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UNIVERSIDADE INTERNACIONAL DA PAZ – GOIÁS

REGISTRO PEDAGÓGICO DA DISCIPLINA “NÚCLEO TRANSDISCIPLINAR”:


APRENDENDO UM NOVO OLHAR

Gustavo Silva Araújo

UNIPAZ GOIÁS, GOIÂNIA - 2018


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RESUMO

Este é o registro das impressões, aprendizados e vivências da disciplina “Núcleo


Transdisciplinar” do curso de Formação em Yoga. Refere-se aos Seminários “O
Poder dos Sonhos” e “Transdisciplinaridade como caminho integral”.

PALAVRAS-CHAVE: transdisciplinaridade, sonhos, holístico


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO……………………………………………………………… 4
2. O poder dos sonhos……………………………………………………….. 5
3. Transdisciplinaridade como caminho integral……………………………9
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………. 10
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1. INTRODUÇÃO

O início do curso de formação em Yoga segue a primeira disciplina de


todos os cursos de formação da Unipaz, chamada de Núcleo Transdisciplinar. Nesta
disciplina, aborda-se - sob diversas ênfases e ângulos diferentes - a visão de mundo
desta Universidade, ou seja, o paradigma holístico, sistêmico, integrativo,
transdisciplinar.
A partir da compreensão desse modo de olhar para o mundo, pude
perceber que o curso seguiria numa direção em acordo com os princípios que se
vinculam às ideias expressas nesse paradigma. As vivências da primeira disciplina
me prepararam, como aprendiz, para adentrar nos estudos específicos do Yoga com
um olhar mais abrangente.
Neste trabalho são descritas as vivências, aprendizados e observações
dos seminários referentes a esta primeira disciplina. O primeiro seminário foi
proferido por Kaká Werá e chamou-se “O poder dos sonhos”. O segundo foi
proferido pela professora da Unipaz Hélyda, e chamou-se “Transdisciplinaridade
como caminho integral”.
De uma forma sintética e resumida, busquei definir o que de mais
importante foi integrado a partir das vivências dos seminários. Por fim, apresento as
considerações finais sobre a experiência geral do início do curso com esta disciplina.
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2. O poder dos sonhos

O Seminário de abertura da sétima turma do curso de Formação em Yoga


da Unipaz foi proferido por Kaká Werá, escritor e ambientalista da etnia tapuia. O
tema e o título do Seminário foi “O poder dos sonhos”.
Neste Seminário, Kaká nos convidou a uma viagem pela cosmologia
tapuia, em que ele nos abriu uma janela para a visão do mundo e da vida que os
índios dessa etnia compartilham. O carro-chefe da locomotiva com a qual ele nos
conduziu por esta viagem foi a concepção tapuia sobre os sonhos, elemento central
em sua cultura e que influencia toda a malha social, desde a tomada de decisões
coletivas até o aprimoramento de cada um individualmente.
Os sonhos, segundo Kaká, são realidades tão palpáveis quanto a vida de
vigília. A consciência em seus diversos estágios caminha através da realidade em
diferente níveis, e não há porque considerar que a vida desperta é “mais real” ou
“menos ilusória” do que a vida sonhada.
Dessa forma, um líder tapuia sempre leva seus sonhos em conta na
tomada de decisões, como sinais, avisos e mensagens de outros planos da
consciência. Inacessíveis à mente de vigília, os sonhos podem revelar aspectos e
nuances a serem considerados antes de uma decisão, o que pode mudar totalmente
a forma de agir dali em diante.
Os tapuia têm toda uma ciência e filosofia a respeito da maneira como
encaram os sonhos, decifram seu conteúdo e agem no mundo depois que
despertam.
Para eles, o corpo físico é chamado ​bô​, corpo de sonho. É formado de
pensamentos e sentimentos. Ele se alimenta em três dimensões: alimento físico;
energia que vem da noite e do dia, da terra e do céu; e as mãos, pés, nariz e olhos.
Assim, uma paisagem harmônica é um alimento sutil que é absorvido pela
contemplação. Os pés descalços são canais de alimentação da energia da terra. A
luz do sol, da lua e das estrelas na pele nutre a alma. O cheiro da natureza, o ar
puro, são absorvidos pelo nariz e nutrem ​bô,​ o corpo de sonho.
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Bô é também um corpo de memória. Para este corpo, o sono é reparador,


tanto no nível físico quanto no psíquico. O sono possui quatro estágios, relacionados
aos quatro elementos:
● 1º estágio: elemento terra. Relaxamento e sono, onde ocorre a
purificação do corpo físico.
● 2º estágio: elemento água. Onde ocorre a purificação emocional, com a
liberação de memórias ou imagens fragmentadas.
● 3º estágio: elemento ar. Ocorre aqui a purificação mental, ou seja, dos
pensamentos e ideias. Tensões, preocupações e medos são
purificados e liberados sob forma de cenas e imagens.
● 4º estágio: elemento fogo. Neste estágio, o mais profundo dos quatro,
ocorre a purificação da ​psyché (alma). As imagens nestes sonhos são
mais simbólicas ou arquetípicas.
Além do quarto estágio, existe também a viagem astral ou
multidimensional, em que se visitam outros planos de consciência.
Kaká, ao longo do Seminário, nos colocou em contato com o universo
tapuia convidando-nos a bater o pé no chão e entoar alguns cantos que nos
aproximaram vivencialmente da sua cultura.
Ele prossegue fazendo uma exposição das quatro dimensões de
existência:
1. Sensação: 5 sentidos
2. Sentimentos - emoções
3. Pensamento - razão
4. Intuição - insight, inspiração.
Para os tapuia, o sonho se encontra entre a primeira e a segunda
dimensão. É quando os sentidos se recolhem no sono que a consciência pode
atravessar a porta do mundo físico e adentrar os mundos de pura emoção,
pensamento e inspiração.
Ele aponta ainda que existe na cultura tapuia o ensinamento sobre as
quatro portas da consciência, relacionados às dimensões e aos quatro elementos.
Terra
Sensações
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5 sentidos

Fogo - Intuição - Inspiração Água - Sentimentos - Emoção

Ar
Pensamento
Razão

Habitando e acompanhando a trajetória de ​bô​, existe ​avá,​ o seu “irmão


mais velho”. Se o corpo de sonho é a memória, a personalidade, então ​avá é o ser
mais profundo, a alma de ​bô.​
Em sua jornada de autodescobrimento, ​avá ensina a ​bô como estar em
harmonia, a ter um propósito e uma motivação para viver, e a lidar com as
dificuldades que surgirem no caminho. Para os tapuia, os problemas psicológicos
que enfrentamos são reflexos de desequilíbrios nas fontes de nutrição dos quatro
elementos que estamos ou não recebendo. Assim, Kaká exemplifica:

Emoção: Elemento em desequilíbrio:

Medo, desânimo Terra

Tristeza Água

Stress Ar

Raiva Fogo

Após dar alguns exemplos de como isso se manifesta na vida cotidiana,


Kaká nos presenteia com um exercício para revitalizar nosso corpo de luz.
Olhar para o sol nascente. Mãos sobre o peito (esquerda sobre a direita).
O espírito se transforma num beija-flor, em sua mão direita. Lance o beija-flor para o
sol. Ele toma um banho no centro do sol e volta ao centro do seu peito, revitalizando
o corpo de luz.
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Por fim, Kaká nos mostra como utilizar a sabedoria de seu povo para
nosso aperfeiçoamento como seres humanos. Ele explica quatro estágios de
evolução da consciência, relacionados às quatro fases da lua:

“​Minguante”​: Sem consciência de si. A experiência


da folha ao vento: a pessoa experiencia
“o que o vento soprar”.

“Nova”: Semi-consciente de si. Posso exercer


uma ação e faço parte de um grupo,
mas meu alcance é muito limitado

“Crescente”: Consciência fragmentada. Os sonhos e


planos podem se materializar, porém
eles se limitam ao nível individual.

“Cheia”: Consciência integrada, holística. Neste


nível, o que eu imagino, penso e sinto
se manifesta no nível pessoal e
coletivo. Eu sou a parte que mobiliza o
todo. Ex.: Gandhi.

Da minguante à cheia, é nosso papel caminhar “do sono ao sonho”, para


realizar e concretizar o mundo que queremos para nós e para os outros. Por isso
kaká nos questiona: o que preciso fazer para realizar meus sonhos? Os três passos
mais importantes, segundo ele, são a purificação, a nutrição e a conexão. Dessa
forma, estaremos conectados à fonte da vida e poderemos realizar o que queremos
num nível mais integrado, ao invés de estabelecer prioridades egóicas, sem levar em
conta o nosso entorno social, ambiental, cultural, global.
Kaká encerra com três perguntas fundamentais a serem feitas por nós,
com frequência:
1 - Qual a motivação pela qual eu me levanto toda manhã?
2 - Minhas necessidades estão sendo atendidas em equilíbrio?
3 - Eu me permito dizer “sim” ou “não” para o prazer quando é
necessário?
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Ao final, Kaká conduziu uma meditação para nos conectar com nossa
sabedoria interna. No meio da meditação, uma leve chuva começou a cair, indicando
que teríamos um caminho cheio de boas surpresas ao longo do curso, e que os
aprendizados estavam só começando.

3. Transdisciplinaridade como caminho integral

Este seminário, proferido pela professora Hélyda, teve como fundamento


principal transmitir o olhar através do qual a Unipaz funciona como Universidade.
Sendo assim, ela nos transmitiu as bases filosóficas, epistemológicas e científicas
em que se alicerçam os cursos de formação, as aulas e atividades que compõem a
Universidade, além de um breve histórico sobre sua fundação e a história de seu
fundador, Pierre Weil.
Através de dinâmicas em grupo, ela demonstrou alguns princípios da
física quântica como a interconexão entre o todo e as partes, a interdependência e a
importância de se ter uma visão global e sistêmica para melhor compreensão de um
objeto de estudo, seja ele qual for.
A facilitadora apontou as diferenças entre o método convencionalmente
utilizado nas universidades, o método cartesiano, e o método holístico da Unipaz. O
primeiro é pautado pela divisão do objeto de estudo em partes mais simples, estudo
das partes separadamente, experimentação e teste. Parte do pressuposto de que,
estudando as partes separadas, chegaria-se à compreensão do funcionamento total
do objeto.
A visão holística, ao contrário, percebe os fenômenos como sendo de
natureza indissociável e interdependentes; sendo assim, o todo é mais que a mera
soma das partes, e só através de uma visão integrada pode-se abarcar a
complexidade dos fenômenos observados.
Esta mudança reflete uma alteração radical no paradigma, nos impelindo
a mudanças profundas em nossa maneira de ver e estar no mundo, uma vez que a
divisão entre eu e o outro se dilui num ​continuum onde as transformações que faço
em mim se refletem no outro e vice-versa.
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O seminário foi uma importante abertura para novos caminhos e olhares


para o mundo atual.

4. Considerações Finais

A disciplina “Núcleo Transdisciplinar” foi uma porta de entrada para o


universo de saberes com que entraríamos em contato logo em seguida. Sendo o
Hatha Yoga uma ciência milenar, vinda de uma cultura muito diferente da nossa e
em constante expansão, seria muito limitado abordá-lo do ponto de vista tradicional
e mecanicista do modelo cartesiano.
Este seminário serviu também para nos abrir à percepção mais ampla de
possibilidades, de que a ciência também pode incluir a espiritualidade, a arte e a
filosofia, e que uma não exclui a outra - pelo contrário, elas se complementam.

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