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Ali Mucussete

Direito Penal

LEGITIMA DEFESA E SEUS EFEITOS NA LEGISLACÃO MOÇAMBICANA

Curso de licenciatura em Direito, 2º. Ano, Iº. Bloco.

ISCED – Instituto Superior de Ciências e Educação a Distancia

Nampula – 2019
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Ali Mucussete

LEGITIMA DEFESA E SEUS EFEITOS NA LEGISLACÃO MOÇAMBICANA

O presente trabalho e de caracter


avaliativo da cadeira de Direito Penal
do curso de Direito, 2º. Ano, Iº.
Bloco.

ISCED – Instituto Superior de Ciências e Educação a Distancia

Nampula – 2019
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INDICE
Introdução....................................................................................................................4
LEGITIMA DEFESA E SEUS EFEITOS NA LEGISLACÃO MOÇAMBICANA....5
1.1. Requisitos da legítima defesa :...........................................................................5
1.1.1. Agressão..........................................................................................................5
1.1.2. Ilícita...............................................................................................................6
1.1.3. Atual ou iminente............................................................................................6
1.1.4. Não provocado pelo defendente......................................................................7
1.1.5. Componentes da Legítima Defesa...................................................................7
1.1.5.1. Direito próprio ou de outrem........................................................................7
1.1.5.2. Elementos Objetivos da Legítima Defesa.....................................................7
1.1.5.3. Elemento Subjetivo da Legítima Defesa......................................................7
1.1.5.4. Excesso na Legítima Defesa.........................................................................8
1.1.5.5. Legítima Defesa Sucessiva ou Recíproca.....................................................8
1.1.5.6. Legítima Defesa Putativa.............................................................................9
I. Conclusão............................................................................................................10
II. Bibliografia...........................................................................................................11
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Introdução
Com efeito e conforme é também entendimento unânime, a proteção dos indivíduos dentro de
um Estado de Direito Democrático deve, em linha de princípio, ser garantida pela autoridade
pública. O Estado detém o monopólio da força da pública, sendo apenas a ele que, em princípio,
é lícito usar essa força para garantir a  proteção dos seus cidadãos e garantir, igualmente, o
império do Direito sobre a ilicitude. Sucede, entretanto, que dada a constante dinâmica das
relações sociais, sempre caracterizada por situações imprevisíveis, o Estado (por meio de seus
agentes) não se encontra em todo o lado para proteger os seus cidadãos. Não raras vezes ocorre
que os cidadãos são vítimas de agressões ilícitas em situação em que não é possível, em tempo
útil, recorrer à força pública para prevenir ou suspender a agressão.
Porque esse não pode ser um motivo para que a ilicitude triunfe sobre o Direito, a ordem jurídica
admite que em certas ocasiões, verificados certos requisitos, os cidadãos possam usar dos meios
ao seu dispor para  prevenir, repelir ou suspender a agressão de que sejam vítimas; nesses casos,
a sua actuação será lícita, porque os mesmos estarão agindo no exercício de um direito: o direito
de legítima defesa
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LEGITIMA DEFESA E SEUS EFEITOS NA LEGISLACÃO MOÇAMBICANA


A Legítima defesa é uma causa de  que se caracteriza pela existência de agressão ilícita, actual
ou iminente, a direito próprio ou alheio, que pode ser repelida usando-se moderadamente dos
meios necessários. Esta situação justificante encontra-se positivada no Art. 23, II, e no Art. 25,
ambos do Código Penal.
Agindo nos termos que justificam a legítima defesa o agente não pratica crime, devido à
exclusão da anti juridicidade, que é elemento integrante e essencial do fato punível. No entanto,
o agente pode responder pelo excesso a título de dolo ou culpa.
Ideia básica da legítima defesa consiste no entendimento de que se uma pessoa é agredida, não
podendo usar os meios normais de repressão dessa agressão, como chamar a polícia ou fazer
queixa ao tribunal em tempo útil, pode, em princípio, agir por suas próprias mãos para garantir a
sua defesa
A legítima defesa aparece, portanto, Como uma situação de exercício de um direto, o direito de
defesa. É por este motivo que a legítima defesa eve situar-se no campo da exclusão da ilicitude
enão no campo da exclusão da culpa Como no passado chegou a ser defendido.
1.1. Requisitos da legítima defesa :
1.1.1. Agressão
 É toda ação humana de violência real ou ameaça da dirigida contra bens jurídicos do agredido
ou de terceiro. O conceito de agressão não abrange as chamadas não-ações, no caso de lesão de
bens jurídicos relacionada a ataques epiléticos ou estados de insciência, como sono, desmaio ou
embriaguez comatosa, que podem todavia, fundamentar o estado de necessidade -, porque
movimentos corporais agredido. Meramente causas não constituem ações humanas, Injusta é
aquela ação não provocada ou não motivada pelo alguém.
Normalmente a agressão suscetível da dar origem à legítima defesa consiste num acto positivo
capaz de suscitar no agredido a necessidade de se defender. Entretanto, assente que está o
entendimento de que a omissão é também um modo idóneo de cometer delitos, deve – se
também aceitar perfeitamente que a agressão que pressupõe a legítima defesa possa igualmente
traduzir-se numa omissão.
A agressão que dá lugar à legítima defesa deverá ter como agente a pessoa humana (agindo por
si diretamente ou, como ocorre várias vezes, agindo por intermédio de outros seres que utilize
como seus instrumentos, nomeadamente animais). Não se entenderá por afastada a legítima
defesa de agressão mesmo quando a mesma seja cometida por crianças, inimputáveis, ou agentes
que atuem sem culpa em virtude do erro ou boa fé.
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1.1.2. Ilícita
Para que represente uma condição idónea de legítima defesa, a agressão tem de ser antijurídica,o
que, no entender do Professora Teresa Beleza“
quer dizer uma agressão que pode até eventualmente não ser criminosa (por exemplo, uma
agressão praticada  por um inimputável, não é criminosa na medida em que ele não é susceptível
da culpa) mas em relação à qual a  pessoa agredida não é obrigada a suportá-la .
A ilicitude ou antijuridicidade da agressão quer dizer que a mesma “há-de consistir na ameaça da
lesão de interesses ou valores (sejam de natureza pessoal ou patrimonial juridicamente
protegidos 
” Sendo igualmente que “uma tal ilicitude há de resultar de a agressão ir contra as normas
objetivas de valoração onde quer que elas se encontrem e sejam elas de direito administrativo,
civil, constitucional. 
1.1.3. Atual ou iminente
Nos termos do n 1º do artigo 46º do Código Penal, a legítima defesa só pode dar-se contra uma
agressão “em execução ou iminente ”, nisto consiste o requisito da atualidade da agressão.
um direito de defesa contra agressões atuais, e isto porque destinando-se a defesa a evitar uma
lesão, não se compreenderia que a lei o reconhecesse contra lesões futuras ou passadas. A
atualidade significa que a agressão deve estar em execução ou iminente, isto é, que existem já
atos que segundo a experiência comum, conduzem a consumação.
 Atual é aquela agressão que esta sendo realizada ou continuada no momento. Iminente, segundo
agredir, ou o movimento da mão do agressor em direção à arma, não configuram, ainda,
tentativa, Roxin inerente ao conceito de tentativa: a aproximação do agressor com um porrete na
mão para mas o úl mo momento da fase preparatória, suficiente para caracterizar a iminência da
agressão, e assim, justificar ti a defesa., está situada no momento final da preparação,
relacionado ao conceito de desencadeamento imediata.
1.1.4. Não provocado pelo defendente
Agressão que pressupõe a legítima defesa para além das características já mencionadas, tem
ainda segundo o nosso Código Penal Moçambicano, de não ser “
Motivada por provocação, ofensa ou qualquer crime actual praticado pelo que defende 
” ( artigo 46º, n.1).Diferentemente do que sucede com os caracteres supra mencionadas em que a
quase totalidade de doctrinal alcançou consenso na interpretação, o requisito de “ausência de
provocação” tem levantado as maiores dificuldades de interpretação, gerando os mais acessos e
interessantes debates doutrinários.
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Por exemplo, Maia Gonçalves nos informa que a exigência deste requisito tem dado origem a
dificuldades de interpretação, “ pois seria dificilmente justificável que uma provocação nos
moldes gerais afastar-se, só por si, a possibilidade de um direito de defesa .
1.1.5. Componentes da Legítima Defesa
1.1.5.1. Direito próprio ou de outrem
são os bens jurídicos que podem ser protegidos através da legitima defesa. O bem jurídico não se
confunde com o objeto da ação, caso alguém ataque outrem com o objetivo de feri-la, o objeto da
ação é a pessoa em concreto, enquanto o bem jurídico protegido é a integridade física ou a vida.
1.1.5.2. Elementos Objetivos da Legítima Defesa
Meios necessários usados moderadamente. "Necessários são os meios suficientes e
indispensáveis para o exercício eficaz da defesa. Senão houver outros meios poderá ser
considerado necessário único meio disponível, além, do meio utilizado dever ser o necessário
para repulsa eficaz, exige-se que seu uso seja moderado, especialmente quando se tratar do único
meio disponível e apresentar-se visivelmente superior ao que seria necessário. Essa circunstância
deve ser determinada pela intensidade da agressão e pela forma do emprego e dos meios
utilizados. Assim, os meios não devem ir além do estritamente necessário para que seja realizada
uma defesa eficaz.
A defesa necessária não exige proporcionalidade entre os meios de defesa e os meios de
agressão, porém modernamente defende-se que desproporcionalidade extrema é incompatível
com o conceito de necessidade de defesa, assim não seria legitimo atirar em meninos que furtam
laranjas no quintal de casa..
1.1.5.3. Elemento Subjetivo da Legítima Defesa
Para a doutrina dominante basta que a pessoa tenha conhecimento da situação justificante para se
caracterizar a legítima defesa, já outra parte da doutrina entende que além de conhecimento da
situação justificante deve haver vontade de defesa, conhecida como animus defendi. 
Assim, a mulher que pensando atirar em seu marido que voltava de uma orgia noturna atinge um
ladrão armada que adentrava sua casa, não encontra-se em situação justificada, pois não tinha
conhecimento da situação de legítima defesa, havendo um desvalor da ação.
1.1.5.4. Excesso na Legítima Defesa
Consiste na desnecessária intensificação de uma conduta inicialmente legítima. O excesso pode
decorrer tanto do emprego do meio desnecessário, quanto da falta de moderação. Segundo o
parágrafo único do artigo 23 do Código Penal, o agente pode responder pelo excesso culposo ou
doloso.
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No excesso doloso o agente tem plena consciência que intensifica desnecessariamente sua
conduta de início legítima, já no excesso culposo o excesso é inconsciente, ou involuntário, de
maneira que sua conduta resulta de uma má apreciação da realidade, incidindo em erro de tipo.
Nestes casos, deve-se avaliar se este erro foi evitável ou inevitável, caso evitável o agente será
punido a título de culpa (culpa imprópria), caso inevitável, exclui-se dolo e culpa Parte da
doutrina costuma analisar a inevitabilidade conforme o critério do homem-médio, de maneira a
considerar evitável, o erro que uma pessoa de mediana prudência e discernimento não teria
cometido, e inevitável o erro em que qualquer pessoa mediana incorreria.
 No entanto, a dourina mais apurada reconhece que o conceito de homem-médio, como um ser
abstrato, não é racional, visto que impossível estabelecer aprioristicamente padrões de conduta
que possam ser sempre exigidos no caso concreto. Os seres humanos não existem na abstração, e
somente em sua concretude podem ser analisados como critério de culpabilidade.
1.1.5.5. Legítima Defesa Sucessiva ou Recíproca
Quando a legítima defesa é exercida de maneira desproporcional o agressor inicial se torna
vítima da agressão desproporcional, este pode então defender-se desta agressão que não mais se
encontra justificada.
"Imagine-se, por exemplo, que para defender-se das agressões verbais proferidas por José, Maria
pega a faca de cozinha que tinha ao alcance da mão com a intenção de feri-lo, momento em que
José agarra violentamente Maria pelo braço, causando-lhe escoriações, logrando desta forma
retirar a faca de cozinha que esta empunhava.
As escoriações estarão justificadas porque trata-se de defesa exercida legitimamente pelo
agressor inicial frente a uma reação desproporcionada daquela que inicialmente foi
agredida".Neste situação existe legítima defesa sucessiva.
Ao contrário da legítima defesa sucessiva, que é permitida pelo Direito, a legitima defesa
recíproca não é admitida, pois incabível legítima defesa contra legítima defesa. Este é o caso
típico do duelo, no qual ambos são agressores recíprocos. Pode-se considerar possível a legítima
defesa recíproca no caso haver legítima defesa real contra legítima defesa putativa, na qual o
agente encontra-se em erro, supondo situação de fato, que permitiria a ação de defesa, que não
existe.
1.1.5.6. Legítima Defesa Putativa
A legítima defesa putativa pode se dar por duas espécies: Por erro de tipo permissivo, regida pelo
art. 20, 1º, CP ou por erro de proibição, inscrito no art. 21 do CP. No erro de tipo permissivo
ocorre falsa percepção da realidade que recai sobre situação de fato descrita como requisito
objetivo da legítima defesa. Se em uma situação concreta, a pessoa acreditando estar diante de
uma injusta e iminente agressão, quando está de fato não existe, age em legítima defesa, ocorre
erro de tipo permissivo. Nestas situações, caso o erro seja plenamente justificado pelas
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circunstâncias, o agente é isento de pena, porém, caso o erro derive de culpa, e o fato seja
punível como crime culposo, não há isenção de pena.
Já no erro de proibição, o erro do agente recai sobre os limites legais da legítima defesa. O
agente tem perfeita percepção da realidade fática da situação, porém, desconhece que a lei proíbe
sua conduta. Trata-se de erro de proibição indireto (falsa percepção da realidade incide sobre
uma autorização contida em uma norma permissiva). Se o erro é inevitável, há exclusão da
culpabilidade, se evitável, leva a diminuição da pena.
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I. Conclusão

Por tudo o que se expôs até aqui, deve desde logo, apontar-se que a disposição constante no n.1
do artigo46º do Código Penal moçambicano não é de fácil interpretação. Com efeito, í
indefensável a ideia de que toda e qualquer provocação exclui por completo a legítima defesa do
agredido. Mas se assim é, e porque conforme princípio interpretativo o nosso entendimento deve
procurar alguma correspondência com o textolegal, que características deve ter então a
provocação para que, conforme preceituado, possa excluir a legitima defesa do
provocador? Respondemos esta questão partindo do pressuposto de que a legítima defesa é uma
figura que tem comoescopo fundamental a realização dos princípios de protecção do indivíduo e
prevalecimento do Direito sobre a ilicitude. Sempre que estes princípios não puderem se revelar
numa determinada situação, aí deverá ser excluída a legítima defesa. Esse pressuposto básico
permitiu-nos abraçar o entendimento de que a provocação, seja ela insuficiente ou suficiente, não
é idónea para excluir por completo a legítima defesa do provocador, porquanto a agressãoque
dela possa advir, continua caracterizada pela anti-juridicidade, verificando-se assim a
necessidade de  protecção do indivíduo e a prevalência do Direito, no afastamento dessa
agressão.Seguidamente, o pressuposto básico abraçado desde o início permitiu-nos determinar
que a provocação de que se fala no dispositivo normativo que temos vindo a citar só pode ser a
provocação preordenada, isto é,aquela provocação que, já constituindo em si uma agressão
antijurídica, representa-se dentro de um planodo provocador no sentido de levar o provocado a
reagir de um modo que permita uma agressão final do provocador. Nessa situação porque o
provocador coloca-se voluntariamente em situação de perigo, não existe necessidade de
assegurar a sua protecção individual. Por outro lado, porque a agressão que vem a sofrer da parte
do provocado enquadra-se no seu plano manipulador, não será com a sua reacção que o
Direito prevalecerá sobre a ilicitude
Deste modo, sempre que esteja em causa uma provocação intencional, preordenada, os
pressupostos da legítima devem se entender por afastados completamente.
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II. Bibliografia
-BELEZA, Teresa Pizarro,Direito Penal , 2º vol, AAFDL, Lisboa, S. A
.-BRAZ TEIXEIRA, António,Filosofia do Direito, AAFDL, Lisboa, 1988
-BUSATO, Paulo César, “Valoração crítica daactio libera in causa a partir de um
conceitosignificativo de acção” inhttp://www.mundojuridico.adv.bracesso em 10 de Setembro
de2010 
-CORREIA, Eduardo,Direito Criminal , Vol. II, Livraria Almedina, Coimbra, reimpressão,
 -ROXIN, Claus,Derecho Penal , Parte general, Tomo I, tradução do alemão para espanholde
DiegoManuel Luzon Pena e outros, Editorial Civitas, S. A., Madrid 1997
Legislação
Código Penal Moçambicano

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