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Filipa S. B. F. OLIVEIRA
Doutora em Eng. Costeira, LNEC, Av. do Brasil, 101, 1700-066 Lisboa, foliveira@lnec.pt
Tiago C. A. OLIVEIRA
Engº Civil, LNEC, Av. do Brasil, 101, 1700-066 Lisboa, tcoliveira@lnec.pt
Raquel SILVA
Engª Física, IH, Rua das Trinas, 49, 1249-093 Lisboa, raquel.silva@hidrografico.pt
Sérgio H. C. D. LARANGEIRO
Engº do Ambiente, IH, Rua das Trinas, 49, 1249-093 Lisboa, sergio.larangeiro@hidrografico.pt
RESUMO
Avaliou-se o transporte sedimentar longitudinal no trecho da costa Oeste Portuguesa entre a
Praia da Vieira e a Praia Velha. As características morfológicas desta zona costeira e a existência de
dados de agitação marítima observados durante um razoável período de tempo são requisitos da
metodologia aplicada. Esta consistiu em modelação matemática dos processos físicos costeiros que
contribuem para o transporte sedimentar que ocorre fora e dentro da zona de rebentação.
Executou-se uma análise detalhada da agitação marítima, principal agente responsável pelo
transporte litoral, e avaliou-se a variabilidade do transporte longitudinal em função dos principais
factores que determinam os processos físicos que o influenciam.
Os resultados obtidos permitiram conhecer a variação do transporte longitudinal ao longo do
perfil transversal de praia, o seu valor médio anual, 1.1x106 m3, e quantificar outros parâmetros que
caracterizam a zona costeira onde o transporte sedimentar induzido pelas ondas é significativo. Foi
também avaliada a variação sazonal do transporte litoral e analisada a distribuição do transporte anual
em função de sectores direccionais de incidência da onda e para cada sector direccional, em função
de classes de distribuição da altura de onda. Dada a existência de uma barra ao longo do trecho em
estudo, que confere características especiais à distribuição transversal do transporte longitudinal,
avaliou-se o efeito da variação do nível do mar no transporte longitudinal. Analisou-se o efeito da
redução do número de ondas representativas das componentes do regime de agitação no cálculo do
transporte longitudinal, através da implementação de diferentes esquematizações do regime.
Avaliou-se também a influência de pequenas variações morfológicas, observadas no trecho em estudo,
no transporte longitudinal.
PALAVRAS-CHAVE
Zona costeira, Agitação marítima, Transporte litoral.
1
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS RECURSOS HÍDRICOS
7º Congresso da Água
1. INTRODUÇÃO
Este estudo teve como objectivo principal avaliar o transporte sedimentar longitudinal no trecho
da costa central Oeste Portuguesa entre a Praia da Vieira e a Praia Velha. O conhecimento deste
parâmetro, entre outros que permitem caracterizar a dinâmica sedimentar costeira, é fundamental para
suportar decisões e intervenções no âmbito da gestão da zona costeira. Dada a dificuldade em
confirmar a exactidão do transporte sedimentar litoral, os outros objectivos do estudo consistiram em
analisar e testar este parâmetro relativamente à variabilidade, temporal e espacial, de alguns factores
determinantes nos processos físicos que o influenciam, como a agitação marítima, o nível do mar e a
morfologia da praia.
A área de estudo e sua recente evolução são apresentadas na secção seguinte. Na secção 3
faz-se uma descrição da metodologia utilizada para alcançar os objectivos do estudo, baseada no
processamento integrado de dados observados (agitação marítima e morfologia) e em modelação
matemática. Os resultados da detalhada análise dos registos de agitação marítima, principal agente
responsável pelo transporte sedimentar, apresentam-se na secção 4: a distribuição da frequência de
ocorrência dos parâmetros que caracterizam a agitação marítima ao largo; a identificação de um
padrão de variação sazonal destes parâmetros que caracterizam o estado do mar; e conclusões sobre
a distribuição da frequência de ocorrência destes parâmetros, com base na comparação entre os
resultados obtidos para séries de dados relativos a diferentes períodos (uma das séries já utilizada
noutros estudos), durante os quais o parâmetro direcção foi obtido através de dois processos de
medição e a altura de onda processada através de diferentes métodos. Seguidamente, simulou-se a
deformação de todas as componentes do regime de agitação, no seu processo de propagação desde
o largo até à linha de água, e o transporte sedimentar gerado pelas correntes longitudinais induzidas
por estas ondas ao longo do perfil de praia. Na secção 5 apresenta-se: o transporte longitudinal, anual,
de Inverno e Verão marítimos, ao longo do perfil de praia, nas direcções Norte e Sul; a discretização
do transporte anual por altura e direcção das componentes do regime de agitação ao largo, o que
permite identificar ondas, que sendo pouco frequentes, têm uma elevada contribuição para o
transporte longitudinal; o efeito da variação do nível do mar na distribuição do transporte ao longo do
perfil de praia e no seu valor total; a avaliação do efeito da redução do número de componentes
representativas do regime de agitação marítima no cálculo do transporte longitudinal; e a avaliação do
efeito de pequenas variações morfológicas, observadas ao longo do trecho em estudo, no transporte
longitudinal ao longo do perfil de praia. Na secção 6 sumariam-se as conclusões dos resultados
obtidos.
2
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS RECURSOS HÍDRICOS
7º Congresso da Água
P16
P16
Distância (m)
Outubro/2003
Batimetria ZH (m)
P14
P16
P14
P4
P14
Distância (m)
Agosto/1995
Batimetria ZH (m)
P4
P4
Distância (m)
No que respeita à acção antrópica recente nesta zona de estudo, destacam-se as seguintes
intervenções: a construção, na praia da Vieira, em 1959, de um paredão com cerca de 600 m de
comprimento e função de defesa longitudinal, devido aos episódios erosivos resultantes da acção de
temporais ocorridos em 1958 e 1959; o reforço deste mesmo paredão, com enrocamento, na década
de 70; o encurtamento, em cerca de 80 m, dos molhes da embocadura do rio Lis, em 1978, com o
objectivo de reduzirem a sua interferência na deriva litoral; e a proibição de extracção de areias na
praia da Vieira, também na mesma ocasião.
No que respeita à evolução da linha de água, CUNHA et al. (1997), com base na comparação
de levantamentos topográficos da praia executados em 1984 (CABRAL, 1986) e 1997, concluíram que,
entre a Figueira da Foz e as Pedras Negras, ocorreu um recuo da linha de água à taxa 1-2 m.ano-1.
Em localizações específicas deste trecho, para um período mais curto, entre 1991 e 1997, com base
em fotografias aéreas, CUNHA et al. (1997) encontraram as seguintes taxas de evolução da linha de
água:
• Praia da Vieira (imediatamente a Sul do paredão) ----- recuo à taxa 0.5-2.7 m.ano-1
• Praia a 3 km a Sul da Praia da Vieira ----- recuo à taxa 4.5-6.0 m.ano-1
• Praia Velha ----- taxa 0 m.ano-1
3
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS RECURSOS HÍDRICOS
7º Congresso da Água
3. METODOLOGIA
A metodologia utilizada baseia-se no processamento integrado de dois tipos de dados
observados (agitação marítima e morfologia do fundo marinho), através de um modelo de perfil,
composto por uma parte de hidrodinâmica e uma parte de transporte de sedimentos.
Os dados de batimetria foram obtidos com base num levantamento hidrográfico realizado em 1982
(identificado na carta nº 24204 do fólio F94, Aveiro a Peniche, do Instituto Hidrográfico). A batimetria
da face da praia, que está sujeita a maiores variações, foi obtida com um levantamento realizado em
Outubro de 2003.
Os dados de agitação marítima, observados ao largo conforme descrito em detalhe na secção
seguinte, foram utilizados como agente forçador da parte de hidrodinâmica do modelo matemático.
Cada componente do regime de agitação é propagada em direcção à costa. Os processos de
transformação considerados são: refracção, empolamento, rebentação e dispersão direccional do
campo de ondas (que afecta a sobrelevação do nível do mar e a corrente litoral). A equação
governante da parte de hidrodinâmica, que permite estimar a corrente de deriva litoral, resulta do
equilíbrio de forças:
1 ∂ S xy 1 ∂ ∂V
− ED ,
V
− + τ w senθ + gDI =
C 2 ∂x ∂x
(1)
ρ ∂x ρ
onde
x é a direcção normal à linha de costa;
ρ é a densidade do mar;
S xy é a tensão de radiação;
τ w é a tensão tangencial devida ao vento;
θ é o ângulo entre a normal à linha de costa e a direcção do vento;
g é a aceleração gravítica;
D é a profundidade;
I é o declive da superfície livre na direcção longitudinal;
V é a velocidade média na coluna de água;
C é o factor de resistência; e
4a 2
E= cos 2 α , (2)
T
onde
a é a amplitude da onda;
α é o ângulo entre a crista da onda e a linha de costa; e
T é o período de onda.
4
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS RECURSOS HÍDRICOS
7º Congresso da Água
4. AGITAÇÃO MARÍTIMA
Considerou-se o regime de agitação marítima ao largo da zona de estudo igual ao regime de
agitação marítima ao largo da Figueira da Foz (em frente ao Cabo Mondego), dada a proximidade
geográfica (cerca de 37 km) e a existência de um conjunto de registos de ondulação, obtidos por uma
estação ondógrafo direccional, instalada e mantida pelo Instituto Hidrográfico, amarrada a
aproximadamente 92 m de profundidade abaixo do ZH, ao largo da Figueira da Foz, durante o período
1990-1996.
O tratamento estatístico da série de dados permitiu concluir sobre diversos aspectos do estado
do mar durante o período em análise. Em concordância com trabalhos anteriormente realizados, foram
consideradas duas estações sazonais para o regime marítimo anual: Inverno marítimo, de Outubro a
Março; e Verão marítimo, de Abril a Setembro.
A análise da distribuição da frequência de ocorrência do parâmetro direcção das ondas por
sectores direccionais de amplitude 10° (Figura 2.a) permitiu concluir que as ondas com maior
frequência de ocorrência no regime total (baseado na série completa) têm incidência dos sectores
[300-310] e [310-320], aproximadamente 17.5 % cada, e que ondas incidentes do quadrante SW
representam apenas 5.7% do regime observado. A distribuição da ocorrência da direcção das ondas
por estação sazonal mostra que no Inverno marítimo o pico da distribuição ocorre para o sector
direccional [300-310] e no Verão marítimo o pico da distribuição ocorre para o sector direccional
[320-330], ligeiramente mais rodado a norte do que o pico da distribuição no regime total. Observa-se
ainda que para o octante WNW todas as classes direccionais apresentam maior frequência de
ocorrência no Inverno do que no Verão, e para o octante NNW se verifica o contrário, todas as classes
direccionais apresentam maior frequência de ocorrência no Verão do que no Inverno.
A análise da distribuição da frequência de ocorrência da altura significativa (Hs) por classes de
amplitude 0.5 m (Figura 2.b) permitiu concluir que a classe [1.5-2.0] é a que apresenta maior
frequência de ocorrência, aproximadamente 20.5%, seguida da classe [1.0-1.5] com aproximadamente
19.5%. No Inverno a classe de ondas com maior frequência de ocorrência é a classe [2.0-2.5], com
8.8%, e no Verão são as classes [1.0-1.5] e [1.5-2.0], com aproximadamente 13% cada. As classes de
onda com alturas superiores a 2.0 m apresentam uma frequência de ocorrência sempre maior no
Inverno do que no Verão.
A análise da distribuição do período médio (Tm) por classes de amplitude 0.5 s (Figura 2.c)
permitiu concluir que a classe com maior frequência de ocorrência é [6.0-6.5], com 17.8%. Verifica-se
que no Inverno marítimo ocorrem mais ondas com períodos longos do que no Verão marítimo. No
Inverno marítimo a classe de períodos com maior frequência de ocorrência é a classe [8.0-8.5],
enquanto para o Verão marítimo a classe com maior frequência de ocorrência é a mesma do regime
total, [6.0-6.5].
Efectuou-se também uma análise para avaliar a variação dos mesmos parâmetros ao longo do
ano, com base nos valores médios mensais obtidos para o conjunto dos anos em estudo.
Relativamente à variação da direcção das ondas ao longo do ano não se identifica nenhum período
5
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS RECURSOS HÍDRICOS
7º Congresso da Água
com uma direcção predominante contudo, de Março a Outubro, com excepção do mês de Maio,
observa-se uma direcção (média) incidente ligeiramente mais rodada a Norte do que durante o resto
do ano (Figura 3.a). Analisando a variação de Hs, identifica-se a existência de um período mais
energético, de Outubro a Abril, ao qual correspondem ondas com Hs (médio) superiores a 2.0 m
(Figura 3.b). Observando a variação anual de Tm (médio), verifica-se que ao período mais energético
corresponde o período de ondas mais longas (Figura 3.c).
a)
20 25
18
Inverno Marítimo
Verão Marítimo
b) Inverno Marítimo
Verão Marítimo
Total
16 Total 20
14
Ocorrência (%)
Ocorrência (%)
12 15
10
8
10
6
4
5
2
0
0
200-210
210-220
220-230
230-240
240-250
250-260
260-270
270-280
280-290
290-300
300-310
310-320
320-330
330-340
340-350
350-360
0.0-0.5
0.5-1.0
1.0-1.5
1.5-2.0
2.0-2.5
2.5-3.0
3.0-3.5
3.5-4.0
4.0-4.5
4.5-5.0
5.0-5.5
5.5-6.0
6.0-6.5
6.5-7.0
7.0-7.5
7.5-8.0
8.0-8.5
8.5-9.0
Sectores direccionais (º) Classes de Hs (m)
20
c) 18
Inverno Marítimo
Verão Marítimo
Total
16
14
Ocorrência (%)
12
10
0
3.0-3.5
3.5-4.0
4.0-4.5
4.5-5.0
5.0-5.5
5.5-6.0
6.0-6.5
6.5-7.0
7.0-7.5
7.5-8.0
8.0-8.5
8.5-9.0
9.0-9.5
10.0-10.5
10.5-11.0
11.0-11.5
11.5-12.0
12.0-12.5
12.5-13.0
13.0-13.5
13.5-14.0
14.0-14.5
14.5-15.0
15.0-15.5
9.5-10.0
Classes de Tm (s)
Figura 2. Frequência de ocorrência dos parâmetros de agitação marítima ao largo da Figueira da Foz
(regime 90-96): a) Direcção; b) Hs ; e c) Tm.
a) b)
10
350
Hs (média)
9 Hs (máx)
300 Hs (min)
8
250 7
6
200
Metro
Grau
150 4
3
100
2
Direcção (média)
50 Direcção (máx)
1
Direcção (min)
0 0
Jan Fev Mar Abril Mai Jun Jul Agost Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abril Mai Jun Jul Agost Set Out Nov Dez
Mês Mês
16
c)
Tm (médio)
14 Tm (máx)
Tm (min)
12
10
Segundo
0
Jan Fev Mar Abril Mai Jun Jul Agost Set Out Nov Dez
Mês
Figura 3. Distribuição mensal dos parâmetros de agitação marítima ao largo da Figueira da Foz
(regime 90-96): a) Direcção; b) Hs ; e c) Tm.
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ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS RECURSOS HÍDRICOS
7º Congresso da Água
A análise da ocorrência das classes de Hs por sector direccional mostra que a função de
distribuição de Hs é semelhante entre os sectores do quadrante NW mas não entre os sectores do
quadrante SW (Figuras 4.a e 4.b, para o Inverno e Verão marítimos, respectivamente). Observa-se
ainda que as ondas com altura mais elevada ocorrem sempre, no Inverno e no Verão marítimos, do
quadrante NW. Da análise da ocorrência das classes de Tm por sector direccional conclui-se que a
função de distribuição de Tm é mais variável com o sector de incidência (Figuras 4.c e 4.d, para o
Inverno e Verão marítimos, respectivamente) do que a função de distribuição de Hs. No Inverno
marítimo observa-se maior ocorrência das ondas mais curtas no quadrante SW e no octante NNW do
que no octante WNW, o que leva a concluir que durante esta estação marítima as ondas vindas destes
dois primeiros sectores têm maior declividade. No Verão marítimo esta característica observa-se
apenas para ondas incidentes do octante NNW.
a) b)
c) d)
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ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS RECURSOS HÍDRICOS
7º Congresso da Água
Tendo sido já efectuados outros estudos de engenharia costeira para o trecho Figueira da
Foz - Buarcos (OLIVEIRA et al., 2002 e LARANGEIRO et al., 2003), nos quais se adoptou um regime
de agitação marítima ao largo estabelecido com base numa série de dados de agitação marítima
diferente, achou-se conveniente fazer uma análise comparativa entre os dois regimes. A série utilizada
nos estudos acima mencionados baseou-se num conjunto de dados relativos ao período 1984-1996,
cerca de mais 6 anos do que o período correspondente ao regime considerado neste estudo.
Salienta-se que de 1990 a 1996 os dados são os mesmos, e que de 1984 a 1990 os dados foram
obtidos com uma bóia ondógrafo não direccional. Por esta razão, durante o período 1984-1990, os
dados de direcção de onda foram recolhidos visualmente, com o rigor possível deste processo de
medição. Destaca-se ainda que as séries observadas foram processadas por métodos diferentes nos
períodos 1984-1990 e 1990-1996. Para além disso, assinala-se que desde Abril de 1984 até ao início
de 1986, tal como desde Julho de 1990 em diante, a bóia esteve fundeada a cerca de 92 m de
profundidade abaixo do ZH. Contudo, desde início de 1986 até Março de 1990 a bóia esteve a 83 m de
profundidade abaixo do ZH.
Da comparação dos dois regimes salientam-se as seguintes diferenças no que respeita à
distribuição do parâmetro direcção: para o octante NNW observa-se maior frequência de ocorrência no
regime 90-96 do que no regime 84-96, enquanto para o octante WNW a frequência de ocorrência é
maior no regime de 84-96 do que no regime 90-96, sendo o sector direccional [280-290] aquele onde
se registou maior ocorrência (Figura 5.a). No que respeita à distribuição das alturas de onda,
observa-se que: o regime 90-96 tem menor ocorrência de ondas com Hs inferior a 2.0 m do que o
regime 84-96; a classe [2.0-2.5] apresenta a mesma ocorrência para os dois regimes; e que ondas
com Hs entre 2.5 e 5.0 m apresentam maior ocorrência no regime 90-96 (Figura 5.b).
a)
20
Regime 84-96
18
Regime 90-96
16
14
Ocorrência (%)
12
10
0
200-210
210-220
220-230
230-240
240-250
250-260
260-270
270-280
280-290
290-300
300-310
310-320
320-330
330-340
340-350
350-360
24
b) 22 Regime 84-96
Regime 90-96
20
18
16
Ocorrência (%)
14
12
10
8
4
2
0
0.0-0.5
0.5-1.0
1.0-1.5
1.5-2.0
2.0-2.5
2.5-3.0
3.0-3.5
3.5-4.0
4.0-4.5
4.5-5.0
5.0-5.5
5.5-6.0
6.0-6.5
6.5-7.0
7.0-7.5
7.5-8.0
8.0-8.5
8.5-9.0
Classes de Hs (m)
Figura 5. Frequência de ocorrência dos parâmetros a) Direcção e b) Hs, do regime de agitação ao largo
da Figueira da Foz, com base em séries de dados diferentes.
8
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS RECURSOS HÍDRICOS
7º Congresso da Água
da posição da bóia entre 1986 e 1990, às profundidades em que ocorreu, não justifica as variações
observadas.
No caso da direcção de onda, as diferenças observadas poderão ser devidas a: falta de
precisão com que os dados foram medidos desde 1984 a 1990; e variações inter anuais ocorridas.
Salienta-se no entanto, que a primeira das causas apontadas é muito provavelmente a principal
responsável.
5. TRANSPORTE LONGITUDINAL
5.1 Transporte sedimentar ao longo do perfil activo
Simulou-se a propagação das componentes do regime de agitação do largo para a costa,
estimaram-se as correntes longitudinais por elas geradas e finalmente o transporte sedimentar no perfil
de praia P14, que corresponde ao perfil com declive médio na zona da fossa à face da praia, neste
trecho. Admitiu-se o nível médio do mar constante ao longo do ano. A distribuição do transporte
longitudinal (anual, de Inverno e de Verão marítimos), para Norte e para Sul, ao longo do perfil activo
da praia apresenta-se na Figura 6. O transporte longitudinal anual dirigido para Norte é apenas cerca
de 12.3% do transporte total (1111x103 m3.ano-1). Esta predominância de transporte para Sul ocorre no
Inverno e no Verão marítimos com o mesmo valor percentual relativamente ao total observado em
cada estação marítima. O transporte que ocorre sobre a barra, 10.6% do transporte anual, dirige-se
para Sul, e é devido às correntes longitudinais induzidas pelas ondas de altura mais elevada, vindas
de NW, que ocorrem no Inverno marítimo, e rebentam mais afastadas da linha de água, quando
encontram menores profundidades devidas à presença da barra. O valor máximo do transporte ao
longo do perfil ocorre a aproximadamente 0.0 m ZH. O transporte que ocorre durante o Inverno
marítimo é aproximadamente 74% do transporte anual.
Na Tabela 1 encontram-se os parâmetros de caracterização do transporte longitudinal para os
regimes total, de Inverno e Verão. Durante o Inverno a extensão da zona de rebentação aumenta
devido à ocorrência de alturas de onda mais elevadas, razão pela qual o comprimento activo do perfil
de praia é cerca de 25% maior do que no Verão e a profundidade de fecho vai até aproximadamente
9.0 m abaixo do ZH, mais 3.4 m do que no Verão.
NM
Distância (m)
Figura 6. Transporte longitudinal anual, de Inverno e Verão marítimos, ao longo do perfil transversal
P14.
9
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS RECURSOS HÍDRICOS
7º Congresso da Água
Tabela 2. Transporte longitudinal anual (discretização por altura, Hrms, e direcção do regime ao largo).
Hrms(m)
Direcção(°) 0.0-0.5 0.5-1.0 1.0-1.5 1.5-2.0 2.0-2.5 2.5-3.0 3.0-3.5 3.5-4.0 4.0-4.5 >4.5 TOTAL(%)
200-210 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
210-220 0.00 0.01 0.03 0.01 0.01 0.02 0.00 0.00 0.00 0.00 0.08
220-230 0.00 0.03 0.10 0.21 0.10 0.07 0.00 0.00 0.00 0.00 0.50
230-240 0.00 0.05 0.13 0.54 0.38 0.18 0.18 0.00 0.00 0.00 1.45
240-250 0.00 0.06 0.10 0.62 0.40 0.05 0.06 0.00 0.00 0.00 1.28
250-260 0.00 0.07 0.17 0.55 0.30 0.33 0.27 0.00 0.00 0.00 1.69
260-270 0.00 0.07 0.15 0.55 0.24 0.43 0.27 0.00 0.00 0.00 1.71
270-280 0.00 0.13 0.25 0.59 0.34 0.27 0.65 0.29 0.30 0.21 3.02
280-290 0.00 0.13 0.21 0.71 0.31 0.23 0.40 0.14 0.18 0.28 2.58
290-300 0.00 0.15 0.25 0.79 0.46 0.45 0.46 0.11 0.07 0.17 2.91
300-310 0.00 0.46 0.90 3.26 1.99 1.80 2.51 0.68 0.66 0.26 12.53
310-320 0.00 0.73 1.51 5.61 3.49 2.78 4.95 1.82 3.11 0.85 24.85
320-330 0.00 0.85 2.30 6.72 4.42 3.34 4.19 0.83 1.90 0.56 25.11
330-340 0.00 1.07 2.12 5.62 4.38 2.21 0.08 0.00 0.00 0.00 15.48
340-350 0.00 0.36 0.65 2.09 0.86 1.03 1.38 0.20 0.00 0.00 6.58
350-360 0.00 0.02 0.03 0.10 0.08 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.23
TOTAL(%) 0.00 4.18 8.90 27.97 17.76 13.18 15.41 4.07 6.20 2.33 100.00
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dois parâmetros (Figura 7.b). Isto acontece devido à acção combinada de dois factores: obliquidade da
onda relativamente à normal à linha de costa e serem estes os sectores para os quais se observam
alturas Hs mais elevadas (Figuras 4.a e 4.b).
a) 35
b)
30
Ocorrência
30 Contribuição para o Ocorrência
transporte total 25 Contribuição para o transporte total
25
20
20
%
%
15
15
10 10
5
5
0
0.0-0.5
0.5-1.0
1.0-1.5
1.5-2.0
2.0-2.5
2.5-3.0
3.0-3.5
3.5-4.0
4.0-4.5
>4.5
0
200-210
210-220
220-230
230-240
240-250
250-260
260-270
270-280
280-290
290-300
300-310
310-320
320-330
330-340
340-350
350-360
Classes de Hrms (m)
NM
Distância (m)
Figura 8. Transporte longitudinal anual, com e sem efeito da maré, ao longo do perfil transversal P14.
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Tabela 3. Parâmetros de caracterização do transporte longitudinal anual com e sem efeito de maré.
Profundidade Comprimento do Transporte longitudinal (x103 m3.ano-1)
Nível do mar
de fecho* (m) perfil activo (m) na direcção Sul na direcção Norte
Nível médio 9.2 910 974.1 136.9
Com efeito da maré 9.4 960 989.7 138.5
* Relativamente ao ZH.
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menos, dois sectores direccionais de cada lado do perfil transversal (esquematização ii)) é essencial. O
erro cometido neste caso é 2.6%. Quando se utiliza apenas um sector direccional de cada lado do
perfil transversal (esquematização iv)) o erro cometido é 16.5%. A redução do número de alturas de
onda representativas do regime de agitação ao largo para 5 (esquematização ii)) e 3 (esquematização
iii)) gera um erro de 2.6% e 1.6%, respectivamente. Isto verifica-se porque na esquematização ii) a
redução do transporte longitudinal devida à redução do número de alturas de onda é superada pelo
aumento devido à redução do número de direcções. Os resultados evidenciam que o requisito de
representatividade do parâmetro direcção exige um maior número de classes do que o requisito de
representatividade do parâmetro altura de onda. Dado que a variação mensal do parâmetro direcção
média é muito pequena ao longo do ano (Figura 3) a esquematização v) não é alternativa à série
completa. Finalmente as opções de esquematização vi) e vii) também não representam
suficientemente o regime de agitação de forma a serem utilizadas no cálculo do transporte longitudinal.
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6. CONCLUSÕES
Executou-se uma análise estatística da agitação marítima, agente responsável pelo transporte
sedimentar longitudinal, que permitiu conhecer diversos aspectos sobre o estado do mar, tais como: a
distribuição da frequência de ocorrência dos parâmetros direcção, altura e período de onda; e o padrão
de variação sazonal dos parâmetros anteriores. Concluiu-se que a maioria das ondas, 94.3%, têm
incidência do quadrante NW e que durante o Inverno marítimo há uma incidência predominante do
octante WNW, ao contrário do Verão marítimo quando se verifica uma incidência predominante do
octante NNW. Relativamente à altura significativa, concluiu-se que as ondas mais frequentes têm Hs
entre 1.0 e 2.0 m, e que valores de Hs superiores a 2.0 m são bastante mais ocorrentes no Inverno do
que no Verão. Quanto ao período médio, Tm, concluiu-se que as ondas mais frequentes têm período
entre 6.0 a 6.5 s, contudo, durante o Inverno marítimo as ondas são em geral mais longas e os valores
de Tm mais ocorrentes são superiores, entre 8.0 a 8.5 s.
A variação mensal dos parâmetros Hs e Tm , concorda com os períodos correspondentes ao
Inverno e Verão marítimos estabelecidos noutros estudos. Durante o Inverno marítimo os valores de Hs
e Tm são superiores aos observados durante o Verão marítimo.
A distribuição da frequência de ocorrência de Hs e Tm por sectores direccionais é bastante
semelhante entre os sectores do quadrante NW para o caso de Hs, e bastante variável entre todos os
sectores para o caso de Tm. No Inverno marítimo observa-se maior ocorrência das ondas mais curtas
no quadrante SW e no octante NNW do que no octante WNW, o que faz com que ondas vindas destes
dois sectores tenham maior declividade. No Verão marítimo esta característica observa-se apenas
para ondas incidentes do octante NNW.
O transporte longitudinal anual estimou-se em 1111x103 m3. Apenas 12.3% deste volume se
dirige para Norte. No Inverno marítimo ocorre aproximadamente 74% do transporte anual e cerca de
10.6% ocorre sobre a barra. É devido a este facto que a profundidade de fecho aumenta cerca de
3.4 m, para 9.0 m abaixo do ZH, e o comprimento activo do perfil de praia aumenta cerca de 180 m,
para 900 m, do Verão para o Inverno marítimos.
A discretização do transporte anual em função das componentes do regime de agitação ao largo
permitiu concluir que ondas com Hrms superiores a 2.5 m dão uma contribuição para o transporte total,
aproximadamente 41%, bastante mais elevada do que a sua frequência de ocorrência,
aproximadamente 13%.
Dada a presença da barra na zona de estudo, analisou-se o efeito da variação do nível do mar,
consequente da maré astronómica, no transporte longitudinal. Concluiu-se que, no trecho em estudo, a
distribuição do transporte longitudinal ao longo do perfil transversal de praia depende do nível do mar.
Contudo, estas diferenças não afectam o valor do transporte longitudinal total no perfil.
Aplicaram-se diversas esquematizações ao regime de agitação ao largo com vista a conhecer o
efeito da redução do número de ondas representativas das componentes do regime no transporte
longitudinal. Constatou-se que a esquematização deste regime exige um maior número de classes
para o parâmetro direcção do que para o parâmetro altura de onda.
Concluiu-se que as pequenas variações morfológicas observadas, ao longo da barra e entre a
fossa e a face da praia, não geram variabilidade significativa no transporte longitudinal na zona de
estudo.
BIBLIOGRAFIA
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Dissertação apresentada em Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, Dep. de
Geologia da Fac. Ciências da Univ. Lisboa (policopiado), 1986.
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GODA, Y. - Random seas and design of maritime structures. University of Tokyo press, 1985.
LARANGEIRO, S.H.C.D., OLIVEIRA, F.S.B.F. and FREIRE, P.M.S. - Longshore sediment transport
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OLIVEIRA, F.S.B.F., FREIRE, P.M.S. and LARANGEIRO, S.H.C.D. - Characterisation of the dynamics
of Figueira da Foz beach, Portugal. Journal of Coastal Research, No.36, 2002, pp. 552-563.
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