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Abstract
This study aims to address the issue of sexual abuse of children and adolescents within the family environment. From antiquity to the
present day children and adolescents has suffered sexual abuse within the family. Parents and family members who should love and
protect our children are those monstrously violate their rights and destroy their dreams to satisfy their sexual impulses and desires. The
cry for justice of the victims led the State which is the holder of power and protector of society, bound to create protection regulations in
defense of our children. But despite being provided for in the constitution, law have specific protection to children and adolescents, have
created organ as Police, Child Protection Agency and even a dial denounces the intra-family sexual violence have not ceased, on the
contrary has grown numerously. With the ineffectiveness of our laws, some lawmakers have proposed in Congress the adoption of a
stricter law already used in several countries to who commits sexual abuse against children and adolescents
Keywords: sexual abuse; family environment; child
Contato:.aklu@bol.com.br
7 - DESCRIÇÃO DA VÍTIMA
O abusador é uma pessoa
comum, que mantém
preservadas as demais áreas
Os abusadores, em sua maioria, tem
de sua personalidade, ou seja,
predileção por crianças ou adolescentes que, além
é alguém que pode ter uma
de vulneráveis, encontram-se em alguma situação
profissão e até ser destaque
de fragilidade ou desproteção, seja por uma prévia
nela, pode ter uma família e até
dificuldade, nas relações sociais, seja por alguma
ser repressor e moralista, pode
deficiência física e/ou mental, o que dificulta os
ter bom acervo intelectual,
meios de defesa e a possibilidade de pedir auxilio.
enfim, aos olhos sociais e
familiares pode ser considerado Estudos recentes da OIT revelam que
"um indivíduo normal". Ele é alguns grupos de crianças são particularmente
perverso, e faz parte da sua vulneráveis à violência, como crianças portadoras
perversão enganar a todos de deficiências, crianças pertencentes a grupos
sobre sua parte doente. Para minoritários e outros grupos marginalizados,
ele, enganar é tão excitante “crianças de rua” e crianças em conflito com a lei.
quanto a própria prática do Nesse grupo também se incluem as crianças
abuso. Pode esconder-se pouco protegidas, negligenciadas por suas
vestindo uma pele de cordeiro, famílias e abandonadas (RANGEL, 2011, p. 156).
ou uma pele de autoritário, ou
uma pele de moralista, mas isto Geruza Gomes dos Santos e Renan dos
não passa de um artifício a Santos Alves, em seu artigo intitulado “Violência
serviço da sua perversão. Esse Sexual Contra Criança e Adolescente” também
é o ponto central da sua descreve o assunto:
perversão. Ele necessita da A criança que é vitima de
fantasia de poder sobre sua abuso sexual prolongado,
vítima, usa das sensações usualmente desenvolve uma
despertadas no corpo da perda violenta da auto-estima,
criança ou adolescente para tem a sensação de que não
subjulga-la, incentivando a vale nada e adquire uma
decorrente culpa que surge na representação anormal da
vítima. sexualidade. A criança pode
tornar-se muito retraída, perder
O abusador pode ser agressivo, mas na
a confiança em todos adultos e
maioria das vezes, ele usa da violência silenciosa
pode até chegar a considerar o
da ameaça verbal ou apenas velada. Covarde, ele
suicídio, principalmente quando
tem muito medo e sempre vai negar o abuso
existe a possibilidade da
quando for denunciado ou descoberto.
pessoa que abusa ameaçar de
(LENCARELLI)
violência se a criança negar-se
Para melhor conhecer aspectos da família, aos seus desejos. (SANTOS;
da vítima e do abusador, nos casos envolvendo ALVES)
violência sexual intrafamiliar, é preciso considerar,
quanto à família, aspectos socioeconômicos,
condições de moradia – em especial, o local onde No entanto, as crianças e adolescentes não
a criança dorme -, idade e escolaridade da mãe da têm uma faixa etária padronizada, tampouco,
vítima, uso de álcool ou outras drogas pelo encontram-se presentes em grupos sociais certos,
abusador ou membro da família. Com relação à alternando sempre o abuso de acordo com o perfil
vítima, interessa dispor de informações referentes do abusador e a oportunidade na qual se
a sexo, idade, escolaridade, posição na ordem dos encontra.
filhos, além de aspectos decorrentes de avaliação
psicológica e/ou psiquiátrica. Quanto ao abusador, Maria Regina Fay de Azambuja afirma que:
foi considerado o sexo, avaliação psicológica e/ou A criança que participa de
cenas de violência sexual investigados. Logo, todas as distorções de
costuma expressar forte relacionamento precisam ser avaliadas e tratadas,
sentimento de culpa, a fim de interromper sua continuidade, a qual se
independentemente do grau de dará no abuso intergeracional e na possibilidade
cooperação e da vontade de de revitimização.
participar do abuso, o que
Pfeiffer e Cardon (2006) ressaltam que a
exige atenção nos cuidados da
violência praticada dentro da família, velada por
área da saúde mental. Embora
pactos de silêncio, deve ser considerada a mais
nem todas as crianças
danosa para a criança, visto que “pode levar à
submetidas à violência sexual
desestrutura da personalidade em
apresentem problemas
desenvolvimento, impedindo a formação ou
emocionais, é necessário, em
destruindo os valores morais positivos, fazendo
todos os casos, proceder à
com que o respeito a si mesmo e ao outro nunca
avaliação e encaminhá-las para
seja aprendido”.
acompanhamento sempre que
a medida se mostrar Sustenta Azambuja (2011) que, nas famílias
necessária, como forma de em que o abuso sexual está presente, é comum as
minorar os danos que a crianças não se sentirem compreendidas ou
violência costuma causar ao devidamente amparadas por seus pais ou
seu desenvolvimento. A cuidadores. Imaturas emocionalmente, acabam se
avaliação da criança é medida submetendo ao abuso com medo de serem
que se impõe e tem como castigadas ou aceitam-no como manifestações de
objetivo oportunizar um espaço afeto pelo abusador. Posteriormente, muitas
para que possa se expressar e, crianças passam a negar a ocorrência dos
ao mesmo tempo, para ser episódios de abuso sexual, seja por pena do
ouvida, exigindo, sempre que agressor, para o qual possuem afeto, seja por
possível, a participação do medo diante das ameaças proferidas ou por
grupo familiar. (AZAMBUJA, perceberem o impacto que a revelação provoca na
2011, p. 133). vida familiar.
Assim, é importante ressaltar que a
violência sexual contra a criança ocorre em todas
8 - DESCRIÇÃO DA FAMÍLIA
as condições sociais, embora a carência de
recursos, o desemprego, o uso de substâncias
psicoativas, o compartilhamento de leitos e a não
Não há como apontar um perfil de família
satisfação das necessidades básicas sejam
em que o abuso sexual contra a criança seja
apontados como fatores que aumentam a
praticado. A falta de dados e de estudos
possibilidade de ocorrência, caracterizando fatores
investigativos agrava o desconhecimento dos
de risco social.
sujeitos envolvidos com a violência sexual no
âmbito intrafamiliar, dificultando o estabelecimento
de um diagnóstico precoce e uma intervenção
9 - ASPECTOS JURÍDICOS DO ABUSO SEXUAL
mais eficiente.
INTRAFAMILIAR
Os estudos realizados por Maria Zavaschi e
9. 1 Medidas previstas no Estatuto da
colaboradores (1991), na área da Psicologia,
Criança e do Adolescente
apontam que um exame superficial não é capaz
de identificar a presença da violência dentro de O princípio do melhor interesse da criança
uma família. Somente com um exame apurado é traz consigo um novo paradigma para os direitos
possível perceber que os familiares possuem um da infância, passando a criança a ser considerada
contato limitado com o mundo extrafamiliar, um sujeito de direitos, com prioridade na tutela do
identificando-se, ainda, fatores de risco que ordenamento jurídico.
facilitam as manifestações de violência
intrafamiliar, como problemas entre o casal, A Lei nº 8.060/90 trouxe, ao lado da
Constituição Federal de 1988, uma nova era de
condições precárias de saúde, uso de substâncias
direitos da criança e do adolescente, garantindo
entorpecentes e horários de trabalho não
sua prioridade absoluta e proteção a ser exercida
coincidentes dos membros da família, o que
pelo Estado, pela família e pela sociedade.
favorece a atuação do abusador ao se ver sozinho
com a vítima. Dispõe o caput do artigo 227 da
Não obstante, histórico de negligência e Constituição Federal:
abuso físico e/ou sexual na infância dos genitores Art. 227. É dever da família, da
ou responsáveis pela criança também costumam sociedade e do Estado
condicionar desvios futuros e devem ser assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com fundamentais afetos à infância
absoluta prioridade, o direito à e à juventude (...) corresponde
vida, à saúde, à alimentação, à sancionamento administrativo-
educação, ao lazer, à infracional para a eles que não
profissionalização, à cultura, à o observarem, nos termos do
dignidade, ao respeito, à artigo 245 do ECA, para além
liberdade e à convivência da responsabilização penal
familiar e comunitária, além de correspondente à violência
colocá-los a salvo de toda perpetrada (RAMIDOFF, 2008,
forma de negligência, p.174)
discriminação, exploração,
Consolidando os princípios instituídos na
violência, crueldade e
Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos
opressão.
da Criança, o Estatuto protetivo inova ao abordar a
O parágrafo 4º determina que possibilidade se ouvir a opinião da criança, em
a lei punirá severamente o especial nos feitos de colocação em família
abuso, a violência e a substituta (guarda, tutela ou adoção), e ao
exploração sexual da criança e determinar a atuação de uma equipe
do adolescente. O dispositivo interdisciplinar junto aos processos, em
ainda prevê, no parágrafo 8º, reconhecimento ao incompleto estágio de
que a lei estabelecerá o desenvolvimento físico, mental e psicossocial da
estatuto da juventude, criança.
destinado a regular os direitos
O estudo social implantado nos processos
dos jovens.
que tramitam nas Varas de Infância e Juventude,
materializado no relatório social, configura-se
como suporte para a aplicação das medidas
O Estatuto da Criança e do Adolescente, de
protetivas e judiciais previstas no Estatuto da
13 de julho de 1990, propondo uma nova política
Criança e do Adolescente, bem como na
de atendimento aos direitos da população infanto-
legislação civil e nos processos criminais.
juvenil, estabeleceu os direitos e deveres das
Contudo, a oitiva da criança pela equipe inter
crianças e dos adolescentes e definiu
profissional, prevista no artigo 28, §1º, do Estatuto,
responsabilidades do Estado, da sociedade e da
difere da inquirição dos processos criminais que
família para com o futuro das nova gerações,
apuram a existência de violência sexual
trazendo uma nova postura frente à infância e
intrafamiliar.
adolescência. Ainda, instituiu os Conselhos de
Direitos e os Conselhos Tutelares para zelar pela No primeiro caso, ouvir a
garantia dos direitos individuais desses novos criança tem por objetivo
sujeitos de direito, os quais, em razão de sua conhecer seus sentimentos e
condição peculiar de desenvolvimento, são desejos, permitindo ao julgador
merecedores de prioridade absoluta. A atuação considerá-los por ocasião da
dos conselheiros tem sido decisiva na proteção de decisão, o que deve ser feito
crianças abusadas sexualmente, através dos através de equipe
encaminhamentos efetuados à família, do interprofissional e não
acolhimento emergencial de infantes e das diretamente pelo juiz. Em
denúncias levadas ao Ministério Público. audiência, somente devem ser
ouvidos os adolescentes, e não
Segundo Ramidoff (2008), o Estatuto é o
as crianças. No segundo caso,
novo código deontológico e protetivo das crianças
diferentemente, o objetivo da
e dos adolescentes: deontológico porque
inquirição é produzir prova,
estabelece o regulamento indispensável e
hipótese que não encontra
necessário para a constituição das diversas
respaldo na aludida Convenção
formas de relação em que possam se encontrar
Internacional e tampouco no
estes novos sujeitos de direitos; protetivo porque
ordenamento jurídico pátrio.
todas essas proposições legislativas se orientam
Inquirir a vítima, com o intuito
através do novo primado constitucional
de produzir prova e elevar os
estabelecido pela doutrina da proteção integral,
índices de condenação, não
enquanto vertente da diretriz internacional dos
assegura a credibilidade
direitos humanos especificamente voltados para a
pretendida, além de expô-la a
criança e o adolescente.
nova forma de violência ao
Ao dever legalmente instituído permitir reviver situação
estatuariamente, isto é, de traumática que podereforçar o
velar e prevenir ofensas aos dano psíquico. Nesse sentido,
direitos individuais enquanto a primeira violência
foi de origem sexual, a Estatuto da Criança e do Adolescente).
segunda passa a ser
O Superior Tribunal de Justiça já proferiu
emocional, na medida em que
que:
se espera que a materialidade
– que deveria ser produzida por Sob a tônica do legítimo
peritos capacitados e interesse amparado na
especializados – venha a socioafetividade, ao padrasto é
compor os autos através do conferida legitimidade ativa e
seu depoimento, sem qualquer interesse de agir para postular
respeito às suas condições de a destituição do poder familiar
imaturidade (AZAMBUJA, 2011, do pai biológico da criança.
p. 171). Entretanto, todas as
circunstâncias deverão ser
analisadas detidamente no
A inquirição da criança nos feitos judiciais curso do processo, com a
criminais não tem por objetivo conhecer a criança necessária instrução probatória
ou propiciar a aplicação de medidas de proteção e amplo contraditório,
previstas na Lei 8.069/90. A prova da determinando-se, outrossim, a
materialidade é a justificativa da inquirição, realização de estudo social ou,
independente da idade da vítima, nos casos de se possível, de perícia por
violência sexual, sobretudo naqueles em que não equipe interprofissional,
houve a presença de vestígios. segundo estabelece o art. 162,
§1º, do Estatuto protetivo, sem
O Estatuto da Criança e do Adolescente
descurar que as hipóteses
prevê medidas para os casos de violação aos
autorizadoras da destituição do
direitos das crianças e dos adolescentes. Dentre
poder familiar – que devem ser
elas, citam-se o acolhimento institucional, o
sobejamente comprovadas –
encaminhamento a programas de apoio familiar, o
aquelas contempladas no art.
afastamento do agressor da residência, a
1.638 do CC/02 c.c. art. 24 do
colocação em família substituta e a destituição do
ECA, em numerus clausus. Isto
poder familiar.
é, tão somente dnte da
Acerca da suspensão e da destituição do inequívoca comprovação de
poder familiar, o Código Civil, nos artigos 1.637 e uma das causas de destituição
1.638, e o Estatuto da Criança e do Adolescente do poder familiar, em que
especificam as hipóteses em que a medida poderá efetivamente sej demonstrado
ser aplicada. Para Elisabeth Schreiber (2001, p. o risco social e pessoal a que
137), o desvirtuamento do instituto do poder esteja sujeita a criança ou de
familiar legitima o agente ministerial a “intentar ameaça de lesão aos seus
ação de suspensão ou destituição do poder direitos, é que o genitor poderá
familiar, sempre que constatar a ocorrência de ser extirpado do poder familiar,
casos de maus-tratos ou abuso sexual impostos em caráter preparatório à
pelos pais ou responsável”. adoção (Resp. Nº 1.106.637).
A hipótese da suspensão ou destituição do
pátrio poder somente pode ser aplicada de forma
A ação, a ser concluída no prazo de cento e
excepcional, como último recurso para a proteção
vinte dias, com averbação da sentença no registro
da criança, não mais se admitindo a sua prática
de nascimento da criança (artigo 163 do ECA),
como modo de punição para os pais, como ocorria
será ajuizada perante a Vara de Infância e
na vigência do Código de Menores. De fato, a Lei
Juventude, conforme disposto no artigo 148,
8.069/90 prioriza o direito à convivência familiar e
parágrafo único, alínea “b”, haja vista envolver
comunitária, proibindo, inclusive, a aplicação do
ameaça ou violação dos direitos do infante em
instituto motivada apenas pela carência de
função do abuso praticado pelos pais ou
recursos materiais da família.
responsáveis (artigo 98, inciso II).
São legitimados para propor a ação de
Quando a causa não envolver nenhuma
suspensão ou destituição do poder familiar o
das hipóteses do artigo 98 do Estatuto, o juízo
Ministério Público ou quem tenha legítimo
competente para processar e julgar as ações de
interesse, como é o caso do guardião do infante.
guarda, tutela, suspensão ou destituição do poder
Havendo motivo grave, poderá o juiz, após ouvido
familiar, perda de guarda, emancipação, alimentos
o Ministério Público, decretar liminarmente ou
e registro civil será o de família.
incidentalmente a suspensão do poder familiar,
ficando a criança confiada a pessoa idônea, Não obstante, poderá o magistrado
mediante termo de responsabilidade (artigo 157 do determinar o afastamento do agressor quando se
verificar a hipótese de maus-tratos, opressão ou 9.2 - Dos Crimes Sexuais Contra Vulnerável: o
abuso sexual, consoante artigo 130 do Estatuto. estupro de vulnerável
Ainda, o mesmo diploma legal prevê, no artigo
101, medidas a serem aplicadas aos pais ou
responsáveis pelo infante. Tratando-se de abuso sexual intrafamiliar
praticado contra a criança, o crime é tutelado pelo
Azambuja (2011, p. 110) acrescenta que,
Direito Penal sob a figura de “estupro de
embora as hipóteses para a ação estejam
vulnerável”, previsto no artigo 217-A do Código
relacionadas no Código Civil e no Estatuto da
Criminal.
Criança e do Adolescente, é necessário buscar,
em qualquer circunstância, o melhor interesse da O tipo busca tutelar a dignidade sexual das
criança. Na prática, os profissionais do Direito pessoas considerada vulneráveis, assim
precisam enfrentar o desafio de identificar qual o entendidas aquelas que se incluem nos contornos
melhor interesse, visto que, como alerta Antônio C. dados pelo caput do artigo 217-A e no seu §1º, e
Lima da Fonseca (2000, p. 10), em alguns casos distingue-se do delito de estupro, disposto no
há “prova mal formada, prova precária, em que, artigo 213 do Código Penal, em função de não ser
mesmo assim, ajuíza-se temerariamente a ação elemento do tipo o ato de constranger, bastando o
de destituição do poder familiar, como se esta agente “ter conjunção carnal ou praticar outro ato
fosse a cura para todos os males da criação e da libidinoso com pessoa vulnerável, independente
má orientação dos pais”. de ter ou não havido constrangimento real.
Ademais, a respeito do afastamento da A Lei 12.015/2009, com a criação do tipo
criança de sua família natural, o Estatuto da estupro de vulnerável e revogação do artigo
Criança e do Adolescente, ao enunciar, no artigo 22420, encerrou a antiga polêmica acerca da
92, os princípios a serem adotados pelos presunção de violência, quando o estupro ou o
programas de acolhimento, realizou uma profunda atentado violento ao pudor fossem praticados
alteração na legislação das entidades de contra menores de quatorze anos, alienados ou
atendimento relacionadas ao programa de débeis mentais ou contra quem, por outro motivo,
acolhimento familiar ou institucional (denominado, não pudesse oferecer resistência. Assim, a lei não
antes da Lei 12.010/09, programa de abrigo). permite a prática de atos sexuais com pessoas
vulneráveis, sendo irrelevante a análise do
No período antecessor da Constituição
consentimento da vítima ou da presunção de
Federal e da Lei 8.069/90, recorria-se, de modo
violência.
geral, à colocação da criança em internatos,
patronatos ou instituições de reclusão, localizadas Observa-se, nesse ponto, que o conceito
preferencialmente em regiões afastadas dos de pessoa vulnerável, extraído do artigo 217-A e
centros urbanos. §1º do Código Penal, corresponde aos antigos
casos de “presunção de violência” outrora
Nestes locais, pretendia-se reeducar o
previstos no revogado artigo 224, alíneas “a”, “b” e
sujeito para o convívio em sociedade, retirando a
“c”.
criança do meio social em que vivia por entendê-lo
incapaz de realizar a tarefa de socialização. O bem jurídico tutelado é a dignidade
sexual da pessoa vulnerável, e não mais a sua
Com a vigência do Estatuto da Criança e do
liberdade sexual, “na medida em que, estando
Adolescente, o acolhimento institucional da
nessa condição, a vítima é considerada incapaz
criança, tomado como hipótese excepcional e
de consentir validamente com o ato de caráter
descrito no artigo 101 e parágrafos, deverá
sexual” (MARCÃO E GENTIL, 2011, p. 187). Já o
funcionar como etapa que precede a sua futura
objeto do delito é o corpo da vítima, cuja utilização
reintegração familiar ou, quando constatada a
pelo agente, ainda que com consentimento, é
impossibilidade de retorno ao núcleo de origem, a
considerada prática ilícita.
sua colocação em família substituta.
São sujeitos do crime as pessoas de ambos
O direito fundamental à convivência
os sexos (crime comum), figurando,
familiar, garantido no artigo 227 da Constituição
obrigatoriamente, no polo passivo as pessoas
Federal, é colocado em risco diante da
consideradas vulneráveis.
necessidade de proteção d criança em estado de
vulnerabilidade. Por essa razão, somente em Excluem-se do conceito de vulnerabilidade,
casos excepcionais poderá o magistrado recorrer todavia, os deficientes mentais com capacidade de
ao acolhimento institucional e a inserção em discernimento e os menores de catorze anos
família substituta, por meio da guarda, tutela ou casados civilmente com autorização judicial
adoção, bem como à destituição do pátrio poder, (MARCÃO E GENTIL, 2011), equiparando-se,
dando-se preferência pela permanência da criança nesse último caso, a união matrimonial com a
no seio da família natural. união estável.
Os sujeitos ativos podem ser autores ou
partícipes do delito, entendendo-se como autor
aquele que pratica a conjunção carnal ou ato recaindo sobre a ilicitude da conduta, poderá
libidinoso com o vulnerável e, como partícipe, isentar o gente de pena, se inevitável, ou diminuí-
aquele que, não executando os núcleos “ter” ou la, se evitável (artigo 2123).
“praticar” do tipo penal, concorre de outra maneira
A consumação do crime ocorre com a
para que alguém o faça. De toda forma, é
conjunção carnal ou com a prática de ato
aplicável ao partícipe o artigo 13, §2º, do Código
libidinoso na vítima vulnerável. Caso o agente
Penal (crime de omissão), bem como as causas
pratique atos preparatórios à conjunção carnal e,
de aumento de pena previstas no artigo 226,
por razões estranhas à sua vontade, não consiga
inciso II.
praticar a conjunção, a doutrina majoritária
A existência de violência e/ou grave entende que o delito estará consumado, visto que
ameaça, não integrantes do tipo penal, não a prática de atos libidinosos é suficiente para a
descaracterizam o estupro de vulnerável e realização completa do tipo penal, considerado
poderão servir de elemento para a dosimetria da misto alternativo. Ainda, a prática de conjunção
pena ou, conforme o caso, para o reconhecimento carnal e de outro ato libidinoso, no mesmo
de concurso de crimes. contexto, constituirá crime único, visto que
representam a execução de um mesmo delito.
Se do delito resultarem lesões corporais
graves ou gravíssimas (disciplinadas no artigo Segundo Renato Marcão e Plínio Gentil
129, §§1º e 2º, do Código Penal21) ou morte, o (2011, p. 199), não se admite a tentativa quando a
crime será qualificado, consoante disposto nos prática de qualquer ato lascivo for a única
parágrafos 3º e 4º do artigo 217-A do Código pretensão do agente, visto que, por ser o verbo
Penal. Sobre esse dispositivo, no entanto, praticar (ato libidinoso) o núcleo do tipo, não
ressalta-se a observação realizada por Pfeiffer e haveria como alguém iniciar a sua execução sem
Salvagni (2005) de que a lei ignora a possibilidade já estar consumando o crime. Contudo, como o
de lesões emocionais, além das físicas, que constrangimento não é elemento do tipo estupro
podem deixar marcas definitivas na vítima se não de vulnerável, é possível a tentativa quando
forem tratadas e deveriam servir como elemento houver a interrupção da conduta, contra o desejo
de qualificação do delito. do agente, na fase compreendida entre o
constrangimento (mediante violência ou grave
O resultado qualificador poderá ser fruto de
ameaça) e a prática do ato lascivo.
culpa ou dolo do agente, somente não se
admitindo a possibilidade de ser fortuito, o que Quanto aos meios de prova, são admitidas
representaria a responsabilidade penal objetiva, no processo penal todas as provas lícitas. Por ser
repudiada pelo direito criminal. Trata-se de um crime que pode deixar vestígios, é necessário
exigência imposta pelo artigo 19 do Código Penal, o exame de corpo de delito, realizado por perito
segundo o qual “pelo resultado que agrava que elaborará laudo, o qual, por sua vez, não
especialmente a pena, só responde o agente que vincula o juiz e pode ser contestado por outros
o houver causado ao menos culposamente”. elementos probatórios.
O dolo é o elemento subjetivo do tipo penal. Não existindo vestígios, o que é comum
É necessário, portanto, que o agente tenha nos casos de abuso sexual intrafamiliar, a prova
conhecimento inequívoco da circunstância que de materialidade e autoria será efetuada por
caracteriza a vulnerabilidade da vítima – no caso, outros meios, como depoimentos e declarações,
a menoridade, a enfermidade ou deficiência compondo o exame de corpo de delito indireto.
mental, com ausência de discernimento por parte
Quanto ao procedimento, os crimes sexuais
da vítima, ou a impossibilidade de resistência da
praticados contra pessoa vulnerável serão
mesma.
processados mediante ação penal pública
Basta o dolo genérico para a incondicionada, consoante artigo 225, parágrafo
caracterização do delito, sendo desnecessário que único, do Código Penal:
o agente tenha uma segunda intenção na prática
do ato (dolo específico). Ainda normalmente o dolo
é direto; no entanto, poderá haver dolo indireto ou Art. 225. Nos crimes definidos
eventual quando o sujeito ativo assumir o risco de nos Capítulos I e II deste Título,
estar praticando ato que, embora não procede-se mediante ação
objetivamente libidinoso, contenha libidinosidade penal pública condicionada à
para a vítima, ou quando aceitar o risco de se representação.
tratar de sujeito passivo vulnerável.
Parágrafo único. Procede-se,
Havendo erro sobre elementos do tipo, o entretanto, mediante ação
sujeito ativo estará deixando de agir dolosamente penal pública incondicionada
e a tipicidade do fato será afastada ou deslocada se a vítima é menor de 18
para outra figura penal (artigo 20 do Código (dezoito) anos ou pessoa
Penal). Por outro lado, o erro de proibição, vulnerável.
Antes da Lei 12.015/2009, a ação penal de regime prisional.
para os crimes contra a liberdade sexual era
Por fim, no tocante à prescrição, a Lei
privativa do ofendido, sendo, contudo, pública em
12.650, de 18 de maio de 2012, alterou o termo
algumas circunstâncias específicas, como a
inicial da contagem prescricional para os crimes
pobreza da vítima ou de seus responsáveis e
contra a dignidade sexual de crianças e
quando o crime fosse cometido com abuso de
adolescentes, acrescentando o inciso V no artigo
pátrio poder, tutela ou curatela. Com a nova
111 do Código Penal.
redação do artigo, tornou-se regra a ação penal
pública condicionada à representação para os Art. 111 - A prescrição, antes de
crimes contra a dignidade sexual e a ação penal transitar em julgado a sentença
pública incondicionada para os crimes sexuais final, começa a correr:
praticados contra pessoas vulneráveis.
V - nos crimes contra a
Em outros termos, para os crimes contra a dignidade sexual de crianças e
dignidade sexual, a regra é a ação penal pública adolescentes, previstos neste
condicionada à representação. Todavia, Código ou em legislação
excepcionalmente, quando envolver vítima em especial, da data em que a
condição de vulnerabilidade ou menor de dezoito vítima completar 18 (dezoito)
anos, bem como quando do crime resultar morte anos, salvo se a esse tempo já
ou lesão corporal grave ou gravíssima, segundo a houver sido proposta a ação
aplicação da Súmula nº 608 do STF (“No crime de penal.
estupro, praticado mediante violência real, a ação
Desse modo, a prescrição começará a
penal é pública incondicionada”), a ação será
correr somente a partir da data em que a vítima
pública incondicionada.
completar dezoito anos de idade. Considerando
Todavia, distinguindo-se a vulnerabilidade que o crime de estupro de vulnerável possui pena
material (referente à vítima no momento do fato máxima superior a doze anos e aplicando-se a
criminoso) da vulnerabilidade processual (quanto redação do artigo 109, inciso I, do Código Penal, o
às condições de a vítima iniciar o processo), é crime prescreverá em vinte anos, sendo o prazo
necessário destacar que o parágrafo único do contado a partir da maioridade do ofendido.
artigo 225 somente se aplica aos casos em que a
vítima, para além de ter estado vulnerável no
9.3 - Dos demais crimes sexuais contra
momento do crime, é vulnerável diante da
vulnerável
incapacidade de oferecer representação. Desse
modo, a ação será pública condicionada à
representação quando a vulnerabilidade da vítima
for transitória, ou seja, pontual quando da ocasião O Código Penal prevê outros três tipos
do crime; logo, tratando-se de vulnerabilidade penais que tutelam os crimes sexuais praticados
temporária, a exemplo da vítima sedada, contra pessoas vulneráveis, abordados
embriagada ou que, por qualquer outra razão, não brevemente a seguir:
possa oferecer resistência no instante criminoso, a) Mediação de vulnerável para satisfazer a
aplicar-se-á o tipo penal do artigo 217-A, porém lascívia de outrem (art. 218):
não o parágrafo único do artigo 225.
Diferentemente, a ação será pública
incondicionada quando a vítima for menor de O tipo, ainda sem rubrica no
dezoito anos ou estiver em situação de texto legal, encontra-se descrito
vulnerabilidade permanente ou prolongada, no artigo 218 do Código Penal:
abrangendo os menores de quatorze anos, os Art. 218. Induzir alguém menor
portadores de enfermidade ou deficiência mental de 14 (catorze) anos a
permanente e aqueles que, por qualquer outra satisfazer a lascívia de outrem:
causa duradoura, não possam oferecer
resistência. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5
(cinco) anos.
Com a modificação introduzida pela Lei
12.015/2009 no artigo 1º, incisos V e VI, da Lei Parágrafo único. (VETADO)
8.072/9025, o crime de estupro de vulnerável
tornou-se crime hediondo, sujeitando-se à
disciplina da lei de crimes hediondos que dispõe, Trata-se de punição a quem concorre para
dentre outras medidas, a impossibilidade de o crime de estupro de vulnerável executado por
liberdade provisória, o início do cumprimento da terceiro. Contudo, o tipo aparenta ser uma
pena em regime fechado e a necessidade de modalidade privilegiada do estupro de vulnerável,
cumprimento de frações maiores da pena para punida com pena mínima quatro vezes menor.
obtenção do livramento condicional e da promoção Nucci (2009) observa que o agente do delito do
artigo 218 seria o partícipe do delito do artigo 217-
A (estupro de vulnerável), de modo que deveria forma de exploração sexual
responder, portanto, pela mesma figura penal que alguém menor de 18 (dezoito)
o autor. anos ou que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem
O beneficiário do induzimento, isto é, a
o necessário discernimento
pessoa que tem a sua própria lascívia satisfeita
para a prática do ato, facilitá-la,
pela criança induzida, não é agente do delito do
impedir ou dificultar que a
artigo 218, porém do crime de estupro de
abandone:
vulnerável. Ainda que tenha concorrido para o
induzimento, não será considerado partícipe desse Pena - reclusão, de 4 (quatro) a
crime, o qual ficará absorvido pelo crime mais 10 (dez) anos.
grave do artigo 217-A do Código Penal.
§ 1º Se o crime é praticado
b) Satisfação de lascívia mediante presença com o fim de obter vantagem
de criança ou adolescente (art. 218-A): econômica, aplica-se também
multa.
Dispõe o artigo 218-A do Código Penal:
§ 2º Incorre nas mesmas
penas:
Art. 218-A. Praticar, na
I - quem pratica conjunção
presença de alguém menor de
carnal ou outro ato libidinoso
14 (catorze) anos, ou induzi-lo
com alguém menor de 18
a presenciar, conjunção carnal
(dezoito) e maior de 14
ou outro ato libidinoso, a fim de
(catorze) anos na situação
satisfazer lascívia própria ou de
descrita no caput deste artigo;
outrem:
II - o proprietário, o gerente ou
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4
o responsável pelo local em
(quatro) anos.
que se verifiquem as práticas
referidas no caput deste artigo.
Antes da Lei 12.015/2009, a prática de atos § 3º Na hipótese do inciso II do
libidinosos na presença de menores de quatorze § 2º , constitui efeito obrigatório
anos constituía fato penalmente atípico. O bem da condenação a cassação da
jurídico tutelado é a própria psique da criança e o licença de localização e de
objeto do crime é o menor que, embora não funcionamento do
participe da conduta do agente, presenciou o fato estabelecimento.
praticado.
É necessário, porém, que o sujeito passivo
O crime é modalidade especial do tipo
tenha idade e capacidade de entendimento
contido no artigo 228 do Código Penal, que
suficientes para sofrer alguma influência do que
descreve a prática do chamado lenocínio,
presencia, no sentido de que aquilo possa afetá-lo
punindo-se a atividade de quem tira partido da
e causar um abalo psíquico. Dessa maneira, não é
prostituição ou de outra forma de exploração
possível configurar o crime quando a criança, por
sexual de pessoa vulnerável.
ter tão pouca idade ou ser portadora de deficiência
mental, não possui o discernimento necessário No artigo em tela, o conceito de
para ser atingida pelo sentido libidinoso do ato que vulnerabilidade foi ampliado, alcançando a pessoa
presencia. de até dezoito anos de idade. A respeito, Marcão e
Gentil (2011, p.236) esclarecem que introduziu-se,
Para a configuração do delito, não pode
dessa forma, a distinção entre vulnerabilidade
haver nenhum contato físico com o menor de
absoluta (menor de quatorze anos) e relativa
quatorze anos, o que configuraria o crime de
(maior de quatorze e menor de dezoito anos).
estupro de vulnerável. Ainda, é possível que a
criança presencie o ato sexual por meio de A ação penal será pública condicionada à
aparelhos de transmissão de imagens, sem estar representação se a vítima for maior de quatorze
fisicamente presente no local onde a prática anos (art. 225, caput, do Código Penal), e pública
aconteceu. incondicionada se menor de quatorze ou não tiver
capacidade de discernimento, por razão de
c) Favorecimento da prostituição ou outra
enfermidade mental.
forma de exploração sexual de vulnerável (art.
218-B): O artigo inovou ao prever, no parágrafo 2º,
figuras equiparadas ao caput, criminalizando a
O artigo 218-B do Código Penal prevê:
prática de qualquer ato lascivo com pessoas
Art. 218-B. Submeter, induzir vulneráveis que estejam envolvidas na prostituição
ou atrair à prostituição ou outra ou em outra modalidade de exploração sexual.
Contudo, a lei penal não criminaliza a Pfeiffer e Cardon (2006) ressaltam que a
prática de atos sexuais com adolescentes entre denúncia e notificação da suspeita ou da
quatorze e dezoito anos que não estejam na confirmação da violência praticada contra a
condição de prostituição juvenil. Dessa forma, o criança é obrigatória por lei, conforme preconiza o
consentimento do jovem não prostituído é válido Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código
para afastar a possibilidade de estupro, de forma Penal, e deveria desencadear uma série de
que somente são considerados vulneráveis os medidas de proteção às vítimas, desde a
jovens, menores de dezoito anos, que estejam orientação e acompanhamento familiar até a
envolvidos com a exploração sexual. intervenção judicial com afastamento do agressor
ou da família.
10 - O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL NA LUTA
Contudo, a falta de preparo dos
CONTRA O ABUSO SEXUAL INTRAFAMILIAR
profissionais que atuam na área da Educação, da
Saúde e do Direito, bem como o fato de a maioria
das vítimas e agressores não procurar ajuda em
A violência contra a criança, no seio da
serviços de saúde/segurança, inviabilizam a
família, é um fenômeno de saúde pública
adoção de providências. Segundo a Organização
presente não somente no Brasil. Trata-se de um
Mundial de Saúde, em casos como esses, as
sério problema social agravado pela omissão e
redes sociais e os vínculos entre vizinhos podem
pelo silêncio daqueles que deveriam proteger o
proteger as crianças, tanto as que estão expostas
infante.
a vários fatores de risco, como a pobreza, o uso
O abuso sexual, praticado dentro do de álcool e drogas, a violência e a baixa
ambiente familiar, apresenta grandes dificuldades escolarização, como as que desfrutam de um nível
de identificação, visto que é comum não deixar menos intenso de dificuldades sociais (OMS,
marcas físicas em sua vítima. Ainda, Farinatti 2002, p. 75).
(1992, p.685), traçando algumas considerações
Assim, para proteger a vítima de violência
sobre o abusador, ressaltou que, na maioria dos
sexual infantil intrafamiliar, são necessárias
casos, o(a) cônjuge ou companheiro(a) costuma
alternativas condizentes com as novas regras
ser passivo com a reiteração de cenas de
constitucionais de proteção ao menor. Uma nova
violência, o que contribui para a não identificação
conduta se impõe. A colocação em prática das
e para o prolongamento no tempo do abuso.
possibilidades reunidas neste trabalho tornará
A criança vitimizada pela violência sexual mais efetiva e não traumatizante a comprovação
tem seu contexto intensificado pela síndrome do do abuso sexual.
silêncio a ela imposta. Dessa maneira, a única
saída para a vítima passa a ser “o olhar atento dos
educadores e das pessoas que, de algum modo, CONSIDERAÇÕES FINAIS
fazem parte da sua vida fora de casa; crianças e
adolescentes costumam pedir socorro assim que
estabelecem um vínculo de confiança com outro O reconhecimento da criança enquanto
adulto” (MACHADO et al., 2005, p. 55). sujeito de direitos trouxe, para o Direito, a
preocupação com o desenvolvimento psicossocial
Ademais, a falta de denúncia colabora para
dos infantes, os quais, em razão de sua
a perpetuação dos casos de abuso sexual
vulnerabilidade, fazem jus a uma proteção
praticados contra o infante em seu ambiente
especial.
familiar, bem como para a ausência de dados que
permitam estudos mais aprofundados sobre o Contudo, em que pese o avanço legal, com
tema. o Estatuto da Criança e do Adolescente e com as
reformas ao Código Penal, ainda presenciamos
Azambuja (2011, p. 126) aponta a
casos de abuso sexual praticados contra crianças
inexistência de uma cultura de denúncia do abuso,
e adolescentes. Demonstra-se, assim, que a
fragilizando as vítimas e contribuindo para a
atuação do Direito, sem parceria com outros
continuidade dos episódios.
ramos do conhecimento, não é capaz de retirar da
Os crimes sexuais são pouco denunciados e sociedade o flagelo social da violência sexual
há falta de instrumentos adequados para registrar contra os infantes.
estatisticamente o problema, dificultando a
A melhor alternativa para o combate do
produção de um diagnóstico nacional exato sobre
abuso sexual infantil, especialmente no âmbito
a violência doméstica e sexual no Brasil. O
intrafamiliar, é a prevenção.
número real de casos é muito superior ao volume
notificado à Polícia e ao Judiciário. Estudos do É necessário, portanto, repensar sobre o
Departamento de Medicina Legal da Unicamp, de tratamento ofertado aos casos de abuso sexual. O
1997, indicam que apenas 10% e 20% das vítimas propósito do presente trabalho foi, sobretudo,
denunciam o estupro (SOUZA; ADESSE, 2005, p. demonstrar a urgente necessidade da abertura do
25) Direito à interdisciplinaridade. Somente através da
integração com outros ramos do conhecimento A minha orientadora Ana Paula, pela sua
poderemos oferecer à vítima, ao agressor e à incrível compreensão e pelo auxílio prestado para
família um adequado atendimento para o combate o aprimoramento deste trabalho.
da violência sexual intrafamiliar. A avaliadora do meu trabalho Dra Nayara
Santana.
E, a todos que contribuíram de alguma
AGRADECIMENTOS:
forma para realização do meu TCC.
Agradeço a Deus.
Referências:
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futuro. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 10, supl. nº 1, 2004.
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de direitos?. Porto Alegre: Livraria do Advogado 2011.
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1988.
3 -___. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.
4 - FALEIROS, Eva T. Silveira; CAMPOS, Josete de Oliveira. Repensando os conceitos de violência, abuso
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Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Infância Juventude do Ministério Público do Paraná,
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7 - FURNISS, Tilman. Abuso sexual da criança: uma abordagem multidisciplinar manejo, terapia e
intervenção legal integrados. Traduzido por Maria Adrian Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas,
1993.
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9 - PAIVA, Leila. Violência sexual – conceitos. Disponível em:
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11 - PFEIFFER, Luci; SALVAGNI, Edila P. Visão atual do abuso sexual na infância e adolescência. Jornal de
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12 - _____PFEIFFER, Luci; CARDON, Léo. Violência contra crianças e adolescente: do direito à vida. In: Os
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13 - RANGEL, Patrícia Calmon. Abuso sexual: intrafamiliar recorrente. 2ª ed. rev. atual. Curitiba: Juruá
Editora, 2011.