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Ordenamento Territorial e Protecao Ambie PDF
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PROTEÇÃO AMBIENTAL
ASPECTOS LEGAIS E CONSTITUCIONAIS DO
ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO 1
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Este texto é parte integrante da tese de doutorado Direito de propriedade e proteção ambiental no Brasil:
apropriação e uso dos recursos naturais no imóvel rural, aprovada em abril de 2003.
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José Heder Benatti é Advogado, doutor em Ciências, Desenvolvimento Socioambiental, mestre em Direito Público,
professor do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Pará, coordenador de pesquisa do Instituto
de Pesquisa Ambiental (IPAM).
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É interessante notar que, na literatura internacional, a categoria utilizada é ordenamento territorial; no Brasil,
desde a década de 1980, a burocracia estatal utiliza a expressão “zoneamento ecológico econômico”, que se
consolidou na década seguinte como designação oficial. A Constituição Federal, no seu art. 21, IX, fala em “elaborar
e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social” (grifo
nosso). O Estatuto da Terra (Lei n. 4.540/64), em seu art. 43, determina que “o Instituto Brasileiro de Reforma
Agrária promoverá a realização de estudos para o zoneamento do país em regiões homogêneas do ponto de vista
socioeconômico e das características da estrutura agrária...”. A Lei n. 8.171, de 17 de janeiro de 1991, que dispõe
sobre a política agrícola, trata, em seu art. 19, sobre zoneamento agroecológico. O Decreto n. 4.297, de 10 de julho
de 2002, que regulamenta o art. 9º, II, da Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, estabelece os critérios para o
Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil – ZEE. A Lei n. 6.938 dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação; o ZEE é um dos instrumentos da Política Nacional do
Meio Ambiente.
No final da década de 1990, os documentos oficiais começam a fazer uma distinção entre ordenamento territorial e
zoneamento ecológico econômico, apresentando este como um instrumento técnico e político para tomada de
decisão e aquele como plano mais geral para disciplinar a ocupação e a exploração do solo e dos recursos naturais.
Para facilitar a compreensão das idéias aqui expostas, trataremos as concepções de ordenamento territorial e ZEE
como sinônimas.
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Na Região Norte, os Estados do Acre, Amapá, Rondônia e Roraima estão realizando seus zoneamentos ecológico-
econômicos, e estão em fases distintas. Os Estados do Amazonas e Pará iniciaram, mas não deram continuidade ao
trabalho. O Acre iniciou a segunda etapa do zoneamento em 2004. Na Amazônia Legal, no Estado do Mato Grosso,
depois de sete anos de trabalho, o Zoneamento Socioeconômico-Ecológico entrou em fase de revisão e, de acordo
com a Secretaria Estadual de Planejamento – a quem coube executar o projeto, foi finalmente lançado em abril de
2003. Os Estados que possuem o ZEE em estágio mais avançado conseguiram terminar a fase de levantamento da
realidade socioambiental, apresentando mapas e relatórios técnicos. Um segundo momento do zoneamento é
trabalhar os dados sistematizados, em alguns casos atualizá-los, garantindo a participação dos diferentes setores da
sociedade para definir as regras do zoneamento.
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Entenda-se por gestão ambiental “o conjunto de princípios, estratégias e diretrizes de ações e procedimentos para
proteger a integridade dos meios físico e biótico, bem como a dos grupos sociais que deles dependem” (BEZERRA e
MUNHOZ, 2000, p. 18).
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A princípio todo ordenamento deve ser democrático, mas, considerando a experiência histórica do autoritarismo
brasileiro, em se tratando de elaboração e implementação de políticas públicas, achamos por bem qualificar o
ordenamento de democrático, mesmo que aparentemente isso seja redundante.
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Uma crítica a esse modelo de zoneamento está contida no trabalho de Manfred Nitsch (1994, p. 501-512), “Riscos
do planejamento regional na Amazônia brasileira: observações relativas à lógica complexa do zoneamento”.
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Um dos argumentos que temos apresentado é que a propriedade tem função social e ecológica. Assim, produzir e
proteger não são atos contraditórios. Além disso, é orientação das decisões jurisprudenciais que o “uso irregular não
pode ser fonte de direito e não configura direito adquirido” (RT, 516/59, 1978, e 526/84, 1979; apud MACHADO,
1999, p. 137). Em outras palavras, o proprietário não pode continuar praticando atos que agridam ao meio ambiente
e alegar direito adquirido. Não há direito adquirido quando se trata de degradação ambiental.
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A crítica às expressões vocação da terra, vocação agrícola, e a análise da construção conceitual de fertilidade
podem ser encontradas no trabalho de Guerra e Ângelo-Menezes (1999), “Do conceito de fertilidade ao de
sustentabilidade”.
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Como bem lembra Meirelles (1993b, p. 409), “o zoneamento, no seu aspecto programático e normativo é objeto de
lei, mas na sua face executiva – em cumprimento da lei – é objeto de decreto”.
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O compromisso de ajustamento de conduta é um instituto jurídico previsto no art. 5º, § 6º, da Lei n. 7.347, de 24
de julho de 1985 (Ação Civil Pública), alterado pelo art. 113 da Lei n. 8.078, de 11 de novembro de 1990 (Código de
Defesa do Consumidor), que tem como objeto a reparação de um dano de interesses metaindividuais; logo, trata-se
de um instrumento de defesa de interesses difusos e coletivos, portanto, também do meio ambiente.
De fato, o compromisso de certa forma vincula o Poder Público e o causador do dano (ou potencialmente causador),
porém o órgão público não fica obrigado a conduta alguma, exceto a não agir judicialmente contra o compromitente
(o causador do dano) naquilo que foi objeto do ajuste, desde que este último cumpra as obrigações acordadas. Já o
compromitente deve ajustar sua conduta ao que foi estipulado no acordo (MAZZILLI, 1999).
A Medida Provisória n. 1.710-1/98 também prevê um instrumento semelhante. O art. 1º dessa Medida afirma: “para
o cumprimento do disposto nesta Lei, os órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente
(Sisnama), responsáveis pela execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização dos estabelecimentos
e das atividades suscetíveis de degradarem a qualidade ambiental, ficam autorizados a celebrar, com força de título
executivo extrajudicial, termo de compromisso com pessoas físicas ou jurídicas responsáveis pela construção,
instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,
considerados efetiva ou potencialmente poluidores” (grifo nosso).
Bibliografia
BENATTI, José Heder. Diagnóstico dos aspectos jurídicos relacionados ao uso dos
recursos naturais no âmbito do Zoneamento ecológico-econômico do Acre. Rio
Branco: Sectama, 1999. Mimeografado.
––––––. Direito de propriedade e proteção ambiental: apropriação e uso dos recursos
naturais no imóvel rural. 2003. Tese (Doutorado) – Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos (NAEA), Universidade Federal do Pará, Belém.
BENATTI, José Heder; CHAVES, Silvia; MAUÉS, Antonio; RODRIGUES, Liana da
Silva. Derecho, institucionalidad y ordenamento territorial en Brasil y Costa Rica.
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A respeito da discussão sobre a propriedade agroambiental e sua função social e ecológica, ver minha tese de
doutorado, Direito de propriedade e proteção ambiental no Brasil.
SUMÁRIO