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1. Introdução
O nosso trabalho debruçou-se sobre a prova de avaliação psicológica denominada Bateria de
Lisboa para Avaliação das Demências (BLAD), um instrumento de avaliação cognitiva,
desenvolvido para a exploração de alterações ou défices cognitivos focais, especialmente
vocacionado para o diagnóstico e caracterização de demências (Alves, 2010).
Ao nível da avaliação cognitiva, existem dois tipos de funções: as funções cognitivas e as funções
executivas (Lezak et al., 2004). Segundo Silva et al. (2006), as funções cognitivas são estruturas
básicas que suportam todas as operações mentais, pelo que incluem as funções recetivas e
expressivas, a memória e aprendizagem, o pensamento e a atenção (Lezak, et al., 2004), dotando-
nos da capacidade de perceber, elaborar e expressar informações.
Por outro lado, segundo a conceção de Royall et al. (2002), as funções executivas são atividades
cognitivas superiores que implicam a formulação de objetivos e conceitos, motivação, atenção,
concentração, seleção de estímulos, capacidade de abstração, planeamento, flexibilidade, controlo
mental, autocontrolo e memória operacional.
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2. Apresentação prova
A BLAD foi desenvolvida por Garcia (1984), e adaptada por Guerreiro (1998), é uma bateria de
avaliação neuropsicológica e foi, durante muito tempo, o único instrumento de avaliação
neuropsicológica compreensivo para adultos, que se encontrava validado para a população
portuguesa (Santana, 2005).
É constituída por um conjunto de 28 provas que permitem avaliar nove capacidades cognitivas
distintas (Guerreiro, 1998), que são consideradas as mais relevantes para a avaliação e diagnóstico
de demência, nomeadamente: a atenção, a memória, a orientação, a linguagem, a iniciativa, as
praxias, a capacidade construtiva, o cálculo e a abstração (Pires, 2009).
População alvo: a BLAD pode ser aplicada a indivíduos entre os 35 e os 79 anos, está adaptada
para diferentes intervalos de idade e graus de escolaridade (Gonçalves, 2003). Contém valores
normativos para vários grupos etários (35–49, 50–64, 65–79) e níveis educacionais (ileterados,
literacia igual ou inferior ao quarto ano e literacia superior ao quarto ano).
A pontuação de cada prova é comparada com a média do intervalo correspondente, permitindo
assim categorizar os défices cognitivos (ligeiro, moderado e grave) em populações com níveis
extremos de escolaridade (Guerreiro, 1998).
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2. Apresentação prova
Aplicação integral demora aproximadamente 1h. A BLAD é constituída pelas provas distribuídas por
duas dimensões:
Funções Cognitivas
A1 – Recetivas: compreensão de ordens; identificação de objetos; versão modificada do teste token,
para avaliação da capacidade de compreensão de material verbal complexo; repetição de frases.
A2 - Expressivas: avaliação da capacidade construtiva na cópia de cubo, desenho de um relógio e
cópia de desenhos; linguagem; leitura de frases; escrita; nomeação.
A3 – Memória: memória lógica; memória visual de Wechsler; memória de números; memória verbal
com interferência; questionário sobre informação geral para avaliação das capacidades de orientação
pessoal, temporal e espacial, das quais 10 questões constituem o Mental Status Questionnaire (MSQ);
questionário sobre informação geral para avaliação da memória remota; prova de pares de palavras.
A4 – Atenção: corte de ‘A’s para avaliar a capacidade de atenção sustentada.
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3. História e Fundamentação da Prova
A BLAD foi criada no contexto de uma investigação realizada no âmbito de uma Dissertação da
Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (Garcia, 1984) e, até recentemente, era a única
prova estudada e validada em Portugal, utilizada na avaliação neuropsicológica de adultos idosos
com suspeita de deterioração cognitiva ou demência (Simões, 2012).
Desde Guerreiro (1998), Gonçalves (2003), Filipe (2009), Sobral & Paúl (2013).
Ponte et al. (2014) realizaram um estudo para caracterizar pacientes idosos que estavam inseridos
na Consulta de Gerontopsiquiatria do Centro Hospitalar do S. J. no Porto, ao nível de variáveis
sociodemográficas, físicas, incapacidades globais, depressão, ideação suícida e qualidade de vida.
Neste estudo foram avaliados 75 pacientes sem défice cognitivo com uma média de idades de 73
anos. A BLAD fez parte do leque de instrumentos utilizados para a avaliação de défice cognitivo
integrados no presente estudo, tendo sido utilizados dois dos testes da bateria, nomeadamente o
Teste de Memória Lógica/Stories e o Teste de Token. Os resultados obtidos evidenciaram que
estes subtestes são uma ferramenta útil para diferenciar idosos saudáveis daqueles que poderão
estar numa fase inicial de demência.
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4. Procedimentos empregues na administração da prova
2. A Memória de Dígitos: esta prova divide-se em duas fases. Na 1ª fase é pedido ao paciente
que repita os números pela mesma ordem em que lhe foram fornecidos. Na 2ª fase é pedido que
inverta a ordem dos mesmos. Aqui, é avaliada a memória de trabalho e os processos atencionais.
A pontuação é dada consoante a série que completar corretamente, somando posteriormente as
duas fases.
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4. Procedimentos empregues na administração da prova
3. Iniciativa e Perseveração, esta avaliação foi dividida em três partes. Na 1ª parte, é solicitado ao
paciente a nomeação de artigos para comer, que pode comprar no supermercado, em apenas 1
minuto. É dado 1 ponto por cada resposta válida. A 2ª parte avalia a motricidade do paciente através
da execução de 3 exercícios. Num primeiro exercício deve realizar movimentos alternados com a
mão, palma da mão esquerda para cima, palma da mão direita para baixo e é dado 1 ponto por cada
5 mudanças consecutivas corretas. O segundo exercício consiste em manter uma mão fechada e a
outra com os dedos virados para baixo. Deve alternar 5 vezes consecutivas corretamente, para obter
uma pontuação máxima de 1 ponto. No último exercício, o paciente tem de bater com o dedo
indicador na mesa, alternadamente, variando entre o indicador direito e esquerdo. Para obter a
pontuação máxima de 1 ponto o paciente tem que ser capaz de realizar este processo 10 vezes de
forma consecutiva e correta. A 3ª parte avalia a capacidade grafomotora, em que o paciente deve
desenhar os exemplos consecutivamente. Este exercício é idêntico ao das séries de Luria.
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4. Procedimentos empregues na administração da prova
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4. Procedimentos empregues na administração da prova
6. A Memória Verbal com Interferência consiste em explicar ao sujeito que serão ditas cinco
palavras e que não as deve repetir, mas tentar decorá-las para mais tarde recordar. As palavras são
ditas e inicia-se o questionário de Informação. Após 1’ pergunta-se as palavras que foram ditas
anteriormente. Elas podem ser evocadas espontaneamente, ou com ajuda, ou por reconhecimento.
São dados 3 pontos por palavra quando dita espontaneamente, 2 pontos com ajuda e 1 ponto por
reconhecimento.
7. Os Pares de Palavras é outra atividade que se resume em três apresentações de uma mesma
lista de palavras, só com ordem alternada. O paciente deve memorizar as listas e, após cada
apresentação, deverá dizer qual a palavra que estava em par com a pedida.
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4. Procedimentos empregues na administração da prova
8. Memória Lógica (evocação espontânea): nesta prova são lidos 2 textos. Após a sua leitura, o
paciente deve dizer tudo aquilo de que se recorda sobre os mesmos. Este exercício propõe que,
após trinta minutos, seja pedido para evocar novamente os textos.
11. A Praxis consiste inicialmente na execução de ordens verbais, como por exemplo levantar o
braço. De seguida, deve executar ações sem objeto (escrever) e com objeto (escrever com uma
caneta), primeiro com a mão direita e depois com a esquerda. Tem a pontuação máxima de 12
pontos, 1 ponto por cada ação bem executada.
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4. Procedimentos empregues na administração da prova
12. A Habilidade Construtiva é constituída por 3 exercícios. No 1º, é pedido ao paciente para
copiar as figuras de Wechsler. Após a sua conclusão, deve desenhar o cubo. A pontuação do 1º
exercício é realizada através de parâmetros específicos e no segundo é dado 1 ponto por cada
característica presente (a pontuação máxima no cubo é de três pontos). O 2º exercício consiste no
desenho de um relógio com números e ponteiros: á atribuído 1 ponto por cada característica
correta (pontuação máxima de 3 pontos). O 3º exercício é formado pelos cubos de WAIS.
13. Na Aritmética, o cálculo pode ser escrito ou mental, consoante as capacidades do paciente.
Engloba cálculos de adição, subtração e multiplicação. A classificação é dada consoante a
dificuldade deste, tendo como pontuação máxima 14 pontos.
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4. Procedimentos empregues na administração da prova
15. No exercício dos Provérbios, é dito ao sujeito um provérbio, cujo significado dever ser capaz
de explicar. A pontuação vai de 0 a 3, consoante o grau de abstração.
16. Interpretação da figura é apresentado ao sujeito uma figura e este deve dizer o que acha que
aconteceu. Não se trata de descrever, mas criar um enredo. Caso interprete corretamente a figura,
obtém 3 pontos; se fizer mera descrição ou interpretação errada terá 1 ponto e ausência de reação
0 pontos.
17. A Orientação Esquerdo – Direito tem como objetivo avaliar a orientação e o esquema
corporal. O sujeito deve cumprir a ordem que lhe é pedida, por exemplo: “Com a sua mão direita
aponte para o meu ombro direito”. A pontuação varia consoante a dificuldade da execução, sendo
a máxima total de 6 pontos.
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5. Análise crítica
Limitações ou desvantagens na sua aplicação:
Não se encontra comercializada e os dados do estudo de adaptação também não estão publicados (Fernandes, 2009).
Muito usada em contexto clínico e hospitalar, apresenta normas bastante datadas, provenientes de uma amostra
também pouco representativa (Simões, 2012).
Os critérios de cotação são muito superficiais e mais adequados à população idosa e aos quadros demenciais (Neuza,
2013).
A cotação das provas não é homogénea, existindo algumas provas que implicam uma cotação simples e prática e
outras com uma cotação mais complexa.
Nem todas as áreas do funcionamento cognitivo são passíveis de avaliação, nomeadamente a atenção dividida ou a
orientação espacial.
A inexistência de provas alternativas que possam ser aplicadas em caso de dificuldades motoras ou expressivas,
assim como a inexistência de provas não dependentes do conhecimento da linguagem escrita que possam ser usadas
por pacientes iletrados ou analfabetos (Caldeira, 2011).
A falta de procedimentos que assegurem a aprendizagem nas tarefas de memória verbal e visual imediata, o que
poderá condicionar a avaliação da memória a longo prazo (Lezak et al., 2004).
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5. Análise crítica
Principais vantagens:
O facto de estar validada para a população Portuguesa e ter vindo a apresentar boas qualidades
psicométricas, quer em termos de fidelidade, quer sensibilidade (Rocha, 2011).
Permite uma avaliação cognitiva mais completa e uma avaliação global da severidade demencial, sendo
um instrumento sensível no diagnóstico de DA em qualquer uma das fases de progressão da doença.
Paralelamente, apesar de ter sido inicialmente concebida para avaliação de situações de demência, o seu
leque de aplicação tem vindo a ser alargado à avaliação neuropsicológica geral de adultos. Esta bateria
permite também a correlação da pontuação total com outros instrumentos (Caldeira, 2011), assim como
a comparação dos resultados obtidos nas subprovas com os valores considerados normais para a
população portuguesa, tendo em conta o grau de escolaridade e idade dos pacientes (Guerreiro, 1998).
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Referências Bibliográficas
Alves, V. (2010). Avaliação da memória e atenção numa amostra de idosos: Adaptação do Short
Cognitive Test (SKT) [Master's thesis, Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte]. Repositório CESPU.
Caldeira, M. J. V. (2011). Adaptação e validação do Ineco Frontal Screening [Master's thesis,
Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte]. Repositório CESPU.
Fernandes, S. (2009). Adaptación del test de colores y palavras de stroop en una muestra
portuguesa. Influencia de la reserva cognitiva en la función ejecutiva de sujetos sanos y com enfermedad tipo alzheimer de
início tardío [Doctoral dissertation, Universidad de Salamanca]. Repositório Universidad de Salamanca.
Filipe, C. M. F. (2009). Reabilitação Neuropsicológica na Doença De Alzheimer - Efeitos de uma
intervenção para reabilitação de doentes com demência de Alzheimer [Master's thesis, Instituto Superior Miguel Torga].
Repositório ISMT.
Garcia, C. (1984). Doença de Alzheimer: problemas do diagnóstico clínico [Doctoral dissertation,
Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa]. Repositório Universidade de Lisboa.
Gonçalves, M. (2003). Influência da Escolaridade no Desempenho da BORB [Master's thesis,
Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa]. Repositório Universidade de Évora.
Guerreiro, M. (1998). Contributo da Neuropsicologia para o Estudo das Demências [Unpublished
Doctoral dissertation]. Universidade de Lisboa.
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Referências Bibliográficas
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