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Diário de Sofia
3 de Outubro
Deram-me este Diário quando fiz anos. Tive tal desilusão quando o
desembrulhei, que me apeteceu atirá-lo para o caixote do lixo.
Um livro em branco, à espera que eu, que nem para ler tenho paciência, aí
escreva a minha vida. Para algum dia qualquer bisbilhoteiro ficar a saber os meus
segredos mais íntimos, se apanhar a chave. Era o que faltava!
Além disso “Diário”lembrou-me logo “caderno diário”, essa praga em que todos
os dias tenho de escrever as confidências dos setores. E os trabalhos de casa…
(…) Atirei-o para o fundo da gaveta.
Hoje encontrei-o. É domingo. Devia estudar mas não estou para isso. Folheio o
livrinho em branco, imagino o que está ainda em branco na minha vida. Porque não hei-
de escrever sobre mim? Quem sabe se não virei a ser pessoa famosa? Ainda tudo me
pode acontecer.
O diário de um super qualquer, que o meu pai tem, está recheado de altos
pensamentos. Tão recheado que até enjoa.
Fora com os pensamentos! Viva o Sol!
Estou aqui fechada em casa com quatro dinossauros (familiares). E chove:
óptimo para as alfaces, péssimo para mim.
SOARES, Luísa Ducla – Diário de Sofia & Companhia, Civilização Ed.
1 de Janeiro
Ai como é bom receber uma carta de amor, mesmo quando estamos nas tintas
para quem a escreve!
O Rodrigo rabiscou-me três páginas cheias de pieguices e juras. Enfiou o
envelope debaixo da porta para eu receber a surpresa no 1º dia do ano. Acha-me a mais
bela, a mais encantadora, a mais torturadora, a mais tudo. Parvo! Gostará de mim terna
e eternamente. Eu conheço a ternura dele a dar golpes de karaté. Até já partiu não sei
quantas costelas a um tipo. Que par tão ridículo, ele com um metro e noventa e eu a dar-
lhe por baixo do braço! Para ser mais romântico meteu entre as folhas uma flor
esborrachada, como os namorados de antigamente.
Guardei a flor dentro de “Os Lusíadas”. Será que Camões também mandava
flores secas às namoradas? Decerto lhes escrevia, porque então não havia telefone.
Talvez lhes mandasse poemas.
“Amor é fogo que arde sem se ver” etc. e tal…
Durante uns dias não escrevi nada porque, primeiro quis pensar seriamente na
finalidade e no sentido de um diário. Experimento uma sensação singular ao escrever o
meu diário. (…)
Apetece-me escrever e quero aliviar o meu coração de todos os pesos. (…)
«O papel é mais paciente do que os homens». (…)
Sim, o papel é paciente! E não tenciono mostrar este caderno com o nome
pomposo de “Diário” seja a quem for, a não ser que venha a encontrar na minha vida o
tal “grande amigo” ou a tal “grande amiga”
Tua Anne
Diário de Anne Frank, trad. de Ilse Losa, Ed. Livros do Brasil (texto com supressões)
Querida Kitty:
Hoje estamos todos perturbados, não conseguimos fazer nada com calma. As
notícias lá fora são horríveis. Dia e noite arrastam a pobre gente das suas casas. Só
deixam levar o que cabe na mochila e algum dinheiro (mas este tiram-lhe mais tarde).
Separam as pessoas em três grupos, homens, mulheres e crianças. É vulgar voltarem as
crianças da escola e já não encontrarem os pais, ou voltarem as mulheres das compras e
darem com a casa selada. O resto da família já foi deportada. (…)
Tua Anne
Diário de Anne Frank, trad. de Ilse Losa, Ed. Livros do Brasil (texto com supressões)
Mó dulo 1 – Textos de Cará cter 2009/1
Autobiográ fico 0
O Diário
1. Anne Frank escrevia o seu diário em forma de cartas, dirigidas a uma amiga
imaginária.
1.1. Propõe uma explicação para tal opção.
3. Sofia é a autora (fictícia) do Diário de Sofia & Companhia. Ela recebeu-o como
presente de aniversário. Qual foi a sua reacção mal o viu? Porquê?
O Diário
1. Anne Frank escrevia o seu diário em forma de cartas, dirigidas a uma amiga
imaginária.
1.1. Propõe uma explicação para tal opção.
Anne escrevia o seu diário em forma de cartas porque não tinha mais ninguém com
quem conversar, Kitty era a sua amiga imaginária a quem ela contava todas as
confidências que nunca contara a ninguém. Imaginava-se a contar a uma amiga que ali
não estava o seu dia-a-dia.
3. Sofia é a autora (fictícia) do Diário de Sofia & Companhia. Ela recebeu-o como
presente de aniversário. Qual foi a sua reacção mal o viu? Porquê?
Sofia, quando viu o diário, teve uma grande desilusão porque, segundo ela, nem para ler
tinha paciência, muito menos para escrever,
▪ A estrutura do diário não é rígida pois é algo pessoal que se pode escrever como se V
quiser.
▪ Nenhum diário tem fórmula de despedida pois este não é uma carta. F
Mó dulo 1 – Textos de Cará cter 2009/1
Autobiográ fico 0
O diário pode ter uma fórmula de despedida no caso de o autor escrever imaginando que
está a escrever algo a alguém.
▪ O diário é como um amigo a quem podemos contar todas as confidências. V
▪ O diário não apresenta qualquer registo da passagem do tempo. F
O diário tem sempre uma data que nos dá a conhecer quando este foi escrito.
▪ No diário real o autor cria uma personagem que escreve sobre factos verdadeiros. F
No diário real são registados episódios vividos e sentidos pelo próprio autor.
▪ No diário de ficção, o autor cria uma personagem que nos vai revelando através do que
regista no seu diário. V
▪ O Diário de Anne Frank e o Diário de Sofia & Companhia são ambos diários reais. F