizada que mais freqüentemente se detecta uma anoma lia: nelas, as emoções - impulsos arraigados
para agir - estão divorciadas de sua reação óbvia. E, na grande maioria das vezes, são essas respostas
inadequadas às emoções, principalmente aquelas penosas e desagradáveis, que desencadeiam o estresse. [...]
Durante o estresse, é estimulada a secreção de várias substâncias endógenas, tais como as catecolaminas
(adrenalina e noradrenalina), o cortisol, a prolactina e os opiáceos naturais (beta-endorfina e encefalina).Cada
uma dessas substâncias exerce um forte impacto sobre as células imunológicas e, através de reações
complexas, acabam obstruindo suas funções de destruir células malignas. O estresse acaba com a resistência
imunológica: se a sua duração for curta, essa inibição é temporária, mas, se ele for constante e intenso, a
inibição pode se tornar duradoura, ou seja, existe uma supressão do sistema imune. […] Não é, porém, a
presença do estresse, […] mas, sim, a maneira como se reage a ele que faz a diferença tanto para que o câncer
se manifeste como também na evolução positiva ou negativa da própria doença.” (10)

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 24
Como é a história de vida emocional de pessoas predispostas ao Câncer?

Dra. Elida Evans, psicanalista junguiana, autora do livro A psychological Study of Câncer, concluiu, após análise de
cem pacientes cancerosos, que muitos deles tinham perdido alguém querido um pouco antes da doença se manifestar.

“Ela via esses pacientes como pessoas que haviam investido a sua identidade em um objeto ou papel individual
(uma pessoa, um trabalho, um lar), ao invés de desenvolver a sua própria individualidade. Quando o objeto ou
função lhes era retirada, esses pacientes tinham de enfrentar a si mesmos, com poucos recursos para fazê-lo“.
(apud 3 p.63)

O Dr. Le Shan, descreve em seu livro Brigando pela vida: aspectos emocionais do câncer (6), descobertas semelhantes
ao de Elida Evans:

“Com base em minhas observações, o padrão emocional do paciente de câncer parece possuir três elementos
principais. O primeiro envolve uma infância ou adolescência marcada por sentimentos de isolamento. Há a
sensação de que os relacionamentos intensos e significativos são perigosos e provocam sofrimento e rejeição.
O segundo elemento do padrão concentra-se no período em que é descoberto um relacionamento significativo,
permitindo que o indivíduo desfrute a sensação de ser aceito pelos outros [...] e encontre um sentido para sua
vida. O terceiro aspecto vem para o primeiro plano, quando ocorre a perda daquele relacionamento central.
Agora há um sentimento de desespero absoluto, relacionado ao sentimento de solidão da infância, porem mais
intenso. Nessa terceira fase, é predominante a convicção de que a vida não encerra nenhuma esperança. E,
algum tempo após o início da terceira fase, surgem os primeiros sintomas do câncer”. (1994, p.58)

De mais de 500 pacientes cancerosos com quem Le Shan trabalhou, “76% dos pacientes que entrevistou partilharam
deste tipo básico de historia emocional. Dos pacientes cancerosos que estavam em terapia intensiva com ele, mais de
95% tinham este padrão. Apenas 10% dos pacientes não-cancerosos demonstravam este modelo de vida.” (apud 3 p. 64)

O Dr. W. A. Greene, que analisou por 15 anos as experiências sociais e psicológicas dos pacientes com leucemia e
linfoma, também observou esta vivência de perda de um relacionamento importante na vida do paciente.

“Tanto para os homens como para as mulheres, segundo Greene, a maior perda era a ameaça de morte da mãe,
ou para o homem uma “figura maternal”, como, por exemplo, a esposa. Outros acontecimentos emocionais
importantes para a mulher eram a menopausa ou mudança de domicílio; no caso de homens, perda ou ameaça
de emprego, aposentadoria ou ameaça de aposentadoria. Greene chegou à conclusão de que a leucemia ou o
linfoma se desenvolviam num ambiente em que o paciente fora forçado a lidar com perdas e separações que
produziam um estado psicológico de desespero, desesperança e descontinuidade.” (apud 3 p. 65-66)

No livro Quem ama não adoece (11), o Dr. Marco Aurélio Dias da Silva comenta sobre este histórico de vida
característico de pacientes com câncer, ressaltando que:

“Eles não conseguem conviver bem com as perdas que a vida lhes traz, possivelmente em decorrência de más
experiências infantis de privação e desespero. Mais tarde, na vida adulta, diante de situações como perdas e
separações de pessoas queridas e importantes, toda a sensação de desespero infantil seria revivida – porém não
de fato vivenciada, com forte tendência a negar e não exprimir o afeto”. (pg.153)

Que traços de personalidade são característicos de pessoas que desenvolvem o Câncer?

Stephanie Simonton, no seu livro A família e a cura (12), fala que, tanto nos estudos de Le Shan quanto no trabalho de
Caroline B. Thomas, psicóloga da Universidade de Johns Hopkins, que durante 30 anos fez entrevistas extensas com

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mais de 1300 pessoas, há “um perfil bastante característico das pessoas que desenvolvem câncer”:

“Thomas revela que muitas pessoas com câncer experimentam uma falta de intimidade com seus pais durante o
período de crescimento, raramente demonstravam emoções fortes e eram em geral “muito passivas”. Eram
claramente pessoas que, por causa da sua baixa auto-estima, colocavam outras pessoas em primeiro lugar e
ignoravam a si mesmos e suas próprias necessidades de várias maneiras”. (p.27)

Stephanie comenta, ainda, que nos estudos feitos pelo Dr. Le Shan, com pacientes cancerosas, ele descobriu que “essas
pessoas reprimiam o seu desespero e não expressavam dor, raiva ou hostilidade em relação às outras pessoas, o que,
sem dúvida, é muito estressante. [...] Os outros, em geral, o viam como pessoas maravilhosas, sempre rindo e brincando.
[...] a qualidade positiva, a bondade destas pessoas, era na realidade um sinal tanto do seu fracasso em acreditarem
suficientemente em si mesmas como da sua falta de esperança”. (p.26)

Dr. Marco Aurélio Dias da Silva (11) explica que as pessoas portadoras de Câncer “são generosas e prestativas de uma
forma compulsiva e tendem a priorizar as necessidades dos outros em relação às próprias. [...] Ocorre que tais pessoas,
na verdade, não se amam. Ser compulsivamente generosas para os outros é o caminho que vêem parta receber de volta o
mínimo de amor de que desesperadamente necessitam”.

Percebe-se, então, que além da falta de esperança, a baixa estima e a repressão das emoções são traços característicos de
pessoas que desenvolvem o Câncer. Vamos, então, falar um pouco sobre eles:

Baixa estima

A baixa estima se traduz pela dificuldade em aceitar elogios, pois a pessoa não se acha merecedor das coisas boas da
vida. A pessoa não se cuida, nem se trata muito bem, pois, não gosta de si próprio. A pessoa se sente incapaz e
inadequado perante a vida. Em seus relacionamentos, ela não se acha digna de receber amor, culpa os outros pelos erros
e encara todas as críticas como ataques pessoais. Normalmente, se sujeita a qualquer tipo de relacionamento só para ter
alguém ao seu lado, tornando-se dependente deste vínculo e não tendo forças para sair dele.

Segundo Alírio de Cerqueira Filho, médico homeopata e psicoterapeuta, a ausência da auto-estima positiva impede
nosso crescimento psicológico.

“A auto-estima positiva funciona como se, na realidade, fosse o sistema imunológico da consciência. Fornece
resistência, força e capacidade de regeneração. Quando é baixa a auto-estima, nossa resistência diante da vida e
suas adversidades diminui. Ficamos aos pedaços diante de vicissitudes que uma percepção mais forte de si
mesmo poderia superar. Nesse caso, tendemos a ser mais influenciados pelo desejo de evitar a dor do que de
vivenciar o prazer. Fatores negativos têm sobre nós mais poder do que os positivos”. (2)

Existem várias causas para este tipo de atitude. E, assim como a falta de esperança, a baixa estima tem origem na
infância. O bebê que não tem suas necessidades básicas atendidas de forma satisfatória, não cria uma relação de
confiança e segurança com a mãe e, portanto, não começa a desenvolver uma expectativa positiva em relação ao
mundo. Sem esta relação de confiança básica, ele não adquire confiança em si mesmo, que é a base da auto-estima. E,
se ainda for humilhado, criticado, desencorajado em seu processo de autonomia, não desenvolverá a auto-estima,
duvidará de sua própria capacidade e se sentirá indigno de receber amor.

Repressão das Emoções

Em nossa cultura, muitas pessoas, reprimem suas emoções negativas ao se confrontarem com os estímulos estressantes
do dia-a-dia, demonstrando um comportamento social politicamente correto. Essa repressão se manifesta pela negação

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 26
da emoção e pelo não extravasamento dela. Porém, como já vimos anteriormente, quando as situações estressantes são
demasiadamente intensas e/ou freqüentes, começa a haver um desgaste orgânico predispondo o organismo às doenças.

Alguns pesquisadores observaram, em seus estudos, que pacientes cancerosos tem dificuldade de expressar emoções
negativas.

O Dr. D.M. Kissen percebeu que a diferença entre os fumantes que desenvolviam câncer no pulmão e as pessoas que,
apesar de fumarem tanto quanto aqueles, não desenvolviam a doença, era que os pacientes cancerosos tinham “poucas
saídas para descarregar suas emoções”.

O Dr. Bruno Keopfer, em um dos primeiros estudos psicológicos feitos sobre Câncer, conseguiu predizer qual seria a
velocidade de crescimento do tumor (rápido ou vagaroso) a partir da negação dos sentimentos dos pacientes. “Os que
sentiam uma grande necessidade de manter uma ‘boa’ imagem quando estavam sofrendo emocionalmente tinham um
crescimento mais rápido dos tumores”. (apud 3 p.84)

Stephanie Simonton (12) afirma que a pessoa cancerosa pode “mascarar a raiva, com também encobrir e negar a
depressão que dela resulta”. Para ela a pessoa com mais chances de ter esta conduta é o primeiro filho.

“As estatísticas mostram uma maior incidência de câncer nas pessoas que são os prime iros filhos. Uma
possível razão é que a família pressiona mais o primeiro filho a crescer rápido. A criança é levada a negar sua
vulnerabilidade desde tenra idade. De maneira típica, o 2º filho, que nasce em geral quando o 1º tem entre 18 e
36 meses, passa a receber toda a atenção da família. Naturalmente, o 1º filho fica muito assustado e passa a se
sentir rejeitado. Ele está numa idade em que deveria estar agindo de forma provocadora e assertiva, dizendo
não à mãe para poder se definir como pessoa. Crianças que recebem autoridade para fazer isto e conhecem os
limites impostos pelos adultos aprendem que é seguro estarem separadas da mãe e zangadas com ela. Mas, com
o novo bebe por perto, tudo isto adquire uma nova perspectiva. Agora, não é seguro gritar com a mãe. Tudo
tornou-se incerto. Adicionem-se a esses fatores o temperamento e a crença dos pais a respeito da raiva e da
vulnerabilidade. Se forem criados de maneira tradicional, eles vão dizer ao pequeno John que ‘aja como
homem’ a partir do momento que ele começa a andar - em outras palavras, que ele não deve chorar nem
depender dos outros. E se a mãe estiver sobrecarregada com um segundo filho que lhe dá problemas, a menina
mais velha será incentivada a ser uma ‘mamãezinha’ aos dois anos de idade. De uma forma ou de outra, esses
são alguns dos fatores que levam o adulto a negar seus sentimentos e a ter sintomas físicos quando está sob
tensão”. (p. 84-85)

Qual a importância de conhecer o perfil psicológico do paciente com Câncer?

Para o Dr. Marco Aurélio Dias da Silva (11), o perfil psicológico desempenha uma função importante tanto na origem
quanto na evolução do câncer:

“Mesmo os que negam a importância do psiquismo no desencadear do Câncer concordam que sua evolução,
uma vez presente, seja influenciada de forma significativa pela personalidade do doente, sua maior ou menor
resistência psíquica e ainda por sua maior ou menor disposição de lutar pela vida. Aqueles que renunciam e se
entregam evoluem mal e morrem logo. Os que mantêm acesa a chama da esperança e crença na vida; os que
querem genuinamente viver; os que têm atitudes positivas, força de vontade e objetivos na vida e assumem o
compromisso de lutar por eles; os que não se limitam apenas a aceitar passivamente o que dizem os médicos...
estes evoluem melhor, vivem mais e podem até curar-se. Além disso, mesmo que venham a morrer, o período
entre o conhecimento da doença e a morte será provavelmente, não só maior como também melhor, em termos
de bem-estar e qualidade de vida.” (pg. 154)

Carl e Stephanie Simonton realçam, também, que a atitude do paciente aumenta as defesas do organismo.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 27
“Os sentimentos de fé e esperança como as preces têm o poder, já comprovados cientificamente, de colaborar
no restabelecimento do sistema imunológico e provocar a destruição das células cancerígenas. Geram emoções
fortemente positivas que estimulam a pineal, levando a glândula a produzir quantidades ideais de melatonina,
assegurando de forma mais intensa a defesa imunológica, levando o organismo a atacar rapidamente os vírus e
as bactérias. A prece envia substâncias químicas que permitem a elevação da endorfina, encefalina e
serotonina, responsáveis pela sensação de bem estar, e que auxiliam o movimento cerebral”. (8)

Qual o papel do psicólogo junto aos pacientes cancerosos?

Os pacientes cancerosos, assim como todos os outros enfermos, devem ser tratados por uma equipe multiprofissonal, de
preferência atuando inter ou transdisciplinarmente, onde todos os seus aspectos são tratados com igual importância.

O psicólogo deve ter como enfoque principal do seu trabalho psicológico a manutenção da saúde e a prevenção das
doenças. Seu objetivo deve ser o de ajudar a pessoa a se identificar com o ser saudável que há nela, através de:

⋅ Fortalecimento da auto-estima;
⋅ Encorajamento da esperança;
⋅ Estímulo à expressão de sentimentos e emoções;
⋅ Descoberta de maneiras positivas de superar ou de conviver com emoções negativas;
⋅ Aceitação dos sentimentos e emoções, sem julgamento de valor nem sentimentos de culpa;
⋅ Valorização do perdão, pois, quando o cliente conseguir se perdoar e perdoar aos outros, estabelecerá relações
mais saudáveis e prazerosas.

Agindo assim, o psicólogo permite ao paciente reduzir vários fatores psicológicos que debilitam e tornam o organismo
propenso ao aparecimento e desenvolvimento do câncer.

Quando a doença já está instalada e há a necessidade de internação é importante que o profissional estimule a adesão do
paciente ao tratamento e reduza os impactos do adoecer e da internação no enfermo, através de atos da humanização
hospitalar.

É fundamental que o psicólogo conheça os estágios que o paciente passa na sua terminalidade, os quais foram descritos
por Elizabeth Kubler-Ross em seu livro Sobre a morte e o morrer (5), para que possa oferecer ao paciente uma melhor
qualidade de vida possível, dentro das possibilidades.

Além da atenção ao doente, o psicólogo também deve promover a saúde de seus familiares e de toda a equipe que o
assiste.

Conclusão

Ao enfocar os aspectos psicológicos que debilitam o organismo e o predispõe ao aparecimento e desenvolvimento do


Câncer, percebi que além da esperança, a fé e o amor são fundamentais na recuperação da saúde.

Ter fé é acreditar no que não se vê, é confiar no que o médico diz. A fé é a base para a esperança e o amor. A esperança
estimula a buscar tratamentos, na expectativa da cura, do bem-estar e o amor proporciona o apoio da família, a
aceitação incondicional de si mesmo, o auto-perdão, a troca de emoções positivas com outras pessoas e uma qualidade
melhor de vida.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 28
Estes três fatores permitem ao paciente enfrentar a doença com mais segurança, fazer melhores escolhas, estabelecer
relacionamentos positivos e harmônicos que proporcionarão equilíbrio psicológico e saúde.

Referência bibliográficas

1. CABRAL, Ana Paula Tolentino et al, em parceria com o Professor-orientador: Fernando Pimentel Souza . O Estresse
e as Doenças Psicossomáticas: Relação com Câncer. Revista de Psicofisiologia, vol. 1, números 1 e 2. 1997
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2. CERQUEIRA FILHO, Alírio de. Por que precisamos de auto-estima? In: Núcleo de Estudos Científicos do Instituto
Brasileiro de Plenitude Humana. Disponível em:
<http://orbita.starmedia.com/~estima/por_que_precisamos_de_aut_estima.html > Acesso em: 18 jun. 2006

3. CREIGHTON, James L.; SIMONTON, O. Carl; SIMONTON, Stephanie Matthews. Com a Vida de Novo - Uma
abordagem de auto-ajuda para pacientes com câncer. SP, Summus Editorial, 1987.

4. A Desesperança é um risco para pressão alta. Bibliomed, Inc: Boa Saúde. Disponível em:
<http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=2665&ReturnCatID=487> Acesso em: 18 jun. 2006

5. KÜBLER-ROSS, Elizabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo, Martins Fontes, 1998.

6. LE SHAN, Lawrence. Brigando pela vida: aspectos emocionais do câncer. [Tradução Denise Bolanho; revisão
técnica Ruth Rejman]. SP, Summus, 1994.

7. LE SHAN, Lawrence. O Câncer como ponto de mutação: um manual para pessoas com câncer, seus familiares e
profissionais de saúde. [Tradução de Denise Bolanho; revisão técnica de Ruth Reveca Rejtman]. SP, Summus,1992.

8. LOPES, Wilson e MAGNAVITA, Mônica. A importância do paciente em sua cura in : Oncoguia Disponível em: <
http://www.oncoguia.com.br/recursos_espirit/01_cura.asp > Acesso em: 20 jun. 2006

9. Possível ligação de Prozac com o câncer cria polêmica. In: BBC Brasil.com: Saúde & Tecnologia. 26 de março, 2002
. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/020326_prozacml1.shtml> Acesso em: 17 jun. 2006

10. SILVA, Glaci Ribeiro da. Câncer: um predador maligno cercado de mitos. In: Gazeta do Racionalismo Cristão.
Diponível em: < http://www.racionalismo -cristao.org.br/gazeta/saude/cancer.html. Acesso em: 19 jun. 2006

11. SILVA, Marco Aurélio Dias da. Quem ama não adoece: o papel das emoções na prevenção e cura das doenças. SP,
Editora Best Seller. 9ª edição.

12. SIMONTON, Stephanie Matthews. A família e a cura: o método Simonton para famílias que enfrentam uma doença
[tradução de Heloísa Costa] SP, SUMMUS, s/d

____________________
Recebido em 02/01/2007
Aprovado em 30/06/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 29
AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS PODEM MANIFESTAR-SE EM CRIANÇAS
Fernanda Oliveira
Rosangela Tezori1

O termo psicossomático deriva dos termos psique (=mente) e soma (=corpo) e expressa a unidade corpo-mente. Os
sintomas dessas doenças são a expressão física de uma dor emocional. As doenças psicossomáticas, inclusive na
infância, são caracterizadas por uma desorganização somática, isto é, uma desordem física causada por fatores
psicológicos.

A instalação das doenças psicossomáticas nos bebês e nas crianças coincide com as fases de desenvolvimento biológico
e psicológico, prejudicando dessa forma seu estado físico e psíquico. As questões psicológicas da dinâmica familiar
durante o desenvolvimento infantil contribuem de forma decisiva na formação dos sintomas dessas doenças.

A criança é inteiramente dependente dos adultos. Caso os pais ou responsáveis sejam agentes causadores de tensões, a
criança acaba por desenvolver doenças psicossomáticas, pois a infância é o período da vida em que os agentes
estressantes agem mais intensamente e a criança ainda não possui capacidade de fazer opções para neutralizá -los.

Muitos sintomas psicossomáticos decorrem de distúrbios da personalidade. O bebê ou a criança sendo incapaz de
resolver seus conflitos ou de vencer os medos, tende a apresentar descargas nervosas através do sistema nervoso
autônomo.

Apesar da enfermidade ser emocional é importante esclarecer que o paciente precisará de tratamento médico, pois os
sintomas não são imaginários, exigindo cuidados especiais. É exatamente por esse motivo que se recomenda uma série
de exames antes de definir um diagnóstico, para a certificação da origem psicológica.

Muitas manifestações psicossomáticas ocorrem em idades específicas, mostrando quanto os distúrbios podem ser
relacionados com a maturação do funcionamento dos órgãos e com as características do desenvolvimento psicológico.

Algumas doenças infantis que se encaixam no grupo das doenças psicossomáticas são: asma, problemas hormonais e de
pele, dores de cabeça e enxaquecas, distúrbios de visão e digestivos. É interessante ressaltar que uma grande parte dos
estudos concorda que uma relação deficiente com a mãe ou responsável leva a criança a desenvolver algum tipo de
doença.

Um exemplo de uma má relação é o mericismo, que se caracteriza pela regurgitação do alimento provocada pela
criança. A criança fica imóvel e o processo ocorre sempre que ele está sozinho. Admite-se que esta atividade é
conseqüência da privação materna, quando as mães são distantes, pouco carinhosas ou apresentam uma agressividade
mal camuflada em relação ao bebê. Nesses casos, torna-se necessária uma ruptura das relações com a mãe ou com o
cuidador, buscando oferecer ao bebê estímulos suficientes, em quantidade e qualidade.

Outro exemplo interessante são as cólicas que os recém nascidos apresentam assim que chegam em casa acompanhados
da mãe. Essa síndrome instala-se em razão do cuidado excessivo e ansioso da mãe e da sensibilidade do bebê. Os
sintomas desaparecem assim que mãe e filho se ajustam um ao outro. Alguns estudos observam que bebês criados em
instituições não apresentam tais sintomas, pois não receberiam essa atenção excessiva.

Neste sentido, é importante que pais e cuidadores fiquem atentos às reações dos bebês e crianças, uma vez que a doença
se manifesta sem que seja percebida. Deve sempre ser oferecida às crianças ocasiões propícias para um bom
relacionamento familiar, evitando dessa forma a incidência das doenças psicossomáticas durante a infância.

1
Estudantes de Psicologia, 4º. semestre, na Universidade Camilo Castelo Branco, Campus Descalvado, São Carlos/SP.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 30
BIBLIOGRAFIA

AJURIAGUERRA, J. Manual de Psiquiatria Infantil: As doenças psicossomáticas. 2ª ed., São Paulo: Masson. s.d.,
p.723-51.

AJURIAGUERRA, J. & MARCELLI, D. Manual de Psicopatologia Infantil. Distúrbios psicossomáticos. 2ª ed., São
Paulo: Masson, 1986. p.302-15.

____________________
Recebido em 09/07/2007
Aprovado em 11/07/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 31
QUALIDADE DE VIDA E SUPORTE SOCIAL EM PACIENTES RENAIS
CRÔNICOS: REVISÃO TEÓRICA
Rosemeri Siqueira Pedroso1
Gabriela Sbardelloto2

Os fatores psicossociais podem alterar padrões de comportamento, relacionados à saúde do paciente com insuficiência
renal crônica, o qual tem sua estrutura abalada e, por muitas vezes, tem dificuldade de aceitação e conformidade com a
doença e com o tratamento. O suporte social oferecido a esse paciente e a forma como ele o percebe é de extrema
importância para o desenvolvimento de novas estratégias de enfrentamento que o auxiliem na preservação da qualidade
de vida, atenuando o sofrimento face à doença crônica que tanto o fragiliza e o torna dependente. Este trabalho tem
como objetivo, apresentar uma revisão teórica, relacionando os construtos qualidade de vida, suporte social, doença
renal crônica e hemodiálise. O método incluiu buscas nos indexadores PsycInfo, Proquest, Medline, Ovid e Lilacs. Os
descritores utilizados foram: quality of life, social support, chronic renal insufficiency, hemodialisys. Além das bases de
dados citadas, também foram consultados livros e revistas não indexadas, disponíveis em bibliotecas da área. O paciente
com insuficiência renal crônica está sujeito a múltiplos estressores fisiológicos e psicossociais, podendo sofrer perdas
potenciais e mudanças no estilo de vida. O indivíduo que sofre com a doença renal crônica e percebe diferentes níveis
de qualidade de vida e suporte social, pode apresentar variados mecanismos de enfrentamento no procedimento com os
estressores inerentes à vida diária. Assim, tornou-se importante pesquisar a relação do nível de suporte social percebido
e o nível da qualidade de vida dos pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise.

Palavras-chave: qualidade de vida, suporte social, paciente renal crônico, hemodiálise.

Introdução:

O paciente renal crônico percebe a sua própria saúde de modo negativo, reduzindo assim o seu funcionamento físico e
profissional. As suas interações sociais são limitadas pelos sintomas da doença crônica e as suas avaliações de
qualidade de vida influenciam diretamente no seu comportamento, psicológico e social, alterando a sua auto-estima e a
sua capacidade de enfrentamento. A condição crônica de saúde predispõe dificuldades emocionais que se acentuam com
a falta de apoio e afeto por parte dos familiares, o que interfere na aderência ao tratamento. Apoio social e ajuda em
situações estressantes podem facilitar o controle da doença e das emoções, favorecendo a saúde e o bem estar do
paciente (Tamburini,2000; Seidl, Zannon & Tróccoli, 2005).

A doença renal crônica representa uma perda de controle sobre o corpo e freqüentemente, uma perda de controle sobre
o próprio mundo, alterando os vínculos afetivos e os relacionamentos familiares. Imp ortantes pesquisas relacionam o
nível do suporte social percebido e o nível da qualidade de vida dos pacientes renais crônicos em tratamento de
hemodiálise, os quais experimentam diversas perdas que abalam sua estrutura, dificultando assim a sua aderência ao
tratamento.

Insuficiência renal crônica e hemodiálise:

Suassuna e Faria (1999) definem insuficiência renal crônica (IRC) como uma incapacidade dos rins em realizar as suas
funções. A uremia pode ser causada por várias doenças incluindo: o diabetes, doenças hereditárias e congênitas, alguns
tipos de reumatismos e diversas outras doenças específicas dos rins. Muitas dessas doenças possuem tratamento
adequado e a progressão para a uremia pode ser evitada, se o diagnóstico for feito precocemente.

A hemodiálise é um tratamento de apoio à função renal e consiste na remoção de substâncias tóxicas e excesso de
líquido por uma máquina de diálise, em um procedimento cuja duração leva de 2 a 4 horas, necessitado ser realizado

1
Psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica/PUCRS, Professora do Centro Universitário São Camilo, Pesquisadora independente com
projeto em desenvolvimento no HPSP/Porto Alegre/RS.
2
Estudante de Psicologia/PUCRS, auxiliar de Pesquisa do Grupo de Intervenções Cognitivas e Comportamentos Dependentes -
PUCRS.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 32
numa freqüência de 2 a 4 vezes por semana. A máquina funciona como um rim artificial, pois contém um filtro especial
que purifica o sangue do paciente. No início da hemodiálise, o paciente pode apresentar dificuldades de adaptação,
verificando-se ansiedade, o que pode persistir ao longo do tratamento (Thomas & Alchieri, 2005; Suassuna & Faria,
1999).

De acordo com Christensen (1992), estudos revelam que dos casos de pacientes renais crônicos que fazem hemodiálise,
50% não aceitam o tratamento. Cerca de 125.000 americanos com IRC, buscam uma intervenção para compensar a
diminuição da função renal, através de diálise renal ou transplante renal, sendo que este traz certas vantagens para os
pacientes apesar de não comprovar qualidade de vida, uma vez que pode ocorrer rejeição, sendo muito comum. Dessa
forma, o tratamento mais usado para pacientes com doença renal crônica, continua sendo a hemodiálise, apesar das
complicações adversas.

Paciente renal crônico e qualidade de vida:

Lara-Muñoz, León e Fuente (1995) referem que a qualidade de vida leva em sua essência, o conceito de bem-estar,
podendo ser afetada por vários fatores como bem-estar físico e bem-estar psicológico. Os temores, as preocupações, as
alterações, as interações sociais, o nível de atividade, influenciam na qualidade de vida do indivíduo. A qualidade de
vida é considerada como percepção subjetiva do indivíduo em relação à sua incapacidade, o que faz com que o paciente
considere se está bem ou não. Assim, ao perceber a qualidade de vida como o bem-estar do paciente, o sofrimento
corresponde à ausência ou diminuição desta qualidade.

Os índices de depressão são altos entre os pacientes em tratamento de hemodiálise, embora, freqüentemente, não seja
diagnosticada e tratada. A depressão está relacionada com a qualidade de vida e também pode estar relacionada com a
mortalidade precoce entre os pacientes renais crônicos, pois a depressão pode influenciar nas decisões quanto ao
tratamento. A literatura tem sugerido que entre 30% e 50% dos pacientes renais crônicos não aderem ao tratamento de
hemodiálise, o que pode estar associado com uma série de pequenas e grandes complicações médicas, bem como uma
diminuição da sobrevivência, conforme demonstram estudos, os quais estimam que, 60% a 80% dos pacientes renais
crônicos morrem, devido à ingestão de líquido em excesso e ao consumo de alimentos incompatíveis com sua dieta
(Christensen & Moran, 1998).

Shidler (1998) relata que foram administrados em 50 pacientes com insuficiência renal crônica, três instrumentos: Beck
Depression Inventory, Illness Effects Questionnaire Multidimensional Scale of Social Support and Satisfaction With
Life Scale, buscando avaliar a qualidade de vida e os relacionamentos psicossociais dessa amostra. Os pesquisadores
constataram que os pacientes com IRC era m depressivos e percebiam os efeitos da doença de um modo negativo.
Quanto à satisfação com a vida e à depressão, os escores foram similares entre os pacientes com IRC e debilidade renal
crônica. Nos pacientes com IRC a percepção da doença, a depressão e a qualidade de vida foram significativamente
inter-relacionadas, indicando um padrão emergente de reações psicológicas negativas entre alguns pacientes. Foi
concluído que quanto mais negativa fosse a percepção da doença, maiores seriam os escores de depressão e menor seria
a qualidade de vida.

A qualidade de vida está diretamente ligada ao modo como o paciente processa cognitivamente a doença renal crônica e
suas conseqüências. Após o impacto do diagnóstico, torna-se necessário adaptar-se à nova situação, evidenciando-se o
perfil da personalidade do paciente, a qual influencia demasiadamente na evolução do tratamento. As características
pessoais podem determinar melhor adesão (compliance) ou não à hemodiálise, o que vai predizer um melhor ou pior
prognóstico (Thomas & Alchieri, 2005).

Paciente renal crônico e suporte social:

Diante de uma crise, o indivíduo lança mão de todos os seus recursos, lutando para resgatar o auto-equilíbrio que ele
supunha possuir e que sente estar ameaçado. A rede social de apoio é uma das variáveis importantes que pode intervir
de forma definitivamente benéfica ou maléfica nas crises (Silva, 1997). Avaliar o nível do suporte social percebido
pelos pacientes renais crônicos significa proporcionar informações relevantes para o conhecimento das variações, no

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 33
que se refere ao bem-estar psicológico relacionado com a saúde e a doença e, também com a qualidade de vida a partir
de variáveis como a depressão, a auto-estima preservada e a aceitação do tratamento hemodialítico.

De acordo com (Zimmermann, Carvalho & Mari, 2004), o comparecimento do paciente renal crônico às sessões de
hemodiálise, ou seja, à adesão ao tratamento, relaciona-se com o suporte social percebido e recebido de familiares e
amigos, o que contribui positivamente para a sua evolução. O nível do suporte social pode estar associado às diferentes
taxas de mortalidade entre países, grupos ou unidades de tratamento e possivelmente contribui para diferentes taxas de
adesão aos tratamentos.

Estudos realizados com o SSQ (Social Support Questionnaire), Sarason et al. (1983) possibilitaram informações sobre a
relação e correlação das dimensões do apoio social com outras medidas, incluindo eventos desejados e não desejados na
vida, percebida adequação de relações na infância, características da personalidade (tais como depressão, ansiedade,
hostilidade, extroversão, auto-estima) e visão do futuro. Os estudos descritos também incluíram investigações das
diferenças entre os sexos. Inicialmente, o SSQ apresenta uma série de estudos envolvendo várias centenas de sujeitos,
e têm relação com a avaliação do apoio social Os estudos-piloto abrangeram questões como desenvolvimento,
confiança e características psicométricas. Os autores descreveram sessenta e um itens exemplificando variadas
situações em que o apoio social pode ser importante para as pessoas.

O suporte social percebido e recebido pelo paciente renal crônico é essencial para a sua aderência ao tratamento médico,
pois a adesão (compliance) representa o comportamento do paciente diante da situação estressante que a doença crônica
acarreta. O paciente pode vincular-se à hemodiálise ou não, dependendo do modo como percebe a doença, do
conhecimento dos efeitos do tratamento, dos fatores psicossociais envolvidos e de sua motivação. Adesão ao tratamento
significa aderir à dieta, aderir à diálise e aderir à medicação. Daí a importância do apoio dos familiares e amigos, pois o
tratamento dialítico não se resume à maquina, porém é um processo que se estende ao longo da vida do paciente. São
mudanças de hábitos e comportamentos buscando melhorar a saúde como um todo, envolvendo também as pessoas que
dão assistência ao doente (Kaveh & Kimmel,2001) .

Objetivo:

Revisar a literatura relacionando qualidade de vida, suporte social, pacientes renais crônicos e hemodiálise.

Método:

Revisão teórica, a partir dos indexadores PsycInfo, Proquest, Medline, Ovid e Lilacs. Os descritores utilizados foram:
quality of life, social support, chronic renal insufficiency, hemodialisys.

Considerações finais:

Nesta revisão teórica, considerou-se suporte social o resultado da ação positiva ou negativa das relações percebidas ou
consideradas pelos sujeitos, um conceito preconizado por Sarason et al.(1983). Entendeu-se qualidade de vida como a
percepção subjetiva de satisfação ou insatisfação frente à vida, refletindo a felicidade, o bem-estar, a auto-estima, a
saúde e a aderência ao tratamento de hemodiálise. Conceituou-se como paciente renal crônico todo aquele sujeito
acometido de doença renal em tratamento de hemodiálise, como forma de funcionamento renal, há pelo menos três
meses de tratamento. E definiu-se como tratamento de hemodiálise, o procedimento substitutivo da função renal
perdida, sendo uma das alternativas dos pacientes diagnosticados com insuficiência renal crônica.

A literatura encontrada evidenciou que o suporte social é um importante recurso para os que sofrem com a doença
crônica, podendo predispor melhor qualidade de vida, a partir dos bons relacionamentos e ajustamento positivo diante
do sofrimento, como tendência ao otimismo ou positividade. Pode também reduzir a angústia que acompanha estas
pessoas, afetando hábitos de saúde em particular, e promovendo a aderência ao tratamento médico, pois pessoas com

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 34
altos níveis de suporte social são usualmente, mais aquiescentes com suas medicações e mais adeptos ao uso dos
serviços de saúde (Herek, Levy & Maddi, 1990).

Os artigos encontrados também mostraram que os construtos qualidade de vida, suporte social e hemodiálise estão
interligados, pois o tratamento do paciente renal crônico, o abrange em sua totalidade: física e psíquica. A adesão ao
tratamento hemodialítico associa-se com a personalidade do paciente, o qual imprime suas características pessoais que
interferem diretamente na sua percepção do suporte social recebido, na sua qualidade de vida, relacionando-se
diretamente com o seu vínculo ao tratamento de hemodiálise, um processo longo que ocasiona limitações físicas e
alterações na vida social. Quando o paciente renal crônico toma conhecimento do seu diagnóstico pode impactar-se,
ocasionando assim, um progressivo e intenso desgaste emocional, devendo ser abordado integralmente, pois isso
determina a boa evolução e o bom prognóstico do tratamento hemodialítico (Thomas & Alchieri, 2005).

Referências bibliográficas:

1. CHRISTENSEN, A. J. & MORAN, P.J. (1998) Psychosomatic research in end-stage disease: a framework for
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____________________
Recebido em 07/04/2007
Aprovado em 11/07/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 35
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA
UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Priscila Carvalho de Mello 1

A Unidade de Terapia Intensiva é uma unidade destinada a receber pacientes clínicos, pós -cirúrgicos, terminais e em estado
grave com possibilidade de recuperação, que adv ém de outros setores do hospital para um tratamento diferenciado,
exclusivo e intensivo. É um setor que possui equipamentos específicos, recursos materiais e tecnológicos, assim como também
uma equipe permanente de profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem; além de
psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista e assistente social). As ações ali desempenhadas são diuturnas, rápidas e precisas e, por isso
exigem o máximo de eficiência da equipe.

Entretanto, como relata ISMAEL (2005), “a internação em uma Unidade de Terapia Intensiva desperta sentimentos de
insegurança, ansiedade e temor da morte que podem exacerbar, no paciente e em seus familiares, a crise desencadeada pelo
adoecer”.

ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO ADOECER

O estar doente e o processo de hospitalização são variáveis que influenciam o ser humano e o deixa emocionalmente
vulnerável. Isto porque, ao adoecer, o ser humano deixa de ocupar sua posição frente à sociedade, sendo impedido, muitas
vezes, de realizar suas funções como, por exemplo, ser membro de um grupo de trabalho, social e familiar.

Ao ser hospitalizado, o paciente perde muitas referências do meio externo e passa a participar de um grupo onde passa a
ser controlado, tendo o espaço físico limitado, roupas e objetos impessoais, imposição de horários e ausência da família.

E, ao ser admitido na UTI, o paciente já entra com uma idéia de irrecuperabilidade e possibilidade de morte iminente.
Assim como também enfrenta um ambiente físico desconhecido, muitos equipamentos, sons e ruídos. E, estas
circunstâncias podem ocasionar a chamada “Síndrome da UTI”, caracterizada como um estado confusional, reversível e
secundário à internação.

Entretanto, alguns fatores responsáveis por esta síndrome podem estar ligados à dificuldade de descanso, privação de sono,
ausência de atividades, efeitos colaterais de alguns medicamentos, falta de estímulos, idade e comprometimento do quadro
clínico.

Contudo, as reações psicológicas apresentadas pelos pacientes são diversas e podem variar. Um exemplo é a ansiedade, que
geralmente está relacionada às limitações das atividades físicas e sociais, afastamento de pessoas significativas, medo e
insegurança diante dos procedimentos de intervenção e rotina hospitalar. Outro é o estresse emocional que, somado às
características ambientais , aos procedimentos e ao tratamento, são as principais causas dos distúrbios de comportamento e
humor mais freqüentes em UTI.

Contudo, o paciente necessita adaptar-se ao novo momento e, a psicologia poderá auxiliá-lo neste processo.

A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO:

A atuação do psicólogo com pacientes internados na UTI tem como objetivo principal identificar características de funcionamento
psíquico, normal ou patológico, decorrentes da doença e intervir sobre eles. Todavia, o trabalho do psicólogo na UTI não é

1
Psicóloga com formação em: Psicologia do Trânsito, Hipnose, EMDR; especialista em Terapia Familiar Sistêmica Breve e pós-
graduada em Psicopedagogia. Cursos também na área Hospitalar (inclusive em Cirurgia Bariátrica e Oncologia), PNE e testes
psicológicos. Experiência em área clínica, hospitalar, social, trânsito e testagem psicológica.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 36
somente com o paciente, mas também com os familiares e profissionais de saúde que ali atuam, visando a humanização
do setor e o bem estar do paciente.

O TRABALHO DO PSICÓLOGO JUNTO AO PACIENTE

O Centro de Terapia Intensiva possui algumas características específicas que interferem diretamente sobre o estado emocional
do paciente. Situações como: estresse, tensão, isolamento, clima de morte iminente, perda da noção de tempo e espaço, dentre
outras, provocam altera ções no estado do paciente, tanto a nível físico (orgânico) como psíquico (emocional). E, como é sabido,
qualquer alteração no estado emocional do paciente reflete diretamente no seu quadro clínico.

Portanto, o psicólogo tem como principal objetivo assistir ao paciente e verificar os fatores que influenciam sua
estabilidade emocional, como por exemplo: orientar e informar as rotinas da UTI, avaliar a adaptação do paciente frente à
hospitalização (sono, alimentação, contato com as equipes, aceitação de procedimentos, visitas e outros), avaliar o estado
psíquico do paciente (orientação, consciência, memória, afetividade, entre outros) e sua compreensão do diagnóstico, além
das reações emocionais frente à internação e à doença.

E, para uma rotina no atendimento com o paciente, BAPTISTA (2003) sugere:

1. Verificar quem são os pacientes internados e conhecer a história da internação atual.

2. Contactar a equipe de saúde (enfermeiros e médicos) com os seguintes objetivos: verificar se há queixas da equipe em
relação aos pacientes internados; obter dados do diagnóstico e do prognóstico do paciente e avaliar dados do
comportamento do paciente frente à internação.

3 . Abordar o paciente com o seguinte propósito:


*apresentação do psicólogo;
*coletar informações sobre os dados de identificação do paciente para obter um mapa de fácil leitura das características
importantes do paciente que podem afetar no diagnóstico, prognóstico, tratamento e adesão;
*avaliação das reações psicológicas frente à hospitalização e observação de reações comportamentais na interação do
paciente com o psicólogo e/ou outros profissionais.

4. Avaliar o estado mental do paciente.

5. Orientar e informar as rotinas da UTI

6. Avaliar as necessidades do paciente durante a internação (atividades de recreação, objetos pessoais, presença dos familiares
para alimentação e visita extra-rotina, entre outras).

7. A partir dos dados coletados, define-se uma conduta psicológica com o paciente. E quando necessário, a intervenção é
também é feita junto à equipe de saúde e familiares.

O TRABALHO DO PSICÓLOGO JUNTO À FAMÍLIA

Segundo ISMAEL (2005), “o adoecimento e a internação de um de seus membros causam nos familiares sintomas de
ansiedade e de estresse exigindo a mobilização de recursos para enfrentamento da crise”.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 37
Assim, além de avaliar e intervir junto ao paciente, compete ao psicólogo na UTI atuar também com os familiares. Este
trabalho visa facilitar a comunicação efetiva e afetiva entre paciente, família e equipe.

E, segundo BAPTISTA (2003), o psicólogo deverá atuar com os familiares, do seguinte modo:

1. Apresentação do psicólogo; conhecer os familiares que comparecem aos horários de visita, fornecendo-lhes algumas
informações e regras de higiene e contato com o paciente na UTI.

2. Orientar e informar as rotinas da UTI e do horário de visitas.

3. Coleta de dados junto aos familiares, com o objetivo de compreender o funcionamento psicológico do paciente.

4. Acompanhar os familiares ao leito, com o objetivo de demonstrar o modelo de contato com o paciente.

5. Intervenção psicológica com os familiares, a partir dos dados da avaliação com o paciente.

6. Acompanhar o familiar no contato com a equipe médica, visando a compreensão do quadro clínic o.

7. Quando solicitado pelo familiar, o psicólogo o acompanha na informação do quadro clínico do paciente com os outros
familiares.

O TRABALHO DO PSICÓLOGO JUNTO À EQUIPE

A atenção efetiva em UTI necessita de uma equipe multidisciplinar bem preparada, tanto para os aspectos
fisiológicos, quanto para os aspectos psíquicos do manejo com os pacientes.

Portanto, com a equipe, o psicólogo tem a função de atender às queixas referentes aos pacientes, orientar para o contato
com o paciente e familiares e, intervir conforme a necessidade de cada caso. E, também cabe ao psicólogo,
responsabilizar-se por reuniões didáticas sobre tópicos de sua especialidade.

Contudo, trabalhando de forma integrada, o psicólogo tem como tarefa objetivar a expressão emocional ou subjetiva do
paciente, assim como também de buscar subsídios que contribuam para a reflexão e elaboração de ações que se destinem à huma-
nização do ambiente, da assistência aos pacientes e familiares e à própria equipe.

CONCLUSÃO

O psicólogo que atua no CTI, atua mediando as relações envolvidas entre o paciente, a equipe, a instituição, a doença e
seus familiares; todos eles envolvidos na mesma luta, mas cada um compondo um dos ângulos desse processo.

Assim, o trabalho do psicólogo hospitalar baseia-se em: atender integralmente o paciente e a sua família; desenvolver as
atividades dentro de uma visão interdisciplinar; e, possibilitar a compreensão e o tratamento dos aspectos psicológicos.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 38
BIBLIOGRAFIA

ALAMY, Susana. Ensaios de psicologia hospitalar: a ausculta da alma. Belo Horizonte: [s.n.], 2003.

BAPTISTA, Makilim N., DIAS, Rosana R. Psicologia hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos. Rio de Janeiro:
Ed. Guanabara Koogan, 2003.

CAMON, Valdemar.A.A. (org.), TRUCHARTE, Fernanda A.R., KNIJNIK, Rosa B., SEBASTIANI, Ricardo W.
Psicologia Hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

ISMAEL, Silvia M. C. A prática psicológica e sua interface com as doenças. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

ROMANO, Belkiss W. Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São Paulo: Casa do Psicólogo,
1999.

SIMONETTTI, Alfredo. Manual de psicologia: o mapa da doença. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

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Recebido em 25/06/2007
Aprovado em 11/07/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 39
ACOMPANHANTES HOSPITALIZADOS
Valdirene Camargo Mendonça Teixeira 1

Resumo

O presente artigo refere-se ao relato de uma experiência enquanto estagiária de Psicologia em uma instituição
hospitalar, qual o foco foram os acompanhantes dos pacientes. Acompanhantes estes que ficam tão internados quanto os
pacientes, vivenciando assim, o dia a dia do hospital. No desenvolvimento do trabalho utilizou-se como instrumento de
intervenção a formação do grupo operativo. Com isso, proporcionando aos mesmos um momento para que pudessem
ser ouvidos em suas angústias, temores, medos e o tão temido encontro da finitude humana, a qual está posta no
cotidiano dos hospitais .

Palavras-chaves: Hospital. Paciente. Acompanhante. Grupo Operativo.

Introdução

O presente artigo objetiva explicitar como se deu o desenvolvimento do estágio hospitalar no qual teve como foco,
grupo operativo com os acompanhantes de pacientes internados, mais especificamente, com aqueles que passam a maior
parte do tempo no hospital, e não aqueles que eventualmente visitam os pacientes internados. Teóricos que escrevem
sobre o assunto como Camon (1996 1992); Moura (2000); Romano (1994) dão ênfase ao tratamento de pacientes
internados, mas o que me chamou a atenção foi o que ocorre com os acompanhantes desses pacientes. Deste modo,
procurarei relatar a experiência vivenciada durante o estágio que realizo na instituição hospitalar.

No hospital, histórias trágicas ocorrem, pois ele é um espaço de acontecimentos inesperados, onde se
presentificam situações de perdas: perda da condição de um ser humano saudável para uma
condição de doente, perda de um corpo inteiro para um corpo submetido a uma cirurgia, que pode
deixar marcas, cicatrizes, mutilações e, até mesmo, causar a morte do paciente. (MOURA, 2003)

Quando falamos em Psicologia Hospital, logo nos vem em mente pacientes, doentes, equipe multidisciplinar,
humanização, etc. No início do meu trabalho no Hospital vi uma demanda sendo explicitada, nos acompanhantes, ou
seja, propor um olhar para os acompanhantes que estão tão internados quanto os seus entes queridos e, acredito que os
mesmos também necessitam de um cuidado que passa pelo processo de Humanização Hospitalar, pois os mesmos
passam a viver o dia -a-dia do hospital, tanto quanto o paciente e a equipe. Mais adiante farei um relato dos discursos
dos acompanhantes que se encontram nessa situação.

Para melhor descrever, me servirei da pesquisa de Romano (1994) onde o referido autor escreve:

Torna-se evidente que, diante do impacto da internação, as famílias se desorganizam,


principalmente se o paciente internado é pessoa significativa e fundamental na estrutura familiar.
(...) já que consideramos a família “fazendo parte” do paciente pela situação de dependência,
achamos essencial que essa desorganização não seja concretizada pelo abandono no corredor (p.
160).

Os acompanhantes vivenciam muitas vezes uma dupla angustia a primeira, participando com seu ente de sua dor por
estar ali inerte, com medo, esperando o diagnóstico e prognóstico e a segunda, muitas vezes ter de tomar decisões que
possam comprometer vida/morte em questões de momentos. Vivenciando em grupo um sofrimento coletivo por estarem
em uma enfermaria de 08 leitos e, ao mesmo tempo, vivenciando um individual, pois por mais que esteja juntos, o
sofrer passa pelo subjetivo de cada um que envolve suas histórias de vida, como cada um lida com a dor, com a
impotência de nada poder fazer. Além de esperar e ao mesmo tempo deparando-se com a sua finitude, que é o destino

1
Acadêmica de Psicologia 10º semestre.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 40
humano. Supõe-se, através da observação que, quando estamos dentro de um hospital esta mortalidade humana nos é
mostrada a cada momento, mesmo que fechemos os olhos, ela esta posta.

De acordo com Romano apud Garcia Roza ( 1994)

Poderíamos argumentar que se a experiência da nossa própria morte é impossível, podemos pelo
menos ter a experiência da morte do outro. No entanto, tal experiência é também impossível; quando
muito podemos ter a experiência dos últimos momentos da vida do outro, mas não podemos ter a
experiência do seu próprio morrer. Portanto, entre a morte, enquanto possibilidade ultima da
existência de cada um de nós, e a pulsão de morte, enquanto hipótese metapsicológica, há uma
considerável diferença. No entanto, ambas são recobertas pelo silencio. Assim como não podemos
falar nada da morte em si mesma, também a pulsão de morte permanece silenciosa. Isto não quer
dizer, porém que ambas não se façam presentes na vida; em torno delas construímos nossos
fantasmas, nossos mitos, nossas religiões. Em torno da morte construímos, sobretudo, nossas ilusões
(p.156).

Tanto para os autores, como para a experiência que tive no hospital, fica evidente esse encontro com o Real. Alem
disso, há a própria questão da imortalidade para o inconsciente. Freud (1915, p.299) esclarece que de fato, é impossível
imaginar nossa própria morte e, sempre que tentamos fazê-lo, podemos perceber que ainda estamos presentes como
expectadores (....) ninguém crê em sua própria morte ou, dizendo a mesma coisa de outra maneira, que no inconsciente
cada um de nós está convencido de sua própria imortalidade.

Dada à importância que apresento nesse relatório sobre o acompanhante de paciente internado, farei a seguir a descrição
dos encontros que tive com eles. Inicialmente visitei o hospital com o objetivo de conhecê-lo por inteiro, sabendo assim
de suas “especificidades” em geral. O segundo contato foi mais diretivo, me apresentei a alguns pacientes e
acompanhantes, colocando-me a disposição para ouví-los, e informei que estaria semanalmente no local para “atendê-
los”, pois, é este o trabalho que realizarei na instituição da clínica medica. Tive a oportunidade de falar com alguns
pacientes e acompanhantes, informalmente na clínica.

Na clínica médica estão os pacientes com câncer em estado bem avançado, outros tipos de patologias com alto
comprometimento e pacientes em estados terminais. A clínica médica divide-se em enfermaria masculina e feminina
cada uma com oito leitos com direito a um acompanhante para cada leito. Fui escalada para a enfermaria masculina,
para acompanhar dois pacientes juntamente com os acompanhantes conforme a demanda dos mesmos. Ocorreu também
uma solicitação da supervisora de estágio que fosse formado um grupo de terapêutico para os acompanhantes. Ofereci-
me para fazer, pois já tinha notado está necessidade de estar dando uma maior atenção aos acompanhantes. Assim
iniciasse o grupo de acompanhantes da clínica masculina e feminina. Como eu já havia passado alguns dias no hospital,
já sabia de algumas particularidades das enfermarias, por exemplo, o horário que os pacientes estavam dormindo os
acompanhantes ficava com algum tempo livre e o horário que havia uma concentração maior de acompanhantes na
clínica, etc. Deste modo começa a minha experiência com o grupo no hospital.

Desenvolvimento

A Organização Mundial da Saúde (OMS) (2005) recomenda as técnicas grupais como forma de democratizar o acesso
aos programas e projetos preventivos de saúde, uma vez que o grupo contempla a idéia não só das questões
intrapsíquicas, mas também das relações sociais. Cada vez mais se está privilegiando o pressuposto que o ser humano é
multideterminado, inclusive no aspecto dos processos psíquicos. Além disso, os grupos terapêuticos podem-se
configurar como um veículo de promoção de saúde.

Uma regra de ouro, como recomenda Pichon Rivière (1983) no manejo das reuniões, é trabalhar e
operar sobre a informação emergente, aquela que o grupo “atualiza em cada momento e que
corresponde ao que momentaneamente pode admitir e elaborar. Sem ansiedade não se aprende, e
com muita, tão pouco”. (BLEGER, 1972, p. 74)

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 41
Pichon caracteriza grupo como um conjunto restrito de pessoas, que, ligadas por constantes de tempo e espaço e
articulada por sua mútua representação interna, propõe-se, em forma explícita ou implícita, a uma tarefa que constitui
sua finalidade. Grupo operativo consiste numa técnica de trabalho com grupos, cujo objetivo é promover, de forma
econômica, um processo de aprendizagem. Aprender em grupo significa uma leitura crítica da realidade, uma
apropriação ativa desta realidade. Uma atitude investigadora, na qual cada resposta obtida se transforma,
imediatamente, numa nova pergunta. Aprender na teoria pichoneana é sinônimo de mudança.

Para melhor exemplificação vou expor alguns fragmentos clínicos do grupo.

No dia 28 de fevereiro de 2007, iniciei o trabalho de grupo com os acompanhantes da enfermaria masculina e feminina.
Os convidei para nós juntarmos no corredor, aproveitando que alguns pacientes estavam dormindo. Para minha
surpresa, houve grande receptividade da parte deles, no total estavam lá 08 acompanhantes e um paciente. Informei a
todos que nossos encontros seriam ali no corredor e que poderiam acomodar-se pegando as cadeiras dos quartos.
Quando todos estavam acomodados apresentei-me, e solicitei que cada um falasse seu nome, de onde viera, qual o grau
de parentesco com o paciente. E assim aconteceu.

1º Encontro do Grupo

Após a apresentação distribui algumas gravuras diversas de pessoas, paisagens, objetos etc. Distribui uma para cada um,
e solicitei que a olhassem e que cada um falasse o que viesse a cabeça. E assim eles foram se expressando.
Transcreverei os textos na integra para não abreviar a riqueza da experiência que se segue. Os acompanhantes serão
aqui denominados de sujeito 1, 2, 3, etc, ou seja, S1, e assim por diante.

- S1 – Essa aqui, este homem parece perdido, sem saber pra onde ir, deve ser horrível ficar assim.

- S2 – Parece uma cruz e a pessoa de cabeça baixa, acho que está orando falando com Deus, pois, na situação que a
gente se encontra, se não pegar com Deus, não tem jeito.

Após a fala do S2 há uma unanimidade do grupo, pois varias pessoas se manifestam falando sobre a necessidade de se
crer em Deus.

- S3 – Aqui eu vejo uma família unida, dizendo que o mais importante é a vida, eu também gosto muito da vida, e viver
a vida sem família é horrível.
Quando S3 fala sobre a importância da família, outras pessoas do grupo também manifestam experiências pessoas com
suas famílias e como vêem as relações familiares havendo deste modo uma reflexão sobre a interação familiar.

- S4 – Aqui tem uma mãe com a sua filha, e ela está brincando com sua filha, eu também sempre brinquei muito com os
meus filhos, eu sou uma pessoa bem alegre.

- S5 – Vejo dois índios no rio, e vejo este homem debruçado em cima de seus braços, deve estar muito infeliz.

- S6 – Eu não sei nem falar pra vocês o que é isso, não sei se é gente, se é animal, uma caveira! É muito feio.
Ele vira a gravura e mostra para todos, chegando à conclusão de ser uma caveira de uma criança. Despertando certo
horror em todos.

- S7 – Aqui é um rapaz que planejou a vida, coisa que eu não fiz.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 42
Durante a dinâmica com as gravuras, pude observar que o grupo além de heterogêneo estava descontraído, e
concentrado, tanto que algumas pessoas passavam pelo corredor e não lhes tiravam a atenção. Tive a impressão de que
eles se esqueceram o porque estar ali por alguns momentos.

Logo após essa primeira discussão, solicitei que trocassem de gravura com o seu colega.

Uma senhora pegou uma gravura que tinha uma “família” e disse:

- S1 – olha que família feliz, eu sou assim feliz. Quando a minha filha começa a chorar eu falo pra ela não chorar, faz
como eu, ache que está em casa, que tudo fica bem. É assim que eu passo os dias aqui fazendo de conta que eu estou
em casa.

Aproveitando a fala de S1 abre-se um momento pra que os outros se expressem o que é estar no hospital.

- S2 – Eu passei toda a minha vida cuidando dos outros, eu tinha um irmão que era um filho pra mim, eu cuidei dele até
a morte. Um dia ele me falou:- minha irmã, eu falei pra Deus se for pra eu ficar te dando tanto trabalho é melhor que
ele me leve. Fui para o banheiro chorei tudo que eu tinha de chorar, pois foi assim que eu fiz, a vida toda chorei
escondida, lavei meu rosto e voltei. Mais eu cuidei dele com o maior amor, pra mim nunca foi um peso, desde
pequeninha eu gosto de cuidar das pessoas.
Essa pessoa, conforme vai relatando a historia do seu irmão, as lagrimas vão descendo pelo seu rosto. E ela continua
falando que o prazer dela é ajudar as pessoas. E se volta para mim e diz:

- S2 – mesmo quando a dona N. (paciente) for embora eu vou vir aqui para participar dessas reuniões.

E todo o grupo foi contagiado de maneira “benéfica” pelo seu relato.

Houve vários relatos nesse encontro, mas é difícil relatar o que todo o grupo falou. Acredito que essas falas escolhidas,
podem servir para explicitar o conteúdo do encontro que aconteceu num ambiente descontraído e sem tumulto. Encerrei
o encontro agradecendo a colaboração de todos. Informei a todos que os encontros serão mantidos semanalmente. Eles
agradecem e disseram que foi bom e, que é importante ter esse espaço dentro do hospital para eles conversarem. Isso
referenda o que uma das pessoas disse:

- S4 – parecia que nós nem estávamos em um hospital. Foi muito bom poder ouvir isso de pessoas que estão a dias fora
de casa, num contexto tão delicado.

A primeira experiência com o grupo foi muito boa apesar de eu estar um pouco ansiosa. As gravuras utilizadas no
encontro tiveram o objetivo de provocar o surgimento da “associação livre”, com isso percebi como os acompanhantes
necessitam de um cuidado especifico, de um tempo para falarem e serem ouvidos, para além do cuidado dispensado ao
paciente, ou seja, que esses encontros promovidos pela psicologia fazem-nos sentirem cuidados e vistos também.

2º Encontro do Grupo

Neste grupo teve a participação de 08 mulheres.

“O espelho”.

Objetivos: despertar para a valorização de si. Encontrar-se consigo e seus valores.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 43
Material: um espelho dentro de uma caixa, de modo que ao abri-la o sujeito visse a sua imagem refletida.

Após as devidas apresentações, pedi que cada um pensasse em uma pessoa muito especial, que ama muito, que dedica a
maior parte do seu tempo, que mereça todo seu cuidado, etc. Um sujeito pergunta: mas só uma? Respondo: Sim, só
uma. Pedi silencio que abaixassem a cabeça e lhes dei alguns segundos para pensar. Logo depois eu disse: Agora vocês
vão encontrar-se aqui, frente a frente com esta pessoa que é o grande significado de sua vida. Um sujeito disse: aqui, de
verdade, de carne e osso? Repondo: Sim. Assim feito, pedi que afastassem as cadeiras por um momento enquanto eu
passava com a caixa e o espelho dentro, um de cada vez, para que um não visse o que o outro estaria olhando dentro da
caixa. São reações diversas, até difícil de registrar no papel o que vi. Cada uma teve uma reação ímpar. Choro, surpresa,
horror, tristeza, negação do que se via esquiva de se ver, e uma única pessoa deu uma grande gargalhada.

Após todos se olharem no espelho, deixo -os à vontade para falarem.

O sujeito (S1) que começa a falar está acompanhando a sobrinha que está internada há 40 dias, com Lupus. Começa a
chorar e não consegue falar.

- S2 – Nunca imaginei que seria me ver, imaginei que teria na caixa uma mensagem, mais quando eu me vi assustei,
pois eu só consigo pensar no meu filho que ficou em casa, pensar em mim, olhar pra mim é egoísmo. S2 esta
acompanhando a mãe.

- S3 – Minha filha! Pra mim não significou nada, pois há muito tempo eu não existo, não consigo me lembrar nem
quem eu fui algum dia, eu só me doei, me doei tanto que me perdi no percurso dessa vida, alias fui arrastada pela vida.
Hoje estou aqui com meu filho que tem câncer. Você ainda é muito nova pra imaginar o que eu estou dizendo. Você vai
ter que viver muito ainda pra saber o que eu estou falando, só espero, que não aconteça o mesmo com você.

- S3 – tem 86 anos, um sujeito lúcido, comunicativo. Estava acompanhando seu filho que está com câncer no pulmão
com metástase na cabeça. Ele recebeu alta após esse encontro, ele está indo ao hospital para fazer quimioterapia.

- S4 – Eu, quando me vi, lembrei dos meus pais que morreram, e eu sozinha, meu marido já morreu, como eu me vi
sozinha, indefesa, dentro deste hospital esperando que meu filho saia vivo, para voltar para sua família. Minha vontade
e me cortar em pedacinhos e dar um pedaço meu para cada filho.

- S4 – ficou com o filho no hospital em torno de três semanas, ele está com câncer no pulmão. S4 levou seu filho para
casa para passar seus últimos dias junto à família. Segundo os médicos ele encontra-se em estado terminal.

- S5 – Vocês viram que eu dei a maior gargalhada quando ela abriu a caixa, eu me vi, e foi a melhor coisa do mundo,
eu ri de emoção, pois, há três meses eu reuni meus filhos e meu marido e falei pra eles: eu estou doente, não tenho
tempo nem para levar os exames que fiz ao médico, só que a partir de hoje se vocês me querem viva eu quero um tempo
pra eu existir. Eu preciso de um tempo só meu, eu preciso cuidar de mim, pois se eu não cuidar de mim, não posso
cuidar de vocês. A partir desse dia eu tiro das 12h00min h as 15h00min pra mim, nem que seja para ficar no quarto
sem fazer nada. Essa minha irmã aqui que está com o marido internado só pensa em trabalhar, não se cuida, não se
olha. Não se arruma, não cuida do cabelo, eu não vou ao salão não, eu mesmo arrumo as minhas unhais, mais não
interessa, nós precisamos de um tempo pra existir. Eu falo isso pra vocês como uma experiência que estou tendo na
minha vida. Comecem a cuidar de vocês, comecem a se amar, como a gente vai amar os outros se não amar a si
próprio.

Volto-me à S1 que só chorava e pergunto se ela quer falar. Ela diz que hoje não, quem sabe outro dia, S1 hoje eu não
tenho condições, me ofereço pra conversar com ela a sós, ela agradece e diz que quem sabe outro dia.

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Encerei o encontro agradecendo a participação, não achei que naquele momento caberia falar alguma coisa.

3º Encontro do Grupo

Participaram 09 sujeitos

“Urso de Pelúcia”.

Objetivo: Exercitar manifestações de carinho e afeto.

Material: Um Urso de Pelúcia

Obs.: este objetivo é flexível, ou seja, seria trabalhado conforme o andamento do grupo.

Feitas as apresentações dos integrantes, inicia-se o grupo. Expliquei pra eles que passaria um urso de pelúcia e que cada
um fizesse o que quisesse com ele.

- S1 – abraça-o e diz: como é bom abraçar um bichinho tão macio, me lembra criança. S1 olhou parte por parte
apertando, virando.

- S2 – pensei que você não ia me passar que demora. Dá vontade de levar para casa.

- S3 – só algo assim para nos distrair neste lugar, fazer a gente deixar de ter esses pensamentos tão ruins, uma
coisinha tão linda, tão macia.

- S4 – meu filho tem vários ursos, abraça, acaricia, olha-a por todos os ângulos, leva-o ao peito e fica por alguns
segundos.

- S5 – não faz nenhum comentário. Abraça, passa a mão em toda parte, vira, estica os braços pra frente e fica olhando
por alguns segundos, como se estivesse recordando de algo, em seguida beija -o.

- S6 – como é bom abraçar este urso, como e gostoso.

- S7 – interrompe dizendo: “você não tem um urso de verdade para você abraça”?

- S6 responde que não quer saber de homem e a ignora, e continua abraçando, tocando o urso. Devolve-me, deixo-o no
meu colo. Peço a elas que falem deste momento; o que eles sentiram depois de ter interagido com o Urso de pelúcia.

- S1 – eu me senti amada, querida, coisas que eu nunca senti dos meus pais, eles só davam amor pra minha irmã,
somos gêmeas. Não só meu pai e minha mãe, nunca me deram carinho, eu nunca fui amada, elogiada, não tenho
ninguém. Pergunto se ela não tem família aqui. Diz ter, mais não se importam comigo, essa sobrinha mesmo que eu
estou cuidando, nunca fez caso de mim. S1 está acompanhando a paciente que citei no outro grupo que está com lupus.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 45
- S2 – quem mais nos maltrata e quem mais vai precisar de nós, e continua dizendo (S2 referindo-se a S1) que essa
mulher é um anjo no hospital, tem dado atenção a todo mundo, todos gostam dela aqui”. S1 fala que nunca se sentiu
tão útil para ninguém como ela tem se sentido no hospital.

- S1 – Estes estão sendo os melhores dias da minha vida, nem meus filhos me tratam tão bem como os amigos que fiz
aqui. Alguns que já receberam alto me passam seus endereços pra eu ir visitá-los. Olha estas marcas aqui no meu
braço, são facadas que meu ex-marido me deu! Vocês não têm idéia do que já passei nessa vida de sofrimento. Na
semana passada eu estive aqui participando, eu não falei nada, eu só chorava, era um nó aqui (mostra a parte do
pescoço) hoje já estou me sentindo bem melhor já até consegui falar um pouco das minhas dores. Mais não falei tudo.
S1 era a única que participou nos grupos anteriores.

- S3 – eu lembrei da minha infância, eu não tive infância, nem sei quem foram meus pais. Tenho 03 filhos a minha filha
mais velha que hoje está com 16 anos, quando tinha doze anos começou a me dar tanto trabalho. Sai de casa e volta de
madrugada. Ela se apaixonou pelo pior homem do bairro um traficante, ele não vale nada. Tentei de tudo, falava para
ela não fazer como eu que casei sem nenhum estudo, ia atrás dela na rua de madrugada e a trazia pra casa, mas
quando ela fez quinze anos não consegui segurar mais. Ela foi morar com ele. Ela ficou com ele 15 dias, quinze dias
que este homem passou usando minha filha, nem comida ele dava pra ela. Fui buscá-la e a encontrei desmaiada de
fome. A trouxe pra casa e em seguida ela começou um outro relacionamento e já tem um bebê de 03 meses. Agora
estou aqui cuidando deste homem que só me maltratou, me humilhou nunca me deixou crescer na vida. Tem dois anos
que a gente vive como amigos, ele não encosta mais em mim. Só estou aqui com ele por dó, pois, a família dele mora
tudo no Acre. Mais não pense vocês que fico dia e noite, deram cinco horas, vou embora cuidar dos meus filhos, ele
passa as noites sozinho. Este paciente citado está com Aids, nega seu diagnóstico, não aceita. O mesmo já recebeu alta,
ele estava cuidando de uma pneumonia. S3 sabe do seu diagnóstico, diz ter feito o exame, não tem Aids.

- S4 – Eu quando peguei no uso lembrei do meu filho, foi como se eu estivesse abraçando ele, me deu uma saudade tão
grande.

- S5 – Eu pensei em minha netinha, ela gosta muito desses bichinhos, mais também senti um conforto, me senti como se
eu estivesse na minha casa. Todo o estresse que eu estava parece ter sido tirado no momento que eu o peguei, e o
abracei. S5 está acompanhando o marido em estado terminal.

- S6 – Nunca imaginei sentada no corredor de um hospital segurando um urso, você não tem idéia de como isso me fez
bem, foi como se eu estivesse segurando uma nova vida, isto ele me trouxe um renovo para minha alma.

Quando eles estavam falando o urso foi tirado do meu colo por um deles, e ia passando de um para o outro. O que me
chamou à atenção foi à desenvoltura dos sujeitos com o urso. Nenhum demonstrou inibição e, sim ansiedade em pega-
lo. Foi um momento que eles se sentiram afagados, acalentados, cuidados.

Quarta Reunião

Este fragmento trabalhado, que relatarei praticamente se deu com a finalização do estágio.

Neste grupo estiveram presentes 06 acompanhantes, três da enfermaria masculina e três da enfermaria feminina, dois
deles eram homens. Como já é de conhecimento, primeiro me apresento ao grupo e após peço-os que façam o mesmo se
apresentando; nome, de onde é, nome do paciente, quanto tempo estão no hospital, etc. E assim se deu. Mas algo
singular aconteceu neste grupo desde o início. Quando começam a se apresentar, eles não ficaram só no que foi
proposto como apresentação, eles foram além, falando deles. Cada um em sua apresentação individual foi relatando sua
vida, mas de uma maneira tão visível, audível, que me trouxe um ouvir que suplantava uma escuta “normal” foi algo
vivenciado no coletivo, mas, significado no individual de cada participante. Cada história de vida que fora colocada,
trazia uma reflexão profunda entre os participantes. E por, mas que em seus discursos estivessem registrados a dor de
ver seu ente querido ali, eles colocavam uma dor particular, uma dor que simbolizava a dor da vida e morte presentes

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 46
sem ser verbalizada, mas que a mesma cruzava o caminho de cada um de uma maneira diferente, mas existente. Seguem
alguns relatos para melhor exemplificar.

- S1 – era um senhor que acompanhava sua esposa que estava internada neste hospital há 22 dias estando em outros em
torno de sessenta dias. Ela está com câncer na coluna, cabeça e estomago, em estado avançado. Eu moro em Sinop.. Eu
internei aqui há 22 dias. Eu trabalho na saúde, sou motorista do carro que carrega os doentes para os hospitais. Eu
vim do Paraná desde lá eu já trabalhava na saúde. Sempre estive neste meio carregando pessoas doentes, indo às
aldeias indígenas, as municípios que não tem o socorro necessário para o doente está era minha rotina de vida,
socorrer algum doente. Antes mesmo de vir para cá eu fui a uma aldeia buscar uma menina que havia sido esmagada
por uma cobra sucuri, quando cheguei era de assustar, a menina estava toda quebrada olhei para os lados não tinha
nem um pano que eu pudesse enrolá-la, peguei-a em meus braços e fomos embora. Lidar com hospital, doenças,
acidentes, vamos ser claro eu lidava com vida e morte a todo o momento. Minha esposa estava em casa, temos uma
chácara, e eu estava de folga, escuto ela gritar, vou ver, ela havia caído. Levo para o hospital, faz um raio X e o
médico diz que não era nada grave, voltamos para casa. Passam-se alguns dias ela só reclamando de dor fomos
novamente ao hospital, e o médico pede que eu vá levá-la para fazer uma tomografia. Quando levo o resultado ele me
chama num particular e fala que seria melhor vir a Cuiabá para fazer uma ressonância. Assim fizemos, quando o
médico olha o resultado pela cara dele já vi que não era coisa boa. Peço a ele que fale a verdade, ele pede para
conversar em particular comigo, mas minha mulher falou que não, que ela queria saber a verdade. Então ele fala que a
queda que ela sofreu foi só uma maneira de descobrirem o câncer que já estava bem adiantado. Agora vocês
imaginam, trinta anos trabalhando na saúde, nunca imaginei que eu iria passar por isso. Era para eu estar preparado,
mas não estou, e com isso fico me sentindo culpado. Já dirigi horas para socorrer pessoas e conseguia socorro a
tempo, e agora, não posso fazer nada pela minha mulher é impossível de acreditar. Tem 22 dias que estou internado
neste hospital com ela não a deixo sozinha por nada. Tenho meus filhos que poderiam revezar comigo no cuidado dela,
mas não posso fazer isto, ela precisa de mim ao lado dela.

Uma acompanhante pergunta se ele não está cansado de ficar ali dia e noite.

- S1 responde: sim fico cansado, tem hora que eu estresso com ela, mas ir e deixá-la, nem pensar, quando ela me
estressa eu saio vou tomar uma água esfrio a cabeça e volto. Lá dentro do quarto eu sempre demonstro que estou bem,
tranqüilo. Estranho falar isso, mas tem hora que a gente fica tão cansado, que parece que a gente fica tão doente
quanto o paciente. Tem dia que eu tenho a impressão que sinto a dor dela. Agora é esperar em Deus, pois os médicos
falaram que o que tem para fazer estão fazendo. Este acompanhante é chamado para ver sua esposa outro começa a
falar.

- S2 – minha história, alguns de vocês já sabem, eu estou hoje aqui acompanhando meu pai, que eu não via há 24 anos.
Minha outra irmã que estava aqui colocou anuncio em uma radia em Santo A.do Leverger, meu patrão ouviu ligou
para a radia e perguntou o nome do paciente, e era meu pai mesmo. Vim para cá vê-lo, foi uma emoção tão grande, eu
chorei, meu pai chorou, e toda a enfermaria chorou. Eu sai de casa eu tinha 15 anos, neste tempo eu só mantive
contato com ele em um dos anos por telefone, depois disto nunca, mas nos falamos. Fiquei tão emocionado, feliz de
rever meu pai.

E assim se dá, os outros se apresentam contam suas histórias, de seus parentes que estão internados. Neste tempo que
eles vão falando colocando como chegaram ali, como está o prognóstico dos pacientes, era como se eles estivessem
fazendo um atendimento individual, pois eles contavam com uma riqueza de detalhes como se estivesse depositando
naquele momento todo um sofrer que passava do individual para o coletivo. Cada um respeitando o mo mento do outro,
respeitando seu tempo subjetivo, de falar e digerir o que estava sendo falado.

Após todos falarem, eu passo para eles uma gravura que tinha de um lado uma gravura de um bebê e do outro a palavra
morte. A mesma vai passando de mão em mão. E interessante é que quando eles se deparam com a gravura pareceu que
grande parte da angustia já havia sido diluída, em relação vida e morte. Pois, em suas apresentações, quando contam um
pouco de suas vidas, a vida e a morte foi algo que se fez presente na fala de cada um ali. Após todos olharem a gravura
a fala surge espontaneamente. Como continuidade do que eles já estavam falando.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 47
- S1 – é de um lado a vida e do outro a morte. O que fazer, não tem o que fazer a não ser estar aqui. Mas eu não vou
falar para a senhora que eu estou preparado para isso, sei que vai acontecer, mas não aceito, mas não desespero. Vou
estar firme com minha mulher ate o fim.

- S2 - o rapaz que reencontrou com seu pai fala: isto para mim é um horror, não aceito a morte, ela para mim é um
pavor. Faço tudo na minha vida com cuidado para não ter de encontrar com ela. Não ando de moto, não fumo, não
bebo, tudo o que faço eu tomo cuidado para que isso não aconteça. Eu sei que ela existe, mas só acho normal ela vir e
pegar a pessoa dormindo. Quem morre de outras maneiras é porque procura.

- S1 – ele se dirige a fala a S2. Olha aqui “S”, você diz que não admite que alguém morra para você isto é um horror.
Mas, me desculpe pela pergunta, não a faço por maldade, mas você ficou sem ver seu pai por 24anos isso não é morte?

- S2 – sim, eu fiquei todos estes anos sem ver meu pai, mas na minha cabeça ele estava vivo. Morte só é morte quando
você a vivencia. Eu tinha uma tia que eu gostava muito fui ficar sabendo que ela morreu há alguns dias, sofri,chorei,
mas é diferente eu não estive perto dela, então eu não estive perto da morte. Olhem minhas mãos, eu tive Hanseníase
no grau 4, o grau vai de um a cinco, quando fui me tratar já estava bem adiantada perdi os movimentos das mãos e
alguns dedos dos pés. Foi uma coisa que mexeu muito comigo, fiz acompanhamento psicológico por algum tempo para
superar. Mas, a morte eu não sei superar, não sei viver com ela. Neste grupo houve uma moça que não se apresentou,
pois neste momento ela foi chamada para ver sua avó. Quando volta já pega a gravura circulando no grupo, já a olha de
relance vendo o lado que estava escrito Morte. Quando a mesma chega a sua mão, ela olha somente o outro lado e me
entrega. E faz a seguinte colocação:

- S3 – eu preferia estar lá no andar de baixo, na maternidade onde nascem os bebês, no meio de todo aquele choro de
vida.

- S1 – para vocês verem, a morte e a vida andam juntas, lá embaixo nasce, aqui em cima morre. Lá na maternidade
também há morte.

- S3 – eu não penso que minha mãe vai morrer às vezes a gente e pego de surpresa. Talvez ela fique boa vai para casa
e eu morra primeiro que ela. Então eu vivo um dia de cada vez. E até que isso venha a ocorrer, ou não, ela está viva e
isso me basta.

Assim se deu o grupo, com todos falando, o que iam passando por sua cabeça, sem a interferência do facilitador, e sim o
mesmo mantendo uma escuta atenta a quem estava falando. Isso fez com que os mesmos se sentissem incentivados a
falar, pois havia uma pessoa neste papel de ouví-los. Cada história de vida, cada maneira de estar ali foi ouvida. Fecho o
grupo colocando que este momento que a psicologia estava proporcionando para eles como acompanhantes, era para
que eles também pudessem ser ouvidos em suas dores, angústias e temores, tendo alguém para ouví-los. Mesmo não
estando no papel do paciente, mas no papel de pessoas tão importantes para a vida dos que ali estão em processo de
tratamento.

Considerações Finais

Não tenho como dar por concluído essa experiência com o grupo terapêutico no hospital, pois ainda me encontro em
plena atividade. Até o momento o que posso relatar é que me parece ser uma abordagem eficaz, esse trabalho que venho
desenvolvendo com o grupo, ou seja, com os acompanhantes que ficam ma is tempo no hospital com o paciente.

Tenho aprendido muito com a realização dos grupos, principalmente em relação ao setting terapêutico.

Quando me preparava para o primeiro grupo, fiquei angustiada com o local -onde fazer a reunião- se o hospital não

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 48
disponibiliza de um local adequado, adequado este tendo como referencial a clínica individual. Como fazer um grupo
no meio do corredor da instituição com vários profissionais transitando. Diante dessas indagações, fui para minha
primeira experiência, fui à enfermaria ver os pacientes dormindo, alguns acompanhantes conversando, fui falando com
cada um deles e expondo o que faríamos e os chamei para o corredor, lá iniciamos o grupo. Qual minha surpresa, ver
aquelas pessoas juntas falando de suas dores, temo res, frustrações e a rotina do hospital acontecendo. Médicos,
enfermeiros, secretarias, faxineiras, passando em nosso meio e, para minha surpresa, constatei que as falas não foram
interrompidas por estes motivos. Os sujeitos continuavam a falar, se expressar. Creio que eles conseguiram absorver
que aquele tempo era para eles, e os mesmos aproveitavam-no, falando sem receio o que lhes acontecia à sua volta, o
que era estar no hospital. Essa experiência tem sido gratificante e produtiva para minha formação profissional na
medida em que os discursos dos sujeitos servem de referencial para meu trabalho e para amenizar também, de forma
profissional, a dor dessas pessoas.

Com tudo que fora relatado e observado, acredito que tenha sido comprovada a necessidade do psicólogo hospitalar
estar sensível às angústias trazidas pelos familiares (acompanhante) ante a ruptura da dinâmica familiar causada pela
internação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma. BH: Ed. Do autor, 2007.

ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto (org.). E a Psicologia entrou no hospital . São Paulo: Pioneira, 2003.

ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto (org.). O doente, a psicologia e o hospital. São Paulo: Ed. Pioneira, 1992.

FIGUEIREDO, A. C. C. Vastas Confusões e Atendimentos Imperfeitos: a clínica psicanalítica no ambulatório


público. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.

FREUD, S. Nossa atitude para com a morte. (1915). Em Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Edição
Standart Brasileira (ESB). Rio de Janeiro: Imago Editora, 1976.

GUEDES, Carla Ribeiro. A supervisão de estágio em psicologia hospitalar no curso de graduação: relato de uma
experiência. Psicol. cienc. prof. [online]. set. 2006, vol.26, no.3 [citado 31 Maio 2007], p.516-523. Disponível na
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KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

OSÓRIO, Luiz Carlos. Psicologia grupal: uma nova disciplina para o advento de uma era. Porto Alegre: Artmed,
2003.

MOURA, M.D. Psicanálise e urgência subjetiva. In MOURA, M.D. (org). Psicanálise e Hospital. Rio de Janeiro:
Revinter, 2000.

____. Psicanálise e Hospital 3. Rio de Janeiro: Revinter, 2003.

MIRANDA, S. Oficina de dinâmica de grupos para empresas, escolas e grupos comunitários. Campinas: Papirus,
2005.

ROMANO, Wilma Bellkiss (org.). A prática da psicologia nos hospitais. São Paulo: Pioneira, 1994.

ZIMERMAN, D. E. Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre: Artmed, 1993.

____________________
Recebido em 13/07/2007
Aprovado em 02/02/2008

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 49
DO SOFRIMENTO HUMANO E DO ALÍVIO DA ALMA
Rodrigo Garcia Martins1

Passo pelos corredores dos andares do hospital e diante de algumas portas de quartos entreabertas, vejo o rosto
daqueles que pela dimensão do seu sofrimento, que só os mesmos tem, procuram o amparo e a certeza de cuidados mais
corretos para sua dor, na busca de ganharem uma sobrevida diante do mal que lhes acomete e seguirem em frente com
suas vidas.

Mas no dia-a-dia vejo o outro lado também, o do sofrimento dos profissionais que, por suas diversas especialidades,
sofrem calados tentando mascarar suas mais variadas dores, afim de realizarem um trabalho adequado para com
aqueles que se encontram enfermos. Não que eles não se sintam enfermos de alguma maneira, seja na limitação que a
profissão lhes impõe; na angustiante falta de voz que sentem diante da compensação por seu trabalho estar atrasada;
pelo sentimento velado de incapacidade de ação perante os diversos quadros apresentados; da dúvida de um diagnóstico
correto quando inúmeros sintomas agem de forma solta no frágil corpo que ali perece temporariamente, lhes dando a
dura notícia de que o medicamento não está agindo de forma a aliviar o sofrimento alheio.

Passo pelos corredores dos andares do hospital e vejo rostos envelhecidos de pessoas entre seus trinta e cinqüenta
anos, que pelo sofrimento de um familiar, perderam a alegria e o riso que outrora pudera ser visto em suas vidas, e as
transformaram em idosos precoces, aguardando poder sorrir amargamente diante da notícia de uma possível evolução
ou melhora do ente querido.

Quanto a mim, diariamente faço parte por alguns minutos da história dessas pessoas, buscando aliviar a angústia que
levam no peito e que lhes aperta a garganta, ouvindo, confortando, sendo aquele a quem chamam para falar de seus
problemas; aquele que por não conhecê-los a fundo, não irá fazer pré -julgamentos ou condená-los à priori por suas
atitudes; aquele cuja responsabilidade pela orientação dada, os fará refletir de modo a perceberem que apesar do peso
em seus ombros, do cansaço ou da dor, podem, ainda que de forma homeopática, acreditar em uma melhora de si
mesmos ou do meio em que se encontram, diante de uma mudança na forma de verem as coisas e de atitude,
encontrando quem sabe aí, um alívio para sua sobrecarga mental.

Diante da limitação que minha especialidade impõe, eu poderia me frustrar em não ver a melhora de um paciente por
meio do medicamento que não posso prescrever, mas ao contrário, vejo no momento de minha intervenção, rostos
mudarem de cor, de forma e até surgirem sorrisos e lágrimas. Após isso, quando passo pelos corredores dos andares do
hospital, ouço meu nome sendo chamado outra vez por um familiar, um enfermo ou um profissional da equipe
multidisciplinar, solicitando minha presença para mais u m atendimento que lhes alivie o sofrimento da alma.

____________________
Recebido em 23/09/2007
Aprovado em 08/02/2008

1
Psicólogo, CRPRS 16128, Formado pelo Centro Universitário de Brasília/DF (UNICEUB) em abr. 2005.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 50
RELATO PESSOAL

A DOR FÍSICA OU DA ALMA: QUAL DELAS DÓI MAIS?


Jeanine Schuabb Duarte 1

O meu caso pode ser considerado simples e de fácil resolução, mas o motivo deste relato não se deve ao tratamento em
si e sim como ele se deu.

Bom, estive com problemas renais e por falta de opção e dinheiro resolvi aceitar a indicação de conhecidos e ir a
Uberaba – MG me submeter a um tratamento no hospital escola. É como se fosse um hospital público qualquer, com
um agravante, lá fervem estagiários e estudantes de medicina ainda no início de sua faculdade. Eu, na verdade, não
sabia ao certo o que ia acontecer, não fui informada exatamente sobre os métodos e regras utilizados lá.

Fiz uma viagem de Brasília p/ Uberaba (6 h) morrendo de cólica renal. Foi muito difícil. Havia um cálculo renal de 1,5
cm de diâmetro no meu ureter. Durante o trajeto, o sentimento de incapacidade física é diretamente proporcional às
dores. Ao chegar ao consultório do médico descobrimos que não havia outra solução a não ser a cirurgia.

Alamy (2003) 2 descreve, em sua obra, a narração de um texto denominado “A maca”, que relata a infeliz sensação
vivida por uma paciente ao andar de maca dentro de um hospital. Eu não conseguia descrever, mas ela foi simples e
exata. Ao desfilar pelos corredores do hospital nosso pensamento voa e com uma interrogação ENORME pairando no
ar, trazendo fantasias diante dos acontecimentos. Mas eu ia confiante, pois a dor era tão grande que me despojei de toda
vergonha e luxo. Como na pirâmide de Maslow3 , onde ele relata a ordem das nossas necessidades, ali eu comprovei que
a "minha sobrevivência" (necessidades fisiológicas) viria em primeiro lugar. Desfiz-me de todo orgulho e me entreguei
nas mãos de pessoas que nunca vi e nunca mais retornarei a ver.

Bem perto da entrada da sala de cirurgia, quando a maca passou, se aglomeraram muitas pessoas jovens, que eu não sei
da onde saíram e nem entendia porque estavam ali. Algumas falaram qualquer coisa comigo e eu sorri
desconcertadamente.

Entrei...

Sala fria...

Médicos à postos...

Dormi...

Ao acordar tudo havia passado, eu estava no quarto com canos por todos os lados. Soro, sonda, fios... Não via meu
marido hora nenhuma. Nenhum parente ou amigo que pudesse pegar na minha mão e dizer-me: "Está tudo bem, não se
preocupe". O médico? Não o vi mais. Somente as enfermeiras e os residentes que acompanhavam o meu pós-
operatório.

O auge de toda minha experiência foi quando recebi minha primeira refeição! !!!!!!!!!!!! A "copeira" colocou o prato na
cabeceira da cama e foi embora sem cerimônia. E eu, sem poder levantar devido a tantos fios e canos, tive que

1
Estudante de Psicologia, 2º. ano da UNIP. Estudante do Curso Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde - profa. Susana Alamy.
2
In: ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma. Belo Horizonte: [s.n.], 2003. p. 23-37.
3
http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos/maslow.htm

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 51
"descobrir" o que havia dentro do prato. Imagine, por favor: um paciente recém operado; deitado em uma cama
horizontalmente; receber sua refeição na altura do seu ombro. O que pude fazer foi colocar minha mão livre e apalpar o
que havia dentro do prato. Aos poucos fui descobrindo o que havia e, era uma dieta sólida (bife/acompanhamento) e eu
sem condições de alcançá-la. Por fim, me dei por vencida. Não comi e fui agüentando firme e forte para logo sair do
hospital.

Os dias foram passando e enfim, após receber alta, voltei para a cidade do meu marido e lá pude descansar.

Enfim, aquelas pessoas que estavam na porta do centro cirúrgico eram os estudantes que iriam assistir a cirurgia,
lembrem-se de que era um hospital ESCOLA e como tal, deveria aceitar suas condições. Não posso reclamar porque na
situação em que me encontrava, eu toparia tudo.

Acredito também que os doentes dos hospitais públicos aceitam qualquer tratamento, desde que lhe tirem a "infeliz dor"
que o tornam incapacitados de viver em paz.

____________________
Recebido em 01/11/2007
Aprovado em 01/12/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 52
ANAMNESE / PROTOCOLO - MODELO

ANAMNESE - EPILEPSIA 1 2 3

Prontuário n.: Local do atendimento: Data:

Psicólogo responsável pela anamnese: RG:

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE

Nome:

Endereço completo:

Telefone:

Idade: Data de nascimento: Sexo:

INFORMANTE4

Nome: Grau de parentesco:

DADOS CLÍNICOS E EXAMES

Diagnóstico Médico:

Diagnóstico Diferencial:

Resultado do Eletroencefalograma e a data do mesmo:

Resultado da Tomografia Computadorizada e a data da mesma:

Resultado da Ressonância Magnética e a data da mesma:

ASPECTOS RELEVANTES A INVESTIGAR

Quando ocorreu a primeira crise? (Descrevê-la. Idade do paciente à época desta crise. Como se sentiu física e
psicologicamente após a mesma?)

1
Elaborada por Susana Alamy e utilizada no Ambulatório de Epilepsia da Santa Casa de Belo Horizonte em 1990-1995
2
Trata-se de um croqui a ser aperfeiçoado de acordo com a necessidade do serviço e dos pacientes.
3
Além dos dados específicos que são coletados em uma anamnese psicológica, é interessante coletar alguns outros (nesta) para um
melhor planejamento do atendimento a ser prestado ao paciente epiléptico.
4
O informante é incluído porque é ele quem descreve as crises do paciente, uma vez que não é possível ao próprio paciente relatá-la
com fidedignidade

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 53
Momentos precedentes às crises estão relacionados a algum fato específico?

As crises são acompanhadas de violência?

Há história de internações por epilepsia? (Investigar quando, onde e tratamentos realizados)

Já fez alguma cirurgia para epilepsia? (Investigar quando, onde, localização no cérebro e resultados obtidos com a
cirurgia)

Há história de internações em hospitais psiquiátricos? (Investigar quando, onde e qual o motivo)

Tratamento farmacológico: (Investigar quais os medicamentos que faz uso, desde quando, com qual regularidade,
quais os efeitos colaterais)

OBSERVAÇÕES

Outros dados que julgue relevantes:

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 54
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE SAÚDE

LEI Nº 8.142, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1990


Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do
Sistema Único de Saúde (SUS} e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e
dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, contará, em cada
esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas:

I - a Conferência de Saúde; e

II - o Conselho de Saúde.

§ 1° A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos sociais,
para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis
correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde.

§ 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do
governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da
execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas
decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.

§ 3° O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de


Saúde (Conasems) terão representação no Conselho Nacional de Saúde.

§ 4° A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferências será paritária em relação ao conjunto
dos demais segmentos.

§ 5° As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão sua organização e normas de funcionamento


definidas em regimento próprio, aprovadas pelo respectivo conselho.

Art. 2° Os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) serão alocados como :

I - despesas de custeio e de capital do Ministério da Saúde, seus órgãos e entidades, da administração direta e
indireta;

II - investimentos previstos em lei orçamentária, de iniciativa do Poder Legislativo e aprovados pelo Congresso
Nacional;

III - investimentos previstos no Plano Qüinqüenal do Ministério da Saúde;

IV - cobertura das ações e serviços de saúde a serem implementados pelos Municípios, Estados e Distrito Federal.

Parágrafo único. Os recursos referidos no inciso IV deste artigo destinar-se-ão a investimentos na rede de serviços,
à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde.

Art. 3° Os recursos referidos no inciso IV do art. 2° desta lei serão repassados de forma regular e automática para
os Municípios, Estados e Distrito Federal, de acordo com os critérios previstos no art. 35 da Lei n° 8.080, de 19 de
setembro de 1990.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 55
§ 1° Enquanto não for regulamentada a aplicação dos critérios previstos no art. 35 da Lei n° 8.080, de 19 de
setembro de 1990, será utilizado, para o repasse de recursos, exclusivamente o critério estabelecido no § 1° do mesmo
artigo.

§ 2° Os recursos referidos neste artigo serão destinados, pelo menos setenta por cento, aos Municípios, afetando-se
o restante aos Estados.

§ 3° Os Municípios poderão estabelecer consórcio para execução de ações e serviços de saúde, remanejando, entre
si, parcelas de recursos previstos no inciso IV do art. 2° desta lei.

Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3° desta lei, os Municípios, os Estados e o Distrito Federal
deverão contar com:

I - Fundo de Saúde;

II - Conselho de Saúde, com composição paritária de acordo com o Decreto n° 99.438, de 7 de agosto de 1990;

III - plano de saúde;

IV - relatórios de gestão que permitam o controle de que trata o § 4° do art. 33 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro
de 1990;

V - contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento;

VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS), previsto o prazo de dois anos para
sua implantação.

Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, ou pelos Estados, ou pelo Distrito Federal, dos requisitos
estabelecidos neste artigo, implicará em que os recursos concernentes sejam administrados, respectivamente, pelos
Estados ou pela União.

Art. 5° É o Ministério da Saúde, mediante portaria do Ministro de Estado, autorizado a estabelecer condições para
aplicação desta lei.

Art. 6° Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 28 de dezembro de 1990; 169° da Independência e 102° da República.

FERNANDO COLLOR
Alceni Guerra

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 31.12.1990

Fonte: Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8142.htm
Acesso em 08 de fevereiro de 2008.

Situação: Não consta revogação expressa


Chefe de Governo: Fernando Collor
Fonte: DOFC de 31/12/1990, p. 25694
Ementa: Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde - SUS e sobre as
transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 56
Referenda: Ministério da Saúde
Alteração: Lei 8.689, de 27/07/1993: Extingue INAMPS e transfere competências para o SUS.
Correlação:
- DEC 806 - 24/04/1993: Reorganiza o FNS.
- PRT/MS 1.157 - D.O. 27/04/1993 p. 5462: Cria Conselho de Coordenação dos Projetos Internacionais.
- PRT/MS 182 - D.O. 08/02/1996 p. 2210: Dispõe sobre a X Conferência Nacional da Saúde.
- PRT/MS 3.842 - D.O. 09/11/1998 p. 118: Define o repasse de recursos correspondente a descentralização das
Unidades de Saúde da Fundação Nacional de Saúde.
- PRT/MS 3.925 - D.O. (Eletrônico) 02/02/1996 p. 23: Aprova Manual para Organização da Atenção Básica no Sistema
Único de Saúde.
- RES/MS/CNS 276 - D.O. 07/05/1999 p. 162: Aprova o Plano de Trabalho da Comissão Intersetorial de Recursos
Humanos de Saúde.
- RES/MS/CNS 280 - D.O. 07/05/1999 p. 162: Aprova as Diretrizes da Política de Medicamentos Genéricos.
- RES/MS/CNS 284 - D.O. 07/05/1999 p. 163: Estabelece estratégias para o Programa Nacional de Controle de
Tuberculose.
- RES/MS/CNS 285 - D.O. 07/05/1999 p. 163: Dispõe sobre o apoio do Conselho Nacional de Saúde ao Programa
Nacional de Combate ao Câncer do Colo Uterino.
- RES/MS/CNS 290 - D.O. 17/05/1999 p. 25: Aprova as Diretrizes para elaboração da proposta orçamentária do
Ministério da Saúde para o ano de 2000.
- RES/MS/CNS 291 - D.O. (Eletrônico) 09/06/1999 p. 3: Aprova o Regimento Interno do Conselho Nacional de Saúde.

Fonte: Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos


http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/fraWeb?OpenFrameSet&Frame=frmWeb2&Src=%2Flegisla%2Fl
egislacao.nsf%2FViw_Identificacao%2Flei%25208.142-1990%3FOpenDocument%26AutoFramed
Acesso em 08 de fevereiro de 2008.

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AGENDA
1º. SEMESTRE DE 2008

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Turmas regulares para 2008 MOLECULAR EM TUMORES EMBRIONÁRIOS E
Informações: http://br.geocities.com/cvpsihospitalar/ LEUCEMIAS NA INFÂNCIA - INCA
04 a 06 de março de 2008
Rio de Janeiro / RJ / Brasil
P ÓS-GRADUAÇÃO EM P SICOLOGIA EM Informações:
ONCOLOGIA - INCA http://www.inca.gov.br/eventos/eventos_view2.asp?ID
10 vagas para 2008 =1359
Rio de Janeiro / RJ / Brasil
Informações: secad05@inca.gov.br
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA ,
P ESQUISA E INTERVENÇÃO EM LUTO
07 de março de 2008 a 07 de junho de 2009
São Paulo / SP / Brasil
FEVEREIRO/2008 Informações: http://www.4estacoes.com

CURSO INTRODUÇÃO AO P SICODRAMA 1º SIMPÓSIO SUL CAPIXABA DE FERIDAS,


12 a 21 de fevereiro de 2008 OSTOMIAS & CIA...
São Paulo / SP / Brasil 07 e 08 de março de 2008
Informações: http://www.abps.com.br Cachoeiro do Itapemirim/ES
Informações:
http://www.ctapogeu.com.br/simposio/index.php
CURSO DE AVALIAÇÃO P SICOLÓGICA PARA
P ACIENTES CANDIDATOS A CIRURGIA
BARIÁTRICA DE SANTA CATARINA CURSO PSICOLOGIA HOSPITALAR EM
29 de fevereiro a 01 de março de 2008 HOSPITAL GERAL
Florianópolis / SC / Brasil 14 de março a 16 de maio de 2008
Informações: http://www.inbio.org.br/ Matrículas: 1º. de fevereiro a 7 de março de 2008
Informações:
http://br.geocities.com/psicologiahospitalar/

MARÇO/2008
III CONGRESO ARGENTINO DE SALUD MENTAL
27 a 29 de março de 2008
V CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM P SICOLOGIA Buenos Aires / Argentina
HOSPITALAR DA FACULDADE DE MEDICINA DO Informações: http://www.aasm.org.ar/
ABC
Início: 01 de março de 2008
Santo André / SP / Brasil CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE O CORPO EM
Informações: P SICANÁLISE
http://www.universodosaber.com.br/cursos1.asp?id=3 27 a 29 de março de 2008
Aracaju / SE / Brasil
Informações: http://www.corpoempsicanalise.com.br/
ESPECIALIZAÇÃO EM P SICO ONCOLOGIA
04 de março a 09 de dezembro de 2008
São Paulo / SP / Brasil IV CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM P SICOLOGIA
Informações: HOSPITALAR DA FACULDADE DE MEDICINA DO
http://www.hcanc.org.br/index.php?page=40&idCurso ABC
=142 Inscrições até março de 2008
São Paulo / SP / Brasil
Informações:
http://www.psicocursos.com.br/intro_c1.html

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XIII ENCONTRO P ARANAENSE / VIII CONGRESSO
BRASILEIRO / II CONVENÇÃO BRASIL-AMÉRICA
DE P SICOTERAPIAS CORPORAIS
22 a 24 de maio de 2008
Curitiba / PR / Brasil
ABRIL/2008
Informações: http://www.centroreichiano.com.br/

I SIMPÓSIO MULTIPROFISSIONAL DE ONCOLOGIA


DO HOSPITAL SANTA CATARINA JUNHO/2008
04 e 05 de abril de 2008
São Paulo / SP / Brasil
Informações: cecap@hsc.org.br 10º. CONGRESO MUNDIAL DE P SICO-ONCOLOGÍA
09 a 13 de junho de 2008
Madrid / Espanha
VII CONGRESO ARGENTINO DE DERECHO Informações: http://www.ipos-society.org/ipos2008/
MEDICO
22 e 23 de abril de 2008
Buenos Aires / Argentina III CONGRESSO BRASILEIRO DE NUTRIÇÃO E
Informações: info@aadefarm.org CÂNCER
18 a 21 de junho de 2008
São Paulo / SP / Brasil
II CONGRESSO LATINO -AMERICANO DE ANÁLISE Informações: ganepao@ganep.com.br
BIOENERGÉTICA
30 de abril a 03 de maio de 2008
Recife / PE / Brasil
Informações: http://www.analisebioenergica.com JULHO/2008

II FÓRUM P AULISTA DA ABORDAGEM CENTRADA


MAIO/2008 NA P ESSOA
9 a 13 de julho de 2008
São Pedro / SP / Brasil
EAD - CURSO VIRTUAL DE PSICOLOGIA Informações: http://www.apacp.org/forumpaulista.htm
HOSPITALAR E DA S AÚDE
05 de maio a 03 de julho de 2008
Informações: http://br.geocities.com/cvpsihospitalar/ CURSO DE INVERNO DE PSICOLOGIA
HOSPITALAR 2008
28 de julho a 2 de agosto de 2008
25 YEARS OF HIV Matrículas: 5 de maio a 11 de julho de 2008
19 a 21 de maio de 2008 Belo Horizonte / MG
Paris / França Informações:
Informações: 25yearsHIV@pasteur.fr http://br.geocities.com/psicologiahospitalar/

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Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2008, Ano 4, n.7. 60
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Ano 4, Número 7, Fevereiro a Julho-2008

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