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La lotta di classe dopo la lotta di classe

As classes sociais ainda existem?


Os altos dirigentes e líderes políticos, mesmo da esquerda, voltaram repetidamente à
ideia de que falar sobre os operários, ou trabalhadores em geral, como se fossem uma
classe social é um refrão esgotado e que a luta de classes é um resíduo arcaico da
revolução industrial. Assim, é preciso pensar sobre a sociedade italiana e sobre a
sociedade global em termos inteiramente novos, observando que as classes sociais, com
referência às quais as sociedades têm sido descritas e analisadas desde meados do século
XIX, não existem mais? (ou seja, as classes sociais que tem sido referência para descrição
e análise de sociedades desde meados do século XIX, não existem mais?)
Resposta: Nós devemos começar com uma distinção. Aqueles que dizem que as
classes sociais não existem mais geralmente se baseiam na constatação de que não se
observam mais manifestações de massa que sejam claramente atribuíveis a uma
determinada classe. Ou ele pretende dizer que não há mais partidos de um certo peso
eleitoral que, para seu status ou programa, se referem claramente à ideia de classe social.
Nestes casos, pode-se concordar que, nas últimas décadas, as classes sociais, e com elas
a luta de classes, tornaram-se muito menos visíveis. O que parece dar razão àqueles que
chegam à conclusão de que, como as classes não sendo visíveis e a luta de classe
discernível, as classes não existem mais. Mas uma classe social, como alguém disse há Comentado [LGPdS1]: Dúvida de tradução: non essendo le
classi visibili e la lotta di classe chiaramente discernibile
algum tempo distinguindo entre a classe em si e a classe para si, não é limitada ou
constituída apenas pelo fato de dar forma a ações coletivas como expressões de um Comentado [LGPdS2]: classe in sé e la classe per sé

conflito, ou uma forte presença pública de partidos que fazem das classes e talvez da luta
de classe sua bandeira. Uma classe social existe independentemente de formações
políticas que reconheça ou negue sua existência, e até mesmo do que seus membros
pensam ou acreditam nela.
Recorrendo a uma expressão que também remonta há muito tempo, fazer parte de
uma classe social significa pertencer, querendo ou não, a uma comunidade de destino,
sofrendo todas as consequências dessa pertença. Significa ter maiores ou menores
chances de passar, na pirâmide social, de uma classe baixa para uma classe superior; ter
maiores ou menores chances de se beneficiar de uma quantidade de recursos, de bens
materiais e imateriais, suficientes para tornar a vida mais agradável e talvez mais longa;
dispor ou não, de algum modo, do poder de decidir o próprio destino, poder escolhê-lo.
Para definir uma classe, em suma, é necessário, mas não suficiente, dizer que é uma
comunidade de destino: ela também se enquadra na definição da possibilidade de que
aqueles que estão apartados do poder influenciem o destino em si, para serem capazes de
modificá-lo. Comentado [LGPdS3]: Per definire una classe, insomma, è
necessario ma non basta dire che è una comunità di destino:
Então, há outras razões que levaram muitos, por um longo tempo, a afirmar que rientra nella definizione anche la possibilità per chi vi
appartiene di poter influire sul destino stesso, di poterlo in
as classes sociais não existem mais. Uma delas é a relativa homogeneização do consumo qualche misura cambiare.
e estilo de vida da classe operária, da classe trabalhadora e das classes médias. As famílias
dos operários e pedreiros, trabalhadores de armazéns e motoristas de ônibus têm, em
muitos casos, o carro, a TV de tela plana, o celular, a máquina de lavar roupa, moram em
uma casa particular, mandam seus filhos para a escola pelo menos até no final do ensino
médio e eles passam férias na praia: assim como as famílias de gerentes de empresas,
profissionais, funcionários da administração pública, comerciantes, pequenos
empresários que formam a classe média ou a burguesia de pequena e média classe, como
uma vez foi chamada.
Aqui é naturalmente necessário esclarecer: uma coisa é o estilo de vida ou o
consumo de massa que pode ser observado visualmente; outra é a qualidade do trabalho
que um indivíduo realiza, a possibilidade de crescimento profissional, a probabilidade de
ascender na escala social, o fato de ter ou não ter alguém na cabeça que lhe diz o tempo
todo o que você deve fazer. Nesta perspectiva, as diferenças de classe permanecem
visíveis, mesmo se, devido à Grande Crise que explodiu em 2007 e se tornou uma Grande
Recessão que durará talvez muitos anos, uma parte da classe média tenha sofrido uma
espécie de processo de proletarização.
Outra razão para afirmar que as classes sociais não existem, que remonta ainda
mais no tempo, mas que até hoje ouvimos novamente de políticos de direita (não menos
que de centro-esquerda) é grosseiramente ideológica. Parece que: trabalhadores, gerentes
e proprietários têm interesse em como uma empresa que funcione bem e obtenha bons
lucros. Eles estão, dizem eles, no mesmo barco. Afirmar que eles têm interesses diferentes
e, portanto, pertencem a classes objetivamente opostas é uma ideia desprovida de
significado, se afirma, e é até prejudicial para todas as partes envolvidas. Portanto,
trabalhadores e sindicatos devem ser "cúmplices" de gerentes e proprietários: foi dito por
ninguém menos que um ministro italiano do Trabalho, Maurizio Sacconi, quebrando uma
tradição que tem visto uma sucessão de políticos dedicados a encontrar maneiras de
regular o conflito estrutural entre as duas partes, não para disfarçá-lo. Há quase dois
séculos e meio, Adam Smith explicara perfeitamente por que a ideia de que trabalhadores
e patrões podem ou deveriam ser "cúmplices" não se sustenta: os trabalhadores, pelo
cargo que ocupam, sempre desejariam obter salários mais altos; os proprietários, pelos
meios de produção que controlam, sempre desejariam pagar salários mais baixos.

Classe operária, classe trabalhadora, classe média. Mas como você estabelece que certos
grupos ou camadas sociais pertencem a uma ou outra classe? No final, até mesmo um
artesão pode dizer com razão que ele é um trabalhador. E um gerente que ganha cinco
ou dez vezes mais do que um trabalhador ainda é um empregado que pode ser demitido.

Resposta: "Classe trabalhadora" e "classe trabalhadora" são sinônimos, como


pode ser obtido pelo uso que dela foi feito em diferentes línguas, desde o início do século
XIX. Em inglês sempre se falou em classe trabalhadora, colocando assim o processo geral
de trabalho em primeiro plano, enquanto alemães, franceses e espanhóis sempre falaram
de Arbeiterklasse, classe ouvrière e clase obrera, expressões que, por outro lado,
retomam pessoas que desenvolvem um tipo particular de trabalho. Este último se
distingue de todos os outros porque apresenta dois caracteres de maneira conjunta e
inseparável: requer atividade física ou corporal, principalmente manual, além de
intelectual, e ocorre com dependência de outros, porque o sujeito não tem meios para
trabalhar por conta própria. Com o progresso tecnológico, aconteceu que em muitos
trabalhos o componente físico foi reduzido comparado ao intelectual, mas ainda está
presente mesmo onde as tecnologias mais avançadas são usadas. Em frente a um
computador, durante oito horas por dia, realizar operações predeterminadas com duração
média de um minuto, como em um call center, envolve um considerável
comprometimento corporal e também intelectual.
Agora, se aceitarmos a ideia de que a classe trabalhadora ou trabalhadora é
formada por aqueles que têm que envolver tanto o corpo como a mente no trabalho, e as
emprestam porque são dependentes/funcionários de um empregador, também podemos
descrever as características de outros agrupamentos que, por outro lado, são atribuídos à
classe média. Os artesãos, por exemplo, trabalham com uma dose importante de trabalho
manual, mas não são empregados por ninguém. Por outro lado, professores, funcionários
públicos, funcionários administrativos de uma empresa trabalham como
funcionários/dependentes, mas o componente do trabalho manual é irrelevante. Ambos
podem ser considerados como parte da classe média. É óbvio que existem vários outros
agrupamentos tão característicos e, sem dúvida, a fronteira entre a classe trabalhadora e
a classe média é às vezes obscura. No entanto, parece-me que com essas definições é
possível estabelecer com clareza suficiente quem pertence a um ou outro.
Se quisermos complicar um pouco a definição, poderíamos acrescentar que a
classe trabalhadora ou operária é composta de indivíduos que, através de sua força de
trabalho, que são empregados por alguém, asseguram a produção de bens e capital,
enquanto aqueles fazem parte da classe média garantem a circulação de um (por exemplo,
com transporte e comércio) e do outro (por exemplo, com crédito). Esta última foi
chamada de classe pequena e média, para distingui-la da classe média alta formada por
empresários, rentistas (os proprietários de grandes propriedades), proprietários de terras
e imóveis, altos dirigentes de empresas e da administração pública.
Max Weber, o maior estudioso do século XX sobre a relação entre economia e sociedade,
usou o termo destino para se referir à diferenciação de possibilidades de vida
determinadas pela possibilidade de usar bens ou trabalhar no mercado. "Um elemento
constantemente presente no conceito de classe é representado pelo fato de que a
qualidade das possibilidades oferecidas no mercado representa a condição comum do
destino de todos os indivíduos", escreveu em um texto publicado em 1922. Esse é o
significado do termo destino a que você está se referindo?
Eu diria sim. Destino não é um termo abstrato. Significa ter um bom nível de
educação, ou não, e ser capaz de transmiti-lo; escolher ou não onde e como viver; viver
em saúde mais ou menos tempo; fazer um bom trabalho, profissionalmente interessante
ou não; ter ou não ter preocupações econômicas; ter que temer ou não que o incidente
mais modesto da vida cotidiana coloque a família ou a si mesmo em sérias dificuldades.
Deste ponto de vista, as classes são hoje realidades concretas como sempre foram na
história. Mais do que nunca, a industrialização existe, o que faz com que o destino
individual dependa da possibilidade ou da impossibilidade de ser independente no
trabalho.
O que caracteriza a era contemporânea é que, por um lado, o pertencimento de
cada indivíduo a uma comunidade de destino resulta – perceba ele ou não - como uma
espécie de determinação inescapável, férrea, e, portanto, nos defrontamos com um
processo que ainda vê, pelo menos do ponto de vista da posição ocupada na sociedade, as
classes sociais como comunidades de destino como tendo uma existência peremptória. Comentado [LGPdS4]: 1 BUR Che non ammette
Por outro lado, o desenvolvimento, a formação de uma ou mais classes que, além de serem proroga, dilazione: termine p.
determinadas objetivamente, também podem atuar como sujeitos para modificar seu SIN. improrogabile, indifferibile
próprio destino em alguma medida. Nos termos da distinção marxista acima referida, falta CONT. dilazionabile

a passagem da classe in sé para a classe per sé, ou seja, a passagem da classe do estado
2 estens. Che non ammette replica, discussione,
de mera categoria objetiva para o estado de sujeito consciente e, portanto, capaz de
obiezione: ordine p.; un p. rifiuto; perentorie
realizarem uma ação política unitária. necessità
|| Autoritario: un tono p.
Nesta perspectiva, o que significa a expressão luta de classes?
Significa duas coisas ao mesmo tempo. Para aqueles que não estão satisfeitos com
o seu destino, os eventos que a vida lhes parece oferecer para um futuro distante, significa
mobilizar para tentar melhorar, juntamente com outros que estão na mesma condição, o
seu próprio destino por diferentes meios; ou pelo menos para evitar que piore. Mas há
também a outra situação, a dos que estão satisfeitos com o próprio destino e gostariam de
defendê-lo, ou que, de qualquer modo, veem com apreensão a possibilidade de que sejam
comprometidos. Esta situação se refere à luta de classes conduzida por aqueles que no
passado saíram em melhores condições dessa, classificando-se de alguma forma como
seus vencedores.
Devemos ainda ter em mente que em ambos os casos aqueles que querem defender
sua posição social - porque defender seu destino significa precisamente isso - ou pelo
contrário querem melhorá-lo, não se significa que devem fazê-lo apenas tomando as ruas,
fazendo discursos públicos ressonantes, intervindo em eventos ou organizando-os.
A luta de classes tem aspectos evidentes/visíveis/perceptíveis e outros muito
menos aparentes. A luta de classes tem componentes econômicos, referentes à renda
obtida com o trabalho ou o capital, a riqueza da qual a família dispõe, ou a distribuição
de uma ou outra; em essência, componentes que afetam a possibilidade de usufruir de
benefícios materiais ou não. E obviamente tem componentes políticos, que têm a ver com
a possibilidade de poder exercer ou não algum poder nos locais onde se decidem as leis,
as regras que regulam a vida de uma sociedade e, nela, a vida de todas as classes sociais.
Existe também uma luta cultural. Essa cnsiste, por exemplo, em reessaltar os
méritos da posição social que se ocupa lida e descrever negativamente a posição social
de outros, especialmente as classes com as quais uma determinada classe está
competindo, lutando. Esta forma de luta também pode consistir em tentar mostrar que
aqueles que têm um destino ingrato - no nível de trabalho, saúde, educação, na fruição de
aspectos significativos da existência, a falta de poder e perspectivas – no fundo só se deve
a si mesmo. Esse esquema interpretativo faz parte da luta de classes há pelo menos
duzentos anos, mas agora é usado como talvez nunca antes fora. Por um lado, descreve-
se a própria posição, quando é gratificante, como resultado de mérito; por outro lado,
descreve-se como o resultado de um demérito, se não uma falha, a posição de quem, em
vez disso, aquela espécie de jaula de ferro na qual se encontra traz recursos escassos, falta
de poder e uma vida um pouco mais curta, pobre e cruel.

Pergunta: Assumindo que hoje há algo que pode ser definido como uma luta de classes,
qual seria sua característica principal?
Há um fato historicamente comprovado: entre o final da segunda guerra mundial
e o final dos anos 70 e início dos anos 80, a classe trabalhadora e, mais comumente, a
classe de trabalhadores dependentes/assalariados/empregados, começando por aqueles
que trabalham na fábrica, obtiveram, em parte com suas lutas, em parte por razões
geopolíticas, importantes melhorias em sua condição social. Mesmo sem querer chamá-
los, à moda francesa, dos Gloriosos Trinta Anos, foi um período em que dezenas de
milhões de pessoas tinham pela primeira vez um emprego estável e relativamente bem
remunerado. Basta pensar, no que diz respeito ao nosso país, que em 1951, ano do
primeiro censo do pós-guerra, existiam centenas de milhares de trabalhadores na Itália, Comentado [LGPdS5]: Braccianti são trabalhadores
que eram recrutados ilegalmente, que trabalhavam em média 140 dias por ano. jornaleiros, Chi lavora a giornata, come operaio o
contadino
Para esses estratos sociais, o emprego estável na indústria tem sido um grande || Lavoratore salariato del settore agricolo
avanço social. Os salários reais aumentaram; Em muitos países, incluindo a Itália, os
Comentado [LGPdS6]: 4 fig. Chi pratica il
sistemas públicos de proteção social foram introduzidos ou ampliados, de pensões caporalato: sistema di reclutamento illegale della
baseadas no método pay-as-you-go (pelo qual o trabalhador ativo contribui para pagar a manodopera
pensão daqueles que se aposentaram, método que o coloca fora dos preços do mercado
de ações e da inflação) ao sistema nacional de saúde; as horas de trabalho foram reduzidas
em cerca de 2-300 horas por ano (o que significa quase dois meses a menos de trabalho);
semanas de férias pagas foram prorrogadas por semanas.
Finalmente, em muitos países, a partir do nosso, os direitos dos trabalhadores têm
sido tratados como referentes à pessoas e não a bens que são usados quando são
necessários ou são descartados de outra forma. Essas conquistas, começando com os
sistemas públicos de proteção social, foram o resultado de reformas legislativas -
referindo-se aqui ao nosso Estatuto dos Trabalhadores de 1970, feito por um ministro do
trabalho socialista, Giacomo Brodolini, e amplamente escrito por um jovem advogado
trabalhista-socialista, Gino Giugni – não menos importantes que a impressionante luta
sindical. Sem esquecer o movimento dos estudantes que na Itália como na França e na
Alemanha contribuíram no final dos anos 60 para incluir na agenda política o pedido de
uma democracia mais participativa.
Deve-se notar que as conquistas em questão foram também o resultado de um
quadro geopolítico que mudou rapidamente após o final dos anos 80. No Oriente havia,
de fato, a grande sombra da URSS, o gigante cujos movimentos eram temidos, o que
poderia ser considerado de alguma forma representado no Ocidente por importantes
partidos políticos, como o Partido Comunista na França e na Itália. As classes dominantes
foram induzidas a ceder uma parte de seus privilégios, com relativas limitações. Em todo Comentado [LGPdS7]: Dúvida grande aqui: tutto sommato
limitata (todos os privilégios foram limitados ou esse ato de
caso, isso significou uma redução no poder de que desfrutavam, em parte devido às lutas ceder se deu com limitações?
dos trabalhadores, em parte devido à crença de que era melhor seguir nessa direção para
que a sombra no Oriente não exercesse muita influência no contexto político ocidental.
Por volta de 1980, teve início em muitos países - Estados Unidos, Reino Unido,
França, Itália, Alemanha - o que alguns chamaram de contra-revolução e outros,
Comentado [LGPdS8]: enace
referindo-se a um trabalho do estudioso francês Serge Halimi em 2004, um grande salto [te-nà-ce]
para trás. As classes dominantes se mobilizaram e começaram a conduzir uma luta de agg. (pl. -ci)
classes de cima para recuperar o terreno perdido. Recuperação semelhante resultou em
múltiplas iniciativas específicas e convergentes. Em primeiro lugar, visava conter os
1 Che tiene, che fa presa: colla molto, poco t.
salários reais, isto é, a renda do emprego; reintroduzir condições de trabalho mais
rigorosas nas fábricas e escritórios; para aumentar novamente a parte dos lucros no PIB 2 Che resiste alla pressione, alla
que havia sido corroída pelos aumentos salariais, pelos investimentos e por impostos do deformazione: legno elastico e t.
período entre o final da Segunda Guerra mundial e os anos oitenta. || Resistente, solido, robusto: filo di nailon sottile
ma t.
Basicamente, a luta de classes não se esvaneceu, absolutamente. Se algo
aconteceu, foi que a luta que havia sido conduzida de baixo para melhorar o destino deu 3 fig. Di persona, fermo, costante, saldo: un uomo
lugar a uma luta conduzida de cima para recuperar os privilégios, os lucros e, molto t.; t. nell'agire, nel volere; t. sostenitore di
especialmente, o poder que tinha se erodido até certo ponto nos trinta anos anteriores. un'idea; carattere, volontà t.
CONT. incostante, volubile
A principal característica da luta de classes no nosso tempo é esta: a classe
daqueles que, de diferentes pontos de vista, devem ser considerados vencedores - um 4 fig. Di cosa, persistente, durevole: un ricordo
termo muito apreciado por aqueles que acreditam que a humanidade deve inevitavelmente t.; amore t.; sforzo, lavoro t.
dividir-se em vencedores e perdedores - está liderando uma tenaz luta de classes contra a CONT. effimero, transitorio

classe dos perdedores.


5 fig., raro Che è attaccato al proprio denaro
SIN. avaro
Quem são os atores, os protagonistas dessa luta de classes liderada pelo alto? Como é
composta a classe que lidera esta contra-ofensiva?
Essa luta é conduzida pelas classes dominantes dos diferentes países, que agora
são, em muitos aspectos, uma única classe global. Eles incluem os proprietários de
grandes propriedades, os altos executivos, ou seja, os altos executivos da indústria e do
sistema financeiro, os principais políticos que muitas vezes têm laços estreitos com a
classe economicamente dominante, os grandes latifundiários que em muitos países
emergentes - da Índia ao Brasil - têm um poder e uma consistência numérica e econômica
que ainda são relevantes hoje. Quanto à Itália, o latifúndio não existe mais, mas o setor
imobiliário é um componente do peso da classe dominante. Descrita dessa forma, a atual
classe dominante, que alguns sociólogos chamaram de "classe capitalista transnacional"
- a primeira foi talvez Leslie Sklair, da Escola de Economia e Ciência Política de Londres,
em um livro de 2001 - para sublinhar como se encontra em todos os lugares, não é muito
diferente em termos de composição daquela que dominou a economia americana, alemã
ou inglesa no início do século XX, ou mesmo no final do século XIX.
Desde então, no entanto, mudanças consideráveis ocorreram. Essa classe
composta de empresários, gerentes, proprietários de grandes propriedades, banqueiros,
apresentou-se e pequenas dimensões em muitos países, ainda por várias décadas após o
fim da Segunda Guerra Mundial, e entre esses países havia alguns imensos, como a China.
Atualmente, esta classe, a começar pela China, adquiriu um peso maciço em todo o lado,
tanto como entidade numérica como como volume controlado de capital. Em outras
palavras, houve uma espécie de globalização das classes dominantes, que por um lado
são caracterizadas por sua posição social e por instrumentos de poder ou dominação, não
muito diferentes de seus antecessores de um século atrás e antes, mas agora elas têm
meios econômicos incomparavelmente maiores.
Também na mesma classe também fazem parte atores de um novo gênero. No
sistema financeiro dos últimos trinta ou quarenta anos, uma grande novidade tem se
afirmado: dezenas de trilhões de dólares ou euros, que representam pelo menos 80% das
economias das classes trabalhadoras, são gerenciados a seu critério pelos gerentes da
chamada Investidores institucionais: fundos de pensão, fundos mútuos, companhias de
seguros e outras entidades relacionadas. Eles são aqueles que chamei em outros lugares
de "capitalistas por procuração": eles não possuem em sua capacidade pessoal grande
riqueza (mesmo que um certo número deles possa certamente ser colocado entre os muito
ricos ou super-ricos). O fator que os distingue é o poder que eles têm de decidir o
emprego, especialmente as estratégias de investimento, de capital que não lhes pertence
e que nem sequer são referenciados a grupos específicos de acionistas.
Deixe-me explicar: os gerentes de uma grande empresa industrial decidem sobre
estratégias de investimento, planos de pesquisa e desenvolvimento, linhas de produção,
tendo em mente os interesses, desejos e proibições de um pequeno número de acionistas,
representados por proprietários individuais de peso, como outras empresas, bancos,
fundos especulativos e outros investidores como bases. Por outro lado, os capitalistas por
procuração adquirem um capital que é originalmente tão fragmentado que não é atribuível
a qualquer acionista que não seja o pequeno poupador com suas modestas ações.
Prendiamo un fondo pensione che ha un patrimonio di centinaia di miliardi di
dollari o di sterline (in euro sono ancora pochi quelli che raggiungono simili livelli, anche
se almeno uno in Olanda li ha toccati). In questo caso i proprietari ultimi, i lavoratori-
risparmiatori, risultano talmente numerosi, essendo centinaia di migliaia, o milioni, da
non contare praticamente nulla; viceversa l’azionista proprietario di capitali cospicui, o
lo stesso fondo che diventa azionista di un’impresa, pesa molto perché può mettere sul
tavolo il 2, il 5, il 10% o più di un pacchetto di azioni. Perciò i gestori dei capitali dei
lavoratori – il “capitale del lavoro”, come lo chiamano gli esperti anglosassoni –
rappresentano una immissione di personale di nuovo tipo nella classe economicamente
dominante di gran parte del mondo. Comentado [LGPdS9]: Não consegui traduzir

A classe dominante que você analisou claramente a base objetiva na complexa da


organização social configura-se como um sujeito de ação coletiva?
Esta classe dominante global existe em todos os países do mundo, embora com
proporções e pesos diferentes. Tem entre seus principais interesses o de limitar ou opor-
se ao desenvolvimento de classes sociais - como a classe trabalhadora e a classe média -
que podem até certo ponto debilitar seu poder de decidir o que é importante fazer com o
capital que controla para continuar. acumulá-lo: que bens produzir, a que preço vendê-
los, onde e por que meios, no caso de uma empresa industrial; ou como criar dinheiro
diretamente por meio de dinheiro, no caso de uma empresa financeira.
Naturalmente, a classe em questão persegue em primeiro lugar o propósito de
defender suas receitas e lucros, que, além do mais, aumentaram enormemente nos últimos
vinte ou trinta anos. Basta lembrar que os principais gerentes de grandes empresas,
industriais ou não- o presidente ou administrador encarregado, na Itália, o CEO nos
Esados Unidos, o PDG (Presidente-Directeur Général) na França, o presidente ou diretor
do Conselho de Administração (Vorstand) e do Conselho de Supervisão (Aufsichtrat) na
Alemanha - receberam uma remuneração global da ordem de 40 vezes o salário de um
empregado ou de um trabalhador, na década de 1980. Atualmente, essa proporção
ultrapassou as 300 vezes, com picos que nos Estados Unidos podem atingir 1000 vezes o
salário de um empregado. Isso se deve não apenas ao aumento do salário básico, do bônus
por desempenho e outros benefícios, mas também pelo grande recurso das ações serem
forma de remuneração.
Comentado [LGPdS10]: – Qual é a diferença entre a classe
Uma fração da classe capitalista transnacional ou global que pertence a um dado em si e a classe para si? Karl Marx faz uma diferença entre a
classe em si e a classe para si. No caso da classe para si, o
país pode às vezes estar em conflito com a fração semelhante de uma classe que pertence grupo sabe que tem aspirações e oposições em comum. O
a um país diferente - um fenômeno que também ocorre dentro da classe trabalhadora. No grupo tem consciência de ser uma classe e tem consciência da
importância dos interesses de classe. Nesse caso, eles podem
geral, entretanto, essa classe tem como um elemento unificador, como um fator de fazer movimentos coletivos de reivindicação, ter uma
transformação da classe em si para a classe para si, um processo que, no seu caso, não identidade de classe. curso de sociologia A classe para si é
diferente da classe em si. Segundo Karl Marx, a classe em si
apenas começou, mas está fortemente consolidado. É um processo que se vale de uma corresponde à vaga no processo de produção e a classe para si
série de instrumentos diretos e indiretos para conduzir uma luta de classes efetiva contra tem consciência dela. A classe em si, não tem
necessariamente esta consciência, não se dar conta de
aqueles que de alguma forma conseguiram alcançar uma melhora em suas condições nos pertencer a uma classe (comparado à classe para si). A classe
em si reúne condições objetivas.
primeiros trinta anos do período do pós-guerra. Nesse processo, a circulação internacional
de altos executivos de uma empresa para outra, suas conferências, os sistemas de
comunicação que utilizam a qualquer momento, bem como as poderosas ferramentas de
processamento ideológico que podem usar, são de considerável importância. A classe
capitalista sem fronteiras nacionais da qual falo é, portanto, apresentada como uma
realidade que opera em escala global tanto no plano material como no ideológico.
Portanto, pode ser considerado uma classe para si em todos os aspectos, bem como uma
classe em si.
Esse processo de integração em uma única classe universal, capaz de atuar em
todos os lugares e em todos os planos como um sujeito unitário, ocorre em alto grau por
parte dos vencedores, mas parece longe de ser realizado entre as enormes fileiras dos
perdedores. Comentado [LGPdS11]: Alguma coisa para indicar grande
quantidade...
P. É possível separar a classe que detém o poder econômico das classes que a apoiam no
terreno político e cultural?
Em primeiro lugar, a classe capitalista transnacional se beneficia de uma poderosa
cola ideológica que é apoiada por dezenas de "reservatórios de pensamento", operando Comentado [LGPdS12]: Think tanks
sobretudo na Europa e nos Estados Unidos. Ela também possui um grande peso político. Comentado [LGPdS13]: Essa: essa
Leis sobre políticas fiscais, desregulamentação das finanças, reformas do mercado de pronoun [ personal ] [ feminine, 3rd, singular ]

trabalho, privatização de bens comuns - da água ao transporte público - promulgadas em Se refere à cola ideológica
vários países desde os anos 80, e hoje o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco
Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia (CE) gostariam de impor, sem exceção, a
todos os membros da União Europeia (UE), ou pelo menos aos da zona euro, são uma
parte essencial da contra-ofensiva a que me referi anteriormente
Tal contra-ofensiva nunca teria tido o sucesso que teve se não pudesse tomar
forma e confiar em leis, decretos, regulamentos e diretivas que foram concebidos e
aprovados especificamente pelos parlamentos, sob a pressão de lobbies industriais e
financeiros, em vista de um duplo objetivo: enfraquecer o poder das classes trabalhadoras
e das classes médias e, ao mesmo tempo, aumentar o poder da classe dominante. A isto
deve ser adicionado o financiamento, da ordem de centenas de milhões por ano, que estes
lobbies dão aos candidatos nas eleições gerais: refiro-me a deputados, senadores e
presidentes da República - neste último caso, obviamente, em países como EUA e França,
onde o presidente é eleito pelo povo - do qual as corporações industriais e financeiras
pretendem assegurar uma benevolente atenção quando estiverem no comando.
Posteriormente, há o deslocamento de pessoal de um campo para outro. Além da
deferência que muitos políticos sempre demonstraram, especialmente nas últimas
décadas, em relação à riqueza e ao poder econômico - um caso eminente é Nicolas
Sarkozy - não podemos esquecer a existência de portas giratórias pelas quais se veem,
constantemente, alguns políticos se tornando parte da classe capitalista global e vice-
versa. Muitos ministros e assessores econômicos de presidentes americanos e chefes de
governo no Reino Unido, assim como na França, Itália e Alemanha, foram
administradores de grandes empresas financeiras e trouxeram para a política a capacidade
de transferir, diretamente para leis e decreto, interesses do mundo industrial e financeiro,
com forte aumento do poder do segundo nos últimos trinta anos.
A cola ideológica tem grande importância porque permite que essa nova classe Comentado [LGPdS14]: collante ideológico
dominante transnacional pense e se expresse da mesma maneira, onde quer que esteja collante: [col-làn-te] (pl. -ti)
localizada. Deste ponto de vista, uma de suas representações mais emblemáticas é a
convenção anual do World Economic Forum, que ocorre em Davos, na Suíça. A agg.
Aproximadamente 3.000 d personalidades se encontram, incluindo altos executivos,
industriais, banqueiros e políticos, com o enfeite de vários acadêmicos. Esse é um dos Di sostanza che incolla, che fa aderire

lugares típicos da elaboração ideológica em que se focam em pontos de vista e regras a tenacemente

serem seguidas no campo industrial e financeiro, as mensagens unitárias a serem


B s.m.
transmitidas à imprensa e a serem disseminadas nas universidades - um caso de produção
ideológica em larga escala. Que não teria a força de penetração que possui se não Sostanza adesiva, spec. per legno o carta
fosse apoiada por um poder no qual os componentes políticos e econômicos muitas || Sostanza usata per rendere la carta adatta alla
vezes se tornam difíceis de distinguir. stampa e alla scrittura

Comentado [LGPdS15]: No livro Capitalismo Financeiro


ele usa esse mesmo argumento: talvez “condimento” seja algo
Pergunta: Referir-se a um sistema virtual de partido único, onde se refletem as políticas secundário, por ser um detalhe ou por ser “a cereja no bolo”:

do mercado global, é afirmar que Davos é de fato um partido. condimento


[con-di-mén-to]
De fato, considerando sua amplitude e visibilidade, as reuniões de Davos se s.m.
parecem muito com as assembleias de um grande partido que lidera a luta de classes
conduzida globalmente pelos vencedores contra os perdedores. A mensagem que esta
parte envia anualmente é que a economia mundo pode estar sujeita a disfunções 1 Azione e risultato del condire

temporárias, capazes de trazer problemas a um certo número de trabalhadores, mas é do


2 Tutto ciò che serve a condire, come sale, pepe,
interesse geral que estes contribuam - primeiro com o chamado “salário moderado”, ao
olio, spezie ecc.: questa carne manca di c.
que vou retomar, para fazer uma melhor distribuição.
3 fig. Ciò che rende qualcosa più gradevole,
Mais especificamente, uma das maiores vitórias ideológicas da classe capitalista
migliore: l'armonia è il miglior c. della vita
transnacional, apoiada por um forte componente paracientífico formado por intelectuais
e acadêmicos, tem sido retratar o funcionamento da economia contemporânea, com seus
componentes financeiros maciços, às classes subalternas, como se fosse o melhor de todos
os mundos possíveis, a economia mais eficiente que pode-se imaginar. Isso porque, de
acordo com os porta-vozes da classe dominante, o capital sempre flui, através dos
mercados financeiros, onde seu retorno é ótimo. Essa teoria, conhecida como teoria
ortodoxa macroeconômica, deveria contribuir tanto para melhorar o destino dos
trabalhadores nos países desenvolvidos quanto para estimular o rápido desenvolvimento
dos países emergentes.
Tal representação ideológica semelhante teve tamanha influência que permanece
praticamente inalterada, apesar das retumbantes negações que a realidade expôs nos
últimos tempos. A crise desencadeada em 2007, no contexto de um desenvolvimento
patológico do sistema financeiro, de um ponto de vista estritamente científico foi uma
catástrofe para o pensamento dominante em Davos (ou o que Davos difunde na TV, nos
jornais, nas universidades, em escolas e nos discursos dos políticos). A crise de fato -
mesmo a que continua ocorrendo em 2012, ainda não sabemos com quais
continuações/reverberações e em quais países - mostrou categoricamente duas coisas: que
o capital não é alocado pelos mercados da maneira mais eficiente possível, e que é acima
de tudo os trabalhadores que pagam os custos quando a teoria se desfaz, juntamente com
as práticas financeiras que dela derivam.
Capitais da ordem de trilhões de dólares foram investidos em complicados títulos
compostos que os bancos, não apenas americanos, mas também europeus, criaram e Comentado [LGPdS16]: O que são os títulos compostos?
disseminaram de uma maneira que se provou desastrosamente ineficiente. Ou melhor:
que a crise mostrou serem ineficiente e arriscada. Em seguida, as instituições financeiras
foram salvas da falência pelos governos, tanto por meio de ajuda econômica direta (mais
de 15 trilhões de dólares nos EUA, 1,3 trilhão de libras no Reino Unido, pelo menos um
trilhão de euros na Alemanha), como indiretamente, forçando países com uma alta dívida
pública a pagar juros astronômicos sobre títulos públicos/títulos do governo detidos por
tais instituições. Instituições são predominantemente bancos franceses e alemães cujos
orçamentos foram devastados tanto por títulos tóxicos (assim chamados porque formados Comentado [LGPdS17]: ítulos derivativos dos
empréstimos hipotecários (subprime)
por créditos que são agora considerados inadimplentes), que foram criados
exacerbadamente ou comprados em grandes quantidades nos anos 2000, quanto por um
excesso de dinheiro emprestado de outros bancos ou bancos centrais, a fim de poder
conceder rios de empréstimos extra-orçamentais (por força do orçamento). E assim
abriram-se espaços assustadores nos orçamentos públicos, para preencher o que é
solicitado não por aqueles que causaram a crise, mas para que os trabalhadores e as classes
médias apertem o cinto. Esta é talvez uma das expressões mais cruas e menos estudadas
da luta de classes conduzida pelos vencedores contra os perdedores.
Por mais estranho que pareça, tudo isso implica que a luta de classes por baixo, se
algum dia será recomeçada, deveria ter entre seus primeiros objetivos uma reforma do
sistema financeiro. A crise demostrou que o que pareciam ser métodos Comentado [LGPdS18]: Per quanto possa apparire strano,
tutto ciò comporta che la lotta di classe dal basso, dovesse
extraordinariamente ágeis de distribuição de risco entre as massas de investidores e mai riprendere, dovrebbe avere tra i suoi primi obiettivi una
poupadores, na verdade o concentraram, arriscando derrubar todo o sistema econômico riforma del sistema finanziario.
global. Assim, para evitar que, pela segunda vez, se pague os custos da crise, os cidadãos
que trabalham devem exigir reformas incisivas neste campo. Infelizmente estamos longe
disso. Mais de cinco anos desde o início da crise, nenhuma reforma extensiva do sistema
financeiro foi realizada. A [reforma] do presidente Obama no verão de 2010 acabou por
apenas arranhar a superfície do problema, não só por causa da feroz oposição dos lobbies
financeiros, amplamente representada no Congresso dos EUA por republicanos e por
numerosos democratas; e que aquela em formação/gestação na União Europeia seja ainda
mais inconsistente. Com todos os riscos que o sistema financeiro internacional continua
a propor e repropor, em particular em detrimento das classes perdedoras. Por outro lado,
no que diz respeito aos vencedores, os membros da classe capitalista transnacional
geralmente saem de crises com aumento de renda e de patrimônio.
2. LA LOTTA DI CLASSE NEL MONDO
P. De que maneira a luta de classes é conduzida no mundo?
Primeiro, por meio de leis, confeccionadas por governos e parlamentos, que
visam, para além das aparências, fortalecer a posição e defender os interesses da classe
dominante, e para se opor à possibilidade de que a classe trabalhadora e a classe média
afirmem os seus. Uma maneira típica de conduzir a luta de classes por lei é a legislação
tributária. Nas últimas décadas, ela seguiu dois caminhos: alta isenção fiscal para os ricos
e fortes cortes de impostos corporativos. O efeito foi secar os orçamentos públicos pela
parte das receitas, o que tornou necessário – e este é o singular raciocínio dos governos
da UE - cortar os gastos de maior utilidade para os trabalhadores.

As reduções de impostos introduzidas em vários países em favor das classes de


mais alta renda e maior riqueza assumiram a forma de uma redução substancial na
alíquota marginal (ou seja, o percentual de imposto aplicado à renda cai no último
escalão) e impostos sobre patrimônio e herança. Nos anos cinquenta e sessenta do século
passado, a taxa marginal dos rendimentos mais altos era muito alta - nos EUA, ultrapassou
80% - e, portanto, contribuiu significativamente para a redistribuição da renda. Por outro
lado, o imposto incidente sobre as classes médias e a de trabalhadores, ou seja, as classes
que, por sua vez, acumulam/recolhem/recebem menos renda e dispõem de escassa
riqueza, mantiveram-se constantes ou cresceram devido à dinâmica da inflação e de
outros processos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o presidente Bush, no início da
década de 2000, introduziu cortes de impostos que permitiram que 5-10% dos domicílios
com renda mais alta economizassem, em média, centenas de milhares de impostos por
ano, enquanto para os restantes 90% da população, a vantagem fiscal era de cerca de US
$1.000 ou um pouco mais.

Na França, o presidente Sarkozy reduziu consideravelmente tanto o imposto sobre


herança como o chamado imposto sobre a fortuna. Aqui também, uma parcela da
população entre 5% e 10% gozava de benefícios fiscais com uma média de centenas de
milhares de euros. A este respeito, em 2010, um relatório foi publicado para a Assembleia
francesa, produzido por um dos escritórios internos da Assembleia, que observou que em
dez anos, de 2000 a 2009, a isenção fiscal - concedida sobretudo para os ricos –
correspondiam entre 101 e 120 bilhões de euros de receita perdida. Em dez anos, essa
quantia colossal ajudou a esvaziar os cofres do Estado e, portanto, tornou indispensável -
essa é a conclusão do governo - cortes nas aposentadorias, na saúde, na escola e na
administração pública. Para reduzir o ônus do Estado, com apoio não só o governo
francês, mas de todos os governos de centro-direita e vários governos de centro-esquerda
(ver os casos da Grécia e da Espanha), na situação atual todos devem contribuir para a
redução. A ironia dos números significa que, na França, os cortes mencionados devem
ascender, segundo o primeiro-ministro François Fillon no início de novembro de 2011, a
cerca de 100 bilhões.

A ironia dos números significa que na França os cortes acima mencionados devem
chegar a cerca de 100 bilhões, de acordo com o que o primeiro-ministro François Fillon
declarou no início de novembro de 2011. Na Itália, podemos lembrar a abolição do
imposto sobre a propriedade municipal (ICI), do qual certamente muitos cidadãos se
regozijaram, agora já restaurados. Infelizmente, no entanto, a abolição do ICI esvaziou
por vários anos os cofres dos municípios e os mesmos cidadãos tiveram que/foram
obrigados a cortar creches, escolas, serviços familiares, transporte local e assistência a
famílias desfavorecidas.

Outra forma de luta de classes por meio do fisco, na Itália, consistia em uma
repetida série de anistias fiscais – agora não mais concedidas - que eram um prêmio muito Comentado [LGPdS19]: Dúvida aqui: ormai non si
contano più
alto, nunca visto em qualquer outro país europeu, para aqueles que não pagam impostos.
Em vez disso, elas têm sido zombeteiramente punitivas para todos aqueles que, por causa
de um senso cívico ou por causa da impossibilidade de escapar, pagam impostos.

Existem também paradoxos no direito tributário italiano. Ele estabelece que a


alíquota mínima, que é paga sobre o lucro tributável de até 15.000 euros, é de 23%. A
alíquota sobe para 27% para a faixa de renda de 15.000 a 28.000 euros. Por outro lado, a
taxa única aplicável à renda do capital - que é ganha, não quero dizer dormindo, mas
quase, se trata de opções de ações, de dividendos ou de aumento de seu valor: é sempre
dinheiro que cresce sem necessidade de trabalhar – foi, por décadas, de apenas 12,5%. É
a taxa mais baixa já vista nos países da UE, onde ela sempre passou de 20% em relação
ao imposto sobre a renda do capital, mesmo na França de direita. Agora, um decreto de
2011 elevou essa taxa para 20% a partir de 1 de janeiro de 2012. No entanto, ainda nos
deparamos com o paradoxo: um trabalhador com um rendimento tributável de 28.000
euros - a quota dentro da qual caem a maioria dos trabalhadores assalariados- deve pagar
6960 euros em impostos (mesmo que em montantes brutos, antes de pequenas deduções),
em paralelo a 1500 horas de trabalho remunerados a menos de 20 euros a hora, enquanto
em uma renda de igual quantidade, uma renda do capital, paga apenas 5600, sem ter que
trabalhar uma hora. E o mesmo valor se essa renda for multiplicada por mil.

Deve-se notar também que na Itália a tributação sobre herança foi praticamente
abolida, pelo menos em relação aos descendentes diretos, com argumentos infalíveis
desse tipo: "Não é certo que se crie um negócio, erguido com os esforços de uma vida, e
depois ter que pagar um imposto quando ele é passado para aos filhos. ". Agora, o imposto
é pago não pelo fundador, mas pelos filhos, que se deparam com um presente que, muitas
vezes, não ajudaram a criar. Se o valor real de uma empresa, ou de uma residência, o
valor de qualquer bem que é transmitido aos descendentes, você paga um imposto de 10
ou 15%, parece difícil argumentar que o patrimônio é sequestrado juntamente com uma
vida inteira de trabalho.

Quanto aos impostos corporativos, um estudo da KPMG, uma conhecida empresa


de serviços financeiros operante na Itália, realizado em 80 países e publicado em 2010,
mostra como a taxa média de tributação foi reduzida entre 1995 e 2010, de 38% a 25%.
Entre os Estados mais generosos para as empresas estão a Alemanha, que cortou a taxa
em 22 pontos, de 51,6 para 29,4%; a Grécia, que cortou 16 pontos (de 40 para 24%); A
Irlanda, que dividiu pela metade, de 24 para 12,5%; e Itália, que reduziu em quase 10
pontos (de 41,3 para 31,4%).

Deve-se notar que as taxas acima, mesmo que reduzidas, são as taxas oficiais de
tributação. Na realidade, um bom número de empresas em todos os países paga muito
menos por várias razões. Em primeiro lugar, novas regras contábeis possibilitaram que os
impostos efetivamente pagos fossem calculados de uma maneira muito mais vantajosa do
que duas ou três décadas atrás. Em segundo lugar, as corporações praticam formas de
elisão e evasão fiscais em larga escala. Para este propósito, os escritórios jurídicos de
milhares de subsidiárias das grandes corporações são registrados em alguma ilha
caribenha ou no Canal da Mancha: são as chamadas "ilhas do tesouro", onde se paga
impostos mínimos. Por fim, deve-se notar que uma grande parte de sua produção foi
realocada para países emergentes, de modo que os impostos são pagos por empresas não
do país de origem, mas desses países, onde geralmente eles são muito pequenos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa de imposto sobre as empresas


permaneceu inalterada por décadas em 40%. Nos EUA, por exemplo, a taxa de tributação
sobre empresas manteve-se inalterada durante décadas a 40%, mas em nosso tempo,
graças à combinação de novas regras contábeis, mecanismos de elisão deslocalizações, a Comentado [LGPdS20]: Isso que ele explicou acima

receita deste imposto, que, houve um tempo ultrapassava 30% das receitas federais, em
2010, encolheu para menos de 6%. Pelas mesmas razões, uma queda proporcional de
impostos pagos pelas empresas foi registrada na França: empresas cujo desempenho se
reflete no índice de ações Cac40, o maior do país, hoje contribuem para a receita tributária
do Estado em apenas 7%.

A este respeito, causou furor o caso da Total, gigante do petróleo que em 2010
gerou 12 bilhões de lucros mas, de acordo com legislação em vigor, não pagou um euro
de imposto ao Hexágono: limitou-se a pagar alguns milhões de compensação para as Comentado [LGPdS21]: Forma de se refererir à França

comunidades nas quais operam as poucas plantas deixadas em sua terra natal.

Quais são os efeitos das políticas fiscais pró-ricos?


Faço essas falas acerca de impostos sobre indivíduos e sociedades não apenas por
uma questão de justiça social. A direita é costuma objetar com segurança que, mesmo que
os ricos se tornem mais ricos, os ricos médios ou os pobres-médios não receberão nenhum
dano pelo fato de os primeiros serem super enriquecidos. Mas isso não é verdade. Em
primeiro lugar, as menores receitas fiscais levam a uma redução dos serviços públicos e
dos sistemas de proteção social, o que afeta principalmente as classes menos favorecidas.
A este respeito, todos devemos estar atentos ao caso da Grécia, da Irlanda e do nosso
próprio país. O que acontece, no entanto, é que das políticas fiscais pró-ricos, também
derivam danos diretos para as classes economicamente inferiores, sob diferentes pontos
de vista. Enquanto isso, os ativos que crescem apenas por meio de outro dinheiro, não
diretamente auferidos, em grande parte não são transformados em investimentos
produtivos que geram empregos, riqueza e infraestrutura; em vez disso, eles são usados
em outros investimentos financeiros. O dinheiro encorpado por meio de isenção fiscal
prefere procurar mais dinheiro investindo nele mesmo, em vez de investir em pesquisa e
desenvolvimento ou, eu sei, na escola. E assim como o relatório francês mencionado Comentado [LGPdS22]: Dúvida: che so > acho que é, que
seja, ou até onde eu sei
anteriormente, aos cofres do Estado, depois de alguns anos, faltam centenas de bilhões, o
que resulta em governos que aumentam as mensalidades universitárias, reduzem o
número de professores na escola, negligenciam o investimento em infraestrutura. Mas os
efeitos negativos em detrimento das classes mais baixas não terminam aí.

Acontece que, dado o enorme poder de compra de 5 ou 10% da população de um


país, que cresceu gradualmente ao longo dos anos graças a atividades especulativas e à
benevolência das autoridades fiscais, muitos bens e serviços aumentam de preço a tal
ponto de preço que as classes trabalhadoras e até mesmo a maioria das classes médias não
podem mais pagar por elas, ou podem acessá-los com um esforço muito maior.

Pense nesse tipo de fardo sobre a vida cotidiana que é o deslocamento casa-
trabalho. Em muitas cidades da União Europeia e dos Estados Unidos, a renda financeira
colossal tributada a taxas favoráveis fez com que o preço dos imóveis ou aluguéis no
centro das grandes cidades se tornasse tão alto que expulsou quase toda a população que
tradicionalmente ali residia. Estas são figuras profissionais valiosas para a vida de uma
cidade, mas na cidade elas não têm mais a oportunidade de viver. Então, suas existências
serão sob o peso de com várias horas de deslocamento. Portanto, não é apenas uma
questão de aceitar pacificamente que os ricos estão ficando mais ricos. O ponto de
interrogação é outro: a vantagem fiscal produz diretamente uma piora geral da qualidade
de vida das classes trabalhadoras e das classes médias.

Que outras formas existem para conduzir a luta de classes de cima para baixo usando o Comentado [LGPdS23]: Condurre:

processo legislativo como um instrumento? 1 conduzir, guiar, acompanhar.


2 levar, transportar.
Eu colocaria em primeiro plano as políticas e leis relacionadas que, nos países 3 FIG convencer, persuadir.
4 induzir, obrigar.
desenvolvidos, em vez de combater o desemprego e a pobreza, as sancionam como males 5 chefiar, comandar, dirigir.

inevitáveis. Os EUA e a União Europeia gastaram ou prometeram pelo menos 18 trilhões


de dólares para salvar instituições financeiras "grandes demais para deixá-las quebrar".
Por outro lado, para retomar o emprego, gravemente atingido pela Grande Recessão,
alguns poucos bilhões foram gastos. Na Itália, a manobra econômica de agosto a setembro
de 2011 cortou 45 bilhões de serviços para famílias, aposentadorias, saúde e transporte
público em três anos, e nem um único euro foi destinado a criar empregos diretamente. A
mesma manobra foi reforçada em dezembro pelo novo governo Monti.

O ataque da classe vencedora, como definimos, às classes trabalhadoras e às classes


médias nos últimos anos assumiu a forma do ataque aos sistemas públicos de proteção
social.
O fato é que, na União Européia, não menos do que nos EUA, a política, mesmo
das formações e governos de centro-esquerda, é dominada pela histeria deficitária. Como
resultado, em vez de olhar para a queda nas receitas por causa crise e para os gastos
relacionados aos milhares de bilhões de apoios concedidos ao sistema financeiro, o que
foi visado foram principalmente os gastos sociais. De fato, pode-se dizer que todas as
proteções sociais que estão sob o nome de um modelo social europeu estão há muito
tempo sob ataque; mas com particular força desde a primavera de 2010 - quando a crise
da dívida ressurgiu - em nome da necessidade de reabilitar os orçamentos públicos e da
indispensabilidade da austeridade para esse propósito. Sobre este assunto, será necessário
se estender mais.

Há também países grandes, começando pelos Estados Unidos, onde a luta de


classes tomou forma durante décadas, não de ataque contra um modelo social que não
existia, mas de ataque contra tentativas até modestas de introduzi-lo. Embora muitos
tenham falado sobre isso, a idéia de um sistema público de previdência nunca chegou a
ser discutida nas altas esferas da política ou do Congresso. Foi discutido e algo foi feito
sobre o tema do sistema de saúde: depois de um duro conflito com os lobbies das
companhias de seguros (e também, devemos dizer. das profissões médicas), o Presidente
Obama conseguiu introduzir em março de 2010 uma reforma que é apenas uma
abordagem pálida dos sistemas nacionais de saúde. Na verdade, limita-se a introduzir a
obrigação de contratar seguros privados, por um preço menor do que o padrão dos EUA,
de modo que um número de americanos que antes não conseguiam acessá-los poderiam
fazê-lo.

Neste caso, a luta de classes tomou visivelmente a forma - mais uma vez através
da lei - da tentativa de impedir que a modesta reforma de Obama acontecesse. E neste
caso, como em outros, a luta de classes foi realizada com centenas de milhões de dólares.
Estima-se que os lobbies das companhias de seguros, médicos e outros especialistas
gastaram cerca de 300 milhões de dólares para evitar que os 46 milhões de americanos
totalmente sem proteção da saúde recebam quaisquer benefícios. A reforma então passou,
no sentido de que 32 milhões de americanos, dos 46 que estavam completamente sem
seguro de saúde, terão acesso a uma modesta cobertura de seguro privado. Depois que os
republicanos recuperaram a maioria na Câmara nas eleições de meio de mandato de 2010,
nem sequer está certo de que a reforma possa sobreviver. A essência da questão é que,
onde existe o modelo social europeu, tenta-se demoli-lo; onde não há, intervém-se em
todos os sentidos para evitar que se desenvolva.

P. Por meio de quais outras formas a luta de classes é conduzida no mundo?


Há ainda outras maneiras pelas quais a luta de classes no mundo é conduzida. Uma
delas consiste na expulsão dos camponeses da terra, em particular na África, na América Comentado [LGPdS24]: Camponeses que são expulsos da
terra
Latina, mas também na Ásia, tanto ocidental como oriental, onde a China se destaca acima
de todos. Os camponeses que por gerações viveram na terra e que em muitos casos
geraram um padrão de vida modesto, mesmo não estando muito seguros de sua atividade
como fazendeiros, como se afirma na Itália, são acusados por seus próprios governos de
não serem produtivos o suficiente, não produzir para exportar, não aplicar tecnologia
moderna à agricultura, não produzir culturas que pagam mais nos mercados nacionais e
internacionais. O resultado é que grandes corporações especializadas na produção de
alimentos ou no comércio das mesmas - muitas grandes corporações fazem as duas coisas
- compram ou alugam por 99 anos enormes áreas da ordem de dezenas de milhões de
hectares em muitos países africanos, na Índia, nas Filipinas, na América Latina. Em
seguida, introduzem cultivos extensivos, geralmente monoculturais, com um avanço
muito forte da mecanização e com a consequente derrubada dos agricultores que
trabalhavam nesses campos. De 100 agricultores expulsos - dado que numa superfície de
alguns milhares de hectares, os agricultores expulsos podem, por sua vez, serem milhares
- é possível que em um pequeno número, digamos 5 ou 10%, eles sejam contratados como
trabalhadores pelas mesmas empresas que expulsaram-nos de suas terras. Mas na maioria
dos casos eles são forçados a procurar algum tipo de ocupação na cidade, principalmente
na economia informal; muitos aumentam a população das favelas. E centenas de milhares
correm o risco de morrer de fome e doenças: como aconteceu na Somália em 2011, um
desastre ligado à concentração de terras nas mãos de poucas corporações.

Sobre favelas. Este termo refere-se- é a definição da Organização das Nações


Unidas (ONU) - a casas precárias, com paredes e telhados de chapas metálicas, placas de
gesso, madeira compensada, quando não são simples tendas; ausência de serviços de
saúde; falta de água corrente, água potável e eletricidade; uma alta taxa de apinhamento
(isto é, três ou mais pessoas por quarto, considerando que as divisões internas dessas casas
possam ser chamadas de quartos); incerteza total sobre a possa da propriedade. As favelas
são situações de terrível degradação, que se desenvolveram imensa e rapidamente. Nas
megalópoles do mundo, isto é, nas áreas urbanas com mais de cinco milhões de
habitantes, nos anos 80 a população das favelas representava cerca de 5%. Há alguns
anos, estima-se que tenha atingido 20% e que, em média, esteja crescendo.

Isso significa que em megalópoles como São Paulo, Jacarta, Nova Délhi -
aglomerações nas quais 20 milhões de pessoas vêm se amontoar - nas favelas, vive uma
média de pelo menos 4 milhões de pessoas. Nas favelas, é claro, não apenas vivemos
menos bem, mas vivemos ainda menos, porque as doenças, a mortalidade infantil, a
violência e os assassinatos são mais difundidos. A autoridade pública não existe nas
favelas, ou só ganha vida para caçar alguns vendedores ambulantes.

As Nações Unidas declararam recentemente que, em dez anos, cerca de 250


milhões de pessoas deixaram as favelas e mudaram-se, supostamente, para moradias mais
decentes; no entanto, eles imediatamente acrescentaram que o número de pessoas que
entraram nas favelas é ainda maior. Estima-se, portanto, que, supondo-se que os
habitantes das favelas tenham caído abaixo de um bilhão antes da crise econômica, após
a crise eles certamente excederam. As estratégias financeiras e imobiliárias de alguns
milhões de indivíduos infligiram e continuarão infligindo significativos custos humanos
a centenas de milhões de outras pessoas, por um longo tempo.

Hoje, mais da metade da população mundial vive em cidades ou áreas urbanas;


desta metade, pouco menos de um terço vive em favelas. Sempre com as fontes da ONU:
estima-se que, mantendo essa tendência, por volta de 2020-2025 (portanto, não em um
século) a população das favelas do mundo poderia ser de cerca de um bilhão e duzentos
milhões de pessoas.

Não se está dizendo que todos os que vivem nas favelas são tão pobres quanto o
agricultor africano que vive debaixo de uma tenda à beira do deserto; eles são, no entanto,
a expressão da total falta de poder humano, de uma absoluta falta de poder político e
também de economia. Não é coincidência que tanto as Nações Unidas quanto o Banco
Mundial falem a esse respeito, mostrando pouco senso de ironia, sobre promover o
empoderamento, o que significaria fornecer maiores poderes a última pessoa na terra. O
habitante das favelas é, por definição, desprovido de qualquer poder: porque não tem a
possibilidade, se não de forma limitada, de mudar de residência; porque ele não tem o
poder de intervir em sua renda; porque ele não pode mandar seus filhos para a escola;
porque na maioria dos casos não pode se defender contra o mau tempo, o clima, a doença
ou até mesmo de pequenos potentados locais. As favelas são realmente um outro planeta,
lembrando certos filmes pós-bombardeio, quando a destruição total reduziu os
sobreviventes a uma vida que é nada menos que primordial, feita de fome, violência,
astúcia e força usada contra os mais fracos.
Há uma sobreposição parcial entre uma parte dos habitantes do planeta das favelas e os
do planeta dos extremamente pobres. Até mesmo a pobreza extrema pode ser
considerada um dos resultados da luta de classes em nível mundial?
Em alguns aspectos sim. A população que vive em pobreza extrema - a pobreza
de um ou dois dólares por dia, calculada de acordo com o mesmo poder de compra, em
dólares, de 2005, que é a referência convencional para comparar as estatísticas nacionais
entre si - não apenas não possui nada parecido com uma casa, mas também inclui a
maioria dos famintos do mundo.

As condições em que esses estratos sociais de pessoas vivem, extremamente


carentes em termos de renda e nutrição, com tudo o que decorre disso (impossibilidade
de educação, de desenvolvimento profissional, de mobilidade, de viver saudavelmente e
por muito tempo, de ter trabalho decente), pode ser considerado outro aspecto da luta de
classes. De fato, se se utilizasse uma quantidade modesta de capital em relação ao que é
utilizado para outros propósitos, da produção de armas à especulação financeira, em
alguns anos poder-se-ia derrotar - dizem a ONU, diz até mesmo o Banco Mundial – tanto
a pobreza extrema quanto a fome no mundo.

Lembre-se de que a Grande Recessão fez com que o número total de pessoas
famintas no mundo subisse novamente acima do bilhão de pessoas - não necessariamente
coincidindo com a população das favelas, porque uma certa parte consegue obter algo
para se alimentar.

P. Você está falando novamente sobre os custos humanos da crise?


O número de pessoas famintas no mundo aumentou no decorrer da crise,
principalmente devido à especulação que os grandes grupos financeiros e investidores
institucionais – cujo peso econômico já mencionei-, em busca de investimentos mais
seguros, operaram nos últimos anos em derivados, chamado pelo jargão "futuro". São
contratos que originalmente obrigavam uma parte a vender, e a contraparte a comprar,
certa quantidade de produto - denominada subjacente - em uma data e preço pré-
estabelecidos. Na realidade, eles se desenvolveram de tal forma que, atualmente, menos
de 5% das duas partes vendem ou compram algo: a grande maioria está limitada a apostar
no aumento ou redução do preço do subjacente. Os especuladores se concentraram
repetidamente naqueles títulos futuros cuja base são os alimentos básicos: trigo, milho,
arroz, soja e sorgo.
A especulação sobre os títulos futuros, que, em primeira instância, apenas provoca Comentado [LGPdS25]: Contrato de futuros, também
chamado contrato futuro, é um tipo
o aumento do valor dos contratos relativos, faz com que o aumento no preço dos alimentos de contrato derivativo.
Os contratos de futuros são contratos de compra e
se deem rapidamente, porque são considerados os removedores de gelo do último. Com venda padronizados, notadamente no que se refere às
características do produto negociado, conforme
a contribuição do processo supracitado, entre 2005 e 2008 o aumento de alimentos passou regulamentação da Bolsa. Através desses contratos, as
partes compradora e vendedora se comprometem a
de 70% de arroz para 130% de trigo. Os preços nos mercados mundiais caíram comprar e vender determinada quantidade de um ativo
financeiro ou ativo "real" (bens tangíveis), em uma data
subsequentemente, mas em muitos países em desenvolvimento eles quase não caíram. E futura, a um preço predeterminado. Por serem
padronizados, os contratos futuros são negociáveis em
depois de 2010 eles começaram a subir novamente. Para os muito pobres, que nesses bolsa. Constituem a base do chamado mercado
futuro ou mercado de futuros.
países alocam até 80% da renda familiar para a alimentação básica, os efeitos têm sido
desastrosos. Comentado [LGPdS26]:
Comentado [LGPdS27]: battuta causa soltanto l’aumento
Reduzir a pobreza extrema e o número de pessoas famintas até 2015 faz parte dos del valore dei relativi contratti, provoca poi in rapida
sequenza l’aumento del prezzo degli alimenti perché vengono
famosos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, decorrentes da Declaração adotada considerati dei battipista di quest’ultimo. Con il contributo
del suddetto processo, tra il 2005 e il 2008 gli aumenti dei
pelos 198 países presentes na Cúpula do Milênio da ONU em setembro de 2000. Agora é generi alimentari sono andati dal 70% del riso al 130% del
grano. Sui mercati mondiali i prezzi sono in seguito diminuiti,
certo - estamos em 2012 - que, devido à crise em muitos países, estes objetivos, para a ma in molti paesi in via di sviluppo non sono scesi quasi per
niente. E dopo il 2010 hanno ricominciato a salire. Per i
maioria dos quais a última data indicada é apenas 2015, não serão alcançados. Eles não poverissimi, che in quei paesi arrivano a destinare sino
all’80% del reddito familiare agli alimenti di base, gli effetti
serão porque os Estados ricos, suas classes dominantes e os membros locais da classe sono stati disastrosi

capitalista transnacional não pretendem gastar os dólares ou euros necessários para


efetivamente liderar/efetivar/ a luta contra a pobreza e a fome. A renda do mundo agora
excede 65 trilhões de dólares (65.000 bilhões). O Relatório de Desenvolvimento Humano
da ONU de 2003 estimou que seriam necessários US $ 76 bilhões por ano para erradicar
a pobreza extrema e a fome. Podemos supor que em nossos dias a quantia aumentou, para
dizer muito, para 100 bilhões

Agora, alguém se pergunta que tipo de mundo é aquele que produz valor para 65
trilhões de dólares por ano e não encontra uma centena, equivalente a 1/650 do total, para
derrotar a pobreza e a fome. Os governos dos países ricos afirmam ter cofres vazios. Entre
estes, os governos italianos se distinguem de uma maneira particular. No ranking da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) dos 23 países
doadores para Assistência Oficial ao Desenvolvimento, a Itália ocupa o último lugar,
dedicando apenas 0,16% do PIB à cooperação para o desenvolvimento, em 2009, muito
longe da meta de 0,5% até 2010 e 0,7% até 2015, meta em relação a qual a Itália aderiu
assim como outros países industrializados. Há apenas a Coreia atrás de nós.
Isso também é uma forma de luta de classes?
Isso se deve também a uma política de governos que está atenta para não
incomodar os que têm alta renda: até certo ponto, se você decidir pagar alguns bilhões
para combater a pobreza e a fome, ou isso é retirado dos sistemas de proteção, que já
estão sob a pressão assassina de políticas de austeridade, ou exige-se tributação para as
classes mais ricas. Em um país como a Itália, isso equivaleria a algumas centenas de euros
por ano para rendimentos acima de 200.000 euros. Uma taxa certamente não punitiva para
ninguém, mas aparentemente impossível de ser alcançada. Por três razões: porque é uma
meta para a qual não se dá nenhum peso; porque aqueles que declaram uma renda como
essa são apenas uma pequena fração daqueles que realmente a recebem e, por último mas
não menos importante, porque os representantes dos interesses da classe dominante são a
maioria no parlamento.

De muitas maneiras, os modestos recursos destinados a reduzir a pobreza e a fome


no mundo representam uma forma de luta de classes. Uma luta indireta, diferente da luta
fiscal, mas não menos importante, porque significa total indiferença ao destino de bilhões
de pessoas. Já mencionei outras vezes a piada de um personagem que há muito tempo era
presidente do Banco Mundial – então não exatamente um rebelde - e que se chamava
James Wolfensohn. O que ele tinha a dizer: quando metade do mundo na hora do almoço
assiste a outra metade passando fome na TV, a civilização chegou ao fim. Essa piada, em
suma, é um epítome eficaz - ou talvez um epitáfio - da luta de classes conduzida contra Comentado [LGPdS28]: Síntese / resume

os mais pobres.

Com referência a essa total indiferença ao destino de milhões de pessoas, eu retomaria


outra fala, não menos dura, que circulou muito, segundo a qual é melhor ser uma vaca
na Europa do que um pobre do Sul do mundo. A referência é ao fato - também apontado
por Wolfensohn - de que uma vaca na Europa recebe uma quantidade considerável de
subsídios públicos por dia superior aos que bilhões de pessoas no mundo, que agora
vivem em condições de pobreza extrema, têm à sua disposição.
Esta circunstância tem consequências negativas diretas nas classes rurais dos
países emergentes. Por exemplo, graças aos significativos subsídios da UE para a
agricultura, a manteiga bávara ou o queijo francês podem ser vendidos na Mongólia ou
no Sudão a custos mais baixos do que a produção local. Isso resulta em um conflito nos
mercados domésticos que acaba expulsando os agricultores e criadores locais da
produção. Obrigado às vacas europeias.

Você pensa em outras formas de luta de classes no mundo, além daquelas consideradas
até agora?
Sim, claro: por exemplo, aquela que perpassa os ataques aos sindicatos, o que há
muito também é evidente na Itália. Embora não sejam propriamente uma partido político, Comentado [LGPdS29]: FORMAZZIONE – revisar
significado em Finanzcapitalismo
nos trinta anos do pós-guerra - como já mencionei - os sindicatos tiveram uma influência
significativa na mudança da distribuição de renda em favor dos empregados e, sobretudo,
na ampliação dos direitos dos trabalhadores. Precisamente por estas duas razões, os
sindicatos estão passando por um forte ataque por parte dos governos de centro-direita e
até mesmo por parte dos governos de centro-esquerda, na Europa, desde os anos oitenta.

Os governos fizeram todo o possível para enfraquecer o poder e também a


representatividade dos sindicatos. Basta pensar nas ações de Margaret Thatcher, seguidas
pelas do presidente norte-americano Ronald Reagan, que com a demissão de dezenas de
milhares de trabalhadores em diferentes setores da economia conseguiram um sucesso
notável em reduzir drasticamente o poder dos representantes sindicais. Assim, na Europa,
como nos EUA, tem havido uma perda acentuada de participação em sindicatos,
especialmente na indústria e nos serviços; um pouco menos no emprego público. Isso
também faz parte da campanha em curso, desencadeada na Itália há alguns anos, com a
centro-direita que retrata os sindicatos como retrógrados, relíquias de uma época passada,
instituições não mais funcionais para a indústria e serviços modernos.

Mesmo uma grande parte da centro-esquerda afirma que eles devem


"modernizar", isto é, devem aceitar qualquer condição de trabalho que as empresas lhes
proponham. Tudo isso faz parte de uma luta de classes que não ataca diretamente a classe,
mas que, gostemos ou não, representou até hoje um importante baluarte. Na Itália, o
último pesado ataque legislativo ao sindicato foi realizado por meio de um artigo incluído
no decreto sobre a manobra econômica de setembro de 2011. Ele efetivamente esvazia
tanto os contratos coletivos nacionais de trabalho quanto todo o Estatuto dos
Trabalhadores de 1970, qualquer disposição legislativa pode ser dispensada se o sindicato
mais representativo em uma base territorial - portanto, também qualquer sindicato de
conveniência, ou majoritário em apenas uma área geográfica limitada - concorda com a
empresa.
Devemos acrescentar Tribunal Europeu de Justiça também auxiliou/deu uma mão
para enfraquecer os sindicatos, essa uma organização cujas decisões aparecem fortemente
orientadas pela ideologia neoliberal, sobre a qual eu gostaria de ir mais longe. Ela tem se
pronunciado repetidamente contra iniciativas sindicais destinadas a reduzir o dumping
salarial entre países da UE (por exemplo, uma empresa da Estônia que trabalha na França
pode legitimamente reivindicar trabalhadores franceses a taxas estônias) ou violação da
legislação trabalhista do país anfitrião, mais avançada, por uma empresa estrangeira.
Segundo o Tribunal, isso seria contrário às regras do mercado comum europeu,
especialmente no que se refere aos acordos sobre o comércio de serviços. Existem
infinitos campos da sociedade em que a luta de classes pode ser conduzida de cima para
baixo.

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