Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SERVIÇO DE PEDIATRIA
ANAFILAXIA
- Protocolo de atuação -
Liliana Branco, Maria Almiro, Catarina Maia, Cláudia Pedrosa, Jorge Romariz,
Março 2015
Anafilaxia – Protocolo de Atuação
1- Introdução
2- Epidemiologia
A anafilaxia não é uma situação rara, tendo-se verificado um aumento do número de casos
nos últimos anos, principalmente nas crianças <3-4 anos, adolescentes e adultos jovens.
Pode ocorrer em qualquer idade (casos descritos no 1ºmês de vida).
A Incidência na população geral: 1,5-7,9 por 100.000 pessoas/ano.
A prevalência na população geral situa-se entre 0,05-2%, contudo está provavelmente
subestimada (frequente subdiagnóstico e/ou desvalorização por parte do doente e/ou
médico). Na idade pediátrica a prevalência é desconhecida.
A taxa de mortalidade é baixa (0,0125 a 0,3 mortes por 100.000 pessoas), sendo mais
frequente nos adolescentes e adultos jovens por causa alimentar.
3- Etiologia
A anafilaxia pode ocorrer por ingestão, injeção, inalação ou contacto direto com o agente
desencadeante.
Na população pediátrica, os principais agentes etiológicos são:
1- Alimentos
É a causa mais comum de anafilaxia em idade pediátrica e no ambulatório.
Qualquer alimento pode estar envolvido, dependendo dos hábitos de consumo de cada
região geográfica.
Na Europa os alimentos mais frequentemente implicados são: o leite, o ovo, o
amendoim, os frutos secos, o peixe, o marisco, a soja, o pêssego e o sésamo.
2- Fármacos
É a causa mais comum de anafilaxia nos serviços de saúde e na população adulta (na
criança é a 2ª causa mais frequente).
Anafilaxia – Protocolo de Atuação
4- Látex
Raro (<1%)
↑ incidência na população geral nos últimos anos
Idade pediátrica: pouco comum
Frequente contacto com brinquedos de borracha, chupetas, tetinas de biberão,
aspiradores nasais, fraldas, balões – pode provocar sensibilização alérgica
Existe um maior risco:
o Na população atópica
o Nas crianças com <1 ano de idade submetidas a múltiplas intervenções cirúrgicas
(ex: crianças com espinha bífida ou malformações génito-urinárias), sendo mais
grave quanto> precoce e/ou> número de intervenções.
5- Fatores físicos
Exercício (por vezes associado à ingestão de um alimento específico)
Calor, frio ou a exposição solar
6- Outros: (raros)
Ingestão de etanol
Exposição ao sémen
Exposição a aeroalergénios
4- Fisiopatologia
5- Fatores de risco
3- Uso de fármacos:
Anafilaxia – Protocolo de Atuação
6- Manifestações clínicas
7- Abordagem diagnóstica
Todos os episódios são de registo obrigatório no Catálogo Português de Alergias e outras Reações
Adversas -CPARA- (mesmo na ausência da identificação do agente indutor).
1
eritema ou prurido generalizado; edema dos lábios, da língua ou da úvula) e pelo menos UM
dos seguintes:
a. Compromisso respiratório - dispneia, sibilância/broncospasmo, estridor, diminuição do
FEV1/PEF*, hipoxemia
b. Hipotensão ou sintomas associados de disfunção de órgão terminal - hipotonia
(colapso), síncope, incontinência
Ocorrência de DOIS ou mais dos seguintes, de forma súbita, após exposição a um alergénio
2
provável para aquele doente (minutos a algumas horas):
a. Envolvimento da pele e/ou mucosas - urticária, eritema ou prurido generalizado; edema
dos lábios, da língua ou da úvula
b. Compromisso respiratório - dispneia, sibilância/broncospasmo, estridor, diminuição do
FEV1/PEF*, hipoxemia
c. Hipotensão ou sintomas associados (ex. hipotonia (colapso), síncope, incontinência)
d. Sintomas gastrintestinais súbitos – cólica abdominal, vómitos
Hipotensão após exposição a um alergénio conhecido para aquele doente (minutos a algumas
horas):
3
a. Lactentes (1-12 meses): PAS* <70 mmHg
b. Crianças (1-10 A): PAS* < 70 mmHg + (2xidade)
c. Crianças > 11 A: PAS* < 90mmHg ou diminuição do valor basal do doente superior a
30%/ diminuição da PAS* superior a 30%
*FEV1- volume expiratório máximo no 1º segundo; PEF - peak expiratory flow; PAS - pressão arterial sistólica
Tabela 4- Critérios de diagnóstico de anafilaxia segundo anafilaxia segundo NIAID/FAAN (2006) – adaptado da Norma da
DGS nº014/2012 de 16/12/2012 atualizada em 18/12/2014
Um valor > 11,4 ug/l com regressão em 24-48 horas para valores basais:
o Indicativo de ativação dos mastócitos e permite apoiar o diagnóstico de anafilaxia
o Não prediz o grau da gravidade da reação
o Não é especifico (ex: pode estar ↑ na mastocitose sistémica)
O valor normal não exclui o diagnóstico de anafilaxia (típico nos casos de anafilaxia alimentar
e quando não existe hipotensão)
Anafilaxia – Protocolo de Atuação
8- Diagnóstico diferencial
* Patologias a considerar no diagnóstico diferencial particularmente nos lactentes e crianças em idade pré-escolar
Tabela 5- Diagnóstico diferencial de anafilaxia
9- Abordagem terapêutica
Administrar O2 suplementar:
o Todos os pacientes com anafilaxia (principalmente se sintomas respiratórios ou
hipotensão)
o Utilizar máscara de alto débito (O 2 a 10-15 L/min; FiO 2 – 40-80%), de forma a obter
SpO2 > 95%
Posicionar o doente consoante a sintomatologia presente:
o Dificuldade respiratória – semi-sentado (numa posição confortável para o doente)
o Se inconsciente (a respirar) ou vómitos – decúbito lateral
o Se hipotensão/ hipotonia - decúbito dorsal com membros inferiores elevados
(Trendelemburg)
Considerar a colocação de cateter venoso periférico
Anti-histamínico
Fármaco de 2ª linha (não substitui a adrenalina)
Anafilaxia – Protocolo de Atuação
Corticoides
Fármaco de 2ª linha (não substitui a adrenalina)
Útil na presença de asma concomitante e na prevenção ou redução de reações prolongadas e
de reações bifásicas
Fármacos recomendados - Hidrocortisona ou Metilprednisolona
Salbutamol
Utilizar se presença de broncospasmo
Se não for possível a administração por via inalatória optar pela via endovenosa
Adrenalina inalada
Recomendado na presença de estridor (edema de laringe)
Fluídos eletrolíticos
Utilizar em caso de hipotensão
Glucagon
Recomendado em caso de terapêutica com B-bloqueante ou hipotensão persistente
(anafilaxia refratária)
Adrenalina endovenosa
Considerar o seu uso caso não se verifique a resolução do quadro de anafilaxia com os
restantes fármacos
Anafilaxia – Protocolo de Atuação
Face a um episódio de anafilaxia, devem ser preconizadas estratégias que minimizem o risco de
novos episódios e medidas preventivas que passam pela intervenção e orientação especializada:
10- Bibliografia
Anafilaxia – Protocolo de Atuação
Simons FE, Ardusso LR, Bilò MB, et al. World Allergy Organization anaphylaxis guidelines:
summary. J Allergy Clin Immunol 2011; 127:587
Muraro A, Roberts G, Worm M, et al. Anaphylaxis: Guidelines from the European Academy of
Allergy and Clinical Immunology. Allergy 2014. ; 69: 1026–1045
Lieberman P, Camargo CA Jr, Bohlke K, et al. Epidemiology of anaphylaxis: findings of the
American College of Allergy, Asthma and Immunology Epidemiology of Anaphylaxis Working
Group. Ann Allergy Asthma Immunol 2006; 97:596.
Campbell RL, Hagan JB, Manivannan V, Decker WW, Kanthala AR, Bellolio MF et al.
Evaluation of national institute of allergy and infectious diseases/food allergy and
anaphylaxis network criteria for the diagnosis of anaphylaxis in emergency department
patients. J Allergy Clin Immunol 2012;129:748–752.
Lieberman P, Nicklas RA, Oppenheimer J, Kemp SF, Lang DM, Bernstein DI, et al. The
diagnosis and management of anaphylaxis practice parameter: 2010 update. J Allergy Clin
Immunol 2010;126:477 -80 e1 -42.
Dosanjh A. Infant anaphylaxis: the importance of early recognition. J Asthma Allergy
2013;6:103 -7.
Simons FE. Anaphylaxis: Rapid recognition and treatment. UpToDate. Jan 2015
Simons FE. Anaphylaxis in infants. UpToDate. Jan 2015
Kemp SF. Pathophysiology of anaphylaxis. UpToDate. Jan 2015
Simons FE. Anaphylaxis: Confirming the diagnosis and determining the trigger(s). UpToDate.
Jan 2015
Simons FE. Anaphylaxis: Rapid recognition and treatment. UpToDate. Jan 2015
Simons FE. Differential diagnosis of anaphylaxis in children and adults. UpToDate. Jan 2015
Echeverría Zudaire LA, del Olmo de la Lama MR, Santana Rodríguez C. Anafilaxia en Pediatría.
En: Protocolos diagnósticos y terapêuticos en pediatria de la AEP: Alergologia e Inmunologia
Clínica 2013;1:63-80
Anafilaxia: Abordagem Clínica. Norma da DGS nº014/2012 de 16/12/2012 atualizada em
18/12/2014
Campbell R, Li J, Nicklas R et al. Emergency department diagnosis and treatment of
anaphylaxis: a practice parameter. Ann Allergy Asthma Immunol 2014; 113:599-608
11- Anexos
Anexo 1- Algoritmo da abordagem terapêutica da anafilaxia
Abordagem da Anafilaxia
(ver critérios de diagnóstico)
Sim
Administrar de forma concomitante ou em sequência
Considerar acrescentar:
Se broncospasmo:
Salbutamol inalado:
Aerossol pressurizado com dispositivo expansor 50 ug/kg/dose (máx 1000 ug)
OU
Nebulização com 0,03 ml/kg/dose (mín 0,3 ml; máx 1 ml)
(Se necessário EV 5 ug/kg (máx 250 ug) em 30 min)
Se estridor:
Adrenalina nebulizada 1-2 ml/dose ou 0,5 ml/kg (máx: 5 ml/dose) de 1:1000 + 3 ml SF
Se hipotensão:
Fluidoterapia EV (Soro fisiológico) 20 ml/kg em infusão rápida 10-20 min – repetir se necessário
UCIP Não Rever medidas gerais e remoção do alergénio conhecido ou provável ALTA
renalina EV solução diluída (1:10000) em perfusão lenta
(0,1 ug/kg/min) -Prescrever dispositivo de de
m tomadas todas as medidas adequadas a situação clinica (incluindo todos os fármacos e doses máximas)? Manter vigilância 6-24h adrenalina (+treino)
Simacordo com a gravidade do quadro)
(de
Resolução dos sinais/sintomas?
Sim
-Ponderar prescrição de
corticoide oral e AH
-Entregar o folheto “Anafilaxia
-Registar no CPARA-
Em qualquer altura:
- Se dificuldade respiratória/insuficiência respiratória refratária ou edema da glote → entubação orotraqueal/ nasotraqueal Referenciar a consulta de
- Se paragem CR → Suporte avançado de vida Imunoalergologia Pediátrica
Versão 2 (Setembro 2010) - Tiago Magalhães, Cláudia Pedrosa, Jorge Romariz, Fátima Praça, Herculano Costa