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Desenvolvimento Includente Sustentavel Sustentado PDF
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Desenvolvimento
inciudente, sustentável
sustentado
Prefácio
debate sobre o desenvolvimento vem
sendo travado há algumas décadas, mas
recentemente se intensificou, muitas vezes
de maneira estimulante, com as drásticas
mudanças políticas que o mundo tem
sofrido, o forte acirramento das tensões
sociais e a incessante degradação do meio
ambiente. Nesse contexto delicado, surge a
proposta de um Desenvolvimento
Sustentável como alternativa desejável - e
possível - para promover a inclusão social,
o bem-estar econômico e a preservação
dos recursos naturais.
Essa tese, articulada pelo professor
lgnaçy Sachs, da École des Hautes Études
en Sciences Sociales, conquista cada vez
mais apoio em todo o planeta. 0 professor
Sachs, um profundo conhecedor dos
problemas dos países do assim chamado
Terceiro Mundo, e particularmente do
Brasil, fundou na França o Centro de
Estudos sobre o Brasil Contemporâneo e o
Centro Internacional de Pesquisas sobre
lVleio Ambiente e Desenvolvimento, para
aprofundar e desdobrar essa problemática.
Neste livro, ela é abordada, como
sempre de maneira fecunda e criativa, com
enfoques centrados nas questões do
trabalho, da inclusão social, das políticas
públicas, da distribuição de renda - todas
elas perpassadas pelo fio condutor da
ética, como eixo de um pensamento que
alia o rigor científico a um humanismo
veemente. Como diz Celso Furtado, "a
leitura destes ensaios de Ignacy Sachs,
grande e lúcido conhecedor da proble-
mática do desenvolvimento e, mais
especificamente, dos impasses que
enfrenta o Brasil no momento atual, nos
encoraja a trazer essas questões para
primeiro plano."
Esta obra é publicada em co-edição
pela editora Garamond e o Sebrae, no
contexto do Projeto Parcerias com
Editoras, com o qual o Sebrae busca
incentivar o setor editorial brasileiro -
constituído majoritariamente por peque-
nas e micro empresas - e simultaneamente
direcionar suas publicações, em geral de
conteúdo técnico, para todo o segmento
dos pequenos negócios. O Projeto também
visa a estimular o aparecimento de novos
autores, especialistas em assuntos de
interesse dos empreendedores e das micro
e pequenas empresas, confirmando assim a
vocação do Sebrae e seu compromisso com
um projeto de desenvolvimento para o
Brasil que seja includente, sustentável e
sustentado.
Ignacy Sachs
Desenvolvimento
ineludente, sustentável,
sustentado
Garamond
Copyright © 2004, Ignacy Sachs
Revisão
Cláudia Rubim
Editoração Eletrônica
Luiz Oliveira
Capa
Estúdio Garamond
sobre "Quadrados com círculos concêntricos",
óleo sobre tela de Wladimir Kandinsky
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÂO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL D O S EDITORES D E LIVROS, RJ.
S126d
Sachs, Ignacy, 1927-
Desenvolvimento : ineludente, sustentável, sustentado /
Ignacy Sachs. - Rio de Janeiro : Garamond, 2008
14x2; 1152p.
ISBN 85-7617-04-X
1. Desenvolvimento econômico - América Latina. 2. Desen-
volvimento social - América Latina. 3. Desenvolvimento sus-
tentável - América Latina. 4. Brasil - Política e governo. 5.
Desenvolvimento econômico - Brasil. I. Título.
04-2560. C D D 338.98
C D U 330.34
Desenvolvimento includente e
trabalho decente para todos
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grande e lúcido conhecedor da problemática do desenvolvimento e,
mais especificamente, dos impasses que enfrenta o Brasil no mo-
mento atual, nos encoraja a trazê-las para o primeiro plano. A leitura
deste livro muito nos ajudará a evitar a reprodução da fábula platô-
nica, em que os prisioneiros confundiram a realidade com as ima-
gens projetadas na caverna.
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Desenvolvimento e ética - para
onde ir na América Latina?
Estratégias de desenvolvimento
nacional na era da globalização 1
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Referências
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ENOIKOS - Revista de la Faculdad de Ciências Econômicas de la Universidad
de Buenos Aires (2001): Hacia el Plan Fénix. Dignóstico y propuestas,
número 19, noviembre.
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Prólogo
Ao longo dos últimos sessenta anos, o desenvolvimento tem sido
uma poderosa idée-force para o sistema das Nações Unidas, tanto
como conceito analítico quanto como ideologia. Assim como o ele-
fante de Joan Robinson - difícil de se definir, porém, fácil de se
reconhecer o desenvolvimento não se presta a ser encapsulado
em fórmulas simples. A sua multidimensionalidade e complexidade
explicam o seu caráter fugidio. Como seria de se esperar, o concei-
to tem evoluído durante os anos, incorporando experiências positi-
vas e negativas, refletindo as mudanças nas configurações políticas
e as modas intelectuais.
As discussões em torno deste tema contribuíram para o refina-
mento do conceito, porém contrastam com o sombrio histórico do
desenvolvimento existente em muitas partes do mundo. Daí a ne-
cessidade de se revisitar a idéia de desenvolvimento, com vistas a
torná-lo mais operacional, enquanto se reafirma, mais do que nun-
1
Artigo preparado para a Comissão Mundial sobre a Dimensão Social da
Globalização, O I T , O u t u b r o 2002. Traduzido do original Inclusive
Development and Decent Work for Ali, por José Augusto D r u m m o n d e Gló-
ria Maria Vargas.
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Para uma distinção entre desigualdades naturais, ver Jean-Jacques Rousseau:
"Je conçois dans 1'espèce humaine deux sortes d'inégalités; l'une que j'appelle
naturelle, et qui consiste dans la différence des âges, de la santé, des forces
du corps, et de ses qualités de 1'esprit, ou de 1'âme, 1'autre q u o n peut
appeler inégalité morale, ou politique, parce qu'elle dépend d'une sorte de
convention, et quelle est établie, ou du moins autorisée par le consentement
des hommes. Celle-ci consiste dans les différents privilèges, dont quelques
uns jouissent, au préjudice des autres, comme d'être plus riches, plus honores,
plus puissants queux, ou même de s'en faire obéir" (p. 77).
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Conforme colocado por Jean Ziegler (2002, p. 33), os partidos social-
democratas ocidentais e os seus sindicatos transformaram em vantagens
sociais para seus clientes o medo capitalista da expansão do comunismo
(Les nouveaux mêtres du monde et ceux qui leur résistent, Fayard, Paris,
2002, p. 33).
4
"Les trente années glorieuses", segundo Jean Fourastier.
5
Este foi certamente o caso da índia durante o governo de Nehru, a tentativa
mais importante de definição de uma terceira via.
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6
Marshall Berman analisou a segunda parte de Faustus, de Goethe, como a
primeira tragédia do desenvolvimento. Por analogia, podemos falar da
tragédia de desenvolvimento argentino, desta vez verdadeira, e não produ-
to da ficção literária.
7
Usa-se esta palavra em analogia com a observação de Gunnar Myrdal de que
o capitalismo de livre mercado foi apenas um interlúdio entre dois perío-
dos marcados pelo intervencionismo do Estado: o mercantilismo e, de-
pois, o capitalismo reformado.
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Um primeiro volume poderia tratar das discussões precursoras dos séculos
XIX e XX sobre desenvolvimento avant la lettre, na Rússia, Índia, Japão,
China e América Latina, bem como das contribuições dos autores dos
países periféricos da Europa. U m segundo volume deveria focalizar os
planos de reconstrução para a Europa escritos na Grã-Bretanha, princi-
palmente por refugiados de países sob ocupação nazista, muitos dos quais
subseqüentemente ingressaram nas Nações Unidas como a primeira gera-
ção de funcionários. U m terceiro volume seria necessário para avaliar a
importante contribuição das diferentes agências das Nações Unidas e de
outras agências, com ênfase especial nas comissões regionais. U m quarto e
último volume concentrar-se-ia no trabalho acadêmico, enfatizando as
importantes contribuições de pensadores de países em desenvolvimento.
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9
Von Hayek, por causa de sua desconfiança quanto ao planejamento, ficou
numa situação de dissidente solitário.
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Esta descrição difere dos dois modelos setoriais das economias formal e
informal. A O I T está certa quando afirma que as atividades podem ser
formais ou informais, porém não representam setores separados.
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A esse respeito, ver Sachs (1999), que trata da teoria do desenvolvimento
de Kalecki (Mondes en développement).
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François Perroux definiu dominação como uma relação assimétrica e
irreversível.
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3- socialmente benigno + -
4- ambientalmente benigno - +
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Ver também a sua entrevista na Folha de São Paulo, "Mais!", 15 de setembro
de 2002.
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O programa pioneiro "Bolsa Escola", introduzido por Cristovam Buarque,
em Brasília, merece todo o destaque neste contexto.
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A este respeito, ver o prólogo de Kannan K. P. e Pillai N. V. (2002).
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Segundo Há-Joon Chang (2002), J. Stiglitz apóia esta opinião e considera
que se exige mais ênfase para que o pleno emprego e a maior participação
do emprego sejam considerados como partes essenciais de uma sociedade
genuinamente democrática.
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Para uma distinção entre trabalho heterônomo (dirigido por outros) e
autônomo, ver Ivan Illich. O mesmo autor nos lembra da etimologia da
palavra francesa "travai/": a tortura medieval chamada tripallium.
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"La civilisation de l'être dans lepartage équitable de 1'avoir".
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Kalecki, em sua teoria do crescimento, introduz dois parâmetros responsá-
veis pelo crescimento sem investimentos: a taxa de depreciação real e o
coeficiente de melhor utilização das capacidades produtivas existentes.
Quanto mais baixa a taxa de depreciação (atingida mediante melhor ma-
nutenção), maior será ceteris paribus a taxa de crescimento econômico.
Uma melhor utilização da capacidade produtiva existente também levará
a uma maior taxa de crescimento global.
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O dinheiro flui com facilidade dos bolsos das empresas até os bolsos domés-
ticos, e vice-versa, algo totalmente contrário à racionalidade observada
em empresas organizadas.
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O coeficiente capital/trabalho (i), a proporção de produção de capital (k),
e a produtividade do trabalho (p) estão vinculados mediante a seguinte
relação: i = k x p. Além disso, muitas empresas modernas são intensivas
em conhecimento.
22
A distinção entre indústrias caseiras e de pequeno porte foi estabelecida há
muito tempo na índia (Dhar P. N., Sen, A. 1960). A maioria dos negócios
caseiros não é administrada como empresas, podendo-se fazer uma com-
paração entre eles e as propriedades agrícolas camponesas.
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Ver Jeantet (1999). No Brasil, a economia social é conhecida como econo-
mia solidária (Singer, P. Souza, R. D. (eds), 2000).
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O escambo de produtos é, em parte, uma extensão da economia domés-
tica e, em outra, uma forma de trocar bens e serviços produzidos para
o mercado sem necessidade de usar o dinheiro, devido a condições
anormais na economia monetária (hiperinflação, pouca moeda circulante
etc.).
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No Brasil, um gigante da indústria de cosméticos norte-americana, a
Avon, tem uma rede de mais de 700 mil vendedores e vendedoras de
porta em porta.
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Os EUA têm uma detalhada legislação que dá às pequenas empresas trata-
mento preferencial nas compras públicas.
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Sobre o papel da assistência mútua na evolução social, ver Kropotkin, P.
(1988).
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Cabe aqui uma advertência: no Brasil, os empregadores algumas vezes
substituem os seus empregados regulares por meio da contratação dos
serviços de cooperativas de trabalhadores, esquivando-se assim do paga-
mento dos encargos sociais. N ã o é necessário dizer que esta é uma
distorção total dos ideais cooperativos e que ela deve ser vigorosamente
combatida.
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Pesquisadores brasileiros, inspirados nos estudos pioneiros da O I T (Pyke, F.,
Sengerberger W., Becattini, G. 1990, Pyke F., Sengerberger W., 1992) e
trabalhando em associação com colegas italianos, estão descobrindo centenas
de arranjos produtivos locais industriais espalhados pelo país, especializados
na confecção de roupas, sapatos e artigos de couro, móveis, pedras preciosas
etc. O SEBRAE está elaborando um atlas destes APLs. Os bens produzidos
nos APLs são freqüentemente comercializados por vendedoras de rua e de
porta em porta. São conhecidas como "sacoleiras". Milhares delas visitam os
APLs para comprar as suas mercadorias diretamente dos produtores, muitas
vezes tendo que percorrer longas distâncias. O SEBRAE planeja dar alta
prioridade ao programa de consolidação e desenvolvimento dos APLs.
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Sobre os vínculos entre grandes empresas multinacionais e os seus contra-
tados, ver U N C T A D .
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As receitas do mercado indiano de serviços de software alcançaram US 6,2
bilhões de dólares, a partir de pouco menos de 500 milhões de dólares
registrados na metade de 1990 (The Economist, 11 de janeiro de 2003).
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Derivado dos nomes dos municípios que a integram: Santo André, São
Bernardo, São Caetano e Diadema.
34
Segundo Jean Paul Sartre, o homem é um projeto. A posteriori, as socieda-
des humanas devem ser vistas como projetos.
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A U N C T A D está certa quando afirma que vivemos num mundo já liberali-
zado e ainda em processo de se globalizar.
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Inclusão e globalização
Ao longo deste trabalho, presumimos que os Estados-Nação so-
beranos são e continuarão sendo o locus principal para a promoção
do desenvolvimento includente. Num artigo recente, Kofi Annan
(2002) nos lembrou que a tradução arábica da palavra "globalização"
significa literalmente "inclusividade mundial". No entanto, as for-
mas assimétricas e desiguais da globalização atual prejudicam os
interesses dos países em desenvolvimento, favorecendo alguns in-
cluídos e deixando de fora muitos excluídos. Os incluídos vivem
no capitalismo reformado, enquanto os excluídos estão condena-
dos a formas mais duras e até selvagens de capitalismo. Os Esta-
dos-Nação, nos países em desenvolvimento, se esforçam para pro-
teger a sua gente contra a situação de crescente deterioração. Nas
suas formas atuais, a globalização reproduz, entre as nações cen-
trais e periféricas, o mesmo padrão perverso de crescimento con-
centrado e excludente que se observa dentro das nações.
Por analogia, com o desenvolvimento includente podemos postu-
lar a consolidação da globalização includente, instituindo uma ordem
econômica baseada no princípio de tratamento desigual aos desiguais,36
promovendo o comércio justo, 37 incrementando o fluxo da assistên-
cia pública destituída de compromissos implícitos e transformando a
ciência e a tecnologia em bens públicos (em contraste com os acor-
dos internacionais sobre a propriedade intelectual - TRIPs).
Seria desnecessário dizer que a globalização includente facilitaria
muito a transição para o desenvolvimento includente. Porém, as
possibilidades de se avançar neste sentido são remotas no futuro
previsível. Isto ressalta a importância crucial das estratégias nacio-
36
Aliás, este princípio foi originalmente formulado para o estudo das relações
econômicas internacionais, entre outros, por Gunnar Myrdal (1956), e
constitui a pedra angular sobre qual a U N C T A D foi construída.
37
Sobre este tema, ver Oxfam (2002) e os relatórios anuais da U N C T A D .
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Referências
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Tribune, October 4.
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FERRER, A. (1997): Hechos y ficciones de la globalización, Fondo de Cultura
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ISAAC, T. M. T., FRANKE, R. W. (2000): Local democracy and development,
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KANNAN, K. P. and PILLAI, N. V. (2002): Plight ofthe Power Sector in índia,
Centre for Development Studies, Thiruvananthapuram.
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Da armadilha da pobreza ao
desenvolvimento includente em
países menos desenvolvidos1
Introdução
Os relatórios da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para
o Comércio e o Desenvolvimento) sobre os países menos desenvol-
vidos (PMDs 2 ) oferecem uma análise precisa da sua situação. 3 Se-
jam quais forem as suas diferenças em termos de tamanho, popula-
ção, densidade demográfica, patrimônio natural, localização geo-
gráfica, geopolítica e história, 4 todos eles estão tolhidos por uma
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baseado numa média estimada para três anos do PIB per capita (menos do
que $900 para ser incluído na lista, e acima de $1.035 para sair dela); -
critério de escassez de recursos humanos, que envolve um índice Físico
Ampliado de Qualidade de Vida; -critério de vulnerabilidade econômica,
baseado na instabilidade da produção agrícola, na instabilidade das expor-
tações, na importância econômica das atividades não tradicionais, na con-
centração de mercadorias exportadas e nas desvantagens de ter pequena
dimensão econômica (ver U N C T A D , 2001).
5 Pesquisadores da índia sugerem que se use a expressão desenvolvimento
inclusionário, em vez de desenvolvimento includente. O adjetivo susten-
tável se refere à condicionalidade ambiental, enquanto sustentado se refe-
re à permanência do processo de desenvolvimento. O desenvolvimento
sustentado não é o mesmo que o crescimento material.
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car, tal como felicidade, saúde e alegria" (p. 173). A ciência exige,
é claro, quantificação, "mas coisas raras e refinadas são produzidas
em muitos países pobres do mundo. Considerem-se a culinária, a
vestimenta, o artesanato, as artes ou a sensibilidade e o refinamen-
to de algumas línguas" (p. 173-174).
A e d u c a ç ã o , tal c o m o existe h o j e , é u m a "educação
antidesenvolvimento". A maioria das crianças africanas recebe hoje
uma educação que destrói o seu futuro. A erradicação do analfabe-
tismo exige recurso às línguas locais. "Usar as línguas africanas
significa ao mesmo tempo restaurar a dignidade dos camponeses.
Os camponeses sofrem de um complexo de inferioridade, porque as
pessoas se dirigem a eles numa língua estrangeira" (p. 176).
O Estado tem um papel fundamental a desempenhar no desenvol-
vimento. "Quase desde o seu nascimento, o Estado é surrado por
instituições como o Banco Mundial. Essas instituições exigem que
haja menos Estado ainda, e a influência das empresas transnacionais
é cada vez mais forte. A África terá tempo suficiente para criar um
Estado que será o clone do Estado europeu? Atualmente, os líderes
africanos o transformam num Estado patrimonial ou num Estado
étnico, o que não é um Estado genuíno e capaz de transcender inte-
resses particulares em prol do bem comum" (p. 7-8).
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6 A esse respeito, ver Wuyts M., 2001. Ver ainda Sachs I. 1980,1988 e
2000a.
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2- A armadilha da pobreza
Para fins analíticos, pode ser assim resumido o ciclo vicioso e
mutuamente alimentado de obstáculos ao desenvolvimento enfren-
tado pelos PMDs: 9
• uma agricultura primitiva, de baixa produtividade (tanto em
termos de rendimentos por hectare quanto de produtividade
por trabalhador), é incapaz de produzir um excedente de ali-
mentos para atender às necessidades de uma população urba-
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Figura 2
A B
c D E
PIB
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32 Para Kuttner, "o fato é que a economia mista posterior à guerra foi uma
conquista magnífica, e os mercados livres globais minam de diversas manei-
ras o projeto de manutenção de uma economia doméstica mista, gerenciada
e regulamentada. O laissez-faire global empurra o capital para aqueles recan-
tos do planeta em que existe menos regulamentação, o que por sua vez faz
com que os países avançados tenham mais dificuldade no controle dos seus
bancos, bolsas de valores e mercados de capitais, bem como os seus padrões
sociais... o projeto centenário de transformar o capitalismo cru em algo
socialmente tolerável é minado de inúmeras maneiras pelo globalismo. Do-
mesticamente, existem mecanismos regulatórios e correntes políticas dota-
das de apoio social. Eles são quase varridos do cenário quando se deixa tudo
para os mercados, em nome do livre comércio. O mercado global desloca a
economia nacional doméstica" (p. 154-155).
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33 A condenação da situação atual foi, de fato, muito forte: "Ao montar o jogo
do comércio internacional de forma a prejudicar os fazendeiros de países em
desenvolvimento, a Europa, os EUA e o Japão estão essencialmente dando
um chute na escada do desenvolvimento na qual se encontram algumas das
populações mais desesperadas do planeta. Isso é moralmente indecente. As
ações dos EUA estão criando pobreza em todo o mundo ". O artigo continua
afirmando que a hipocrisia amplia a revolta e que a globalização consiste de
uma rua de mão única: "A gritante falta de credibilidade que divide o discur-
so de livre comércio do mundo desenvolvido de suas ações sobre a agricul-
tura que distorcem os mercados não pode continuar. Enquanto quase 1
bilhão de pessoas lutam para viver com 1 dólar por dia, as vacas da União
Européia recebem em média um subsídio governamental líquido de 2 dóla-
res por dia." Ironicamente, o mesmo jornal publicou, no mesmo dia, um
artigo de Louis Uchitelle, intitulado "How globalization thwarts economic
recovery" ["Como a globalização obstrui a recuperação econômica"], atri-
buindo a fraqueza da recuperação da economia dos EUA à competição dos
produtos importados da China e de outros países cuja mão-de-obra é bara-
ta. O artigo prevê que os EUA pressionarão os chineses a flutuar o seu
câmbio, de maneira a tornar as suas exportações mais caras nos EUA. Como
a maior parte dessas exportações vem de empresas cujos proprietários são
dos EUA, a alternativa seria os EUA forçarem, por meio de regulamentos,
essas empresas norte-americanas a ficar de fora de países que não cumprem
os padrões mínimos de proteção da mão-de-obra e do meio ambiente, o que
evitaria a perda de mais empregos dentro dos próprios EUA.
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Referências
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Inclusão social pelo trabalho
decente: oportunidades,
obstáculos, políticas públicas
Texto para discussão
preparado para o Escritório no Brasil da
Organização Internacional do Trabalho
1
O Brasil vende 29% de todo o açúcar, 28,5% do café em grão e 43,6% do
café solúvel consumidos no mundo. Assumiu a liderança em vendas de
carne bovina, em 2003, com 19% de participação no mercado mundial. É
o primeiro em vendas de carne de frango, com exportações de 1,9 bilhão
de dólares. Detém 38,4% do mercado mundial de soja em grão. Vende
23,1% do tabaco consumido no mundo e 81,9% do suco de laranja (Veja,
14 de janeiro de 2004).
11 1
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
2
N o dizer de Antônio Ermírio de Moraes, presidente do conselho de adminis-
tração do grupo Votorantim, juros mais impostos mais burocracia é igual
a economia informal. 70% da economia são informais, hoje (entrevista
concedida a Carta Capital, n° 272, 24 de dezembro de 2003).
3
A taxa de desemprego aberto é de 12,4% e, portanto, supera a média latino-
americana de 11%. Segundo os dados da OIT, o desemprego afeta, na
América Latina e no Caribe, 19 milhões de pessoas, dos quais 10 milhões
de brasileiros (O Globo, 8 de janeiro de 2004). Porém, num país como o
Brasil, o trabalho precário e o subemprego constituem um desafio ainda
mais grave, a menos que se considere a informalidade uma solução e não
um grave problema.
112
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4
O Estado de São Paulo, 26 de outubro de 2003.
5
David de Ferranti e Vinod Thomas, "A new model of growth - why eyes are
on Brazil", International Herald Tribune, 24-25 de dezembro de 2003.
113
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
6
Rodrigues, L. "Resultado de um ano de retratação", O Globo, 24 de janeiro
de 2004.
7
Todos estes dados foram citados em Fátima Fernandes, "Liberalização à
brasileira", Folha de São Paulo, 18 de janeiro de 2004.
114
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115
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
10
A deslocalização abarca as indústrias tradicionais intensivas em mão-de-obra
(vestuário, calçados, montagem de aparelhos eletrônicos etc.), dá origem às
atividades de maquiladoras e, cada vez mais, atrai para países como a índia
os serviços baseados nas tecnologias modernas de informação e comunica-
ção pertencentes à categoria de intensivos em mão-de-obra qualificada. Para o
Brasil, coloca-se o problema de competição nos mercados externos, mas
também no mercado brasileiro, com produtos fabricados em países que não
hesitam em lançar mão da competitividade espúria, a começar pela China.
11
Veja-se, por exemplo, o artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardo-
so "Ano bom? Tomara" (O Globo, 4 de janeiro de 2004): "Os governos
também, costumam ser considerados culpados pelas taxas de desemprego. Hoje,
no Brasil, elas batem recordes históricos. Nas condições tecnológicas atuais, o
crescimento do PIB precisa ser espetacular (no caso, cabe a qualificação) para ter
efeito significativo sobre o desemprego".
12
Veja-se Sachs, Ignacy, 2003, Inclusão social pelo trabalho - desenvolvimento
humano, trabalho decente e o futuro dos empreendedores de pequeno porte,
relatório patrocinado pelo SEBRAE e pelo P N U D , Garamond, Rio de Ja-
neiro. Veja-se também a reportagem sobre o seminário "A inclusão social
pelo trabalho decente e o sistema de fomento", realizado no BNDES, em
setembro de 2003, Rumos, Ano 27, n° 211, setembro-outubro de 2003.
116
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13
Rubens Ricúpero, Folha de São Paulo, 31 de agosto de 2003.
14
Deve-se ao economista chileno Anibal Pinto, um dos principais pensadores
c e p a l i n o s , a d e f i n i ç ã o do d e s e n v o l v i m e n t o c o m o s u p e r a ç ã o da
heterogeneidade social.
117
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
15
Sobre o conceito de desenvolvimento includente, ver Sachs, I., Desenvolvi-
mento includente e trabalho decente para todos, documento preparado para a
Comissão Mundial sobre a Dimensão Social da Globalização, OIT, outu-
bro de 2002; editado em português pela O I T - escritório no Brasil.
118
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16
Ver, a respeito, Sachs, I. 2001, "Economia política do desenvolvimento
segundo Kalecki: crescimento puxado pelo emprego", in Pomeranz L.,
Miglioli J., Tadeu Lima G. (Org.), Dinâmica econômica do capitalismo
contemporâneo (homenagem a M. Kalecki), EDUSP/FAPESP, São Paulo,
pp. 269-288.
119
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
17
U m a vez controladas as doenças endêmicas, o trópico passa a ser uma
vantagem natural, como intuiu Gilberto Freyre ao lançar o conceito de
Tropicologia. Ver, a respeito, Sachs, I., 2002: "Dos tristes trópicos aos
trópicos alvissareiros", in: Carvalheira Cunha, L. e Vila Nova S. (orgs.),
Dos tristes trópicos aos trópicos alvissareiros, Fundação Joaquim Nabuco / Ed.
Massangana, Recife, pp. 23-69.
120
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1 0 1 2 3 4 5
2 -1 0 1 3 4
3 -2 -1 0 1 3
\
4 -3 -2 -1 0 l
5 -4 -3 -2 -1 0 1
121
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
18
A produção de hortigranjeiros requer pelo menos cem vezes mais trabalha-
dores por ha do que a de grãos altamente mecanizados. Por sua vez, a
floricultura absorve quinze vezes mais trabalhadores por ha do que os
hortigranjeiros. As culturas perenes, como o café e o cacau, são três a
quatro vezes menos intensivas em mão-de-obra do que os hortigranjeiros.
Infelizmente, não se pode transformar em floricultura os 100 milhões de
ha de terras cultiváveis ainda disponíveis no Brasil.
Em trabalho recente, José Eli da Veiga afirma que, na agricultura brasileira,
treze lavouras devoram postos de trabalho: cana-de-açúcar, café, laranja,
algodão, milho, cacau, alho, banana, coco-da-bahia, maçã, mandioca, to-
mate rasteiro e trigo. Porém, outras dez são capazes de aumentar a oferta de
ocupação: amendoim, arroz, caju, feijão, malva, mamona, sisal, soja, uva e
tomate envarado. Outrossim, grandes quantidades de mão-de-obra podem
ainda ser absorvidas pela fruticultura em plena expansão e as produções de
borracha, chá, dendê, erva-mate, ervilha, fava, palmito e urucum, além da
intensa osmose que prevalece entre a policultura destes vegetais e as ativida-
des pecuárias. O Brasil dispõe de um imenso mosaico de sistemas produti-
vos diversificados, cuja essência é a sinergia agropecuária {Valor Econômico,
12/08/2003, artigo reproduzido em Estudos Avançados, USP, 17 (48) 2003).
19
O conceito de tecnologias apropriadas é mais amplo que o de tecnologias
intermediárias, advogadas por Schumacher no seu celebrado livro Smallis
beautiful. As tecnologias apropriadas são aquelas que respondem ao conjun-
to de critérios adotados para sua avaliação. Estes, no nosso entender, não
se devem limitar a critérios puramente técnicos, e sim incluir critérios
sociais (geração de empregos decentes) e ambientais.
As tecnologias híbridas constituem um caso particular de tecnologias apro-
priadas, combinando, por um lado, o saber moderno com o tradicional
(episteme com techne) e, por outro lado, aplicando tecnologias de diferen-
tes intensidades em mão-de-obra nos diferentes elos de uma cadeia de
produção. Os casos mais interessantes ocorrem quando o uso catalítico de
tecnologias de ponta num elo viabiliza o recurso a tecnologias intensivas
em mão-de-obra nos demais elos da cadeia. Isto acontece com freqüência
nas cadeias de valorização da biomassa, m e d i a n t e a aplicação de
biotecnologias que abrem o leque dos produtos dela derivados.
122
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20
M. Kalecki introduziu o conceito de período de reestruturação (retoolingperiod).
Se uma inovação tecnológica abrange, a cada ano, um décimo do aparelho
de produção existente no país, o período de reestruturação será de dez anos.
A modulação deste parâmetro pode ser objeto da política industrial.
21
Abordei este tema em três trabalhos recentes. Ver Sachs, I. 2001: "Brasil
rural: da descoberta à invenção", in Estudos Avançados n° 15 (43), pp. 75-
82; "Um projeto para o Brasil: a construção do mercado nacional como
motor do desenvolvimento" in Bresser Pereira, L. C. e Rego J. M. (orgs.):
2001, A grande esperança em Celso Furtado, Ed. 34, São Paulo, pp. 45-52;
"Quo Vadis Brasil", in Sachs, I.; Wilheim, J. e Pinheiro P. S. (orgs): 2001,
Brasil, um século de transformações, Cia das Letras, São Paulo, pp. 488-501.
123
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
22
Os trabalhos de José Eli da Veiga mostraram que o grau de urbanização real
do Brasil é inferior às estatísticas do IBGE: nos 4500 municípios rurais,
viviam, no dirimo ano do século passado, quase 52 milhões de habitantes
(José Eli da Veiga, 2002, Cidades imaginárias — o Brasil é menos urbano do
que se calcula, Ed. Autores Associados, Campinas).
23
Em questão, n°143, 16 de janeiro de 2004. Se estes dados se confirmam, eles
indicam um custo extremamente baixo de geração de empregos por meio
dos créditos do PRONAF.
124
IGNACY SACHS
24
Veja, a este respeito, a entrevista de Ricardo Abramovay, no Estado de São
Paulo de 21 de dezembro de 2003.
25
Como observou José Eli da Veiga, no artigo já citado (2003), "é da essência
microeconòmica que a fazenda patronal se desfaça imediatamente de qualquer
sobra de braços, enquanto entre agricultores familiares, prevalece a tendência
inversa. A propensão do sitiante inovador é evitar a ameaça da redundância, ou
retardá-la, graças à diversificação, não apenas de seu sistema produtivo, como
também das atividades dos membros da família, antes e depois da porteira'.
125
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
26
Carta Capital, de 14 de janeiro de 2004, publicou uma surpreendente entre-
vista de Alain Touraine, intitulada "Reforma urbana já", na qual o sociólogo
francês afirma que a reforma urbana é dez vezes mais importante que a
reforma agrária, porque atinge dez vezes mais gente. Touraine considera que
não há tempo para esperar que os enormes recursos necessários para a
reforma urbana venham do crescimento econômico e propõe, portanto, que
ela seja financiada pela redistribuição da riqueza às expensas dos 5 ou 10%
mais ricos que notoriamente escapam ao fisco. Concordo com o autor que
a reforma urbana é necessária, embora duvide que haja, no Brasil, condições
políticas para seguir a sua proposta. Divirjo, no entanto, frontalmente da
sua subestimação do papel da reforma agrária. Infelizmente, a idéia de que
reforma agrária não passa de uma política social é muito difundida nas elites
brasileiras. Já ouvi a tese de que seria mais barato oferecer aos sem-terra
motocicletas para que virem motoqueiros nas cidades.
27
Por serem não monetários, estes investimentos não estão incluídos no côm-
puto do PIB. Em certas circunstâncias, o seu volume pode chegar a ser
significativo.
126
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28
No mundo atual, vinte milhões de camponeses trabalham com um trator,
trezentos milhões usam a tração animal, enquanto um bilhão só dispõe de
seus braços para trabalhar. Dados da FAO, citados por De Ravignan F., 2003,
Lafaim, pourquoi? un déft toujours d'actualité, La Découverte, Paris, p. 79.
127
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
25
Lemoine, Françoise: 2003. L'économie chinoise, La découverte, Paris, p. 29.
Dos 168 milhões, 77% estavam empregados em empresas coletivas e 23%
em empreendimentos privados e individuais.
30
Trata-se da venda de certificados de carbono prevista pelo Protocolo de
Kyoto. Insistimos sobre o fato de que a preferência deva ser para sistemas
integrados de produção com fortes impactos sociais e econômicos e não
aos projetos de aflorestamento que constituem a forma mais simples de
venda de serviços ambientais.
128
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31
A revolução duplamente verde (evergreen revolution, na terminologia do agrôno-
mo indiano M. S. Swaminathan) busca simultaneamente avanços tecnológicos
de produtividade e sustentabilidade ambiental. A revolução azul diz respeito
à passagem da caça e coleta ao cultivo de espécies que vivem no meio aquáti-
co. Ela se encontra ainda numa fase incipiente. As potencialidades do Brasil
resultam da combinação de uma extensa faixa litorânea do oceano Atlântico,
em parte protegida pelos recifes de coral, com os ecossistemas amazônicos, o
Pantanal e, por fim, os numerosos lagos de represa.
129
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
32
Rumos, de setembro-outubro de 2003, publicou uma extensa reportagem
sobre este evento.
33
Esta é também uma área para potencial cooperação entre os pesquisadores
brasileiros e indianos. A declaração de Brasília, de 6 de junho de 2003,
pelos ministros das Relações Exteriores do Brasil, da África do Sul e da
índia, cita as biotecnologias, as fontes alternativas de energia e a agricul-
tura, entre os setores científicos e tecnológicos nos quais os três países
pretendem ampliar a cooperação.
130
IGNACY SACHS
a) do Pró-Álcool ao Pró-Cana:
14 1
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
b) Pró-Óleo:
34
Fonte potencial de cogeração de energia, matéria-prima para a produção de
papel, de briquetes que substituem o carvão vegetal, de materiais de cons-
trução, de fibras para uso industrial e sob forma hidrolizada, ração para
gado leiteiro.
132
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133
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
134
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c) Madeira e fibras:
35
O projeto elaborado pelo SEBRAE, em colaboração com o Ministério da
Reforma Agrária, contou com a valiosa contribuição dos professores Ademar
Ribeiro Romeiro (Unicamp/IE e Embrapa), Paulo Choji Kitamura (Embrapa
/ Cnpma) e Paulo Yoshio Kageyama (USP / ESALQ, atualmente MMA).
135
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
36
Em 2002, a produção mundial de camarão foi de 1,3 milhões de toneladas
sobre pouco mais de 2 mil hectares e uma produtividade média de apenas
644 kg/ha/ano. O maior produtor foi a China, com 311 mil toneladas.
136
IGNACY SACHS
37
Ver Biondi, A., "A guerra do camarão - enquanto produtores americanos
acusam os brasileiros de dumping, no Nordeste, o crustáceo gera fortunas
e conflitos", in Carta Capital, 21 de Janeiro de 2004, pp. 8-14.
38
Dados citados por Philip C. Scott, em entrevista a Rumos, setembro-outu-
bro de 2003.
39
Segundo certos pesquisadores, faz sentido agregar um módulo de piscicultura
nos sistemas integrados de produção de alimentos e energia a partir da cana-
de-açúcar, já que o vinhoto pode ser aproveitado como ração para peixes.
137
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
40
Apresentei este argumento, que figura proeminentemente em vários traba-
lhos ulteriores de Amartya Sen, no artigo "Welfare State in poor countries",
in Economic and PoliticalWeekly, Bombay, vol. VI, n° 3-4, janeiro de 1971,
pp. 367-370. O sucesso recente da Índia na exportação de softwares e de
serviços relacionados às novas tecnologias de informação e comunicação
(NTIC) baseia-se nesta mesma vantagem comparativa.
138
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139
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
140
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d) As obras públicas:
14 1
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
lário com uma oferta elástica destes bens a preços estáveis. Esta
condição existe no presente.
A participação de cooperativas de trabalho genuínas, devida-
mente fiscalizadas no que diz respeito às leis trabalhistas e
previdenciárias, recomenda-se fortemente, podendo se dar em for-
ma de contratos diretos ou de subcontratação por empreiteiras.
Mais uma vez, convém lembrar aqui o papel que os bancos pú-
blicos e o sistema de fomento podem desempenhar na promoção de
tecnologias apropriadas. 41
41
Em seu primeiro pronunciamento, o novo ministro do Trabalho, Ricardo
Berzoini, indicou que pretende dar um grande destaque às políticas de
combate ao desemprego, à cooperação do seu ministério com os bancos
estatais (O Globo, 25 de janeiro de 2004).
42
Os industriais do calçado chineses contrataram numerosos técnicos brasi-
leiros, conseguindo uma entrada espetacular no mercado norte-america-
no, no qual o Brasil encontra dificuldades crescentes em se manter. Nume-
rosas indústrias maquiladoras no México, localizadas ao longo da frontei-
ra estadunidense, foram adquiridas por empresários chineses, que as fe-
charam, transferindo a produção para a China e causando uma grave crise
de desemprego no México.
142
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143
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
144
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43
Um £alto em atividades de baixa tecnologia é um resultado contra-intuiti-
vo. O famoso ambar-cbarka (roda de fiar) de Gandhi, símbolo da resistên-
cia indiana aos britânicos, era muito barato, porém excessivamente pouco
produtivo, levando o coeficiente capital/produto k a um nível bem supe-
rior ao prevalecente nas fiações industriais. Já o caso era bem diferente
com relação aos teares manuais. Por isso, durante várias décadas, para
salvar os empregos artesanais, a índia aplicou uma política que protegia os
tecelões trabalhando em teares manuais com fios de origem industrial.
145
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
44
Pensamos que um crédito de imposto associado à geração do primeiro
emprego adicional numa microempresa poderia resultar numa expansão
significativa de emprego. O aprendizado, devidamente institucionalizado,
pode constituir uma forma importante de criação de oportunidades de
trabalho nas microempresas artesanais, como mostra a experiência de vá-
rios países industrializados. Por outro lado, a legislação fiscal atual não é
favorável à graduação de MPEs na medida em que a passagem do Simples
para o regime geral implica um grande aumento da carga tributária. Deve-
ria-se pensar numa maneira de se atenuar este choque, prevendo, por
exemplo, reduções progressivas da alíquota nos três primeiros anos que
seguem à graduação.
146
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45
A legislação atual, baseada no princípio de aquisição pelo menor custo, não
permite incluir outros critérios (sociais e ambientais). N a prática, ela
discrimina negativamente os empreendedores de pequeno porte que não
têm condições de atender às múltiplas exigências do processo de licitação.
Existe também uma discriminação de fato contra as cooperativas de traba-
lho, como se todas fossem cooperativas de gatos criadas para burlar as leis
trabalhistas. As cooperativas de gatos devem ser rigorosamente combati-
das. Ao mesmo tempo, deve-se instaurar um regime preferencial para au-
tênticas cooperativas de trabalho.
46
Um importante estudo do W I D E R ("World Institute for Development
Economic Research), da Universidade das Nações Unidas, coordenado
por Robert Mclntyre e Bruno Dallago, sobre as experiências da transição
à economia de mercado dos países do Leste Europeu, mostrou que, con-
trariamente ao que se esperava, o setor de pequenas empresas não é capaz
por si só de gerar um crescimento econômico bem-sucedido. Para que o
147
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
148
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48
U m a m a n e i r a de d i s t i n g u i r um p r o d u t o r p r o t o c a p i t a l i s t a de um
microempresário capitalista é saber se ele faz a devida distinção entre o
bolso da empresa e o bolso familiar.
149
DESENVOLVIMENTO: INCLUDENTE, SUSTENTÁVEL, SUSTENTADO
49
Ver Estudo de caracterização econômica do pólo de confecções do Agreste
Pernambucano, relatório final apresentado ao SEBRAE-PE, em maio de
2003. Este estudo foi coordenado pelos professores Maria Cristina Rapo-
so e Gustavo Maia Gomes.
150
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151
Este livro foi composto em Times New Roman 10,5/14,5
impresso em papel off-set 90 gr pela PSI7, em São Paulo
para a Editora Garamond no mês de maio de 2012
^ ^ debate sobre o desenvolvimento vem
sendo travado há algumas décadas, mas recen-
temente se intensificou, muitas vezes de
maneira estimulante, com as drásticas
m u d a n ç a s políticas que o m u n d o tem sofrido,
o forte acirramento das tensões sociais e a
incessante degradação do meio ambiente.
Nesse contexto delicado, surge a proposta de
um Desenvolvimento Sustentável como
alternativa desejável - e possível - para
promover a inclusão social, o bem-estar
econômico e a preservação dos recursos n a -
turais.
Essa tese, articulada pelo professor lgnaçy
Sachs, da École des Hautes Études en Sciences
Sociales, conquista cada vez mais apoio em
todo o planeta.
ISBN 857617040-X
Visite-nos em
www.garamond.com.br