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27/04/2019 A proteção da liberdade econômica

ESTADÃO › Annotations

A proteção da liberdade econômica


APRIL ,

A Constituição de  consagrou a livre-iniciativa e assegurou “a todos o


livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”, diz o art.
, § único da Carta Magna. A regra é, portanto, a liberdade, e a
necessidade de autorização, a exceção. No Brasil, no entanto, parece ocorrer
o oposto. Há tantas regulações, que antes de iniciar uma atividade
econômica, quase sempre o cidadão precisar ir atrás de um sem-número de
autorizações e licenças do poder público.

Além de limitar a liberdade econômica, esse complexo sistema de regulações


é absolutamente disfuncional. Raras são as vezes que esses atos reguladores
alcançam as finalidades esperadas. Basta pensar, por exemplo, nas cidades
que crescem desordenadamente, a despeito dos muitos planos diretores.
Tem-se, assim, um Estado que regula muito e regula mal.

Diante desse panorama, um grupo de juristas, sob a coordenação do


professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Ari Sundfeld, formulou
proposta acadêmica de projeto de uma Lei Nacional da Liberdade
Econômica, com a finalidade de definir parâmetros para a regulação
realizada pela União, Estados e municípios. Apresentado em evento
acadêmico na Faculdade de Direito da USP, o anteprojeto oferece um marco
jurídico para a atividade reguladora do Estado, tanto para proteger a
liberdade econômica como para assegurar critérios mínimos de racionalidade
na regulação.

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27/04/2019 A proteção da liberdade econômica

O professor Carlos Ari Sundfeld lembrou que a legislação, ao dispor sobre a


atividade reguladora do Estado, em geral concede novos poderes aos órgãos
estatais. Raramente ela fixa limites ou define procedimentos para a
regulação. Há, assim, um estímulo à criação desordenada e disfuncional de
atos reguladores, num claro círculo vicioso.

O resultado é um ambiente de insegurança jurídica e de elevada


discricionariedade. “Hoje ninguém sabe quais são exatamente os limites da
regulação estatal. Não há conteúdos mínimos parametrizados sobre o que é a
liberdade econômica”, afirmou o professor da UERJ Gustavo Binenbojm,
que defendeu a necessidade de diminuir a discricionariedade legislativa,
administrativa e judicial. Regulamentando o que dispõe a Constituição, o
anteprojeto prevê que a liberdade econômica só pode ser limitada por lei ou
por “regulamento expressamente autorizado pela lei”.

A proposta da Lei Nacional da Liberdade Econômica envolve também uma


mudança de perspectiva sobre os atos reguladores. “Toda regulação deve ser
experimental e provisória”, disse a professora da FGV Vera Monteiro. Não é
porque foi editada que a regulação deve seguir vigente indefinidamente – é
preciso avaliar periodicamente seus efeitos. Entre outros deveres, o
anteprojeto estabelece que as autoridades deverão revisar constantemente as
normas de ordenação pública a fim de reduzir sua quantidade e os custos
para os agentes econômicos e para a sociedade, além de avaliar ao menos a
cada cinco anos a eficácia e o impacto dessas normas.

Atualmente, um grande problema é a confusão na distribuição de


competências, lembrou o professor Marçal Justen Filho. Há uma
superposição de atribuições entre os vários entes federativos. Aproveitando a
competência constitucional da União para legislar sobre Direito Econômico,
o anteprojeto tem a finalidade de oferecer uma norma geral sobre a matéria,

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que vincule todos os entes federativos. Existem hoje, por exemplo, muitas
regulações locais, absolutamente heterogêneas, que interferem em âmbito
regional e nacional.

A proposta trata também dos tempos de atuação do poder público, fixando


prazo, por exemplo, para a concessão de uma licença. Transcorrido o prazo,
o silêncio da autoridade pública tem efeitos de autorização. A experiência
indica que não impor limites temporais ao poder público é porta para a
ineficiência, afirmou o diretor da Faculdade de Direito da USP, Floriano de
Azevedo Marques.

É urgente uma profunda reforma da burocracia brasileira. O Estado deve ser


estímulo, e não entrave, à atividade econômica. Nesse sentido, a proposta de
Lei Nacional da Liberdade Econômica é uma importante contribuição para
o País. Que o Congresso lhe dê a devida atenção.

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