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Pais e filhos

PREVENIR EM LIBERDADE E SEGURANÇA


Entrada: Informação e a aplicação de medidas de segurança, adaptadas a todas as
idades, são os passos mais sensatos a dar em termos da prevenção da segurança dos
nossos filhos. É fundamental estar atento, mas também é importante dar-lhes liberdades
e segurança.
Ana Vieira de Castro

Texto: Não há garantia contra todos os riscos que põem em causa a segurança das
crianças, adolescentes e adultos. A adaptação a esta circunstância faz-se através de uma
prevenção adequada, especialmente em relação aos mais novos, partindo d princípio que
é preciso encontar um equílibrio entre o cuidado e a protecção, por um lado, e a
liberdade saudável, por outro. Esta é absolutamente necessária para quem começa a
explorar o mundo.
A diversidade e o grau de gravidade dos riscos devem ser definidos para melhor poder
lidar com eles. Luisa Lima, socióloga e professora no ISCTE, divide-os em dois
grupos: “é preciso distinguir os riscos com que estamos habituados a viver, a que
já não damos muita importância mas que as maiores causas de morte neste país, de
outros, menos visíveis e menos imediatos, mas que mais facilmente chamam a
nossa atenção”. Os primeiros, de que são exemplo os acidentes de automóvel, as
doenças cardio-vasculares, os acidentes em casa ou no trabalho, estão de tal forma
presentes na nossa vida que acabaram por se tornar banais. Por conhecê-los, pensamos
estar habituados a lidar com eles: “são situações que acreditamos conseguir prevenir e
controlar, e que por isso tendemos a desprezar os riscos implicados”. Na opinião da
socióloga, estes são riscos sub-avaliados, facilmente visualizados e com consequências
suficientemente conhecidas. Mas há ainda outro tipo de perigos potenciais, que
considera sobre-avaliados e associados “a algum tipo de desconhecimento ou de
polémica científica”. Não os visualizamos nem conhecemos as consequências. É o caso
dos nitrofuranos nos frangos, das vacas loucas ou das incineradoras. “É em relação a
estes casos que encontramos movimentações de pessoas, não digo em pânico, mas
dispostas a fazer alterações substanciais de consumo. E a verdade é que deixámos de
comer carne de vaca e de frango quando, no fundo, são riscos que estão muito menos
estudados e relacionados com a morte”, observa Luísa Lima.
As crianças e os riscos. A visibilidade dos riscos e a consciência a eles associada é,
como se viu, um factor essencial para os definir e eventualmente tomar medidas que os
neutralizem, pelo menos em parte. Do ponto de vista da criança, o mundo é um lugar
seguro, mas também suficientemente atractivo e estimulante para ser explorado sem
limites nem constrangimentos. Mas, para ter a noção dos riscos, há que ter algum tipo
de conhecimento daquilo que nos pode ameaçar, e “uma criança entre o ano e os dois de
idade, não tem a noção do perigo que representa, por exemplo, uma escada ou uma
tomada de electricidade”, refere Luisa Lima. Daí a grande importância dos cuidados e
da prevenção que devemos fazer. Não é por acaso que estas idades são particularmente
cansativas para as mães e potencialmente perigosas para os filhos, bebés cheios de
actividade, com uma mobilidade que já lhes permite deitar a mão a muitas coisas e
explorar espaços relativamente alargados. Não têm capacidade de previsão das
consequências dos seus gestos, mas pouco a pouco vão ganhando percepção. Começam
por fazer associações entre mexer em coisas quentes e queimar as mãos, ou a dor de
entalar um dedo numa gaveta, por exemplo. São riscos que têm consequências imediatas
e muito concretas. Mas já não é tão visível a necessidade de vestir o casaco para ir à rua
no Inverno ou pôr o chapéu na cabeça quando está muito sol. A capacidade de
associação vem aos poucos: “vão percebendo as coisas mais visíveis e depois é que
passam para as mais invisíveis, como as contaminações com vírus, por exemplo. Precisa
de crescer para perceber que os perigos não são só exteriores mas também podem ser
interiores e invisíveis, que os efeitos não são só a curto prazo, imediatos, mas também
podem ser a longo prazo”, refere Luisa Lima. Estudos feitos no norte da Europa, por
exemplo, revelaram que as crianças só têm capacidade para prever a velocidade dos
carros, e saber se têm ou não tempo para atravessar as ruas, sem sinais, a partir dos doze
anos. A noção de risco em relação a coisas que podem ou não acontecer é adquirida a
partir dos treze, catorze anos, embora possa acontecer mais tarde. É, portanto, na
adolescência que é ganha a noção de que “nós não podemos controlar os riscos, e que
mesmo que os controlemos, há coisas que podem acontecer”.

Sinalização com regras claras. “Não se pode explicar tudo às crianças, em termos de
prevenção contra os vários riscos que têm que enfrentar”, diz Luisa Lima. E isto porque
é contraproducente explicar-lhes coisas que não podem compreender, como por
exemplo, a doença das vacas loucas: “se lhes dizem que a carne está envenenada, e se
vão a casa de alguém que lhes dá carne para comer, vão pensar que os estão a
envenenar”. Como têm uma forma de pensar muito concreta quando são pequenos, o
ensino do que devem fazer deve ser através do “sim e do “não”. Não entendem o
“talvez”. E daí a necessidade de sinalizar os perigos, procurando dar-lhes regras claras e
precisas, caso contrário, achando-se incapazes de controlar uma situação, as crianças
ficam confusas e preocupadas. “Podemos estara a aumentar-lhes a ansiedade num grau
em que não a podem resolver” adverte a socióloga.
Outro factor importante a ter em conta, é a questão da superprotecção, como já foi dito.
Faz parte do desenvolvimento de uma criança explorar o mundo, e daí a necessidade de
não a impedir que o faça, sob pena de a tornar insegura, medrosa e eventualmente
apática, com medo de experimentar e de se arriscar em situações que não conhece.
Crianças e adolescentes vão ter que correr alguns riscos, até porque não vamos poder
estar sempre ao deles. Importante é, repetimos, sinalizar os perigos, ensinando-os a
reconhecê-los, e eles irão aprendendo, à medida que crescem.
Além de benificiarmos das normas de segurança aprovadas para a Comunidade
Europeia, hoje temos muito mais informação do que a que existia há cerca de vinte anos
atrás. Os pais sentem-se responsáveis pela segurança dos seus filhos, incentivam os seus
hábitos de higiene e preocupam-se com a sua alimentação. Há mais cuidados e mais
atenção em relação à questão da segurança dos nosso filhos, mas é bom ter a
consciência de que nunca se pode relaxar completamente. Mas também devemos
“aprender com a angústia, até porque eles estão cada vez menos debaixo do nosso
controle”, como acentua Luísa Lima. E isto aplica-se especialmente à fase da
adolescência. Cada vez mais confrontados com uma certa forma de violência, devem ser
incentivados a falar sobre o assunto. Luísa chama atenção para a necessidade de os pais
desdramatizarem esta situação, sem deixarem de estar atentos à forma como os filhos
reagem aos roubos e assaltos, muito frequentes nos dias que correm. Conversar e fazer-
lhes entender que não são os únicos a serem assaltados, ensinar-lhes regras de
emergência como pedir ajuda em determinadas situações, evitarem ruas desertas ou com
frequência duvidosa, levá-los a falar com amigos e a partilharem experiências, são
algumas maneiras de aprender a lidar com este novo tipo de violência.

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