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conflito, ou uma forte presença pública de partidos que fazem das classes e talvez da luta
de classe sua bandeira. Uma classe social existe independentemente de formações
políticas que reconheça ou negue sua existência, e até mesmo do que seus membros
pensam ou acreditam nela.
Recorrendo a uma expressão que também remonta há muito tempo, fazer parte de
uma classe social significa pertencer, querendo ou não, a uma comunidade de destino,
sofrendo todas as consequências dessa pertença. Significa ter maiores ou menores
chances de passar, na pirâmide social, de uma classe baixa para uma classe superior; ter
maiores ou menores chances de se beneficiar de uma quantidade de recursos, de bens
materiais e imateriais, suficientes para tornar a vida mais agradável e talvez mais longa;
dispor ou não, de algum modo, do poder de decidir o próprio destino, poder escolhê-lo.
Para definir uma classe, em suma, é necessário, mas não suficiente, dizer que é uma
comunidade de destino: ela também se enquadra na definição da possibilidade de que
aqueles que estão apartados do poder influenciem o destino em si, para serem capazes de
modificá-lo. Comentado [LGPdS3]: Per definire una classe, insomma, è
necessario ma non basta dire che è una comunità di destino:
Então, há outras razões que levaram muitos, por um longo tempo, a afirmar que rientra nella definizione anche la possibilità per chi vi
appartiene di poter influire sul destino stesso, di poterlo in
as classes sociais não existem mais. Uma delas é a relativa homogeneização do consumo qualche misura cambiare.
e estilo de vida da classe operária, da classe trabalhadora e das classes médias. As famílias
dos operários e pedreiros, trabalhadores de armazéns e motoristas de ônibus têm, em
muitos casos, o carro, a TV de tela plana, o celular, a máquina de lavar roupa, moram em
uma casa particular, mandam seus filhos para a escola pelo menos até no final do ensino
médio e eles passam férias na praia: assim como as famílias de gerentes de empresas,
profissionais, funcionários da administração pública, comerciantes, pequenos
empresários que formam a classe média ou a burguesia de pequena e média classe, como
uma vez foi chamada.
Aqui é naturalmente necessário esclarecer: uma coisa é o estilo de vida ou o
consumo de massa que pode ser observado visualmente; outra é a qualidade do trabalho
que um indivíduo realiza, a possibilidade de crescimento profissional, a probabilidade de
ascender na escala social, o fato de ter ou não ter alguém na cabeça que lhe diz o tempo
todo o que você deve fazer. Nesta perspectiva, as diferenças de classe permanecem
visíveis, mesmo se, devido à Grande Crise que explodiu em 2007 e se tornou uma Grande
Recessão que durará talvez muitos anos, uma parte da classe média tenha sofrido uma
espécie de processo de proletarização.
Outra razão para afirmar que as classes sociais não existem, que remonta ainda
mais no tempo, mas que até hoje ouvimos novamente de políticos de direita (não menos
que de centro-esquerda) é grosseiramente ideológica. Parece que: trabalhadores, gerentes
e proprietários têm interesse em como uma empresa que funcione bem e obtenha bons
lucros. Eles estão, dizem eles, no mesmo barco. Afirmar que eles têm interesses diferentes
e, portanto, pertencem a classes objetivamente opostas é uma ideia desprovida de
significado, se afirma, e é até prejudicial para todas as partes envolvidas. Portanto,
trabalhadores e sindicatos devem ser "cúmplices" de gerentes e proprietários: foi dito por
ninguém menos que um ministro italiano do Trabalho, Maurizio Sacconi, quebrando uma
tradição que tem visto uma sucessão de políticos dedicados a encontrar maneiras de
regular o conflito estrutural entre as duas partes, não para disfarçá-lo. Há quase dois
séculos e meio, Adam Smith explicara perfeitamente por que a ideia de que trabalhadores
e patrões podem ou deveriam ser "cúmplices" não se sustenta: os trabalhadores, pelo
cargo que ocupam, sempre desejariam obter salários mais altos; os proprietários, pelos
meios de produção que controlam, sempre desejariam pagar salários mais baixos.
Classe operária, classe trabalhadora, classe média. Mas como você estabelece que certos
grupos ou camadas sociais pertencem a uma ou outra classe? No final, até mesmo um
artesão pode dizer com razão que ele é um trabalhador. E um gerente que ganha cinco
ou dez vezes mais do que um trabalhador ainda é um empregado que pode ser demitido.
a passagem da classe in sé para a classe per sé, ou seja, a passagem da classe do estado
2 estens. Che non ammette replica, discussione,
de mera categoria objetiva para o estado de sujeito consciente e, portanto, capaz de
obiezione: ordine p.; un p. rifiuto; perentorie
realizarem uma ação política unitária. necessità
|| Autoritario: un tono p.
Nesta perspectiva, o que significa a expressão luta de classes?
Significa duas coisas ao mesmo tempo. Para aqueles que não estão satisfeitos com
o seu destino, os eventos que a vida lhes parece oferecer para um futuro distante, significa
mobilizar para tentar melhorar, juntamente com outros que estão na mesma condição, o
seu próprio destino por diferentes meios; ou pelo menos para evitar que piore. Mas há
também a outra situação, a dos que estão satisfeitos com o próprio destino e gostariam de
defendê-lo, ou que, de qualquer modo, veem com apreensão a possibilidade de que sejam
comprometidos. Esta situação se refere à luta de classes conduzida por aqueles que no
passado saíram em melhores condições dessa, classificando-se de alguma forma como
seus vencedores.
Devemos ainda ter em mente que em ambos os casos aqueles que querem defender
sua posição social - porque defender seu destino significa precisamente isso - ou pelo
contrário querem melhorá-lo, não se significa que devem fazê-lo apenas tomando as ruas,
fazendo discursos públicos ressonantes, intervindo em eventos ou organizando-os.
A luta de classes tem aspectos evidentes/visíveis/perceptíveis e outros muito
menos aparentes. A luta de classes tem componentes econômicos, referentes à renda
obtida com o trabalho ou o capital, a riqueza da qual a família dispõe, ou a distribuição
de uma ou outra; em essência, componentes que afetam a possibilidade de usufruir de
benefícios materiais ou não. E obviamente tem componentes políticos, que têm a ver com
a possibilidade de poder exercer ou não algum poder nos locais onde se decidem as leis,
as regras que regulam a vida de uma sociedade e, nela, a vida de todas as classes sociais.
Existe também uma luta cultural. Essa cnsiste, por exemplo, em reessaltar os
méritos da posição social que se ocupa lida e descrever negativamente a posição social
de outros, especialmente as classes com as quais uma determinada classe está
competindo, lutando. Esta forma de luta também pode consistir em tentar mostrar que
aqueles que têm um destino ingrato - no nível de trabalho, saúde, educação, na fruição de
aspectos significativos da existência, a falta de poder e perspectivas – no fundo só se deve
a si mesmo. Esse esquema interpretativo faz parte da luta de classes há pelo menos
duzentos anos, mas agora é usado como talvez nunca antes fora. Por um lado, descreve-
se a própria posição, quando é gratificante, como resultado de mérito; por outro lado,
descreve-se como o resultado de um demérito, se não uma falha, a posição de quem, em
vez disso, aquela espécie de jaula de ferro na qual se encontra traz recursos escassos, falta
de poder e uma vida um pouco mais curta, pobre e cruel.
Pergunta: Assumindo que hoje há algo que pode ser definido como uma luta de classes,
qual seria sua característica principal?
Há um fato historicamente comprovado: entre o final da segunda guerra mundial
e o final dos anos 70 e início dos anos 80, a classe trabalhadora e, mais comumente, a
classe de trabalhadores dependentes/assalariados/empregados, começando por aqueles
que trabalham na fábrica, obtiveram, em parte com suas lutas, em parte por razões
geopolíticas, importantes melhorias em sua condição social. Mesmo sem querer chamá-
los, à moda francesa, dos Gloriosos Trinta Anos, foi um período em que dezenas de
milhões de pessoas tinham pela primeira vez um emprego estável e relativamente bem
remunerado. Basta pensar, no que diz respeito ao nosso país, que em 1951, ano do
primeiro censo do pós-guerra, existiam centenas de milhares de trabalhadores na Itália, Comentado [LGPdS5]: Braccianti são trabalhadores
que eram recrutados ilegalmente, que trabalhavam em média 140 dias por ano. jornaleiros, Chi lavora a giornata, come operaio o
contadino
Para esses estratos sociais, o emprego estável na indústria tem sido um grande || Lavoratore salariato del settore agricolo
avanço social. Os salários reais aumentaram; Em muitos países, incluindo a Itália, os
Comentado [LGPdS6]: 4 fig. Chi pratica il
sistemas públicos de proteção social foram introduzidos ou ampliados, de pensões caporalato: sistema di reclutamento illegale della
baseadas no método pay-as-you-go (pelo qual o trabalhador ativo contribui para pagar a manodopera
pensão daqueles que se aposentaram, método que o coloca fora dos preços do mercado
de ações e da inflação) ao sistema nacional de saúde; as horas de trabalho foram reduzidas
em cerca de 2-300 horas por ano (o que significa quase dois meses a menos de trabalho);
semanas de férias pagas foram prorrogadas por semanas.
Finalmente, em muitos países, a partir do nosso, os direitos dos trabalhadores têm
sido tratados como referentes à pessoas e não a bens que são usados quando são
necessários ou são descartados de outra forma. Essas conquistas, começando com os
sistemas públicos de proteção social, foram o resultado de reformas legislativas -
referindo-se aqui ao nosso Estatuto dos Trabalhadores de 1970, feito por um ministro do
trabalho socialista, Giacomo Brodolini, e amplamente escrito por um jovem advogado
trabalhista-socialista, Gino Giugni – não menos importantes que a impressionante luta
sindical. Sem esquecer o movimento dos estudantes que na Itália como na França e na
Alemanha contribuíram no final dos anos 60 para incluir na agenda política o pedido de
uma democracia mais participativa.
Deve-se notar que as conquistas em questão foram também o resultado de um
quadro geopolítico que mudou rapidamente após o final dos anos 80. No Oriente havia,
de fato, a grande sombra da URSS, o gigante cujos movimentos eram temidos, o que
poderia ser considerado de alguma forma representado no Ocidente por importantes
partidos políticos, como o Partido Comunista na França e na Itália. As classes dominantes
foram induzidas a ceder uma parte de seus privilégios, com relativas limitações. Em todo Comentado [LGPdS7]: Dúvida grande aqui: tutto sommato
limitata (todos os privilégios foram limitados ou esse ato de
caso, isso significou uma redução no poder de que desfrutavam, em parte devido às lutas ceder se deu com limitações?
dos trabalhadores, em parte devido à crença de que era melhor seguir nessa direção para
que a sombra no Oriente não exercesse muita influência no contexto político ocidental.
Por volta de 1980, teve início em muitos países - Estados Unidos, Reino Unido,
França, Itália, Alemanha - o que alguns chamaram de contra-revolução e outros,
Comentado [LGPdS8]: enace
referindo-se a um trabalho do estudioso francês Serge Halimi em 2004, um grande salto [te-nà-ce]
para trás. As classes dominantes se mobilizaram e começaram a conduzir uma luta de agg. (pl. -ci)
classes de cima para recuperar o terreno perdido. Recuperação semelhante resultou em
múltiplas iniciativas específicas e convergentes. Em primeiro lugar, visava conter os
1 Che tiene, che fa presa: colla molto, poco t.
salários reais, isto é, a renda do emprego; reintroduzir condições de trabalho mais
rigorosas nas fábricas e escritórios; para aumentar novamente a parte dos lucros no PIB 2 Che resiste alla pressione, alla
que havia sido corroída pelos aumentos salariais, pelos investimentos e por impostos do deformazione: legno elastico e t.
período entre o final da Segunda Guerra mundial e os anos oitenta. || Resistente, solido, robusto: filo di nailon sottile
ma t.
Basicamente, a luta de classes não se esvaneceu, absolutamente. Se algo
aconteceu, foi que a luta que havia sido conduzida de baixo para melhorar o destino deu 3 fig. Di persona, fermo, costante, saldo: un uomo
lugar a uma luta conduzida de cima para recuperar os privilégios, os lucros e, molto t.; t. nell'agire, nel volere; t. sostenitore di
especialmente, o poder que tinha se erodido até certo ponto nos trinta anos anteriores. un'idea; carattere, volontà t.
CONT. incostante, volubile
A principal característica da luta de classes no nosso tempo é esta: a classe
daqueles que, de diferentes pontos de vista, devem ser considerados vencedores - um 4 fig. Di cosa, persistente, durevole: un ricordo
termo muito apreciado por aqueles que acreditam que a humanidade deve inevitavelmente t.; amore t.; sforzo, lavoro t.
dividir-se em vencedores e perdedores - está liderando uma tenaz luta de classes contra a CONT. effimero, transitorio
trabalho, privatização de bens comuns - da água ao transporte público - promulgadas em Se refere à cola ideológica
vários países desde os anos 80, e hoje o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco
Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia (CE) gostariam de impor, sem exceção, a
todos os membros da União Europeia (UE), ou pelo menos aos da zona euro, são uma
parte essencial da contra-ofensiva a que me referi anteriormente
Tal contra-ofensiva nunca teria tido o sucesso que teve se não pudesse tomar
forma e confiar em leis, decretos, regulamentos e diretivas que foram concebidos e
aprovados especificamente pelos parlamentos, sob a pressão de lobbies industriais e
financeiros, em vista de um duplo objetivo: enfraquecer o poder das classes trabalhadoras
e das classes médias e, ao mesmo tempo, aumentar o poder da classe dominante. A isto
deve ser adicionado o financiamento, da ordem de centenas de milhões por ano, que estes
lobbies dão aos candidatos nas eleições gerais: refiro-me a deputados, senadores e
presidentes da República - neste último caso, obviamente, em países como EUA e França,
onde o presidente é eleito pelo povo - do qual as corporações industriais e financeiras
pretendem assegurar uma benevolente atenção quando estiverem no comando.
Posteriormente, há o deslocamento de pessoal de um campo para outro. Além da
deferência que muitos políticos sempre demonstraram, especialmente nas últimas
décadas, em relação à riqueza e ao poder econômico - um caso eminente é Nicolas
Sarkozy - não podemos esquecer a existência de portas giratórias pelas quais se veem,
constantemente, alguns políticos se tornando parte da classe capitalista global e vice-
versa. Muitos ministros e assessores econômicos de presidentes americanos e chefes de
governo no Reino Unido, assim como na França, Itália e Alemanha, foram
administradores de grandes empresas financeiras e trouxeram para a política a capacidade
de transferir, diretamente para leis e decreto, interesses do mundo industrial e financeiro,
com forte aumento do poder do segundo nos últimos trinta anos.
A cola ideológica tem grande importância porque permite que essa nova classe Comentado [LGPdS14]: collante ideológico
dominante transnacional pense e se expresse da mesma maneira, onde quer que esteja collante: [col-làn-te] (pl. -ti)
localizada. Deste ponto de vista, uma de suas representações mais emblemáticas é a
convenção anual do World Economic Forum, que ocorre em Davos, na Suíça. A agg.
Aproximadamente 3.000 d personalidades se encontram, incluindo altos executivos,
industriais, banqueiros e políticos, com o enfeite de vários acadêmicos. Esse é um dos Di sostanza che incolla, che fa aderire
lugares típicos da elaboração ideológica em que se focam em pontos de vista e regras a tenacemente
A ironia dos números significa que na França os cortes acima mencionados devem
chegar a cerca de 100 bilhões, de acordo com o que o primeiro-ministro François Fillon
declarou no início de novembro de 2011. Na Itália, podemos lembrar a abolição do
imposto sobre a propriedade municipal (ICI), do qual certamente muitos cidadãos se
regozijaram, agora já restaurados. Infelizmente, no entanto, a abolição do ICI esvaziou
por vários anos os cofres dos municípios e os mesmos cidadãos tiveram que/foram
obrigados a cortar creches, escolas, serviços familiares, transporte local e assistência a
famílias desfavorecidas.
Outra forma de luta de classes por meio do fisco, na Itália, consistia em uma
repetida série de anistias fiscais – agora não mais concedidas - que eram um prêmio muito Comentado [LGPdS19]: Dúvida aqui: ormai non si
contano più
alto, nunca visto em qualquer outro país europeu, para aqueles que não pagam impostos.
Em vez disso, elas têm sido zombeteiramente punitivas para todos aqueles que, por causa
de um senso cívico ou por causa da impossibilidade de escapar, pagam impostos.
Deve-se notar também que na Itália a tributação sobre herança foi praticamente
abolida, pelo menos em relação aos descendentes diretos, com argumentos infalíveis
desse tipo: "Não é certo que se crie um negócio, erguido com os esforços de uma vida, e
depois ter que pagar um imposto quando ele é passado para aos filhos. ". Agora, o imposto
é pago não pelo fundador, mas pelos filhos, que se deparam com um presente que, muitas
vezes, não ajudaram a criar. Se o valor real de uma empresa, ou de uma residência, o
valor de qualquer bem que é transmitido aos descendentes, você paga um imposto de 10
ou 15%, parece difícil argumentar que o patrimônio é sequestrado juntamente com uma
vida inteira de trabalho.
Deve-se notar que as taxas acima, mesmo que reduzidas, são as taxas oficiais de
tributação. Na realidade, um bom número de empresas em todos os países paga muito
menos por várias razões. Em primeiro lugar, novas regras contábeis possibilitaram que os
impostos efetivamente pagos fossem calculados de uma maneira muito mais vantajosa do
que duas ou três décadas atrás. Em segundo lugar, as corporações praticam formas de
elisão e evasão fiscais em larga escala. Para este propósito, os escritórios jurídicos de
milhares de subsidiárias das grandes corporações são registrados em alguma ilha
caribenha ou no Canal da Mancha: são as chamadas "ilhas do tesouro", onde se paga
impostos mínimos. Por fim, deve-se notar que uma grande parte de sua produção foi
realocada para países emergentes, de modo que os impostos são pagos por empresas não
do país de origem, mas desses países, onde geralmente eles são muito pequenos.
receita deste imposto, que, houve um tempo ultrapassava 30% das receitas federais, em
2010, encolheu para menos de 6%. Pelas mesmas razões, uma queda proporcional de
impostos pagos pelas empresas foi registrada na França: empresas cujo desempenho se
reflete no índice de ações Cac40, o maior do país, hoje contribuem para a receita tributária
do Estado em apenas 7%.
A este respeito, causou furor o caso da Total, gigante do petróleo que em 2010
gerou 12 bilhões de lucros mas, de acordo com legislação em vigor, não pagou um euro
de imposto ao Hexágono: limitou-se a pagar alguns milhões de compensação para as Comentado [LGPdS21]: Forma de se refererir à França
comunidades nas quais operam as poucas plantas deixadas em sua terra natal.
Pense nesse tipo de fardo sobre a vida cotidiana que é o deslocamento casa-
trabalho. Em muitas cidades da União Europeia e dos Estados Unidos, a renda financeira
colossal tributada a taxas favoráveis fez com que o preço dos imóveis ou aluguéis no
centro das grandes cidades se tornasse tão alto que expulsou quase toda a população que
tradicionalmente ali residia. Estas são figuras profissionais valiosas para a vida de uma
cidade, mas na cidade elas não têm mais a oportunidade de viver. Então, suas existências
serão sob o peso de com várias horas de deslocamento. Portanto, não é apenas uma
questão de aceitar pacificamente que os ricos estão ficando mais ricos. O ponto de
interrogação é outro: a vantagem fiscal produz diretamente uma piora geral da qualidade
de vida das classes trabalhadoras e das classes médias.
Que outras formas existem para conduzir a luta de classes de cima para baixo usando o Comentado [LGPdS23]: Condurre:
Neste caso, a luta de classes tomou visivelmente a forma - mais uma vez através
da lei - da tentativa de impedir que a modesta reforma de Obama acontecesse. E neste
caso, como em outros, a luta de classes foi realizada com centenas de milhões de dólares.
Estima-se que os lobbies das companhias de seguros, médicos e outros especialistas
gastaram cerca de 300 milhões de dólares para evitar que os 46 milhões de americanos
totalmente sem proteção da saúde recebam quaisquer benefícios. A reforma então passou,
no sentido de que 32 milhões de americanos, dos 46 que estavam completamente sem
seguro de saúde, terão acesso a uma modesta cobertura de seguro privado. Depois que os
republicanos recuperaram a maioria na Câmara nas eleições de meio de mandato de 2010,
nem sequer está certo de que a reforma possa sobreviver. A essência da questão é que,
onde existe o modelo social europeu, tenta-se demoli-lo; onde não há, intervém-se em
todos os sentidos para evitar que se desenvolva.
Isso significa que em megalópoles como São Paulo, Jacarta, Nova Délhi -
aglomerações nas quais 20 milhões de pessoas vêm se amontoar - nas favelas, vive uma
média de pelo menos 4 milhões de pessoas. Nas favelas, é claro, não apenas vivemos
menos bem, mas vivemos ainda menos, porque as doenças, a mortalidade infantil, a
violência e os assassinatos são mais difundidos. A autoridade pública não existe nas
favelas, ou só ganha vida para caçar alguns vendedores ambulantes.
Não se está dizendo que todos os que vivem nas favelas são tão pobres quanto o
agricultor africano que vive debaixo de uma tenda à beira do deserto; eles são, no entanto,
a expressão da total falta de poder humano, de uma absoluta falta de poder político e
também de economia. Não é coincidência que tanto as Nações Unidas quanto o Banco
Mundial falem a esse respeito, mostrando pouco senso de ironia, sobre promover o
empoderamento, o que significaria fornecer maiores poderes a última pessoa na terra. O
habitante das favelas é, por definição, desprovido de qualquer poder: porque não tem a
possibilidade, se não de forma limitada, de mudar de residência; porque ele não tem o
poder de intervir em sua renda; porque ele não pode mandar seus filhos para a escola;
porque na maioria dos casos não pode se defender contra o mau tempo, o clima, a doença
ou até mesmo de pequenos potentados locais. As favelas são realmente um outro planeta,
lembrando certos filmes pós-bombardeio, quando a destruição total reduziu os
sobreviventes a uma vida que é nada menos que primordial, feita de fome, violência,
astúcia e força usada contra os mais fracos.
Há uma sobreposição parcial entre uma parte dos habitantes do planeta das favelas e os
do planeta dos extremamente pobres. Até mesmo a pobreza extrema pode ser
considerada um dos resultados da luta de classes em nível mundial?
Em alguns aspectos sim. A população que vive em pobreza extrema - a pobreza
de um ou dois dólares por dia, calculada de acordo com o mesmo poder de compra, em
dólares, de 2005, que é a referência convencional para comparar as estatísticas nacionais
entre si - não apenas não possui nada parecido com uma casa, mas também inclui a
maioria dos famintos do mundo.
Lembre-se de que a Grande Recessão fez com que o número total de pessoas
famintas no mundo subisse novamente acima do bilhão de pessoas - não necessariamente
coincidindo com a população das favelas, porque uma certa parte consegue obter algo
para se alimentar.
Agora, alguém se pergunta que tipo de mundo é aquele que produz valor para 65
trilhões de dólares por ano e não encontra uma centena, equivalente a 1/650 do total, para
derrotar a pobreza e a fome. Os governos dos países ricos afirmam ter cofres vazios. Entre
estes, os governos italianos se distinguem de uma maneira particular. No ranking da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) dos 23 países
doadores para Assistência Oficial ao Desenvolvimento, a Itália ocupa o último lugar,
dedicando apenas 0,16% do PIB à cooperação para o desenvolvimento, em 2009, muito
longe da meta de 0,5% até 2010 e 0,7% até 2015, meta em relação a qual a Itália aderiu
assim como outros países industrializados. Há apenas a Coreia atrás de nós.
Isso também é uma forma de luta de classes?
Isso se deve também a uma política de governos que está atenta para não
incomodar os que têm alta renda: até certo ponto, se você decidir pagar alguns bilhões
para combater a pobreza e a fome, ou isso é retirado dos sistemas de proteção, que já
estão sob a pressão assassina de políticas de austeridade, ou exige-se tributação para as
classes mais ricas. Em um país como a Itália, isso equivaleria a algumas centenas de euros
por ano para rendimentos acima de 200.000 euros. Uma taxa certamente não punitiva para
ninguém, mas aparentemente impossível de ser alcançada. Por três razões: porque é uma
meta para a qual não se dá nenhum peso; porque aqueles que declaram uma renda como
essa são apenas uma pequena fração daqueles que realmente a recebem e, por último mas
não menos importante, porque os representantes dos interesses da classe dominante são a
maioria no parlamento.
os mais pobres.
Você pensa em outras formas de luta de classes no mundo, além daquelas consideradas
até agora?
Sim, claro: por exemplo, aquela que perpassa os ataques aos sindicatos, o que há
muito também é evidente na Itália. Embora não sejam propriamente uma partido político, Comentado [LGPdS29]: FORMAZZIONE – revisar
significado em Finanzcapitalismo
nos trinta anos do pós-guerra - como já mencionei - os sindicatos tiveram uma influência
significativa na mudança da distribuição de renda em favor dos empregados e, sobretudo,
na ampliação dos direitos dos trabalhadores. Precisamente por estas duas razões, os
sindicatos estão passando por um forte ataque por parte dos governos de centro-direita e
até mesmo por parte dos governos de centro-esquerda, na Europa, desde os anos oitenta.