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Revista Acadêmica
RESUMO
Este artigo configura-se como uma investigação sobre a neurociência e os benefícios da música
para o desenvolvimento cerebral, com o objetivo de se pensar a educação escolar de crianças por
meio da música. Realizou-se pesquisa bibliográfica, revisitando artigos e publicações disponíveis
na literatura sobre o tema. Após a investigação, consideramos que a música, por estimular todas as
áreas do cérebro, ambos os hemisférios, possibilita a potencialização das aprendizagens emocionais,
cognitivas, sociais e a própria estrutura cerebral. Dessa forma, a inclusão da música na escola deve
ser pauta para profundas discussões entre educadores comprometidos com uma educação de
qualidade.
ABSTRACT
This paper is set as an investigation on neuroscience and music benefits for the brain development with
the aim of thinking on children´s school education through music. We did a bibliographic research,
revisiting papers and available publications in the literature about the theme. After investigation, we
consider that music, as it stimulates all brain areas, both hemispheres, enables the potentialization of
emotional, cognitive, social and the brain structure itself. In this way, the inclusion of music in schools
should be a guideline for deep discussions among educators committed to quality education.
1. INTRODUÇÃO
Pesquisas no campo da Neurociência têm feito descobertas fundamentais para entendermos
o funcionamento cerebral dos indivíduos em diversas atividades. Entre elas, a atividade musical
apresenta muitos benefícios para o desenvolvimento cerebral, tanto ao ouvir quanto ao tocar um
instrumento musical.
Portanto, o objetivo geral deste artigo trata de apresentar estudos da neurociência os benefí-
cios da música para o cérebro e o objetivo específico é pensar o ensino da música na Educação como
forma de beneficiar o desenvolvimento global dos alunos.
Sabendo disso, pretendemos refletir sobe a seguinte problemática: Por que e como podemos
inserir a música na escola?
Isso tudo é bem mais intenso quando um indivíduo toca um instrumento musical. Mais áreas
do cérebro são ativadas e pode-se comparar essa experiência cerebral a um exercício físico do corpo
inteiro.
simultânea o que impacta no trabalho dos sistemas de memória. Devido a isso, eles criam, estocam
e recuperam memórias mais rapidamente e de maneira mais efetiva por meio de palavras-chave ou
tags relacionadas a certas emoções.
Enfim, tocar um instrumento musical, além de apenas escutar uma música, cria conexões en-
tre o lado esquerdo do cérebro (supostamente ligado à matemática e às exatas) e o lado direito (re-
lacionado à criatividade e às artes) do órgão. Isso pode ser considerado marcante, já que a conexão
entre ambos os lados é defasada para quem não pratica música.
Até o momento, neurocientistas ainda não encontraram nenhuma outra atividade humana
que permita tanto desenvolvimento cerebral que se compare à prática de tocar um instrumento
musical, justificando, dessa forma, a importância de tal atividade para os indivíduos, pois pode ser
essencial para melhorar a memória, noções de matemática e para lidar melhor com mais de uma
tarefa ao mesmo tempo.
Para Cuervo (2011), a música e a linguagem têm colaborado muito para o mapeamento de
redes neuronais, pois o ser humano é essencialmente linguístico e a música é uma arte que se utiliza
de símbolos para comunicação e expressão.
Santos e Parra (2015) investigaram a inter-relação entre música e as neurociências por meio de
revisão bibliográfica, correlacionando música e emoção, música, cognição e aprendizagem. Como
resultado de sua pesquisa concluíram que a música, ativa diversas estruturas cerebrais, como o siste-
ma límbico, responsável por emoções e comportamentos sociais. A música vai além e contribui para
processos cognitivos e aprendizagens, como a introjeção de regras e sociabilidade.
Utilizando-se dessas informações sobre os benefícios da música para o cérebro, partimos para
o entendimento da inteligência musical, uma entre oito das inteligências definidas por Gardner
(1983).
3. INTELIGÊNCIA MUSICAL
Atualmente, o desenvolvimento das inteligências é entendido como produto da combinação
de características inatas com características adquiridas. Para discutir esse entendimento, a teoria
mais aceitável é a teoria das inteligências de múltiplas de Gardner (1983) baseada em pesquisas
neurobiológicas. Gardner (1983) propôs a existência de oito inteligências, a saber: a inteligência lin-
guística ou verbal, a lógico matemática, a espacial, a musical, a cinestésica corporal, a naturalista, a
intrapessoal e a interpessoal.
Cada uma dessas inteligências localiza-se em diferentes partes do cérebro e todos os indivídu-
os possuem todas elas, apesar de termos umas mais predominantes do que outras.
Quanto à inteligência musical, área que queremos nos concentrar devido ao tema do artigo,
é a mais discutida de todas as inteligências. Para Gardner (1983), todos os seres humanos (exceto
aqueles com doenças congênitas) têm a possibilidade de desenvolver a inteligência musical.
A área musical se concentra no hemisfério direito do cérebro e pode ser estimulada por meio
de canto, audição, movimento, dança, jogos musicais, identificação de sons, e outras atividades que
desenvolvam o ouvido interno.
Esse conhecimento nos leva em direção à educação de nossas crianças, pois, se podemos es-
timular suas aprendizagens com música, porque não inserir atividades musicais como parte funda-
mental do currículo escolar? Veremos a seguir algumas implicações da música na educação escolar.
4. EDUCAÇÃO E MÚSICA
Para Ilari (2003), quando a criança está em idade escolar, o aprendizado musical tem valor
em si mesmo, mas também possibilitam o ensino e a aprendizagem de conceitos, ideias, formas de
socialização e cultura.
A pesquisadora sugere aos educadores uma série de atividades musicais possíveis para reali-
zar com as crianças que pode incluir momentos para cantar músicas, produzir ritmos, movimentar
o corpo, audição de diversos tipos de músicas, trabalhar com artefatos que produzam sons e instru-
mentos musicais e também produzi-los com diversidade de materiais, produzir notações musicais,
jogos musicais, rimas e parlendas, encenações, escutar e criar histórias musicais, composição e in-
venção de músicas etc.
A pesquisadora comenta sobre algumas das atividades propostas anteriormente com mais
atenção.
Com relação aos jogos musicais, eles devem ser realizados coletivamente, de forma participa-
tiva, sem cunho competitivo, sendo significativos para a motivação e neurodesenvolvimento, contri-
buindo para o desenvolvimento da noção espacial e o pensamento social.
Ilari (2003) também nos sugere ideias de jogos musicais e que áreas do cérebro eles ativam
são. Quanto à atenção, a memória, a linguagem, a ordenação seqüencial e pensamento superior, po-
dem-se propor jogos de memória de timbres, notas e instrumentos, dominós de células rítmicas ou
instrumentos musicais e brincadeiras de solfejo. Para ativar a memória, a orientação espacial, o sis-
tema motor e de pensamento social, bons jogos são aqueles que utilizam o corpo, como mímica de
sons imaginários, brincadeira da cadeira, cantigas de roda, encenações musicais e pequenas danças.
Outra atividade musical possível para a sala de aula é a execução instrumental que se refere
ao tocar um instrumento desenvolve atenção, memória, orientação espacial, ordenação sequencial,
habilidade motora e o pensamento superior. O educador precisa escolher um instrumento compatí-
vel com a idade da criança de modo que ela perceba sua competência. Ao tocar um instrumental de
forma coletiva em sala, a criança consegue desenvolver também o pensamento social.
Sobre a composição e a improvisação musical, Ilari (2003) afirma que a criança, ao compor e
improvisar música experimenta os sons, a utilização do ouvido interno e resolução de problemas,
o que ativa a atenção, a memória, a linguagem, a ordenação seqüencial, o pensamento superior e
muitas outras capacidades.
O trabalho com notação musical pode ser feito com as representações musicais das próprias
crianças por meio de seus desenhos ou símbolos inventados. Essas invenções auxiliam no desenvol-
vimento de orientação espacial, ordenação sequencial e pensamento superior.
Por fim, a construção de instrumentos musicais pode se constituir em uma rica experiência
com diversos tipos de materiais, aprendizagem na prática sobre os diferentes instrumentos musicais,
discussão de noções de física, como tamanho dos instrumentos e altura das notas. Essas constru-
ções possibilitam o desenvolvimento dos sistemas do pensamento superior, de ordenação sequen-
cial, motor e de controle da atenção.
Ilari (2003) considera as atividades musicais como muito potentes para o desenvolvimento do
cérebro infantil por ofertar possibilidades de trabalho com as várias áreas do cérebro e suas poten-
cialidades.
Além disso, trabalhar as atividades musicais com crianças desde pequeninas pode ser uma
grande oportunidade de prevenir dificuldades de aprendizagem e auxiliar as crianças a desenvolve-
rem todo o seu potencial criativo e ativo por meio de uma linguagem rica de possibilidades.
Do ponto de vista de linguagem, música é também linguagem porque utiliza signos que trans-
mitem mensagens. A linguagem verbal e a linguagem musical dependem de fonemas e sons, grafe-
mas da leitura verbal e musical, da atenção, da memória e das estruturas motoras que respondem
pelo encadeamento e organização temporal e motora (MUSZKAT, CORREIA & CAMPOS, 2000).
Para Muskat (2017, p. 68), a música amplia o desenvolvimento não só cognitivo, mas também
emocional, pois ajuda as crianças a expressarem suas emoções mais facilmente.
Muskat (2017) aposta na integração da arte, educação e ciência para um melhor neuro desen-
volvimento das crianças para que elas tenham uma multiplicidade de experiências musicais, lúdicas,
criativas e prazerosas. Muskat (2017) aponta que a música estimula potencialmente diversas capaci-
dades cerebrais: flexibilidade mental, a coesão social fortalecendo vínculos e compartilhamento de
emoções que nos fazem perceber que o outro faz parte do nosso sistema de referência, precisão dos
movimentos da marcha, no controle postural, facilitando a expressão de estados afetivos e compor-
tamentais em indivíduos com depressão e ansiedade, potencializa técnicas de reabilitação física e
cognitiva, contribui para a construção de um cérebro biologicamente mais conectado, fluido, emo-
cionalmente competente e criativo.
A Revista Oasis (31/08/2017) publicou um artigo que corrobora com o que dissemos até esse
ponto, afirmando que a musicalização e o aprendizado de um instrumento ajudam na assimilação
de conteúdos em disciplinas que requerem raciocínio lógico e concentração porque o cérebro é esti-
mulado a trabalhar regiões da matemática e das línguas e também a produção de sentido e emoção
da música.
Nesse mesmo artigo, cita-se a lei nº 11.769/2008, em que fica obrigatório que as escolas ade-
quassem o ensino de música ao currículo escolar no prazo de três anos. Embora não haja estatís-
ticas sobre a inclusão de fato nas escolas, algumas práticas já foram identificadas com resultados
positivos. Uma das experiências concentra-se em uma escola da periferia do Rio de Janeiro e conta
com aulas obrigatórias e facultativas, incluindo matérias como percepção musical, desenvolvimento
rítmico e prática de canto e canto coral, além disso, as crianças podem optar por aprender a tocar
instrumentos musicais no contra turno da escola.
Por fim, se queremos oferecer uma educação de qualidade é mister nos debruçarmos a estu-
dar possibilidades de ensino de música às crianças e jovens de todas as fases da educação.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os avanços das pesquisas neurocientíficas têm beneficiado de forma expressiva o olhar sobre
o desenvolvimento cerebral. Devido a isso, pesquisadores da área de Educação têm pensado mais
cuidadosamente sobre as atividades escolares e suas contribuições para o aprendizado das crianças.
As pesquisas que envolvem música, e como vimos no decorrer deste artigo, nos sugerem as
muitas vantagens e possibilidades no que tange o desenvolvimento das diversas áreas do cérebro,
pois demonstram possibilitar inúmeras conexões neurais nos cérebros dos indivíduos que ouvem
música e tocam instrumentos musicais.
Educadores de todas as fases escolares precisam se apropriar dessas descobertas para que
possam colocar em prática as atividades musicais com seus alunos, auxiliando-os em seus desenvol-
vimentos e proporcionando a possibilidade de uma educação cada vez melhor e significativa.
REFRÊNCIAS
ANTUNES, Celso. As inteligências múltiplas e seus estímulos. Campinas: Papirus, 2002.
CUERVO, L. Articulações entre Música, Educação e Neurociências: Ideias para o Ensino Superior. In: 7 SIM-
CAM – Simpósio de Cognição e Artes Musicais, 2011, Brasília. Anais do 7 SIMCAM. Brasília: UNB, 2011.
GARDNER, H. Frames of mind: the theory of multiple intelligences. New York: Basic Books, 1983.
ILARI, B. S. Invented representations of a song as measures of music cognition. Update: The Applica-
tions of Research in Music Education, 20, p. 12-16, 2002b.
Acessado em 16/09/2017.
REVISTA OASIS. Música e neurociência. Estímulos musicais ativam o raciocínio lógico e a concentração.
31 de agosto de 2017. Disponível em: https://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/314918/
Música-e-neurociência-Estímulos-musicais-ativam-o-raciocínio-lógico-e-a-concentração.
htm. Acesso em 17/09/2017.
SANTOS, L. DA S., PARRA, C. R. Música e neurociências inter-relação entre música, emoção, cognição e
aprendizagem. 2015. Disponível em http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0853.pdf. Acesso
em 12/09/2017.