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Conselho editorial
Colaboradores:
Márcia Aparecida da Silva Pimentel
Universidade Federal do Pará – UFPA
José Antônio Herrera
Universidade Federal do Pará – UFPA
Wildoberto Batista Gurgel
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA
André Luiz de Oliveira Brum
Universidade Federal do Rondônia – UNIR
Mário Silva Uacane
Universidade Licungo / Moçambique
Francisco da Silva Costa
Universidade do Minho / Portugal
Ofelia Pérez Montero
Universidad de Oriente- Santiago de Cuba-Cuba
Editora-chefe
Viviane Corrêa Santos
(Universidade do Estado do Pará - UEPA)
DOI: 10.36599/itac-ed1.002
O conteúdo desta obra, inclusive sua revisão ortográfica e gramatical, bem como os dados
apresentados, são de responsabilidade de seus participantes, detentores dos Direitos Autorais.
Esta obra foi publicada pela Editora Itacaiúnas em abril de 2020.
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1 INTRODUÇÃO
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Professor Adjunto do Departamento de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE),
e-mail: otavio.augusto@ufrpe.br.
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O que é a Globalização? Abrangente por tudo o que evoca, este termo suscita
inúmeras concepções, muitas delas notadamente divergentes, chegando a acumular nos dias
atuais uma quantidade extremamente diversa de debates, teorias e publicações acadêmicas. As
interpretações são tão diversas que qualquer tentativa de classificá-las com base em poucos
critérios constitui trabalho árduo, extrapolando o escopo e os limites de um texto como este.
Para o senso comum e para diferentes espectros da grande mídia, contudo, a Globalização
alude a um conjunto muito claro de ideias, dinâmicas econômicas e projetos políticos. Tais
ideias referenciam-se nos espetaculares progressos das comunicações observados e
atualmente experimentados nos mais diferentes cantos do mundo, na intensa expansão do
comércio e sua financeirização, bem como no processo de fragmentação e translocalização
internacional da produção, fenômenos reais que passaram a ser tratados como inevitáveis a
partir do último quartil do século XX.
Quase sempre associada à construção de uma ordem mundial pacífica, o termo
também surge na esteira da construção de uma governança mundial após a Segunda Guerra,
através da consolidação de diferentes organismos multilaterais, surgidos sob o fito de garantir
tal governança em suas mais diversas áreas. A ideia ganha novos contornos quando da
hegemonização de uma agenda econômica que, ao apregoar os limites teóricos e práticos de
uma economia nacional calcada em seu mercado interno, sugere uma ordem mundial próspera
para todos aqueles que aderem entusiasticamente suas prescrições político-econômicas. Neste
sentido, o referido termo sempre esteve associado à Organização Mundial do Comércio
(OMC) e à toda sorte de acordos políticos e econômicos bilaterais ou multilaterais que
viabilizam e ordenam o fluxo financeiro, de mercadorias e de “pessoas”6, a despeito de seus
países e continentes de origem, criando o "mercado mundial". Aceitar a Globalização é,
segundo esta concepção, estar aberto à valores sociais universalmente aceitos, com os quais
floresce a liberdade econômica e o avanço tecnológico, condições essenciais tão
"desprezadas" em economias fechadas, como a que marcou a experiência soviética, a dos
demais países comunistas e dos países onde vicejou qualquer matriz de pensamento
econômico voltado ao desenvolvimento nacional.
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Sabe-se que o fluxo financeiro e de mercadorias sao evidentemente prioritários. Apesar de sua intensificação
nos ultimos 50 anos, o fluxo de pessoas sempre teve como mediação restritiva os fechamentos de fronteiras, a
xenofobia e os nacionalismos que, paradoxalmente, persistiram a ascensão dessa perspectiva enganosa de
Globalização.
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Milton Santos (2008) ainda sentencia: a Globalização se impõe como uma fábrica de
perversidades, proporcionada por um impressionante sistema unificado de técnicas, uma
percepção do tempo cada vez mais homogênea, a constituição de uma mais-valia universal
como motor único e um conhecimento extensivo e profundo do planeta, constituindo um novo
período na história do capitalismo que é ao mesmo tempo uma crise.
Sousa Santos (2005) também possui uma visão crítica da Globalização. Para o
sociólogo português, ela corresponde a um campo de conflitos, para os quais concorre
interesses hegemônicos e subalternos, e que possui um componente 'descritivo' e outro
'prescritivo'. O que há de prescritivo, segundo o autor, corresponde ao vasto conjunto de
ideias e regras amparadas em um "consenso hegemônico". O consenso a que o autor se refere
é o de Washington, cuja função foi instituir, desde a década de 1980, as políticas de
desenvolvimento no interior do sistema econômico mundial. A Globalização, segundo Sousa
Santos, seria o seu resultado.
Ianni (1997), por outro lado, compreende que a Globalização é muito anterior ao
referido consenso. Segundo sua concepção, o capitalismo esboça, desde seus primórdios, uma
tendência aberta à expansão global. Essa tendência se intensifica no século XX, adquire novos
contornos com o término da Segunda Guerra Mundial, mas se consolida frente às grandes
transformações históricas do final do século XX, quando da vitória do bloco capitalista sobre
o comunista, tendo como marco histórico a Queda do muro de Berlim. Assim, para este autor,
o fim do socialismo real encerra uma época na medida em que reorganiza as cartografias
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Medeiros & Barreto (2013), em texto onde defendem uma ética ambiental
materialista, chamam de “ecologismo acrítico”, as vertentes do pensamento ecológico que se
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modelos de metabolismo com a natureza. Em seu lugar, ela implanta uma nova relação com a
natureza, mais utilitarista, da qual o que vale é a obtenção do lucro, a despeito de todo
equilíbrio dinâmico que sustenta os ecossistemas. Harvey (2004) chama de “acumulação por
espoliação” essa característica presente na geografia histórica do capitalismo, cuja marca é a
permanente transformação de bens não-mercantis em mercadoria.
A classe trabalhadora surgida dos inúmeros desalojados, não tendo outras posses
além de sua força de trabalho para oferecer em troca dos meios de subsistência, foi e continua
sendo obrigada a inserir-se enquanto massa de trabalho alienada na produção de mercadorias,
em uma lógica da qual a obtenção de lucro é fundamental. A progressiva exploração dessa
classe é, pois, fundamental à reprodução de todo o sistema. Toda a geopolítica do capitalismo
está calcada nas possibilidades de crescimento dessa exploração, pois é em busca de uma
força de trabalho controlada que a produção se translocaliza.
A formação dessa massa desalojada e trabalhadora caracteriza-se, em última
instância, pela separação entre o homem e as condições materiais de reprodução de sua vida.
O trabalhador no modo de produção capitalista é um ser desgarrado da natureza. Sua
existência é parcial e desterritorializada, pois seu corpo, seu tempo e seu entorno não lhe
pertencem. O mesmo se pode dizer do capitalista, sua relação com a natureza é também
desterritorializada, pois mesmo detendo a posse dos meios e condições materiais de produção
− o que, certamente, fornece-lhe melhores perspectiva de intercâmbio com a natureza −, essa
classe tem para com o mundo uma relação utilitarista, de domínio, meramente econômica.
A tendência à reprodução ampliada, por fim, impõe ao capitalista, ao trabalhador e à
natureza uma dinâmica de crescimento que foge a qualquer controle. Ela obriga o capitalista a
explorar cada vez mais o trabalhador para se manter e o faz conceber a natureza como mais
um insumo. Onde ainda resiste outras formas de propriedade dos bens naturais, ela
mercantiliza as relações e põe, conforme resumiu Smith (1988, p. 94), “uma etiqueta de preço
em qualquer coisa”. Nesse processo, desde a terra, o ar, as águas, as florestas e os animais são
transformados em mercadoria, e sua apropriação e uso passam a ser regrados segundo normas
de mercado. Com os avanços científicos nas áreas da genética e da biotecnologia, até os
códigos genéticos são também objeto de apropriação. A possibilidade de sua manipulação na
criação de seres vivos inteiramente novos e resistentes a diversos tipos de adversidades
ambientais constitui uma nova frente de produção do valor.
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARRIGHI, G. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de
Janeiro: Contraponto; São Paulo: Editora Unesp, 1996.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política (livro 1). Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1974.
MORAES, A. C. R. Meio ambiente e ciências humanas. 3.ed. São Paulo: Hucitec, 2002.
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