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Campanha da Fraternidade 2019_Texto breve

-Apresentação
Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresenta a Campanha da
Fraternidade como caminho de conversão quaresmal. Um caminho pessoal, comunitário e social que
visibilize a salvação paterna de Deus. Neste tempo de mudança, de conversão, de transformação, a
Igreja no Brasil propõe que este tema seja meditado, refletido e rezado, pois como cristãos, somos
chamados à participar da transformação da sociedade. Um modo de sermos cristãos ativos é ajudar na
proposição, discussão e execução de Políticas Públicas para que as pessoas possam ser libertadas pelo
direito e pela justiça.
A participação dos cristãos na sociedade possibilita fortalecer a vida social nas suas relações. Construir
a fraternidade, cuidar do bem comum e fortalecer a cidadania expressa na força transformadora do
Evangelho no cotidiano das comunidades. É tarefa de todo o cristão participar na elaboração e
concretização de ações que visem melhorar a vida de todas as pessoas.
-Tema e Lema
O tema da Campanha da Fraternidade de 2019 é: “Fraternidade e políticas públicas”. O lema: “Serás
libertado pelo direito e pela justiça”, que foi extraído do livro de Isaías (1,27).
-O Objetivo Geral da Campanha de 2019 é: Estimular a participação em Políticas Públicas, à luz da
Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de
fraternidade.
-O que são Políticas Públicas?
Políticas Públicas são ações discutidas, aprovadas e programadas para que todos os cidadãos possam ter
vida digna. São medidas e programas criados pelos governos dedicados a garantir o bem estar da
população. São soluções específicas para necessidades e problemas da sociedade. É a ação do Estado
que busca garantir a segurança, a ordem, o bem-estar, a dignidade, por meio de ações baseadas no
direito e na justiça.
Política pública não é somente a ação do governo, mas também a relação entre as instituições e os
diversos atores, sejam individuais ou coletivos, envolvidos na solução de determinados problemas. Para
isso, devem ser utilizados princípios, critérios e procedimentos que podem resultar em ações, projetos
ou programas que garantam ao povo os direitos e deveres previstos na Constituição Federal e em outras
leis. Além desses direitos, outros que não estejam na lei podem vir a ser garantidos através de uma
política pública. Isso pode acontecer com direitos que, com o passar do tempo, sejam identificados
como uma necessidade da sociedade.
-Quem cria e executa as políticas públicas?
O planejamento, a criação e a execução dessas políticas é feito em um trabalho em conjunto dos três
Poderes que formam o Estado: Legislativo, Executivo e Judiciário.
O Poder Legislativo ou o Executivo podem propor políticas públicas. O Legislativo cria as leis
referentes a uma determinada política pública e o Executivo é o responsável pelo planejamento de ação
e pela aplicação da medida. Já o Judiciário faz o controle da lei criada e confirma se ela é adequada para
cumprir o objetivo.
-Tipos de políticas públicas
Por serem programas relacionados com direitos que são garantidos aos cidadãos as políticas públicas
existem em muitas áreas. São exemplos: educação, saúde, trabalho, lazer, assistência social, meio
ambiente, cultura, moradia, transporte…
-Como participar da escolha das políticas públicas
Para que as políticas públicas possam atender as principais necessidades da sociedade é importante que
os cidadãos também participem do processo de escolha dando a sua opinião. Isso pode acontecer de
diferentes maneiras, dependendo da esfera de governo. O governo federal possibilita a participação
através de consultas feitas com a população. Para ver a lista completa das consultas abertas acesse o site
do Portal Brasil.

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Nos estados e nos municípios a informação sobre as formas de participação, como o orçamento
participativo, pode ser obtida nas secretarias de governo ou secretarias de políticas públicas do estado
ou da prefeitura da sua cidade. Essa informação também pode ser encontrada no Portal da
Transparência.
-Iluminando com a Palavra da Igreja
A Campanha da Fraternidade de 2019 dará continuidade e profundidade a um dos legados prioritários
do Ano Nacional do Laicato, celebrado em 2018, que insiste na participação ativa e consciente dos
cristãos na sociedade, sempre considerando os princípios do Evangelho que orientam a ação
transformadora nos espaços públicos.
Existe uma quantidade considerável de cristãos que participam, seja pela sociedade civil ou
representando as esferas do estado brasileiro, enquanto servidores públicos, mas que nem sempre
contam com espaços para refletir sobre sua práxis cristã ou, pelo menos, para compartilhar os desafios e
construir sua intervenção nos Conselhos a partir de um debate coletivo. Acompanhar essas mulheres e
homens de fé nestes espaços se constitui num dos principais desafios à ação evangelizadora da Igreja.
Também se coloca o desafio de criar espaços de formação sistemática e continuada para que se tenha
uma atuação com competência e iluminada pela fidelidade ao Evangelho de Jesus para os tempos de
hoje.
No cenário brasileiro de 2019 será preciso ainda mais ser “Igreja em saída”: promover a cultura do
encontro e de diálogos, para aprofundar os valores e princípios do Ensino Social da Igreja, reconhecer a
participação das mulheres na Igreja e na sociedade, superando as atitudes de violência e preconceito
contra elas; construir unidade em nossa ação coletiva que supere os conflitos; considerar a realidade
concreta das pessoas e comunidades acima das ideologias e agir no local dentro de uma estratégica
global. São desafios que projetam a ação na busca de uma Ecologia Integral que valorize o
protagonismo da juventude.
-Por que é importante que o cristão participe?
Como filhos e filhas de Deus, fomos criados para cuidar de sua obra. Cuidar é um modo de participação
que o cristão, deve exercitar na sociedade. Quando esse cuidado acontece também nas dimensões
pessoais, eclesiológicas e sociais, não só fortalece a democracia, como também transforma a prática em
ações coletivas e fraternas e, consequentemente, em resolução de problemas.
Para o cristão, as Políticas Públicas são como as obras de misericórdia que recordam que a nossa fé deve
se traduzir todos os dias em gestos concretos em favor do próximo. As obras misericordiosas são
comunhão, solidariedade, caridade, fraternidade, proximidade, samaritanidade. Elas são fonte
inesgotável de transformação e identificação com Cristo. Um verdadeiro caminho de libertação e de
consumação da vida cristã. Cristo é o caminho a verdade e a vida (Jo 14,6) e, caminhando com ele, cada
cristão é convidado a viver e a praticar o amor e a misericórdia entre os necessitados.
As constantes crises políticas e econômicas abrem cada vez mais espaço para o crescimento da
descrença e desconfiança nas instituições do país. O Papa Francisco, nos adverte sobre essa
realidade: “Muitas vezes, a própria política é responsável pelo seu descrédito, devido à corrupção e à
falta de boas políticas públicas”.
O problema é que, quando deixamos de acreditar, perdemos também a capacidade de tomar iniciativas e
de manifestar interesse em mudanças, e a ganância e ambição dos que deveriam garantir os diretos e o
bem comum da população ganham cada vez mais oportunidades e protagonizam um cenário cada vez
mais desolador.
Nesse panorama brasileiro, destaca-se essa carência de políticas públicas efetivas para contemplar as
graves questões sociais do país, como o desemprego, desigualdade social, saúde, moradia, educação,
violência e exclusão social.
A atual situação do país exige o correto discernimento e responsabilidade dos cidadãos, e também das
instituições e organizações responsáveis pela justiça e construção do bem comum. A Campanha da
Fraternidade, quer ajudar os católicos a compreender sua missão, diante de uma realidade de desânimo e
ausência de esperança.

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-Ver a realidade
Falar de Políticas Públicas não é falar de política ou de eleições, mas significa refletir sobre um
conjunto de ações a serem implementadas pelos gestores públicos, com vistas a promover o bem
comum, na perspectiva dos mais pobres da sociedade.
Refletir sobre Políticas Públicas é importante para entender a maneira pela qual elas atingem a vida
cotidiana, o que pode ser feito para melhor formula-las e quais as possibilidades de se aprimorar sua
fiscalização.
Entender a política como um espaço de poder e opiniões, onde diferentes necessidades se enfrentam ou
se unem, com visões e concepções distintas em busca do interesse comum, é compreender que a política
direciona a vontade daqueles que participam dela, estando em toda a parte e não somente na ação do
Estado, ou seja, a política está na arte, nas relações de trabalho, na religião, nas empresas, clubes,
associações etc. Assim sendo podemos resumir que Política Pública não é somente a ação do governo,
mas também a relação entre as instituições e os diversos atores, sejam individuais ou coletivos
(consumidores, empresários, trabalhadores, corporações, centrais sindicais, mídia, ...), envolvidos na
solução de um determinado problema (por exemplo, a distribuição de um produto - alimentos, remédios
- para um determinado grupo que precise, programas habitacionais para pessoas de baixa renda,
incentivos fiscais, sistema de previdência, redistribuição da terra) e, para isso, são utilizados critérios e
procedimentos que podem resultar em ações, projetos ou programas para garantir os direitos e deveres
previstos na Constituição Federal e em outras leis.
Sem democracia e a participação da sociedade, a participação popular nas Políticas Públicas tendem a
refletir mais a força dos agentes do mercado, de um agente ou grupo político, ou mesmo das próprias
burocracias estatais.
Por ser um país de breves experiências democráticas, as Políticas Públicas brasileiras ainda sofrem com
a descontinuidade e dependência da vontade do comandante político, ou seja, a cada eleição no
município, estado e país, dúvidas são suscitadas sobre se haverá ou não a continuidade das Políticas
Públicas anteriormente desenvolvidas.
Compreender melhor o papel e o sentido das Políticas Públicas, despertar a consciência e incentivar a
participação de todo cidadão na construção de ações que assegurem os direitos sociais aos mais frágeis e
vulneráveis.
-Justiça social no olhar bíblico
A história da libertação do povo de Deus da escravidão do Egito, serviu aos profetas como ponto de
referência para redescobrir, nos mais diferentes contextos históricos, a vontade de Deus, e foi se
desenhando uma referência para as comunidades que escreveram os Evangelhos e os demais escritos do
Novo Testamento refletindo sobre Jesus e o Reino de Deus por ele anunciado e com ele identificado.
Deus se revela no Antigo Testamento como aquele que viu a miséria de seu povo e ouviu o seu clamor,
descendo para libertá-lo (Ex 3,7-8) e, por isso, essa experiência libertadora se constituiu o centro da fé
do povo de Israel (Dt 26,5-9). É também o paradigma da pregação dos profetas, que tentam reorientar a
vida do povo em direção ao direito e à justiça, pois, para conhecer a Deus, é necessário praticá-la.
Os profetas acentuam não o direito do possuidor, mas sim, o dos que nada possuem. Portanto, a justiça
não consiste somente na obrigação moral de dar ao outro o que é dele ou que merece: é também dar algo
a quem nada possui ou não merece. A justiça de modo nenhum pode ser praticada levando em conta a
meritocracia. É a partir dessa compreensão que são feitas advertências muito sérias às lideranças do
povo (Am 5,24; Is 1,17; Jr 22,3).
Os profetas condenam aqueles que ficam ricos às custas dos outros, aproveitando-se inclusive da
religião, para explorar e roubar os pobres. O discurso deles fundamenta-se no fato de que, se não é
respeitado o direito dos pobres, de nada valem as orações, as peregrinações e as assembleias. Por causa
disso, os profetas enfrentaram os muitos problemas que ameaçavam o povo simples em sua tentativa de
buscar uma sobrevivência digna. Denunciaram o mau funcionamento dos tribunais, criticando práticas
como o suborno, os desinteresses pelas causas dos pobres e a exploração dos mais necessitados.
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Denunciam, ainda, que legisladores, juízes e funcionários da corte insistiam em uma interpretação das
leis a seu próprio favor (Is 10, 1-4);
Para os profetas, as questões sociais estão ligadas a questões religiosas, mostram que a Palavra de Deus
conclama, insiste, para que os detentores de bens e do poder, respeitem os direitos dos indefesos:
Aprendei a fazer o bem! Buscai os direitos... fazei justiça aos órfãos e a viúvas (Is 1, 17). Os Profetas
nos indicam um modo de viver o espírito penitencial da Quaresma, ensinando que o jejum que o Senhor
quer é romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, libertar os oprimidos e quebrar toda espécie
de exploração. Reparta seu alimento com o faminto, dê abrigo aos infelizes sem asilo, vista os
maltrapilhos, em lugar de se desviar de seu semelhante (Is 58, 5-7). Nesse sentido esta Campanha da
Fraternidade é muito importante, pois nos apresenta meios para concretizar esse projeto de Deus, não
somente para os necessitados que se aproximam de nós pedindo ajuda, mas, sim, de uma forma
institucional, permanente e para uma coletividade. E o profeta conclui: Se deres do teu pão ao faminto
se alimentares os pobres, tua luz levantar-se-á a escuridão, e tua noite resplandecerá como o dia pleno
(Is 58,10).
Nos Evangelhos vemos como Jesus se interessa por cada situação humana que ele encontra. Os
discípulos que vivem com Jesus, as multidões que o encontram, veem a sua reação aos problemas mais
diversos, veem como ele fala, como se comporta, veem nele a obra do Espírito Santo, a ação de Deus.
Jesus age e ensina, começando sempre a partir de uma relação íntima com Deus-Pai, atento aos sinais do
Pai.
Apesar da resistência e dos numerosos grupos que formavam a sociedade de sua época estarem
corrompidos ou agirem somente para garantirem seus interesses, Jesus não desistiu de anunciar o Reino
de Deus. Lendo o Evangelho percebe-se inúmeras vezes a palavra “ensinar” referindo-se que ele ensina.
Aos apóstolos muitas vezes Jesus é apresentado como “mestre” ou “aquele que ensina”.
Jesus fala do seu Pai e do Reino de Deus, com o olhar cheio de compaixão, de misericórdia, pelas
necessidades e dificuldades da existência humana. Fala com grande realismo e, pode-se dizer o
essencial do anúncio de Jesus torna transparente o mundo, e a nossa vida é preciosa para Deus. Ele
revela o rosto misericordioso de Deus e nos mostra que Deus está presente nas histórias quotidianas de
nossa vida. Por isso, Jesus nos indicou o caminho da justiça e da salvação: Sede misericordiosos, como
o vosso Pai é misericordioso (Lc 6,36).
Ser discípulo ou discípula de Jesus inclui a tarefa de compreender as dimensões sociais e políticas
iluminadas pela Boa-Nova anunciada pelo mestre, pois o Reino dos Céus é a presença da justiça (Mt
6,33), ao insistir no amor ao próximo, seguindo o exemplo de amor dado por Jesus (Jo 15,12). O
próximo, conforme o Evangelho, é sobretudo aquele que mais se encontra ameaçado em sua
sobrevivência, ora por ser faminto e/ou doente, ora por ser trabalhador assalariado, ora por ser mulher,
ora por ser criança, etc.
A Doutrina Social da Igreja evidencia a necessidade de uma participação ativa e consciente dos cristãos
na vida da sociedade, sendo esse um de seus princípios permanentes. Um governo verdadeiramente
democrático é definido não somente porque foi legitimamente eleito, mas também enquanto envolve
todos os sujeitos da sociedade civil em seus diversos níveis, de modo que todos sejam informados,
ouvidos e envolvidos no que refere ao bem comum, em um processo de democracia participativa.
É fundamental o papel da comunidade cristã nessa participação ativa, uma vez que essa não é uma ação
individual. A Doutrina Social da Igreja enfatiza a necessidade de um processo de discernimento a ser
levado a termo pelas comunidades cristãs, com auxílio do Espírito Santo.
Sendo assim, o critério decisivo para julgar o comportamento das pessoas e, com mais razão, dos que
têm poder é atender às reais necessidades da pessoa humana: dos famintos, dos sedentos, dos sem-teto,
dos sem-terra, dos sem poder. Pede-se, por isso, aos cristãos inseridos na ação política o empenho para a
criação de estruturas sociais mais justas, a partir do princípio ético do bem comum, iluminados pela fé e
a partir das orientações da Doutrina Social da Igreja.

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