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AGENDA 21

UNCED - Conferência das Nações Unidas sobre o Meio


Ambiente e Desenvolvimento (1992), Agenda 21 (global), em
português. Mministério do Meio Ambiente - MMA
http://www.mma.gov.br/port/se/agen21/ag21global/
Agenda 21 - Global 2

Sumário
1 Preâmbulo 5

Seção I: DIMENSÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS

2 Cooperação Internacional para Acelerar o Desenvolvimento Sustentável dos 7


Países em Desenvolvimento e Políticas Internas Correlatadas

3 Combate à Pobreza 19

4 Mudança dos Padrões de Consumo 24

5 Dinâmica Demográfica e Sustentabilidade 29

6 Proteção e Promoção das Condições da Saúde Humana 39

7 Promoção do Desenvolvimento Sustentável dos Assentamentos Humanos 55

8 Integração entre Meio Ambiente e Desenvolvimento na Tomada de Decisões 77

Seção II: CONSERVAÇÃO E GESTÃO DOS RECURSOS PARA O


DESENVOLVIMENTO

9 Proteção da Atmosfera 91

10 Abordagem Integrada do Planejamento e do Gerenciamento dos Recursos 102


Terrestres

11 Combate ao Desflorestamento 108

12 Manejo de Ecossistemas Frágeis: A Luta Contra a Desertificação e a Seca 123

13 Gerenciamento de Ecossistemas Frágeis: Desenvolvimento Sustentável das 139


Montanhas

14 Promoção do Desenvolvimento Rural e Agrícola Sustentável 146

15 Conservação da Diversidade Biológica 173

16 Manejo Ambientalmente Saudável da Biotecnologia 180


Agenda 21 - Global 3

17 Proteção de Oceanos, de Todos os Tipos de Mares, Inclusive Mares 196


Fechados e Semifechados, e das Zonas Costeiras, e Proteção, Uso Racional e
Desenvolvimento de seus Recursos Vivos

18 Proteção da Qualidade e do Abastecimento dos Recursos Hídricos: 227


Aplicação de Critérios Integrados no Desenvolvimento, Manejo e Uso dos
Recursos Hídricos

19 Manejo Ecologicamente Saudável das Substâncias Químicas Tóxicas, 249


Incluída a Prevenção do Tráfico Internacional dos Produtos Tóxicos e
Perigosos

20 Manejo Ambientalmente Saudável dos Resíduos Perigosos, Incluindo a 266


Prevenção do Tráfico Internacional Ilícito de Resíduos Perigosos

21 Manejo Ambientalmente Saudável dos Resíduos Sólidos e Questões 280


Relacionadas com os Esgotos

22 Manejo Seguro e Ambientalmente Saudável dos Resíduos Radioativos 294

Seção III: FORTALECIMENTO DO PAPEL DOS GRUPOS PRINCIPAIS

23 Preâmbulo 297

24 Ação Mundial pela Mulher, com Vistas a um Desenvolvimento Sustentável 298


Eqüitativo

25 A Infância e a Juventude no Desenvolvimento Sustentável 303

26 Reconhecimento e Fortalecimento do Papel das Populações Indígenas e suas 307


Comunidades

27 Fortalecimento do Papel das Organizações Não-Governamentais: Parceiros 311


para um Desenvolvimento Sustentável

28 Iniciativas das Autoridades Locais em Apoio à Agenda 21 314

29 Fortalecimento do Papel dos Trabalhadores e de seus Sindicatos 316

30 Fortalecimento do Papel do Comércio e da Indústria 319

31 Comunidade Científica e Tecnológica 324

32 Fortalecimento do Papel dos Agricultores 328


Agenda 21 - Global 4

Seção IV: MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

33 Recursos e Mecanismos de Financiamento 332

34 Transferência de Tecnologia Ambientalmente Saudável, Cooperação e 337


Fortalecimento Institucional

35 A Ciência para o Desenvolvimento Sustentável 344

36 Promoção do Ensino, da Conscientização e do Treinamento 355

37 Mecanismos Nacionais e Cooperação Internacional para Fortalecimento 365


Institucional nos Países em Desenvolvimento

38 Arranjos Institucionais Internacionais 371

39 Instrumentos e Mecanismos Jurídicos Internacionais 382

40 Informação para a Tomada de Decisões 386


Agenda 21 - Global 5

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E


DESENVOLVIMENTO

Capítulo 1

PREÂMBULO

1.1. A humanidade se encontra em um momento de definição histórica. Defrontamos-nos


com a perpetuação das disparidades existentes entre as nações e no interior delas, o agravamento
da pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, e com a deterioração contínua dos
ecossistemas de que depende nosso bem-estar. Não obstante, caso se integrem as preocupações
relativas a meio ambiente e desenvolvimento e a elas se dedique mais atenção, será possível
satisfazer às necessidades básicas, elevar o nível da vida de todos, obter ecossistemas melhor
protegidos e gerenciados e construir um futuro mais próspero e seguro. São metas que nação
alguma pode atingir sozinha; juntos, porém, podemos -- em uma associação mundial em prol do
desenvolvimento sustentável.
1.2. Essa associação mundial deve partir das premissas da resolução 44/228 da
Assembléia Geral de 22 de dezembro de 1989, adotada quando as nações do mundo convocaram
a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e da aceitação da
necessidade de se adotar uma abordagem equilibrada e integrada das questões relativas a meio
ambiente e desenvolvimento.
1.3. A Agenda 21 está voltada para os problemas prementes de hoje e tem o objetivo,
ainda, de preparar o mundo para os desafios do próximo século. Reflete um consenso mundial e
um compromisso político no nível mais alto no que diz respeito a desenvolvimento e cooperação
ambiental. O êxito de sua execução é responsabilidade, antes de mais nada, dos Governos. Para
concretizá-la, são cruciais as estratégias, os planos, as políticas e os processos nacionais. A
cooperação internacional deverá apoiar e complementar tais esforços nacionais. Nesse contexto, o
sistema das Nações Unidas tem um papel fundamental a desempenhar. Outras organizações
internacionais, regionais e subregionais também são convidadas a contribuir para tal esforço. A
mais ampla participação pública e o envolvimento ativo das organizações não-governamentais e
de outros grupos também devem ser estimulados.
1.4. O cumprimento dos objetivos da Agenda 21 acerca de desenvolvimento e meio
ambiente exigirá um fluxo substancial de recursos financeiros novos e adicionais para os países
em desenvolvimento, destinados a cobrir os custos incrementais necessários às ações que esses
países deverão empreender para fazer frente aos problemas ambientais mundiais e acelerar o
desenvolvimento sustentável. Além disso, o fortalecimento da capacidade das instituições
internacionais para a implementação da Agenda 21 também exige recursos financeiros. Cada uma
das áreas do programa inclui uma estimativa indicadora da ordem de grandeza dos custos. Essa
estimativa deverá ser examinada e aperfeiçoada pelas agências e organizações implementadoras.
1.5. Na implementação das áreas pertinentes de programas identificadas na Agenda 21,
especial atenção deverá ser dedicada às circunstâncias específicas com que se defrontam as
economias em transição. É necessário reconhecer, ainda, que tais países enfrentam dificuldades
sem precedentes na transformação de suas economias, em alguns casos em meio a considerável
tensão social e política.
1.6. As áreas de programas que constituem a Agenda 21 são descritas em termos de bases
para a ação, objetivos, atividades e meios de implementação. A Agenda 21 é um programa
dinâmico. Ela será levada a cabo pelos diversos atores segundo as diferentes situações,
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capacidades e prioridades dos países e regiões e com plena observância de todos os princípios
contidos na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Com o correr do tempo
e a alteração de necessidades e circunstâncias, é possível que a Agenda 21 venha a evoluir. Esse
processo assinala o início de uma nova associação mundial em prol do desenvolvimento
sustentável.
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SEÇÃO I - DIMENSÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS

Capítulo 2

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA ACELERAR O DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS INTERNAS
CORRELATAS

Introdução

2.1. Para fazer frente aos desafios dos meio ambiente e do desenvolvimento, os Estados
decidiram estabelecer uma nova parceria mundial. Essa parceria compromete todos os Estados a
estabelecer um diálogo permanente e construtivo, inspirado na necessidade de atingir uma
economia em nível mundial mais eficiente e eqüitativa, sem perder de vista a interdependência
crescente da comunidade das nações e o fato de que o desenvolvimento sustentável deve tornar-
se um item prioritário na agenda da comunidade internacional. Reconhece-se que, para que essa
nova parceria tenha êxito, é importante superar os confrontos e promover um clima de
cooperação e solidariedade genuínos. É igualmente importante fortalecer as políticas nacionais e
internacionais, bem como a cooperação multinacional, para acomodar-se às novas circunstâncias.
2.2. Tanto as políticas econômicas dos países individuais como as relações econômicas
internacionais têm grande relevância para o desenvolvimento sustentável. A reativação e a
aceleração do desenvolvimento exigem um ambiente econômico e internacional ao mesmo tempo
dinâmico e propício, juntamente com políticas firmes no plano nacional. A ausência de qualquer
dessas exigências determinará o fracasso do desenvolvimento sustentável. A existência de um
ambiente econômico externo propício é fundamental. O processo de desenvolvimento não
adquirirá impulso caso a economia mundial careça de dinamismo e estabilidade e esteja cercada
de incertezas. Tampouco haverá impulso com os países em desenvolvimento sobrecarregados
pelo endividamento externo, com financiamento insuficiente para o desenvolvimento, com
obstáculos a restringir o acesso aos mercados e com a permanência dos preços dos produtos
básicos e dos prazos comerciais dos países em desenvolvimento em depressão. A década de 1980
registrou números essencialmente negativos para todos esses tópicos, fato que é preciso inverter.
As políticas e medidas necessárias para criar um ambiente internacional marcadamente propício
aos esforços de desenvolvimento nacional são, conseqüentemente, vitais. A cooperação
internacional nessa área deve ser concebida para complementar e apoiar -- e não para diminuir ou
subordinar -- políticas econômicas internas saudáveis, tanto nos países desenvolvidos como nos
países em desenvolvimento, para que possa haver um avanço mundial no sentido do
desenvolvimento sustentável.
2.3. Cabe à economia internacional oferecer um clima internacional propício à realização
das metas relativas a meio ambiente e desenvolvimento, das seguintes maneiras:
(a) Promoção do desenvolvimento sustentável por meio da liberalização do
comércio;
(b) Estabelecimento de um apoio recíproco entre comércio e meio ambiente;
(c) Oferta de recursos financeiros suficientes aos países em desenvolvimento e
iniciativas concretas diante do problema da dívida internacional;
(d) Estímulo a políticas macroeconômicas favoráveis ao meio ambiente e ao
desenvolvimento.
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2.4. Os Governos reconhecem a existência de novos esforços mundiais para relacionar os


elementos do sistema econômico internacional à necessidade que tem a humanidade de desfrutar
de um meio ambiente natural seguro e estável. Em decorrência, é intenção dos Governos
empreender a construção de consenso na interseção das áreas ambiental e de comércio e
desenvolvimento, tanto nos foros internacionais existentes como nas políticas internas de cada
país.

Áreas de programas

A. Promoção do desenvolvimento sustentável por meio do comércio

Base para a ação

2.5. Um sistema de comércio multilateral aberto, eqüitativo, seguro, não-discriminatório e


previsível, compatível com os objetivos do desenvolvimento sustentável e que resulte na
distribuição ótima da produção mundial, sobre a base da vantagem comparativa, trará benefícios
a todos os parceiros comerciais. Além disso, a ampliação do acesso aos mercados das
exportações dos países em desenvolvimento, associada a políticas macroeconômicas e ambientais
saudáveis, terá um impacto positivo sobre o meio ambiente e conseqüentemente será uma
importante contribuição para o desenvolvimento sustentável.
2.6. A experiência demonstrou que o desenvolvimento sustentável exige
comprometimento com políticas econômicas saudáveis e um gerenciamento igualmente saudável;
uma administração pública eficaz e previsível; integração das preocupações ambientais ao
processo de tomada de decisões; e avanço para um Governo democrático, à luz das situações
específicas dos países, com a plena participação de todos os grupos envolvidos. Esses atributos
são essenciais para a realização das orientações e objetivos políticos relacionados abaixo.
2.7. O setor dos produtos básicos domina as economias de muitos países em
desenvolvimento em termos de produção, emprego e ganhos com a exportação. Uma
característica importante da economia mundial dos produtos básicos durante a década de 1980 foi
o predomínio de preços reais muito baixos e em declínio para a maioria dos produtos básicos nos
mercados internacionais, com a decorrente contração substancial dos ganhos com a exportação de
produtos básicos em muitos países produtores. É possível que a capacidade desses países de
mobilizar, por meio do comércio internacional, os recuros necessários para financiar os
investimentos exigidos pelo desenvolvimento sustentável, se veja prejudicada por esse fator e por
impedimentos tarifários e não-tarifários -- inclusive escalas tarifárias -- que limitem seu acesso
aos mercados de exportação. É indispensável eliminar as atuais distorções do comércio
internacional. A concretização desse objetivo exige, em especial, uma redução substancial e
progressiva do apoio e dos subsídios ao setor agrícola -- sistemas internos, acesso ao mercado e
subsídios para a exportação --, bem como à indústria e a outros setores, para evitar que os
produtores mais eficientes sofram perdas consideráveis, especialmente nos países em
desenvolvimento. Em decorrência, na agricultura, na indústria e em outros setores há espaço para
iniciativas voltadas para a liberalização do comércio e políticas que tornem a produção mais
sensível às necessidades do meio ambiente e do desenvolvimento. Em decorrência, a
liberalização do comércio deve ser perseguida em escala mundial em todos os setores da
economia, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável.
2.8. O ambiente do comércio internacional viu-se afetado por diversos fatores que criaram
novos desafios e oportunidades e tornaram a cooperação econômica multilateral ainda mais
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importante. Nos últimos anos o comércio mundial continuou crescendo mais depressa que a
produção mundial. Não obstante, a expansão do comércio mundial ocorreu de forma muito
desigual; apenas um número limitado de países em desenvolvimento teve condições de atingir
um crescimento apreciável em suas exportações. Pressões protecionistas e ações políticas
unilaterais continuam ameaçando o funcionamento de um sistema comercial multilateral aberto, o
que afeta, em especial, os interesses dos países em desenvolvimento na área da exportação.
Nestes últimos anos intensificaram-se os processos de integração econômica; é previsível que
eles venham a conferir dinamismo ao comércio mundial e intensificar as possibilidades de
progresso e comércio dos países em desenvolvimento. Nos últimos anos muitos outros países em
desenvolvimento adotaram reformas políticas corajosas que envolviam uma ambiciosa
liberalização unilateral de seu comércio, ao passo que os países da Europa central e do leste
realizam reformas de amplo alcance e profundos processos de reestruturação, que hão de abrir
caminho para sua integração à economia mundial e ao sistema comercial internacional. Atenção
crescente vem sendo dedicada ao fortalecimento do papel das empresas e à promoção de
mercados competitivos por meio da adoção de políticas competitivas. O SGP mostrou-se um
instrumento útil na política de comércio exterior -- embora seus objetivos ainda não tenham sido
atingidos; ao mesmo tempo, as estratégias de facilitação do comércio relacionadas ao intercâmbio
eletrônico de dados (IED) contribuíram eficazmente para melhorar a eficiência comercial dos
setores público e privado. As interações entre as políticas ambientais e as questões comerciais são
inúmeras e ainda não foram totalmente avaliadas. Caso se consiga concluir rapidamente a Rodada
Uruguai de negociações comerciais e multilaterais com resultados equilibrados, abrangentes e
positivos, será possível liberalizar e expandir ainda mais o comércio mundial, reforçar o comércio
e as possibilidades de desenvolvimento dos países em desenvolvimento e oferecer maior
segurança e previsibilidade ao sistema comercial internacional.

Objetivos

2.9. Nos anos vindouros e levando em consideração os resultados da Rodada Uruguai de


negociações comerciais multilaterais, os Governos devem continuar a empenhar-se para alcançar
os seguintes objetivos:
(a) Promover um sistema comercial aberto, não-discriminatório e eqüitativo que
possibilite a todos os países, em especial aos países em desenvolvimento, aperfeiçoar suas
estruturas econômicas e aperfeiçoar o nível de vida de suas populações por meio do
desenvolvimento econômico sustentado.
(b) Aperfeiçoar o acesso aos mercados das exportações dos países em
desenvolvimento;
(c) Aperfeiçoar o funcionamento dos mercados de produtos básicos e adotar
políticas saudáveis, compatíveis e coerentes, nos planos nacional e internacional, com vistas a
otimizar a contribuição do setor dos produtos básicos ao desenvolvimento sustentável, levando
em conta considerações ambientais;
(d) Promover e apoiar políticas internas e internacionais que façam o crescimento
econômico e a proteção ambiental apoiarem-se mutuamente.

Atividades

(a) Cooperação e coordenação internacional e regional Promoção de um sistema de


comércio internacional que leve em consideração as necessidades dos países em desenvolvimento
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2.10. Por conseguinte, a comunidade internacional deve:


(a) Interromper e fazer retroceder o protecionismo, a fim de ocasionar uma maior
liberalização e expansão do comércio mundial, em benefício de todos os países, em especial dos
países em desenvolvimento;
(b) Providenciar um sistema de comércio internacional eqüitativo, seguro, não-
discriminatório e previsível;
(c) Facilitar, de forma oportuna, a integração de todos os países à economia
mundial e ao sistema de comércio internacional;
(d) Velar para que as políticas ambientais e as políticas comerciais sejam de apoio
mútuo, com vistas a concretizar o desenvolvimento sustentável;
(e) Fortalecer o sistema de políticas comerciais internacionais procurando atingir,
tão depressa quanto possível, resultados equilibrados, abrangentes e positivos na Rodada Uruguai
de negociações comerciais multilaterais.
2.11. A comunidade internacional deve dedicar-se a encontrar formas e meios para
estabelecer um melhor funcionamento e uma maior transparência dos mercados de produtos
básicos, uma maior diversificação do setor dos produtos básicos nas economias em
desenvolvimento -- dentro de um quadro macroeconômico que leve em consideração a estrutura
econômica de um país, seus recursos naturais e suas oportunidades comerciais --, e um melhor
manejo dos recursos naturais, que leve em conta as necessidades do desenvolvimento sustentável.
2.12. Em decorrência, todos os países devem cumprir os compromissos já assumidos no
sentido de interromper e fazer retroceder o protecionismo e expandir o acesso aos mercados,
especialmente nos setores que interessam aos países em desenvolvimento. Nos países
desenvolvidos, esse acesso mais fácil aos mercados decorrerá de um ajuste estrutural adequado.
Os países em desenvolvimento devem prosseguir com as reformas de suas políticas comerciais e
o ajuste estrutural empreendido. Portanto, é urgente obter um aperfeiçoamento das condições de
acesso dos produtos básicos aos mercados, em especial por meio da remoção progressiva dos
obstáculos que restringem a importação de produtos básicos primários e manufaturados, bem
como da redução substancial e progressiva dos tipos de apoio que induzem a produção não-
competitiva, tal como os subsídios para a produção e a exportação.
(b) Atividades relacionadas a manejo
Desenvolvimento de políticas internas que maximizem os benefícios da liberalização do
comércio para o desenvolvimento sustentável
2.13. Para beneficiarem-se da liberalização dos sistemas comerciais, os países em
desenvolvimento devem implementar as seguintes políticas, conforme adequado:
(a) Criação de um ambiente interno favorável a um equilíbrio ótimo entre a
produção para o mercado interno e a produção para o mercado de exportação, e eliminar
tendências contrárias à exportação, bem como desestimular a substituição ineficiente das
importações;
(b) Promoção da estrutura política e da infra-estructura necessárias ao
aperfeiçoamento da eficiência do comércio de exportação e importação e ao funcionamento dos
mercados internos.
2.14. As seguintes políticas devem ser adotadas pelos países em desenvolvimento com
respeito a produtos básicos compatíveis com eficiência de mercado:y
(a) Expansão da elaboração e da distribuição e aperfeiçoamento das práticas de
mercado e da competitividade do setor dos produtos básicos;
(b) Diversificação, com vistas a reduzir a dependência das exportações de
produtos básicos;
Agenda 21 - Global 11

(c) Aplicação do uso eficiente e sustentável dos fatores da produção na


determinação dos preços dos produtos básicos, inclusive com a aplicação dos custos ambientais,
sociais e de recursos.
(c) Dados e informações
Fomento à coleta de dados e à pesquisa
2.15. O GATT, a UNCTAD e outras instituições competentes devem continuar coletando
dados e informações pertinentes sobre comércio. Pede-se ao Secretário-Geral das Nações Unidas
que fortaleça o sistema de informações sobre medidas de controle do comércio gerenciado pela
UNCTAD.
Aperfeiçoamento da cooperação internacional para o comércio dos produtos básicos e a
diversificação do setor
2.16. Com respeito ao comércio de produtos básicos, os Governos devem, diretamente ou
por meio das organizações internacionais pertinentes, quando apropriado:
(a) Buscar um funcionamento ótimo dos mercados de produtos básicos, inter alia
por meio de uma maior transparência do mercado que envolva intercâmbio de pontos de vista e
informações sobre planos de investimento, perspectivas e mercados para os diferentes produtos
básicos. Devem-se buscar negociações substantivas entre os produtores e os consumidores com
vistas à concretização de acordos internacionais viáveis e mais eficientes que levem em conta as
tendências -- ou arranjos -- do mercado; ao mesmo tempo, devem ser criados grupos de estudo.
Nesse aspecto, atenção especial deve ser dedicada aos acordos relativos a cacau, café, açúcar e
madeiras tropicais. Destaca-se a importância dos acordos e arranjos internacionais sobre produtos
de base. Questões relativas a saúde e segurança do trabalho, transferência de tecnologia e
serviços relacionados à produção, comercialização e promoção dos produtos de base, bem como
considerações ambientais, devem ser tomadas em conta;
(b) Continuar a aplicar mecanismos de compensação dos déficits dos rendimentos
com a exportação de produtos de base dos países em desenvolvimento, com vistas a estimular os
esforços em prol da diversificação;
(c) Sempre que solicitado, prestar assistência aos países em desenvolvimento na
elaboração e implementação de políticas para os produtos de base e na coleta e utilização de
informações a respeito dos mercados de produtos de base;
(d) Apoiar as atividades dos países em desenvolvimento para promover o
estabelecimento da estrutura política e da infra-estrutura necessárias para aperfeiçoar a eficiência
do comércio de exportação e importação;
(e) Apoiar, nos planos nacional, regional e internacional, as iniciativas dos países
em desenvolvimento voltadas para a diversificação.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


2.17. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades desta área de programas em cerca de $8,8 bilhões de dólares, a
serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Fortalecimento institucional
2.18. As atividades de cooperação técnica mencionadas acima têm por objetivo fortalecer
Agenda 21 - Global 12

as capacitações nacionais para a elaboração e aplicação de uma política para os produtos básicos,
o uso e o manejo dos recursos nacionais e a utilização de informação sobre os mercados de
produtos básicos.

B. Estabelecimento de um apoio recíproco entre comércio e meio ambiente

Base para a ação

2.19. As políticas sobre meio ambiente e as políticas sobre comércio devem reforçar-se
reciprocamente. Um sistema comercial aberto e multilateral possibilita maior eficiência na
alocação e uso dos recursos, contribuindo assim para o aumento da produção e dos lucros e para a
diminuição das pressões sobre o meio ambiente. Dessa forma, proporciona recursos adicionais
necessários para o crescimento econômico e o desenvolvimento e para uma melhor proteção
ambiental. Um meio ambiente saudável, por outro lado, proporciona os recursos ecológicos e de
outros tipos necessários à manutenção do crescimento e ao apoio à expansão constante do
comércio. Um sistema comercial aberto, multilateral, que se apóie na adoção de políticas
ambientais saudáveis, teria um impacto positivo sobre o meio ambiente, contribuindo para o
desenvolvimento sustentável.
2.20. A cooperação internacional na área do meio ambiente está crescendo; em diversos
casos, verificou-se que as disposições sobre comércio dos acordos multilaterais sobre o meio
ambiente desempenharam um papel nos esforços para fazer frente aos problemas ambientais
mundiais. Conseqüentemente, sempre que considerado necessário, aplicaram-se medidas
comerciais em determinadas instâncias específicas para aumentar a eficácia da regulamentação
ambiental destinada à proteção do meio ambiente. Essa regulamentação deve estar voltada para
as causas básicas da degradação ambiental, de modo a evitar a imposição de restrições
injustificadas ao comércio. O desafio consiste em assegurar que as políticas comerciais e as
políticas sobre o meio ambiente sejam compatíveis, reforçando, ao mesmo tempo, o processo de
desenvolvimento sustentável. Não obstante, será preciso levar em conta o fato de que os
parâmetros ambientais válidos para os países desenvolvidos podem significar custos sociais e
econômicos inaceitáveis para os países em desenvolvimento.

Objetivos

2.21. Os Governos devem esforçar-se para atingir os seguintes objetivos, por meio de
foros multilaterais pertinentes, como o GATT, a UNCTAD e outras organizações internacionais:
(a) Fazer com que as políticas de comércio internacional e as políticas sobre meio
ambiente passem a reforçar-se reciprocamente, favorecendo o desenvolvimento sustentável;
(b) Esclarecer o papel do GATT, da UNCTAD e de outras organizações
internacionais no que diz respeito às questões relacionadas a comércio e meio ambiente,
inclusive, quando pertinente, procedimentos de conciliação e ajuste de disputas;
(c) Estimular a produtividade e a competitividade internacionais e estimular um
papel construtivo por parte da indústria ao lidar com questões relativas a meio ambiente e
desenvolvimento.

Atividades

Elaboração de uma agenda sobre o meio ambiente/comércio e desenvolvimento


Agenda 21 - Global 13

2.22. Os Governos devem estimular o GATT, a UNCTAD e outras instituições


econômicas internacionais e regionais pertinentes a examinar, em conformidade com seus
respectivos mandatos e esferas de competência, os seguintes princípios e propostas:
(a) Elaborar estudos adequados para uma melhor compreensão da relação entre
comércio e meio ambiente para a promoção do desenvolvimento sustentável;
(b) Promover um diálogo entre os círculos atuantes nas áreas do comércio, do
desenvolvimento e do meio ambiente;
(c) Nos casos em que se utilizem medidas comerciais relacionadas a meio
ambiente, garantir sua transparência e compatibilidade com as obrigações internacionais;
(d) Atentar para as causas básicas dos problemas relativos a meio ambiente e
desenvolvimento, de modo a evitar a adoção de medidas ambientais que resultem em restrições
injustificadas ao comércio;
(e) Evitar o uso de restrições ou distorções que incidam sobre o comércio como
forma de compensar as diferenças de custo decorrentes das diferenças quanto a normas e
regulamentações ambientais, visto que sua aplicação poderia conduzir a distorções comerciais e
aumentar as tendências protecionistas;
(f) Garantir que as regulamentações e normas relacionadas a meio ambiente,
inclusive as que dizem respeito a saúde e segurança, não constituam uma forma de discriminação
arbitrária ou injustificável ou uma restrição disfarçada ao comércio;
(g) Garantir que os fatores especiais que afetam as políticas sobre meio ambiente e
comércio nos países em desenvolvimento não sejam esquecidos quando da aplicação das normas
ambientais ou de quaisquer medidas comerciais. Convém notar que as normas válidas na maioria
dos países desenvolvidos podem ser inadequadas e ter custos sociais inaceitáveis para os países
em desenvolvimento;
(h) Estimular os países em desenvolvimento a participar dos acordos multilaterais
por meio de mecanismos como normas especiais de transição;
(i) Evitar medidas unilaterais para fazer frente aos problemas ambientais que
fujam à jurisdição do país importador. As medidas ambientais voltadas para problemas
transfronteiriços ou mundiais devem, sempre que possível, basear-se em um consenso
internacional. As medidas internas voltadas para a realização de certos objetivos ambientais
podem necessitar medidas comerciais que as tornem mais eficazes. Caso se considere necessário
adotar medidas comerciais para garantir a observância da política ambiental, determinados
princípios e regras devem ser aplicados. Entre eles, por exemplo, podem estar o princípio da não-
discriminação; o princípio de que a medida comercial escolhida deva ser tão pouco restritiva ao
comércio quanto permita a consecução dos objetivos; o compromisso de garantir transparência no
uso das medidas comerciais relacionadas ao meio ambiente e de oferecer notificação adequada
das regulamentações nacionais; e a necessidade de levar em conta as condições especiais e as
exigências de progresso dos países em desenvolvimento em seu avanço para objetivos ambientais
internacionalmente acordados;
(j) Desenvolver maior precisão, quando necessário, e esclarecer o relacionamento
entre os dispositivos do GATT e algumas das medidas multilaterais adotadas na esfera do meio
ambiente;
(k)Velar pela participação pública na formulação, negociação e implementação de
políticas comerciais enquanto meio de originar maior transparência, à luz das condições
específicas de cada país;
(l) Garantir que as políticas ambientais proporcionem um quadro jurídico-
Agenda 21 - Global 14

institucional adequado ao atendimento das novas necessidades de proteção do meio ambiente que
possam decorrer de alterações no sistema de produção e da especialização comercial.

C. Oferta de recursos financeiros suficientes aos países em desenvolvimento

Base para a ação

2.23. O investimento é fundamental para que os países em desenvolvimento tenham


condições de atingir o crescimento econômico necessário a uma melhora do bem-estar de suas
populações e ao atendimento de suas necessidades básicas de maneira sustentável, sem deteriorar
ou prejudicar a base de recursos que escora o desenvolvimento. O desenvolvimento sustentável
exige um reforço dos investimentos e isso exige recursos financeiros internos e externos. O
investimento privado externo e o retorno de capital de giro, que dependem de um clima saudável
de investimentos, são uma fonte importante de recursos financeiros. Muitos países em
desenvolvimento experimentaram, durante até uma década, uma situação de transferência líquida
negativa de recursos financeiros, durante a qual suas receitas financeiras eram excedidas pelos
pagamentos que eram obrigados a fazer, particularmente com o serviço da dívida. Como
resultado, recursos mobilizados internamente tiveram que ser transferidos para o exterior, em
lugar de serem investidos localmente na promoção do desenvolvimento econômico sustentável.
2.24. Para muitos países em desenvolvimento, a retomada do desenvolvimento só poderá
ter lugar a partir de uma solução durável para os problemas do endividamento externo, levando-
se em conta que, para muitos países em desenvolvimento, os encargos da dívida externa são um
problema considerável. Nesses países o encargo dos pagamentos dos juros da dívida impôs
graves restrições a sua capacidade de acelerar o crescimento e erradicar a pobreza e ocasionou
uma retração das importações, dos investimentos e do consumo. O endividamento externo
emergiu como fator preponderante na estagnação econômica dos países em desenvolvimento. A
implementação permanente e vigorosa da estratégia internacional da dívida, em constante
evolução, tem o objetivo de restaurar a viabilidade financeira externa dos países devedores; a
retomada de seu crescimento e desenvolvimento contribuiria para a obtenção de crescimento e
desenvolvimento sustentáveis. Nesse contexto, é indispensável contar-se com recursos
financeiros adicionais em favor dos países em desenvolvimento e utilizarem-se esses recursos de
forma eficiente.

Objetivo

2.25. As exigências específicas para a implementação dos programas setoriais e


intersetoriais incluídos na Agenda 21 são examinadas nas áreas de programas correspondentes e
no Capítulo 33, intitulado "Recursos e Mecanismos de Financiamento".
Atividades
(a) Cumprimento das metas internacionais do financiamento oficial para o
desenvolvimento
2.26. Como discutido no Capítulo 33, devem ser oferecidos recursos novos e adicionais
em apoio aos programas da Agenda 21.
(b) Análise da questão da dívida
2.27. No que diz respeito à dívida externa assumida junto a bancos comerciais,
reconhecem-se os progressos que vêm sendo feitos graças à nova estratégia da dívida e estimula-
se uma implementação mais rápida dessa estratégia. Alguns países já se beneficiaram da
Agenda 21 - Global 15

combinação de políticas saudáveis de ajuste à redução da dívida contraída junto aos bancos
comerciais, ou medidas equivalentes. A comunidade internacional estimula:
(a) Outros países com dívidas onerosas junto a bancos a negociar com seus
credores medidas análogas de redução de sua dívida junto aos bancos comerciais;
(b) As partes envolvidas nessa negociação a não deixarem de atribuir a devida
importância à redução da dívida a médio prazo e às novas exigências de recursos do país
devedor;
(c) As instituições multilaterais ativamente envolvidas na nova estratégia
internacional da dívida a manter seu apoio aos conjuntos de medidas de redução da dívida
relacionados a dívidas contraídas junto a bancos comerciais, com vistas a garantir que a
magnitude de tais financiamentos esteja de acordo com o desdobramento da estratégia da dívida;
(d) Os bancos credores a participar da redução da dívida e dos juros da dívida;
(e) Políticas reforçadas destinadas a atrair o investimento direto, a evitar níveis
insustentáveis de endividamento e a promover a volta do capital de giro.
2.28. Com relação à dívida contraída junto aos credores oficiais bilaterais, são bem-vindas
as medidas recentemente adotadas pelo Clube de Paris, relativamente a condições mais generosas
de desafogo para com os países mais pobres e mais endividados. São bem-vindos, igualmente, os
esforços atualmente envidados para implementar essas medidas, advindas das "condições de
Trinidad", de modo compatível com a possibilidade de pagamento desses países e de forma a dar
apoio adicional a seus esforços de reforma econômica. É especialmente bem-vinda, ademais, a
redução substancial da dívida bilateral, empreendida por alguns países credores; outros países que
tenham condições de fazer o mesmo são estimulados a adotar ação similar.
2.29. São dignas de elogios as ações dos países de baixa renda com encargos substanciais
da dívida que continuam, com grande dificuldade, a pagar os juros de suas dívidas e a
salvaguardar sua credibilidade enquanto devedores. Atenção especial deve ser dedicada a suas
necessidades de recursos. Outros países em desenvolvimento afligidos pela dívida e que envidam
grandes esforços para não deixar de pagar os juros de suas dívidas e honrar suas obrigações
financeiras externas também merecem a devida atenção.
2.30. Em relação à dívida multilateral, insiste-se que deve ser dedicada séria atenção à
continuidade do trabalho em prol de soluções voltadas para o crescimento no que diz respeito aos
problemas dos países em desenvolvimento com graves dificuldades para o pagamento dos juros
da dívida, inclusive aqueles cuja dívida foi contraída basicamente junto a credores oficiais ou
instituições financeiras multilaterais. Particularmente no caso de países de baixa renda em
processo de reforma econômica, são bem-vindos o apoio das instituições financeiras multilaterais
sob a forma de novos desembolsos, bem como o uso de seus fundos em condições favoráveis.
Devem-se continuar utilizando grupos de apoio na provisão de recursos para saldar os atrasos no
pagamento de países que venham encetando vigorosos programas de reforma econômica
apoiados pelo FMI e pelo Banco Mundial. As medidas adotadas pelas instituições financeiras
multilaterais, como o refinanciamento dos juros sobre os empréstimos cedidos em condições
comerciais com reembolsos à AID -- a chamada "quinta dimensão" --, são muito bem-vindos.

Meios de implementação

Financiamento e estimativa de custos*


* Ver Capítulo 33 ("Recursos e mecanismos financeiros").

D. Estímulo a políticas econômicas favoráveis ao desenvolvimento sustentável


Agenda 21 - Global 16

Base para a ação

2.31. Devido ao clima internacional desfavorável que afeta os países em


desenvolvimento, a mobilização de recursos internos e a alocação e utilização eficazes dos
recursos mobilizados internamente tornam-se especialmente importantes no fomento ao
desenvolvimento sustentável. Em diversos países são necessárias políticas voltadas para a
correção da má orientação dos gastos públicos, dos marcados déficits orçamentários e outros
desequilíbrios macroeconômicos, das políticas restritivas e distorções nas áreas das taxas de
câmbio, investimentos e financiamento, bem como dos obstáculos à atividade empresarial. Nos
países desenvolvidos as reformas e ajustes constantes das políticas, inclusive com taxas
adequadas de poupança, podem contribuir para gerar recursos que apóiem a transição para o
desenvolvimento sustentável, tanto nesses países como nos países em desenvolvimento.
2.32. Um bom gerenciamento, que favoreça a associação entre uma administração pública
eficaz, eficiente, honesta, eqüitativa e confiável e os direitos e oportunidades individuais, é
elemento fundamental para um desenvolvimento sustentável, com base ampla e um desempenho
econômico saudável em todos os planos do desenvolvimento. Todos os países devem redobrar
seus esforços para erradicar o gerenciamento inadequado dos negócios públicos e privados,
inclusive a corrupção, levando em conta os fatores responsáveis por esse fenômeno e os agentes
nele envolvidos.
2.33. Muitos países em desenvolvimento endividados estão passando por programas de
ajuste estrutural relacionados ao reescalonamento da dívida ou a novos empréstimos. Embora tais
programas sejam necessários para melhorar o equilíbrio entre os orçamentos fiscais e as contas da
balança de pagamentos, em alguns casos eles produziram efeitos sociais e ambientais adversos,
como cortes nas verbas destinadas aos setores da saúde, do ensino e da proteção ambiental. É
importante velar para que os programas de ajuste estrutural não tenham impactos negativos sobre
o meio ambiente e o desenvolvimento social, para que tais programas sejam mais compatíveis
com os objetivos do desenvolvimento sustentável.

Objetivo

2.34. É necessário estabelecer, à luz das condições específicas de cada país, reformas das
políticas econômicas que promovam o planejamento e a utilização eficientes dos recursos para o
desenvolvimento sustentável por meio de políticas econômicas e sociais saudáveis; que
fomentem a atividade empresarial e a incorporação dos custos sociais e ambientais à
determinação do preço dos recursos; e que eliminem as fontes de distorção na esfera do comércio
e dos investimentos.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a gerenciamento

Promoção de políticas econômicas saudáveis

2.35. Os países industrializados e outros países em posição de fazê-lo devem intensificar


seus esforços para:
(a) Estimular um ambiente econômico internacional estável e previsível,
Agenda 21 - Global 17

especialmente no que diz respeito a estabilidade monetária, taxas reais de interesse e flutuação
das taxas de câmbio fundamentais;
(b) Estimular a poupança e reduzir os déficits fiscais;
(c) Assegurar que nos processos de coordenação de políticas sejam levados em
conta os interesses e preocupações dos países em desenvolvimento, inclusive a necessidade de
promover medidas positivas para apoiar os esforços dos países de menor desenvolvimento
relativo para pôr fim a sua marginalização na economia mundial;
(d) Dar início a políticas nacionais macroeconômicas e estruturais adequadas à
promoção de um crescimento não inflacionário, reduzir seus principais desequilíbrios externos e
aumentar a capacidade de ajuste de suas economias.
2.36. Os países em desenvolvimento devem considerar a possibilidade de intensificar seus
esforços para implementar políticas econômicas saudáveis, com o objetivo de:
(a) Manter a disciplina monetária e fiscal necessária à promoção da estabilidade
dos preços e do equilíbrio externo;
(b) Garantir taxas de câmbio realistas;
(c) Aumentar a poupança e o investimento internos e ao mesmo tempo melhorar a
rentabilidade dos investimentos.
2.37. Mais especificamente, todos os países devem desenvolver políticas que aumentem a
eficiência na alocação de recursos e aproveitem plenamente as oportunidades oferecidas pelas
mudanças no ambiente econômico mundial. Em especial, sempre que adequado e levando em
conta as estratégias e objetivos nacionais, os países devem:
(a) Eliminar as barreiras ao progresso decorrentes de ineficiências burocráticas, os
freios administrativos, os controles desnecessários e o descuido das condições de mercado;
(b) Promover a transparência na administração e na tomada de decisões;
(c) Estimular o setor privado e fomentar a atividade empresarial eliminando os
obstáculos institucionais à criação de empresas e à entrada no mercado. O objetivo essencial seria
simplificar ou eliminar as restrições, regulamentações e formalidades que tornam mais
complicado, oneroso e lento criar empresas e colocá-las em funcionamento em vários países em
desenvolvimento;
(d) Promover e apoiar os investimentos e a infra-estrutura necessários ao
crescimento econômico e à diversificação sustentáveis sobre uma base ambientalmente saudável
e sustentável;
(e) Abrir espaço para a atuação de instrumentos econômicos adequados, inclusive
mecanismos de mercado, em conformidade com os objetivos do desenvolvimento sustentável e
da satisfação das necessidades básicas;
(f) Promover o funcionamento de sistemas fiscais e setores financeiros eficazes;
(g) Criar oportunidades para que as empresas de pequeno porte, tanto agrícolas
como de outros tipos, bem como os populações indígenas e as comunidades locais, possam
contribuir plenamente para a conquista do desenvolvimento sustentável;
(h) Eliminar as atitudes contrárias às exportações e favoráveis à substituição
ineficiente de importações e estabelecer políticas que permitam um pleno aproveitamento dos
fluxos de investimento externo, no quadro dos objetivos nacionais sociais, econômicos e do
desenvolvimento;
(i) Promover a criação de um ambiente econômico interno favorável a um
equilíbrio ótimo entre a produção para o mercado interno e a produção para a exportação.
(b) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
2.38. Os Governos dos países desenvolvidos e os Governos de outros países em condições
Agenda 21 - Global 18

de fazê-lo, diretamente ou por meio das organizações internacionais e regionais adequadas e das
instituições financeiras internacionais, devem aumentar seus esforços para oferecer aos países em
desenvolvimento uma maior assistência técnica no seguinte:
(a) Fortalecimento institucional e técnica no que diz respeito a elaboração e
implementação de políticas econômicas, quando solicitado;
(b) Elaboração e operação de sistemas fiscais, sistemas contábeis e setores
financeiros eficientes;
(c) Promoção da atividade empresarial.
2.39.As instituições financeiras e de desenvolvimento internacionais devem analisar mais
detidamente seus programas e políticas, à luz do objetivo do desenvolvimento sustentável.
2.40. Há muito aceitou-se uma cooperação econômica mais intensa entre os países em
desenvolvimento, considerando-se ser esse um fator importante nos esforços voltados para a
promoção do crescimento econômico e das capacidades tecnológicas, bem como para a
aceleração do desenvolvimento no mundo em desenvolvimento. Em decorrência, a comunidade
internacional deve reforçar e continuar apoiando os esforços dos países em desenvolvimento para
promover, entre si, a cooperação econômica.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


2.41. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades desta área de programas em cerca de $50 milhões de dólares, a
serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.

Fortalecimento institucional

2.42. As alterações de políticas nos países em desenvolvimento mencionadas acima


envolvem consideráveis esforços nacionais de fortalecimento institucional e técnica nas áreas da
administração pública, do sistema bancário central, da administração fiscal, das instituições de
poupança e dos mercados financeiros.
2.43. OS ESFORÇOS ESPECIAIS QUE VENHAM A SER ENVIDADOS EM PROL
DA IMPLEMENTAÇÃO DAS QUATRO ÁREAS DE PROGRAMAS IDENTIFICADAS
NESTE CAPÍTULO JUSTIFICAM-SE, TENDO EM VISTA A ESPECIAL GRAVIDADE DOS
PROBLEMAS AMBIENTAIS E DO DESENVOLVIMENTO NOS PAÍSES DE MENOR
DESENVOLVIMENTO RELATIVO.
Agenda 21 - Global 19

Capítulo 3

COMBATE À POBREZA

Área de Programas

Capacitação dos pobres para a obtenção de meios de subsistência sustentáveis

Base para a ação

3.1. A pobreza é um problema complexo e multidimensional, com origem ao mesmo


tempo na área nacional e na área internacional. Não é possível encontrar uma solução uniforme,
com aplicação universal para o combate à pobreza. Antes, é fundamental para a solução desse
problema que se desenvolvam programas específicos para cada país, com atividades
internacionais de apoio às nacionais e com um processo paralelo de criação de um ambiente
internacional de apoio. A erradicação da pobreza e da fome, maior eqüidade na distribuição da
renda e desenvolvimento de recursos humanos: esses desafios continuam sendo consideráveis em
toda parte. O combate à pobreza é uma responsabilidade conjunta de todos os países.
3.2. Uma política de meio ambiente voltada sobretudo para a conservação e a proteção
dos recursos deve considerar devidamente aqueles que dependem dos recursos para sua
sobrevivência, ademais de gerenciar os recursos de forma sustentável. Não sendo assim, tal
política poderia ter um impacto adverso tanto sobre o combate à pobreza como sobre as
possibilidades de êxito a longo prazo da conservação dos recursos e do meio ambiente. Do
mesmo modo, qualquer política de desenvolvimento voltada principalmente para o aumento da
produção de bens, caso deixe de levar em conta a sustentabilidade dos recursos sobre os quais se
baseia a produção, mais cedo ou mais tarde haverá de defrontar-se com um declínio da
produtividade -- e isso também poderia ter um impacto adverso sobre a pobreza. Uma estratégia
voltada especificamente para o combate à pobreza, portanto, é requisito básico para a existência
de desenvolvimento sustentável. A fim de que uma estratégia possa fazer frente simultaneamente
aos problemas da pobreza, do desenvolvimento e do meio ambiente, é necessário que se comece
por considerar os recursos, a produção e as pessoas, bem como, simultâneamente, questões
demográficas, o aperfeiçoamento dos cuidados com a saúde e a educação, os direitos da mulher,
o papel dos jovens, dos indígenas e das comunidades locais, e, ao mesmo tempo, um processo
democrático de participação, associado a um aperfeiçoamento de sua gestão.
3.3. Faz parte dessa ação, juntamente com o apoio internacional, a promoção de um
crescimento econômico nos países em desenvolvimento -- um crescimento ao mesmo tempo
sustentado e sustentável, associado a uma ação direta voltada para a erradicação da pobreza por
meio do fortalecimento dos programas de emprego e geradores de renda.

Objetivos

3.4. O objetivo a longo prazo -- de capacitar todas as pessoas a atingir meios sustentáveis
de subsistência -- deve ser um fator de integração que permita às políticas abordar
simultaneamente questões de desenvolvimento, de manejo sustentável dos recursos e de
erradicação da pobreza. Os objetivos dessa área de programas são:
(a) Oferecer urgentemente a todas as pessoas a oportunidade de ganhar a vida de
forma sustentável;
Agenda 21 - Global 20

(b) Implementar políticas e estratégias que promovam níveis adequados de


financiamento e se centrem em políticas integradas de desenvolvimento humano, inclusive
geração de rendimentos, maior controle local dos recursos, reforço das instituições locais e do
fortalecimento institucional e técnico, bem como maior envolvimento das organizações não-
governamentais e das autoridades locais enquanto instâncias de implementação;
(c) Desenvolver, para todas as áreas atingidas pela pobreza, estratégias e
programas integrados de manejo saudável e sustentável do meio ambiente, mobilização de
recursos, erradicação e mitigação da pobreza, emprego e geração de rendimentos;
(d) Criar, nos planos de desenvolvimento e nos orçamentos nacionais, um núcleo
de investimento no capital humano que inclua políticas e programas especiais dirigidos para as
zonas rurais, os pobres das áreas urbanas, mulheres e crianças.

Atividades

3.5. As atividades que irão contribuir para a promoção integrada de meios de subsistência
sustentáveis e para a proteção do meio ambiente incluem diversas intervenções setoriais que
envolvem uma série de atores -- de locais a globais -- e que são essenciais em todos os planos,
especialmente no nível da comunidade e no nível local. Nos planos nacional e internacional serão
necessárias ações habilitadoras que levem plenamente em conta as situações regionais e sub-
regionais, pois elas irão apoiar uma abordagens em nível local, adaptada às especificidades de
cada país. Vistos de modo abrangente, os programas devem:
(a) Centrar-se na atribuição de poder aos grupos locais e comunitários por meio do
princípio da delegação de autoridade, prestação de contas e alocação de recursos ao plano mais
adequado, garantindo assim que o programa venha a estar adaptado às especificidades
geográficas e ecológicas;
(b) Conter medidas imediatas que capacitem esses grupos a mitigar a pobreza e a
desenvolver sustentabilidade;
(c) Conter uma estratégia de longo-prazo voltada para o estabelecimento das
melhores condições possíveis para um desenvolvimento sustentável local, regional e nacional que
elimine a pobreza e reduza as desigualdades entre os diversos grupos populacionais. Essa
estratégia deve assistir aos grupos que estejam em posição mais desvantajosa -- particularmente,
no interior desses grupos, mulheres, crianças e jovens -- e aos refugiados. Tais grupos devem
incluir os pequenos proprietários pobres, os pastores, os artesãos, as comunidades de pescadores,
os sem-terra, as comunidades autóctones, os migrantes e o setor informal urbano.
3.6. O essencial é adotar medidas destinadas especificamente a abranger diversos setores,
especialmente nas áreas do ensino básico, do atendimento primário da saúde, do atendimento às
mães e do progresso da mulher.
(a) Delegação de poder às comunidades
3.7. O desenvolvimento sustentável deve ser atingido em todos os níveis da sociedade. As
organizações populares, os grupos de mulheres e as organizações não-governamentais são fontes
importantes de inovação e ação no plano local e têm marcado interesse, bem como capacidade
comprovada, de promover a subsistência sustentável. Os Governos, em cooperação com as
organizações internacionais e não-governamentais adequadas, devem apoiar uma abordagem da
sustentabilidade conduzida pela comunidade, que inclua, inter alia:
(a) Dar autoridade às mulheres por meio de sua participação plena na tomada de
decisões;
(b) Respeitar a integridade cultural e os direitos dos indígenas e de suas
Agenda 21 - Global 21

comunidades;
(c) Promover ou estabelecer mecanismos populares que possibilitem a troca de
experiência e conhecimento entre as comunidades;
(d) Dar às comunidades ampla medida de participação no manejo sustentável e na
proteção dos recursos naturais locais, para com isso fortalecer sua capacidade produtiva;
(e) Estabelecer uma rede de centros de ensino baseados na comunidade com o
objetivo de promover o fortalecimento institucional e técnico e o desenvolvimento sustentável.
(b) Atividades relacionadas a Governos
3.8. Os Governos, com o auxílio e a cooperação das organizações internacionais, não-
governamentais e comunitárias locais adequadas, devem estabelecer medidas que, direta ou
indiretamente:
(a) Gerem oportunidades de emprego remunerado e de trabalho produtivo
compatíveis com os elementos específicos de cada país, em escala suficiente para absorver os
possíveis aumentos da força de trabalho e cobrir a demanda acumulada;
(b) Com apoio internacional, quando necessário, desenvolvam uma infraestrutura
adequada, sistemas de comercialização, de tecnologia, de crédito e similares, juntamente com os
recursos humanos necessários para apoiar as ações enumeradas acima, e oferecer maior número
de opções às pessoas com recursos escassos. Deve ser atribuída alta prioridade ao ensino básico e
ao treinamento profissional;
(c) Provenham aumentos substanciais à produtividade dos recursos
economicamente rentáveis, e adotem medidas que favoreçam o beneficiamento adequado das
populações locais no uso dos recursos;
(d) Confiram condições às organizações comunitárias e à população em geral de
atingir meios sustentáveis de subsistência;
(e) Criem um sistema eficaz de atendimento primário da saúde e de atendimento
das mães, acessível para todos;
(f) Considerem a possibilidade de fortalecer ou criar estruturas jurídicas para o
manejo da terra e o acesso aos recursos terrestres e à propriedade da terra -- particularmente no
que diz respeito à mulher -- e para a proteção dos rendeiros;
(g) Reabilitem, na medida do possível, os recursos degradados, introduzindo
medidas políticas que promovam o uso sustentável dos recursos necessários à satisfação das
necessidades humanas básicas;
(h) Estabeleçam novos mecanismos baseados na comunidade e fortaleçam
mecanismos já existentes a fim de possibilitar o acesso permanente das comunidades aos recursos
necessários para que os pobres superem sua pobreza;
(i) Implementem mecanismos de participação popular --particularmente de
pessoas pobres, especialmente de mulheres -- nos grupos comunitários locais, com o objetivo de
promover o desenvolvimento sustentável;
(j) Implementem, em caráter de urgência, de acordo com as condições e os
sistemas jurídicos específicos de cada país, medidas que garantam a mulheres e homens o mesmo
direito de decidir livre e responsavelmente o número de filhos que querem ter e o espaçamento
entre eles, e tenham acesso à informação, à educação e aos meios pertinentes que lhes
possibilitem exercer esse direito em conformidade com sua liberdade, dignidade e valores
pessoais, levando em conta fatores éticos e culturais. Os Governos devem tomar medidas
concretas a fim de implementar programas para o estabelecimento e fortalecimento dos serviços
preventivos e curativos na área da saúde, que incluam um atendimento seguro e eficaz da saúde
reprodutiva centrado na mulher, gerenciado por mulheres, e serviços acessíveis, baratos,
Agenda 21 - Global 22

condizentes com as necessidades, para o planejamento responsável do tamanho da família, em


conformidade com a liberdade, a dignidade e os valores pessoais, levando em conta fatores éticos
e culturais. Os programas devem centrar-se no fornecimento de serviços gerais de saúde,
inclusive acompanhamento pré-natal, educação e informação sobre saúde e paternidade
responsável, e dar oportunidade a todas as mulheres de amamentar adequadamente seus filhos, ao
menos durante os primeiros quatro meses após o parto. Os programas devem apoiar plenamente
os papéis produtivo e reprodutivo da mulher, bem como seu bem-estar, com especial atenção para
a necessidade de proporcionar melhores serviços de saúde a todas as crianças, em condições de
igualdade, e para a necessidade de reduzir o risco de mortalidade e as enfermidades de mães e
filhos;
(k) Adotem políticas integradas voltadas para a sustentabilidade no manejo dos
centros urbanos;
(l) Empreendam atividades voltadas para a promoção da segurança alimentar e,
quando adequado, da auto-suficiência alimentar no contexto da agricultura sustentável;
(m) Apóiem as pesquisas sobre os métodos tradicionais de produção que se
tenham demonstrado ambientalmente sustentáveis e a integração desses métodos;
(n) Procurem ativamente reconhecer e integrar na economia as atividades do setor
informal, com a remoção de regulamentações e obstáculos que discriminem as atividades desse
setor;
(o) Considerem a possibilidade de abrir linhas de crédito e outras facilidades para
o setor informal, bem como de facilitar o acesso à terra para os pobres sem-terra, para que estes
possam adquirir meios de produção e obtenham acesso seguro aos recursos naturais. Em muitas
instâncias é preciso especial atenção com respeito à mulher. Esses programas devem ter sua
exeqüibilidade rigorosamente avaliada, a fim de que os beneficiários de empréstimos não sofram
crises motivadas pelas dívidas;
(p) Proporcionar aos pobres acesso aos serviços de abastecimento de água potável
e saneamento;
(q) Proporcionar aos pobres acesso à educação primária.
(c) Dados, informação e avaliação
3.9. Os Governos devem aperfeiçoar a coleta de informações sobre os grupos-meta e as
áreas-meta a fim de facilitar a elaboração dos programas e atividades a eles dirigidos --
compatíveis com as necessidades e aspirações dos grupo-meta. A avaliação desses programas
deve levar em conta a situação da mulher, visto que as mulheres são um grupo especialmente
desfavorecido.
(d) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
3.10. O Sistema das Nações Unidas, por meio de seus órgãos e organizações pertinentes e
em cooperação com os Estados Membros e as organizações internacionais e não-governamentais
pertinentes, deve atribuir prioridade máxima à mitigação da pobreza e deve:
(a) Assistir os Governos, quando solicitado, na formulação e implementação de
programas nacionais de ação voltados para a mitigação da pobreza e o desenvolvimento
sustentável. A esse respeito, deve-se ver com especial atenção as atividades práticas relacionadas
a esses objetivos, como as de erradicação da pobreza e os projetos e programas suplementados,
quando pertinente, por ajuda alimentar; também é preciso apoiar especialmente o emprego e a
geração de rendimentos;
(b) Promover cooperação técnica entre os países em desenvolvimento nas
atividades destinadas a erradicar a pobreza;
(c) Fortalecer as estruturas existentes no sistema das Nações Unidas para a
Agenda 21 - Global 23

coordenação das medidas relacionadas à erradicação da pobreza, inclusive com o estabelecimento


de um centro de coordenação para o intercâmbio de informações e a formulação e implementação
de projetos experimentais reprodutíveis de luta contra a pobreza;
(d) No acompanhamento da implementação da Agenda 21, atribuir alta prioridade
à avaliação dos progressos realizados na erradicação da pobreza;
(e) Examinar a estrutura econômica internacional, inclusive os fluxos de recursos
e os programas de ajuste estrutural, para certificar-se de que as preocupações sociais e ambientais
são levadas em consideração e, a esse respeito, fazer uma avaliação da política das organizações,
órgãos e agências internacionais, inclusive das instituições financeiras, para garantir a
continuidade da oferta de serviços básicos aos pobres e necessitados;
(f) Promover a cooperação internacional para atacar as causas essenciais da
pobreza. O processo de desenvolvimento não adquirirá impulso enquanto os países em
desenvolvimento se mantiverem oprimidos pela dívida externa, o financiamento para o
desenvolvimento for insuficiente, houver barreiras restringindo o acesso aos mercados, e os
preços dos produtos básicos e as condições do comércio nos países em desenvolvimento
permanecerem em depressão.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


3.11. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $30 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $15 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Estas estimativas coincidem em parte com as estimativas de outros
trechos da Agenda 21. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Fortalecimento Institucional
3.12. Um fortalecimento institucional e técnico de caráter nacional para a implementação
das atividades acima relacionadas é fundamental e deve receber tratamento de alta prioridade. É
particularmente importante centrar o frotalecimento institucional e técnico no plano das
comunidades locais, a fim de criar as bases para uma abordagem da sustentabilidade empreendida
pela comunidade, e estabelecer e fortalecer mecanismos que permitam a troca de experiência e
conhecimentos entre os grupos comunitários, tanto a nível nacional como internacional. Essas
atividades implicam exigências consideráveis, relacionadas às várias áreas pertinentes da Agenda
21; em decorrência, é preciso contar com o apoio financeiro e tecnológico internacional.
Agenda 21 - Global 24

Capítulo 4

MUDANÇA DOS PADRÕES DE CONSUMO

4.1. Este capítulo contém as seguintes áreas de programas:


(a) Exame dos padrões insustentáveis de produção e consumo;
(b) Desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais de estímulo a mudanças
nos padrões insustentáveis de consumo.
4.2. Por ser muito abrangente, a questão da mudança dos padrões de consumo é focalizada
em diversos pontos da Agenda 21, em especial nos que tratam de energia, transportes e resíduos,
bem como nos capítulos dedicados aos instrumentos econômicos e à transferência de tecnologia.
A leitura do presente capítulo deve ser associada, ainda, ao capítulo 5 (Dinâmica e
sustentabilidade demográfica) da Agenda.

Áreas de programas

A. Exame dos padrões insustentáveis de produção e consumo

Base para a ação

4.3. A pobreza e a degradação do meio ambiente estão estreitamente relacionadas.


Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de pressão ambiental, as principais
causas da deterioração ininterrupta do meio ambiente mundial são os padrões insustentáveis de
consumo e produção, especialmente nos países industrializados. Motivo de séria preocupação,
tais padrões de consumo e produção provocam o agravamento da pobreza e dos desequilíbrios.
4.4. Como parte das medidas a serem adotadas no plano internacional para a proteção e a
melhora do meio ambiente é necessário levar plenamente em conta os atuais desequilíbrios nos
padrões mundiais de consumo e produção.
4.5. Especial atenção deve ser dedicada à demanda de recursos naturais gerada pelo
consumo insustentável, bem como ao uso eficiente desses recursos, coerentemente com o
objetivo de reduzir ao mínimo o esgotamento desses recursos e de reduzir a poluição. Embora em
determinadas partes do mundo os padrões de consumo sejam muito altos, as necessidades básicas
do consumidor de um amplo segmento da humanidade não estão sendo atendidas. Isso se traduz
em demanda excessiva e estilos de vida insustentáveis nos segmentos mais ricos, que exercem
imensas pressões sobre o meio ambiente. Enquanto isso os segmentos mais pobres não têm
condições de ser atendidos em suas necessidades de alimentação, saúde, moradia e educação. A
mudança dos padrões de consumo exigirá uma estratégia multifacetada centrada na demanda, no
atendimento das necessidades básicas dos pobres e na redução do desperdício e do uso de
recursos finitos no processo de produção.
4.6. Malgrado o reconhecimento crescente da importância dos problemas relativos ao
consumo, ainda não houve uma compreensão plena de suas implicações. Alguns economistas
vêm questionando os conceitos tradicionais do crescimento econômico e sublinhando a
importância de que se persigam objetivos econômicos que levem plenamente em conta o valor
dos recursos naturais. Para que haja condições de formular políticas internacionais e nacionais
coerentes é preciso aumentar o conhecimento acerca do papel do consumo relativamente ao
crescimento econômico e à dinâmica demográfica.
Agenda 21 - Global 25

Objetivos

4.7. É preciso adotar medidas que atendam aos seguintes objetivos amplos:
(a) Promover padrões de consumo e produção que reduzam as pressões ambientais
e atendam às necessidades básicas da humanidade;
(b) Desenvolver uma melhor compreensão do papel do consumo e da forma de se
implementar padrões de consumo mais sustentáveis.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a gerenciamento


Adoção de uma abordagem internacional para obter padrões de consumo sustentáveis
4.8. Em princípio, os países devem orientar-se pelos seguintes objetivos básicos em seus
esforços para tratar da questão do consumo e dos estilos de vida no contexto de meio ambiente e
desenvolvimento:
(a) Todos os países devem empenhar-se na promoção de padrões sustentáveis de
consumo;
(b) Os países desenvolvidos devem assumir a liderança na obtenção de padrões
sustentáveis de consumo;
(c) Em seu processo de desenvolvimento, os países em desenvolvimento devem
procurar atingir padrões sustentáveis de consumo, garantindo o atendimento das necessidades
básicas dos pobres e, ao mesmo tempo, evitando padrões insustentáveis, especialmente os dos
países industrializados, geralmente considerados especialmente nocivos ao meio ambiente,
ineficazes e dispendiosos. Isso exige um reforço do apoio tecnológico e de outras formas de
assistência por parte dos países industrializados.
4.9. No acompanhamento da implementação da Agenda 21, a apreciação do progresso
feito na obtenção de padrões sustentáveis de consumo deve receber alta prioridade.
(b) Dados e informações
Execução de pesquisas sobre o consumo
4.10. A fim de apoiar essa estratégia ampla os Governos e/ou institutos privados de
pesquisa responsáveis pala formulação de políticas, com o auxílio das organizações regionais e
internacionais que tratam de economia e meio ambiente, devem fazer um esforço conjunto para:
(a) Expandir ou promover bancos de dados sobre a produção e o consumo e
desenvolver metodologias para analisá-los;
(b) Avaliar as conexões entre produção e consumo, meio ambiente, adaptação e
inovação tecnológicas, crescimento econômico e desenvolvimento, e fatores demográficos;
(c) Examinar o impacto das alterações em curso sobre a estrutura das economias
industriais modernas que venham abandonando o crescimento econômico com elevado emprego
de matérias-primas;
(d) Considerar de que modo as economias podem crescer e prosperar e, ao mesmo
tempo, reduzir o uso de energia e matéria-prima e a produção de materiais nocivos;
(e) Identificar, em nível global, padrões equilibrados de consumo que a Terra
tenha condições de suportar a longo prazo;
Desenvolvimento de novos conceitos de crescimento econômico sustentável e
prosperidade
4.11. Convém ainda considerar os atuais conceitos de crescimento econômico e a
Agenda 21 - Global 26

necessidade de que se criem novos conceitos de riqueza e prosperidade, capazes de permitir


melhoria nos níveis de vida por meio de modificações nos estilos de vida que sejam menos
dependentes dos recursos finitos da Terra e mais harmônicos com sua capacidade produtiva. Isso
deve refletir-se na elaboração de novos sistemas de contabilidade nacional e em outros
indicadores do desenvolvimento sustentável.
(c) Cooperação e coordenação internacionais
4.12. Conquanto existam processos internacionais de análise dos fatores econômicos,
demográficos e de desenvolvimento, é necessário dedicar mais atenção às questões relacionadas
aos padrões de consumo e produção, ao meio ambiente e aos estilos de vida sustentáveis.
4.13. No acompanhamento da implementação da Agenda 21 deve ser atribuída alta
prioridade ao exame do papel e do impacto dos padrões insustentáveis de produção e consumo,
bem como de suas relações com o desenvolvimento sustentável.
Financiamento e estimativa de custos
4.14. O Secretariado da Conferência estimou que a implementação deste programa
provavelmente não irá exigir novos recursos finaceiros significativos.

B. Desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais para estimular mudanças nos


padrões insustentáveis de consumo

Base para a ação

4.15. A fim de que se atinjam os objetivos de qualidade ambiental e desenvolvimento


sustentável será necessário eficiência na produção e mudanças nos padrões de consumo para dar
prioridade ao uso ótimo dos recursos e à redução do desperdício ao mínimo. Em muitos casos,
isso irá exigir uma reorientação dos atuais padrões de produção e consumo, desenvolvidos pelas
sociedades industriais e por sua vez imitados em boa parte do mundo.
4.16. É possível progredir reforçando as tendências e orientações positivas que vêm
emergindo como parte integrante de um processo voltado para a concretização de mudanças
significativas nos padrões de consumo de indústrias, Governos, famílias e indivíduos.
4.17. Nos anos vindouros os Governos, trabalhando em colaboração com as instituições
adequadas, devem procurar atender aos seguintes objetivos amplos:
(a) Promover a eficiência dos processos de produção e reduzir o consumo
perdulário no processo de crescimento econômico, levando em conta as necessidades de
desenvolvimento dos países em desenvolvimento;
(b) Desenvolver uma estrutura política interna que estimule a adoção de padrões
de produção e consumo mais sustentáveis;
(c) Reforçar, de um lado, valores que estimulem padrões de produção e consumo
sustentáveis; de outro, políticas que estimulem a transferência de tecnologias ambientalmente
saudáveis para os países em desenvolvimento.

Atividades

(a) Estímulo a uma maior eficiência no uso da energia e dos recursos


4.18. A redução do volume de energia e dos materiais utilizados por unidade na produção
de bens e serviços pode contribuir simultaneamente para a mitigação da pressão ambiental e o
aumento da produtividade e competitividade econômica e industrial. Em decorrência, os
Governos, em cooperação com a indústria, devem intensificar os esforços para utilizar a energia e
Agenda 21 - Global 27

os recursos de modo economicamente eficaz e ambientalmente saudável, como se segue:


(a) Com o estímulo à difusão das tecnologias ambientalmente saudáveis já
existentes;
(b) Com a promoção da pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias
ambientalmente saudáveis;
(c) Com o auxílio aos países em desenvolvimento na utilização eficiente dessas
tecnologias e no desenvolvimento de tecnologias apropriadas a suas circunstâncias específicas;
(d) Com o estímulo ao uso ambientalmente saudável das fontes de energia novas e
renováveis;
(e) Com o estímulo ao uso ambientalmente saudável e renovável dos recursos
naturais renováveis.
(b) Redução ao mínimo da geração de resíduos
4.19. Ao mesmo tempo, a sociedade precisa desenvolver formas eficazes de lidar com o
problema da eliminação de um volume cada vez maior de resíduos. Os Governos, juntamente
com a indústria, as famílias e o público em geral, devem envidar um esforço conjunto para
reduzir a geração de resíduos e de produtos descartados, das seguintes maneiras:
(a) Por meio do estímulo à reciclagem no nível dos processos industriais e do
produto consumido;
(b) Por meio da redução do desperdício na embalagem dos produtos;
(c) Por meio do estímulo à introdução de novos produtos ambientalmente
saudáveis.
(c) Auxílio a indivíduos e famílias na tomada de decisões ambientalmente saudáveis de
compra
4.20. O recente surgimento, em muitos países, de um público consumidor mais consciente
do ponto de vista ecológico, associado a um maior interesse, por parte de algumas indústrias, em
fornecer bens de consumo mais saudáveis ambientalmente, constitui acontecimento significativo
que deve ser estimulado. Os Governos e as organizações internacionais, juntamente com o setor
privado, devem desenvolver critérios e metodologias de avaliação dos impactos sobre o meio
ambiente e das exigências de recursos durante a totalidade dos processos e ao longo de todo o
ciclo de vida dos produtos. Os resultados de tal avaliação devem ser transformados em
indicadores claros para informação dos consumidores e das pessoas em posição de tomar
decisões.
4.21. Os Governos, em cooperação com a indústria e outros grupos pertinentes, devem
estimular a expansão da rotulagem com indicações ecológicas e outros programas de informação
sobre produtos relacionados ao meio ambiente, a fim de auxiliar os consumidores a fazer opções
informadas.
4.22. Além disso, os Governos também devem estimular o surgimento de um público
consumidor informado e auxiliar indivíduos e famílias a fazer opções ambientalmente informadas
das seguintes maneiras:
(a) Com a oferta de informações sobre as conseqüências das opções e
comportamentos de consumo, de modo a estimular a demanda e o uso de produtos
ambientalmente saudáveis;
(b) Com a conscientização dos consumidores acerca do impacto dos produtos
sobre a saúde e o meio ambiente por meio de uma legislação que proteja o consumidor e de uma
rotulagem com indicações ecológicas;
(c) Com o estímulo a determinados programas expressamente voltados para os
interesses do consumidor, como a reciclagem e sistemas de depósito/restituição.
Agenda 21 - Global 28

(d) Exercício da liderança por meio das aquisições pelos Governos


4.23. Os próprios Governos também desempenham um papel no consumo, especialmente
nos países onde o setor público ocupa uma posição preponderante na economia, podendo exercer
considerável influência tanto sobre as decisões empresariais como sobre as opiniões do público.
Conseqüentemente, esses Governos devem examinar as políticas de aquisição de suas agências e
departamentos de modo a aperfeiçoar, sempre que possível, o aspecto ecológico de suas políticas
de aquisição, sem prejuízo dos princípios do comércio internacional.
(e) Desenvolvimento de uma política de preços ambientalmente saudável
4.24. Sem o estímulo dos preços e de indicações do mercado que deixem claro para
produtores e consumidores os custos ambientais do consumo de energia, de matérias-primas e de
recursos naturais, bem como da geração de resíduos, parece improvável que, num futuro
próximo, ocorram mudanças significativas nos padrões de consumo e produção.
4.25. Com a utilização de instrumentos econômicos adequados, começou-se a influir
sobre o comportamento do consumidor. Esses instrumentos incluem encargos e impostos
ambientais, sistemas de depósito/restituição, etc. Tal processo deve ser estimulado, à luz das
condições específicas de cada país.
(f) Reforço dos valores que apóiem o consumo sustentável
4.26. Os Governos e as organizações do setor privado devem promover a adoção de
atitudes mais positivas em relação ao consumo sustentável por meio da educação, de programas
de esclarecimento do público e outros meios, como publicidade positiva de produtos e serviços
que utilizem tecnologias ambientalmente saudáveis ou estímulo a padrões sustentáveis de
produção e consumo. No exame da implementação da Agenda 21 deve-se atribuir a devida
consideração à apreciação do progresso feito no desenvolvimento dessas políticas e estratégias
nacionais.

Meios de implementação

4.27. Este programa ocupa-se antes de mais nada das mudanças nos padrões
insustentáveis de consumo e produção e dos valores que estimulam padrões de consumo e estilos
de vida sustentáveis. Requer os esforços conjuntos de Governos, consumidores e produtores.
Especial atenção deve ser dedicada ao papel significativo desempenhado pelas mulheres e
famílias enquanto consumidores, bem como aos impactos potenciais de seu poder aquisitivo
combinado sobre a economia.
Agenda 21 - Global 29

Capítulo 5

DINÂMICA DEMOGRÁFICA E SUSTENTABILIDADE

5.1. Este capítulo contém as seguintes áreas de programas:


(a) Desenvolvimento e difusão de conhecimentos sobre os vínculos entre
tendências e fatores demográficos e desenvolvimento sustentável;
(b) Formulação de políticas nacionais integradas para meio ambiente e
desenvolvimento, levando em conta tendências e fatores demográficos;
(c) Implementação de programas integrados de meio ambiente e desenvolvimento
no plano local, levando em conta tendências e fatores demográficos;

Áreas de programas

A. Aumento e difusão de conhecimentos sobre os vínculos entre tendências e fatores


demográficos e desenvolvimento sustentável

Base para a ação

5.2. Tendências e fatores demográficos e desenvolvimento sustentável têm uma relação


sinérgica.
5.3. O crescimento da população mundial e da produção, associado a padrões não
sustentáveis de consumo, aplica uma pressão cada vez mais intensa sobre as condições que tem
nosso planeta de sustentar a vida. Esses processos interativos afetam o uso da terra, a água, o ar, a
energia e outros recursos. As cidades em rápido crescimento, caso mal administradas, deparam-se
com problemas ambientais gravíssimos. O aumento do número e da dimensão das cidades exige
maior atenção para questões de Governo local e gerenciamento municipal. Os fatores humanos
são elementos fundamentais a considerar nesse intricado conjunto de vínculos; eles devem ser
adequadamente levados em consideração na formulação de políticas abrangentes para o
desenvolvimento sustentável. Tais políticas devem atentar para os elos existentes entre as
tendências e os fatores demográficos, a utilização dos recursos, a difusão de tecnologias
adequadas e o desenvolvimento. As políticas de controle demográfico também devem reconhecer
o papel desempenhado pelos seres humanos sobre o meio ambiente e o desenvolvimento. É
necessário acentuar a percepção dessa questão entre as pessoas em posição de tomar decisões em
todos os níveis e oferecer, de um lado, melhores informações sobre as quais apoiar as políticas
nacionais e internacionais e, de outro, uma estrutura conceitual para a interpretação dessas
informações.
5.4. Há a necessidade de desenvolver estratégias para mitigar tanto o impacto adverso das
atividades humanas sobre o meio ambiente como o impacto adverso das mudanças ambientais
sobre as populações humanas. Prevê-se que em 2020 a população mundial já tenha ultrapassado
os 8 bilhões de habitantes. Sessenta por cento da população mundial já vivem em áreas litorâneas,
enquanto 65 por cento das cidades com populações de mais de 2,5 milhões de habitantes estão
localizadas ao longo dos litorais do mundo; várias delas já estão no atual nível do mar -- ou
abaixo do atual nível do mar.

Objetivos
Agenda 21 - Global 30

5.5. Os seguintes objetivos devem ser atingidos tão depressa quanto for praticável:
(a) Incoporação de tendências e fatores demográficos à análise mundial das
questões relativas a meio ambiente e desenvolvimento;
(b) Desenvolvimento de uma melhor compreensão dos vínculos entre dinâmica
demográfica, tecnologia, comportamento cultural, recursos naturais e sistemas de sustento da
vida;
(c) Avaliação da vulnerabilidade humana em áreas ecologicamente sensíveis e
centros populacionais, para determinar as prioridades para a ação em todos os níveis, levando
plenamente em conta as necessidades definidas pela comunidade.

Atividades

Pesquisa sobre a interação entre tendências e fatores demográficos e desenvolvimento


sustentável
5.6. As instituições internacionais, regionais e nacionais pertinentes devem considerar a
hipótese de empreender as seguintes atividades:
(a) Identificação das interações entre processos demográficos, recursos naturais e
sistemas de sustento da vida, tendo em mente as variações regionais e sub-regionais resultantes,
inter alia, dos distintos níveis de desenvolvimento;
(b) Integração de tendências e fatores demográficos ao estudo atualmente em
curso sobre as mudanças do meio ambiente, utilizando os conhecimentos especializados das redes
internacionais, regionais e nacionais de pesquisa, bem como das comunidades locais,
primeiramente para estudar as dimensões humanas das mudanças do meio ambiente e, em
segundo lugar, para identificar áreas vulneráveis;
(c) Identificação de áreas prioritárias para a ação e desenvolvimento de estratégias
e programas para mitigar o impacto adverso das mudanças do meio ambiente sobre as populações
humanas e vice-versa.

Meios de implementação

(a) Financiamento e avaliação de custos


5.7. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $10 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das
estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Fortalecimento do programas de pesquisa que integrem população, meio ambiente e
desenvolvimento.
5.8. Para poder integrar a análise demográfica a uma perspectiva mais ampla de meio
ambiente e desenvolvimento baseada nas ciências sociais, a pesquisa interdisciplinar deve ser
reforçada. As instituições e redes de especialistas internacionais devem intensificar sua
capacidade científica levando plenamente em conta a experiência e os conhecimentos das
comunidades, e disseminar a experiência adquirida em abordagens multidisciplinares e na
associação da teoria à ação.
5.9. Devem ser desenvolvidos melhores métodos para a estruturação de modelos, que
Agenda 21 - Global 31

apontem para o alcance dos possíveis resultados das atuais atividades humanas, sobretudo o
impacto inter-relacionado das tendências e fatores demográficos, da utilização per capita dos
recursos e da distribuição da riqueza, bem como das principais correntes migratórias previsíveis
diante de acontecimentos climáticos cada vez mais freqüentes e de mudanças do meio ambiente
cumulativas que talvez venham a destruir os meios locais de subsistência.
(c) Desenvolvimento da informação e da atenção do público
5.10. Devem ser desenvolvidas informações sócio-demográficas em formato apropriado
para o estabelecimento de interfaces com dados físicos, biológicos e sócio-econômicos. Convém
ainda desenvolver escalas espaciais e temporais compatíveis, informações geográficas e
cronológicas e indicadores comportamentais globais, mediante a coleta de informações acerca
das percepções e comportamentos das comunidades locais.
5.11. O público deve ser mais sensibilizado, em todos os níveis, quanto à necessidade de
otimizar o uso sustentável dos recursos por meio de um manejo eficiente desses recursos, sempre
levando em conta as necessidades de desenvolvimento das populações dos países em
desenvolvimento.
5.12. O público deve ser melhor informado sobre os vínculos fundamentais existentes
entre melhorar a condição da
mulher e a dinâmica demográfica, especialmente por meio do acesso da mulher à educação e a
programas de atendimento básico de saúde e de atendimento médico da reprodução, à
independência econômica e à participação efetiva e eqüitativa em todos os níveis do processo de
tomada de decisões.
5.13. Os resultados das pesquisas voltadas para questões relativas a desenvolvimento
sustentável devem ser disseminadas por meio de relatos técnicos, publicações científicas,
imprensa, cursos práticos, congressos e outros meios, a fim de que as informações possam ser
utilizadas pelas pessoas em posição de tomar decisões em todos os níveis e aumentar o
conhecimento do público a respeito.
(d) Desenvolvimento e/ou intensificação do fortalecimento e da colaboração institucional
5.14. Deve haver maior colaboração e troca de informações entre as instituições de
pesquisa e as agências internacionais, regionais e nacionais, bem como com todos os demais
setores (inclusive o setor privado, as comunidades locais, as organizações não-governamentais e
as instituições científicas), tanto dos países industrializados como dos países em
desenvolvimento, conforme as necessidades.
5.15. Devem ser intensificados os esforços para aumentar a capacidade dos Governos
nacionais e locais, do setor privado e das organizações não-governamentais dos países em
desenvolvimento, para atender à necessidade crescente de um gerenciamento mais aperfeiçoado
das áreas urbanas em rápido crescimento.

B. Formulação de políticas nacionais integradas para meio ambiente e desenvolvimento,


levando em conta tendências e fatores demográficos

Base para a ação

5.16. De modo geral, os planos existentes de apoio ao desenvolvimento sustentável


reconhecem tendências e fatores demográficos como elementos que exercem uma influência
crítica sobre os padrões de consumo, a produção, os estilos de vida e a sustentabilidade a longo
prazo. No futuro, porém, será necessário dedicar mais atenção a essas questões por ocasião da
formulação da política geral e da elaboração dos planos de desenvolvimento. Para fazê-lo, todos
Agenda 21 - Global 32

os países terão de aperfeiçoar suas próprias condições de avaliar as implicações de suas


tendências e fatores demográficos no que diz respeito a meio ambiente e desenvolvimento. Além
disso, conforme apropriado, esses países também terão de formular e implementar políticas e
programas de ação. Essas políticas devem ser estruturadas de forma a avaliar as conseqüências do
crescimento populacional inerente à tendência demográfica e, ao mesmo tempo, idealizar
medidas que ensejem uma transição demográfica. Devem associar preocupações ambientais a
questões populacionais no âmbito de uma visão holística do desenvolvimento, cujos objetivos
primeiros incluam: mitigação da pobreza; garantia dos meios de subsistência; boa saúde;
qualidade de vida; melhoria da condição e dos rendimentos da mulher e seu acesso à instrução e
ao treinamento profissional, bem como a realização de suas aspirações pessoais; e
reconhecimento dos direitos de indivíduos e das comunidades. Reconhecendo que nos países em
desenvolvimento irão ocorrer aumentos de monta na dimensão e no número das cidades dentro de
qualquer cenário populacional provável, deve ser dedicada maior atenção à preparação para o
atendimento da necessidade, especialmente das mulheres e crianças, por melhores administrações
municipais e Governos locais.

Objetivo

5.17. Deve ter prosseguimento a total incorporação das preocupações com o controle
demográfico aos processos de planejamento, formulação de políticas e tomadas de decisão no
plano nacional. Deve ser considerada a possibilidade de se adotarem políticas e programas de
controle demográfico que reconheçam plenamente os direitos da mulher.

Atividades

5.18. Os Governos e outros atores pertinentes podem, inter alia, empreender as seguintes
atividades, com apoio adequado por parte das agências de auxílio, e apresentar relatórios sobre o
andamento de sua implementação à Conferência Internacional sobre População e
Desenvolvimento a ser celebrada em 1994, em especial para seu comitê de população e meio
ambiente:
(a) Avaliação das implicações de tendências e fatores demográficos nacionais
5.19. As relações entre as tendências e os fatores demográficos e a mudança do meio
ambiente e entre a deterioração do meio ambiente e os componentes da alteração demográfica
devem ser analisadas.
5.20. Devem ser desenvolvidas pesquisas sobre a maneira como fatores ambientais e
fatores sócio-econômicos interagem, provocando migrações.
5.21. Os grupos populacionais vulneráveis (por exemplo trabalhadores rurais sem terra,
minorias étnicas, refugiados, migrantes, pessoas deslocadas, mulheres chefes de família) cujas
alterações na estrutura demográfica possam resultar em impactos específicos sobre o
desenvolvimento sustentável devem ser identificados.
5.22. Deve ser feita uma avaliação das implicações da estrutura etária da população sobre
a demanda de recursos e os encargos de dependência, incluindo desde o custo da educação para
os jovens até o atendimento sanitário e o auxílio para os idosos, e sobre a geração de rendimentos
no âmbito da família.
5.23. Também deve ser feita uma avaliação do contingente populacional compatível, por
país, com a satisfação das necessidades humanas e do desenvolvimento sustentável, com especial
atenção dedicada a recursos críticos, como a água e a terra, e a fatores ambientais, como saúde do
Agenda 21 - Global 33

ecossistema e diversidade biológica.


5.24. Deve ser estudado o impacto de tendências e fatores demográficos nacionais sobre
os meios tradicionais de subsistência dos grupos indígenas e comunidades locais, inclusive as
alterações no uso tradicional da terra resultantes de pressões populacionais internas.
(b) Criação e fortalecimento de uma base nacional de informações
5.25. Devem ser criados e/ou fortalecidos centros nacionais de informações sobre
tendências e fatores demográficos e relativos a meio ambiente, discriminando os dados por região
ecológica (critério baseado no ecossistema), e traçados perfis que relacionem população e meio
ambiente, por região.
5.26. Devem ser desenvolvidos metodologias e instrumentos que permitam identificar as
áreas onde a sustentabilidade está, ou pode vir a estar, ameaçada pelos efeitos ambientais de
tendências e fatores demográficos, utilizando ao mesmo tempo dados demográficos atuais e
projeções que digam respeito a processos ambientais naturais.
5.27. Devem ser desenvolvidos estudos de caso das reações, no plano local, dos diferentes
grupos à dinâmica demográfica, especialmente nas áreas sujeitas a pressão ambiental e nos
centros urbanos em processo de deterioração.
5.28. Os dados populacionais devem discriminar, inter alia, sexo e idade, levando em
conta desse modo as implicações da divisão do trabalho por gênero no uso e manejo dos recursos
naturais.
(c) Inclusão, nas políticas e nos planos, das características demográficas
5.29. Na formulação de políticas de assentamento humano devem ser levados em conta os
recursos necessários, a geração de resíduos e a saúde dos ecossistemas.
5.30. Os efeitos diretos e induzidos das alterações demográficas sobre os programas
relativos a meio ambiente e desenvolvimento devem, quando necessário, ser integrados, e o
impacto sobre o perfil demográfico avaliado.
5.31. No âmbito de uma política nacional de controle demográfico, devem ser definidos e
implementados metas e programas compatíveis com os planos nacionais para o meio ambiente e
o desenvolvimento sustentável e em conformidade com a liberdade, a dignidade e os valores
pessoais dos indivíduos.
5.32. Devem ser desenvolvidas, tanto no plano familiar como no de sistemas de apoio
estatais, políticas sócio-econômicas adequadas para os jovens e os idosos.
5.33. A fim de lidar com os diversos tipos de migração resultantes de perturbações
ambientais -- ou que as induzem --, devem ser desenvolvidos políticas e programas, com especial
atenção para a mulher e os grupos vulneráveis.
5.34. As considerações demográficas, inclusive as que dizem respeito a migrantes e
pessoas deslocadas por razões ambientais, devem ser incorporadas aos programas das instituições
internacionais e regionais pertinentes em favor do desenvolvimento sustentável.
5.35. Devem ser realizadas verificações de âmbito nacional, mediante o monitoramento
no país todo da integração das políticas de controle demográfico às estratégias nacionais relativas
a desenvolvimento e meio ambiente.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


5.36. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $90 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
Agenda 21 - Global 34

estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Maior consciência a respeito das interações entre demografia e desenvolvimento
sustentável
5.37. Deve haver uma maior compreensão, em todos os segmentos da sociedade, das
interações entre tendências e fatores demográficos e desenvolvimento sustentável. Devem-se
exigir iniciativas práticas nos planos local e nacional. O ensino, tanto formal como não-formal,
deve passar a incluir em seu currículo, tanto de forma coordenada como integrada, as questões
relativas a demografia e desenvolvimento sustentável. Especial atenção deve ser atribuída aos
programas de ensino sobre questões de controle demográfico, sobretudo para as mulheres. Deve
ser especialmente salientado o elo existente entre esses programas, a conservação do meio
ambiente e a existência de atendimento e serviços primários de saúde.
(c) Fortalecimento institucional
5.38. Deve-se aumentar a capacidade das estruturas nacionais, regionais e locais de
dedicar-se a questões relativas a tendências e fatores demográficos e desenvolvimento
sustentável. Para tanto, seria necessário fortalecer os órgãos competentes responsáveis por
questões populacionais, capacitando-os, assim, a elaborar políticas condizentes com as
expectativas nacionais de desenvolvimento sustentável. Concomitantemente, deve ser
intensificada a cooperação entre o Governo, as instituições nacionais de pesquisa, as
organizações não-governamentais e as comunidades locais na consideração dos problemas e na
avaliação das políticas.
5.39. Deve-se aumentar, conforme necessário, a capacidade dos órgãos, organizações e
grupos competentes das Nações Unidas, dos organismos intergovernamentais internacionais e
regionais, das organizações não-governamentais e das comunidades locais a fim de ajudar os
países que o solicitem a adotar políticas de desenvolvimento sustentável e, quando for o caso,
oferecer auxílio aos migrantes e pessoas deslocadas por razões ambientais.
5.40. O apoio inter-agências às políticas e programas nacionais de desenvolvimento
sustentável deve ser aperfeiçoado por meio de melhor coordenação entre as atividades ambientais
e de controle demográfico.
(d) Estímulo ao desenvolvimento dos recursos humanos
5.41. As instituições científicas internacionais e regionais devem ajudar os Governos,
quando solicitadas, a incluir nos programas de formação de demógrafos e especialistas em
população e meio ambiente tópicos relativos às interações população/meio ambiente nos planos
global, de ecossistemas e local. Essa formação deve incluir pesquisas sobre os vínculos entre
população e meio ambiente e maneiras de estruturar estratégias integradas.

C. Implementação de programas integrados de meio ambiente e desenvolvimento no plano


local, levando em conta tendências e fatores demográficos

Base para a ação

5.42. Os programas de controle demográfico são mais eficazes quando implementados


juntamente com políticas trans-setoriais adequadas. Para obter sustentabilidade no plano local, é
necessária uma nova estrutura que integre tendências e fatores demográficos com fatores tais
como saúde do ecossistema, tecnologia e estabelecimentos humanos, e, ao mesmo tempo, com as
estruturas sócio-econômicas e o acesso aos recursos. Os programas de controle demográfico
Agenda 21 - Global 35

devem coadunar-se ao planejamento sócio-econômico e ambiental. Os programas integrados em


favor do desenvolvimento sustentável devem associar estreitamente as atividades relativas a
tendências e fatores demográficos àquelas voltadas para o manejo de recursos, bem como a metas
de desenvolvimento que atendam às necessidades das pessoas envolvidas.

Objetivo

5.43. Os programas de controle demográfico devem ser implementados paralelamente aos


programas de âmbito local voltados para o manejo dos recursos naturais e o desenvolvimento:
isso garantirá o uso sustentável dos recursos naturais, melhorará a qualidade de vida das pessoas,
bem como do meio ambiente.

Atividades

5.44. Os Governos e as comunidades locais, inclusive as organizações de mulheres


baseadas na comunidade e as organizações não-governamentais nacionais, em conformidade com
planos, objetivos, estratégias e prioridades nacionais, podem, inter alia, empreender as atividades
enumeradas abaixo, com o auxílio e a cooperação de organizações internacionais, conforme
apropriado. Os Governos podem partilhar suas experiências na implementação da Agenda 21 por
ocasião da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento a ser realizada em
1994, particularmente no âmbito de seu comitê sobre população e meio ambiente.
(a) Desenvolvimento de uma estrutura para a ação
5.45. Deve ser estabelecido e implementado um processo consultivo eficaz envolvendo os
grupos pertinentes da sociedade, tornando a formulação e a tomada de decisões, em todos os
segmentos dos programas, um processo consultivo de âmbito nacional com base em reuniões
comunitárias, grupos de trabalho regionais e seminários nacionais, conforme apropriado. Esse
processo irá garantir que os pontos de vista de mulheres e homens acerca de suas necessidades,
perspectivas e limitações estejam devidamente representados na formulação dos programas, e que
as soluções resultem de experiências concretas. No processo, os grupos de pobres e
desfavorecidos devem ter participação prioritária.
5.46. Devem ser implementadas políticas formuladas nacionalmente de programas
integrados e multifacetados, que dediquem especial atenção às mulheres, aos habitantes mais
pobres das áreas críticas e a outros grupos vulneráveis, e que permitam a participação, enquanto
agentes da mudança e do desenvolvimento sustentável, dos grupos com maior potencial. Os
programas que atingem objetivos múltiplos, mediante o estimulo ao desenvolvimento econômico
sustentável, o atenuação dos impactos adversos das tendências e fatores demográficos e a
supressão de danos ambientais a longo prazo, devem receber ênfase especial. Entre outros, de
acordo com as necessidades, devem ser incluídos tópicos como segurança alimentar, acesso à
posse segura da terra, condições mínimas de habitação, bem como infra-estrutura, educação,
bem-estar familiar, saúde reprodutiva da mulher, planos de crédito familiar, programas de
reflorestamento, conservação do meio ambiente e emprego feminino.
5.47. Deve-se desenvolver uma estrutura analítica que permita identificar os elementos
complementares a uma política de desenvolvimento sustentável, bem como mecanismos
nacionais que permitam monitorar e avaliar os efeitos dessa política sobre a dinâmica
populacional.
5.48. Especial atenção deve ser dedicada ao papel fundamental da mulher nos programas
voltados para questões de controle demográfico e de meio ambiente e na obtenção de um
Agenda 21 - Global 36

desenvolvimento sustentável. Os projetos devem valer-se das eventuais oportunidades de associar


benefícios sociais, econômicos e ambientais para as mulheres e suas famílias. O avanço da
mulher é essencial e deve ser assegurado por meio da educação, do treinamento e da formulação
de políticas voltadas para o reconhecimento e a promoção do direito e do acesso da mulher aos
bens, aos direitos humanos e civis, a medidas que resultem em diminuição de jornada de trabalho,
a oportunidades de emprego e à participação no processo de tomada de decisões. Os programas
de controle demográfico/ambientais devem capacitar a mulher a mobilizar-se para ter seus
encargos diminuídos e adquirir mais condições de participar, e beneficiar-se, do desenvolvimento
sócio-econômico. Devem ser adotadas medidas concretas para eliminar o atual desnível entre o
índice de analfabetismo de mulheres e homens.
(b) Apoio aos programas que promovam mudanças nas tendências e fatores demográficos
e que busquem a sustentabilidade
5.49. Os programas médicos e sanitários da área reprodutiva devem, conforme
apropriado, ser desenvolvidos e reforçados com o objetivo de reduzir a mortalidade maternal e
infantil resultante de todas as causas e de capacitar mulheres e homens a satisfazer suas
aspirações pessoais em termos de dimensão familiar, respeitados sua liberdade, dignidade e
valores pessoais.
5.50. Os Governos devem adotar medidas ativas para implementar, em regime de
urgência, de acordo com as condições específicas de cada país e seus sistemas jurídicos, medidas
que garantam direitos iguais para homens e mulheres de decidir livre e responsavelmente acerca
do número de filhos que desejam ter e do espaçamento entre eles, bem como o acesso a
informação, educação e condições, conforme as necessidades, que lhes permitam exercer esse
direito, respeitados sua liberdade, dignidade e valores pessoais e levando em conta aspectos
éticos e culturais.
5.51. Os Governos devem adotar medidas ativas para implementar programas que criem e
fortaleçam serviços sanitários preventivos e curativos que incluam um atendimento à saúde
reprodutiva voltado para a mulher, gerenciado por mulheres, seguro e eficaz, e serviços baratos e
acessíveis, condizentes com as necessidades, para o planejamento responsável do tamanho da
família, respeitados a liberdade, a dignidade e os valores pessoais e levando em conta aspectos
éticos e culturais. Os programas devem estar centrados na prestação de serviços gerais e
sanitários que incluam atendimento pré-natal, educação e informação sobre questões de saúde e
sobre paternidade responsável, e devem oferecer a todas as mulheres a oportunidade de
amamentar integralmente seus filhos, pelo menos durante os primeiros quatro meses depois do
parto. Os programas devem dar total apoio aos papéis produtivo e reprodutivo da mulher, bem
como a seu bem-estar, com especial atenção para a necessidade de oferecer melhor atendimento
sanitário a todas as crianças, em condições de igualdade, e para a necessidade de reduzir o risco
de mortalidade e enfermidade maternal e infantil.
5.52. Em conformidade com as prioridades nacionais, devem ser desenvolvidos
programas informativos e educacionais com base cultural que transmitam a homens e mulheres
mensagems facilmente compreensíveis que digam respeito à saúde reprodutiva.
(c) Criação de condições institucionais adequadas
5.53. Devem ser promovidos, conforme apropriado, foros e condições institucionais que
facilitem a implementação de atividades de controle demográfico. Isso exige o apoio e o
comprometimento das autoridades políticas locais, religiosas e tradicionais, bem como do setor
privado e das comunidades científicas nacionais. Ao desenvolver essas condições institucionais
adequadas, os países devem envolver ativamente as agremiações de mulheres de âmbito nacional.
5.54. A assistência relativa a questões de controle demográfico deve ser desenvolvida
Agenda 21 - Global 37

com o concurso de doadores bilaterais e multilaterais para que as necessidades e exigências


populacionais de todos os países em desenvolvimento sejam levadas em consideração,
respeitando plenamente a atribuição soberana de coordenação e as opções e estratégias dos países
receptores.
5.55. A coordenação no plano local e internacional deve ser aperfeiçoada. Os métodos de
trabalho devem ser melhorados no sentido de se otimizar o uso dos recursos, de aproveitar as
contribuições da experiência coletiva e de aperfeiçoar a implementação dos programas. O
FNUAP e outras agências pertinentes devem fortalecer a coordenação das atividades de
cooperação internacional com os países receptores e os doadores, com o objetivo de assegurar a
disponibilidade dos recursos adequados às necessidades crescentes.
5.56. Devem ser formuladas propostas de programas locais, nacionais e internacionais de
controle demográfico/ ambientais condizentes com as necessidades concretas e que tenham o
objetivo de atingir a sustentabilidade. Conforme apropriado, devem-se implementar mudanças
institucionais a fim de que a segurança na velhice não dependa inteiramente da contribuição dos
membros da família.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


5.57. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $7 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $3,5 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional, em termos
concessionais ou de doação. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Pesquisa
5.58. Devem ser empreendidas atividades de pesquisa voltadas para o desenvolvimento de
programas concretos de ação; será necessário estabelecer prioridades entre as áreas de pesquisa
propostas.
5.59. Devem ser conduzidas pesquisas sócio-demográficas sobre a forma como as
populações reagem a um meio ambiente em mutação.
5.60. Deve ser aprofundada a análise dos fatores sócio-culturais e políticos capazes de
influir positivamente na aceitação dos instrumentos pertinentes a uma política de controle
demográfico.
5.61. Devem ser empreendidas pesquisas de campo sobre as alterações das necessidades
de serviços relacionados a um planejamento responsável do tamanho da família; essas pesquisas
devem refletir as variações entre os diferentes grupos sócio-econômicos e as variações entre as
diferentes regiões geográficas.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos e fortalecimento institucional
5.62. As áreas de desenvolvimento de recursos humanos e do fortalecimento institucional,
com especial atenção para a educação e o treinamento da mulher, são áreas de fundamental
importância e têm altíssima prioridade na implementação dos programas de controle
demográfico.
5.63. Grupos de trabalho devem reunir-se para ajudar os gerenciadores de programas e
projetos a associar os programas de controle demográfico a outras metas de desenvolvimento e
proteção do meio ambiente.
Agenda 21 - Global 38

5.64. Deve ser criado material didático, inclusive guias e manuais, para uso de
planejadores, pessoas em posição de tomar decisões e outros participantes dos programas de
controle demográfico/meio ambiente/desenvolvimento.
5.65. Os Governos, instituições científicas e organizações não-governamentais de
determinada região, juntamente com as instituições similares de outras regiões, devem
estabelecer entre si programas de cooperação. Deve-se ainda fomentar a cooperação com as
organizações locais com o objetivo de aumentar o nível de consciência das pessoas, empreender
projetos demonstrativos e relatar a experiência adquirida.
5.66. As recomendações contidas neste capítulo não devem de modo algum prejudicar as
discussões da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, a ser realizada em
1994, que será o foro apropriado para a discussão das questões relativas a população e
desenvolvimento, levando em conta as recomendações da Conferência Internacional sobre
População realizada na Cidade do México em 1984(1), e as Estratégias Voltadas para o Futuro
para o Avanço da Mulher(2) adotadas pela Conferência Mundial para o Exame e Avaliação das
Realizações da Década das Nações Unidas para a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz,
realizada em Nairóbi em 1985.

1. Relatório da Conferência Internacional sobre População, Cidade do México, 6-14 de


agosto de 1984 (publicação das Nações Unidas, número de venda: E.84.XIII.8), cap. I.
2. RELATÓRIO da Conferência Mundial para o Exame e Avaliação das Realizações da
Década das Nações Unidas para a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz, Nairóbi, 15-26 de
julho de 1985 (publicação das Nações Unidas, número de venda: E.84.IV.10), cap. I, seção A.
Agenda 21 - Global 39

Capítulo 6

PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DAS CONDIÇÕES DA SAÚDE HUMANA

Introdução

6.1. A saúde e o desenvolvimento estão intimamente relacionados. Tanto um


desenvolvimento insuficiente que conduza à pobreza como um desenvolvimento inadequado que
resulte em consumo excessivo, associados a uma população mundial em expansão, podem
resultar em sérios problemas para a saúde relacionados ao meio ambiente, tanto nos países em
desenvolvimento como nos desenvolvidos. Os tópicos de ação da Agenda 21 devem estar
voltados para as necessidades de atendimento primário da saúde da população mundial, visto que
são parte integrante da concretização dos objetivos do desenvolvimento sustentável e da
conservação primária do meio ambiente. Os vínculos existentes entre saúde e melhorias
ambientais e sócio-econômicas exigem esforços intersetoriais. Tais esforços, que abrangem
educação, habitação, obras públicas e grupos comunitários, inclusive empresas, escolas e
universidades e organizações religiosas, cívicas e culturais, estão voltados para a capacitação das
pessoas em suas comunidades a assegurar o desenvolvimento sustentável. Especialmente
relevante é a inclusão de programas preventivos, que não se limitem a medidas destinadas a
remediar e tratar. Os países devem desenvolver planos para as ações que considerem prioritárias
nas áreas compreendidas neste capítulo; esses planos devem basear-se no planejamento
cooperativo realizado pelos diversos níveis de Governo, organizações não-governamentais e
comunidades locais. Uma organização internacional adequada, como a OMS, deveria coordenar
essas atividades.

Àeas de programas

6.2. As seguintes áreas de programas estão contidas neste capítulo:


(a) Satisfação das necessidades de atendimento primário da saúde, especialmente
nas zonas rurais;
(b) Controle das moléstias contagiosas;
(c) Proteção dos grupos vulneráveis;
(d) O desafio da saúde urbana;
(e) Redução dos riscos para a saúde decorrentes da poluição e dos perigos
ambientais

Àeas de programas

A. Satisfação das necessidades de atendimento primário da saúde, especialmente nas zonas


rurais

Bases para a ação

6.3. A saúde depende, em última instância, da capacidade de gerenciar eficazmente a


interação entre os meios físico, espiritual, biológico e econômico/social. É impossível haver
desenvolvimento saudável sem uma população saudável; não obstante, quase todas as atividades
Agenda 21 - Global 40

voltadas para o desenvolvimento afetam o meio ambiente em maior ou menor grau e isso, por sua
vez, ocasiona ou acirra muitos problemas de saúde. Por outro lado, justamente a ausência de
desenvolvimento tem uma ação daninha sobre a saúde de muitas pessoas, fato que apenas o
desenvolvimento tem condições de mitigar. Por si própria, a área da saúde não tem como
satisfazer suas necessidades e atender seus objetivos; ela depende do desenvolvimento social,
econômico e espiritual, ao mesmo tempo que contribui diretamente para tal desenvolvimento. A
área da saúde também depende de um meio ambiente saudável, inclusive da existência de um
abastecimento seguro de água, de serviços de saneamento e da disponibilidade de um
abastecimento seguro de alimentos e de nutrição adequada. Atenção especial deve ser dedicada à
segurança dos alimentos, dando-se prioridade à eliminação da contaminação alimentar; a
políticas abrangentes e sustentáveis de abastecimento de água, que garantam água potável segura
e um saneamento que impeça tanto a contaminação microbiana como química; e à promoção de
educação sanitária, imunização e abastecimento dos medicamentos essenciais. A educação e
serviços adequados no que diz respeito ao planejamento responsável do tamanho da família,
respeitados os aspectos culturais, religiosos e sociais, em conformidade com a liberdade, a
dignidade e os valores pessoais e levando em conta fatores éticos e culturais, também contribuem
para essas atividades intersetoriais.

Objetivos

6.4. Dentro da estratégia geral de obter saúde para todos até o ano 2000, os objetivos são:
satisfazer as necessidades sanitárias básicas das populações rurais, periferias urbanas e urbanas;
proporcionar os serviços especializados necessários de saúde ambiental; e coordenar a
participação dos cidadãos, da área da saúde, das áreas relacionadas à saúde e dos setores
pertinentes externos à área da saúde (instituições empresariais, sociais, educacionais e religiosas)
das soluções para os problemas da saúde. Como questão prioritária, deve ser obtida cobertura de
serviços sanitários para os grupos populacionais mais necessitados, particularmente os que vivem
nas zonas rurais.

Atividades

6.5. Os Governos nacionais e as autoridades locais, com o apoio das organizações não-
governamentais e internacionais pertinentes e à luz das condições específicas e necessidades dos
países, devem fortalecer seus programas da área da saúde, com especial atenção para as
necessidades das áreas rurais, para:
(a) Criar infra-estruturas sanitárias básicas, bem como sistemas de planejamento e
acompanhamento:
(i) Desenvolver e fortalecer sistemas de atendimento primário da saúde que
se caracterizem por serem práticos, baseados na comunidade, cientificamente confiáveis,
socialmente aceitáveis e adequados a suas necessidades, e que ao mesmo tempo atendam às
necessidades básicas de água limpa, alimentos seguros e saneamento;
(ii) Apoiar o uso e o fortalecimento de mecanismos que aperfeiçoem a
coordenação entre a área da saúde e as áreas a ela relacionadas, em todos os planos adequados do
Governo e nas comunidades e organizações pertinentes;
(iii) Desenvolver e implementar abordagens racionais e viáveis do ponto
de vista do custo para estabelecer e manter instalações que prestem serviços sanitários;
(iv) Assegurar e, quando indicado, aumentar o apoio à prestação de
Agenda 21 - Global 41

serviços sociais;
(v) Desenvolver estratégias, inclusive indicadores de saúde confiáveis, que
permitam acompanhar o avanço e avaliar a eficácia dos programas sanitários;
(vi) Estudar maneiras de financiar o sistema de saúde baseadas na
avaliação dos recursos necessários e identificar as diversas alternativas de financiamento;
(vii) Promover a educação sanitária nas escolas, o intercâmbio de
informações, o apoio técnico e o treinamento;
(viii) Apoiar iniciativas que propiciem o auto-gerenciamento dos serviços
pelos grupos vulneráveis;
(ix) Integrar os conhecimentos e as experiências tradicionais aos sistemas
nacionais de saúde, quando indicado;
(x) Promover os meios para os serviços logísticos necessários para as
atividades de extensão, sobretudo nas zonas rurais;
(xi) Promover e fortalecer atividades de reabilitação baseadas na
comunidade para os deficientes das zonas rurais;
(b) Apoiar o desenvolvimento da pesquisa e a criação de metodologias:
(i) Estabelecer mecanismos que propiciem a contínua participação da
comunidade nas atividades de saúde ambiental, inclusive da otimização do uso adequado dos
recursos financeiros e humanos da comunidade;
(ii) Realizar pesquisas sobre saúde ambiental, inclusive pesquisas de
comportamento e pesquisas sobre maneiras de aumentar a cobertura dos serviços sanitários e
garantir uma maior utilização desses serviços por parte das populações periféricas, mal atendidas
e vulneráveis, quando indicado para o estabelecimento de bons serviços preventivos e de
atendimento sanitário;
(iii) Realizar pesquisas nas áreas do conhecimento tradicional sobre
práticas preventivas e curativas da área da saúde;
(a) Financiamento e estimativa de custos
6.6. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $40 bilhõeses de dólares, inclusive
cerca de $5 bilhõeses a serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais
ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos
Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão,
inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar para a
implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
6.7. Devem ser testadas novas modalidades de planejamento e gerenciamento dos
sistemas e instalações de atendimento sanitário e apoiadas pesquisas sobre maneiras de integrar
as tecnologias adequadas às infra-estruturas sanitárias. O desenvolvimento de uma tecnologia
sanitária cientificamente confiável deve reforçar as condições de adaptabilidade às necessidades
locais e a possibilidade de sua manutenção através dos recursos da comunidade, inclusive a
manutenção e reparo dos equipamentos usados no atendimento sanitário. Devem ser
desenvolvidos programas destinados a facilitar a transferência e a partilha de informações e
competência, inclusive de métodos de comunicação e de materiais educativos.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
6.8. Devem ser reforçadas as abordagens intersetoriais para a reforma dos sistemas de
formação do pessoal da área da saúde para assim garantir sua adequação às estratégias do projeto
"Saúde para Todos". Devem ser apoiados os esforços para aperfeiçoar a competência gerencial
Agenda 21 - Global 42

no plano distrital, com o objetivo de garantir o desenvolvimento sistemático e o funcionamento


eficiente do sistema básico de saúde. Devem ser desenvolvidos programas de treinamento que
sejam práticos, curtos e intensivos, com ênfase em capacitação para comunicações eficazes,
organização da comunidade e facilitação de mudanças de comportamento: esses programas
teriam o objetivo de preparar o pessoal local de todos os setores envolvidos no desenvolvimento
social para o desempenho de seus respectivos papéis. Conjuntamente com a área educacional,
devem ser desenvolvidos programas especiais de educação sanitária focalizando principalmente o
papel da mulher no sistema de atendimento sanitário.
(d) Capacitação
6.9. Os Governos devem considerar a possibilidade de adotar estratégias capacitadoras e
facilitadoras que promovam a participação das comunidades nas ações destinadas a atender suas
próprias necessidades, em acréscimo à provisão de apoio direto ao fornecimento de serviços de
atendimento sanitário. Um dos pontos principais deve ser a capacitação de pessoal baseado na
comunidade para a área da saúde e para as áreas a ela relacionadas, para que esse pessoal tenha
condições de assumir um papel ativo na educação sanitária da comunidade, com ênfase no
trabalho de equipe, na mobilização social e no apoio aos demais trabalhadores dedicados ao
desenvolvimento. Os programas nacionais devem abranger os sistemas sanitários distritais nas
zonas urbanas, periferias urbanas e rurais, a elaboração de programas sanitários para o plano
distrital, e o desenvolvimento de serviços de consulta, bem como o apoio a esses serviços.

B. Controle das moléstias contagiosas

Bases para a ação

6.10. Os avanços no desenvolvimento de vacinas e agentes quimioterápicos possibilitaram


o controle de muitas moléstias contagiosas. Persistem, no entanto, muitas moléstias contagiosas
importantes; essas moléstias requerem medidas de controle ambiental, sobretudo no campo do
abastecimento de água e do saneamento. Elas incluem o cólera, as moléstias diarréicas, a
leishmaniose, a malária e a esquistossomose. Em todos esses casos as medidas saneadoras
ambientais, seja como parte integrante do atendimento primário da saúde, seja empreendidas
externamente à área da saúde, são um componente indispensável das estratégias de controle total
da moléstia, juntamente com a educação sanitária. Às vezes essas medidas são o único
componente de tais estratégias.
6.11. Com a previsão de que no ano 2000 o índice de contaminação com o vírus da
imunodeficiência humana terá atingido de 30 a 40 milhõeses de pessoas, espera-se um impacto
sócio-econômico devastador da pandemia sobre todos os países, e em níveis cada vez mais
intensos para mulheres e crianças. Embora nesse momento os custos sanitários diretos devam ser
substanciais, eles serão ínfimos diante dos custos indiretos da pandemia -- sobretudo os custos
associados à perda de rendimento e decréscimo da produtividade da força de trabalho. A
pandemia impedirá o crescimento dos setores industrial e de serviços e aumentará
significativamente os custos do aumento da capacitação institucional e técnica humana e de
retreinamento profissional. O setor agrícola será particularmente afetado sempre que a produção
se apoiar em um sistema de mão-de-obra intensiva.

Objetivos

6.12. Diversas metas foram formuladas através de consultas extensivas em vários foros
Agenda 21 - Global 43

internacionais a que compareceram quase todos os Governos, as organizações pertinentes das


Nações Unidas (inclusive a OMS, a UNICEF, o FNUAP, a UNESCO, o PNUD e o Banco
Mundial) e diversas organizações não-governamentais. Recomenda-se a implementação dessas
metas (inclusive, mas não apenas, as enumeradas abaixo) por todos os países, sempre que
aplicáveis, com adaptações adequadas à situação específica de cada país em termos de
escalonamento, normas, prioridades e disponibilidade de recursos, respeitados os aspectos
culturais, religiosos e sociais, em conformidade com a liberdade, a dignidade e os valores
pessoais e levando em conta considerações éticas. Metas adicionais, especialmente relevantes
para a situação específica de cada país, devem ser acrescentadas no plano nacional de ação do
país (Plano de Ação para a Implementação da Declaração Mundial sobre Sobrevivência, Proteção
e Desenvolvimento da Criança na década de 1990). Esses planos de ação de âmbito nacional
devem ser coordenados e acompanhados pela área da saúde pública. Seguem-se algumas das
metas mais importantes:
(a) Até o ano 2000, eliminar a dracunculose (doença da filária de Medina);
(b) Até o ano 2000, erradicar a poliomielite;
(c) Até o ano 2000, controlar eficazmente a oncocercíase (cegueira dos rios) e a
lepra;
(d) Até 1995, reduzir a mortalidade por sarampo em 95 por cento e reduzir a
ocorrência de sarampo em 90 por cento em relação à incidência anterior à imunização;
(e) Mediante esforços continuados, oferecer educação sanitária e garantir acesso
universal a água potável segura e a medidas sanitárias de eliminação das águas cloacais,
reduzindo assim, acentuadamente, as moléstias transmitidas pela água, como o cólera e a
esquistossomose, e reduzindo:
(i) Até o ano 2000, o número de mortes por diarréia infantil nos países em
desenvolvimento em entre 50 e 70 por cento;
(ii) Até o ano 2000, a incidência de diarréia infantil nos países em
desenvolvimento em entre pelo menos 25 a 50 por cento;
(f) Até o ano 2000, dar início a programas abrangentes com o objetivo de reduzir
em pelo menos um terço a mortalidade resultante de infecções respiratórias agudas em crianças
com menos de cinco anos de idade, especialmente nos países com índice de mortalidade infantil
alto;
(g) Até o ano 2000, oferecer acesso a atendimento adequado para infecções
respiratórias agudas a 95 por cento da população infantil do mundo, no âmbito da comunidade e
no primeiro nível de consulta;
(h) Até o ano 2000, instituir programas anti-malária em todos os países onde a
malária represente um problema sanitário significativo e manter a condição das áreas onde não
exista malária endêmica;
(i) Até o ano 2000, implementar programas de controle nos países onde se
verifiquem, de forma endêmica, infestações parasitárias humanas significativas e realizar uma
redução global da incidência de esquistossomose e outras infestações por trematódeos em 40 por
cento e em 25 por cento respectivamente, a partir de números de 1984, bem como uma redução
acentuada da incidência, prevalência e intensidade das infestações por filárias;
(j) Mobilizar e unificar esforços nacionais e internacionais contra a AIDS, para
evitar a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana e reduzir o impacto pessoal e social
decorrente dessa infecção ;
(k) Conter o ressurgimento da tuberculose, com ênfase especial nas modalidades
resistentes a múltiplos antibióticos;
Agenda 21 - Global 44

(l) Acelerar a pesquisa de vacinas aperfeiçoadas e implementar, tanto quanto


possível, o uso de vacinas na prevenção de doenças;

Atividades

6.13. Cada Governo nacional, em conformidade com os planos de saúde pública,


prioridades e objetivos nacionais, devem considerar a possibilidade de desenvolver um plano
nacional de ação na área da saúde, com assistência e apoio internacional adequados, que inclua,
pelo menos, os seguintes componentes:
(a) Sistemas nacionais de saúde pública:
(i) Programas para identificar os riscos ambientais como causadores de
moléstias contagiosas;
(ii) Sistemas para o acompanhamento de dados epidemiológicos que
permitam previsões adequadas da introdução, disseminação ou agravamento de moléstias
contagiosas;
(iii) Programas de intervenção, inclusive medidas condizentes com os
princípios da estratégia global com respeito à AIDS;
(iv) Vacinas para a prevenção de moléstias contagiosas;
(b) Informação pública e educação sanitária:
Proporcionar educação e difundir informações sobre os riscos das moléstias endêmicas
contagiosas e conscientizar sobre os métodos ambientais de controle das moléstias contagiosas
para dar condições às comunidades de desempenhar um papel no controle das moléstias
contagiosas;
(c) Cooperação e coordenação intersetorial;
(i) Destacar profissionais experientes da área da saúde para setores
pertinentes, como planejamento, habitação e agricultura;
(ii) Elaborar diretrizes para uma coordenação eficaz nas áreas de
treinamento profissional, avaliação de riscos e desenvolvimento de tecnologia de controle;
(d) Controle de fatores ambientais que exercem influência sobre a disseminação
das moléstias contagiosas:
Aplicar métodos para a prevenção e controle das moléstias contagiosas, inclusive controle
do abastecimento de água e do saneamento, controle da poluição da água, controle da qualidade
dos alimentos, controle integrado dos vetores, coleta e eliminação de lixo e práticas de irrigação
ecologicamente confiáveis;
(e) Sistema de atendimento primário da saúde:
(i) Fortalecer os programas de prevenção, com ênfase especial em uma
nutrição adequada e equilibrada;
(ii) Fortalecer programas de pronto diagnóstico e aperfeiçoar a capacidade
de adotar prontas medidas de prevenção e de tratamento;
(iii) Reduzir a vulnerabilidade das mulheres e de seus filhos à infecção
pelo vírus da imunodeficiência humana;
(f) Apoio à pesquisa e ao desenvolvimento de metodologias:
(i) Intensificar e expandir a pesquisa multidisciplinar, incluindo esforços
voltados para a mitigação e o controle ambiental das doenças tropicais;
(ii) Realizar estudos voltados para a intervenção, com o objetivo de contar
com uma sólida base epidemiológica para as políticas de controle e para ter condições de avaliar
a eficácia das diferentes alternativas de ação;
Agenda 21 - Global 45

(iii) Empreender estudos da população e do pessoal dos serviços da área da


saúde para determinar a influência de fatores culturais, comportamentais e sociais sobre as
políticas de controle;
(g) Desenvolvimento e disseminação de tecnologia:
(i) Desenvolver novas tecnologias para o controle eficaz das moléstias
contagiosas;
(ii) Promover estudos que permitam determinar como otimizar a
divulgação dos resultados da pesquisa;
(iii) Oferecer assistência técnica, inclusive partilhando conhecimento e
experiência.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


6.14. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca $4 bilhões de dólares, inclusive cerca de
$900 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.

Meios científicos e tecnológicos

6.15. Os esforços para evitar e controlar as doenças devem incluir pesquisas sobre as
bases epidemiológicas, sociais e econômicas que permitiriam o desenvolvimento de estratégias
nacionais mais eficazes de controle integrado das moléstias contagiosas. Os métodos custo-
efetivos de controle ambiental devem ser adaptados às condições locais de desenvolvimento.
(d) Desenvolvimento dos recursos humanos
6.16. As instituições nacionais e regionais de treinamento profissional devem promover
amplas abordagens intersetoriais à prevenção e controle das moléstias contagiosas, inclusive
promovendo treinamento em epidemiologia, prevenção e controle nas comunidades, imunologia,
biologia molecular e aplicação de novas vacinas. Deve ser criado material didático para a área
sanitária, a ser utilizado pelo pessoal da comunidade e para ensinar as mões a prevenir e tratar
moléstias diarréicas em casa.
(c) Capacitação
6.17. A área da saúde deve coletar e organizar informações satisfatórias sobre a
distribuição das moléstias contagiosas, bem como sobre a capacidade institucional de reagir e
colaborar com outros setores na prevenção, mitigação e correção dos riscos de moléstias
contagiosas através da proteção do meio ambiente. Deve ser obtido o concurso das pessoas em
posição de elaborar políticas e tomar decisões, mobilizado o apoio das categorias profissionais e
da sociedade em geral, e, ao mesmo tempo, as comunidades devem ser organizadas para o
desenvolvimento de auto-suficiência.

C. Proteção dos grupos vulneráveis

Bases para a ação


Agenda 21 - Global 46

6.18. Além de atender às necessidades sanitárias básicas, é preciso dar ênfase especial à
proteção e educação dos grupos vulneráveis, especialmente crianças, jovens, mulheres,
populações indígenas e os muito pobres, como pré-requisito para o desenvolvimento sustentável.
Também se deve dedicar especial atenção às necessidades de saúde dos idosos e dos deficientes.
6.19. Bebês e crianças. Aproximadamente um terço da população do mundo é composto
por crianças com menos de quinze anos de idade. Dessas crianças, pelo menos 15 milhões
morrem anualmente de causas evitáveis, como traumatismo durante o nascimento, asfixia durante
o nascimento, infecções respiratórias agudas, desnutrição, moléstias contagiosas e diarréia. A
saúde das crianças é afetada mais gravemente que a de outros grupos populacionais pela
desnutrição e fatores ambientais adversos, e muitas crianças correm o risco de serem exploradas
como mão-de-obra barata ou na prostituição.
6.20. Jovens. Como bem demonstra a experiência histórica de todos os países, os jovens
são particularmente vulneráveis aos problemas associados ao desenvolvimento econômico, que
freqüentemente debilita as formas tradicionais de apoio social essenciais ao desenvolvimento
saudável dos jovens. A urbanização e alterações nos hábitos sociais acentuaram o abuso de
drogas, a gravidez não desejada e as doenças venéreas, inclusive AIDS. Atualmente mais de
metade do total de pessoas vivas tem menos de 25 anos de idade e quatro em cada cinco vivem
nos países em desenvolvimento. Em decorrência, é importante garantir que a experiência
histórica não se repita.
6.21. A mulher. Nos países em desenvolvimento, o estado de saúde da mulher permanece
relativamente precário; durante a década de 1980 acentuaram-se ainda mais a pobreza, a
desnutrição e a falta de saúde em geral da mulher. A maioria das mulheres nos países em
desenvolvimento continua não tendo oportunidades educacionais básicas adequadas; além disso,
elas não têm meios para promover a própria saúde, controlar responsavelmente sua vida
reprodutiva e melhorar sua situação sócio-econômica. Atenção especial deve ser dada à
disponibilidade de atendimento pré-natal que assegure a saúde dos recém-nascidos.

1. A/45/625, anexo.

6.22. Os populações indígenas e suas comunidades. Os populações indígenas e suas


comunidades constituem uma parcela significativa da população mundial. Os resultados de sua
experiência tendem a ser muito similares no fato de que a base de seu relacionamento com seus
territórios tradicionais foi fundamentalmente alterada. Eles tendem a apresentar uma taxa
desproporcionalmente alta de desemprego, falta de moradia, pobreza e falta de saúde. Em muitos
países a população indígena está crescendo mais depressa que a população em geral. Em
decorrência, é importante dirigir as iniciativas na área da saúde para os populações indígenas.

Objetivos

6.23. Os objetivos gerais de oferecer proteção aos grupos vulneráveis são: garantir que
todos os indivíduos que deles fazem parte tenham oportunidade de desenvolver plenamente seus
potenciais (inclusive um desenvolvimento saudável físico, mental e espiritual); dar aos jovens a
oportunidade de desenvolver, estabelecer e manter vidas saudáveis; permitir que as mulheres
desempenhem seu papel chave na sociedade; e apoiar populações indígenas através de
oportunidades educacionais, econômicas e técnicas.
6.24. Por ocasião da Cúpula Mundial sobre Criança estabeleceram-se importantes metas
Agenda 21 - Global 47

voltadas especificamente para a sobrevivência, desenvolvimento e proteção da criança; essas


metas continuam válidas na Agenda 21. As metas de apoio e setoriais incluem: saúde e educação
para a mulher, nutrição, saúde infantil, água e saneamento, educação básica e crianças em
circunstâncias difíceis.
6.25. Os Governos devem adotar medidas ativas para implementar, em regime de
urgência, em harmonia com as condições e sistemas jurídicos específicos de cada país, medidas
que garantam a mulheres e homens o mesmo direito de dedicir livre e responsavelmente sobre o
número de filhos que desejam ter e o espaçamento entre eles; e acesso a informação, educação e
meios, conforme necessário, que os capacitem a exercer esse direito, respeitados sua liberdade,
dignidade e valores pessoais, levando em conta considerações éticas e culturais.
6.26. Os Governos devem adotar medidas ativas para implementar programas que criem e
fortaleçam serviços sanitários preventivos e curativos que incluam um atendimento da saúde
reprodutiva voltado para a mulher, gerenciado por mulheres, seguro e eficaz, e serviços baratos e
acessíveis, condizentes com as necessidades, para o planejamento responsável do tamanho da
família, respeitados a liberdade, a dignidade e os valores pessoais e levando em conta aspectos
éticos e culturais. Os programas devem estar centrados na prestação de serviços gerais e
sanitários que incluam atendimento pré-natal, educação e informação sobre questões de saúde e
sobre paternidade responsável, e devem oferecer a todas as mulheres a oportunidade de
amamentar integralmente seus filhos, pelo menos durante os primeiros quatro meses depois do
parto. Os programas devem dar total apoio aos papéis produtivo e reprodutivo da mulher, bem
como a seu bem-estar, com especial atenção para a necessidade de oferecer melhor atendimento
sanitário a todas as crianças, em condições de igualdade, e para a necessidade de reduzir o risco
de mortalidade e enfermidade maternal e infantil.

Atividades

6.27. Os Governos nacionais, em cooperação com organizações locais e organizações


não-governamentais, devem dar início ou intensificar programas nas seguintes áreas:
(a) Bebês e crianças:
(i) Reforçar os serviços básicos de atendimentosanitário para crianças no
contexto da prestaçãode serviços de atendimento primário de saúde queincluam programas de
cuidados pré-natais,amamentação materna, imunização e nutrição;
(ii) Empreender uma campanha ampla de informação para adultos
ensinando-os a usar medicação oral para reidratação em casos de diarréia, a tratar doenças
infecciosas das vias respiratórias e a fazer prevenção de moléstias contagiosas;
(iii) Promover a criação, correção e aplicação de uma estrutura legal para
proteger a criança da exploração sexual e no local de trabalho;
(iv) Proteger as crianças dos efeitos dos compostos tóxicos ambientais e
ocupacionais;
(b) Jovens:
Reforçar os serviços voltados para a juventude nos setores sanitário, educacional e social,
com o objetivo de oferecer melhor informação, educação, aconselhamento e tratamento de
problemas específicos de saúde, inclusive abuso de drogas;
(c) Mulheres:
(i) Incluir grupos de mulheres na tomada de decisõesnos planos nacional e
comunitário, com o objetivo de identificar riscos para a saúde e incluir asquestões sanitárias nos
programas de ação deâmbito nacional voltados para a mulher e odesenvolvimento;
Agenda 21 - Global 48

(ii) Oferecer incentivos concretos pra estimular e manter a presença das


mulheres de todas as idades na escola e nos cursos de educação para adultos, inclusive cursos de
educação sanitária e de treinamento para atendimento sanitário primário, no lar e maternal;
(iii) Realizar levantamentos referenciais e estudos sobre conhecimentos,
atitudes e práticas em torno da saúde e nutrição da mulher ao longo de todo o seu ciclo vital,
especialmente associando-as ao impacto da degradação ambiental e da disponibilidade de
recursos adequados;
(d) Populações indígenas e suas comunidades;
(i) Fortalecer, através de recursos e de auto-gerenciamento, os serviços
sanitários preventivos e curativos;
(ii) Integrar os conhecimentos tradicionais e a experiência aos sistemas
sanitários.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


6.28. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $3,7 bilhões de dólares, inclusive
cerca de $400 milhões a serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais
ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos
Governos. Os custos reais e os termos finenceiros, inclusive os não concessionais, dependerão,
inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar para a
implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
6.29. As instituições educacionais, sanitárias e de pesquisa devem ser fortalecidas para
que adquiram condições de oferecer apoio à melhoria da saúde dos grupos vulneráveis. A
pesquisa social sobre os problemas específicos desses grupos deve ser expandida e, ao mesmo
tempo, explorados métodos para a implementação de soluções pragmáticas flexíveis, com ênfase
em medidas preventivas. Deve ser oferecido apoio técnico aos Governos, instituições e
organizações não-governamentais voltadas para os jovens, mulheres e populações indígenas na
área da saúde.
6.30. O desenvolvimento de recursos humanos para a proteção da saúde de crianças,
jovens e mulheres deve incluir o reforço das instituições educacionais, a promoção de métodos
interativos de educação para a saúde e uma maior utilização dos meios de comunicação de massa
na divulgação de informações para os grupos-alvo. Isso exige o treinamento de um maior número
de profissionais para os serviços comunitários da área da saúde, bem como de enfermeiras,
parteiras, médicos, cientistas sociais e educadores, além da educação das mões, famílias e
comunidades e do fortalecimento dos ministérios da educação, da saúde, do interior, etc.
(d) Capacitação
6.31. Os Governos devem promover, quando necessário:
(a) a organização de simpósios nacionais, multinacionais e interregionais, bem
como outras reuniões, para o intercâmbio de informações entre as agências e grupos ligados à
proteção da saúde de crianças, jovens, mulheres e populações indígenas; e
(b) organizações de mulheres, grupos de jovens e organizações de populações
indígenas, para facilitar os serviços de saúde e consultá-los acerca da criação, correção e
aplicação de estruturas legais que garantam um meio ambiente saudável para crianças, jovens,
mulheres e populações indígenas.
Agenda 21 - Global 49

D. O desafio da saúde urbana

Bases para a ação

6.32. Para centenas de milhões de pessoas, as condições de vida sofríveis das zonas
urbanas e periferias urbanas estão destruindo vidas, saúde e valores sociais e morais. O
crescimento urbano deixou para trás a capacidade da sociedade de atender às necessidades
humanas, deixando centenas de milhões de pessoas com rendimentos, dietas, moradia e serviços
inadequados. Além de expor as populações a sérios riscos ambientais, o crescimento urbano
deixou as autoridades municipais e locais sem condições de proporcionar às pessoas os serviços
de saúde ambiental necessários. Com grande freqüência, o desenvolvimento urbano se associa a
efeitos destrutivos sobre o meio ambiente físico e sobre a base de recursos necessária ao
desenvolvimento sustentável. A poluição ambiental das áreas urbanas está associada a níveis
excessivos de insalubridade e mortalidade. Alojamentos inadequados e superpovoados
contribuem para a ocorrência de doenças respiratórias, tuberculose, meningite e outras
enfermidades. Nos meios urbanos, muitos fatores que afetam a saúde humana são externos à área
da saúde. Em decorrência, uma melhor saúde urbana dependerá de uma ação coordenada entre
todos os planos do Governo, prestadores de serviços sanitários, empresas, grupos religiosos,
instituições sociais e educacionais e cidadãos.

Objetivos

6.33. Deve-se melhorar a saúde e o bem-estar de todos os habitantes urbanos para que eles
possam contribuir para o desenvolvimento econômico e social. A meta global é atingir, até o ano
2000, entre 10 e 40 por cento de melhoria nos indicadores de saúde. O mesmo ritmo de melhora
deve ser obtido para os indicadores ambientais, de moradia e de atendimento sanitário. Estes
últimos incluem o desenvolvimento de metas quantitativas para a mortalidade infantil, a
mortalidade decorrente da maternidade, a porcentagem de recém-nascidos com baixo peso e
indicadores específicos (por exemplo tuberculose como indicador de condições de moradia
excessivamente aglomeradas, moléstias diarréicas como indicadores de insuficiência de água e
saneamento, índices de acidentes do trabalho e nos transportes indicando possíveis oportunidades
para a prevenção de lesões, e problemas sociais, como consumo excessivo de drogas, violência e
criminalidade, indicando transtornos sociais subjacentes).

Atividades

6.34. As autoridades locais, com o apoio adequado de Governos nacionais e organizações


internacionais, devem ser estimuladas a tomar medidas eficazes para dar início ou fortalecer as
seguintes atividades:
(a) Desenvolver e implementar planos de saúde municipais e locais:
(i) Estabelecer ou fortalecer comitês intersetoriais nos planos político e
técnico, inclusive com uma participação ativa baseada em vínculos com as instituições
científicas, culturais, religiosas, médicas, empresariais, sociais e outras instituições municipais, e
utilizando uma estrutura "de rede";
(ii) Adotar ou fortalecer, no plano municipal ou local, "estratégias
capacitadoras" que enfatizem o "fazercom", mais que o "fazer para", e criar ambientes de apoio à
Agenda 21 - Global 50

saúde;
(iii) Garantir que escolas, locais de trabalho, meios de comunicação de
massa, etc., ofereçam, ou reforcem, o ensino relativo a saúde pública;
(iv) Estimular as comunidades a desenvolver aptidões pessoais e
consciência no que diz respeito a atendimento primário da saúde;
(v) Promover e fortalecer atividades de reabilitação baseadas na
comunidade para os deficientes e para os idosos urbanos e de periferias urbanas;
(b) Estudar, quando necessário, a situação vigente nas cidades no que diz respeito
à saúde, sociedade e meio ambiente, inclusive com documentação sobre as diferenças intra-
urbanas;
(c) Reforçar as atividades de saúde ambiental;
(i) Adotar procedimentos de avaliação de impacto sanitário e ambiental;
(ii) Oferecer treinamento básico e no emprego para o pessoal novo e o
pessoal já existente;
(d) Estabelecer e manter redes urbanas de colaboração e intercâmbio de
modelos de boa prática;

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


6.35. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $222 milhões de dólares, inclusive
cerca de $22 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidirem adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
6.36. Devem ser melhor desenvolvidos e adotados mais amplamente modelos de tomadas
de decisão que permitam avaliar os custos e os impactos sobre a saúde e o meio ambiente de
tecnologias e estratégias alternativas. Em se tratando de desenvolvimento e gerenciamento
urbano, para que haja avanço é preciso melhores estatísticas nacionais e municipais baseadas em
indicadores práticos e padronizados. O desenvolvimento de métodos é uma prioridade para medir
as variações intra-urbanas e intra-distritais da situação sanitária e ambiental, e para a aplicação
dessas informações ao planejamento e ao gerenciamento.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
6.37. Os programas devem oferecer a orientação e o treinamento básico do pessoal
municipal necessário para os procedimentos municipais na área da saúde. Também será
necessário oferecer serviços de treinamento básico e no emprego para o pessoal encarregado da
área de saúde ambiental.
(d) Capacitação
6.38. O programa está voltado para o aperfeiçoamento das funções de planejamento e
gerenciamento nos Governos municipal e local e em seus parceiros do Governo central, do setor
privado e das universidades. O desenvolvimento de capacidade deve estar centrado na obtenção
de informação suficiente, no aperfeiçoamento dos mecanismos de coordenação que vinculam
entre si todos os atores fundamentais e na otimização do uso dos instrumentos e recursos
disponíveis para a implementação.
Agenda 21 - Global 51

Bases para a ação

6.39. Em muitos lugares do mundo o meio ambiente geral (ar, água e terra), os locais de
trabalho e mesmo as moradias individuais estão de tal forma poluídos que a saúde de centenas de
milhões de pessoas é afetada negativamente. Isso se deve, entre outras coisas, a alterações
passadas e atuais nos modelos de consumo e produção e estilos de vida, na produção e uso de
energia, na indústria, nos transportes, etc., com pouca ou nenhuma preocupação com a proteção
do meio ambiente. Houve avanços notáveis em alguns países, mas a deterioração do meio
ambiente prossegue. A capacidade dos países de combater a poluição e os problemas de saúde
vê-se muito restringida devido à carência de recursos. Freqüentemente as medidas de controle da
poluição e proteção da saúde não mantêm o ritmo do desenvolvimento econômico. Nos países
recém-industrializados, são consideráveis os riscos para a saúde ambiental derivados do
desenvolvimento. Além disso, a análise recente da OMS estabeleceu claramente a
interdependência entre os fatores de saúde, meio ambiente e desenvolvimento e revelou que
quase todos os países carecem da integração que haveria de conduzir a um mecanismo eficaz de
controle da poluição(1). Sem prejuízo dos critérios que a comunidade internacional possa
estabelecer ou das normas que necessariamente deverão ser estabelecidas nacionalmente, será
essencial, em todos os casos, considerar os sistemas de valores predominantes em cada país e a
extensão da aplicabilidade de normas que, embora válidas para a maioria dos países
desenvolvidos, podem ser inadequadas e exigir custos sociais excessivos nos países em
desenvolvimento.

Objetivos

6.40. O objetivo geral consiste em minimizar os riscos e manter o meio ambiente em um


nível que não prejudique ou ameace a saúde e a segurança humanas e ao mesmo tempo estimular
a continuidade do desenvolvimento. Os objetivos específicos do programa são:
(a) Até o ano 2000, incorporar aos programas nacionais de desenvolvimento de
todos os países cláusulas adequadas de proteção ao meio ambiente e à saúde;
(b) Até o ano 2000, estabelecer, quando adequado, infra-estruturas e programas
nacionais adequados para a redução dos danos ao meio ambiente, vigilância dos riscos de que
venham a ocorrer e uma base para sua redução em todos os países;
(c) Até o ano 2000, estabelecer, quando adequado, programas integrados para o
combate à poluição nas fontes e nos locais de eliminação de detritos, com ênfase nas medidas de
redução da poluição em todos os países;
(d) Identificar e compilar, quando adequado, as informações estatísticas sobre os
efeitos da poluição sobre a saúde, necessárias para fundamentar análises de custo/benefício,
incluindo-se uma avaliação dos efeitos do saneamento ambiental, que sirvam de insumo para as
medidas de controle, prevenção e redução da poluição.

Atividades

6.41. Os programas de ação definidos nacionalmente, com auxílio, apoio e coordenação


internacionais, quando necessário, devem incluir, nesta área:
(a) Poluição urbana do ar:
(i) Desenvolver uma tecnologia adequada de controle da poluição,
Agenda 21 - Global 52

fundamentada em pesquisas epidemiológicas e de avaliação de riscos, para a introdução de


processos de produção ambientalmente confiáveis e de um sistema de transporte de massas
adequado e seguro.
(ii) Desenvolver equipamentos para o controle da poluição do ar nas
cidades grandes, com ênfase especial para os programas de observância das normas e utilizando
redes de vigilância, quando proceda;
(b) Poluição do ar em locais fechados:
(i) Apoiar pesquisas e desenvolver programas para a aplicação de métodos
de prevenção e controle destinados a reduzir a poluição do ar em locais fechados, inclusive
oferecendo incentivos financeiros para a instalação de tecnologia adequada;
(ii) Desenvolver e implementar campanhas de educação sanitária,
particularmente nos países em desenvolvimento, para reduzir o impacto sobre a saúde do uso
doméstico de biomassa e carvão;
(c) Poluição da água:
(i) Desenvolver tecnologias adequadas de controle da poluição da água,
fundamentadas em uma avaliação de seus riscos para a saúde;
(ii) Desenvolver equipamentos para o controle da poluição da água nas
grandes cidades;
(d) Pesticidas:
Desenvolver mecanismos para controlar a distribuição e uso de pesticidas, com o
objetivo de minimizar os riscos que representam, para a saúde humana, o transporte,
armazenamento, aplicação e efeitos residuais dos pesticidas utilizados na agricultura e na
conservação da madeira;
(e) Resíduos sólidos
(i) Desenvolver tecnologias adequadas para a eliminação de lixo sólido,
fundamentadas em uma avaliação de seus riscos para a saúde;
(ii) Desenvolver instalações adequadas para a eliminação de lixo sólido nas
grandes cidades;
(f) Estabelecimentos humanos:
Desenvolver programas para melhorar as condições de saúde nos estabelecimentos
humanos, especialmente no interior de favelas e invasões, fundamentados em uma avaliação dos
riscos existentes para a saúde;
(g) Ruído:
Desenvolver critérios para determinar níveis máximos permitidos de exposição a
ruído e incluir medidas de verificação e controle de ruídos nos programas de saúde ambiental;
(h) Radiação ionizante e não ionizante
Desenvolver e implementar legislações nacionais adequadas, que incluam normas
e procedimentos de fiscalização, fundamentadas nas diretrizes internacionais existentes.
(i) Efeitos da radiação ultravioleta:
(i) Empreender, em regime de urgência, pesquisas sobre os efeitos sobre a
saúde humana do aumento da radiação ultravioleta que atinge a superfície da Terra, como
conseqüência da diminuição da camada estratosférica de ozônio;
(ii) A partir dos resultados dessas pesquisas, considerar a possibilidade de
adotar medidas corretivas adequadas para mitigar os efeitos acima mencionados sobre os seres
humanos.
(j) Indústria e produção de energia:
(i) Estabelecer procedimentos adequados de avaliação do impacto das
Agenda 21 - Global 53

condições ambientais sobre a saúde para fundamentar o planejamento e desenvolvimento de


novas indústrias e novos equipamentos para produção de energia;
(ii) Incorporar a todos os programas nacionais de controle e gerenciamento
da poluição uma análise adequada dos riscos para a saúde, com ênfase especial em substâncias
tóxicas como o chumbo;
(iii) Estabelecer programas de higiene industrial em todas as indústrias
importantes, para controle da exposição dos operários a riscos para a saúde;
(iv) Promover a introdução, nos setores industrial e energético, de
tecnologias ecologicamente confiáveis;
(k) Controle e avaliação:
Estabelecer, quando adequado, instalações de controle ambiental que permitam
acompanhar a qualidade ambiental e o estado de saúde das populações;
(l) Controle e redução de lesões:
(i) Apoiar, quando adequado, o desenvolvimento de sistemas que
permitam monitorar a incidência e a causa de lesões para poder adotar estratégias bem orientadas
de intervenção/prevenção;
(ii) Desenvolver, em harmonia com os planos nacionais, estratégias para
todos os setores (da indústria, do trânsito e outros), coerentes com os programas de cidades e
comunidades seguras da OMS, para reduzir a freqüência e a gravidade das lesões;
(iii) Enfatizar estratégias preventivas para reduzir as moléstias decorrentes
de ocupações e as moléstias decorrentes de toxinas ambientais e ocupacionais, para assim
melhorar a segurança do trabalhador;
(m) Promoção de pesquisas e desenvolvimento de metodologias:
(i) Apoiar o desenvolvimento de novos métodos de avaliação quantitativa
dos benefícios para a saúde e dos custos decorrentes de diferentes estratégias de controle da
poluição;
(ii) Desenvolver e realizar pesquisas interdisciplinares sobre os efeitos
combinados sobre a saúde da exposição a diferentes ameaças ambientais, inclusive de pesquisas
epidemiológicas sobre a exposição prolongada a baixos níveis de poluentes e o uso de
indicadores biológicos capazes de estimar as exposições dos seres humanos, os efeitos adversos
dessas exposições e a suscetibilidade do homem aos agentes ambientais.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


6.42. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $3 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $115 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
6.43. Embora hoje contemos com uma tecnologia capaz de evitar ou reduzir a poluição
relativamente a um grande número de problemas, para o desenvolvimento de programas e
políticas os países devem empreender pesquisas no âmbito de um quadro intersetorial. Tais
esforços devem incluir a colaboração com o setor empresarial. Devem ser desenvolvidos, através
Agenda 21 - Global 54

de programas de cooperação internacional, métodos para análise de custo/benefício e avaliação


do impacto ambiental; esses métodos devem ser aplicados à fixação de prioridades e estratégias
no que diz respeito a saúde e desenvolvimento.
6.44. Nas atividades enumeradas no parágrafo 6.41 (a) a (m) acima, os esforços dos países
em desenvolvimento devem ser facilitados através do acesso a tecnologia e transferência de
tecnologia, conhecimento técnico-científico e informação de parte dos detentores desse
conhecimento e dessas tecnologias, em conformidade com o capítulo 34 ("Transferência de
tecnologia ambientalmente saudável, cooperação e capacitação").
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
6.45. Devem ser elaboradas estratégias nacionais abrangentes para superar a carência de
recursos humanos qualificados, que é um grande empecilho para a superação dos riscos para a
saúde decorrentes de causas ambientais. Todo o pessoal das áreas sanitária e ambiental, de todos
os níveis, de gerenciadores a inspetores, deve receber treinamento profissional adequado. É
preciso enfatizar mais drasticamente a necessidade de se incluir o tema da saúde ambiental nos
currículos das escolas secundárias e das universidades e de se educar o público.
(d) Capacitação
6.46. Todos os países devem desenvolver o conhecimento e as capacitações práticas para
prever e identificar riscos para a saúde decorrentes do meio ambiente e capacidade para reduzir
esses riscos. Entre os pré-requisitos básicos para essa capacidade incluem-se: conhecimento sobre
problemas de saúde decorrentes do meio ambiente e consciência de sua existência por parte de
líderes, cidadãos e especialistas; mecanismos operacionais de cooperação intersetorial e
intergovernamental no desenvolvimento de planejamento e gerenciamento e no combate à
poluição; dispositivos que envolvam os interesses privados e da comunidade no trato das
questões sociais; delegação de autoridade e distribuição de recursos para os níveis intermediários
e locais do Governo, criando condições de primeira linha para o atendimento das necessidades
sanitárias ligadas ao meio ambiente.

1. Relatório da Comissão sobre a Saúde e o Meio Ambiente da OMS (Genebra, a ser publicado
em breve).
Agenda 21 - Global 55

Capítulo 7

PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DOS ASSENTAMENTOS


HUMANOS

Introdução

7.1. Nos países industrializados, os padrões de consumo das cidades representam uma
pressão muito séria sobre o ecossistema global, ao passo que no mundo em desenvolvimento os
assentamentos humanos necessitam de mais matéria-prima, energia e desenvolvimento
econômico simplesmente para superar seus problemas econômicos e sociais básicos. Em muitas
regiões do mundo, em especial nos países em desenvolvimento, as condições dos assentamentos
humanos vêm se deteriorando, sobretudo em decorrência do baixo volume de investimentos no
setor, imputável às restrições relativas a recursos com que esses países se deparam em todas as
áreas. Nos países de baixa renda sobre os quais há dados recentes, apenas 5,6 por cento do
orçamento do Governo central, em média, foram dedicados a habitação, lazer, seguridade social e
bem-estar social (1). Os recursos oriundos de organizações internacionais de apoio e
financiamento são igualmente baixos. Em 1988, por exemplo, apenas 1 por cento do total de
gastos do sistema das Nações Unidas financiados por meio de subvenções foi dedicado aos
assentamentos humanos (2), enquanto em 1991 verificou-se, que do total de empréstimos do
Banco Mundial e da Associação Internacional para o Desenvolvimento (IDA), 5,5 por cento
foram para o desenvolvimento urbano e 5,4 por cento para águas e esgotos(3).
7.2. Por outro lado, as informações disponíveis apontam para o fato de que as atividades
de cooperação técnica no setor de assentamentos humanos geram considerável volume de
investimentos dos setores público e privado. Por exemplo, em 1988 cada dólar do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) gasto com cooperação técnica para
assentamentos humanos gerou um investimento decorrente de $122 dólares, o mais alto dentre
todos os setores assistenciais do PNUD (4).
7.3. São estes os fundamentos para a "abordagem capacitadora" defendida para o setor
dos assentamentos humanos. O apoio externo contribuirá para a geração dos recursos internos
necessários para melhorar as condições de vida e de trabalho de todas as pessoas até o ano 2000 e
além, inclusive do número crescente de desempregados -- o grupo sem-rendimentos. Ao mesmo
tempo, as implicações ambientais do desenvolvimento urbano devem ser reconhecidas e levadas
em consideração de forma integrada por todos os países, atribuindo-se alta prioridade às
necessidades dos pobres de áreas urbanas e rurais, dos desempregados e do número crescente de
pessoas sem qualquer fonte de renda.

Objetivo dos assentamentos humanos

7.4. O objetivo geral dos assentamentos humanos é melhorar a qualidade social,


econômica e ambiental dos assentamentos humanos e as condições de vida e de trabalho de todas
as pessoas, em especial dos pobres de áreas urbanas e rurais. Essas melhorias deverão basear-se
em atividades de cooperação técnica, na cooperação entre os setores público, privado e
comunitário, e na participação, no processo de tomada de decisões, de grupos da comunidade e
de grupos com interesses específicos, como mulheres, populações indígenas, idosos e deficientes.
Tais abordagens devem constituir os princípios nucleares das estratégias nacionais para
Agenda 21 - Global 56

assentamentos humanos. Ao desenvolver suas estratégias, os países terão necessidade de


estabelecer prioridades dentre as oito áreas programáticas deste capítulo, em conformidade com
seus planos e objetivos nacionais e considerando plenamente suas capacidades sociais e culturais.
Além disso, os países devem tomar as providências condizentes para monitorar o impacto de suas
estratégias sobre os grupos marginalizados e não-representados, com especial atenção para as
necessidades das mulheres.
7.5. As áreas de programas incluídas neste capítulo são:
(a) Oferecer a todos habitação adequada;
(b) Aperfeiçoar o manejo dos assentamentos humanos;
(c) Promover o planejamento e o manejo sustentáveis do uso da terra;
(d) Promover a existência integrada de infra-estrutura ambiental: água,
saneamento, drenagem e manejo de resíduos sólidos;
(e) Promover sistemas sustentáveis de energia e transporte nos assentamentos
humanos;
(f) Promover o planejamento e o manejo dos assentamentos humanos localizados
em áreas sujeitas a desastres;
(g) Promover atividades sustentáveis na indústria da construção;
(h) Promover o desenvolvimento dos recursos humanos e da capacitação
institucional e técnica para o avanço dos assentamentos humanos;

Áreas de programas

A. Oferecer a todos habitação adequada

Base para a ação

7.6. O acesso a habitação segura e saudável é essencial para o bem-estar físico,


psicológico, social e econômico das pessoas, devendo ser parte fundamental das atividades
nacionais e internacionais. O direito a habitação adequada enquanto direito humano fundamental
está consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Pacto Internacional dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Apesar disso, estima-se que atualmente pelo menos 1
bilhão de pessoas não disponham de habitações seguras e saudáveis e que, caso não se tomem as
medidas adequadas, esse total terá aumentado drasticamente até o final do século e além.
7.7. Um importante programa mundial para fazer frente a esse problema é a Estratégia
Mundial para a Habitaçào até o Ano 2000, adotada pela Assembléia Geral em dezembro de 1988
(resolução 43/181, anexa). A despeito desse comprometimento generalizado, a Estratégia exige
um nível muito maior de apoio político e financeiro para poder atingir sua meta de possibilitar
habitação adequada para todos até o final do século e além.

Objetivo

7.8. O objetivo é oferecer habitação adequada a populações em rápido crescimento e aos


pobres atualmente carentes, tanto de áreas rurais como urbanas, por meio de uma abordagem que
possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condições de moradia ambientalmente saudáveis.

Atividades
Agenda 21 - Global 57

7.9. As seguintes atividades devem ser empreendidas:


(a) Como primeiro passo rumo à meta de oferecer habitação adequada a todos,
todos os países devem adotar medidas imediatas para oferecer habitação a seus pobres sem teto,
ao passo que a comunidade internacional e as instituições financeiras devem empreender ações
voltadas para apoiar os esforços dos países em desenvolvimento para oferecer habitação aos
pobres;
(b) Todos os países devem adotar e/ou fortalecer estratégias nacionais para a área
da habitação, com metas baseadas, quando apropriado, nos princípios e recomendações contidos
na Estratégia Mundial para a Habitação até o Ano 2000. As pessoas devem ser protegidas
legalmente da expulsão injusta de seus lares ou suas terras;
(c) Todos os países devem, quando apropriado, apoiar os esforços voltados para o
oferecimento de habitação aos pobres das áreas urbanas e rurais, bem como aos desempregados e
ao grupo sem rendimentos, por meio da adoção e/ou adaptação de códigos e regulamentações que
facilitem seu acesso à terra, ao financiamento e a materiais de construção de baixo custo e da
promoção ativa da regularização e melhoria das condições de vida em assentamentos informais e
favelas urbanas, como medida conveniente e solução pragmática para o déficit da habitação
urbana;
(d) Todos os países devem, quando apropriado, facilitar o acesso de pobres de
áreas urbanas e rurais à habitação por meio da adoção e utilização de planos de habitação e
financiamento e de novos mecanismos inovadores adaptados a suas circunstâncias;
(e) Todos os países devem apoiar e desenvolver estratégias de habitação
ambientalmente compatíveis nos planos nacional, estadual/provincial e municipal por meio de
associações entre os setores privado, público e comunitário e com o apoio de organizações com
base na comunidade;
(f) Todos os países, especialmente os países em desenvolvimento, devem, quando
apropriado, formular e implementar programas para reduzir o impacto do fenômeno do êxodo
rural para os centros urbanos promovendo melhorias nas condições de vida da zona rural;
(g) Todos os países, quando apropriado, devem desenvolver e implementar
programas de reassentamento voltados para os problemas específicos das populações deslocadas
em seus respectivos países;
(h) Todos os países devem, quando apropriado, documentar e monitorar a
implementação de suas estratégias nacionais para a habitação por meio do uso, inter alia, das
diretrizes de monitoramento adotadas pela Comissão de Assentamentos Humanos e os
indicadores da qualidade da habitação que estão sendo elaborados conjuntamente pelo Centro das
Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (Habitat) e o Banco Mundial;
(i) A cooperação bilateral e multilateral deve ser intensificada para apoiar a
implementação das estratégias nacionais para a área da habitação nos países em
desenvolvimento;
(j) Devem ser elaborados e divulgados relatórios bienais sobre o avanço mundial
que incluam as realizações nacionais e as atividades de apoio das organizações internacionais e
dos doadores bilaterais, tal como solicitado na Estratégia Mundial para a Habitação até o Ano
2000.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


7.10. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual (1993-2000) da
Agenda 21 - Global 58

implementação das atividades deste programa em cerca de $75 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $10 bilhões de dólares da comunidade internacional em termos concessionais ou de doações.
Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos
reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das
estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
7.11. Os requisitos relativos a esse cabeçalho são examinados em cada uma das outras
áreas de programa incluídas no presente capítulo.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos e capacitação institucional e técnica
7.12. Os países desenvolvidos e as agências financiadoras devem oferecer assistência
específica aos países em desenvolvimento na adoção de uma abordagem capacitadora para o
oferecimento de habitação para todos, inclusive para o grupo sem rendimentos; o mesmo deve ser
feito em relação às instituições de pesquisa e as atividades de treinamento para funcionários do
Governo, profissionais, comunidades e organizações não-governamentais, fortalecendo a
capacidade local para o desenvolvimento de tecnologias apropriadas.

B. Aperfeiçoar o manejo dos assentamentos humanos

Base para a ação

7.13. Na virada do século a maior parte da população mundial estará vivendo em cidades.
Embora os assentamentos humanos, especialmente nos países em desenvolvimento, apresentem
muitos dos sintomas da crise mundial do meio ambiente e do desenvolvimento, isso não os
impede de gerar 60 por cento do produto nacional bruto; caso gerenciados adequadamente, eles
podem desenvolver a capacidade de sustentar sua produtividade, melhorar as condições de vida
de seus habitantes e obter recursos naturais de forma sustentável.
7.14. Algumas áreas metropolitanas estendem-se para além das fronteiras de diversas
entidades políticas e/ou administrativas (condados e municípios), mesmo obedecendo a um
sistema urbano contínuo. Em muitos casos essa heterogeneidade política funciona como
obstáculo à implementação de programas abrangentes de manejo ambiental.

Objetivo

7.15. O objetivo é propiciar um manejo sustentável a todos os assentamentos humanos,


sobretudo nos países em desenvolvimento, a fim de aprofundar sua capacidade de melhorar as
condições de vida de seus habitantes, especialmente os marginalizados e não-representados,
contribuindo assim para a realização das metas nacionais de desenvolvimento econômico.

Atividades

(a) Melhoramento do manejo urbano


7.16. Um quadro existente para fortalecer o manejo é o Programa de Manejo Urbano do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento/Banco Mundial/Centro das Nações Unidas
para os Assentamentos Humanos (Habitat), um esforço mundial concertado para auxiliar os
países em desenvolvimento no trato de questões ligadas a manejo urbano. Seu alcance deve
estender-se a todos os países interessados durante o período 1993-2000. Todos os países devem,
quando apropriado e em conformidade com planos, objetivos e prioridades nacionais e com o
Agenda 21 - Global 59

apoio de organizações não-governamentais e de representantes das autoridades locais,


empreender as seguintes atividades no plano nacional, estadual/provincial e local, com o apoio
dos programas e agências financiadoras pertinentes:
(a) Adotar e aplicar diretrizes de manejo urbano nas áreas de manejo da terra,
manejo ambiental urbano, manejo da infra-estrutura, e administração e finanças no âmbito
municipal;
(b) Acelerar os esforços para a redução da pobreza urbana por meio de diversas
ações, inclusive:
(i) Gerando emprego para os pobres das áreas urbanas, especialmente as
mulheres, por meio da criação, aperfeiçoamento e manutenção de infra-estrutura e serviços
urbanos e do apoio a atividades econômicas do setor informal, como consertos, reciclagens,
serviços e pequeno comércio;
(ii) Oferecendo assistência específica aos mais pobres dentre os pobres das
áreas urbanas por meio, entre outras coisas, da criação de uma infra-estrutura social capaz de
reduzir a fome e a falta de teto, bem como de oferecer serviços adequados na escala da
comunidade;
(iii) Estimulando a criação de organizações indígenas com base na
comunidade, de organizações privadas de voluntários e de outras formas de entidades não-
governamentais capazes de contribuir para os esforços de redução da pobreza e melhoria da
qualidade de vida das famílias de baixa renda;
(c) Adotar estratégias inovadoras de planejamento urbano em questões relativas a
sociedade e meio ambiente, como:
(i) Reduzindo os subsídios e promovendo a plena recuperação dos gastos
com serviços ambientais e outros serviços de alto nível (por exemplo fornecimento de água,
saneamento, coleta de lixo, rede viária e telecomunicações) oferecidos aos bairros mais
abastados;
(ii) Melhorando o nível da infra-estrutura e da prestação de serviços nas
áreas urbanas mais pobres;
(d) Desenvolver estratégias locais para a melhora da qualidade de vida e do meio
ambiente, integrando as decisões relativas ao uso e manejo da terra, investindo nos setores
público e privado e mobilizando recursos humanos e materiais, promovendo dessa forma uma
geração de emprego ambientalmente saudável e protetora da saúde humana.
(b) Fortalecimento dos sistemas de dados urbanos
7.17. Durante o período 1993-2000, todos os países devem empreender, com a
participação ativa do setor empresarial, quando apropriado, projetos-piloto em determinadas
cidades para coleta, análise e posterior divulgação de dados urbanos, inclusive análises sobre o
impacto ambiental nos planos local, estadual/provincial, nacional e internacional, e criar
capacitação para manejo de dados sobre cidades (5). As organizações das Nações Unidas, como a
Habitat, o PNUMA e o PNUD poderiam oferecer asessoramento técnico e sistemas modelo de
manejo de dados.
(c) Estímulo ao desenvolvimento de cidades médias
7.18. Com o objetivo de aliviar a pressão exercida sobre as grandes aglomerações urbanas
dos países em desenvolvimento, devem ser implementadas políticas e estratégias que visem ao
desenvolvimento de cidades médias, criando oportunidades de emprego para a mão-de-obra
ociosa nas áreas rurais e apoiando atividades econômicas desenvolvidas em áreas rurais, embora
um manejo urbano saudável seja essencial para que o crescimento urbano não agrave a
degeneração dos recursos em uma área de território cada vez mais ampla nem aumente as
Agenda 21 - Global 60

pressões para urbanizar os espaços abertos, as terras cultivadas e os cinturões verdes.


7.19. Em decorrência, todos os países devem, quando apropriado, empreender análises de
seus processos e políticas de urbanização com o objetivo de avaliar os impactos ambientais do
crescimento e de aplicar abordagens de planejamento e manejo urbano especificamente
adequadas às necessidades, disponibilidades de recursos e características de suas cidades médias
em processo de crescimento. Quando apropriado, eles também devem concentrar-se em
atividades destinadas a facilitar a transição do estilo de vida rural para o estilo de vida urbano,
bem como de uma para outra modalidade de assentamento humano, e promover o
desenvolvimento de atividades econômicas em pequena escala, especialmente a produção de
alimentos, para apoiar a geração local de rendas e a produção de bens e serviços intermediários
para as áreas rurais do interior.
7.20. Todas as cidades, em especial as que se caracterizam por sérios problemas de
desenvolvimento sustentável, devem, em conformidade com as leis, normas e regulamentos
nacionais, desenvolver e fortalecer programas voltados para atacar esses mesmos problemas e
direcionar seu desenvolvimento por um caminho sustentável. Algumas iniciativas internacionais
em apoio a tais esforços, como o Programa de Cidades Sustentáveis, da Habitat, e o Programa de
Cidades Saudáveis, da OMS, devem ser intensificadas. Outras iniciativas envolvendo o Banco
Mundial, os bancos regionais de desenvolvimento e agências bilaterais, bem como outras partes
interessadas, em especial representantes internacionais e nacionais de autoridades locais, devem
ser fortalecidas e coordenadas. As cidades individuais devem, quando apropriado:
(a) Institucionalizar uma abordagem participativa do desenvolvimento urbano
sustentável, baseada num diálogo permanente entre os atores envolvidos no desenvolvimento
urbano (o setor público, o setor privado e as comunidades), especialmente mulheres e populações
indígenas;
(b) Melhorar o meio ambiente urbano promovendo a organização social e a
consciência ambiental por meio da participação das comunidades locais na identificação dos
serviços públicos necessários, do fornecimento de infra-estrutura urbana, da melhoria dos
serviços públicos e da proteção e/ou reabilitação de antigos prédios, locais históricos e outros
elementos culturais. Paralelamente, devem ser estabelecidos programas de "obras verdes" com o
objetivo de criar atividades auto-sustentadas de desenvolvimento humano e oportunidades de
emprego tanto formais como informais para os moradores das áreas urbanas que tenham baixa
renda.
(c) Fortalecer a capacidade de seus órgãos locais de Governo para lidar mais
eficazmente com o amplo espectro de desafios do desenvolvimento e do meio ambiente
associados a um crescimento urbano rápido e saudável por meio de abordagens abrangentes do
planejamento, que reconheçam as necessidades individuais das cidades e estejam baseadas em
práticas saudáveis de planejamento urbano;
(d) Participar de "redes de cidades sustentáveis" internacionais para trocar
experiências e mobilizar apoio técnico e financeiro nacional e internacional;
(e) Promover a formulação de programas de turismo ambientalmente saudáveis e
culturalmente sensíveis como estratégia para o desenvolvimento sustentável de assentamentos
urbanos e rurais e como forma de descentralizar o desenvolvimento urbano e reduzir
discrepâncias entre as regiões;
(f) Com a ajuda das agências internacionais pertinentes, estabelecer mecanismos
que mobilizem recursos para iniciativas locais de melhoria da qualidade ambiental;
(g) Habilitar grupos comunitários, organizações não-governamentais e indivíduos
a assumir a autoridade e a responsabilidade pelo manejo e melhoria de seu meio ambiente
Agenda 21 - Global 61

imediato por meio de instrumentos, técnicas e critérios de participação incluídos no conceito de


conservação do meio ambiente.
1. Não há cifras globais para os gastos internos nem para o apoio oficial ao desenvolvimento no
que diz respeito a assentamentos humanos. No entanto, os dados disponíveis no Relatório sobre o
Desenvolvimento Mundial, 1991, para 16 países em desenvolvimento de baixa renda, mostram
que a porcentagem de gastos do Governo central com habitação, lazer e seguridade e bem-estar
social para 1989 era, em média, de 5,6 por cento, com uma alta de 15,1 por cento no caso do Sri
Lanka, que implantou um enérgico programa para a habitação. Nos países industrializados da
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos, no mesmo ano, a porcentagem de
gastos do Governo central com habitação, lazer e seguridade e bem-estar social ia de um mínimo
de 29,3 por cento a um máximo de 49,4 por cento, com uma média de 39 por cento (Banco
Mundial, Relatóprio sobre o Desenvolvimento Mundial, 1991, Indicadores de desenvolvimento
mundial, tabela 11 (Washington, D.C., 1991)).
2. Ver o relatório do Diretor Geral de Desenvolvimento e Cooperação Econômica Internacional,
que contém dados estatísticos preliminares sobre as atividades operacionais do sistema das
Nações Unidas para 1988 (A/44/324-E/1989/106/Add.4, anexo).
3. Banco Mundial, Relatório Anual, 1991 (Washington, D.C., 1991).
4. PNUD, "Compromissos de investimentos relacionados a projetos que recebem assistência do
PNUD, 1988", tabela 1, "Distribuição setorial dos compromissos de investimentos em 1988-
1989".
5. Um programa piloto desse tipo, o Programa de Dados sobre Cidades, já funciona no Centro
das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (Habitat), tendo por objetivo a produção e
disseminação para as cidades participantes de software com aplicação em micro-computadores
destinado a armazenar, processar e recuperar dados sobre as cidades para fins de intercâmbio e
disseminação local, nacional e internacional.
7.21. As cidades de todos os países devem aumentar a cooperação entre si e as cidades
dos países desenvolvidos, sob a égide de organizações não-governamentais ativas nessa área, tal
como a International Union of Local Authorities (IULA), o International Council for Local
Environmental Initiatives (ICLEI) e a World Federation of Twin Cities.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


7.22. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $100 bilhões de dólares, inclusive
cerca de $15 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Desenvolvimento dos recursos humanos e da capacidade de ação
7.23. Os países em desenvolvimento devem, com a assistência internacional adequada,
considerar a possibilidade de concentrar-se no treinamento e desenvolvimento de um plantel de
gerenciadores, técnicos, administradores e outros especialistas para a área urbana, capazes de
gerenciar com sucesso o desenvolvimento e o crescimento das cidades de forma ambientalmente
saudável e equipados com os conhecimentos necessários para analisar e adaptar as experiências
inovadoras de outros centros urbanos. Para esse fim, deve-se utilizar todo o leque de métodos de
Agenda 21 - Global 62

treinamento -- da educação formal ao uso dos meios de comunicação de massa --, paralelamente
ao "aprendizado por meio da ação".
7.24. Os países em desenvolvimento também devem estimular o treinamento tecnológico
e a pesquisa por meio de esforços conjuntos de doadores, organizações não-governamentais e
empresa privada em áreas como redução de resíduos, qualidade da água, economia de energia,
produção segura de produtos químicos e transporte menos poluente.
7.25. As atividades de capacitação institucional e técnica desenvolvidas por todos os
países, com os auxílios sugeridos acima, devem ir além do treinamento de indivíduos e de grupos
funcionais para incluir disposições institucionais, rotinas administrativas, vínculos inter-agências,
fluxos de informação e processos consultivos.
7.26. Em acréscimo, iniciativas internacionais nos moldes do Programa de Manejo
Urbano, em cooperação com agências bilaterais e multilaterais, devem continuar a prestar apoio
aos países em desenvolvimento em seus esforços para desenvolver uma estrutura participativa
por meio da mobilização dos recursos humanos do setor privado, das organizações não-
governamentais e dos pobres, especialmente mulheres e pessoas em posição de desvantagem.

C. Promover o planejamento e o manejo sustentáveis do uso da terra

Base para a ação

7.27. O acesso aos recursos terrestres é um componente essencial dos estilos de vida
sustentáveis de baixo impacto sobre o meio ambiente. Os recursos terrestres são a base para os
sistemas de vida (humanos) e proporcionam solo, energia, água e possibilidade de realização para
todos os tipos de atividade humana. Em áreas urbanas em rápido crescimento o acesso à terra é
crescentemente dificultado pelas exigências conflitivas da indústria, da habitação, do comércio,
da agricultura, das estruturas de propriedade fundiária e da necessidade de espaços abertos. Além
disso, com a elevação dos custos das terras urbanas os pobres vêem-se impedidos de ter acesso a
terras convenientes. Nas zonas rurais, práticas insustentáveis como a exploração de terras
marginais e a invasão de florestas e áreas ecologicamente frágeis em decorrência de interesses
comerciais e pelas populações rurais sem terra, têm como resultado a degradação ambiental, bem
como uma diminuição do rendimento dos colonos rurais empobrecidos.

Objetivo

7.28. O objetivo é atender às necessidades de terra para o desenvolvimento dos


assentamentos humanos mediante um planejamento físico e um uso da terra ambientalmente
saudáveis, de modo que todas as famílias tenham garantido o acesso à terra e, quando apropriado,
estimular a propriedade e o manejo comunais e coletivos da terra (6). Por razões econômicas e
culturais, especial atenção deve ser dedicada às necessidades das mulheres e dos populações
indígenas.

Atividades

7.29. Todos os países devem considerar, quando apropriado, a possibilidade de


empreender um inventário nacional abrangente de seus recursos terrestres, com o objetivo de
criar um sistema de informações sobre a terra no qual os recursos terrestres estejam classificados
de acordo com seus usos mais adequados e as regiões ambientalmente frágeis ou sujeitas a
Agenda 21 - Global 63

desastres estejam identificadas, para a adoção de medidas especiais de proteção.


7.30. Subseqëntemente, todos os países devem considerar o desenvolvimento de planos
nacionais de manejo dos recursos terrestres, com o fim de orientar o desenvolvimento e a
utilização dos recursos terrestres e, para esse fim, devem:
(a) Estabelecer, quando apropriado, legislações nacionais que orientem a
implementação de políticas públicas ambientalmente saudáveis para o desenvolvimento urbano, a
utilização da terra e a habitação, e, ao mesmo tempo, um melhor manejo da expansão urbana;
(b) Criar, quando apropriado, mercados de terra eficientes e acessíveis, que
atendam às necessidades de desenvolvimento da comunidade mediante, inter alia, o
aperfeiçoamento dos sistemas de registro de terras e a simplificação dos procedimentos em
transações territoriais;
(c) Desenvolver incentivos fiscais e medidas de controle do uso da terra, inclusive
soluções de planejamento para o uso da terra, com vistas a um uso mais racional e
ambientalmente saudável de recursos terrestres limitados;
(d) Estimular associações entre os setores público, privado e comunitário no
manejo dos recursos terrestres, com vistas ao desenvolvimento dos assentamentos humanos;
(e) Fortalecer, nos atuais assentamentos urbanos e rurais, práticas de proteção dos
recursos terrestres baseadas na comunidade;
(f) Estabelecer formas adequadas de posse da terra, capazes de assegurar a posse a
todos os usuários da terra, particularmente a populações indígenas, mulheres, comunidades
locais, moradores urbanos de baixa renda e pobres das áreas rurais;
(g) Acelerar os esforços voltados para a promoção do acesso à terra dos pobres das
áreas rurais e urbanas, inclusive com planos de crédito para a compra de terra e para a
edificação/aquisição ou melhoria de habitações seguras e saudáveis, bem como de serviços de
infra-estrutura;
(h) Desenvolver e apoiar a implementação de práticas aperfeiçoadas de manejo da
terra, que abranjam as necessidades de terras potencialmente competitivas para agricultura,
indústria, transporte, desenvolvimento urbano, áreas verdes, reservas e outras necessidades vitais;
(i) Promover a compreensão, por parte das pessoas encarregadas de formular
políticas, das conseqüências funestas sobre áreas ambientalmente vulneráveis de assentamentos
não-planejados, e das políticas nacionais e locais mais adequadas no que diz respeito ao uso da
terra e assentamentos necessários para tal fim.
7.31. No plano internacional, a coordenação mundial das atividades de manejo dos
recursos terrestres deve ser fortalecida por meio das diversas agências bilaterais e multilaterais e
de programas como o PNUD, a FAO, o Banco Mundial, os bancos regionais de desenvolvimento,
outras organizações interessadas e o Programa conjunto PNUD/Banco Mundial/Programa de
Manejo Urbano Habitat, devendo-se adotar medidas que promovam a transferência de
experiências aplicáveis sobre práticas sustentáveis de manejo da terra para e entre os países em
desenvolvimento.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


7.32. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementaçào das atividades deste programa em cerca de $3 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $300 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
Agenda 21 - Global 64

revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
7.33. Todos os países, especialmente os países em desenvolvimento, sozinhos ou em
agrupamentos regionais ou subregionais, devem obter acesso às técnicas modernas de manejo dos
recursos terrestres tais como sistemas de informações geográficas, imagens/fotografias feitas por
satélite e outras tecnologias de sensoriamento remoto.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos e capacitação institucional e técnica
7.34. Devem-se empreender em todos os países atividades de treinamento centradas no
meio ambiente para o planejamento e o manejo sustentáveis dos recursos terrestres; os países em
desenvolvimento devem receber assistência, por meio das agências internacionais de apoio e
financiamento, para:
(a) Fortalecer a capacidade das instituições de pesquisa e treinamento nacionais,
estaduais/provinciais e locais de fornecer treinamento formal a técnicos e profissionais do manejo
da terra;
(b) Facilitar o exame da organização de ministérios e organismos governamentais
responsáveis por questões relativas à terra, com o objetivo de elaborar mecanismos mais
eficientes de manejo dos recursos terrestres e de organizar cursos periódicos de atualização no
emprego para os gerenciadores e o pessoal desses ministérios e agências e assim familiarizá-los
com tecnologias atualizadas de manejo dos recursos terrestres;
(c) Quando apropriado, equipar essas agências com equipamento moderno como
hardware e software de computação e equipamento para pesquisa de campo;
(d) Fortalecer os programas atualmente existentes e promover o intercâmbio
internacional e inter-regional de informações e experiências em manejo da terra por meio do
estabelecimento de associações profissionais voltadas para as ciências de manejo da terra e
atividades correlatas, tal como cursos práticos e seminários.

D. Promover a existência integrada de infra-estrutura ambiental: água, saneamento,


drenagem e manejo de resíduos sólidos

Base para a ação

7.35. A sustentabilidade do desenvolvimento urbano é definida por muitos parâmetros


relativos à disponibilidade de suprimento de água, qualidade do ar e existência de uma infra-
estrutura ambiental de saneamento e manejo dos resíduos. Como resultado da densidade dos
usuários, a urbanização, caso adequadamente gerenciada, oferece oportunidades únicas para a
criação de uma infra-estrutura ambiental sustentável por meio de uma política adequada de
preços, programas educativos e mecanismos eqüitativos de acesso, saudáveis tanto do ponto de
vista econômico como ambiental. Na maioria dos países em desenvolvimento, porém, a
impropriedade e a carência da infra-estrutura ambiental é responsável pela má saúde generalizada
e por um grande número de mortes evitáveis a cada ano. Nesses países verificam-se condições
que tendem a piorar devido às necessidades crescentes, que excedem a capacidade dos Governos
de reagir adequadamente.
7.36. Uma abordagem integrada para o fornecimento de uma infra-estrutura
ambientalmente saudável nos assentamentos humanos, em especial para os pobres das áreas
urbanas e rurais, é um investimento no desenvolvimento sustentável capaz de melhorar a
Agenda 21 - Global 65

qualidade de vida, aumentar a produtividade, melhorar a saúde e reduzir a carga de investimentos


em medicina curativa e mitigação da pobreza.
7.37. A maioria das atividades cujo manejo teria a ganhar com uma abordagem integrada
estão compreendidas na Agenda 21 como se segue: capítulo 6 ("Proteção e fomento da saúde
humana"), capítulos 9 ("Proteção da atmosfera"), 18 ("Proteção dos recursos de água doce e de
sua qualidade") e 21 ("Manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos e questões
relacionadas com os esgotos").

Objetivo

7.38. O objetivo é assegurar a existência de instalações adequadas de infra-estrutura


ambiental em todos os assentamentos até o ano 2025. A concretização desse objetivo exigiria que
todos os países em desenvolvimento incorporassem a suas estratégias nacionais programas de
construção da necessária capacidade em recursos técnicos, financeiros e humanos para uma
melhor integração da infra-estrutura e do planejamento ambiental até o ano 2000.

Atividades

7.39. Todos os países devem avaliar a conveniência da infra-estrutura ambiental de seus


assentamentos humanos, determinar metas nacionais para o manejo sustentável do lixo e
implantar uma tecnologia ambientalmente saudável para assegurar a proteção do meio ambiente,
da saúde humana e da qualidade da vida. Com o auxílio das agências bilaterais e multilaterais,
devem ser fortalecidos a infra-estrutura dos assentamentos e os programas ambientais voltados
para a promoção de uma abordagem integrada, pelos assentamentos humanos, de planejamento,
desenvolvimento, manutenção e manejo da infra-estrutura ambiental (abastecimento de água,
saneamento, drenagem e manejo de detritos sólidos). Também deve ser fortalecida a coordenação
entre as mencionadas agências, com a colaboração dos representantes internacionais e nacionais
de autoridades locais, setor privado e grupos comunitários. As atividades de todas as agências
envolvidas na criação de infra-estrutura ambiental devem, sempre que possível, refletir uma visão
dos assentamentos baseada nos ecossistemas ou nas áreas metropolitanas e incluir entre as
diversas atividades dos programas o monitoramento, a pesquisa aplicada, a capacitação
institucional e técnica, a transferência de tecnologia adequada e a cooperação técnica.
7.40. Os países em desenvolvimento devem receber auxílio nos planos nacional e local
para a adoção de uma abordagem integrada de abastecimento de água, energia, saneamento,
drenagem e manejo de detritos sólidos, e as agências externas de financiamento devem certificar-
se de que essa abordagem é aplicada em especial à melhoria da infra-estrutura ambiental dos
assentamentos informais, por meio de regulamentações e normas que levem em consideração as
condições de vida e os recursos das comunidades a serem atendidas.
7.41. Todos os países devem, quando apropriado, adotar os seguintes princípios para o
estabelecimento de uma infra-estrutura ambiental:
(a) Na medida do possível, adotar políticas que minimizem, quando for impossível
evitar, o dano ambiental;
(b) Certificar-se de que as decisões relevantes sejam precedidas por avaliações do
impacto ambiental e que além disso elas levem em conta os custos das eventuais conseqüências
ecológicas;
(c) Promover o desenvolvimento em conformidade com práticas autóctones e
adotar tecnologias apropriadas às condições locais;
Agenda 21 - Global 66

(d) Promover políticas voltadas para a recuperação dos custos efetivos dos
serviços de infra-estrutura, reconhecendo ao mesmo tempo a necessidade de encontrar
abordagens apropriadas (inclusive subsídios) para estender os serviços básicos a todos os lares;
(e) Buscar soluções conjuntas para problemas ambientais que afetem diversas
localidades.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


7.43. O Secretariado da Conferência estimou a maioria dos custos da implementação das
atividades deste programa em outros capítulos. O Secretariado estima o custo total anual médio
(1993-2000) da assistência técnica a ser prestada pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações em cerca de $50 milhões de dólares. Estas são estimativas apenas
indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros,
inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que
os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
7.44. Os meios científicos e tecnológicos que fazem parte dos programas atualmente
existentes devem ser, sempre que possível, coordenados entre si e devem:
(a) Acelerar a pesquisa na área de políticas integradas dos programas e projetos de
infra-estrutura ambiental baseados em análises de custo/benefício e no impacto geral sobre o
meio ambiente;
(b) Promover métodos de avaliação da "demanda efetiva", utilizando informações
sobre meio ambiente e desenvolvimento como critério para a seleção de tecnologias;
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos e capacitação institucional e técnica
7.45. Com a assistência e o apoio de agências de financiamento, todos os países devem,
quando apropriado, empreender programas de treinamento e participação popular voltados para:
(a) Aumentar a consciência das pessoas quanto a meios, abordagens e benefícios
da existência de instalações de infra-estrutura ambiental, especialmente entre populações
indígenas, mulheres, grupos de baixa renda e pobres;
(b) Desenvolver um plantel de profissionais adequadamente capacitados para o
planejamento de serviços integrados de infra-estrutura e a manutenção de sistemas que
apresentem boa utilização dos recursos investidos e sejam ambientalmente saudáveis e
socialmente aceitáveis;
(c) Fortalecer a capacidade institucional de autoridades e administradores locais de
fornecerem de forma integrada serviços adequados de infra-estrutura, em associação com as
comunidades locais e o setor privado;
(d) Adotar instrumentos legais e regulamentadores adequados, inclusive arranjos
de subsídios mútuos, para estender os benefícios de uma infra-estrutura ambiental adequada e
acessível do ponto de vista econômico a grupos populacionais não atendidos, sobretudo os
pobres.

E. Promover sistemas sustentáveis de energia e transporte nos assentamentos humanos

Base para a ação

7.46. A maior parte da energia comercial e não comercial produzida atualmente é


Agenda 21 - Global 67

utilizada nos -- e para os -- assentamentos humanos; uma porcentagem substancial dessa energia
é utilizada pelo setor doméstico. Neste momento os países em desenvolvimento defrontam-se
com a necessidade de aumentar sua produção de energia para acelerar o desenvolvimento e elevar
o padrão de vida de suas populações e, ao mesmo tempo, de reduzir tanto os custos da produção
de energia como a poluição associada à energia. Uma maior eficiência no uso da energia, com o
objetivo de reduzir seus efeitos poluidores e promover o uso de fontes renováveis de energia deve
ser uma prioridade em toda ação empreendida para proteger o meio ambiente urbano.
7.47. Os países desenvolvidos, na qualidade de maiores consumidores de energia,
defrontam-se com a necessidade de empreender o planejamento e o manejo da energia,
promovendo fontes renováveis e alternativas de energia e avaliando os custos que representam os
atuais sistemas e práticas para o ciclo da vida, visto que em decorrência deles muitas áreas
metropolitanas estão sofrendo de problemas difusos com a qualidade do ar -- problemas esses
relacionados a ozônio, materiais em suspensão e monóxido de carbono. As causas disso estão
muito ligadas a inadequações tecnológicas e ao uso crescente de combustível gerado por
ineficiências, altas concentrações demográficas e industriais e rápida expansão do número de
veículos automotores.
7.48. O transporte responde por cerca de 30 por cento do consumo comercial de energia e
por cerca de 60 por cento do consumo total mundial de petróleo líquido. Nos países em
desenvolvimento, a rápida motorização e a insuficiência de investimentos em planejamento de
transportes urbanos e manejo e infra-estrutura do tráfego estão criando problemas cada vez mais
graves em termos de acidentes e danos, saúde, ruído, congestionamento e perda de produtividade,
semelhantes aos que ocorrem em muitos países desenvolvidos. Todos esses problemas têm um
grave impacto sobre as populações urbanas, especialmente sobre os grupos de baixa renda e sem
rendimentos.

Objetivos

7.49. Os objetivos são ampliar o fornecimento aos assentamentos humanos de uma


tecnologia mais eficiente quanto ao uso da energia, bem como de fontes alternativas/renováveis
de energia, e reduzir os efeitos negativos da produção e do uso da energia sobre a saúde humana e
sobre o meio ambiente.

Atividades

7.50. As principais atividades atinentes a esta área de programas estão incluídas no


capítulo 9 ("Proteção da atmosfera), área de programas B, subprograma 1 (Desenvolvimento,
eficiência e consumo de energia) e subprograma 2 (Transportes).
7.51. Uma abordagem abrangente da questão do desenvolvimento dos assentamentos
humanos deve incluir a promoção do desenvolvimento de energia sustentável em todos os países,
como a seguir:
(a) Os países em desenvolvimento, em especial, devem:
(i) Formular programas nacionais de ação para promover e sustentar o
reflorestamento e a regeneração das florestas nacionais, com vistas a obter um abastecimento
sustentado da energia de biomassa necessária para atender os grupos de baixa renda das áreas
urbanas e dos pobres das áreas rurais, em especial mulheres e crianças;
(ii) Formular programas nacionais de ação para promover o
desenvolvimento integrado de tecnologias de economia de energia e de utilização de fontes
Agenda 21 - Global 68

renováveis de energia, em especial fontes de energia solar, hidráulica, eólica e de biomassa;


(iii) Promover uma ampla dissseminação e comercialização das
tecnologias de fontes renováveis de energia, por meio de medidas adequadas como, entre outras,
mecanismos tributários e de transferência de tecnologia;
(iv) Implementar programas de informação e treinamento destinados a
fabricantes e usuários, com o objetivo de promover técnicas que economizem energia e artigos
que utilizem energia de forma eficaz;
(b) As organizações internacionais e os doadores bilaterais devem:
(i) Apoiar os países em desenvolvimento na implementação de programas
nacionais de energia que tenham o objetivo de obter um uso disseminado de tecnologias que
economizem energia e utilizem fontes renováveis de energia, especialmente fontes solares,
eólicas, hidráulicas e de biomassa;
(ii) Oferecer acesso aos resultados da pesquisa e do desenvolvimento, com
o objetivo de aumentar os níveis da eficiência no uso da energia nos assentamentos humanos.
7.52. Uma abordagem abrangente da questão do planejamento e manejo dos transportes
urbanos deve ser a promoção de sistemas de transporte eficientes e ambientalmente saudáveis em
todos os países. Para esse fim, todos os países devem:
(a) Integrar o planejamento de uso da terra e transportes, com vistas a estimular
modelos de desenvolvimento que reduzam a demanda de transportes;
(b) Adotar programas de transportes urbanos que favoreçam transportes públicos
com grande capacidade nos países em que isso for apropriado;
(c) Estimular modos não motorizados de transporte, com a construção de ciclovias
e vias para pedestres seguras nos centros urbanos e suburbanos nos países em que isso for
apropriado;
(d) Dedicar especial atenção ao manejo eficaz do tráfego, ao funcionamento
eficiente dos transportes públicos e à manutenção da infra-estrutura de transportes;
(e) Promover o intercâmbio de informação entre os países e os representantes das
áreas locais e metropolitanas;
(f) Reavaliar os atuais modelos de consumo e produção com o objetivo de reduzir
o uso de energia e de recursos nacionais.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


7.53. O Secretariado da Conferência estimou os custos da implementação das atividades
deste programa no capítulo 9 ("Proteção da atmosfera");
(b) Desenvolvimento dos recursos humanos e capacitação institucional e técnica
7.54. A fim de aumentar o nível técnico de profissionais e instituições da área de serviços
energéticos e transportes, todos os países devem, quando apropriado:
(a) Oferecer treinamento no emprego e outras modalidades de treinamento a
funcionários públicos, planejadores, engenheiros de trânsito e gerenciadores envolvidos no setor
de serviços energéticos e transportes;
(b) Utilizando campanhas maciças pela imprensa e apoiando as iniciativas não-
governamentais e comunitárias de promoção do uso de transporte não motorizado, partilha de
automóveis e aperfeiçoamento das medidas de segurança no trânsito, aumentar a consciência do
público quando aos efeitos que têm sobre o meio ambiente os hábitos de transporte e viagem;
(c) Fortalecer instituições regionais, nacionais, estaduais/provinciais e do setor
Agenda 21 - Global 69

privado que ofereçam ensino e treinamento em serviços energéticos e planejamento e manejo de


transportes urbanos.

F. Promover o planejamento e o manejo dos assentamentos humanos localizados em áreas


sujeitas a desastres

Base para a ação

7.55. Os desastres naturais causam perdas de vida, perturbação das atividades econômicas
e da produtividade urbana, especialmente para os grupos de baixa renda, altamente suscetíveis, e
dano ambiental, como perda de terra fértil de cultivo e contaminação dos recursos hídricos, e
podem provocar grandes reassentamentos populacionais. Ao longo das últimas duas décadas
estima-se que os desastres naturais causaram cerca de 3 milhões de mortes e afetaram 800
milhões de pessoas. As perdas econômicas globais foram estimadas pelo Coordenador das
Nações Unidas para Socorro em Casos de Desastre como sendo da ordem de $30-50 bilhões de
dólares por ano.
7.56. A Assembléia Geral, por meio de sua resolução 44/236, proclamou a década de
1990 como sendo a Década Internacional para a Redução dos Desastres Naturais. Os objetivos da
Década (7) estão vinculados aos objetivos da presente área de programas.
7.57. Verifica-se, ademais, urgente necessidade de fazer frente à questão da prevenção e
redução dos desastres provocados pelo homem e/ou dos desastres provocados, inter alia, por
indústrias, pela geração de energia nuclear carente de segurança e por resíduos tóxicos (ver
capítulo 6 da Agenda 21).

Objetivo

7.58. O objetivo é capacitar todos os países, em especial os que apresentem propensão a


desastres, a mitigar o impacto negativo dos desastres naturais e provocados pelo homem sobre os
assentamentos humanos, as economias nacionais e o meio ambiente.

Atividades

7.59. Estão previstas três distintas áreas de atividade para esta área de programas, a saber:
o desenvolvimento de uma "cultura da segurança", o planejamento pré-desastres e a reconstrução
pós-desastres.
(a) Desenvolvimento de uma cultura de segurança
7.60. Para promover uma "cultura da segurança" em todos os países, especialmente
naqueles que apresentam propensão a desastres, as seguintes atividades devem ser empreendidas:
(a) Efetuar estudos nacionais e locais sobre a natureza e a ocorrência dos desastres
naturais; seu impacto sobre as pessoas e sobre as atividades econômicas; efeitos de edificação e
uso da terra inadequados em áreas propensas a desastres; e vantagens sociais e econômicas de um
adequado planejamento pré-desastres;
(b) Implementar campanhas de conscientização de âmbito nacional e local por
meio de todos os meios disponíveis, traduzindo o conhecimento acima em informações
facilmente compreensíveis pelo público em geral e pelas populações diretamente expostas a
riscos;
(c) Fortalecer e/ou desenvolver sistemas de alerta mundiais, regionais, nacionais e
Agenda 21 - Global 70

locais, para avisar as pessoas sobre a iminência de desastres;


(d) Identificar, nos planos nacional e internacional, áreas de desastre ambiental
provocado pela indústria e implementar estratégias voltadas para a recuperação dessas áreas por
meio, inter alia, das seguintes atividades:
(i) Reestruturação das atividades econômicas e promoção de novas
oportunidades de emprego em setores ambientalmente saudáveis;
(ii) Promoção de uma colaboração estreita entre as autoridades
governamentais e locais, as comunidades e organizações não-governamentais locais e a empresa
privada;
(iii) Desenvolvimento e aplicação de normas estritas de controle ambiental.
(b) Desenvolvimento de um planejamento pré-desastres
7.61. O planejamento pré-desastres deve fazer parte integrante do planejamento dos
assentamentos humanos em todos os países. Deve incluir o que se segue:
(a) Realização de pesquisas completas sobre os diferentes riscos e
vulnerabilidades dos assentamentos humanos e das infra-estruturas desses assentamentos,
inclusive de água e esgotos e redes de transporte e comunicações, visto que uma classe de
redução de riscos pode acentuar a vulnerabilidade a outros (por exemplo, uma casa de madeira
resistente a terremotos será mais vulnerável a vendavais);
(b) Desenvolvimento de metodologias para determinação dos riscos e da
vulnerabilidade existentes em assentamentos humanos específicos e incorporação da redução dos
riscos e da vulnerabilidade ao processo de planejamento e manejo dos assentamentos humanos;
(c) Redirecionamento das novas atividades de desenvolvimento e assentamento
humano inadequadas para áreas não propensas a acidentes;
(d) Preparação de diretrizes sobre localização, projeto e funcionamento de
indústrias e atividades potencialmente perigosas;
(e) Desenvolvimento de instrumentos (legais, econômicos, etc.) que estimulem um
desenvolvimento sensível à possibilidade de desastres, incluindo formas de garantir que as
limitações a determinada opção de desenvolvimento não sejam punitivas para os proprietários, ou
incorporar meios alternativos de ressarcimento;
(f) Desenvolvimento e divulgação, em nível mais amplo, de informação sobre
materiais e tecnologias de construção para edifícios e obras públicas em geral resistentes a
desastres;
(g) Desenvolvimento de programas de treinamento para contratantes e
construtores sobre métodos de construção resistentes a desastres. Alguns programas devem ser
direcionados especificamente para pequenas empresas, que constróem a grande maioria das casas
e de outras pequenas edificações nos países em desenvolvimento, bem como para as populações
das zonas rurais, que constróem suas próprias casas;
(h) Desenvolvimento de programas de treinamento para administradores de locais
de emergência, organizações não-governamentais e grupos comunitários que incluam todos os
aspectos relativos a mitigação de desastres, inclusive de busca e resgate em áreas urbanas,
comunicações de emergência, técnicas de pronto alerta e planejamento pré-desastres;
(i) Desenvolvimento de procedimentos e práticas que possibilitem às comunidades
locais receber informações sobre instalações ou situações perigosas em suas jurisdições e
facilitem sua participação nos procedimentos e planos de pronto alerta, redução dos desastres e
reação em casos de desastre;
(j) Preparação de planos de ação para a reconstrução de assentamentos, em
especial a reconstrução de atividades vitais da comunidade;
Agenda 21 - Global 71

(c) Início de um planejamento para a reconstrução e a reabilitação pós-desastres


7.62. A comunidade internacional, enquanto sócio principal da pós-reconstrução e
reabilitação pós-desastres, deve certificar-se de que os países atingidos beneficiam-se ao máximo
dos fundos alocados empreendendo as seguintes atividades:
(a) Pesquisas sobre experiências pregressas nos aspectos sociais e econômicos da
reconstrução pós-desastre e adoção de estratégias e diretrizes eficazes para a reconstrução pós-
desastre, com ênfase especial em estratégias centradas no desenvolvimento quando da alocação
de recursos escassos para a reconstrução, e em oportunidades de introdução de padrões de
assentamento sustentável que a reconstrução pós-desastre possa oferecer;
(b) Preparação e disseminação de diretrizes internacionais de adaptação a
necessidades nacionais e locais;
(c) Apoio aos esforços de Governos nacionais de dar início a planos conjunturais,
com a participação das comunidades afetadas, de reconstrução e reabilitação pós-desastre.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


7.63. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $50 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doaçÕes. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
7.64. Os cientistas e engenheiros especializados nessa área, tanto nos países em
desenvolvimento como nos desenvolvidos, devem colaborar com os planejadores urbanos e
regionais para proporcionar os conhecimentos básicos e os meios para a mitigação das perdas
decorrentes de desastres e de um desenvolvimento ambientalmente inadequado.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos e capacitação institucional e técnica
7.65. Os países em desenvolvimento devem empreender programas de treinamento sobre
métodos de construção resistentes a desastres para contratantes e os construtores que constróem a
maior parte das casas nos países em desenvolvimento. A iniciativa deve centrar-se nas empresas
de pequeno porte, que constróem a maior parte das casas nos países em desenvolvimento.
7.66. Os programas de treinamento devem ser estendidos aos funcionários públicos e
planejadores da área governamental e às organizações comunitárias e não-governamentais para
considerar todos os aspectos da mitigação de desastres, como técnicas de pronto alerta,
planejamento e construção pré-desastres e construção e reabilitação pós-desastres.

G. Promover atividades sustentáveis na indústria da construção

Base para a ação

7.67. As atividades do setor da construção são vitais para a concretização das metas
nacionais de desenvolvimento sócio-econômico: proporcionar habitação, infra-estrutura e
emprego. Ao mesmo tempo, por meio do esgotamento da base de recursos naturais, da
degradação de zonas ecológicas frágeis, da contaminação química e do uso de materiais de
construção nocivos para a saúde humana, elas podem ser uma fonte importante de danos
Agenda 21 - Global 72

ambientais.

Objetivos

7.68. Os objetivos são, em primeiro lugar, adotar políticas e tecnologias e sobre elas
trocar informações, para desse modo permitir que o setor da construção atenda às metas de
desenvolvimento dos assentamentos humanos e ao mesmo tempo evite efeitos colaterais
daninhos para a saúde humana e a biosfera e, em segundo lugar, aumentar a capacidade de
geração de empregos do setor da construção. Os Governos devem trabalhar em colaboração
estreita com o setor privado na concretização desses objetivos.

Atividades

7.69. Todos os países devem, quando apropriado e em conformidade com planos,


objetivos e prioridades nacionais:
(a) Estabelecer e fortalecer uma indústria autóctone de materiais de construção,
baseada, tanto quanto possível, na oferta local de recursos naturais;
(b) Formular programas para aumentar a utilização de materiais locais pelo setor
da construção por meio da expansão do apoio técnico e dos planos de incentivo para aumentar a
capacidade e a viabilidade econômica das empresas informais e de pequeno porte que fazem uso
desses materiais e de técnicas tradicionais de construção;
(c) Adotar normas e outras medidas regulamentadoras que promovam um uso
mais intenso de projetos e tecnologias que façam uso da energia de forma eficiente e que utilizem
os recursos naturais de forma sustentável e adequadamente, tanto do ponto de vista econômico
como ambiental;
(d) Formular políticas adequadas para o uso da terra e introduzir uma
regulamentação para o planejamento especialmente voltada para proteger regiões ecologicamente
sensíveis dos danos físicos causados pela construção e por atividades relacionadas à construção;
(e) Promover o uso de tecnologias de construção e manutenção que façam uso
intensivo da mão-de-obra, gerando emprego no setor da construção para a força de trabalho
subempregada que se encontra na maioria das grandes cidades e promovendo, ao mesmo tempo,
o desenvolvimento de proficiência no setor da construção;
(f) Desenvolver políticas e práticas que atinjam o setor informal e os construtores
de casas que trabalham em regime de mutirão, por meio da adoção de medidas que aumentem a
viabilidade econômica dos materiais de construção para os pobres das áreas urbanas e rurais,
mediante, inter alia, planos de crédito e compras a granel de materiais de construção para
posterior venda a construtores em pequena escala e comunidades.
7.70. Todos os países devem:
(a) Promover o livre intercâmbio de informações sobre todos os aspectos
ambientais e sanitários da construção, inclusive o desenvolvimento e disseminação de bancos de
dados sobre os efeitos ambientais adversos dos materiais de construção, por meio do esforço de
colaboração dos setores público e privado;
(b) Promover o desenvolvimento e disseminação de bancos de dados sobre os
efeitos ambientais e sanitários adversos dos materiais de construção e introduzir uma legislação e
incentivos financeiros que promovam a reciclagem de materiais de alto rendimento energético na
indústria da construção e a conservação de energia nos métodos de produção dos materiais de
construção;
Agenda 21 - Global 73

(c) Promover o uso de instrumentos econômicos, como taxas sobre os produtos,


que desestimulem o uso de materiais e produtos de construção que criem poluição durante seu
ciclo vital;
(d) Promover intercâmbio de informação e transferência adequada de tecnologia
entre todos os países, com especial atenção para os países em desenvolvimento, para o manejo
dos recursos destinados à construção, especialmente os recursos não-renováveis;
(e) Promover a realização de pesquisas nas indústrias da construção e atividades
correlatas e estabelecer e fortalecer instituições nesse setor.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


7.71. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $40 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $4 bilhões de doláres a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Desenvolvimento dos recursos humanos e capacitação institucional e técnica
7.72. Os países em desenvolvimento devem receber assistência dos organismos
internacionais de apoio e financiamento para melhorar a capacidade técnica e administrativa dos
pequenos empresários e os conhecimentos profissionais de trabalhadores e supervisores da
indústria de materiais de construção, mediante diversos métodos de treinamento. Esses países
também devem receber assistência para o desenvolvimento de programas de estímulo ao uso de
tecnologias sem resíduos e limpas, mediante a transferência adequada de tecnologia.
7.73. Programas gerais de ensino devem ser desenolvidos em todos os países, quando
adequado, para aumentar a consciência dos construtores acerca das tecnologias sustentáveis
disponíveis.
7.74. As autoridades locais são convocadas a desempenhar um papel pioneiro na
promoção da intensificação do uso de materiais de construção e tecnologias de construção
ambientalmente saudáveis, por exemplo adotando uma política inovadora quanto às aquisições.

H. Promover o desenvolvimento dos recursos humanos e da capacitação institucional e


técnica para o avanço dos assentamentos humanos

Base para a ação

7.75. A maioria dos países, além de carecerem de conhecimentos especializados nas áreas
de habitação, manejo de assentamentos, manejo da terra, infra-estrutura, construção, energia,
transportes, planejamento pré-desastres e reconstrução pós-desastres, enfrenta três carências
intersetoriais relativas ao desenvolvimento dos recursos humanos e à capacitação institucional e
técnica. A primeira é a ausência de um ambiente propício à introdução de políticas de integração
dos recursos e atividades do setor público, do setor privado e da comunidade -- ou setor social; a
segunda é a carência de instituições especializadas de treinamento e pesquisa; e a terceira é a
insuficiência da capacidade de treinamento e assistência técnica para as comunidades de baixa
renda, tanto urbanas como rurais.
Agenda 21 - Global 74

Objetivo

7.76. O objetivo é melhorar o desenvolvimento dos recursos humanos e da capacitação


institucional e técnica em todos os países por meio do fortalecimento da capacidade pessoal e
institucional de todos os atores envolvidos no desenvolvimento dos assentamentos humanos,
especialmente populações indígenas e mulheres. A esse respeito, é preciso levar em conta as
práticas culturais tradicionais dos populações indígenas e sua vinculação com o meio ambiente.

Atividades

7.77. Em cada uma das áreas de programas deste capítulo incluíram-se atividades
específicas de desenvolvimento dos recursos humanos e da capacitação institucional e técnica.
Não obstante, de um modo mais global, devem ser tomadas medidas suplementares para reforçar
essas atividades. Para tanto, todos os países, quando apropriado, devem tomar as seguintes
providências:
(a) Fortalecer o desenvolvimento dos recursos humanos e da capacidade das
instituições do setor público por meio da assistência técnica e da cooperação internacional, de
modo a realizar, até o ano 2000, melhorias substanciais na eficiência das atividades
governamentais;
(b) Criar um ambiente favorável à introdução de políticas de apoio à associação
entre os setores público e privado e a comunidade;
(c) Proporcionar treinamento e assistência técnica de melhor qualidade às
instituições que proporcionam treinamento para técnicos, profissionais e administradores e a
membros designados, eleitos e profissionais dos Governos locais, e fortalecer sua capacidade de
fazer frente às necessidades prioritárias de treinamento, em especial no que diz respeito aos
aspectos sociais, econômicos e ambientais do desenvolvimento dos assentamentos humanos;
(d) Proprocionar assistência direta ao desenvolvimento dos assentamentos
humanos no plano da comunidade, inter alia mediante:
(i) O fortalecimento e a promoção de programas demobilização social e
criação de consciência do potencial de mulheres e jovens nasatividades relativas a assentamentos
humanos;
(ii) A facilitação da coordenação das atividades de mulheres, jovens,
grupos da comunidade e organizações não-governamentais nodesenvolvimento dos
assentamentos humanos;
(iii) A promoção de pesquisas sobre programas relativos à mulher e outros
grupos, e aavaliação dos avanços feitos com vistas àidentificação de pontos de estrangulamento
enecessidade de assistência;
(e) Promover a inclusão do manejo integrado do meio ambiente nas atividades
gerais dos Governos locais.
7.78. Tanto as organizações internacionais como as não-governamentais devem apoiar as
atividades acima, inter alia por meio do fortalecimento das instituições subregionais de
treinamento, do oferecimento de materiais de treinamento atualizados e da difusão dos resultados
de atividades, programas e projetos bem-sucedidos na área dos recursos humanos e da
capacitação institucional e técnica.

Meios de implementação
Agenda 21 - Global 75

(a) Financiamento e estimativa de custos


7.79. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $65 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos cencessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
7.80. Os dois tipos de programas de desenvolvimento dos recursos humanos e da
capacitação institucional e técnica devem ser associados -- o treinamento acadêmico e o não
acadêmico; além disso, convém utilizar métodos de treinamento voltados para o usuário,
materiais de treinamento atualizados e modernos sistemas de comunicação áudio-visual.

1. Não há cifras globais para os gastos internos nem para o apoio oficial
ao desenvolvimento no que diz respeito a assentamentos humanos. No entanto,
os dados disponíveis no Relatório sobre o Desenvolvimento
Mundial, 1991, para 16 países em desenvolvimento de baixa renda,
mostram que a porcentagem de gastos do Governo central com habitação, lazer
e seguridade e bem-estar social para 1989 era, em média, de 5,6 por cento,
com uma alta de 15,1 por cento no caso do Sri Lanka, que implantou um
enérgico programa para a habitação. Nos países industrializados da
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos, no mesmo ano, a
porcentagem de gastos do Governo central com habitação, lazer e seguridade
e bem-estar social ia de um mínimo de 29,3 por cento a um máximo de 49,4
por cento, com uma média de 39 por cento (Banco Mundial, Relatóprio
sobre o Desenvolvimento Mundial, 1991, Indicadores de
desenvolvimento mundial, tabela 11 (Washington, D.C., 1991)).

2. Ver o relatório do Diretor Geral de Desenvolvimento e Cooperação


Econômica Internacional, que contém dados estatísticos preliminares sobre
as atividades operacionais do sistema das Nações Unidas para 1988
(A/44/324-E/1989/106/Add.4, anexo).

3/\. Banco Mundial, Relatório Anual, 1991 (Washington, D.C., 1991).

4. PNUD, "Compromissos de investimentos relacionados a projetos que


recebem assistência do PNUD, 1988", tabela 1, "Distribuição setorial dos
compromissos de investimentos em 1988-1989".

5. Um programa piloto desse tipo, o Programa de Dados sobre Cidades, já


funciona no Centro das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos
(Habitat), tendo por objetivo a produção e disseminação para as cidades
participantes de software com aplicação em micro-computadores destinado a
armazenar, processar e recuperar dados sobre as cidades para fins de
intercâmbio e disseminação local, nacional e internacional.

6. Para isso necessita-se de políticas integradas de manejo dos recursos


terrestres, também examinadas no capítulo 10 da Agenda 21 ("Abordagem
integrada do planejamento e do manejo dos recursos terrestres").

7. As metas da Década Internacional para a Redução dos Desastres Naturais,


Agenda 21 - Global 76

estabelecidas no anexo à resolução 44/236 da Assembléia Geral, são as


seguintes:

(a) Melhorar a capacidade de cada país de mitigar os efeitos dos desastres


naturais com rapidez e eficiência, dedicando especial atenção à assistência
aos países em desenvolvimento na avaliação dos prejuízos potenciais em caso
de desastre e no estabelecimento de sistemas de pronto alerta e de
estruturas resistentes a desastres quando e onde necessário;

(b) Formular diretrizes e estratégias apropriadas para a aplicação dos


conhecimentos científicos e técnicos existentes, levando em conta as
diferenças culturais e econômicas entre as nações;

(c) Promover iniciativas científicas e da área da engenharia com o objetivo


de preencher lacunas críticas nos conhecimentos e assim reduzir a perda de
vidas e bens;

(d) Difundir as informações técnicas disponíveis e as que venham a surgir


no campo de medidas que permitam avaliar, prever e mitigar os desastres
naturais;

(e) Desenvolver medidas que permitam avaliar, prever, prevenir e mitigar os


desastres naturais por meio de programas de assistência técnica e
transferência de tecnologia, projetos de demonstração e atividades de
ensino e treinamento; tais medidas devem referir-se a desastres e
localizações específicos e avaliar a eficácia desses programas.
Agenda 21 - Global 77

Capítulo 8

INTEGRAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO NA TOMADA DE


DECISÕES

Introdução

8.1. O presente capítulo consiste nas seguintes áreas de programas:


(a) Integração entre meio ambiente e desenvolvimento nos planos político, de
planejamento e de manejo;
(b) Criação de uma estrutura legal e regulamentadora eficaz;
(c) Utilização eficaz de instrumentos econômicos e de incentivos do mercado e
outros;
(d) Estabelecimento de sistemas de contabilidade ambiental e econômica integrada

Áreas de programas

A. Integração entre meio ambiente e desenvolvimento nos planos político, de planejamento


e de manejo

Base para a ação

8.2. Os sistemas de tomada de decisão vigentes em muitos países tendem a separar os


fatores econômicos, sociais e ambientais nos planos político, de planejamento e de manejo. Esse
fato influencia as ações de todos os grupos da sociedade, inclusive Governos, indústria e
indivíduos, e tem importantes implicações no que diz respeito à eficiência e sustentabilidade do
desenvolvimento. Talvez seja necessário fazer um ajuste ou mesmo uma reformulação drástica do
processo de tomada de decisões, à luz das condições específicas de cada país, caso se deseje
colocar o meio ambiente e o desenvolvimento no centro das tomadas de decisões políticas e
econômicas -- na prática determinando uma integração plena entre esses fatores. Nos últimos
anos, alguns Governos também começaram a fazer mudanças significativas nas estruturas
institucionais governamentais que permitam uma consideração mais sistemática do meio
ambiente no momento em que se tomam decisões de caráter econômico, social, fiscal, energético,
agrícola, da área dos transportes e do comércio e outras políticas, bem como das implicações
decorrentes das políticas adotadas nessas áreas para o meio ambiente. Também estão sendo
desenvolvidas novas formas de diálogo para a obtenção de melhor integração entre os Governos
nacional e local, a indústria, a ciência, os grupos ligados a assuntos ecológicos e o público no
processo de desenvolvimento de abordagens eficazes para as questões de meio ambiente e
desenvolvimento. A responsabilidade pela concretização de mudanças cabe aos Governos, em
associação com o setor privado e as autoridades locais e em colaboração com organizações
nacionais, regionais e internacionais, inclusive, especialmente, o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), o PNUD e o Banco Mundial. O intercâmbio de experiência
entre os países também pode ser significativo. Planos, metas e objetivos nacionais, normas,
regulamentações e leis nacionais, e a situação específica em que se encontram os diferentes
países são a moldura ampla em que tem lugar essa integração. Nesse contexto, é preciso ter em
mente que as normas ambientais, caso aplicadas uniformemente nos países em desenvolvimento,
Agenda 21 - Global 78

podem significar custos econômicos e sociais de vulto.

Objetivos

8.3. O objetivo geral é melhorar ou reestruturar o processo de tomada de decisões de


modo a integrar plenamente a esse processo a consideração de questões sócio-econômicas e
ambientais, garantindo, ao mesmo tempo, uma medida maior de participação do público.
Reconhecendo que os países irão determinar suas próprias prioridades, em conformidade com
suas situações, necessidades, planos, políticas e programas nacionais preponderantes, propõem-se
os seguintes objetivos:
(a) Realizar um exame nacional das políticas, estratégias e planos econômicos,
setoriais e ambientais, para efetivar uma integração gradual entre as questões de meio ambiente e
desenvolvimento;
(b) Fortalecer as estruturas institucionais para permitir uma integração plena entre
as questões relativas a meio ambiente e desenvolvimento, em todos os níveis do processo de
tomada de decisões;
(c) Criar ou melhorar mecanismos que facilitem a participação, em todos os níveis
do processo de tomada de decisões, dos indivíduos, grupos e organizações interessados;
(d) Estabelecer procedimentos determinados internamente para a integração das
questões relativas a meio ambiente e desenvolvimento no processo de tomada de decisões.

Atividades

(a) Melhoramento dos processos de tomada de decisão


8.4. A principal necessidade consiste em integrar os processos de tomada de decisão
relativos a questões de meio ambiente e desenvolvimento. Para tanto, os Governos devem realizar
um exame nacional e, quando apropriado, aperfeiçoar os processos de tomada de decisão de
modo a efetivar uma integração gradual entre as questões econômicas, sociais e ambientais, na
busca de um desenvolvimento economicamente eficiente, socialmente eqüitativo e responsável e
ambientalmente saudável. Os países irão desenvolver suas próprias prioridades, em conformidade
com seus planos, políticas e programas nacionais, no que diz respeito às seguintes atividades:
(a) Obter a integração de fatores econômicos, sociais e ambientais no processo de
tomada de decisões em todos os níveis e em todos os ministérios;
(b) Adotar uma estrutura política formulada internamente que reflita uma
perspectiva a longo prazo e uma abordagem intersetorial como base para as decisões, levando em
conta os vínculos existentes entre as diversas questões políticas, econômicas, sociais e ambientais
envolvidas no processo de desenvolvimento;
(c) Estabelecer meios e maneiras determinados internamente para garantir a
coerência entre os planos, políticas e instrumentos das políticas setoriais, econômicas, sociais e
ambientais, inclusive as medidas fiscais e o orçamento; esses mecanismos devem corresponder a
diversos níveis e unir os interessados no processo de desenvolvimento
(d) Monitorar e avaliar sistematicamente o processo de desenvolvimento,
examinando regularmente as condições em que se encontra o desenvolvimento dos recursos
humanos, a situação e as tendências econômicas e sociais e o estado do meio ambiente e dos
recursos naturais; isso pode ser complementado por exames anuais do meio ambiente e do
desenvolvimento, com vistas a avaliar as realizações dos diversos setores e departamentos do
Governo em matéria de desenvolvimento sustentável;
Agenda 21 - Global 79

(e) Estabelecer transparência e confiabilidade quanto às implicações para o meio


ambiente das políticas econômicas e setoriais;
(f) Assegurar o acesso do público às informações pertinentes, facilitando a
recepção das opiniões do público e abrindo espaço para sua participação efetiva.
(b) Melhoria dos sistemas de planejamento e manejo
8.5. Em apoio a uma abordagem mais integrada do processo de tomada de decisões, talvez
seja necessário aperfeiçoar os sistemas de dados e os métodos analíticos usados para fundamentar
tais processos de tomada de decisão. Os Governos, em colaboração, quando apropriado, com
organizações nacionais e internacionais, devem fazer um diagnóstico de seus sistemas de
planejamento e manejo e, quando necessário, modificar e fortalecer os procedimentos de modo a
facilitar a consideração integrada das questões sociais, econômicas e ambientais. Os países irão
determinar suas próprias prioridades, em conformidade com seus planos, políticas e programas
nacionais, para as seguintes atividades:
(a) Melhorar o uso de dados e informações em todos os estágios do planejamento
e do manejo, fazendo uso sistemático e simultâneo de dados sociais, econômicos, ecológicos,
ambientais e relativos ao desenvolvimento; a análise deve enfatizar as interações e as sinergias;
deve-se estimular a utilização de um amplo leque de métodos analíticos para a obtenção de
diversos pontos de vista;
(b) Adotar procedimentos analíticos abrangentes para a avaliação prévia e
simultânea das conseqüências das decisões, inclusive para as esferas econômica, social e
ambiental e os vínculos entre essas esferas; esses procedimentos devem ir além do plano do
projeto para chegar às políticas e programas; a análise também deve incluir uma avaliação de
custos, benefícios e riscos;
(c) Adotar abordagens de planejamento flexíveis e integradoras, que permitam a
consideração de metas múltiplas e a adaptação a novas necessidades; uma tal abordagem pode ser
beneficiada por abordagens integradoras por área, por exemplo de diferentes ecossistema ou
diferentes bacias hídricas.
(d) Adotar sistemas integrados de manejo, em especial para o manejo dos recursos
naturais; devem-se estudar os métodos tradicionais ou indígenas e considerar a possibilidade de
adotá-los sempre que se tenham mostrado eficazes; os papéis tradicionais da mulher não devem
ser marginalizados como resultado da introdução de novos sistemas de manejo;
(e) Adotar abordagens integradas para o desenvolvimento sustentável no plano
regional, inclusive em áreas transfronteiriças, respeitadas as exigências impostas por
circunstâncias e necessidades específicas;
(f) Usar instrumentos políticos (jurídicos/regulamentadores e econômicos) como
ferramenta de planejamento e manejo, buscando incorporar critérios de eficiência à tomada de
decisões; esses instrumentos devem ser periodicamente examinados e adaptados, para que não
percam sua eficácia;
(g) Delegar responsabilidades de planejamento e manejo aos níveis mais inferiores
da autoridade pública sempre que isso não signifique comprometer a eficácia; em especial,
devem ser discutidas as vantagens de se oferecerem às mulheres oportunidades eficazes e
eqüitativas de participação;
(h) Estabelecer procedimentos de inclusão das comunidades locais nas atividades
de planejamento para a eventualidade de ocorrerem acidentes ambientais e industriais e manter
uma ativa troca de informações sobre as ameaças locais.
(c) Dados e informações
8.6. Os países devem desenvolver sistemas de monitoramento e avaliação do avanço para
Agenda 21 - Global 80

o desenvolvimento sustentável adotando indicadores que meçam as mudanças nas dimensões


econômica, social e ambiental.
(d) Adoção de uma estratégia nacional que tenha como meta o desenvolvimento
sustentável
8.7. Os Governos, em cooperação, quando apropriado, com as organizações
internacionais, devem adotar uma estratégia nacional que tenha como meta o desenvolvimento
sustentável e apoiada, inter alia, na implementação das decisões adotadas na Conferência,
particularmente no que diz respeito à Agenda 21. Essa estratégia deve ser construída a partir das
diferentes políticas e planos econômicos, sociais e ambientais adotados no país e em
conformidade com eles. A experiência adquirida por meio das atividades de planejamento em
curso, como os relatórios nacionais para a Conferência, as estratégias nacionais de conservação e
os planos de ação para o meio ambiente, deve ser integralmente utilizada e incorporada a uma
estratégia de desenvolvimento sustentável impulsionada pelo país. Seus objetivos devem
assegurar um desenvolvimento econômico socialmente responsável e ao mesmo tempo proteger
as bases de recursos e o meio ambiente, para benefício das gerações futuras. Essa estratégia deve
ser desenvolvida com a mais ampla participação possível. Deve basear-se em uma avaliação
meticulosa da situação e das iniciativas vigentes.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


8.8. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $50 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Pesquisa das interações entre meio ambiente e desenvolvimento
8.9. Os Governos, em colaboração com a comunidade científica nacional e internacional e
em cooperação com as organizações internacionais, como adequado, devem intensificar esforços
para determinar as interações existentes intrinsecamente às considerações de caráter social,
econômico e ambiental e nos vínculos entre elas. Deve ser empreendida pesquisa com o objetivo
explícito de fornecer subsídios para as decisões políticas e oferecer recomendações sobre as
maneiras de melhorar as práticas de manejo.
(c) Intensificação da educação e do treinamento
8.10. Os países, em cooperação, quando apropriado, com as organizações nacionais,
regionais ou internacionais, devem responsabilizar-se pela existência -- ou capacitação -- dos
recursos humanos essenciais e depois empreender a integração de meio ambiente e
desenvolvimento em vários estágios dos processos de tomada de decisão e implementação. Para
tanto, devem melhorar o ensino e o treinamento técnico, especialmente para mulheres e meninas,
por meio da inclusão de abordagens interdisciplinares, conforme apropriado, nos currículos
técnicos, vocacionais, universitários e outros. Os países também devem empreender o
treinamento sistemático de funcionários públicos, planejadores e gerenciadores, em regime
regular, dando prioridade às abordagens de integração necessárias e a técnicas de planejamento e
manejo adequadas às condições específicas de cada país.
(d) Promoção da consciência pública
8.11. Os países, em cooperação com instituições e grupos nacionais, a mídia e a
Agenda 21 - Global 81

comunidade internacional, devem estimular a tomada de consciência do público em geral, bem


como dos círculos especializados, da importância de se considerar o meio ambiente e o
desenvolvimento de forma integrada, e estabelecer mecanismos que facilitem a troca direta de
informações e pontos de vista com o público. Deve ser atribuída prioridade ao destaque das
responsabilidades e contribuições potenciais dos diferentes grupos sociais.
(e) Fortalecimento da capacidade institucional nacional
8.12. Os Governos, em cooperação, quando apropriado, com as organizações
internacionais, devem fortalecer a capacidade e o potencial institucionais nacionais para integrar
as questões de caráter social, econômico, ambiental e do desenvolvimento em todos os níveis dos
processos de tomada de decisões e de implementação do desenvolvimento. É preciso atenção
para evitar as estreitas abordagens setoriais, progredindo para uma coordenação e uma
cooperação plenamente intersetoriais.

B. Estabelecimento de uma estrutura jurídica e regulamentadora eficaz

Base para a ação

8.13. Leis e regulamentações adequadas às condições específicas de cada país são


instrumentos extremamente importantes para transformar em ação as políticas de meio ambiente
e desenvolvimento, não apenas por meio de métodos tipo "ordem e acompanhamento" como
também enquanto estrutura regulamentadora para o planejamento econômico e os instrumentos
do mercado. Mesmo assim, embora o volume de textos jurídicos da área venha aumentando
constantemente, boa parte do processo legislativo em muitos países parece ocorrer de forma
pontual ou não foi dotado da maquinaria institucional e da autoridade necessárias a sua aplicação
e ajuste, quando oportuno.
8.14. Embora em todos os países se verifique uma necessidade constante de
aperfeiçoamento legislativo, muitos países em desenvolvimento padecem de deficiências em seus
sistemas de leis e regulamentações. Para integrar eficazmente meio ambiente e desenvolvimento
nas políticas e práticas de cada país, é essencial desenvolver e implementar leis e
regulamentações integradas, aplicáveis, eficazes e baseadas em princípios sociais, ecológicos,
econômicos e científicos sãos. É igualmente indispensável desenvolver programas viáveis para
verificar e impor a observância das leis, regulamentações e normas adotadas. É possível que
muitos países necessitem de apoio técnico para atingir essas metas. As necessidades da
cooperação técnica nessa área incluem informações legais, serviços de assessoria, e treinamento e
capacitação institucional especializados.
8.15. A promulgação e aplicação de leis e regulamentações (nos planos regional, nacional,
estadual/provincial ou local/municipal) também são essenciais para a implementação da maioria
dos acordos internacionais nas áreas de meio ambiente e desenvolvimento, como demonstra a
exigência, comum nos acordos, de que se comuniquem quaisquer medidas legislativas. No
contexto dos preparativos da Conferência foram examinados os acordos vigentes, constatando-se
problemas de observância nesse aspecto e a necessidade de uma maior implementação nacional e,
quando apropriado, a assistência técnica a ela associada. No desenvolvimento de suas prioridades
nacionais, os países devem levar em conta suas obrigações internacionais.

Objetivos

8.16. O objetivo geral é promover, à luz das condições específicas de cada país, a
Agenda 21 - Global 82

integração entre as políticas de meio ambiente e desenvolvimento por meio da formulação de leis,
regulamentos, instrumentos e mecanismos coercitivos adequados a nível nacional, estadual,
provincial e local. Reconhecendo-se que os países irão desenvolver suas próprias prioridades, em
conformidade com suas necessidades e planos, políticas e programas nacionais e, quando
apropriado, regionais, propõem-se os seguintes objetivos:
(a) Disseminar informações sobre inovações legais e regulamentadoras eficazes na
área de meio ambiente e desenvolvimento, inclusive instrumentos coercitivos e incentivos para a
observância, com vistas a estimular seu uso e adoção mais amplos a nível nacional, estadual,
provincial e local;
(b) Prestar assistência aos países que o solicitem, em seus esforços nacionais para
modernizar e fortalecer a estrutura legal e política do Governo com vistas a um desenvolvimento
sustentável, levando em devida consideração os valores sociais e infra-estruturas locais;
(c) Estimular o desenvolvimento e implementação de programas nacionais,
estaduais, provinciais e locais que avaliem e promovam a observância das leis e reajam
adequadamente a sua não-observância.

Atividades

(a) Aumento da eficácia de leis e regulamentações


8.17. Os Governos, com o apoio, quando apropriado, das organizações internacionais
pertinentes, devem avaliar regularmente as leis e regulamentações aprovadas e os mecanismos
institucionais/administrativos a elas relacionados, existentes nos planos nacional/estadual e
local/municipal, nas áreas de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, com vistas a torná-
las mais eficazes na prática. Os programas com esse fim podem incluir a promoção da
consciência do público, a preparação e a distribuição de material de orientação, e treinamento
especializado, com a inclusão de cursos práticos, seminários, programas de ensino e conferências
para os funcionários públicos que projetam, implementam, acompanham e fazem cumprir leis e
regulamentações.
(b) Estabelecimento de procedimentos judiciais e administrativos
8.18. Os Governos e legisladores, com o apoio, quando apropriado, de organizações
internacionais competentes, devem estabelecer procedimentos judiciais e administrativos para
compensar e remediar ações que afetem o meio ambiente e o desenvolvimento e que possam ser
ilegais ou infringir direitos protegidos por lei, e devem facilitar o acesso de indivíduos, grupos e
organizações que tenham um interesse jurídico reconhecido.
(c) Oferta de informações jurídicas e serviços de apoio
8.19. As organizações intergovernamentais e não-governamentais competentes podem
cooperar para oferecer a Governos e legisladores, quando solicitado, um programa integrado de
serviços de informação jurídica em matéria de meio ambiente e desenvolvimento (direito do
desenvolvimento sustentável), cuidadosamente adaptado às exigências específicas dos sistemas
legais e administrativos do país receptor. Seria útil que tais sistemas incluíssem assistência na
preparação de inventários e análises abrangentes dos sistemas jurídicos nacionais. A experiência
pregressa demonstrou a utilidade de combinarem-se serviços de informação jurídica
especializada com assessoria jurídica por especialistas. No âmbito do sistema das Nações Unidas,
uma maior cooperação entre todas as agências envolvidas evitaria a duplicação de bancos de
dados e facilitaria a divisão do trabalho. Essas agências podem examinar a possibilidade e o
mérito de se analisarem determinados sistemas jurídicos nacionais.
(d) Estabelecimento, em regime de cooperação, de uma rede de treinamento em direito do
Agenda 21 - Global 83

desenvolvimento sustentável
8.20. As instituições acadêmicas e internacionais competentes podem, dentro de limites
estabelecidos, cooperar para oferecer, especialmente para estagiários de países em
desenvolvimento, programas de pós-graduação e treinamento no emprego em direito do meio
ambiente e desenvolvimento. O treinamento incluiria ao mesmo tempo a aplicação concreta e o
aperfeiçoamento gradual das leis vigentes; as técnicas conexas de negociação, redação e
mediação; e o treinamento de instrutores. As organizações não-governamentais e
intergovernamentais já ativas nessa área podem cooperar com programas universitários correlatos
para harmonizar o planejamento dos currículos e oferecer um excelente leque de opções aos
Governos interessados e aos patrocinadores em potencial.
(e) Elaboração de programas nacionais eficazes para a análise e a observância de leis
nacionais, estaduais, provinciais e locais que incidam sobre meio ambiente e desenvolvimento
8.21. Cada país deve desenvolver estratégias integradas para maximizar a observância de
suas leis e regulamentações relativas a desenvolvimento sustentável, com o apoio das
organizações internacionais e de outros países, conforme apropriado. As estratégias podem
incluir:
(a) Leis, regulamentos e normas aplicáveis e eficazes, que se apóiem em
princípios econômicos, sociais e ambientais saudáveis e em uma avaliação adequada dos riscos,
incorporando as sanções destinadas a punir violações, obter compensação e impedir violações
futuras;
(b) Mecanismos que promovam a observância;
(c) Capacidade institucional para coletar dados sobre a observância, examinar
regularmente a observância, detectar violações, estabelecer as prioridades das medidas
coercitivas, aplicar eficazmente essas medidas e realizar análises periódicas da eficácia dos
programas de observância e coerção;
(d) Mecanismos para a participação adequada de indivíduos e grupos na
formulação e aplicação de leis e regulamentos relativos a meio ambiente e desenvolvimento;
(f) Monitoramento nacional das atividades jurídicas que complementam os
instrumentos internacionais
8.22. As partes contratantes de acordos internacionais, em consulta com os Secretariados
apropriados das convenções internacionais pertinentes, devem melhorar as práticas e
procedimentos para a coleta de informações sobre as medidas jurídicas e regulamentadoras
adotadas. As partes contratantes de acordos internacionais devem realizar pesquisas piloto sobre
as medidas complementares internas sujeitas a concordância por parte dos Estados soberanos
envolvidos.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


8.23. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $6 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
8.24. O programa se apóia basicamente em uma continuação do trabalho atualmente em
Agenda 21 - Global 84

curso, de coleta, tradução e análise de dados jurídicos. Pode-se esperar que uma cooperação mais
estreita entre as bancos de dados hoje existentes conduza a uma melhor divisão do trabalho (por
exemplo a cobertura por área geográfica dos dados dos boletins do legislativo e outras fontes de
referência) e ao aperfeiçoamento da padronização e da compatibilidade dos dados, conforme
apropriado.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
8.25. Espera-se que a participação no programa de treinamento beneficie os profissionais
dos países em desenvolvimento e aumente as oportunidades de treinamento para as mulheres.
Sabe-se que há grande demanda por esse tipo de treinamento de pós-graduação e no emprego. Os
seminários, cursos práticos e conferências sobre análise e medidas de aplicação realizados até a
presente data foram muito bem-sucedidos e tiveram alta procura. O objetivo desses esforços é
desenvolver recursos (tanto humanos como institucionais) para projetar e implementar programas
eficazes para análise e aplicação constante de leis, regulamentos e normas nacionais e locais que
incidam sobre desenvolvimento sustentável.
Fortalecimento da capacidade jurídica e institucional
8.26. Uma parte importante do programa deve ser orientada para o aperfeiçoamento das
capacidades jurídico-institucionais dos países, para fazer frente aos problemas nacionais de
governança e promulgação e aplicação de leis nas áreas do meio ambiente e do desenvolvimento
sustentável. Poder-se-iam designar e apoiar centros regionais de excelência que permitissem o
estabelecimento de bancos de dados especializadas e serviços de treinamento para diversos
grupos lingüístico/culturais de distintos sistemas jurídicos.

C. Utilização eficaz de instrumentos econômicos e incentivos de mercado e de outros tipos

Base para a ação

8.27. As leis e regulamentações ambientais são importantes mas não podem por si sós
pretender resolver todos os problemas relativos a meio ambiente e desenvolvimento. Preços,
mercados e políticas fiscais e econômicas governamentais também desempenham um papel
complementar na determinação de atitudes e comportamentos em relação ao meio ambiente.
8.28. Durante os últimos anos, muitos Governos, sobretudo nos países industrializados
mas também nas Europas Central e do Leste e nos países em desenvolvimento, vêm fazendo um
uso cada vez mais intenso de abordagens econômicas, inclusive as voltadas para o mercado.
Entre os exemplos está o princípio do "poluiu-pagou" e o conceito mais recente, do "utilizou
recursos naturais-pagou".
8.29. Dentro de um contexto econômico de apoio internacional e nacional e considerando-
se a necessária estrutura jurídica e regulamentadora, as abordagens econômicas e voltadas para o
mercado podem, em muitos casos, aumentar a capacidade de lidar com as questões do meio
ambiente e do desenvolvimento. Isso se realizaria por meio da adoção de soluções eficazes no
que diz respeito à relação custo-benefício, aplicando-se medidas integradas de prevenção e
controle da poluição, promovendo a inovação tecnológica e exercendo influência sobre o
comportamento do público em relação ao meio ambiente, bem como oferecendo recursos
financeiros para atingir os objetivos do desenvolvimento sustentável.
8.30. O que se necessita é um esforço adequado para explorar e tornar mais eficaz e
disseminado o uso das abordagens econômicas e orientadas para o mercado, dentro de uma
estrutura ampla de políticas, leis e regulamentações voltadas para o desenvolvimento e adaptadas
às condições específicas dos países, como parte de uma transição generalizada para políticas
Agenda 21 - Global 85

econômicas e ambientais que se apóiem e reforcem reciprocamente.

Objetivos

8.31. Reconhecendo que os países irão desenvolver suas próprias prioridades, em


conformidade com suas necessidades e planos, políticas e programas nacionais, o desafio é
realizar um progresso significativo nos anos vindouros para atingir três objetivos fundamentais:
(a) Incorporar os custos ambientais às decisões de produtores e consumidores e
com isso inverter a tendência a tratar o meio ambiente como um "bem gratuito", repassando esses
custos a outros setores da sociedade, outros países, ou às gerações futuras;
(b) Avançar mais para a integração dos custos sociais e ambientais às atividades
econômicas, de modo que os preços reflitam adequadamente a relativa escassez e o valor total
dos recursos e contribuam para evitar a degradação ambiental;
(c) Incluir, quando apropriado, o uso de princípios do mercado à configuração de
políticas e instrumentos econômicos que busquem o desenvolvimento sustentável.

Atividades

(a) Melhoramento ou reorientação das políticas governamentais


8.32. Os Governos devem considerar, a curto prazo, o acúmulo gradual de experiência
com instrumentos econômicos e mecanismos de mercado tratando de reorientar suas políticas,
levando em conta planos, prioridades e objetivos nacionais, a fim de:
(a) Estabelecer combinações eficazes de abordagens econômicas,
regulamentadoras e voluntárias (auto-reguladoras);
(b) Eliminar ou reduzir os subsídios que não se coadunem aos objetivos do
desenvolvimento sustentável;
(c) Reformar ou reformular as atuais estruturas de incentivos econômicos e fiscais
para atingir os objetivos do meio ambiente e do desenvolvimento;
(d) Estabelecer uma estrutura política que estimule a criação de novos mercados
na luta contra a poluição e no manejo ambientalmente mais saudável dos recursos;
(e) Avançar para uma política de preços coerente com os objetivos do
desenvolvimento sustentável.
8.33. Em especial, os Governos devem explorar, em cooperação com o comércio e a
indústria, conforme apropriado, a possibilidade de fazer um uso eficaz dos instrumentos
econômicos e dos mecanismos de mercado nas seguintes áreas:
(a) Questões relacionadas a energia, transportes, agricultura e silvicultura, água,
resíduos, saúde, turismo e serviços terciários;
(b) Questões de caráter mundial e transfronteiriço;
(c) O desenvolvimento e a introdução de uma tecnologia ambientalmente saudável
e sua adaptação, difusão e transferência para os países em desenvolvimento, em conformidade
com o capítulo 34 ("Transferência de tecnologia ambientalmente saudável, cooperação e
capacitação").
(b) Consideração das circunstâncias específicas dos países em desenvolvimento e dos
países com economias em transição
8.34. Um esforço especial deve ser feito para desenvolver aplicações do uso dos
instrumentos econômicos e dos mecanismos de mercado voltadas para as necessidades
específicas dos países em desenvolvimento e dos países com economias em transição, com a
Agenda 21 - Global 86

assistência de organizações ambientais e econômicas regionais e internacionais e, conforme


apropriado, institutos de pesquisa não governamentais, das seguintes maneiras:
(a) Oferecendo apoio técnico a esses países sobre questões relativas à aplicação de
instrumentos econômicos e mecanismos de mercado;
(b) Estimulando a realização de seminários regionais e, possivelmente, o
desenvolvimento de centros regionais especializados.
(c) Criação de um inventário das utilizações eficazes dos instrumentos econômicos
e dos mecanismos de mercado
8.35. Visto que o reconhecimento de que o uso de instrumentos econômicos e
mecanismos de mercado é relativamente recente, deve-se estimular ativamente o intercâmbio de
informações sobre as experiências dos diferentes países com tais abordagens. Nesse sentido, os
Governos devem estimular o uso dos meios disponíveis de intercâmbio de informações para
estudar os usos eficazes dos instrumentos econômicos.
(d) Aumento da compreensão do papel dos instrumentos econômicos e dos mecanismos
de mercado
8.36. Os Governos devem estimular a pesquisa e a análise dos usos eficazes dos
instrumentos e incentivos econômicos, com o auxílio e o apoio de organizações econômicas e
ambientais regionais e internacionais, bem como de institutos de pesquisa não-governamentais,
centrando-se em questões chave como:
(a) O papel dos impostos ambientais adaptados às situações nacionais;
(b) As implicações dos instrumentos e incentivos econômicos para a
competitividade e o comércio internacional, e as necessidades potenciais futuras de cooperação e
coordenação internacional;
(c) As possíveis conseqüências sociais e distributivas da utilização dos diversos
instrumentos.
(e) Estabelecimento de um mecanismo de análise para a fixação de preços
8.37. As vantagens teóricas da adoção de uma política de fixação de preços, quando
apropriado, precisam ser melhor entendidas e complementadas por uma maior compreensão do
sentido de se tomarem medidas concretas nessa direção. Em decorrência deve-se começar a
estudar, em cooperação com o comércio, a indústria, grandes empresas e corporações
transnacionais, bem como com outros grupos sociais, conforme apropriado, tanto no plano
nacional como no plano internacional:
(a) As implicações práticas de rumar para uma política de fixação de preços que
incorpore os custos ambientais pertinentes, com o objetivo de contribuir para a concretização dos
objetivos do desenvolvimento sustentável;
(b) As implicações para a fixação de preços de matérias-primas nos casos dos
países exportadores de matéria-prima, inclusive as implicações de tal política de fixação de
preços para os países em desenvolvimento;
(c) As metodologias utilizadas para a avaliação dos custos ambientais.
(f) Melhoramento da compreensão da economia do desenvolvimento sustentável
8.38. O maior interesse pelos instrumentos econômicos, inclusive os mecanismos de
mercado, também exige um esforço concertado para uma melhor compreensão da economia do
desenvolvimento sustentável, por meio de medidas como as que se seguem:
(a) Estímulo às instituições de ensino superior para que examinem seus currículos
e fortaleçam os estudos na área da economia do desenvolvimento sustentável;
(b) Estímulo às organizações econômicas regionais e internacionais e aos
institutos de pesquisa não-governamentais especializados nessa área para que ofereçam cursos de
Agenda 21 - Global 87

formação e seminários para funcionários públicos;


(c) Estímulo ao comércio e à indústria, inclusive grandes empresas industriais e
corporações transnacionais com experiência em questões ambientais, a que organizem programas
de treinamento para o setor privado e outros grupos.

Meios de implementação

8.39. Este programa envolve ajustes ou reorientação das políticas por parte dos Governos.
Também envolve as organizações e agências econômicas e ambientais internacionais e regionais
com experiência na área, inclusive as corporações transnacionais.
(a) FINANCIAMENTO E ESTIMATIVA DE CUSTOS
8.40. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $5 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.

D. Estabelecimento de sistemas de contabilidade ambiental e econômica integrada

Base para a ação

8.41. Um primeiro passo rumo à integração da sustentabilidade ao manejo econômico é


determinar mais exatamente o papel fundamental do meio ambiente enquanto fonte de capital
natural e enquanto escoadouro dos subprodutos gerados durante a produção de capital pelo
homem e por outras atividades humanas. Visto que o desenvolvimento sustentável tem
dimensões sociais, econômicas e ambientais, também é importante que os procedimentos
nacionais de contabilidade não se restrinjam à quantificação da produção dos bens e serviços
remunerados convencionalmente. É preciso desenvolver uma estrutura comum que permita que
as contribuições de todos os setores e atividades da sociedade não incluídas nas contas nacionais
convencionais sejam incluídas em contas satélites, dentro de uma óptica de validez teórica e
viabilidade. Propõe-se a adoção, em todos os países, de um programa para o desenvolvimento de
sistemas nacionais de contabilidade ambiental e econômica integrada.

Objetivos

8.42. O principal objetivo é ampliar os sistemas de contabilidade econômica nacional


atualmente utilizados para que passem a compreender as dimensões ambiental e social, incluindo
pelo menos sistemas satélites de contabilidade para os recursos naturais em todos os Estados
membros. Os sistemas de contabilidade ambiental e econômica integrada resultantes, a serem
estabelecidos em todos os Estados membros o quanto antes possível, devem ser vistos, no futuro
próximo, como complemento das práticas tradicionais de contabilidade nacional, e não como
substituto para elas. Os sistemas de contabilidade ambiental e econômica integrada fariam parte
integrante do processo nacional de tomada de decisões para o desenvolvimento. As agências
nacionais de contabilidade deverão trabalhar em estreita colaboração com os departamentos
nacionais de estatística ambiental e também com os departamentos de geografia e recursos
naturais. A definição de "economicamente ativo" pode ser ampliada, passando a incluir pessoas
Agenda 21 - Global 88

dedicadas a tarefas produtivas mas não remuneradas, em todos os países. Isso possibilitaria que
sua contribuição fosse adequadamente medida e levada em consideração na tomada de decisões.

Atividades

(a) Fortalecimento da cooperação internacional


8.43. O Serviço de Estatística do Secretariado das Nações Unidas deve:
(a) Pôr à disposição de todos os Estados membros as metodologias contidas no
Manual de contabilidade ambiental e econômica integrada do Sistema de Contas Nacionais;
(b) Em colaboração com outras organizações pertinentes das Nações Unidas,
continuar desenvolvendo, testando e aperfeiçoando, para depois padronizar, os conceitos e
métodos adotados provisoriamente, tal como os sugeridos pelo Manual do Sistema de Contas
Nacionais, mantendo os Estados membros informados, ao longo do processo, acerca do ponto em
que se encontra o trabalho;
(c) Coordenar, em estreita cooperação com outras organizações internacionais, o
treinamento, em pequenos grupos, de contadores nacionais, estatísticos ambientais e pessoal
técnico nacional, para a criação, adaptação e desenvolvimento de sistemas de contabilidade
ambiental e econômica integrada.
8.44. O Departamento de Desenvolvimento Econômico e Social do Secretariado das
Nações Unidas, em colaboração estreita com outras organizações pertinentes das Nações Unidas,
deve:
(a) Apoiar, em todos os Estados membros, a utilização de indicadores de
desenvolvimento sustentável nas atividades nacionais de planejamento econômico e social e em
seus processos de tomada de decisão, com vistas a garantir uma integração eficaz dos sistemas de
contabilidade ambiental e econômica integrada ao planejamento do desenvolvimento econômico
no plano nacional;
(b) Promover o aperfeiçoamento do sistema de coleta de dados relativos a meio
ambiente, sociedade e economia.
(c) Fortalecimento dos sistemas de contabilidade nacional
8.45. No plano nacional, o programa poderia ser adotado principalmente pelas agências
que se ocupam das contas nacionais, em estreita cooperação com os departamentos encarregados
das estatísticas ambientais e dos recursos naturais, com vistas a assessorar os analistas
econômicos nacionais e os responsáveis pela tomada de decisões encarregados do planejamento
econômico nacional. As instituições nacionais devem desempenhar um papel fundamental, não
apenas na qualidade de depositárias do sistema, mas também em sua adaptação, estabelecimento
e uso continuado. O trabalho produtivo não remunerado, como o trabalho doméstico e o
atendimento das crianças, devem ser incluídos, quando apropriado, em contas satélites nacionais
e estatísticas econômicas. Um primeiro passo no processo de desenvolvimento dessas contas
satélites poderia ser a realização de análises sobre a utilização do tempo.
(d) Estabelecimento de um processo de avaliação
8.46. No plano internacional, a Comissão de Estatística deve reunir e examinar a
experiência adquirida e orientar os Estados membros quanto a questões técnicas e metodológicas
relacionadas a um melhor desenvolvimento e à implementação de Sistemas de Contabilidade
Ambiental e Econômica Integrada nos Estados membros.
8.47. Os Governos devem procurar identificar e considerar medidas corretivas das
distorções de preços decorrentes de programas ambientais que digam respeito a terra, água,
energia e outros recursos naturais.
Agenda 21 - Global 89

8.48. Os Governos devem estimular as empresas que:


(a) Ofereçam informações ambientais pertinentes por meio de relatórios claros a
acionistas, credores, empregados, autoridades governamentais, consumidores e o público em
geral;
(b) Desenvolvam e implementem métodos e normas para a contabilidade do
desenvolvimento sustentável.
(d) Fortalecimento da coleta de dados e informações
8.49. Os Governos nacionais devem considerar a possibilidade de introduzir as melhorias
necessárias nos procedimentos de coleta de dados para o estabelecimento de Sistemas Nacionais
de Contabilidade Ambiental e Econômica Integrada, com vistas a contribuir pragmaticamente
para um manejo econômico saudável. Devem ser envidados esforços significativos para aumentar
a capacidade de coleta e análise de dados e informações relativos ao meio ambiente, e de
integração desses dados e informações aos dados econômicos, inclusive dados desagregados
sobre gênero. Também devem ser envidados esforços para desenvolver contas sobre o meio
ambiente físico. As agências internacionais doadoras devem considerar a possibilidade de
financiar o desenvolvimento de bancos de dados intersetoriais que contribuam para que o
planejamento nacional do desenvolvimento sustentável parta de informações precisas, confiáveis
e eficazes, correspondendo à situação nacional.
(e) Fortalecimento da cooperação técnica
8.50. O Serviço de Estatística do Secretariado das Nações Unidas, em estreita colaboração
com as organizações pertinentes das Nações Unidas, deve fortalecer os atuais mecanismos de
cooperação técnica entre os países. Isso também deveria incluir o intercâmbio de experiência
sobre o estabelecimento de Sistemas de Contabilidade Ambiental e Econômica Integrada,
especialmente no que diz respeito à avaliação de recursos naturais não comercializados e à
padronização dos procedimentos de coleta de dados. A cooperação entre as empresas comerciais
e industriais também deve ser buscada, inclusive das grandes empresas industriais e corporações
transnacionais com experiência em avaliação de tais recursos.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


8.51. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $2 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Fortalecimento das instituições
8.52. Para garantir a aplicação dos Sistemas de Contabilidade Ambiental e Econômica
Integrada:
(a) As instituições nacionais dos países em desenvolvimento devem ser
fortalecidas, para que se obtenha uma efetiva integração entre meio ambiente e desenvolvimento
no nível do planejamento e da tomada de decisões;
(b) O Serviço de Estatística deve proporcionar o necessário apoio técnico aos
Estados membros, mantendo contato estreito com o processo de avaliação a ser desencadeado
pela Comissão de Estatística; o Serviço de Estatística deve oferecer apoio técnico adequado para
a criação de Sistemas de Contabilidade Ambiental e Econômica Integrada, em colaboração comas
Agenda 21 - Global 90

agências pertinentes das Nações Unidas.


(c) Aumento da utilização das tecnologias da informação
8.53. Poder-se-iam desenvolver e acordar diretrizes e mecanismos para a adaptação e
difusão das tecnologias da informação para os países em desenvolvimento. As tecnologias mais
avançadas de manejo de dados devem ser adotadas, para que a utilização dos Sistemas de
Contabilidade Ambiental e Econômica Integrada se difunda melhor e se torne mais eficiente.
(d) Fortalecimento da capacidade nacional
8.54. Os Governos, com o apoio da comunidade internacional, devem fortalecer sua
capacidade institucional nacional de coletar, armazenar, organizar, avaliar e utilizar dados na
tomada de decisões. Será necessário treinar o pessoal de todas as áreas relacionadas ao
estabelecimento dos Sistemas de Contabilidade Ambiental e Econômica Integrada, em todos os
níveis, especialmente nos países em desenvolvimento. Tal treinamento deve incluir o treinamento
técnico das pessoas envolvidas com a análise econômica e ambiental, a coleta de dados e a
contabilidade nacional, bem como o treinamento dos responsáveis pela tomada de decisões, para
que estes utilizem tais informações de forma pragmática e adequada.
Agenda 21 - Global 91

SEÇÃO II - CONSERVAÇÃO E GESTÃO DOS RECURSOS PARA O


DESENVOLVIMENTO

Capítulo 9

PROTEÇÃO DA ATMOSFERA

Introdução

9.1. A proteção da atmosfera é um empreendimento amplo e multidimensional, que


envolve vários setores da atividade econômica. Recomenda-se aos Governos e a outros
organismos que se esforçam para proteger a atmosfera que considerem a possibilidade de adotar,
quando apropriado, as opções e medidas descritas neste capítulo.
9.2. Reconhece-se que muitas das questões discutidas neste capítulo também são objeto
de acordos internacionais como a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, de
1985; o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio, de 1987,
em sua forma emendada; a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, de 1992; e outros
instrumentos internacionais, inclusive regionais. No caso das atividades cobertas por tais acordos,
fica entendido que as recomendações contidas neste capítulo não obrigam qualquer Governo a
tomar medidas que superem o disposto naqueles instrumentos legais. Não obstante, no que diz
respeito a este capítulo, os Governos estão livres para aplicar medidas adicionais compatíveis
com aqueles instrumentos legais.
9.3. Também se reconhece que as atividades que possam ser empreendidas em prol dos
objetivos deste capítulo devem ser coordenadas com o desenvolvimento social e econômico de
forma integrada, com vistas a evitar impactos adversos sobre este último, levando plenamente em
conta as legítimas necessidades prioritárias dos países em desenvolvimento para a promoção do
crescimento econômico sustentado e a erradicação da pobreza.
9.4. Nesse contexto, também é necessário fazer referência especial à Área de Programas
A do Capítulo 2 da Agenda 21 ("Promoção do desenvolvimento sustentável por meio do
comércio").
9.5. O presente capítulo inclui as seguintes quatro áreas de programas:
(a) Consideração das incertezas: aperfeiçoamento da base científica para a tomada
de decisões;
(b) Promoção do desenvolvimento sustentável:
(i) Desenvolvimento, eficiência e consumo da energia;
(ii) Transportes;
(iii) Desenvolvimento industrial;
(iv) Desenvolvimento dos recursos terrestres e marinhos e uso da terra;
(c) Prevenção da destruição do ozônio estratosférico;
(d) Poluição atmosférica transfronteiriça.

Áreas de programas

A. Consideração das incertezas: aperfeiçoamento da base científica para a tomada de


decisões
Agenda 21 - Global 92

Base para a ação

9.6. A preocupação com as mudanças do clima e a variabilidade climática, a poluição do


ar e a destruição do ozônio criou novas demandas de informação científica, econômica e social,
para reduzir as incertezas remanescentes nessas áreas. É necessário melhor compreensão e
capacidade de previsão das diversas propriedades da atmosfera e dos ecossistemas afetados, bem
como de suas conseqüências para a saúde e suas interações com os fatores sócio-econômicos.

Objetivos

9.7. O objetivo básico desta área de programas é melhorar a compreensão dos processos
que afetam a atmosfera da Terra em escala mundial, regional e local e são afetados por ela,
incluindo-se, inter alia, os processos físicos, químicos, geológicos, biológicos, oceânicos,
hidrológicos, econômicos e sociais; aumentar a capacidade e intensificar a cooperação
internacional; e melhorar a compreensão das conseqüências econômicas e sociais das mudanças
atmosféricas e das medidas de mitigação e resposta adotadas com relação a essas mudanças.

Atividades

9.8. Os Governos, no nível apropriado, com a cooperação dos organismos competentes


das Nações Unidas e das organizações intergovernamentais e não-governamentais, conforme
apropriado, juntamente com o setor privado, devem;
(a) Promover pesquisas relacionadas aos processos naturais que afetam a
atmosfera e são afetados por ela, bem como aos elos básicos entre desenvolvimento sustentável e
mudanças atmosféricas, inclusive suas conseqüências para a saúde humana, ecossistemas, setores
econômicos e sociedade.
(b) Assegurar uma cobertura geográfica mais equilibrada do Sistema Mundial de
Observação do Clima e de seus componentes, inclusive da Vigilância da Atmosfera Global,
facilitando, inter alia, o estabelecimento e funcionamento de estações adicionais de observação
sistemática e contribuindo para o desenvolvimento, utilização e acessibilidade desses bancos de
dados;
(c) Promover a cooperação nas seguintes iniciativas:
(i) Desenvolvimento de sistemas de pronta detecção de mudanças e
flutuações na atmosfera;
(ii) Estabelecimento e melhoria de capacidades de prever tais mudanças e
flutuações e de avaliar os impactos ambientais e sócio-econômicos decorrentes;
(d) Cooperar na pesquisa voltada para o desenvolvimento de metodologias e
identificar níveis fronteiriços de poluentes atmosféricos, bem como níveis atmosféricos de
concentração de gases de efeito estufa, que provocariam perigosas interferências antrópicas no
sistema climático e no meio ambiente como um todo, bem como os ritmos de mudanças que não
permitiram aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente;
(e) Promover, e cooperar para a formação da capacitação científica, o intercâmbio
de dados e informações científicos, e a facilitação da participação e treinamento de especialistas e
pessoal técnico, especialmente nos países em desenvolvimento, nas áreas de pesquisa,
compilação, coleta e análise de dados, e na observação sistemática relacionada à atmosfera.

B. Promoção do desenvolvimento sustentável


Agenda 21 - Global 93

1. Desenvolvimento, eficiência e consumo da energia

Base para a ação

9.9. A energia é essencial para o desenvolvimento social e econômico e para uma melhor
qualidade de vida. Boa parte da energia mundial, porém, é hoje produzida e consumida de
maneiras que não poderiam ser sustentadas caso a tecnologia permanecesse constante e as
quantidades globais aumentassem substancialmente. A necessidade de controlar as emissões
atmosféricas de gases que provocam o efeito estufa e de outros gases e substâncias deverá basear-
se cada vez mais na eficiência, produção, transmissão, distribuição e consumo da energia, e em
uma dependência cada vez maior de sistemas energéticos ambientalmente saudáveis, sobretudo
de fontes de energia novas e renováveis(1). Todas as fontes de energia deverão ser usadas de
maneira a respeitar a atmosfera, a saúde humana e o meio ambiente como um todo.
9.10. É preciso eliminar os atuais obstáculos ao aumento do fornecimento de energia
ambientalmente saudável, necessário para percorrer o caminho que leva ao desenvolvimento
sustentável, especialmente nos países em desenvolvimento.

Objetivos

9.11. O objetivo básico e último desta área de programas é reduzir os efeitos adversos do
setor da energia sobre a atmosfera mediante a promoção de políticas ou programas, conforme
apropriado, para aumentar a contribuição dos sistemas energéticos ambientalmente seguros e
saudáveis e com uma relação eficaz de custo e efeito, particularmente os novos e renováveis, por
meio da produção, transmissão, distribuição e uso da energia menos poluente e mais eficiente.
Esse objetivo deve refletir a necessidade de eqüidade, de um abastecimento adequado de energia
e do aumento do consumo de energia por parte dos países em desenvolvimento, e a necessidade
de levar-se em consideração a situação dos países altamente dependentes da renda gerada pela
produção, processamento e exportação e/ou consumo de combustíveis fósseis e dos produtos a
eles relacionados, que utilizam energia de modo intensivo, e/ou o uso de combustíveis fósseis de
substituição muito difícil por fontes alternativas de energia, e a situação dos países altamente
vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças do clima.

Atividades

9.12. Os Governos, no nível apropriado, com a cooperação dos organismos pertinentes


das Nações Unidas e, conforme apropriado, de organizações intergovernamentais e não-
governamentais, bem como do setor privado, devem:
(a) Cooperar na identificação e desenvolvimento de fontes de energia viáveis e
ambientalmente saudáveis para promover a disponibilidade de maiores suprimentos de energia,
como apoio aos esforços em favor do desenvolvimento sustentável, em especial nos países em
desenvolvimento;
(b) Promover o desenvolvimento, no âmbito nacional, de metodologias adequadas
à adoção de decisões integradas de política energética, ambiental e econômica com vistas ao
desenvolvimento sustentável, inter alia, por meio de avaliações de impacto ambiental;
(c) Promover a pesquisa, desenvolvimento, transferência e uso de tecnologias e
práticas aprimoradas, de alto rendimento energético, inclusive de tecnologias endógenas em todos
Agenda 21 - Global 94

os setores pertinentes, com especial atenção à reabilitação e modernização dos sistemas


energéticos, com particular atenção para os países em desenvolvimento;
(d) Promover a pesquisa, desenvolvimento, transferência e uso de tecnologias e
práticas para sistemas energéticos ambientalmente saudáveis, inclusive sistemas energéticos
novos e renováveis, com particular atenção para os países em desenvolvimento.
(e) Promover o desenvolvimento de capacidades institucionais, científicas, de
planejamento e de gerenciamento, sobretudo nos países em desenvolvimento, para desenvolver,
produzir e utilizar formas de energia cada vez mais eficientes e menos poluentes;
(f) Analisar as diversas fontes atuais de abastecimento de energia para determinar
como aumentar, de forma economicamente eficiente, a contribuição conjunta dos sistemas
energéticos ambientalmente saudáveis, levando em conta as características únicas do ponto de
vista social, físico, econômico e político de cada país, e examinando e implementando, quando
apropriado, medidas para superar toda e qualquer barreira a seu desenvolvimento e uso;
(g) Coordenar regionalmente e sub-regionalmente, quando aplicável, os planos
energéticos, e estudar a viabilidade de se fazer uma distribuição eficiente de energia
ambientalmente saudável, oriunda de fontes de energia novas e renováveis;
(h) Em conformidade com as prioridades nacionais em matéria de
desenvolvimento sócio-econômico e meio ambiente, avaliar e, quando apropriado, promover
políticas ou programas eficazes no que diz respeito à relação custo/benefício, incluindo medidas
administrativas, sociais e econômicas, com vistas a melhorar o rendimento energético;
(i) Aumentar a capacidade de planejamento energético e gerenciamento de
programas sobre eficiência energética, bem como de desenvolvimento, introdução e promoção de
fontes de energia novas e renováveis;
(j) Promover normas ou recomendações apropriadas sobre eficiência energética e
padrões de emissão de âmbito nacional (2), orientadas para o desenvolvimento e uso de
tecnologias que minimizem os impactos adversos sobre o meio ambiente.
(k) Fomentar a execução, nos planos local, nacional, sub-regional e regional, de
programas de ensino e tomada de consciência sobre o uso eficiente da energia e sobre sistemas
energéticos ambientalmente saudáveis;
(l) Estabelecer ou aumentar, conforme apropriado, em cooperação com o setor
privado, programas de rotulagem de produtos com vistas a oferecer informações aos responsáveis
pela tomada de decisões e consumidores sobre as oportunidades de se fazer um uso eficiente da
energia.

2. Transportes

Base para a ação

9.13. O setor dos transportes tem papel essencial e positivo a desempenhar no


desenvolvimento econômico e social, e as necessidades de transporte sem dúvida irão aumentar.
No entanto, visto que o setor dos transportes também é fonte de emissões atmosféricas, é
necessário que se faça uma análise dos sistemas de transporte existentes atualmente e que se
obtenha projetos e gerenciamento mais eficazes dos sistemas de trânsito e transportes.

Objetivos

9.14. O objetivo básico desta área de programas é elaborar e promover políticas ou


Agenda 21 - Global 95

programas, conforme apropriado, eficazes no que diz respeito à relação custo/benefício, para
limitar, reduzir ou controlar, conforme apropriado, as emissões nocivas para a atmosfera e outros
efeitos ambientais adversos do setor dos transportes, levando em conta as prioridades do
desenvolvimento, bem como as circunstâncias específicas locais e nacionais e aspectos de
segurança.

Atividades

9.15. Os Governos, no nível apropriado, com a cooperação dos organismos competentes


das Nações Unidas e, conforme apropriado, das organizações intergovernamentais e não-
governamentais, bem como do setor privado, devem:
(a) Desenvolver e promover, conforme apropriado, sistemas de transporte
eficazes, no que diz respeito à relação custo/benefício, mais eficientes, menos poluentes e mais
seguros, especialmente sistemas de transporte coletivo integrado rural e urbano, bem como redes
viárias ambientalmente saudáveis, levando em conta as necessidades de estabelecer prioridades
sociais, econômicas e de desenvolvimento sustentáveis, especialmente nos países em
desenvolvimento;
(b) Facilitar, nos planos internacional, regional, sub-regional e nacional, o acesso a
tecnologias de transporte seguras, eficientes -- inclusive quanto ao uso de recursos -- e menos
poluentes, bem como a transferência dessas tecnologias, especialmente para os países em
desenvolvimento, juntamente com a implementação de programas adequados de treinamento;
(c) Fortalecer, conforme apropriado, seus esforços para coletar, analisar e
estabelecer intercâmbio de informações pertinentes sobre a relação entre meio ambiente e
transportes, com ênfase especial para a observação sistemática das emissões e o desenvolvimento
de um banco de dados sobre transportes;
(d) Em conformidade com as prioridades nacionais em matéria de
desenvolvimento sócio-econômico e meio ambiente, avaliar e, conforme apropriado, promover
políticas ou programas eficazes no que diz respeito à relação custo/benefício, que incluam
medidas administrativas, sociais e econômicas, com o objetivo de estimular o uso de meios de
transporte que minimizem os impactos adversos sobre a atmosfera;
(e) Desenvolver ou aperfeiçoar, conforme apropriado, mecanismos que integrem
as estratégias de planejamento da área dos transportes e as estratégias de planejamento dos
assentamentos urbanos e regionais, com vistas a reduzir os efeitos do transporte sobre o meio
ambiente;
(f) Estudar, no âmbito das Nações Unidas e de suas comissões econômicas
regionais, a viabilidade de convocar conferências regionais sobre transportes e meio ambiente.

3. Desenvolvimento industrial

Base para a ação

9.16. A indústria é essencial para a produção de bens e serviços e é fonte importante de


emprego e renda, e o desenvolvimento industrial enquanto tal é essencial para o crescimento
econômico. Ao mesmo tempo, a indústria é um dos principais usuários de recursos e matérias-
primas e, conseqüentemente, as atividades industriais resultam em emissões para a atmosfera e o
meio ambiente como um todo. A proteção da atmosfera pode ser fortalecida, inter alia, por meio
de um aumento da eficiência dos recursos e matérias-primas na indústria, com a instalação ou o
Agenda 21 - Global 96

aperfeiçoamento das tecnologias de redução da poluição e a substituição dos compostos


clorofluorcarbonados (CFCs) e outras substâncias que destroem o ozônio por substâncias
apropriadas, e ainda por meio da redução de resíduos e subprodutos.

Objetivos

9.17. O objetivo básico desta área de programas é estimular o desenvolvimento industrial


por meio de formas que minimizem os impactos adversos sobre a atmosfera, inter alia
aumentando a eficiência na produção e no consumo, pela indústria, de todos os recursos e
matérias-primas, aperfeiçoando as tecnologias de redução de poluição e desenvolvendo novas
tecnologias ambientalmente saudáveis.

Atividades

9.18. Os Governos, no nível apropriado, com a cooperação dos organismos pertinentes


das Nações Unidas e, conforme apropriado, das organizações intergovernamentais e não-
governamentais, bem como do setor privado, devem:
(a) Em conformidade com as prioridades nacionais em matéria de
desenvolvimento sócio-econômico e meio ambiente, avaliar e, conforme apropriado, promover
políticas ou programas eficazes no que diz respeito à relação custo/benefício, que incluam
medidas administrativas, sociais e econômicas, com o objetivo de minimizar a poluição industrial
e os impactos adversos sobre a atmosfera;
(b) Estimular a indústria para que aumente e fortaleça sua capacidade de
desenvolver tecnologias, produtos e processos que sejam seguros, menos poluentes e façam uso
mais eficaz de todos os recursos e matérias-primas, inclusive da energia;
(c) Cooperar no desenvolvimento e transferência dessas tecnologias industriais e
no desenvolvimento de capacidades para gerenciar e usar tais tecnologias, particularmente no que
diz respeito aos países em desenvolvimento;
(d) esenvolver, melhorar e aplicar métodos de avaliação de impacto ambiental
com o objetivo de fomentar o desenvolvimento industrial sustentável;
(e) Promover o uso eficaz de matérias-primas e recursos, levando em conta os
ciclos vitais dos produtos, para colher os benefícios econômicos e ambientais de usar recursos
com mais eficiência e com menos resíduos;
(f) Apoiar a promoção, nas indústrias, de tecnologias e processos menos poluentes
e mais eficientes, levando em conta a disponibilidade potencial de fontes de energia específicas
de cada área, especialmente as seguras e renováveis, com vistas a limitar a poluição industrial e
os impactos adversos sobre a atmosfera.

4. Desenvolvimento dos recursos terrestres e marinhos e uso da terra

Base para a ação

9.19. As políticas relativas ao uso da terra e aos recursos terão influência sobre as
mudanças na atmosfera e serão afetadas por elas. Certas práticas associadas aos recursos
terrestres e marinhos e ao uso da terra podem reduzir os sumidouros de gases de efeito estufa e
aumentar as emissões atmosféricas. A perda da diversidade biológica pode reduzir a resistência
dos ecossistemas às variações climáticas e aos danos decorrentes da poluição do ar. As mudanças
Agenda 21 - Global 97

atmosféricas podem ter conseqüências importantes sobre as florestas, a diversidade biológica e os


ecossistemas de água doce e marinhos, bem como sobre as atividades econômicas, como a
agricultura. É comum os objetivos das políticas diferirem para os diferentes setores; nesses casos,
será preciso tratá-los de forma integrada.

Objetivos

9.20. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Promover a utilização de recursos terrestres e marinhos e de práticas adequadas
de uso da terra que contribuam para:
(i) Reduzir a poluição atmosférica e/ou limitar as emissões antrópicas dos
gases que provocam o efeito estufa.
(ii) A conservação, o uso sustentável e a melhoria, quando apropriado, de
todos os sumidouros de gases de efeito estufa;
(iii) A conservação e o uso sustentável dos recursos naturais e ambientais;
(b) Garantir que as mudanças atmosféricas reais e potenciais e seus impactos
sócio-econômicos e ecológicos sejam completamente levados em conta no planejamento e
implementação de políticas e programas que digam respeito à utilização de recursos terrestres e
marinhos e a práticas de uso da terra.

Atividades

9.21. Os Governos, no nível apropriado, com a cooperação dos organismos pertinentes


das Nações Unidas e, conforme apropriado, das organizações intergovernamentais e não-
governamentais, bem como do setor privado, devem:
(a) Em conformidade com as prioridades nacionais em matéria de
desenvolvimento sócio-econômico e meio ambiente, avaliar e, conforme apropriado, promover
políticas ou programas eficazes no que diz respeito à relação custo/benefício, que incluam
medidas administrativas, sociais e econômicas, com o objetivo de estimular práticas de uso da
terra ambientalmente saudáveis;
(b) Implementar políticas e programas que desestimulem práticas poluidoras e
inadequadas de uso da terra e promovam a utilização sustentável dos recursos terrestres e
marinhos;
(c) Examinar a possibilidade de promover o desenvolvimento e o uso de recursos
terrestres e marinhos e práticas de uso da terra que sejam mais resistentes às mudanças e
flutuações do clima;
(d) Promover o manejo sustentável e a cooperação na conservação e no reforço,
conforme apropriado, de sumidouros e reservatórios de gases de efeito estufa, inclusive da
biomassa, das florestas e dos oceanos, bem como de outros ecossistemas terrestres, costeiros e
marinhos.

C. Prevenção da destruição do ozônio estratosférico

Base para a ação

9.22. A análise de dados científicos recentes confirmou os temores crescentes com


respeito à destruição continuada da camada estratosférica de ozônio da Terra devido ao cloro e ao
Agenda 21 - Global 98

bromo reativos procedentes dos compostos clorofluorcarbonados (CFCs), halogênios e outras


substâncias artificiais similares. Embora a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de
Ozônio, de 1985, e o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de
Ozônio, de 1987 (em sua forma emendada de Londres, 1990), tenham sido passos importantes
enquanto iniciativas internacionais, o conteúdo total de cloro das substâncias que destroem o
ozônio da atmosfera continua aumentando. Essa tendência pode ser alterada caso as medidas de
controle identificadas no Protocolo forem obedecidas.

Objetivos

9.23. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Realizar os objetivos definidos na Convenção de Viena e no Protocolo de
Montreal, com suas emendas de 1990, inclusive a consideração, nesses instrumentos, das
necessidades e situações especiais dos países em desenvolvimento e da disponibilidade, para
esses países, de alternativas a substâncias que destroem a camada de ozônio. Deve ser estimulada
a adoção de tecnologias e produtos naturais que reduzam a demanda por essas substâncias.
(b) Desenvolver estratégias voltadas para a mitigação dos efeitos adversos da
radiação ultravioleta que atinge a superfície da Terra em conseqüência da destruição e da
modificação da camada estratosférica de ozônio.

Atividades

9.24. Os Governos, no nível apropriado, com a cooperação dos organismos pertinentes


das Nações Unidas e, conforme apropriado, das organizações intergovernamentais e não-
governamentais, bem como do setor privado, devem:
(a) Ratificar, aceitar ou aprovar o Protocolo de Montreal e suas emendas de 1990;
pagar imediatamente suas contribuições aos fundos fiduciários de Viena e Montreal e ao Fundo
Multilateral Interino; e contribuir, conforme apropriado, para as atividades em curso regidas pelo
Protocolo de Montreal e seus mecanismos de implementação, inclusive oferecendo substitutos
para os CFCs e outras substâncias que destroem a camada de ozônio e facilitando a transferência
das tecnologias correspondentes para os países em desenvolvimento, capacitando-os, dessa
forma, a atender aos compromissos do Protocolo;
(b) Apoiar uma maior expansão do Sistema Mundial de Observação do Ozônio,
facilitando -- por meio de fundos bilaterais e multilaterais -- a criação e funcionamento de
estações adicionais de observação sistemática, especialmente no cinturão tropical do hemisfério
sul;
(c) Participar ativamente da avaliação constante das informações científicas e dos
efeitos para a saúde e o meio ambiente, bem como das implicações tecnológicas e econômicas, da
diminuição da camada estratosférica de ozônio; e considerar a ampliação das ações que se
mostrem justificadas e viáveis a partir dessas avaliações;
(d) A partir dos resultados da pesquisa sobre os efeitos da radiação ultravioleta
adicional incidindo sobre a superfície da Terra, considerar a adoção de medidas corretivas nas
áreas da saúde humana, da agricultura e do meio ambiente marinho;
(e) Substituir os CFCs e outras substâncias que destroem camada de ozônio, de
acordo com as disposições do Protocolo de Montreal, reconhecendo que a conveniência dessa
substituição deve ser avaliada holísticamente e não apenas com base em sua contribuição para a
solução de um único problema atmosférico ou ambiental.
Agenda 21 - Global 99

D. Poluição atmosférica transfronteiriça

Base para a ação

9.25. A poluição transfronteiriça do ar tem conseqüências adversas sobre a saúde humana


e outras conseqüências ambientais negativas, como a perda de árvores e florestas e a acidificação
das massas aquáticas. A distribuição geográfica das redes de monitoramento da poluição
atmosférica é desigual, com os países em desenvolvimento muito mal representados. A falta de
dados confiáveis sobre as emissões fora da Europa e da América do Norte dificulta
consideravelmente a medição da poluição transfronteiriça da atmosfera. Além disso, as
informações sobre os efeitos da poluição do ar sobre a saúde e o meio ambiente em outras regiões
também são insuficientes.
9.26. A Convenção da Comissão Econômica Européia sobre Poluição Atmosférica
Transfronteiriça de Longo Alcance, de 1979, juntamente com seus protocolos, estabeleceu um
regime regional para a Europa e a América do Norte baseado em um processo analítico e em
programas de cooperação para a observação sistemática e a avaliação da poluição atmosférica,
bem como no intercâmbio de informações a esse respeito. É preciso dar continuidade a esses
programas e reforçá-los, e a experiência adquirida por meio de sua implementação deve ser
compartilhada com outras regiões do mundo.

Objetivos

9.27. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Desenvolver e aplicar tecnologias de controle e medição da poluição
atmosférica produzida por fontes fixas e móveis e desenvolver tecnologias alternativas
ambientalmente saudáveis;
(b) Observar e avaliar sistematicamente as fontes e a extensão da poluição
atmosférica transfronteiriça decorrente de processos naturais e atividades antrópicas;
(c) Fortalecer a capacidade, particularmente dos países em desenvolvimento, de
medir, modelar e avaliar o destino e os impactos da poluição atmosférica transfronteiriça, por
meio, inter alia, do intercâmbio de informações e do treinamento de especialistas;
(d) Desenvolver a capacidade de avaliar e mitigar a poluição atmosférica
transfronteiriça decorrente de acidentes industriais e nucleares, desastres naturais e destruição
deliberada e/ou acidental de recursos naturais;
(e) Estimular a adoção de novos acordos regionais -- e a implementação dos já
existentes -- destinados a limitar a poluição atmosférica transfronteiriça;
(f) Desenvolver estratégias voltadas para a redução das emissões que provocam
poluição atmosférica transfronteiriça e de seus efeitos.

Atividades

9.28. Os Governos, no nível apropriado, com a cooperação dos organismos pertinentes


das Nações Unidas e, conforme apropriado, das organizações intergovernamentais e não-
governamentais, bem como do setor privado e das instituições financeiras, devem:
(a) Estabelecer e/ou fortalecer acordos regionais para o controle da poluição
atmosférica transfronteiriça e cooperar, particularmente com os países em desenvolvimento, nas
Agenda 21 - Global 100

áreas de observação e de avaliação sistemáticas, de elaboração de modelos, e de desenvolvimento


e intercâmbio de tecnologias de controle das emissões oriundas de fontes de poluição atmosférica
móveis ou fixas. Nesse contexto, maior ênfase deve ser atribuída ao exame da extensão, das
causas e das conseqüências sócio-econômicas e para a saúde da radiação ultravioleta, da
acidificação do meio ambiente e dos danos causados pelos foto-oxidantes para as florestas e a
vegetação em geral;
(b) Estabelecer ou fortalecer sistemas de pronto alerta e mecanismos de reação à
poluição atmosférica transfronteiriça decorrente de acidentes industriais e desastres naturais e da
destruição deliberada e/ou acidental dos recursos naturais;
(c) Facilitar as oportunidades de treinamento e o intercâmbio de dados,
informações e experiências nacionais e/ou regionais;
(d) Cooperar em bases regionais, multilaterais e bilaterais para avaliar a poluição
atmosférica transfronteiriça, e elaborar e implementar programas que identifiquem ações
específicas para reduzir as emissões atmosféricas e fazer frente a seus efeitos ambientais,
econômicos, sociais e outros.

Meios de implementação
Cooperação internacional e regional

9.29. Os instrumentos jurídicos em vigor criaram estruturas institucionais relacionadas


aos propósitos desses instrumentos e o trabalho pertinente deve basicamente prosseguir em tais
contextos. Os Governos devem dar prosseguimento a sua cooperação -- e reforçá-la -- nos níveis
regional e mundial, inclusive no âmbito do Sistema das Nações Unidas. Nesse contexto, cabe
mencionar as recomendações do capítulo 38 da Agenda 21 ("Arranjos institucionais
internacionais").
Capacitação
9.30. Os países, em cooperação com os organismos pertinentes das Nações Unidas, os
doadores internacionais e as organizações não-governamentais, devem mobilizar recursos
técnicos e financeiros e facilitar a cooperação técnica com os países em desenvolvimento para
reforçar suas capacidades técnicas, gerenciadoras, planejadoras e administrativas para promover
o desenvolvimento sustentável e a proteção da atmosfera em todos os setores pertinentes.

Desenvolvimento dos recursos humanos

9.31. É necessário introduzir e fortalecer programas de ensino e de tomada de


consciência, nos planos local, nacional e internacional, referentes à promoção do
desenvolvimento sustentável e à proteção da atmosfera, em todos os setores pertinentes.

Estimativa financeira e de custos

9.32. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1992-2000) da


implementação das atividades da Área de Programas A em cerca de $640 milhões de dólares, a
serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
9.33. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual (1993-2000) da
Agenda 21 - Global 101

implementação das atividades das quatro partes da Área de Programas B em cerca de $20 bilhões
de dólares, a serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de
doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos.
Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das
estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
9.34. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1992-2000) da
implementação das atividades da Área de Programas C em cerca de $160 a $590 milhões de
dólares, a serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações.
Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos
reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das
estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
9.35. O Secretariado da Conferência incluiu os custos da assistência técnica e dos
programas pilotos nos parágrafos 9.32 e 9.33 acima.

1. As fontes de energia novas e renováveis são as fontes de energia heliotérmica, solar


fotovoltaica, eólica, hídrica, de biomassa, geotérmica, marinha, animal e humana, como
especificam os relatórios do Comitê sobre o Desenvolvimento e Utilização de Fontes de Energia
Novas e Renováveis, preparado especialmente para a Conferência (ver A/CONF.151/PC/119 e
A/AC.218/1992/5).
2. Isso inclui as normas ou recomendações promovidas pelas organizações regionais de
integração econômica.
Agenda 21 - Global 102

Capítulo 10

ABORDAGEM INTEGRADA DO PLANEJAMENTO E DO GERENCIAMENTO DOS


RECURSOS TERRESTRES

Introdução

10.1. A terra costuma ser definida como uma entidade física, em termos de sua topografia
e sua natureza espacial; uma visão integradora mais ampla também inclui no conceito os recursos
naturais; os solos, os minérios, a água e a biota que compõem a terra. Esses componentes estão
organizados em ecossistemas que oferecem uma grande variedade de serviços essenciais para a
manutenção da integridade dos sistemas que sustentam a vida e a capacidade produtiva do meio
ambiente. As maneiras como são usados os recursos terrestres beneficiam-se de todas essas
características. A terra é um recurso finito, enquanto os recursos naturais que ela sustenta podem
variar com o tempo e de acordo com as condições de gerenciamento e os usos a eles atribuídos.
As crescentes necessidades humanas e a expansão das atividades econômicas estão exercendo
uma pressão cada vez maior sobre os recursos terrestres, criando competição e conflitos e tendo
como resultado um uso impróprio tanto da terra como dos recursos terrestres. Caso queiramos, no
futuro, atender às necessidades humanas de maneira sustentável, é essencial resolver hoje esses
conflitos e avançar para um uso mais eficaz e eficiente da terra e de seus recursos naturais. A
abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento físico e do uso da terra é uma maneira
eminentemente prática de fazê-lo. Examinando todos os usos da terra de forma integrada é
possível reduzir os conflitos ao mínimo, fazer as alternâncias mais eficientes e vincular o
desenvolvimento social e econômico à proteção e melhoria do meio ambiente, contribuindo assim
para atingir os objetivos do desenvolvimento sustentável. A essência dessa abordagem integrada
se expressa na coordenação de planejamento setorial e atividades de gerenciamento relacionadas
aos diversos aspectos do uso da terra e dos recursos terrestres.
10.2. O presente capítulo consiste em uma área de programas -- a abordagem integrada do
planejamento e do gerenciamento dos recursos terrestres, que trata da reorganização e, quando
necessário, de um certo fortalecimento da estrutura de tomada de decisões, inclusive das políticas
em vigor, dos procedimentos de planejamento e gerenciamento e dos métodos que possam
contribuir para a efetivação de uma abordagem integrada dos recursos terrestres. Não trata dos
aspectos operacionais do planejamento e do gerenciamento, que são examinados mais
adequadamente nos programas setoriais pertinentes. Visto que o programa trata de um importante
aspecto intersetorial da tomada de decisões orientada para o desenvolvimento sustentável, ele está
estreitamente relacionado a diversos outros programas que tratam diretamente da questão.

Área de programas

Abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento dos recursos terrestres

Base para a ação

10.3. Os recursos terrestres são usados para inúmeros fins, que interagem e podem
competir uns com os outros; em decorrência, é desejável planejar e gerenciar todos os usos de
forma integrada. A integração deve ter lugar em dois níveis, considerando-se, por um lado, todos
Agenda 21 - Global 103

os fatores ambientais, sociais e econômicos (como por exemplo o impacto dos diversos setores
econômicos e sociais sobre o meio ambiente e os recursos naturais) e, por outro, todos os
componentes ambientais e de recursos reunidos (ou seja, ar, água, biota, terra e recursos
geológicos e naturais). Essa visão integrada facilita as opções e alternâncias adequadas e desse
modo maximiza a produtividade e o uso sustentáveis. A oportunidade de alocar a terra a
diferentes usos surge no curso de projetos importantes de assentamento ou desenvolvimento ou
de forma seqüencial, à medida que a terra vai ficando disponível no mercado. Isso, por sua vez,
possibilita que se fortaleçam modelos tradicionais de gerenciamento sustentável da terra ou que
se determine sua proteção, para conservação da biodiversidade ou de serviços ecológicos
fundamentais.
10.4. Diversas técnicas, estruturas e processos podem ser combinados entre si para
facilitar uma abordagem integrada. Eles são o sustentáculo indispensável para o processo de
planejamento e gerenciamento, tanto no plano nacional como local, no âmbito local ou do
ecossistema, e para o desenvolvimento de planos de ação específicos. Muitos de seus elementos
já estão disponíveis, mas será necessário generalizar sua aplicação, desenvolvê-los e reforçá-los.
Esta área de programas preocupa-se fundamentalmente com a construção de uma estrutura que
coordene a tomada de decisões; em decorrência, seu conteúdo e suas funções operacionais não
estão incluídos aqui, sendo examinados nos programas setoriais pertinentes da Agenda 21.

Objetivos

10.5. O objetivo global é facilitar a alocação de terra aos usos que proporcionem os
maiores benefícios sustentáveis e promover a transição para um gerenciamento sustentável e
integrado dos recursos terrestres. Ao fazê-lo, as questões ambientais, sociais e econômicas devem
ser tomadas em consideração. As áreas protegidas, o direito à propriedade privadas, os direitos
dos populações indígenas e de suas comunidades e os direitos de outras comunidades locais, bem
como o papel econômico da mulher na agricultura e no desenvolvimento rural, inter alia, devem
ser levados em conta. Em termos mais específicos, os objetivos são os seguintes:
(a) Analisar e desenvolver políticas de apoio ao melhor uso possível da terra e do
gerenciamento sustentável dos recursos terrestres, no mais tardar até 1996;
(b) Melhorar e fortalecer os sistemas de planejamento, gerenciamento e avaliação
da terra e dos recursos terrestres, no mais tardar até o ano 2000;
(c) Fortalecer instituições e coordenar mecanismos para a terra e os recursos
terrestres, no mais tardar até 1998;
(d) Criar mecanismos para facilitar a intervenção e a participação ativa de todos os
interessados, especialmente comunidades e populações locais, na tomada de decisões sobre o uso
e gerenciamento da terra, no mais tardar até 1996.

Atividades

(a) Atividades de gerenciamento


Desenvolvimento de políticas de apoio e de instrumentos para essas políticas
10.6. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações regionais e
internacionais, devem certificar-se de que as políticas e seus instrumentos servem ao melhor uso
possível da terra e ao gerenciamento sustentável dos recursos terrestres. Especial atenção deve ser
dedicada ao papel das terras agrícolas. Para tanto, devem:
(a) Desenvolver um método integrado de determinação de objetivos e de
Agenda 21 - Global 104

formulação de políticas nos planos nacional, regional e local, levando em conta questões
ambientais, sociais, demográficas e econômicas;
(b) Desenvolver políticas que estimulem o uso sustentável da terra e o
gerenciamento sustentável dos recursos terrestres e levem em conta a base de recursos terrestres,
as questões demográficas e os interesses da população local;
(c) Analisar a estrutura regulamentadora, inclusive leis, regulamentos e medidas
de coerção, com o objetivo de identificar as melhorias necessárias para apoiar o uso sustentável
da terra e o gerenciamento sustentável dos recursos terrestres e limitar a transferência de terra
arável produtiva para outros usos;
(d) Aplicar instrumentos econômicos e desenvolver mecanismos e incentivos
institucionais para estimular o melhor uso possível da terra e o gerenciamento sustentável dos
recursos terrestres;
(e) Estimular o princípio da delegação da formulação de políticas ao nível mais
baixo de autoridade pública compatível com a adoção de medidas concretas e uma abordagem de
caráter local.

Reforço dos sistemas de planejamento e gerenciamento

10.7. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações regionais e


internacionais, devem analisar e, caso apropriado, revisar os sistemas de planejamento e
gerenciamento para facilitar uma abordagem integrada. Para tanto, devem:
(a) Adotar sistemas de planejamento e gerenciamento que facilitem a integração
de componentes ambientais tais como ar, água, terra e outros recursos naturais, utilizando o
planejamento ecológico da paisagem (LANDEP) ou outras abordagens centradas, por exemplo,
em um ecossistema ou uma bacia hídrica;
(b) Adotar estruturas estratégicas que permitam a integração tanto de metas de
desenvolvimento como de meio ambiente; entre os exemplos de estruturas desse tipo estão os
sistemas de subsistência sustentável, o desenvolvimento rural, a Estratégia Mundial para a
Conservação/Cuidado da Terra, o cuidado básico com a terra (PEC) e outros;
(c) Estabelecer uma estrutura geral para o planejamento do uso da terra e o
planejamento do meio físico no interior da qual seja possível desenvolver planos especializados e
planos setoriais mais detalhados (por exemplo para as áreas protegidas, a agricultura, as florestas,
os estabelecimentos humanos ou o desenvolvimento rural); estabelecer organismos consultivos
intersetoriais para agilizar o planejamento e a implementação dos projetos;
(d) Fortalecer os sistemas de gerenciamento da terra e dos recursos naturais por
meio da inclusão de métodos tradicionais e autóctones; entre os exemplos dessas práticas estão o
pastoreio, as reservas Hema (reservas territoriais islâmicas tradicionais) e a agricultura em
terraços;
(e) Examinar e, caso necessário, introduzir abordagens flexíveis e inovadoras para
o financiamento dos programas;
(f) Compilar inventários detalhados da capacidade da terra que sirvam de guia
para a alocação, o gerenciamento e o uso dos recursos sustentáveis da terra nos planos nacional e
local;

Promoção da aplicação de instrumentos adequados de planejamento e gerenciamento

10.8. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações nacionais e


Agenda 21 - Global 105

internacionais, devem promover a melhora, um desenvolvimento mais aprofundado e uma


aplicação ampla dos instrumentos de gerenciamento e planejamento que facilitam uma
abordagem integrada e sustentável da terra e dos recursos. Para tanto, devem:
(a) Adotar sistemas melhorados para a interpretação e a análise integrada de dados
sobre o uso da terra e os recursos terrestres;
(b) Aplicar sistematicamente técnicas e procedimentos que permitam avaliar os
impactos ambientais, sociais e econômicos, bem como os riscos, custos e benefícios das ações
específicas;
(c) Analisar e testar métodos de inclusão das funções da terra e dos ecossistemas e
dos valores dos recursos terrestres mas contas nacionais;

Tomada de consciência

10.9. Os Governos, no nível apropriado, em colaboração com as instituições nacionais e


os grupos de interesse e com o apoio das organizações regionais e internacionais, devem
desencadear campanhas de conscientização para alertar e educar as pessoas sobre a importância
do gerenciamento integrado da terra e dos recursos terrestres e o papel que indivíduos e grupos
sociais podem desempenhar nisso. Paralelamente, podem-se proporcionar às pessoas meios que
lhes permitam adotar práticas aperfeiçoadas de uso da terra e seu gerenciamento sustentável.

Promoção da participação do público

10.10. Os Governos, no nível apropriado, em colaboração com as organizações nacionais


e com o apoio das organizações regionais e internacionais, devem estabelecer procedimentos,
programas, projetos e serviços inovadores, que facilitem e estimulem a participação ativa, nos
processos de tomada de decisões e de implementação, de todas as pessoas afetadas,
especialmente de grupos que até hoje têm sido freqüentemente excluídos, como as mulheres, os
jovens, os populações indígenas e suas comunidades e outras comunidades locais.

(b) Dados e informação

Reforço dos sistemas de informação

10.11. Os Governos, no nível apropriado, em colaboração com as instituições nacionais e


o setor privado e com o apoio das organizações regionais e internacionais, devem fortalecer os
sistemas de informação necessários para a tomada de decisões e a avaliação de alterações futuras
no que diz respeito a uso e gerenciamento da terra. As necessidades tanto de homens como de
mulheres devem ser levadas em conta. Para tanto, devem:
(a) Fortalecer os sistemas de informação, observação sistemática e avaliação dos
dados ambientais, econômicos e sociais vinculados aos recursos terrestres nos planos mundial,
regional, nacional e local, bem como o potencial produtivo da terra e as modalidades de uso e
gerenciamento da terra;
(b) Fortalecer a coordenação entre os atuais sistemas setoriais de dados sobre a
terra e os recursos terrestres e reforçar a capacidade nacional de reunir e avaliar dados;
(c) De maneira acessível, oferecer a todos os setores da população, especialmente
as comunidades locais e as mulheres, informações técnicas adequadas, que possibilitem tomadas
de decisão bem fundamentadas sobre o uso e gerenciamento da terra.
Agenda 21 - Global 106

(d) Apoiar sistemas de baixo custo, geridos pela comunidade, para a coleta de
informações comparáveis sobre a situação e os processos de mudança dos recursos terrestres,
inclusive de solos, cobertura florestal, fauna e flora silvestres, clima e outros elementos.
(c) Coordenação e cooperação internacionais e regionais

Estabelecimento de um mecanismo regional

10.12. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações regionais e


internacionais, devem reforçar a cooperação e o intercâmbio de informações sobre recursos
terrestres no plano regional. Para tanto, devem:
(a) Estudar e projetar políticas regionais de apoio aos programas de planejamento
do uso da terra e do meio físico;
(b) Promover o desenvolvimento de planos sobre o uso da terra e o meio físico nos
países da região;
(c) Criar sistemas de informação e promover o treinamento;
(d) Realizar o intercâmbio, por meio de redes e outros meios apropriados, de
informações sobre experiências com o processo e os resultados do processo de planejamento e
gerenciamento integrado e participativo dos recursos terrestres, nos planos nacional e local.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


Fontes de fundos e de financiamento concessório
10.13. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $50 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.

(b) Meios científicos e tecnológicos

Melhoria da compreensão científica do sistema de recursos terrestres

10.14. Os Governos, no nível apropriado, em colaboração com a comunidade científica


nacional e internacional e com o apoio das organizações nacionais e internacionais condizentes,
devem promover e apoiar atividades de pesquisa especialmente adaptadas aos meios locais, sobre
o sistema de recursos terrestres e suas implicações para o desenvolvimento sustentável e as
práticas de gerenciamento. Devem receber tratamento prioritário, conforme apropriado:
(a) A avaliação da capacidade produtiva potencial da terra e das funções do
ecossistema;
(b) As interações ecossistêmicas e as interações entre os recursos terrestres e os
sistemas sociais, econômicos e ambientais;
(c) O desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade para os recursos
terrestres, levando em conta fatores ambientais, econômicos, sociais, demográficos, culturais e
políticos.
Agenda 21 - Global 107

Verificação dos resultados da pesquisa por meio de projetos experimentais

10.15. Os Governos, no nível apropriado, em colaboração com a comunidade científica


nacional e internacional e com o apoio das organizações internacionais competentes, devem
pesquisar e pôr à prova, por meio de projetos experimentais, a viabilidade de se realizarem
melhores abordagens de um planejamento e gerenciamento integrado dos recursos terrestres, com
a inclusão de fatores técnicos, sociais e institucionais.

(c) Desenvolvimento dos recursos humanos

Melhora do ensino e do treinamento

10.16. Os Governos, no nível apropriado, em colaboração com as autoridades locais,


organizações não-governamentais e instituições internacionais apropriadas, devem promover o
desenvolvimento dos recursos humanos necessários ao planejamento e gerenciamento
sustentáveis da terra e dos recursos terrestres. Isso deve ser realizado com o oferecimento de
incentivos para as iniciativas locais e o reforço da capacidade local de gerenciamento,
particularmente das mulheres, das seguintes maneiras:
(a) Enfatizando as abordagens interdisciplinares e integradoras nos currículos das
escolas e no treinamento técnico, profissional e universitário;
(b) Ensinando todos os setores pertinentes envolvidos a lidar com os recursos
terrestres de forma integrada e sustentável;
(c) Treinando as comunidades, os serviços de extensão pertinentes, os grupos
comunitários e as organizações não-governamentais nas técnicas e abordagens de gerenciamento
da terra aplicadas com sucesso em outros lugares.
(d) Fortalecimento institucional

Reforço da capacidade tecnológica

10.17. Os Governos, no nível apropriado, em cooperação com outros Governos e com o


apoio das organizações internacionais pertinentes, devem promover esforços concentrados e
concertados em prol da educação e do treinamento, bem como da transferência de técnicas e
tecnologias que favoreçam os diversos aspectos do processo de planejamento e gerenciamento
sustentável, nos planos nacional, estadual/provincial e local.

Fortalecimento das instituições

10.18. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais


apropriadas, devem:
(a) Analisar e, quando apropriado, revisar os mandatos das instituições que lidam
com a terra e os recursos naturais para que incluam explicitamente a integração interdisciplinar
de questões ambientais, sociais e econômicas;
(b) Fortalecer os mecanismos de coordenação existentes entre as instituições que
lidam com o uso da terra e o gerenciamento dos recursos para facilitar a integração das
preocupações e estratégias setoriais;
(c) Fortalecer a capacidade local de tomada de decisões e melhorar a coordenação
com os níveis superiores.
Agenda 21 - Global 108

Capítulo 11

COMBATE AO DESFLORESTAMENTO

Áreas de programas

A. Manutenção dos múltiplos papéis e funções de todos os tipos de florestas, terras florestais
e regiões de mata

Base para a ação

11.1. Há deficiências importantes nas políticas, métodos e mecanismos adotados para


apoiar e desenvolver os múltiplos papéis ecológicos, econômicos, sociais e culturais de árvores,
florestas e áreas florestais. Muitos países desenvolvidos vêem-se diante dos efeitos daninhos da
poluição atmosférica e dos incêndios sobre suas florestas. Freqüentemente, no plano nacional, são
exigidas muitas medidas e abordagens eficazes para melhorar e harmonizar a formulação de
políticas, o planejamento e a programação; medidas e instrumentos legislativos; modelos de
desenvolvimento; participação do público em geral e das mulheres e populações indígenas em
particular; participação dos jovens; papéis do setor privado, das organizações locais, das
organizações não-governamentais e das cooperativas; desenvolvimento de conhecimentos
técnicos e multidisciplinares e qualidade dos recursos humanos; extensão florestal e ensino
público; capacidade de pesquisa e apoio à pesquisa; estruturas e mecanismos administrativos,
inclusive coordenação intersetorial, descentralização, e sistemas de atribuição de
responsabilidades e de incentivos; e disseminação de informações e relações públicas. Isso é
especialmente importante para garantir uma abordagem racional e holística do desenvolvimento
sustentável e ambientalmente saudável das florestas. A necessidade de se salvaguardarem os
múltiplos papéis das florestas e das áreas florestais por meio de um fortalecimento institucional
adequado e apropriado foi realçada repetidamente em muitos dos relatórios, decisões e
recomendações da FAO, da Organização Internacional das Madeiras Tropicais, do PNUMA, do
Banco Mundial, da União Internacional para a Conservação da Natureza e outras organizações.

Objetivos

11.2. Os objetivos desta área de programas são os seguintes:


(a) Reforçar as instituições nacionais ligadas a florestas, ampliar o âmbito e a
eficácia das atividades relacionadas ao manejo, conservação e desenvolvimento sustentável das
florestas e garantir eficazmente a utilização e produção sustentáveis dos bens e serviços
florestais, tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. Até o ano 2000,
fortalecer a capacidade e o potencial das instituições nacionais, de modo a dar-lhes condições de
adquirir os necessários conhecimentos para a proteção e conservação das florestas, bem como
para expandir seu alcance e, condizentemente, aumentar a eficácia dos programas e atividades
relacionados ao manejo e desenvolvimento das florestas;
(b) Fortalecer e aumentar a aptidão humana, técnica e profissional, bem como os
conhecimentos especializados e a fortalecimento institucional, para formular e implementar com
eficácia políticas, planos, programas, pesquisas e projetos sobre manejo, conservação e
desenvolvimento sustentável de todos os tipos de florestas e de recursos derivados das florestas,
Agenda 21 - Global 109

inclusive das áreas florestais, bem como de outras áreas das quais se possam extrair benefícios
florestais.

Atividades

(a) Atividades relacionadas ao manejo


11.3. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações regionais,
subregionais e internacionais, devem, quando necessário, aumentar a capacidade institucional
para promover os múltiplos papéis e funções de todos os tipos de florestas e vegetações, inclusive
de outras terras a elas relacionadas e dos recursos derivados das florestas, para apoiar o
desenvolvimento sustentável e a conservação ambiental em todos os setores. Isso deve ser feito,
sempre que possível e necessário, por meio do fortalecimento e/ou modificação das atuais
estruturas e mecanismos e por meio do aumento da cooperação e da coordenação de suas
respectivas funções. Algumas das atividades importantes a esse respeito são as que se seguem:
(a) Racionalizar e fortalecer estruturas e mecanismos administrativos, inclusive
fornecendo pessoal em quantidade suficiente e atribuindo responsabilidades, descentralizando a
tomada de decisões, fornecendo instalações e equipamento de infra-estrutura, coordenação
intersetorial e um sistema eficaz de comunicações;
(b) Promover a participação do setor privado, sindicatos, cooperativas rurais,
comunidades locais, populações indígenas, jovens, mulheres, grupos de usuários e organizações
não-governamentais nas atividades ligadas à floresta, e o acesso à informação e aos programas de
treinamento dentro do contexto nacional;
(c) Analisar e, caso necessário, revisar as medidas e programas pertinentes a todos
os tipos de florestas e vegetações, inclusive de outras terras a elas relacionadas e dos recursos
derivados das florestas, e relacioná-los a outras políticas e legislações de uso e desenvolvimento
da terra; promover uma legislação adequada e outras medidas destinadas a impedir a utilização
não controlada da terra para outros fins;
(d) Desenvolver e implementar planos e programas que incluam a definição de
metas, programas e critérios nacionais e, caso necessário, regionais e subregionais, para sua
implementação e posterior aperfeiçoamento;
(e) Estabelecer, desenvolver e manter um sistema eficaz de extensão florestal e
educação do público para obter mais consciência e valorização e melhor manejo das florestas no
que diz respeito aos múltiplos papéis e valores de árvores, florestas e áreas florestais;
(f) Estabelecer e/ou fortalecer as instituições dedicadas ao ensino e ao treinamento
na área florestal, bem como as indústrias florestais, com o objetivo de desenvolver um quadro
adequado de pessoas treinadas e capacitadas nos planos profissional, técnico e profissional,
sobretudo jovens e mulheres;
(g) Estabelecer e fortalecer centros de pesquisa relacionados aos diferentes
aspectos das florestas e dos produtos florestais, por exemplo o manejo sustentável das florestas e
pesquisas sobre biodiversidade, efeitos dos poluentes transportados pelo ar, usos tradicionais dos
recursos da floresta pelas populações locais e os populações indígenas, e aumento das
compensações comerciais e de outros valores não monetários derivados do manejo das florestas.
(b) Dados e informações
11.4. Os Governos, no nível apropriado, com a assistência e a cooperação das agências
internacionais, regionais, subregionais e bilaterais, quando procedente, devem desenvolver
bancos de dados e a informação básica necessárias ao planejamento e à avaliação de programas.
Algumas das atividades mais específicas são:
Agenda 21 - Global 110

(a) Coleta, compilação, atualização periódica e distribuição da informação sobre


classificação e uso da terra, inclusive de dados sobre cobertura florestal, áreas adequadas para
florestamento, espécies em risco de extinção, valores ecológicos, valor do uso da terra
tradicional/pelos populações indígenas, biomassa e produtividade, bem como de informações que
estabeleçam a correlação entre as questões demográficas e sócio-econômicas e os recursos
florestais, tanto a nível microeconômico como macroeconômico, e análise periódica dos
programas florestais;
(b) Estabelecimento de vínculos com outros sistemas de dados e fontes pertinentes
para apoiar o manejo, conservação e desenvolvimento das florestas, e ao mesmo tempo
desenvolver mais ou reforçar os sistemas atualmente em funcionamento, como os sistemas de
informação geográfica, conforme apropriado;
(c) Criação de mecanismos que garantam o acesso do público a essas informações.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
11.5. Os Governos, no nível apropriado, e as instituições, devem cooperar para
proporcionar apoio técnico especializado e outras formas de apoio, bem como promover esforços
de pesquisa de âmbito internacional, em especial com vistas a aumentar a transferência de
tecnologia e o treinamento especializado e garantir o acesso à experiência adquirida e aos
resultados da pesquisa. É preciso fortalecer a coordenação e melhorar o desempenho das atuais
organizações internacionais ligadas a questões florestais na provisão de cooperação e apoio
técnicos aos países interessados, para o manejo, conservação, e o desenvolvimento sustentável
das florestas.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


11.6. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $4,5 bilhões de dólares, inclusive
cerca de $860 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
11.7. As atividades de planejamento, pesquisa e treinamento especificadas irão constituir
os meios científicos e tecnológicos para implementar o programa, bem como seus resultados. Os
sistemas, metodologia e conhecimentos técnico-científicos gerados pelo programa contribuirão
para aumentar a eficiência. Algumas das iniciativas específicas envolvidas são:
(a) Analisar as realizações, dificuldades e aspectos sociais e com isso contribuir
para a formulação e a implementação do programa;
(b) Analisar os problemas e necessidades da pesquisa, bem como o planejamento e
a implementação dos projetos de pesquisa específicos;
(c) Avaliar as necessidades em termos de recursos humanos e de aquisição de
conhecimentos e treinamento especializados;
(d) Desenvolver, testar e aplicar metodologias/abordagens adequadas para a
implementação de programas e planos da área florestal.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
11.8. Os componentes específicos do ensino e do treinamento na área florestal irão
Agenda 21 - Global 111

contribuir eficazmente para o desenvolvimento dos recursos humanos. Entre eles, estão:
(a) Criação de programas universitários de graduação, pós-graduação, pesquisa e
especialização;
(b) Fortalecimento dos programas de treinamento pré-emprego, no emprego e de
extensão do emprego, tanto em nível técnico como profissional, inclusive treinamento de
instrutores e professores e o desenvolvimento de currículos e métodos e materiais de ensino;
(c) Treinamento especial para o pessoal das organizações nacionais ligadas à área
florestal em aspectos como formulação, análise e acompanhamento de projetos.
(d) Fortalecimento institucional
11.9. Esta área de programas está voltada especificamente para a fortalecimento
institucional e técnica na área florestal e todas as atividades de programas especificadas
contribuem para esse fim. Na construção de novas capacidades e fortalecimento das existentes
deve haver aproveitamento pleno dos sistemas existentes e da experiência adquirida.

B. Aumento da proteção, do manejo sustentável e da conservação de todas as florestas e


provisão de cobertura vegetal para as áreas degradadas por meio de reabilitação,
florestamento e reflorestamento, bem como de outras técnicas de reabilitação

Base para a ação

11.10. As florestas do mundo inteiro foram e estão sendo ameaçadas pela degradação
descontrolada e a transformação para outros tipos de uso da terra, sob a influência das crescentes
necessidades humanas; da expansão agrícola; e do mau manejo daninho para o meio ambiente,
inclusive, por exemplo, falta de controle adequado dos incêndios florestais, ausência de medidas
de repressão à extração ilegal, exploração comercial não-sustentável da madeira, criação de gado
excessiva e ausência de regulamentação para o plantio de pastagens, efeitos daninhos dos
poluentes transportados pelo ar, incentivos econômicos e outras medidas tomadas por outros
setores da economia. Os impactos da perda e degradação das florestas aparecem sob a forma de
erosão do solo; perda da biodiversidade; dano aos habitats silvestres e degradação das áreas de
bacias; deterioração da qualidade da vida; e redução das opções de desenvolvimento.
11.11. A atual situação exige a adoção de medidas urgentes e coerentes para a
conservação e a manutenção dos recursos florestais. O plantio de superfícies verdes em áreas
adequadas, em todas as suas atividades componentes, é uma forma eficaz de aumentar a
consciência e a participação do público no que diz respeito à proteção e ao manejo dos recursos
florestais. A iniciativa deve incluir a consideração de vários modelos de uso e ocupação da terra e
as necessidades locais, e deve enumerar e esclarecer os objetivos específicos dos diferentes tipos
de atividades de plantio de áreas verdes.

Objetivos

11.12. Os objetivos desta área de programas são os seguintes:


(a) Manter as florestas existentes por meio da conservação e do manejo e manter e
expandir as áreas florestais e arborizadas, nas áreas adequadas tanto de países desenvolvidos
como em desenvolvimento, por meio da conservação das florestas naturais; da proteção,
reabilitação e regeneração das florestas; e do florestamento, reflorestamento e plantio de árvores;
com vistas a manter ou restaurar o equilíbrio ecológico e expandir a contribuição das florestas
para o bem-estar do homem e a satisfação de suas necessidades;
Agenda 21 - Global 112

(b) Preparar e implementar, conforme apropriado, programas e/ou planos


nacionais de ação para o setor florestal voltados para o manejo, conservação e desenvolvimento
sustentável das florestas. Esses programas e/ou planos devem ser integrados a outros usos da
terra. Nesse contexto, atualmente estão sendo implementados programas e/ou planos nacionais de
ação para o setor florestal em mais de oitenta países, geridos pelos próprios países, no âmbito do
Programa de Ação Florestal nos Trópicos, com o apoio da comunidade internacional;
(c) Assegurar um manejo sustentável e, quando apropriado, a conservação dos
recursos florestais atuais e futuros;
(d) Manter e aumentar as contribuições ecológicas, biológicas, climáticas, sócio-
culturais e econômicas dos recursos florestais;
(e) Facilitar e apoiar a implementação eficaz da declaração de princípios
autorizada, sem força jurídica compulsória, para um consenso mundial sobre manejo,
conservação e desenvolvimento sustentável de todos os tipos de florestas, adotada pela
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e, com base na
implementação desses princípios, considerar a necessidade e a viabilidade de todos os tipos de
arranjos adequados internacionalmente concertados voltados para a promoção da cooperação
internacional na área de manejo, conservação e desenvolvimento sustentável de todos os tipos de
florestas, inclusive florestamento, reflorestamento e reabilitação.

Atividades

Atividades ligadas ao manejo

11.13. Os Governos devem reconhecer a importância de classificar as florestas em


diferentes tipos de florestas, no bojo de uma política a longo prazo de conservação e manejo
florestal, e a criação de unidades sustentáveis em todas as regiões/bacias, com vistas a garantir a
conservação das florestas. Os Governos, com a participação do setor privado, das organizações
não-governamentais, de grupos comunitários locais, dos populações indígenas, das mulheres, das
unidades governamentais locais e do público em geral, devem agir para manter e expandir a atual
cobertura vegetal, sempre que possível do ponto de vista ecológico, social e econômico, por meio
da cooperação técnica e de outras formas de apoio. Algumas das atividades mais importantes a
considerar são:
(a) Garantir o manejo sustentável de todos os ecossistemas florestais e bosques por
meio de um planejamento pertinente melhorado, de manejo e implementação oportuna de
atividades na área da silvicultura, inclusive preparação de um inventário e realização das
pesquisas pertinentes, bem como da reabilitação das florestas naturais degradadas para
restabelecer sua produtividade e suas contribuições para o meio ambiente, dedicando especial
atenção às necessidades humanas em matéria de serviços econômicos e ecológicos, energia
extraída da madeira, agro-silvicultura, produtos e serviços florestais não madeireiro, proteção de
bacias e solos, manejo da flora e da fauna silvestres e recursos genéticos florestais;
(b) Estabelecer, expandir e gerenciar, conforme apropriado a cada contexto
nacional, sistemas de áreas protegidas, o que inclui sistemas de unidades de conservação para
suas funções e valores ambientais, sociais e espirituais, inclusive conservação de florestas em
sistemas e paisagens ecológicos representativos e florestas primárias de idade avançada;
conservação e manejo da fauna e da flora silvestres; determinação dos locais pertencentes ao
Patrimônio Mundial, a serem protegidos pela Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial,
conforme apropriado; conservação dos recursos genéticos, envolvendo medidas in situ e ex situ e
Agenda 21 - Global 113

a adoção de medidas de apoio que garantam a utilização sustentável dos recursos biológicos e a
conservação da biodiversidade e dos habitats florestais tradicionais dos populações indígenas, dos
habitantes das florestas e das comunidades locais;
(c) Empreender e promover o manejo das áreas-tampão e de transição;
(d) Levar a cabo o replantio em áreas adequadas de montanha, terras altas, terras
despojadas, terras de cultivo degradadas, terras áridas e semi-áridas e zonas costeiras, para
combater a desertificação e evitar problemas de erosão, bem como para outras funções protetoras
e programas nacionais de reabilitação de terras degradadas, inclusive de silvicultura comunitária,
silvicultura social, agro-silvicultura e silvipastagem, levando em conta ao mesmo tempo o papel
das florestas enquanto reservatórios e sumidouros nacionais de carbono;
(e) Desenvolver florestas plantadas, industriais e não-industriais, com o objetivo
de apoiar e promover programas nacionais de florestamento e reflorestamento/regeneração
ecologicamente saudáveis em locais apropriados, inclusive aprimorar as florestas plantadas
existentes, de finalidades tanto industriais como não-industriais e comerciais, com o objetivo de
aumentar sua contribuição às necessidades humanas e diminuir a pressão sobre as florestas
primárias e de idade avançada. É preciso adotar medidas que promovam e ofereçam colheitas
intermediárias e melhorem a rentabilidade dos investimentos com florestas plantadas, por meio
do plantio intercalado e do plantio sob as árvores de espécies valiosas;
(f) Desenvolver/fortalecer um programa nacional e/ou mestre para florestas
plantadas encaradas como prioridade, indicando, inter alia, a localização, o alcance e as espécies,
e especificando onde, nas florestas plantadas existentes, estão sendo necessárias medidas de
reabilitação, levando em conta o aspecto econômico para o desenvolvimento de futuras florestas
plantadas e dando prioridade às espécies nativas;
(g) Aumentar a proteção das florestas contra poluentes, incêndios, pragas e
doenças, bem como contra outras interferências provocadas pelo homem, como extração ilegal,
extração de minérios, lavoura rotativa intensa, introdução não-controlada de espécies exóticas de
plantas e animais; além disso, desenvolver e acelerar pesquisas voltadas para uma melhor
compreensão dos problemas relacionados ao manejo e regeneração de todos os tipos de florestas;
ao fortalecimento e/ou estabelecimento de medidas apropriadas para avaliar e/ou controlar o
movimento inter-fronteiras de plantas e materiais conexos;
(h) Estimular o desenvolvimento da silvicultura urbana para proporcionar
vegetação aos estabelecimentos humanos urbanos, periurbanos e rurais com fins prazerosos,
recreativos e produtivos e para proteger árvores e bosques;
(i) Criar ou melhorar oportunidades de participação para todas as pessoas,
inclusive jovens, mulheres, populações indígenas e comunidades locais, na formulação,
desenvolvimento e implementação de programas e outras atividades relacionados à área florestal,
levando devidamente em conta as necessidades e valores culturais locais;
(j) Limitar e tencionar interromper a lavoura rotativa destruidora, atendendo às
suas causas sociais e ecológicas subjacentes;
(b) Dados e informações
11.14. As atividades relacionadas ao manejo devem incluir a coleta, compilação e análise
de informações e dados, inclusive a realização de levantamentos de referência. Algumas das
atividades específicas são as seguintes:
(a) Realização de levantamentos, desenvolvimento e implementação de planos de
uso da terra, para efetuar atividades adequadas de criação de cobertura vegetal, plantio,
florestamento, reflorestamento e reabilitação florestal;
(b) Consolidação e atualização do inventário florestal e de usos da terra e das
Agenda 21 - Global 114

informações sobre manejo, para utilização no manejo e no planejamento do uso da terra em


matéria de recursos madeireiros e não-madeireiros, inclusive dados sobre agricultura itinerante e
outros agentes de destruição florestal;
(c) Consolidação das informações sobre os recursos genéticos e relacionados à
biotecnologia, inclusive de estudos e levantamentos, quando necessário;
(d) Realização de levantamentos e pesquisas sobre o conhecimento local/autóctone
sobre árvores e florestas e seus usos para melhorar o planejamento e implementação de um
manejo florestal sustentável;
(e) Compilação e análise de dados de pesquisa sobre a interação espécies/locais
das espécies utilizadas nas florestas plantadas e avaliação do impacto potencial das mudanças do
clima sobre as florestas, bem como dos efeitos das florestas sobre o clima, e início de estudos em
profundidade sobre as relações entre o ciclo do carbono e os diferentes tipos de floresta, para a
obtenção de subsídios científicos e apoio técnico;
(f) Estabelecimento de vínculos com outras fontes de dados/informações
relacionados ao manejo e uso sustentáveis das florestas e melhoria do acesso aos dados e
informações;
(g) Desenvolvimento e intensificação de pesquisas destinadas a melhorar o
conhecimento e a compreensão dos problemas e mecanismos naturais relacionados ao manejo e
reabilitação de florestas, inclusive pesquisas sobre a fauna e sua inter-relação com as florestas;
(h) Consolidação de informações sobre o estado das florestas e as imissões e
emissões que exercem influência sobre o meio.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
11.15. O plantio de vegetação nas áreas apropriadas é uma tarefa de importância e
conseqüências mundiais. As comunidades internacional e regional devem oferecer cooperação
técnica e outros meios a esta área de programas. As atividades específicas de natureza
internacional em apoio aos esforços nacionais devem incluir o seguinte:
(a) Atividades de cooperação em volume crescente para reduzir os poluentes e as
conseqüências transfronteiriças que afetam a saúde de árvores e florestas e a conservação de
ecossistemas representativos;
(b) Coordenação entre as pesquisas de âmbito regional e subregional sobre a
absorção do carbono, a poluição atmosférica e outras questões ambientais;
(c) Documentação e intercâmbio de informações e de experiências em benefício
dos países com problemas e perspectivas similares;
(d) Fortalecimento da coordenação e melhoria da capacidade e do potencial de
organizações intergovernamentais como a FAO, a OIMT, o PNUMA e a UNESCO no sentido de
oferecer apoio técnico para o manejo, conservação e desenvolvimento sustentável de florestas,
inclusive apoio para a renegociação do Acordo Internacional sobre Madeiras Tropicais, de 1983,
a realizar-se em 1992/93.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


11.16. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $10 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $3,7 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
Agenda 21 - Global 115

dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
11.17. A análise de dados, o planejamento, a pesquisa, o desenvolvimento/transferência
de tecnologia e/ou de atividades de treinamento fazem parte integrante das atividades do
programa, oferecendo as condições científicas e tecnológicas de implementação. As instituições
nacionais devem:
(a) Desenvolver estudos de viabilidade e planejamento operacional relacionados a
atividades florestais importantes;
(b) Desenvolver e aplicar tecnologias ambientalmente saudáveis, pertinentes para
as diversas atividades relacionadas;
(c) Intensificar as atividades relacionadas à melhoria genética e aplicação da
biotecnologia, à melhoria da produtividade e da tolerância à pressão ambiental, incluindo, por
exemplo, obtenção de novas variedades de árvore, tecnologia de sementes, redes de obtenção de
sementes, bancos de germoplasma, técnicas de proveta e conservação in situ e ex situ.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
11.18. Entre os meios fundamentais para a implementação eficaz das atividades estão o
treinamento e o desenvolvimento da perícia apropriada, a construção de instalações e a existência
de condições favoráveis de trabalho e consciência e motivação por parte do público. As
atividades específicas incluem:
(a) Fornecimento de treinamento especializado em planejamento, manejo,
conservação ambiental, biotecnologia, etc;
(b) Estabelecimento de áreas de demonstração que sirvam de modelo e centros de
treinamento;
(c) Apoio às organizações locais, comunidades, organizações não-governamentais
e proprietários particulares de terras, em particular mulheres, jovens, agricultores e populações
indígenas/agricultores migrantes, por meio de atividades de extensão e oferta de insumos e
treinamento.
(d) Fortalecimento institucional
11.19. Os Governos nacionais, o setor privado, as organizações e comunidades locais e
populações indígenas, os sindicatos e as organizações não-governamentais devem desenvolver
capacidades, devidamente apoiadas pelas organizações internacionais competentes, para
implementar as atividades do programa. Essas capacidades devem ser desenvolvidas e
fortalecidas em conformidade com as atividades do programa. Entre as atividades de
fortalecimento institucional e técnica contam-se a criação de estruturas regulamentadoras e
jurídicas, a criação de instituições nacionais, o desenvolvimento de recursos humanos, o
desenvolvimento de pesquisa e tecnologia, o desenvolvimento de infra-estrutura, o aumento da
consciência pública, etc.

C. Promoção de métodos eficazes de aproveitamento e avaliação para restaurar plenamente


o valor dos bens e serviços proporcionados por florestas, áreas florestais e áreas
arborizadas

Base para a ação

11.20. Ainda não foi plenamente entendido o vasto potencial de florestas e áreas
florestais enquanto recurso extremamente importante para o desenvolvimento. Um melhor
Agenda 21 - Global 116

manejo das florestas pode aumentar a produção de bens e serviços e, em especial, o rendimento
de produtos florestais, tanto madeireiros como não-madeireiros, o que contribuiria para gerar
mais empregos e rendas, para aumentar o valor das florestas, por meio da transformação e do
comércio de produtos florestais, para aumentar a contribuição no que diz respeito a ingressos de
divisas, e obter rendimento mais alto para os investimentos. Os recursos florestais, pelo fato de
serem renováveis, podem ser gerenciados de forma sustentável de maneira compatível com a
conservação do meio ambiente. As implicações da exploração dos recursos florestais para os
outros valores da floresta devem ser totalmente levadas em conta na formulação das políticas
florestais. Também é possível aumentar o valor das florestas por meio de usos não daninhos,
como o turismo ecológico e o fornecimento gerenciado de materiais genéticos. É preciso
empreender iniciativas concatenadas para aumentar a percepção que têm as pessoas do valor das
florestas e dos benefícios que elas proporcionam. A sobrevivência das florestas e sua contínua
contribuição ao bem-estar humano dependem, em grande medida, do êxito desse
empreendimento.
11.21. Os objetivos desta área de progamas são os seguintes:
(a) Aumentar o reconhecimento dos valores social, econômico e ecológico de
árvores, florestas e áreas florestais, inclusive das conseqüências dos prejuízos causados pela
ausência de florestas; promover o uso de metodologias que pretendam incluir os valores social,
econômico e ecológico de árvores, florestas e áreas florestais nos sistemas nacionais de
contabilidade econômica; garantir seu manejo sustentável de forma compatível com o uso da
terra, considerações ambientais e necessidades do desenvolvimento;
(b) Promover a utilização eficiente, racional e sustentável de todos os tipos de
florestas e vegetações, inclusive de outras terras conexas e de recursos oriundos da floresta, por
meio do desenvolvimento de indústrias eficientes de elaboração de produtos florestais,
transformação secundária com acréscimo de valor e comércio de produtos florestais, baseada em
recursos florestais gerenciados de forma sustentável e em conformidade com planos que incluam
o valor integral dos produtos florestais, madeireiros e não-madeireiros;
(c) Promover o uso mais eficiente e sustentável de florestas e árvores usadas como
combustível e fonte de energia;
(d) Promover maior abrangência no uso e nas contribuições econômicas das áreas
florestais, incluindo o turismo ecológico no manejo e planejamento florestais.

Atividades

(a) Atividades relacionadas ao manejo


11.22. Os Governos, com o apoio do setor privado, instituições científicas, populações
indígenas, organizações não-governamentais, cooperativas e empresários, quando apropriado,
devem empreender as seguintes atividades, devidamente coordenadas no plano nacional, com
cooperação financeira e técnica das organizações internacionais:
(a) Desenvolver estudos detalhados sobre investimento, harmonização entre oferta
e procura e análise das repercussões ambientais, para racionalizar e melhorar a utilização de
árvores e florestas e desenvolver e estabelecer esquemas adequados de incentivo e medidas
regulamentadoras que incluam dispositivos sobre a posse da terra, para criar um clima favorável
de investimento e promover um melhor manejo;
(b) Formular critérios e diretrizes cientificamente saudáveis para o manejo,
conservação e desenvolvimento sustentável de todos os tipos de florestas;
(c) Melhorar os métodos e práticas ambientalmente saudáveis e economicamente
Agenda 21 - Global 117

viáveis de exploração das florestas, inclusive os de planejamento e manejo, melhor uso do


equipamento, e armazenagem e transporte, com o objetivo de reduzir os resíduos e, se possível,
otimizar seu uso e aumentar o valor dos produtos florestais, tanto madeireiros como não-
madeireiros;
(d) Promover, sempre que possível, um melhor uso e desenvolvimento de florestas
e áreas florestais naturais, bem como de florestas plantadas, por meio de atividades apropriadas,
ambientalmente saudáveis e economicamente viáveis, inclusive com práticas de silvicultura e
manejo de outras espécies animais e vegetais;
(e) Promover e apoiar a transformação secundária dos produtos florestais, com o
objetivo de aumentar o valor agregado e outros benefícios;
(f) Promover e popularizar produtos florestais não-madeireiros e outras formas de
recursos florestais que não a madeira usada como combustível (por exemplo plantas medicinais,
tinturas, fibras, gomas, resinas, forragens, produtos culturais, junco, bambu), por meio de
programas e atividades sócio-florestais de participação, inclusive pesquisas sobre seu
processamento e seus usos;
(g) Desenvolver, expandir e/ou melhorar a eficácia e a eficiência das indústrias de
processamento de produtos florestais, tanto madeireiros como não-madeireiros, inclusive de
aspectos como tecnologia eficiente de conversão e melhor utilização sustentável dos resíduos
resultantes da extração e do processamento; promover as espécies subutilizadas das florestas
naturais por meio de pesquisa, demonstração e comercialização; promover o processamento
secundário com acréscimo de valor para a obtenção de melhor emprego, rendimento e valor
retido; e promover e melhorar os mercados de produtos florestais e seu comércio por meio das
instituições, políticas e serviços pertinentes;
(h) Promover e apoiar o manejo da fauna e da flora silvestres, bem como do
turismo ecológico, inclusive da agricultura, e estimular e apoiar a criação e o cultivo de espécies
animais e vegetais silvestres, para aumentar a receita e o emprego nas áreas rurais e obter
benefícios econômicos e sociais sem efeitos ecológicos daninhos;
(i) Promover a criação de empresas florestais em pequena escala adequadas para o
apoio ao desenvolvimento rural e ao empresariado local;
(j) Melhorar e promover metodologias para uma avaliação abrangente, capaz de
refletir o valor pleno das florestas, com vistas a incluir tal valor na estrutura de fixação de preços
baseada no mercado dos produtos madeireiros e não-madeireiros;
(k) Harmonizar o desenvolvimento sustentável das florestas com as necessidades
do desenvolvimento nacional e com políticas comerciais compatíveis com o uso ecologicamente
saudável dos recursos florestais, utilizando, por exemplo, as Diretrizes para o Manejo Sustentável
das Florestas Tropicais da OIMT;
(l) Desenvolver, adotar e fortalecer programas nacionais para contabilizar o valor
econômico e não-econômico das florestas.
(b) Dados e informações
11.23. Os objetivos e atividades ligados ao manejo pressupõem a análise de dados e
informações, estudos de viabilidade, pesquisas de mercado e análises da informação tecnológica.
Algumas das atividades importantes são as seguintes:
(a) Analisar, sempre que necessário, a oferta e a demanda de produtos e serviços
florestais, para obter eficiência em sua utilização;
(b) Realizar análises de investimento e estudos de viabilidade que incluam uma
avaliação do impacto ambiental, para a criação de empresas de processamento florestal;
(c) Efetuar pesquisas sobre as propriedades de espécies atualmente subutilizadas
Agenda 21 - Global 118

com vistas à sua promoção e comercialização;


(d) Apoiar pesquisas de mercado de produtos florestais para a promoção do
comércio e a coleta de informações sobre o comércio;
(e) Facilitar a oferta de informações tecnológicas adequadas como medida para
promover uma melhor utilização dos recursos florestais.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
11.24. A cooperação e a assistência das organizações internacionais e da comunidade
internacional no que diz respeito a transferência de tecnologia, especialização e promoção de
termos justos de comércio, sem recurso a restrições e/ou interdições unilaterais sobre produtos
florestais contrários ao acordo do GATT e outros acordos multilaterais, bem como a aplicação de
mecanismos e incentivos adequados de mercado, irão contribuir para a solução de problemas
ambientais de caráter mundial. Outra atividade específica é o fortalecimento e o desempenho das
organizações internacionais existentes atualmente, em particular a FAO a INUDI, a UNESCO, o
PNUMA, o CCI/UNCTAD/GATT, a OIMT e a OIT, para obtenção de orientação e assistência
técnica nesta área de programa.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


11.25. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $18 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $880 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
11.26. As atividades do programa pressupõem importantes esforços de pesquisa e
estudos, bem como o aperfeiçoamento da tecnologia. Essas iniciativas devem ser coordenadas
pelos Governos nacionais, em colaboração com as organizações internacionais e instituições
pertinentes, e com o apoio destas. Algumas iniciativas específicas são:
(a) Pesquisas sobre as propriedades de produtos madeireiros e não-madeireiros e
sobre os usos destes, para promover sua melhor utilização;
(b) Desenvolvimento e aplicação de tecnologias ambientalmente saudáveis e
menos poluidoras para a utilização das florestas;
(c) Modelos e técnicas de análise de perspectivas e planejamento do
desenvolvimento;
(d) Investigações científicas sobre o desenvolvimento e a utilização de produtos
florestais não-madeireiros;
(e) Metodologias adequadas para uma avaliação abrangente do valor das florestas.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
11.27. O êxito e a eficácia desta área de programas dependem da existência de pessoal
qualificado. Nesse aspecto o treinamento especializado é um fator importante. Nova ênfase deve
ser atribuída à incorporação das mulheres. O desenvolvimento de recursos humanos para a
implementação do programa, em termos quantitativos e qualitativos, deve incluir:
(a) O desenvolvimento das capacitações especializadas necessárias para
implementar o programa, inclusive estabelecendo centros especiais de treinamento em todos os
Agenda 21 - Global 119

níveis;
(b) A introdução e o fortalecimento de cursos de atualização, inclusive com bolsas
de estudo e viagens de estudo, para atualizar as diferentes especialidades e o conhecimento
técnico-científico na área da tecnologia e aumentar a produtividade;
(c) O fortalecimento da capacidade de pesquisa, planejamento, análise econômica,
acompanhamento e avaliação, para uma melhor utilização dos recursos florestais;
(d) A promoção de eficiência e da capacidade dos setores privado e cooperativo
por meio do oferecimento de serviços e incentivos.
(d) Fortalecimento institucional
11.28. A fortalecimento institucional e técnica, inclusive com o fortalecimento da
capacitação já existente, está implícita nas atividades do programa. A melhora da administração,
das políticas e planos, das instituições nacionais, dos recursos humanos, da capacidade científica
e de pesquisa, o desenvolvimento da tecnologia e as atividades de acompanhamento e avaliação
periódica são componentes importantes da fortalecimento institucional e técnica.

D. Estabelecimento e/ou fortalecimento das capacidades de planejamento, avaliação e


acompanhamento de programas, projetos e atividades da área florestal ou conexos,
inclusive comércio e operações comerciais

Base para a ação

11.29. As avaliações e observações sistemáticas são componentes essenciais do


planejamento a longo prazo, para a avaliação quantitativa e qualitativa dos efeitos e para a
correção de deficiências. Esse mecanismo, porém, é um dos aspectos freqüentemente
negligenciados das atividades de manejo, conservação e desenvolvimento de recursos florestais.
Em muitos casos inexistem mesmo as informações básicas, relacionadas à extensão e tipo das
florestas, potencial existente e volume da exploração. Os países em desenvolvimento
freqüentemente carecem de estruturas e mecanismos para o desempenho dessas funções.
Verifica-se a necessidade urgente de corrigir essa situação, para uma melhor compreensão do
papel e da importância das florestas e para um planejamento realista e eficaz de sua conservação,
manejo, regeneração e desenvolvimento sustentável.

Objetivos

11.30. Os objetivos desta área de programas são os seguintes:


(a) Fortalecer ou criar sistemas de avaliação e acompanhamento de florestas e
áreas florestais, com vistas a determinar os efeitos de programas, projetos e atividades sobre a
qualidade e a extensão dos recursos florestais, as terras disponíveis para florestamento e os
esquemas de ocupação da terra, e integrar esses sistemas num processo permanente de pesquisa e
análise em profundidade, providenciando, ao mesmo tempo, as modificações e melhorias
necessárias para o planejamento e a tomada de decisões. Deve-se enfatizar especificamente a
participação das populações rurais nesses procesos;
(b) Oferecer a economistas, planejadores, pessoas em posição de tomar decisões e
comunidades locais informações atualizadas, saudáveis e adequadas sobre os recursos florestais e
de áreas florestais.

Atividades
Agenda 21 - Global 120

(a) Atividades relacionadas ao manejo


11.31. Os Governos e instituições, em colaboração, quando necessário, com as agências e
organizações internacionais adequadas, as universidades e as organizações não-governamentais,
devem realizar avaliações e acompanhamentos das florestas e dos programas e processos a elas
relacionados com vistas a promover seu contínuo aperfeiçoamento. Tais iniciativas devem estar
vinculadas a atividades de pesquisa e manejo conexas e, sempre que possível, ter como ponto de
partida sistemas já existentes. Dentre as atividades a serem consideradas, as mais importantes
são:
(a) Avaliar e observar sistematicamente a situação e as modificações qualitativas e
quantitivas da cobertura florestal e dos recursos florestais, inclusive da classificação e uso dos
solos e das atualizações de suas categorias no plano nacional adequado e vincular essa atividade,
conforme apropriado, ao planejamento, enquanto base para a formulação de políticas e
programas;
(b) Estabelecer sistemas nacionais de avaliação e acompanhamento dos programas
e processos, inclusive estabelecendo definições, critérios, normas e métodos de intercalibragem e
criando capacitação para detonar ações corretivas e melhorar a formulação e a implementação de
programas e projetos;
(c) Fazer estimativas dos efeitos das atividades que interfiram com as propostas de
desenvolvimento e conservação florestal utilizando variáveis-chave como, por exemplo, metas,
benefícios e custos do desenvolvimento, contribuições das florestas a outros setores, bem-estar da
comunidade, condições ambientais e biodiversidade e seus impactos a nível local, regional e
mundial, quando apropriado, para avaliar as necessidades tecnológicas e financeiras dos países;
(d) Desenvolver sistemas nacionais de avaliação e valoração dos recursos
florestais que incluam a pesquisa e as análises de dados necessárias, que respondam, quando
possível, por todo o leque de produtos e serviços florestais madeireiros e não-madeireiros e
incorporem os resultados aos planos e estratégias e, sempre que viável, aos sistemas nacionais de
contabilidade e planejamento;
(e) Estabelecer as necessárias vinculações intersetoriais e entre os programas,
inclusive com um melhor acesso à informação, com o objetivo de apoiar uma abordagem
holística do planejamento e da programação.
(b) Dados e informações
11.32. Para esta área de programas é fundamental contar com dados e informações
confiáveis. Os Governos nacionais, em colaboração, sempre que necessário, com as organizações
internacionais competentes, devem, quando apropriado, comprometer-se a melhorar
continuamente os dados e as informações para possibilitar seu intercâmbio. Dentre as atividades
importantes a serem consideradas estão as seguintes:
(a) Coletar, consolidar e realizar o intercâmbio das informações existentes e obter
as informações básicas de referência sobre aspectos relevantes a esta área de programas;
(b) Harmonizar as metodologias dos programas que envolvam atividades
relacionadas a dados e informações para garantir sua acurácia e coerência;
(c) Realizar estudos especiais sobre, por exemplo, capacidade e adequação de
determinada área a uma ação de florestamento;
(d) Promover o apoio à pesquisa e melhorar o acesso aos resultados das pesquisas,
bem como seu intercâmbio.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
11.33. A comunidade internacional deve estender aos Governos envolvidos o apoio
Agenda 21 - Global 121

técnico e financeiro necessário à implementação desta área de programas, inclusive considerando


as seguintes atividades:
(a) Estabelecer uma estrutura conceitual e formular critérios, normas e definições
aceitáveis para observações sistemáticas e avaliação dos recursos florestais;
(b) Estabelecer e fortalecer mecanismos institucionais nacionais para coordenar as
atividades de avaliação e observação sistemática das florestas;
(c) Fortalecer as redes regionais e mundiais existentes para intercâmbio da
informação pertinente;
(d) Fortalecer a capacidade e a competência e melhorar o desempenho das
organizações internacionais existentes, como o Grupo Consultivo sobre Pesquisas Agrícolas
Internacionais (CGPAR), a FAO, a OIMT, o PNUMA, a UNESCO e a ONUDI, para oferecer
apoio técnico e orientação nesta área de programas.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


11.34. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $750 milhões de dólares, inclusive
cerca de $230 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
11.35. Aceleração do desenvolvimento consiste em implementar as atividades
relacionadas tanto ao manejo como a dados e informações citadas acima. As atividades
relacionadas a questões ambientais mundiais são as que irão contribuir para a informação
mundial que fundamentará a avaliação, a valoração e a resolução de questões ambientais em
escala mundial. O fortalecimento da capacidade das instituições internacionais consiste em
reforçar a equipe técnica e a capacidade executiva de diversas organizações internacionais, com o
objetivo de atender às exigências dos países.
(b) Meios científicos e tecnológicos
11.36. As atividades de avaliação e observação sistemática envolvem importantes
esforços de pesquisa, formulação de modelos estatísticos e inovações tecnológicas. Tudo isso está
embutido nas atividades relacionadas ao manejo. Essas atividades, por sua vez, irão melhorar o
conteúdo tecnológico e científico das avaliações e das valorações periódicas. Alguns dos
componentes científicos e tecnológicos específicos incluídos nessas atividades são:
(a) Desenvolvimento de métodos e modelos técnicos, ecológicos e econômicos
relacionados a valorações periódicas e avaliações;
(b) Desenvolvimento de sistemas de dados, processamento de dados e modelos
estatísticos;
(c) Sensoriamento remoto e levantamentos de solo;
(d) Desenvolvimento de sistemas de informação geográfica;
(e) Avaliação e aperfeiçoamento da tecnologia.
11.37. Essas atividades devem estar vinculadas e ser compatibilizadas com as atividades
e componentes similares das outras áreas de programas.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
11.38. As atividades do programa prevêem a necessidade e incluem os meios de
Agenda 21 - Global 122

desenvolver os recursos humanos em termos de especialização (por exemplo, o uso de


sensoriamento remoto, mapeamento e modelos estatísticos), treinamento, transferência de
tecnologia, concessão de bolsas de estudo e demonstrações de campo.
(d) Fortalecimento institucional
11.39. Os Governos nacionais, em colaboração com as organizações e instituições
nacionais adequadas, devem desenvolver a necessária capacidade para implementar esta área de
programa. Isso deve ser compatibilizado com a fortalecimento institucional e técnica prevista
para outras áreas de programas. A fortalecimento institucional e técnica deve abranger aspectos
como formulação de políticas, administração pública, desenvolvimento das instituições de âmbito
nacional, dos recursos humanos e da capacitação técnica especializada, aumento da capacidade
de pesquisas e da tecnologia, aprimoramento dos sistemas de informações, da valoração de
programas, da coordenação intersetorial e da cooperação internacional.
(e) Financiamento da cooperação internacional e regional
11.40. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $750 milhões de dólares, inclusvie
cerca de $530 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
Agenda 21 - Global 123

Capítulo 12

MANEJO DE ECOSSISTEMAS FRÁGEIS: A LUTA CONTRA A DESERTIFICAÇÃO E


A SECA

Introdução

12.1. Os ecossistemas frágeis são ecossistemas importantes, com características e recursos


únicos. Os ecossistemas frágeis incluem os desertos, as terras semi-áridas, as montanhas, as terras
úmidas, as ilhotas e determinadas áreas costeiras. A maioria desses ecossistemas tem dimensões
regionais, transcendendo fronteiras nacionais. Este capítulo focaliza questões ligadas a recursos
terrestres nos desertos, bem como em áreas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas. O
desenvolvimento sustentável das montanhas é focalizado no capítulo 13 da Agenda 21 ("Manejo
de ecossistemas frágeis: desenvolvimento sustentável das montanhas"); as ilhotas e áreas
costeiras são discutidas no capítulo 17 ("Proteção dos oceanos...").
12.2. A desertificação é a degradação do solo em áreas áridas, semi-áridas e sub-úmidas
secas, resultante de diversos fatores, inclusive de variações climáticas e de atividades humanas. A
desertificação afeta cerca de um sexto da população da terra, 70 por cento de todas as terras
secas, atingindo 3,6 bilhões de hectares, e um quarto da área terrestre total do mundo. O resultado
mais evidente da desertificação, em acréscimo à pobreza generalizada, é a degradação de 3,3
bilhões de hectares de pastagens, constituindo 73 por cento da área total dessas terras,
caracterizadas por baixo potencial de sustento para homens e animais; o declínio da fertilidade do
solo e da estrutura do solo em cerca de 47 por cento das terras secas, que constituem terras
marginais de cultivo irrigadas pelas chuvas; e a degradação de terras de cultivo irrigadas
artificialmente, atingindo 30 por cento das áreas de terras secas com alta densidade populacional
e elevado potencial agrícola.
12.3. A prioridade no combate à desertificação deve ser a implementação de medidas
preventivas para as terras não atingidas pela degradação ou que estão apenas levemente
degradadas. Não obstante, as áreas seriamente degradadas não devem ser negligenciadas. No
combate à desertificação e à seca, é essencial a participação da comunidades locais, organizações
rurais, Governos nacionais, organizações não-governamentais e organizações internacionais e
regionais.
12.4. As seguintes áreas de programas estão incluídas neste capítulo:
(a) Fortalecimento da base de conhecimentos e desenvolvimento de sistemas de
informação e monitoramento para regiões propensas a desertificação e seca, sem esquecer os
aspectos econômicos e sociais desses ecossistemas;
(b) Combate à degradação do solo por meio, inter alia, da intensificação das
atividades de conservação do solo, florestamento e reflorestamento;
(c) Desenvolvimento e fortalecimento de programas de desenvolvimento integrado
para a erradicação da pobreza e a promoção de sistemas alternativos de subsistência em áreas
propensas à desertificação;
(d) Desenvolvimento de programas abrangentes de anti-desertificação e sua
integração aos planos nacionais de desenvolvimento e ao planejamento ambiental nacional;
(e) Desenvolvimento de planos abrangentes de preparação para a seca e de
esquemas para a mitigação dos resultados da seca, que incluam dispositivos de auto-ajuda para as
áreas propensas à seca e preparem programas voltados para enfrentar o problema dos refugiados
Agenda 21 - Global 124

ambientais;
(f) Estímulo e promoção da participação popular e da educação sobre a questão do
meio ambiente centradas no controle da desertificação e no manejo dos efeitos da seca.

Áreas de Programas

A. Fortalecimento da base de conhecimentos e desenvolvimento de sistemas de informação e


monitoramento para regiões propensas a desertificação e seca, sem esquecer os aspectos
econômicos e sociais desses ecossistemas

Base para a ação

12.5. As avaliações realizadas no mundo inteiro em 1977, 1984 e 1991, por iniciativa do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), sobre a situação atual e o ritmo
da desertificação, revelaram uma base insuficiente de conhecimentos sobre os processos de
desertificação. Sistemas adequados de observação sistemática com abrangência mundial são úteis
para o desenvolvimento e implementação de programas eficazes de anti-desertificação. As
instituições internacionais, regionais e nacionais existentes, em especial nos países em
desenvolvimento, contam com uma capacidade limitada para gerar as informações pertinentes e
promover seu intercâmbio. Um sistema integrado e coordenado de observação sistemática e
informações, apoiado na tecnologia adequada e englobando os planos mundial, regional, nacional
e local, é essencial para a compreensão da dinâmica dos processos de seca e desertificação. Tal
sistema também é importante para o desenvolvimento de medidas adequadas para enfrentar a
desertificação e a seca e melhorar as condições sócio-econômicas.

Objetivos

12.6. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Promover o estabelecimento e/ou fortalecimento de centros nacionais de
coordenação das informações sobre o meio-ambiente que funcionem como pontos focais, nos
Governos, para os ministérios setoriais, e que ofereçam os necessários serviços de padronização e
apoio; ao mesmo tempo, esses centros terão a função de vincular os sistemas nacionais de
informação sobre o meio ambiente no que diz respeito a desertificação e seca, formando uma
rede de alcance sub-regional, regional e interregional.
(b) Fortalecer as redes de observação sistemática de caráter regional e mundial
vinculadas ao desenvolvimento de sistemas nacionais para a observação da degradação e
desertificação da terra provocada tanto por flutuações climáticas como pela ação humana, e
identificar áreas prioritárias para a ação;
(c) Estabelecer um sistema permanente, tanto no plano nacional como no plano
internacional, para monitoramento da desertificação e da degradação da terra, com o objetivo de
melhorar as condições de vida nas áreas afetadas.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


12. 7. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais relevantes, devem:
Agenda 21 - Global 125

(a) Estabelecer e/ou fortalecer sistemas de informação sobre o meio ambiente de


abrangência nacional;
(b) Fortalecer a avaliação nos planos nacional, estadual/provincial e local e
assegurar a cooperação/estabelecimento de redes entre os sistemas atualmente existentes de
informação e monitoramento do meio ambiente, como por exemplo o programa de Vigilância
Ambiental e o Observatório do Saara e do Sael;
(c) Fortalecer a capacidade das instituições nacionais de analisar os dados sobre o
meio ambiente, de modo a possibilitar o monitoramento das alterações ecológicas e a obtenção de
informações sobre o meio ambiente de forma constante e com abrangência nacional.
(b) Dados e informações
12.8. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais pertinentes, devem:
(a) Examinar e estudar maneiras de medir as conseqüências ecológicas,
econômicas e sociais da desertificação e da degradação da terra e introduzir os resultados desses
estudos internacionalmente, nas práticas de avaliação da desertificação e da degradação da terra;
(b) Examinar e estudar as interações existentes entre as conseqüências sócio-
econômicas do clima, da seca e da desertificação e utilizar os resultados desses estudos para
empreender ações concretas.
12.9. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Apoiar a ação integrada de coleta de dados e pesquisa dos programas
relacionados a problemas decorrentes da desertificação e da seca;
(b) Apoiar os programas nacionais, regionais e mundiais de coleta integrada de
dados e de pesquisas interligadas que realizem avaliações do solo e da degradação da terra;
(c) Fortalecer as redes e os sistemas de monitoramento meteorológicos e
hidrológicos nacionais e regionais para garantir uma coleta adequada das informações básicas e a
comunicação entre os centros nacionais, regionais e internacionais.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
12.10. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais pertinentes, devem:
(a) Fortalecer os programas regionais e a cooperação internacional, como por
exemplo o Comitê Interestatal Permanente de Luta contra a Seca no Sael (CILSS), a Autoridade
Intergovernamental sobre Seca e Desenvolvimento (AISD), a Conferência de Coordenação do
Desenvolvimento da África Meridional (CCDAM), a União do Magreb Árabe e outras
organizações regionais, e organizações como o Observatório do Saara e do Sael;
(b) Estabelecer e/ou desenvolver um componente de base de dados abrangente
sobre desertificação, degradação dos solos e condições de vida da população, incorporando
parâmetros físicos e sócio-econômicos. Essa iniciativa deve ter como ponto de partida as
unidades já existentes e, quando necessário, criar novas; dentre as já existentes destacam-se a
Vigilância Ambiental e outros sistemas de informação de instituições internacionais, regionais e
nacionais fortalecidas para tal fim;
(c) Determinar pontos de referência e definir indicadores de avanço que facilitem
o trabalho das organizações locais e regionais em seu acompanhamento dos avanços na luta
contra a desertificação. Especial atenção deve ser dedicada à participação local.

Meios de implementação
Agenda 21 - Global 126

(a) Financiamento e estimativa de custos


12.11. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $350 milhões de dólares, inclusive
cerca de $175 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não
concessionaiis, dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos
decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
12.12. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais pertinentes atuantes na área da desertificação e da seca, devem:
(a) Elaborar e atualizar os inventários existentes de recursos naturais, por exemplo
sobre energia, água, solo, minérios, acesso da fauna e da flora ao alimento, bem como de outros
recursos, como moradia, emprego, saúde, educação e distribuição demográfica no tempo e no
espaço;
(b) Desenvolver sistemas integrados de informação para o monitoramento,
contabilidade e avaliação das conseqüências das atividades da área do meio ambiente;
(c) Os organismos internacionais devem cooperar com os Governos nacionais para
facilitar a aquisição e o desenvolvimento da tecnologia apropriada ao monitoramento e combate
da seca e da desertificação.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
12.13. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais atuantes na questão da seca e da desertificação, devem desenvolver a capacitação
técnica e profissional das pessoas encarregadas do monitoramento e da avaliação da questão da
desertificação e da seca.
(d) Fortalecimento institucional
12.14. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes atuantes na questão da desertificação e da seca, devem:
(a) Fortalecer as instituições nacionais e locais fornecendo-lhes uma equipe
adequada de especialistas, bem como financiamento para avaliação da desertificação;
(b) Promover, por meio de treinamento e conscientização, a participação da
população local, particularmente de mulheres e jovens, da coleta e utilização de informações
ambientais.

B. Combate à degradação do solo por meio, inter alia, da intensificação das atividades de
conservação do solo, florestamento e reflorestamento

Base para a ação

12.15. A desertificação afeta cerca de 3,6 bilhões de hectares, o que representa cerca de
70 por cento da área total das terras secas do mundo ou aproximadamente um quarto da área
terrestre do mundo. No combate à desertificação em pastagens, áreas de cultivo irrigadas pela
chuva e áreas de cultivo irrigadas artificialmente, é preciso adotar medidas preventivas nas áreas
ainda não afetadas ou apenas levemente afetadas pela desertificação; medidas corretivas para
sustentar a produtividade de terras moderadamente desertificadas; e medidas regeneradoras para
recuperar terras secas seriamente ou muito seriamente desertificadas.
12.16. Uma cobertura vegetal em expansão haveria de promover e estabilizar o equilíbrio
Agenda 21 - Global 127

hidrológico nas áreas de terras secas e manter a qualidade e a produtividade do solo. A aplicação
de medidas preventivas nas terras não ainda degradadas e de medidas corretivas e de reabilitação
nas terras secas um pouco degradadas ou seriamente degradadas, inclusive em regiões afetadas
por movimentos de dunas de areia, por meio da introdução de sistemas de uso da terra saudáveis,
socialmente aceitáveis, justos e economicamente viáveis, haveria de fomentar a capacidade
produtiva da terra e a conservação dos recursos bióticos em ecossistemas frágeis.

Objetivos

12.17. Os objetivos desta área de programas são:


(a) No que diz respeito a regiões ainda não afetadas ou apenas levemente afetadas
pela desertificação, implantar um manejo apropriado das formações naturais existentes (inclusive
das florestas), com vistas à conservação da diversidade biológica, proteção das bacias,
sustentabilidade da produção e do desenvolvimento agrícola, bem como outras finalidades, com
plena participação dos populações indígenas;
(b) Regenerar terras secas moderada ou seriamente desertificadas para o uso
produtivo e manter sua produtividade para o desenvolvimento agropastoril/agroflorestal por
meio, inter alia, da conservação do solo e da água;
(c) Expandir a cobertura vegetal e apoiar o manejo dos recursos bióticos em
regiões afetadas pela desertificação e pela seca ou propensas a sê-lo, particularmente por meio de
atividades como o florestamento/ reflorestamento, a agro-silvicultura, a silvicultura da
comunidade e dispositivos de retenção da vegetação;
(d) Melhorar o manejo dos recursos florestais, inclusive da madeira utilizada como
combustível, e reduzir o consumo da madeira como combustível por meio de uma maior
eficiência em sua utilização e conservação e o fomento, desenvolvimento e uso de outras fontes
de energia, inclusive de fontes alternativas de energia.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


12.18. Os Governos, no nível apropriado, e com o apoio das organizações internacionais e
regionais pertinentes, devem:
(a) Aplicar urgentemente medidas preventivas diretas nas terras secas vulneráveis
mas não ainda atingidas, ou nas terras secas apenas levemente desertificadas, introduzindo:
(i) Melhores políticas e práticas de uso da terra, para a obtenção de uma
maior produtividade sustentável da terra;
(ii) Tecnologias agrícolas e pastoris adequadas, ambientalmente saudáveis
e economicamente viáveis;
(iii) Melhor manejo dos recursos terrestres e hídricos.
(b) Empreender programas acelerados de florestamento e reflorestamento usando
espécies resistentes à seca, de crescimento rápido, em especial espécies nativas, inclusive
leguminosas e outras espécies, associadas a esquemas de agro-silvicultura com base na
comunidade. A esse respeito, deve ser considerada a criação de esquemas de reflorestamento e
florestamento em grande escala, em especial por meio do estabelecimento de cinturões verdes,
tendo em mente os múltiplos benefícios de tais medidas;
(c) Implementar urgentemente medidas corretivas diretas em terras secas
moderada a seriamente desertificadas, em acréscimo às medidas enumeradas no parágrafo 19 (a)
Agenda 21 - Global 128

acima, com vistas a restabelecer e manter sua produtividade;


(d) Promover sistemas melhorados de manejo da terra/água/cultivo, possibilitando
o combate à salinização nas atuais áreas de cultivo irrigadas artificialmente; e estabilizar as áreas
de cultivo irrigadas pelas chuvas e introduzir melhores sistemas de manejo terra/cultivo na prática
do uso da terra;
(e) Promover o manejo participativo dos recursos naturais, inclusive das
pastagens, para atender ao mesmo tempo as necessidades das populações rurais e as metas de
conservação; tal manejo deverá apoiar-se em tecnologias inovadoras ou em tecnologias
autóctones adaptadas;
(f) Promover a proteção e conservação in situ de áreas ecológicas especiais por
meio de legislação e outros recursos, com o objetivo de combater a desertificação e ao mesmo
tempo garantir a proteção da diversidade biológica;
(g) Promover e estimular o investimento em silvicultura nas terras secas por meio
de diversos incentivos, inclusive medidas legislativas;
(h) Promover o desenvolvimento e uso de fontes de energia que representem alívio
da pressão sobre os recursos lígneos, inclusive de fontes alternativas de energia e de fogões
aperfeiçoados.
(b) Dados e informações
12.19. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver modelos de uso da terra baseados em práticas locais, para o
aperfeiçoamento de tais práticas e com o objetivo específico de evitar a degradação da terra. Os
modelos devem fornecer uma melhor compreensão dos inúmeros fatores naturais e decorrentes
da ação humana capazes de contribuir para a desertificação. Esses modelos devem realizar a
interação entre as práticas novas e tradicionais, com o objetivo de impedir a degradação da terra e
refletir a capacidade de recuperação do sistema ecológico e social como um todo;
(b) Desenvolver, testar e introduzir, atribuindo a devida importância a
considerações relativas à segurança do meio ambiente, espécies vegetais resistentes, de rápido
crescimento, produtivas e apropriadas ao meio ambiente das regiões em questão.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
12.20. As agências das Nações Unidas, organizações internacionais e regionais,
organizações não-governamentais e agências bilaterais adequadas devem:
(a) Coordenar seus papéis no combate à degradação da terra e promover sistemas
de reflorestamento, silvicultura e manejo da terra nos países afetados;
(b) Apoiar atividades regionais e sub-regionais para o desenvolvimento e difusão
da tecnologia, o treinamento e a implementação de programas, com o objetivo de deter a
degradação das terras secas.
12.21. Os Governos nacionais interessados, as agências competentes das Nações Unidas e
as agências bilaterais devem fortalecer seu papel de coordenação das atividades de luta contra a
degradação das terras secas, a cargo de organizações intergovernamentais sub-regionais criadas
para tal fim, como o CILSS, a AISD, a CCDAM e a União do Magreb Árabe.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


12.22. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $6 bilhões de dólares, inclusive cerca
Agenda 21 - Global 129

de $3 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos


concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
12.23. Os Governos, no nível apropriado, e as comunidades locais, com o apoio das
organizações internacionais e regionais competentes, devem:
(a) Incorporar os conhecimentos autóctones relacionados a florestas, áreas
florestais, pastagens e vegetação natural às atividades de pesquisa sobre desertificação e seca;
(b) Promover programas integrados de pesquisa sobre proteção, restauração e
conservação dos recursos hídricos e de terras e sobre o manejo do uso da terra apoiados em
abordagens tradicionais, sempre que possível.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
12.24. Os Governos, no nível apropriado, e as comunidades locais, com o apoio das
organizações internacionais e regionais competentes, devem:
(a) Estabelecer mecanismos que garantam que os usuários da terra, em especial as
mulheres, sejam os principais atores na implementação do uso aperfeiçoado da terra, inclusive de
sistemas de agro-silvicultura, no combate à degradação da terra;
(b) Promover serviços de extensão eficientes em áreas propensas a desertificação e
seca, em especial no treinamento de agricultores e criadores para um melhor manejo da terra e
dos recursos hídricos nas terras secas.
(d) Fortalecimento institucional
12.25. Os Governos, no nível apropriado, e as comunidades locais, com o apoio das
organizações internacionais e regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver e adotar, por meio de legislações nacionais adequadas, e
introduzir institucionalmente, novas políticas de uso da terra orientadas para o desenvolvimento e
que sejam ambientalmente saudáveis;
(b) Apoiar organizações populares baseadas na comunidade, especialmente
organizações de agricultores e criadores.

C. Desenvolvimento e fortalecimento de programas de desenvolvimento integrado para a


erradicação da pobreza e a promoção de sistemas alternativos de subsistência em áreas
propensas à desertificação

Base para a ação

12.26. Nas áreas propensas à desertificação e à seca os sistemas vigentes de subsistência e


utilização dos recursos não têm condições de manter padrões de vida adequados. Na maioria das
regiões áridas e semi-áridas os sistemas tradicionais de subsistência, baseados em sistemas
agropastoris, freqüentemente são inadequados e insustentáveis, sobretudo diante dos efeitos da
seca e da pressão demográfica crescente. A pobreza é um fator preponderante na aceleração do
ritmo da degradação e da desertificação. Em decorrência, é necessário adotar medidas que
permitam reabilitar e melhorar os sistemas agropastoris, com vistas a obter um manejo
sustentável das pastagens e sistemas alternativos de subsistência.

Objetivos
Agenda 21 - Global 130

12.27. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Criar, entre as comunidades das pequenas cidades rurais e os grupos pastoris,
condições de que assumam seu desenvolvimento e o manejo de seus recursos terrestres sobre
uma base socialmente eqüitativa e ecologicamente saudável;
(b) Melhorar os sistemas produtivos com vistas a obter maior produtividade no
âmbito dos programas já aprovados de conservação dos recursos nacionais e dentro de uma
abordagem integrada do desenvolvimento rural;
(c) Oferecer oportunidades para a adoção de outros modos de subsistência como
elemento para reduzir a pressão sobre os recursos terrestres e ao mesmo tempo oferecer fontes
adicionais de renda, em especial para as populações rurais -- em decorrência melhorando seu
padrão de vida.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


12.28. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Adotar políticas a nível nacional voltadas para uma abordagem descentralizada
do manejo dos recursos terrestres, delegando responsabilidade às organizações rurais;
(b) Criar ou fortalecer organizações rurais encarregadas do manejo das terras das
vilas e das áreas de pastoreio;
(c) Estabelecer e desenvolver mecanismos locais, nacionais e intersetoriais para
lidar com as conseqüências, tanto para o meio ambiente como para o desenvolvimento, da
ocupação da terra expressa em termos de uso da terra e propriedade da terra. Especial atenção
deve ser dedicada à proteção dos direitos de propriedade das mulheres e dos grupos pastoris e
nômades que vivem nessas áreas;
(d) Criar ou fortalecer associações a nível de vila centradas nas atividades
econômicas de interesse comum para os pastores (horticultura com fins comerciais,
transformação de produtos agrícolas, pecuária, pastoreio, etc.);
(e) Promover o crédito rural e a mobilização da poupança rural por meio do
estabelecimento de sistemas bancários rurais;
(f) Desenvolver infra-estrutura, bem como capacidade local de produção e
comercialização, por meio do envolvimento da população local na promoção de sistemas
alternativos de subsistência e mitigação da pobreza;
(g) Estabelecer um fundo rotativo de crédito para empresários rurais e grupos
locais com o objetivo de facilitar o estabelecimento de indústrias e empresas comerciais
familiares e a concessão de crédito para aplicação em atividades agropastoris.
(b) Dados e informações
12.29. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver estudos sócio-econômicos de referência para obter uma boa
compreensão da situação nesta área de programas, com respeito, especialmente, a questões
ligadas a recursos e ocupação da terra, práticas tradicionais de manejo da terra e características
dos sistemas de produção;
(b) Preparar um inventário dos recursos naturais (solo, água e vegetação) e de seu
estado de degradação apoiado basicamente nos conhecimentos da população local (por exemplo,
Agenda 21 - Global 131

rápida avaliação das áreas rurais);


(c) Difundir informações sobre pacotes técnicos adaptados às condições sociais,
econômicas e ecológicas específicas;
(d) Promover o intercâmbio e a partilha de informações relativas ao
desenvolvimento de meios alternativos de subsistência com outras regiões agro-ecológicas.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
12.30. Os Governos, no nível apropriado e com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Promover a cooperação e o intercâmbio de informações entre as instituições de
pesquisa de terras áridas e semi-áridas a respeito de técnicas e tecnologias capazes de aumentar a
produtividade da terra e do trabalho, bem como sobre sistemas viáveis de produção;
(b) Coordenar e harmonizar a implementação de programas e projetos financiados
pela comunidade de organizações internacionais e as organizações não-governamentais voltadas
para a mitigação da pobreza e a promoção de um sistema alternativo de subsistência.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


12.31. O Secretariado da Conferência estimou os custos desta área de programas no
capítulo 3 ("O Combate à Pobreza") e no capítulo 14 ("Promoção do desenvolvimento rural e
agrícola sustentável").
12.32. Os Governos, no nível apropriado, e com o apoio das organizações internacionais
e regionais pertinentes, devem:
(a) Empreender pesquisas aplicadas sobre o uso da terra com o apoio das
instituições locais de pesquisa;
(b) Facilitar a comunicação e o intercâmbio regular de informações e experiências,
nos planos nacional, regional e interregional, entre os funcionários de extensão e pesquisadores;
(c) Apoiar e estimular a introdução e o uso de tecnologias para a geração de fontes
alternativas de rendimentos.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
12.33. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(b) Treinar agentes e funcionários da extensão nas técnicas de participação da
comunidade no manejo integrado da terra.
(d) Fortalecimento institucional
12.34. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem estabelecer e manter mecanismos que garantam a inclusão, nos
planos e programas setoriais e nacionais de desenvolvimento, de estratégias voltadas para a
mitigação da pobreza entre os habitantes de regiões propensas à desertificação.

D. Desenvolvimento de programas abrangentes de anti-desertificação e sua integração aos


planos nacionais de desenvolvimento e ao planejamento ambiental nacional

Base para a ação

12.35. Em vários países em desenvolvimento atingidos pela desertificação, o processo de


desenvolvimento depende principalmente da base de recursos naturais. A interação entre sistemas
Agenda 21 - Global 132

sociais e recursos terrestres torna o problema ainda muito mais complexo, fazendo-se necessária
uma abordagem integrada do planejamento e do manejo dos recursos terrestres. Os planos de
ação voltados para o combate à desertificação e à seca devem incluir aspectos de manejo do meio
ambiente e do desenvolvimento, adotando assim a abordagem integrada dos planos nacionais de
desenvolvimento e dos planos nacionais de ação para o meio ambiente.

Objetivos

12.36. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Fortalecer a capacidade das instituições nacionais para desenvolver programas
apropriados de anti-desertificação e integrá-los ao planejamento nacional do desenvolvimento;
(b) Desenvolver e integrar aos planos nacionais de desenvolvimento estruturas
estratégicas de planejamento para o desenvolvimento, proteção e manejo dos recursos naturais
das áreas de terras secas, inclusive planos nacionais de combate à desertificação e planos de ação
para o meio ambiente nos países mais propensos à desertificação;
(c) Dar início a um processo de longo prazo para implementar e monitorar
estratégias relacionadas ao manejo dos recursos naturais;
(d) Intensificar a cooperação regional e internacional para o combate à
desertificação por meio, inter alia, da adoção de instrumentos legais e outros.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


12.37. Os Governos, no nível apropriado, e com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Estabelecer ou fortalecer autoridades nacionais e locais anti-desertificação no
interior do Governo e dos órgãos executivos, bem como nos comitês/associações locais de
usuários da terra, em todas as comunidades rurais afetadas, com vistas a organizar a cooperação
ativa entre todos os atores envolvidos, do plano mais básico (agricultores e criadores) ao plano
mais elevado do Governo;
(b) Desenvolver planos nacionais de ação para combater a desertificação e,
quando apropriado, torná-los parte integrante dos planos nacionais de desenvolvimento e dos
planos nacionais de ação ambiental;
(c) Implementar políticas voltadas para a melhoria do uso da terra, o manejo
apropriado de terras comuns, o fornecimento de incentivos a pequenos agricultores e criadores, a
participação das mulheres e o estímulo ao investimento privado no desenvolvimento das terras
secas;
(d) Assegurar a coordenação entre os ministérios e as instituições ativas em
programas de anti-desertificação nos planos nacional e local.
(b) Dados e informações
12.38. Os Governos, no nível apropriado e com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem promover o intercâmbio de informações e a cooperação entre os
países atingidos com respeito ao planejamento e à programação nacionais, inter alia por meio de
sistemas de redes de informação.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
12.39. As organizações internacionais, as instituições financeiras multilaterais, as
organizações não-governamentais e as agências bilaterais pertinentes devem fortalecer sua
Agenda 21 - Global 133

cooperação na assistência à preparação de programas de controle da desertificação e sua


integração às estratégias nacionais de planejamento, estabelecimento de um mecanismo nacional
de coordenação e observação sistemática e estabelecimento de redes regionais e mundiais de tais
planos e mecanismos.
12.40. Deve-se solicitar à Assembléia Geral das Nações Unidas, por ocasião de sua
quadragésima-sétima sessão, que estabeleça, sob a égide da Assembléia Geral, um comitê
intergovernamental de negociações para a elaboração de uma convenção internacional para
combater a desertificação nos países com sérios problemas de seca e/ou desertificação,
particularmente na África, com vistas a finalizar tal convenção até junho de 1994.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


12.41. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $180 milhões de dólares, inclusive
cerca de $90 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
12.42. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais relevantes, devem:
(a) Desenvolver e introduzir tecnologias agrícolas e pastoris melhoradas,
adequadas, social e ambientalmente aceitáveis e economicamente viáveis;
(b) Desenvolver estudos aplicados sobre a integração das atividades voltadas para
o meio ambiente e o desenvolvimento aos planos nacionais de desenvolvimento.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
12.43. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem empreender, nos países afetados, grandes campanhas nacionais de
conscientização/treinamento diante da necessidade de combate à desertificação. Para tal, devem
ser utilizados os meios de informação de massa disponíveis no país, as redes educacionais e os
serviços de extensão recém-criados ou fortalecidos. Tal iniciativa permitirá que as pessoas
tenham acesso ao conhecimento sobre a desertificação e à seca, bem como aos planos nacionais
de ação destinados a combater a desertificação.
(d) Fortalecimento institucional
12.44. Os Governos, no nível apropriado e com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem estabelecer e manter mecanismos que garantam a coordenação
entre os ministérios e instituições setoriais, inclusive de instituições de alcance local e
organizações não-governamentais condizentes, na integração dos programas de combate à
desertificação aos planos nacionais de desenvolvimento e aos planos nacionais de ação sobre o
meio ambiente.

E. Desenvolvimento de planos abrangentes de preparação para a seca e de esquemas para a


mitigação dos resultados da seca, que incluam dispositivos de auto-ajuda para as áreas
propensas à seca e preparem programas voltados para enfrentar o problema dos refugiados
ambientais
Agenda 21 - Global 134

Base para a ação

12.45. A seca, com diferentes graus de freqüência e gravidade, é um fenômeno recorrente


que atinge boa parte do mundo em desenvolvimento, especialmente a África. Além das vítimas
humanas -- calcula-se que em meados da década de 1980 cerca de 3 milhões de pessoas
morreram na África sub-saariana em decorrência da seca --, os custos econômicos dos desastres
relacionados às secas também apresentam uma conta alta em termos de perda de produção, mau
aproveitamento de insumos e desvio de recursos destinados ao desenvolvimento.
12.46. Os sistemas de pronto alerta na previsão de secas possibilitarão que se
implementem planos de emergência para o caso de ocorrerem secas. Com pacotes integrados no
nível de exploração agrícola ou de bacia hidrográfica, como por exemplo estratégias alternativas
de cultivo, conservação do solo e da água e promoção de técnicas de captação da água, seria
possível aumentar a capacidade de resistência da terra à seca e atender às necessidades básicas,
minimizando assim o número de refugiados ambientais e a necessidade de atendimento de
emergência para a seca. Ao mesmo tempo, são necessários dispositivos de emergência para o
atendimento durante os períodos de grande escassez.

Objetivos

12.47. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Desenvolver estratégias nacionais de prontidão para a seca tanto para uma
hipótese de curto prazo como de longo prazo, voltadas para a redução da vulnerabilidade dos
sistemas de produção à seca;
(b) Intensificar o fluxo de informações de pronto alerta para as pessoas em posição
de tomar decisões e os usuários da terra, com o objetivo de permitir que as nações adotem
estratégias de intervenção para épocas de seca;
(c) Desenvolver dispositivos de atendimento para épocas de seca e maneiras de
fazer frente ao problema dos refugiados ambientais e integrar esses dispositivos aos planos
nacionais e regionais de desenvolvimento.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


12.48. Nas áreas propensas a secas, os Governos, no nível apropriado, com o apoio das
organizações internacionais e regionais competentes, devem:
(a) Elaborar estratégias para lidar com as deficiências nacionais de alimento nos
períodos de queda da produção. Essas estratégias devem lidar com questões de armazenagem e
estoques, importações, instalações portuárias e armazenagem, transporte, e distribuição de
alimentos;
(b) Aumentar a capacidade nacional e regional em matéria de agrometeorologia e
planejamento de emergência para a lavoura. A agrometeorologia vincula a freqüência, o conteúdo
e o alcance regional das previsões meteorológicas aos requisitos do planejamento da lavoura e da
extensão agrícola;
(c) Preparar projetos rurais para criar empregos de curto prazo na zona rural para
famílias afetadas pela seca. A perda do rendimento e do acesso ao alimento são fontes freqüentes
de perturbação em épocas de seca. As obras rurais contribuem para gerar o rendimento necessário
Agenda 21 - Global 135

para a aquisição de alimentos para as famílias pobres;


(d) Estabelecer dispositivos de emergência, sempre que necessário, para
distribuição de alimentos e forragem, bem como abastecimento de água;
(e) Estabelecer mecanismos orçamentários para o fornecimento imediato de
recursos para o atendimento de uma situação de seca;
(f) Estabelecer redes de segurança para as famílias mais vulneráveis.
(b) Dados e informações
12.49. Os Governos dos países afetados, no nível apropriado, com o apoio das
organizações internacionais e regionais competentes, devem:
(a) Implementar pesquisas sobre previsões meteorológicas com o objetivo de
aperfeiçoar o planejamento de emergência e as operações de socorro e permitir a adoção de
medidas preventivas no nível da exploração agrícola, como por exemplo a seleção de variedades
e práticas agrícolas apropriadas em tempos de seca;
(b) Apoiar a pesquisa aplicada sobre formas de reduzir a perda da água do solo,
formas de aumentar a capacidade de absorção de água pelo solo e técnicas de captação de água
em regiões propensas a secas;
(c) Fortalecer os sistemas nacionais de pronto alerta, com ênfase especial nas áreas
de mapeamento dos riscos, sensoriamento remoto, construção de modelos agrometeorológicos,
técnicas multidisciplinares integradas de prognóstico para a lavoura e análise computadorizada da
oferta/demanda de alimentos.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
12.50. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Estabelecer um sistema de reserva de prontidão em termos de estoque de
alimentos, apoio logístico, pessoal e finanças para um rápido atendimento internacional em
emergências relacionadas a secas;
(b) Apoiar os programas da Organização Meteorológica Mundial (OMM) nas
áreas de agro-hidrologia e agrometeorologia, o Programa do Centro Regional de Formação e
Aplicação em Agrometeorologia e Hidrologia Operacional (AGRHYMET), os centros de
monitoramento de secas e o Centro Africano de aplicações Meteorológicas para o
Desenvolvimento (ACMAD), bem como os esforços do Comitê Interestadual Permanente de
Luta Contra a Seca no Sael (CILSS) e da Autoridade Intergovernamental de assuntos
relacionados com a seca e o desenvolvimento;
(c) Apoiar os programas da FAO e outros programas voltados para o
desenvolvimento de sistemas nacionais de pronto alerta e dispositivos nacionais de assistência à
segurança alimentar;

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


12.51. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação da atividades deste programa em cerca de $1,2 bilhão de dólares, inclusive cerca
de $1,1 bilhão de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não
concessionanis, dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos
decidam adotar para a implementação.
Agenda 21 - Global 136

12.52. Os Governos, no nível apropriado, e as comunidades propensas a secas, com o


apoio das organizações internacionais e regionais competentes, devem:
(a) Usar mecanismos tradicionais para fazer frente à fome como meio de canalizar
a assistência destinada ao socorro e ao desenvolvimento;
(b) Fortalecer e desenvolver pesquisas interdisciplinares nos planos nacional,
regional e local e os meios de treinamento para a aplicação de estratégias de prevenção da seca.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
12.53. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Promover o treinamento das pessoas em posição de tomar decisões e dos
usuários da terra para a utilização eficaz das informações providas pelos sistemas de pronto
alerta;
(b) Fortalecer as capacidades de pesquisa e treinamento nacional para avaliar os
impactos da seca e desenvolver metodologias de previsão da seca.
(d) Fortalecimento institucional
12.54. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais pertinentes, devem:
(a) Melhorar e manter mecanismos dotados de pessoal, equipamentos e recursos
financeiros suficientes para monitorar os parâmetros da seca e tomar medidas preventivas nos
planos regional, nacional e local;
(b) Estabelecer vínculos interministeriais e unidades de coordenação para
monitoramento da seca, avaliação de seus efeitos e manejo dos dispositivos de atendimento em
caso de seca.

F. Estímulo e promoção da participação popular e da educação sobre a questão do meio


ambiente centradas no controle da desertificação e no manejo dos efeitos da seca

Base para a ação

12.55. A experiência adquirida até a presente data acerca dos êxitos e fracassos dos
programas e projetos aponta para a necessidade de apoio popular para as atividades relacionadas
ao controle da desertificação e da seca. É necessário, no entanto, ir além do ideal teórico da
participação popular para concentrar esforços na obtenção de um envolvimento popular concreto
e ativo, calcado no conceito de parceria. Isso implica a partilha de responsabilidades e o
envolvimento de todas as partes. Nesse contexto, esta área de programas deve ser considerada um
componente essencial de apoio para todas as atividades relacionadas ao controle da desertificação
e da seca.

Objetivos

12.56. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Desenvolver e aumentar a consciência e os conhecimentos do público em torno
da desertificação e da seca, inclusive introduzindo a educação ambiental nos currículos das
escolas primárias e secundárias;
(b) Estabelecer e promover uma parceria efetiva entre as autoridades
governamentais, tanto no plano nacional como local, outras agências executivas, organizações
não-governamentais e usuários da terra atingidos pela seca e a desertificação, dando aos usuários
Agenda 21 - Global 137

da terra um papel responsável nos processos de planejamento e execução, com o objetivo de que
decorram plenos benefícios dos processos de desenvolvimento;
(c) Garantir que os parceiros compreendam as necessidades, objetivos e pontos de
vista recíprocos pondo a sua disposição uma série de meios, como treinamento, sensibilização da
opinião pública e diálogo aberto;
(d) Apoiar as comunidades locais em seus próprios esforços para combater a
desertificação, e valer-se dos conhecimentos e da experiência das populações atingidas,
garantindo participação plena para as mulheres e populações indígenas.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


12.57. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Adotar políticas e estabelecer estruturas administrativas para um processo de
tomada de decisões mais descentralizado e uma implementação igualmente mais descentralizada;
(b) Estabelecer e utilizar mecanismos para a consulta e a participação dos usuários
da terra e para aumentar sua capacidade -- desde o plano mais elementar do processo -- de
identificar e/ou contribuir para a identificação e o planejamento da ação;
(c) Definir os objetivos específicos dos programas/projetos em cooperação com as
comunidades locais; elaborar planos locais de manejo que permitam medir os avanços feitos,
permitindo assim que se conte com um meio para modificar o conceito geral do projeto ou as
práticas de manejo, conforme apropriado;
(d) Introduzir medidas legislativas, institucionais/organizativas e financeiras que
garantam a participação do usuário e seu acesso aos recursos terrestres;
(e) Estabelecer e/ou ampliar condições favoráveis para a prestação de serviços
como sistemas de crédito e centros de comercialização para as populações rurais;
(f) Desenvolver programas de treinamento para elevar o nível da educação e da
participação das pessoas, especialmente das mulheres e dos grupos indígenas, por meio, inter alia,
da alfabetização e do desenvolvimento de especialidades técnicas;
(g) Criar sistemas bancários nas zonas rurais para facilitar o acesso ao crédito para
as populações rurais, em especial de mulheres e grupos indígenas, e para promover a poupança na
área rural;
(h) Adotar políticas apropriadas ao estímulo do investimento público e privado.
(b) Dados e informações
12.58. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Examinar, desenvolver e difundir informações com especificação de gênero e
conhecimentos práticos e técnicos em todos os níveis sobre as formas de organizar e promover a
participação popular;
(b) Acelerar o desenvolvimento de conhecimentos técnico-científicos em
tecnologia, sobretudo tecnologia apropriada e intermediária;
(c) Difundir os conhecimentos decorrentes da pesquisa aplicada na área de solos e
recursos hídricos, espécies adequadas, técnicas agrícolas e conhecimentos técnicos-científicos
tecnológicos.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
12.59. Os Governos, no nível apropriado, e com o apoio das organizações internacionais e
Agenda 21 - Global 138

regionais competentes, devem:


(a) Desenvolver programas de apoio a organizações regionais como o CILSS, a
Autoridade Intergovernamental de assuntos relacionados com a seca e o desenvolvimento, a
Conferência de Coordenação do Desenvolvimento da África Meridional (SADCC), a União do
Magreb Árabe e outras organizações intergovernamentais da África e de outras partes do mundo
para consolidar os programas de divulgação e aumentar a participação das organizações não-
governamentais, juntamente com as populações rurais;
(b) Desenvolver mecanismos que facilitem a cooperação tecnológica e promovam
tal cooperação como elemento de toda assistência externa e das atividades relacionadas a projetos
de assistência técnica, tanto no setor público como no setor privado;
(c) Promover a colaboração entre os diferentes atores dos programas voltados para
meio ambiente e desenvolvimento;
(d) Estimular o surgimento de estruturas organizacionais representativas para
promover e manter a cooperação entre as organizações.
(a) Financiamento e estimativa de custos
12.60. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $1,0 bilhão de dólares, inclusive cerca
de $500 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
12.61. Os Governos, no nível apropriado e com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem promover o desenvolvimento de conhecimentos técnico-científicos
autóctones e a transferência de tecnologia.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
12.62. Os Governos, no nível apropriado, e com o apoio das organizações internacionais
e regionais competentes, devem:
(a) Apoiar e/ou fortalecer as instituições envolvidas com a instrução pública,
inclusive dos meios de informação locais, escolas e grupos comunitários;
(b) Aumentar o nível da instrução pública.
(d) Fortalecimento institucional
12.63. Os Governos, no nível apropriado, e com o apoio das organizações internacionais
e regionais competentes, devem promover os membros das organizações rurais locais e treinar e
nomear um maior número de funcionários de extensão trabalhando a nível local.
Agenda 21 - Global 139

Capítulo 13

GERENCIAMENTO DE ECOSSISTEMAS FRÁGEIS: DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL DAS MONTANHAS

Introdução

13.1. As montanhas são uma fonte importante de água, energia e diversidade biológica.
Além disso, fornecem recursos fundamentais -- como minérios, produtos florestais e produtos
agrícolas -- e são fonte de lazer. Enquanto importante ecossistema que representa a ecologia
complexa e inter-relacionada de nosso planeta, os ambientes montanhosos são essenciais para a
sobrevivência do ecossistema mundial. No entanto os ecossistemas das montanhas estão
passando por uma rápida mutação. Eles são vulneráveis à erosão acelerada do solo, deslizamentos
de terras e rápida perda da diversidade genética e de habitat. No que diz respeito ao homem,
verifica-se um estado generalizado de pobreza entre os habitantes das montanhas e a perda do
conhecimento autóctone. O resultado é que a maior parte das áreas montanhosas do mundo estão
experimentando degradação ambiental. Em decorrência, o gerenciamento adequado dos recursos
montanhescos e o desenvolvimento sócio-econômico das pessoas exigem ação imediata.
13.2. Cerca de 10 por cento da população do mundo depende dos recursos montanhescos.
Uma porcentagem muito maior utiliza outros recursos oferecidos pelas montanhas, inclusive -- e
principalmente -- água. As montanhas são um reservatório de diversidade biológica e espécies
ameaçadas de extinção.
13.3. Duas áreas de programas estão incluídas neste capítulo, com o objetivo de
aprofundar o exame da questão dos ecossistemas frágeis no que se refere a todas as montanhas do
mundo. Essas duas áreas de programas são as seguintes:
(a) Geração e fortalecimento dos conhecimentos relativos à ecologia e ao
desenvolvimento sustentável dos ecossistemas das montanhas;
(b) Promoção do desenvolvimento integrado das bacias hidrográficas e de meios
alternativos de subsistência.

Áreas de Programas

A. Geração e fortalecimento dos conhecimentos relativos à ecologia e ao


desenvolvimento sustentável dos ecossistemas das montanhas

Bases para a ação

13.4. As montanhas são extremamente vulneráveis ao desequilíbrio ecológico, tanto


natural como provocado pelo homem. As montanhas são as áreas mais sensíveis a toda e
qualquer mudança do clima da atmosfera. É fundamental haver informações específicas sobre sua
ecologia, seu potencial de recursos naturais e suas atividades sócio-econômicas. As montanhas e
suas encostas apresentam grande variedade de sistemas ecológicos; devido a suas dimensões
verticais, as montanhas criam gradientes de temperatura, precipitação e insolação. Uma
determinada encosta pode reunir diversos sistemas climáticos -- como tropical, subtropical,
temperado e alpino --, cada um representando um microcosmo de uma diversidade ainda mais
ampla de habitat. Não obstante, verifica-se uma carência de conhecimentos acerca dos
Agenda 21 - Global 140

ecossistemas das montanhas. A criação de uma base de dados mundial sobre montanhas é,
portanto, fundamental para a implementação de programas que contribuam para o
desenvolvimento sustentável dos ecossistemas das montanhas.

Objetivos

13.5. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Empreender um estudo dos diferentes tipos de solos, florestas, usos da água,
plantio e recursos animais e vegetais dos ecossistemas das montanhas, levando em conta o
trabalho das organizações internacionais e regionais existentes;
(b) Manter e gerar bases de dados e sistemas de informações para facilitar o
gerenciamento integrado e a avaliação ambiental dos ecossistemas de montanhas, levando em
conta o trabalho das organizações internacionais e regionais existentes;
(c) Melhorar e implementar a atual base de conhecimentos ecológicos sobre
terra/água no que diz respeito a tecnologias e práticas agrícolas e de conservação nas regiões
montanhosas do mundo, com a participação das comunidades locais;
(d) Criar e fortalecer redes de comunicações e centros de difusão de informações
para atender organizações que atualmente se ocupem de questões relativas a montanhas;
(e) Melhorar a coordenação dos esforços regionais para proteger os ecossistemas
frágeis das montanhas através da consideração de mecanismos adequados, inclusive instrumentos
jurídicos regionais e outros instrumentos;
(f) Gerar informações pra o estabelecimento de bases de dados e sistemas de
informação que facilitem a avaliação dos riscos ambientais e dos efeitos dos desastres naturais
nos ecossistemas das montanhas.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a gerenciamento


13.6. Os governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Fortalecer as instituições existentes atualmente ou criar outras novas nos
planos local, nacional e regional, com o objetivo de gerar uma base multidisciplinar de
conhecimentos ecológicos sobre as terras e as águas dos ecossistemas de montanha;
(b) Promover políticas nacionais que ofereçam incentivos às populações locais
para o uso e transferência de tecnologias inócuas para o meio ambiente, bem como de práticas de
cultivo e conservação;
(c) Ampliar a base de conhecimentos e a compreensão criando mecanismos de
cooperação e intercâmbio de informações entre instituições nacionais e regionais voltadas para os
ecossistemas frágeis;
(d) Estimular políticas que ofereçam incentivos aos agricultores e às populações
locais para que apliquem medidas de conservação e recuperação;
(e) Diversificar as economias das montanhas, entre outras coisas através da
criação e/ou fortalecimento do turismo, em harmonia com o gerenciamento integrado das áreas
montanhosas;
(f) Integrar todas as atividades relacionadas a florestas, pastagens e fauna e flora
silvestres de forma a manter ecossistemas de montanha específicos;
(g) Estabelecer reservas naturais apropriadas em locais e regiões ricos em espécies
Agenda 21 - Global 141

representativas.
(b) Dados e informações
13.7. Os governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Manter e estabelecer análises e capacidades de monitoramento nas áreas
meteorológica, hidrológica e física abarcando a diversidade climática e a distribuição hídrica das
diversas regiões montanhosas do mundo;
(b) Preparar um inventário das diferentes formas de solo, floresta, uso da água,
cultivo e recursos genéticos vegetais e animais, dando prioridade aos que estejam sob ameaça de
extinção. Os recursos genéticos devem ser protegidos in situ através da manutenção e criação de
áreas protegidas, do aperfeiçoamento das técnicas tradicionais de cultivo e criação de animais, e
da criação de programas de avaliação do valor potencial dos recursos;
(c) Identificar áreas nevrálgicas que se mostrem particularmente vulneráveis à
erosão, inundações, deslizamentos, terremotos, avalanches de neve e outros acidentes naturais;
(d) Identificar áreas montanhosas ameaçadas pela poluição atmosférica das áreas
industriais e urbanas próximas.
(c) Cooperação nos planos internacional e regional
13.8. Os governos nacionais e as organizações intergovernamentais devem:
(a) Coordenar a cooperação regional e internacional e facilitar um intercâmbio de
informações e experiências entre as agências especializadas, o Banco Mundial, o FIDA e outras
organizações internacionais e regionais, governos nacionais, instituições de pesquisa e
organizações não-governamentais voltados para o desenvolvimento das áreas montanhosas;
(b) Estimular a coordenação, nos planos regional, nacional e internacional, das
iniciativas populares e das atividades das organizações não-governamentais internacionais,
regionais e locais voltadas para o desenvolvimento das áreas montanhosas, como a Universidade
das Nações Unidas, o Woodland Mountain Institutes (WMI), o Centro Internacional para o
Desenvolvimento Integrado das Montanhas (ICIMOD), a International Mountain Society (IMS),
a Associação Africana para a Proteção das Montanhas e a Associação Andina para a Proteção das
Montanhas, bem como apoiar essas organizações no intercâmbio de informações e experiências;
(c) Proteger os Ecossistemas Montanhosos Frágeis através da consideração de
mecanismos adequados que incluam instrumentos jurídicos regionais e outros.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


O secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $50 milhões de dólares a serem
providos pela comunidade internacional sob a forma de subvenções ou concessões. Estas são
estimativas exclusivamente indicativas e aproximadas, não examinadas pelos governos. Os custos
reais e as especificações financeiras, inclusive as não concessórias, dependerão, entre outras
coisas, das estratégias e programas específicos que os governos decidam adotar.
(b) Meios científicos e tecnológicos
13.10. Os governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem fortalecer os programas de pesquisa científica e o desenvolvimento
tecnológico, inclusive sua divulgação através das instituições nacionais e regionais,
especialmente nas áreas de meteorologia, hidrologia, silvicultura, ciências do solo e ciências das
plantas.
Agenda 21 - Global 142

(c) Desenvolvimento dos recursos humanos


13.11. Os governos, no nível apropriado e com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem;
(a) Lançar programas de treinamento e extensão sobre tecnologias e práticas
ambientalmente adequadas que se mostrassem condizentes com os ecossistemas das montanhas;
(b) Apoiar a instrução superior através da concessão de bolsas de estudo e
subsídios para a pesquisa favorecendo os estudos ambientais sobre áreas montanhosas e
onduladas, em especial para candidatos pertencentes a populações nativas das montanhas;
(c) Oferecer instrução ambiental aos agricultores, em especial às mulheres, com o
objetivo de ajudar a população rural a entender melhor as questões ecológicas relativas ao
desenvolvimento sustentável dos ecossistemas montanhosos.
(d) Capacitação
13.12. Os governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem criar bases institucionais nacionais e regionais capazes de
empreender pesquisas, oferecer treinamento e difundir informações sobre o desenvolvimento
sustentável das economias dos ecossistemas frágeis.

B. Promoção do desenvolvimento integrado das bacias hidrográficas e de meios alternativos


de subsistência

Bases para a ação

13.13. Cerca de metade da população do mundo se vê afetada de diversas maneiras pela


ecologia das montanhas e a degradação das regiões de bacias hidrográficas. Cerca de 10 por
cento da população do mundo vivem em áreas montanhosas de altas encostas, enquanto cerca de
40 por cento ocupam as áreas adjacentes às bacias baixas e médias. Essas áreas próximas a bacias
apresentam sérios problemas de deterioração ecológica. Por exemplo, nas áreas de encosta dos
países andinos da América do Sul uma grande parte da população que se dedica à agricultura
defronta-se com uma rápida deterioração dos recursos terrestres. Similarmente, as áreas
montanhosas e regiões elevadas do Himalaia, o sudeste asiático e a África do leste e central, que
contribuem de forma marcante para a produção agrícola, vêem-se ameaçadas pelo cultivo de
terras marginais devido à expansão da população. Em muitas áreas esse fato é agravado pelo
excesso de ruminantes nas pastagens, pelo desflorestamento e pela perda da cobertura de
biomassa.
13.14. A erosão do solo pode ter um efeito devastador sobre uma imensa quantidade de
pessoas que vivem na área rural -- pessoas que dependem da agricultura irrigada pela chuva tanto
em áreas montanhosas como em encostas. A pobreza, o desemprego, a doença e as deficiências
sanitárias estão por toda parte. A promoção de programas integrados em prol do desenvolvimento
das bacias hidrográficas com a participação efetiva da população local é uma maneira de impedir
o aumento do desequilíbrio ecológico. É indispensável uma abordagem integrada para a
conservação, melhora e aproveitamento da base de recursos naturais de terras, águas, plantas,
animais e recursos humanos. Além disso, a promoção de formas alternativas de subsistência,
particularmente através do desenvolvimento de planos de emprego que aumentem a base
produtiva, contribuirá significativamente para a melhoria do nível de vida da grande população
rural que vive em ecossistemas de montanha.

Objetivos
Agenda 21 - Global 143

13.15. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Até o ano 2000, desenvolver sistemas adequados de planejamento e
gerenciamento do uso da terra, tanto para terras aráveis como não aráveis, nas áreas montanhosas
próximas a bacias fluviais, com o objetivo de impedir a erosão do solo, aumentar a produção de
biomassa e manter o equilíbrio ecológico;
(b) Promover atividades geradoras de rendimentos, como o turismo e a pesca
sustentáveis e a mineração ambientalmente saudável, e melhorar os serviços sociais e de infra-
estrutura, em especial para proteger os meios de subsistência das comunidades locais e dos
populações indígenas;
(c) Elaborar dispositivos técnicos e institucionais para os países afetados, com o
objetivo de mitigar os efeitos dos desastres naturais através de medidas preventivas, do
zoneamento das áreas de risco, de sistemas de pronto alerta, de planos de evacuação e da criação
de fundos de emergência.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a gerenciamento


13.16. Os governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Adotar medidas para evitar a erosão do solo e promover, em todos os setores,
atividades destinadas a controlar a erosão;
(b) Estabelecer grupos de trabalho ou comitês para o desenvolvimento das bacias
hidrográficas que venham complementar as instituições existentes na coordenação dos serviços
integrados de apoio às iniciativas locais voltadas para a pecuária, a silvicultura, a horticultura e o
desenvolvimento rural em todos os níveis administrativos;
(c) Estimular a participação popular no gerenciamento dos recursos locais através
de uma legislação apropriada;
(d) Apoiar as organizações não-governamentais e outros grupos privados que
contribuam com as organizações e comunidades locais na preparação de projetos que propiciem o
desenvolvimento participativo dos habitantes locais;
(e) Criar mecanismos que preservem as áreas ameaçadas que tenham condições de
proteger a flora e a fauna silvestres, conservar a diversidade biológica ou funcionar como parques
nacionais;
(f) Desenvolver políticas nacionais que ofereçam incentivos a agricultores e
habitantes locais para que esses adotem medidas de conservação e utilizem tecnologias inócuas
para o meio ambiente;
(g) Empreender atividades geradoras de rendimentos em indústrias familiares e de
processamento agrícola, como o cultivo e processamento de plantas medicinais e aromáticas;
(h) Realizar as atividades acima, levando em conta a necessidade de que o
desenvolvimento conte com a plena participação das mulheres, dos populações indígenas e das
comunidades locais.
(b) Dados e informações
13.17. Os governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Manter e estabelecer instalações que permitam a observação e a avaliação
sistemáticas nos níveis nacional, estadual ou provincial, para gerar informações utilizadas nas
Agenda 21 - Global 144

operações cotidianas e avaliar os impactos ambientais e sócio-econômicos dos projetos;


(b) Gerar informações sobre meios alternativos de subsistência e sistemas
diversificados de produção no nível de povoado, versando sobre cultivos anuais e de árvores,
pecuária, avicultura, apicultura, pesca, indústrias locais, mercados, transportes e oportunidades de
fontes de rendimentos, levando plenamente em conta o papel da mulher e sua integração ao
processo de planejamento e implementação.
(c) Cooperação nos planos internacional e regional
13.18. Os governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Fortalecer o papel dos institutos internacionais de pesquisa e treinamento
adequados, como o Grupo Consultivo sobre Pesquisa Agrícola Internacional (GCPAI) e a
International Board for Soil Research and Management (IBSAM), bem como de centros regionais
de pesquisa, como os Woodland Mountain Institutes e o Centro Internacional para o
Desenvolvimento Integrado das Montanhas, na realização de pesquisas aplicadas que contribuam
para o desenvolvimento das bacias hidrográficas;
(b) Promover a cooperação regional e o intercâmbio de dados e informações entre
países que partilhem cadeias montanhosas e bacias fluviais, especialmente os que se vêem
afetados por desastres nas montanhas e inundações;
(c) Manter e estabelecer parcerias com organizações não-governamentais e outros
grupos privados cuja ação se volte para o desenvolvimento das bacias hidrográficas.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


13.19. O secretariado da Conferência estimou o custo total anual (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $13 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $1,9 bilhão a ser provido pela comunidade internacional sob a forma de subvenções ou
concessões. Estas são estimativas exclusivamente indicativas e aproximadas, não examinadas
pelos governos. Os custos reais e as especificações financeiras, inclusive as não concessórias,
dependerão, entre outras coisas, das estratégias e programas específicos que os governos decidam
adotar.
13.20. As subvenções para promoção de meios alternativos de subsistência em
ecossistemas de montanha devem ser consideradas parte do programa de combate à pobreza ou
da promoção de meios alternativos de subsistência de cada país, também discutido nos capítulos
3 ("O Combate à Pobreza") e 14 ("Promoção do desenvolvimento rural e agrícola sustentável")
da Agenda 21.
(b) Meios científicos e tecnológicos
13.21. Os governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Estudar a possibilidade de dar andamento a projetos pilotos que associem a
proteção ambiental ao desenvolvimento, com ênfase especial para alguns sistemas ou práticas
tradicionais de gerenciamento do meio ambiente que apresentem efeitos positivos sobre o meio
ambiente.
(b) Gerar tecnologias para situações específicas de bacias hidrográficas e
explorações agrícolas através de uma abordagem participativa que envolva homens e mulheres
locais, bem como pesquisadores e agentes de extensão que levem a cabo experiências e testes
sobre essas situações agrícolas;
Agenda 21 - Global 145

(c) Promover tecnologias de conservação da vegetação com vistas a prevenir a


erosão; de gerenciamento da umidade in situ; e de aperfeiçoamento das técnicas de cultivo,
produção de forragem e agro-silvicultura baratas, simples e facilmente adotáveis pelos habitantes
locais.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
13.22. Os governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Promover uma abordagem multidisciplinar e intersetorial do treinamento e da
difusão de conhecimentos para os habitantes locais sobre um amplo leque de questões, como
sistemas domésticos de produção, conservação e utilização de terras aráveis e não-aráveis,
tratamento de canais de drenagem e reposição de águas subterrâneas, gerenciamento da pecuária,
pesca, silvicultura e horticultura;
(b) Desenvolver os recursos humanos através do acesso à educação, à saúde, à
energia e à infra-estrutura;
(c) Promover a sensibilização e a preparação das populações locais para a
prevenção e mitigação de desastres e utilizar, ao mesmo tempo, as tecnologias de pronto alerta e
prognóstico mais recentes de que se disponha.
(d) Capacitação
13.23. Os governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem desenvolver e fortalecer centros nacionais de gerenciamento para
as bacias hidrográficas, com o objetivo de estimular uma abordagem abrangente dos aspectos
ambientais, sócio-econômicos, tecnológicos, legislativos, financeiros e administrativos e oferecer
apoio às pessoas em posição de definir políticas, aos administradores, ao pessoal de campo e aos
agricultores, com vistas à promoção do desenvolvimento das bacias hidrográficas.
13.24. O setor privado e as comunidades locais, em cooperação com os governos
nacionais, devem promover o desenvolvimento da infra-estrutura local, inclusive de redes de
comunicação e de projetos hidrelétricos em escala mínima ou pequena, com o objetivo de apoiar
indústrias familiares e o acesso aos mercados.
Agenda 21 - Global 146

Capítulo 14

PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO RURAL E AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL

Introdução

14.1. No ano 2025, 83 por cento da população mundial prevista, de 8,5 bilhões de
habitantes, estarão vivendo nos países em desenvolvimento. Não obstante, a capacidade de que os
recursos e tecnologias disponíveis satisfaçam às exigências de alimentos e outros produtos
agrícolas dessa população em crescimento permanece incerta. A agricultura vê-se diante da
necessidade de fazer frente a esse desafio, principalmente aumentando a produção das terras
atualmente exploradas e evitando a exaustão ainda maior de terras que só marginalmente são
apropriadas para o cultivo.
14.2. Com o objetivo de criar condições que permitam o desenvolvimento rural e agrícola
sustentável, verifica-se a necessidade de efetuar importantes ajustes nas políticas para a
agricultura, o meio ambiente e a macroecnomia, tanto no nível nacional como internacional, nos
países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. O principal objetivo do desenvolvimento
rural e agrícola sustentável é aumentar a produção de alimentos de forma sustentável e
incrementar a segurança alimentar. Isso envolverá iniciativas na área da educação, o uso de
incentivos econômicos e o desenvolvimento de tecnologias novas e apropriadas, dessa forma
assegurando uma oferta estável de alimentos nutricionalmente adequados, o acesso a essas ofertas
por parte dos grupos vulneráveis, paralelamente à produção para os mercados; emprego e geração
de renda para reduzir a probeza; e o manejo dos recursos naturais juntamente com a proteção do
meio ambiente.
14.3. Para assegurar o sustento de uma população em expansão é preciso dar prioridade à
manutenção e aperfeiçoamento da capacidade das terras agrícolas de maior potencial. No entanto
a conservação e a reabilitação dos recursos naturais das terras com menor potencial, com o
objetivo de manter uma razão homem/terra sustentável, também são necessárias. Os principais
instrumentos do desenvolvimento rural e agrícola sustentável são a reforma da política agrícola, a
reforma agrária, a participação, a diversificação dos rendimentos, a conservação da terra e um
melhor manejo dos insumos. O êxito do desenvolvimento rural e agrícola sustentável dependerá
em ampla medida do apoio e da participação das populações rurais, dos Governos nacionais, do
setor privado e da cooperação internacional, inclusive da cooperação técnica e científica.
14.4. Este capítulo inclui as seguintes áreas de programas:
(a) Revisão, planejamento e programação integrada da política agrícola, à luz do
aspecto multifuncional da agricultura, em especial no que diz respeito à segurança alimentar e ao
desenvolvimento sustentável;
(b) Obtenção da participação popular e promoção do desenvolvimento de recursos
humanos para a agricultura sustentável.
(c) Melhora da produção agrícola e dos sistemas de cultivo por meio da
diversificação do emprego agrícola e não- agrícola e do desenvolvimento da infra-estrutura;
(d) Utilização dos recursos terrestres: planejamento, informação e educação;
(e) Conservação e reabilitação da terra;
(f) Água para a produção sustentável de alimentos e o desenvolvimento rural
sustentável;
(g) Conservação e utilização sustentável dos recursos genéticos vegetais para a
Agenda 21 - Global 147

produção de alimentos e a agricultura sustentável;


(h) Conservação e utilização sustentável dos recursos genéticos animais para a
agricultura sustentável;
(i) Manejo e controle integrado das pragas na agricultura;
(j) Nutrição sustentável das plantas para aumento da produção alimentar;
(k) Diversificação da energia rural para melhora da produtividade;
(l) Avaliação dos efeitos da radiação ultravioleta decorrente da degradação da
camada de ozônio estratosférico sobre as plantas e animais.

Áreas de Programas

A. Revisão, planejamento e programação integrada da política agrícola, à luz do aspecto


multifuncional da agricultura, em especial no que diz respeito à segurança alimentar e ao
desenvolvimento sustentável

Base para a ação

14.5. É preciso integrar as considerações relativas ao desenvolvimento sustentável à


análise e ao planejamento da política agrícola em todos os países, em especial nos países em
desenvolvimento. As recomendações devem contribuir diretamente para o desenvolvimento de
planos e programas de médio e longo prazo que sejam realistas e operacionais e, em decorrência,
para as iniciativas concretas. Em seguida devem vir o apoio à implementação desses planos e
programas e seu acompanhamento.
14.6. A ausência de um quadro de políticas nacionais coerentes voltadas para a agricultura
sustentável e o desenvolvimento rural é generalizada e não se restringe aos países em
desenvolvimento. Em particular, as economias nacionais em transição de sistemas de
planejamento para sistemas de mercado têm necessidade de tal quadro para incorporar
considerações ambientais a suas atividades econômicas, entre elas a agricultura. Todos os países
precisam avaliar de forma abrangente os impactos de tais políticas sobre o desempenho dos
setores da alimentação e da agricultura, do bem-estar rural e das relações comerciais
internacionais, como forma de identificar as medidas compensadoras apropriadas. O maior
objetivo da segurança alimentar, neste caso, é melhorar significativamente a produção agrícola de
forma sustentável e obter uma melhora substancial do direito das pessoas de terem acesso a uma
alimentação adequada e a gêneros alimentares culturalmente apropriados.
14.7. Também são necessárias ações concretas no que diz respeito a decisões políticas
saudáveis relativas a comércio e fluxo de capitais, para superar: (a) o desconhecimento dos custos
ambientais decorrentes de determinadas políticas setoriais e macroeconômicas e, em decorrência,
da ameaça que essas políticas representam para a sustentabilidade; (b) a insuficiência de
qualificações e experiência quanto à incorporação das questões relativas a sustentabilidade nas
políticas e programas; e (c) a inadequação de instrumentos de análise e monitoramento (1).

Objetivos

14.8. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Até 1995, examinar e, quando apropriado, estabelecer um programa voltado
para a integração do desenvolvimento ambiental e sustentável a uma análise política do setor
alimentar e agrícola e, subseqüentemente, à análise, formulação e implementação das políticas
Agenda 21 - Global 148

macroeconômicas pertinentes;
(b) Até 1998, manter e desenvolver, conforme apropriado, planos, programas e
medidas políticas operacionais multi-setoriais que incluam programas e medidas destinados a
melhorar a produção sustentável de alimentos e a segurança alimentar no quadro do
desenvolvimento sustentável;
(c) Até 2005, manter e melhorar a capacidade dos países em desenvolvimento --
particularmente dos menos desenvolvidos dentre eles -- a ocuparem-se eles próprios do manejo
de suas atividades de orientação política, programação e planejamento.

Atividades

Atividades relacionadas a manejo


14.9. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Empreender análises da política nacional de segurança alimentar, inclusive dos
níveis adequados e da estabilidade do abastecimento de alimentos e do acesso ao alimento por
parte de todas as famílias;
(b) Analisar a política agrícola nacional e regional em relação, inter alia, ao
comércio exterior, à política de preços, às políticas cambiais, aos subsídios e impostos agrícolas,
bem como à organização com vistas à integração econômica regional;
(c) Implementar políticas que tenham o objetivo de influenciar positivamente a
ocupação da terra e os direitos de propriedade, com o devido reconhecimento do tamanho
mínimo que devem ter as propriedades fundiárias com vistas a manter a produção e frear uma
fragmentação ainda maior;
(d) Considerar as tendências demográficas e os movimentos populacionais e
identificar as áreas críticas para a produção agrícola;
(e) Formular, introduzir e monitorar políticas, leis e regulamentações e
incentivos que levem ao desenvolvimento rural e agrícola sustentável e a uma melhor segurança
alimentar, bem como ao desenvolvimento e transferência de tecnologias adequadas de cultivo,
inclusive, quando apropriado, sistemas de agricultura sustentável de baixos insumos;
(f) Apoiar os sistemas nacionais e regionais de pronto alerta por meio de
dispositivos de assistência à segurança alimentar que façam o monitoramento da oferta e da
demanda alimentar e dos fatores que afetam o acesso das famílias aos gêneros alimentícios;
(g) Analisar as políticas em vigor no que diz respeito a melhorar a colheita, o
armazenamento, o processamento, a distribuição e a comercialização dos produtos nos planos
local, nacional e regional;
(h) Formular e implementar projetos agrícolas integrados que incluam outras
atividades voltadas para os recursos naturais, como o manejo de pastagens, florestas e fauna/flora
silvestres, conforme apropriado;
(i) Promover a pesquisa social e econômica e as políticas que estimulem o
desenvolvimento da agricultura sustentável, em especial em ecossistemas frágeis e regiões
densamente povoadas;
(j) Identificar problemas de armazenagem e distribuição que afetem a
disponibilidade de alimentos; apoiar a pesquisa, quando necessário, para suplantar esses
problemas, e cooperar com os produtores e distribuidores na implementação de práticas e
sistemas melhorados.
(b) Dados e informações
Agenda 21 - Global 149

14.10. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e


regionais competentes, devem:
(a) Cooperar ativamente para expandir e melhorar a informação sobre os sistemas
de pronto alerta no que diz respeito a alimentos e agricultura, tanto no plano regional como
nacional;
(b) Examinar e empreender levantamentos e pesquisas com o objetivo de
estabelecer informações básicas sobre a situação dos recursos naturais no que diz respeito à
produção e ao planejamento agrícola e de alimentos, para avaliar os impactos das diversas formas
de utilizar esses recursos e desenvolver metodologias e instrumentos de análise, como a
contabilidade ambiental.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
14.11. As agências das Nações Unidas, como a FAO, o Banco Mundial, o FIDA e o
GATT, juntamente com as organizações regionais, as agências doadoras bilaterais e outros
organismos devem, no âmbito de seus respectivos mandatos, assumir um papel em seu trabalho
junto aos Governos nacionais nas seguintes atividades:
(a) Implementar, no plano subregional, estratégias de desenvolvimento agrícola e
segurança alimentar integradas e sustentáveis, que façam uso dos potenciais regionais de
produção e comércio, inclusive de organizações que fomentem a integração econômica regional,
para promover a segurança alimentar;
(b) Estimular, no contexto da obtenção de um desenvolvimento agrícola
sustentável e de acordo com os princípios pertinentes internacionalmente aceitos sobre comércio
e meio ambiente, um sistema comercial mais aberto e não-discriminatório -- bem como a rejeição
de barreiras comerciais injustificáveis -- que, juntamente com outras políticas, venha facilitar
uma maior integração entre as políticas agrícola e ambiental, de modo a torná-las
complementares;
(c) Fortalecer e estabelecer sistemas e redes nacionais, regionais e internacionais
para uma melhor compreensão da interação entre a agricultura e a situação do meio ambiente,
identificar tecnologias ecologicamente saudáveis e facilitar o intercâmbio de informações sobre
fontes de dados, políticas e técnicas e instrumentos de análise.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


14.12. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) de
implementação das atividades deste capítulo em cerca de $3 bilhões de dólares, inclusive cerca de
$450 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
14.13. Os Governos, no nível apropriado e com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem apoiar as famílias e comunidades agrícolas a aplicar tecnologias
destinadas a melhorar a produção e a segurança dos alimentos, inclusive sua armazenagem, o
monitoramento da produção e a distribuição.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
14.14. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
Agenda 21 - Global 150

regionais competentes, devem:


(a) Envolver e treinar economistas, planejadores e analistas locais para dar início a
análises das políticas nacionais e internacionais e desenvolver quadros que favoreçam a
agricultura sustentável;
(b) Estabelecer medidas legais que promovam o acesso das mulheres à terra e
extirpem os preconceitos que cercam sua participação no desenvolvimento rural.
(d) Fortalecimento institucional
14.15. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem fortalecer os ministérios que se ocupam da agricultura, dos
recursos naturais e do planejamento.

B. Obtenção da participação popular e promoção do desenvolvimento de recursos humanos


para a agricultura sustentável

Base para a ação

14.16. Este componente faz uma ponte entre as políticas governamentais e o manejo
integrado dos recursos humanos. Quanto maior for o grau de controle da comunidade sobre os
recursos de que depende, maior será o estímulo ao desenvolvimento econômico e dos recursos
humanos. Ao mesmo tempo, os Governos nacionais têm que estabelecer instrumentos políticos
que conciliem os requisitos de longo e curto prazo. As abordagens têm a preocupação central de
proporcionar auto-confiança, fomentar a cooperação, oferecer informações e apoiar as
organizações baseadas nos usuários. A ênfase deve estar nas práticas de manejo, na elaboração de
acordos que modifiquem a forma de utilizar os recursos, nos direitos e deveres associados ao uso
da terra, da água e das florestas, no funcionamento dos mercados, nos preços, e no acesso à
informação, ao capital e aos insumos. Tudo isso exige treinamento e fortalecimento institucional
e técnica, para que a população possa assumir maiores responsabilidades nos esforços em prol do
desenvolvimento sustentável (2).

Objetivos

14.17. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Promover uma maior sensibilização do público quanto ao papel da participação
popular e das organizações populares, especialmente de grupos de mulheres, jovens, populações
indígenas e habitantes de regiões sob ocupação, comunidades locais e pequenos agricultores, no
desenvolvimento rural e agrícola sustentável.
(b) Assegurar o acesso eqüitativo da população rural, em especial de mulheres,
pequenos agricultores populações indígenas e sem terra e habitantes de regiões sob ocupação, à
terra, à água e aos recursos florestais, bem como a tecnologias, financiamento, comercialização,
processamento e distribuição;
(c) Fortalecer e desenvolver o manejo e as capacidades internas das organizações
das populações rurais e dos serviços de extensão e descentralizar a tomada de decisões para o
nível básico da comunidade.

Atividades

(a) Atividades de manejo


Agenda 21 - Global 151

14.18. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e


regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver e melhorar os serviços e instalações integrados de extensão
agrícola e as organizações rurais e empreender atividades de manejo dos recursos naturais e de
segurança alimentar, levando em conta as diferentes necessidades da agricultura de subsistência,
bem como as lavouras voltadas para o mercado;
(b) Analisar e reorientar as medidas existentes com vistas a ampliar o acesso à
terra, à água e aos recursos florestais e assegurar direitos iguais para as mulheres e outros grupos
desfavorecidos, com ênfase especial para as populações rurais, populações indígenas, populações
de regiões sob ocupação e comunidades locais;
(c) Atribuir com clareza títulos, direitos e responsabilidades no que diz respeito à
terra e aos indivíduos e comunidades, com o objetivo de estimular o investimento nos recursos
terrestres;
(d) Desenvolver diretrizes para as políticas de descentralização voltadas para o
desenvolvimento rural por meio da reorganização e fortalecimento das instituições rurais;
(e) Desenvolver políticas referentes a extensão, treinamento, fixação de preços,
distribuição de insumos, crédito e tributação, para assegurar os necessários incentivos e para o
acesso eqüitativo dos pobres aos serviços de apoio à produção;
(f) Fornecer serviços de apoio e treinamento que reconheçam a diversidade das
circunstâncias e práticas agrícolas nos diferentes locais; a utilização ótima dos insumos agrícolas
locais e a utilização mínima de insumos externos; a utilização ótima dos recursos naturais locais e
o manejo das fontes renováveis de energia; e o estabelecimento de redes dedicadas ao
intercâmbio de informações sobre formas alternativas de agricultura.

Dados e informações

14.19. Os Governos, no nível apropriado e com o apoio das organizações internacionais e


regionais competentes, devem coletar, analisar e difundir informações sobre os recursos humanos
e a função dos Governos, comunidades locais e organizações não-governamentais na inovação
social e nas estratégias voltadas para o desenvolvimento rural.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
14.20. As agências internacionais e regionais adequadas devem:
(a) Reforçar sua colaboração com as organizações não-governamentais na coleta e
difusão de informações sobre participação popular, organizações populares e populações de
regiões sob ocupação, pondo à prova métodos participativos de desenvolvimento, oferecendo
treinamento e ensino para o desenvolvimento de recursos humanos e fortalecendo as estruturas de
manejo das organizações rurais;
(b) Contribuir para o processamento das informações disponíveis por meio das
organizações não-governamentais e promover a criação de uma rede internacional de agricultura
ecológica com vistas a acelerar o desenvolvimento e a implementação de práticas agrícolas
ecológicas.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


14.21. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) de
implementação das atividades deste programa em cerca de $4,4 bilhões de dólares, inclusive
Agenda 21 - Global 152

cerca de $650 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
14.22. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internaiconais e
regionais competentes, devem:
(a) Estimular a participação popular no desenvolvimento e transferência de
tecnologia agrícola, incorporando os conhecimentos e práticas ecológicos da população
autóctone:
(b) Empreender pesquisas aplicadas sobre metodologias participativas, estratégias
de manejo e organizações locais.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
14.23. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem oferecer treinamento gerencial e técnico a administradores
governamentais e membros de grupos utilizadores de recursos acerca dos princípios, práticas e
benefícios da participação popular no desenvolvimento rural.
(d) Fortalecimento institucional
14.24. Os Governos, no nível adequado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem introduzir estratégias e mecanismos de manejo como serviços de
contabilidade e auditoria para as organizações rurais populares e as instituições voltadas para o
desenvolvimento de recursos humanos, e delegar às instâncias locais as responsabilidades
administrativas e financeiras ligadas a tomada de decisões, levantamento de fundos e gastos.

C. Melhora da produção agrícola e dos sistemas de cultivo por meio da diversificação do


emprego agrícola e não- agrícola e do desenvolvimento da infra-estrutura

Base para a ação

14.25. A agricultura precisa ser intensificada para atender à demanda futura de bens e
evitar uma expansão ainda maior para as terras marginais e a invasão dos ecossistemas frágeis. O
uso crescente de insumos externos e o desenvolvimento de sistemas especializados de produção e
cultivo tendem a tornar a agricultura ainda mais vulnerável às pressões ambientais e às oscilações
do mercado. Em decorrência, verifica-se a necessidade de intensificar a agricultura diversificando
os sistemas de produção, com vistas a obter um máximo de eficiência na utilização dos recursos
locais e, paralelamente, minimizar os riscos ambientais e econômicos. Quando for impossível
intensificar os sistemas de cultivo será preciso identificar e desenvolver outras oportunidades de
emprego -- tanto em atividades agrícolas como não-agrícolas --, por exemplo indústrias de fundo
de quintal, utilização da flora e da fauna silvestres, aqüicultura e piscicultura, atividades não-
agrícolas como pequena indústria com base nos povoados rurais, transformação de produtos
agrícolas, agroindústria, lazer e turismo, etc.
1. Algumas das questões desta área de programas estão apresentadas no capítulo 3 da
Agenda 21 ("Combate à pobreza").
2. Algumas das questões desta área de programas são discutidas no capítulo 8 da Agenda 21
("Integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisões") e no capítulo 37
("Mecanismos nacionais e cooperação internacional para fortalecimento institucional").
Agenda 21 - Global 153

Objetivos

14.26. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Melhorar a produtividade agrícola de forma sustentável e aumentar a
diversificação, a eficiência, a segurança alimentar e os rendimentos agrícolas assegurando, ao
mesmo tempo, a minimização dos riscos para o ecossistema;
(b) Acentuar a auto-suficiência dos agricultores no desenvolvimento e
aperfeiçoamento da infra-estrutura rural e facilitar a transferência de tecnologias ambientalmente
saudáveis para os sistemas integrados de produção e cultivo, entre elas as tecnologias autóctones
e o uso sustentável de processos biológicos e ecológicos, incluíndo agro-silvicultura, conservação
e manejo sustentável da fauna e da flora silvestres, aqüicultura, pesca em águas interiores e
pecuária.
(c) Criar oportunidades de emprego tanto em atividades agrícolas como não-
agrícolas, especialmente para os pobres e habitantes de áreas marginais, levando em conta, entre
outras, a proposta alternativa de subsistência para as regiões de terras áridas.

Atividades

(a) Atividades associadas ao manejo


14.27. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver e difundir para as famílias de agricultores tecnologias de manejo
agrícola integrado, por exemplo rotação de culturas, adubagem orgânica e outras técnicas que
signifiquem redução do uso de produtos agroquímicos, bem como inúmeras técnicas voltadas
para a exploração de fontes de nutrientes e a utilização eficiente dos insumos externos,
reforçando, ao mesmo tempo, as técnicas de utilização dos resíduos e subprodutos e de prevenção
das perdas anteriores e posteriores à colheita, com especial atenção para o papel das mulheres;
(b) Criar oportunidades de emprego não-agrícola por meio de unidades
agroprocessadoras privadas em pequena escala, centros de serviços rurais e melhorias infra-
estruturais correlatas;
(c) Promover e melhorar as redes financeiras rurais que utilizem em seus
investimentos recursos de capital colhidos localmente;
(d) Fornecer a infra-estrutura rural indispensável para o acesso aos insumos e
serviços da agricultura e os mercados nacionais e locais, e reduzir as perdas de alimentos;
(e) Dar início e manter pesquisas agrícolas, testes práticos para determinar a
adequação das tecnologias, e um diálogo com as comunidades rurais visando identificar as
limitações e dificuldades e encontrar soluções;
(f) Analisar e identificar possibilidades de integração econômica entre as
atividades da agricultura e da silvicultura, bem como entre as dos recursos hídricos e da pesca, e
adotar medidas eficazes para estimular o manejo florestal e o cultivo de árvores pelos agricultores
(silvicultura agrícola), como opção para o desenvolvimento dos recursos.
(b) Dados e informações
14.28. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Analisar os efeitos das inovações e incentivos técnicos sobre os rendimentos e
o bem-estar das famílias de agricultores;
Agenda 21 - Global 154

(b) Iniciar e manter programas agrícolas e não-agrícolas para coletar e registrar os


conhecimentos autóctones.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
14.29. Instituições internacionais, como a FAO e o FIDA, centros internacionais de
pesquisa agrícola, como o GCIAL, e centros regionais devem determinar quais são os agro-
ecossistemas mais importantes do mundo, sua extensão, suas características ecológicas e sócio-
econômicas, sua susceptibilidade à deterioração e seu potencial produtivo. Isso pode ser o ponto
de partida para o desenvolvimento e intercâmbio de tecnologia e para a colaboração regional em
matéria de pesquisa.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


14.30. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $10 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $1,5 bilhão de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
14.31. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem fortalecer a pesquisa voltada para sistemas de produção agrícola
em regiões com diversos recursos e várias áreas agro-ecológicas, desenvolvendo inclusive
análises comparativas entre a intensificação, a diversificação e os diversos níveis de insumos
externos e internos.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
14.32. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Promover a instrução e a formação profissional de agricultores e comunidades
rurais por meio do ensino formal e não-formal;
(b) Dar início a programas de conscientização e treinamento para empresários,
gerenciadores, banqueiros e comerciantes sobre serviços rurais e técnicas de processamento
agrícola em pequena escala.
(d) Fortalecimento institucional
14.33. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Melhorar sua capacidade organizativa para lidar com as questões relacionadas
às atividades não-agrícolas e ao desenvolvimento das indústrias rurais;
(b) Ampliar as facilidades de crédito e a infra-estrutura rural relacionada a
processamento, transporte e comercialização.

D. Utilização dos recursos terrestres: planejamento, informação e educação

Base para a ação

14.34. As utilizações inadequadas e não controladas da terra estão entre as principais


Agenda 21 - Global 155

causas da degradação e do esgotamento dos recursos terrestres. O uso atual da terra com
freqüência deixa de considerar as possibilidades, capacidades produtivas e limitações dos
recursos terrestres, bem como sua diversidade espacial. Segundo as estimativas, na virada do
século a população mundial, hoje de 5,4 bilhões de pessoas, somará 6,25 bilhões de pessoas. A
necessidade de aumentar a produção de alimentos para atender às necessidades crescentes da
população provocará uma pressão enorme sobre todos os recursos naturais, inclusive os
terrestres.
14.35. Em muitas regiões a pobreza e a desnutrição já são endêmicas. A destruição e a
degradação dos recursos agrícolas e ambientais é uma questão particularmente importante. Já
existem técnicas para aumentar a produção e conservar os recursos hídricos e terrestres, mas sua
aplicação não é ampla nem sistemática. É indispensável adotar-se uma abordagem sistemática
para identificar as utilizações da terra e os sistemas de produção sustentáveis em cada solo e em
cada região climática, juntamente com os mecanismos econômicos, sociais e institucionais
necessários para sua implementação (3).

Objetivos

14.36. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Harmonizar os procedimentos de planejamento, envolver os agricultores no
processo de planejamento, coletar dados sobre recursos terrestres, projetar e estabelecer bancos
de dados, definir territórios com capacidade similar e identificar problemas e valores relativos a
recursos que devam ser levados em conta no estabelecimento de mecanismos que estimulem um
uso eficiente e ambientalmente saudável dos recursos;
(b) Estabelecer organismos de planejamento agrícola nos planos nacional e local
com a função de determinar prioridades, canalizar recursos e implementar programas.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


14.37. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Estabelecer e fortalecer atividades de planejamento, manejo, ensino e
informação relativas ao uso da terra para a agricultura e aos recursos terrestres, tanto no plano
nacional como local;
(b) Iniciar e manter grupos voltados para o planejamento, manejo e conservação
dos recursos terrestres agrícolas nos distritos e povoados, com o objetivo de contribuir para a
identificação dos problemas, o desenvolvimento de soluções técnicas e de manejo e a
implementação de projetos.
(b) Dados e informações
14.38. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Coletar, monitorar continuamente, atualizar e difundir informações, sempre
que possível, sobre a utilização dos recursos naturais e as condições de vida, o clima, os fatores
de água e solo; e sobre o uso da terra, a distribuição da cobertura vegetal e das espécies animais, a
utilização de plantas silvestres, os sistemas de produção e as colheitas, os custos e preços, bem
como considerações sociais e culturais que afetem o uso das terras agrícolas e das terras
adjacentes;
Agenda 21 - Global 156

(b) Estabelecer programas que proporcionem informações, promovam discussões


e estimulem a formação de grupos de manejo.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
14.39. As agências das Nações Unidas e as organizações regionais competentes devem:
(a) Fortalecer ou estabelecer grupos de trabalho internacionais, regionais e
subregionais de caráter técnico, com regulamentações e orçamentos específicos, para a promoção
do uso integrado dos recursos terrestres na agricultura, o planejamento, a coleta de dados e a
difusão de modelos de simulação de produção, e a difusão de informações;
(b) Desenvolver metodologias internacionalmente aceitáveis para o
estabelecimento de bancos de dados, a descrição dos usos da terra e a otimização das metas
múltiplas.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


14.40. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste prorgrama em cerca de $1,7 bilhão de dólares, inclusive
cerca de $250 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
14.41. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver dases de dados e sistemas de informação geográfica para
armazenar e fornecer informações físicas, sociais e econômicas relativas à agricultura, e para a
definição de regiões ecológicas e áreas de desenvolvimento;
(b) Selecionar combinações de usos da terra e sistemas de produção adequados às
unidades territoriais por meio de procedimentos de otimização das metas múltiplas, e fortalecer
os sistemas de execução e a participação das comunidades locais;
(c) Estimular o planejamento integrado no nível das bacias e paisagens específicas
para reduzir a perda de solo e proteger os recursos hídricos de superfície da poluição química.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
14.42. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Treinar profissionais e grupos de planejamento de abrangência nacional,
distrital e local, por meio de cursos formais e informais, viagens e atividades de interação;
(b) Provocar debates em todos os níveis sobre questões de política,
desenvolvimento e meio ambiente relacionadas ao uso e manejo de terras agrícolas, por meio de
programas difundidos pelos meios de comunicação, conferências e seminários.
(d) Fortalecimento institucional
14.43. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Criar unidades dedicadas ao mapeamento e planejamento dos recursos
terrestres nos planos nacional, distrital e local que funcionem como centros coordenadores e
como elementos de ligação entre as instituições e disciplinas, bem como entre Governos e
Agenda 21 - Global 157

populações;
(b) Criar ou fortalecer instituições governamentais e internacionais que respondam
pelo levantamento, manejo e desenvolvimento dos recursos agrícolas; racionalizar e fortalecer as
estruturas legais; e oferecer equipamento e assistência técnica.

E. Conservação e reabilitação da terra

Base para a ação

14.44. A degradação da terra, que afeta extensas áreas tanto nos países desenvolvidos
como nos países em desenvolvimento, é o mais grave problema ambiental. O problema da erosão
do solo é particularmente agudo nos países em desenvolvimento, enquanto em todos os países
agravam-se os problemas de salinização, encharcamento, poluição do solo e perda da fertilidade
do solo. A degradação das terras é grave porque a produtividade de vastas regiões está em
declínio exatamente no momento em que se verifica um rápido aumento das populações e,
conseqüentemente, cresce a demanda para que o solo produza mais alimento, fibra e combustível.
Até a presente data, os esforços para controlar a degradação das terras, sobretudo nos países em
desenvolvimento, encontraram sucesso limitado. Verifica-se a necessidade de se criarem
programas nacionais e regionais de conservação e reabilitação das terras bem planejados, de
longo prazo, com forte apoio político e recursos financeiros adequados. Embora o planejamento
do uso das terras e seu zoneamento, associados a um melhor manejo das terras, devam oferecer
soluções de longo prazo para o problema da degradação das terras, urge interromper tal
degradação e dar início a programas de conservação e reabilitação nas regiões mais seriamente
afetadas e mais vulneráveis.

Objetivos

14.45. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Até o ano 2000, atualizar ou dar início, conforme apropriado, a levantamentos
nacionais dos recursos terrestres que detalhem a localização, extensão e gravidade da degradação
das terras;
(b) Preparar e implementar políticas e programas abrangentes voltados para a
recuperação das terras degradadas e a conservação das regiões ameaçadas, além de melhorar o
planejamento, o manejo e a utilização gerais dos recursos terrestres e de preservar a fertilidade do
solo com vistas ao desenvolvimento agrícola sustentável.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


14.46. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver e implementar programas destinados a suprimir e resolver as
causas físicas, sociais e econômicas da degradação da terra, como os sistemas de ocupação da
terra, os sistemas inadequados de comércio e as estruturas de fixação de preços de produtos
agrícolas, que conduzem a um manejo inadequado do uso das terras;
(b) Oferecer incentivos e, quando adequado ou possível, recursos para a
participação das comunidades locais no planejamento, implementação e manutenção de seus
Agenda 21 - Global 158

próprios programas de conservação e recuperação das terras;


(c) Desenvolver e implementar programas para a reabilitação das terras
degradadas pelo encharcamento e a salinidade;
(d) Desenvolver e implementar programas de utilização progressiva e sustentável
de terras não-cultivadas que apresentem potencial agrícola.
(b) Dados e informações
14.47. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Empreender levantamentos periódicos para avaliar a extensão e as condições
de seus recursos terrestres;
(b) Fortalecer e estabelecer bancos de dados nacionais sobre recursos terrestres
que incluam identificação sobre localização, extensão e gravidade da degradação atual das terras
e sobre as regiões ameaçadas, e avaliar os progressos dos programas de conservação e
reabilitação empreendidos a esse respeito;
(c) Coletar e registrar informações sobre as práticas de conservação e reabilitação
e os sistemas de cultivo autóctones para que sirvam de ponto de partida para pesquisas e
programas de extensão.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
14.48. As agências das Nações Unidas e as organizações regionais e não-governamentais
competentes devem:
(a) Desenvolver programas prioritários de conservação e reabilitação das terras
que incluam serviços de assessoramento aos Governos e às organizações regionais;
(b) Estabelecer redes regionais e subregionais para intercâmbio de experiências
entre cientistas e técnicos, desenvolvimento de programas conjuntos e difusão de tecnologias
comprovadamente bem-sucedidas de conservação e reabilitação das terras.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


14.49. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $5 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $800 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.

Meios científicos e tecnológicos

14.50. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e


regionais competentes, devem ajudar as comunidades familiares agrícolas a investigar e
promover tecnologias e sistemas de cultivo localmente adequados, que conservem e reabilitem as
terras ao mesmo tempo que aumentam a produção agrícola, inclusive por meio do uso da agro-
silvicultura voltada para a conservação, da lavoura em terraços e das culturas mistas;
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
14.51. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem promover a formação do pessoal de campo e dos usuários das
Agenda 21 - Global 159

terras ensinando-lhes tanto as técnicas autóctones como as técnicas modernas de conservação e


reabilitação das terras e estabelecer centros de treinamento para o pessoal de extensão e os
usuários das terras;
(d) Fortalecimento institucional
14.52. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver e fortalecer a capacidade das instituições nacionais de pesquisa
para identificar e implementar práticas eficazes de conservação e reabilitação que correspondam
às condições físicas e sócio-econômicas atuais dos usuários das terras;
(b) Coordenar todas as políticas, estratégias e programas de conservação e
reabilitação de terras aos programas correlatos hoje em andamento, tal como os planos nacionais
de ação para o meio ambiente, o Plano de Ação para as Florestas Tropicais e os programas
nacionais de desenvolvimento.

F. Água para a produção sustentável de alimentos e o desenvolvimento rural sustentável

14.53. Esta área de programas está incluída no capítulo 18 ("Proteção dos recursos de
água doce e de sua qualidade"), área de programas F.

G. Conservação e utilização sustentável dos recursos genéticos vegetais para a produção de


alimentos e a agricultura sustentável

Base para a ação

14.54. Os recursos genéticos vegetais utilizados na agricultura são um recurso essencial


para atender às necessidades futuras de alimentos. As ameaças à segurança desses recursos vêm
se avolumando e os esforços para conservar, desenvolver e utilizar a diversidade genética
carecem de recursos e de pessoal. Muitos bancos de genes atualmente existentes oferecem
segurança inadequada e, em alguns casos, a perda de diversidade genética vegetal nos bancos de
genes é tão grande quanto a que ocorre no campo.
14.55. O objetivo principal é salvaguardar os recursos genéticos do mundo e ao mesmo
tempo preservá-los para um uso sustentável. Isso inclui o desenvolvimento de medidas que
facilitem a conservação e o uso dos recursos genéticos vegetais; redes de zonas de conservação in
situ; e o uso de instrumentos como coleções ex situ e bancos de germoplasma. Ênfase especial
poderia ser atribuída ao desenvolvimento da capacitação endógena para caracterização, avaliação
e utilização dos recursos genéticos vegetais para a agricultura, particularmente para plantações
pequenas e outras espécies sub-utilizadas ou não utilizadas de produção de alimentos e de
agricultura, inclusive espécies de árvore para agro-silvicultura. Ação subseqüente deve visar à
consolidação e ao manejo eficiente de redes de áreas de conservação in situ e ao uso de
instrumentos tais como coleções ex situ e bancos de germoplasma.
14.56. Os atuais mecanismos nacionais e internacionais de avaliação, estudo,
monitoramento e uso dos recursos genéticos vegetais destinados a aumentar a produção de
alimentos são falhos e insatisfatórios. A capacidade, as estruturas e os programas institucionais
atualmente existentes são, de um modo geral, insuficientes e, em grande medida, carecem de
recursos. Verifica-se a erosão genética de cultivares de valor incalculável. A diversidade atual
entre as espécies de cultivares não é totalmente utilizada para o aumento sustentável da produção
de alimentos (4).
Agenda 21 - Global 160

Objetivos

14.57. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Completar o mais depressa possível a primeira regeneração e duplicação
segura de todas as coleções ex situ existentes no mundo inteiro;
(b) Coletar e estudar as plantas úteis para o aumento da produção de alimentos por
meio de atividades conjuntas que incluam treinamento, no âmbito das redes de instituições que
trabalham em colaboração;
(c) Até o ano 2000, adotar políticas e fortalecer ou criar programas para a
conservação e o uso sustentável -- tanto in situ, no local do cultivo, como ex situ -- dos recursos
genéticos vegetais para alimentos e agricultura, integrados a estratégias e programas voltados
para a agricultura sustentável;
(d) Adotar medidas adequadas para uma partilha justa e eqüitativa dos benefícios e
resultados das atividades de pesquisa e desenvolvimento em genética vegetal entre as fontes e
usuários de recursos genéticos vegetais.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


14.58. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver e fortalecer a capacidade, as estruturas e os programas
institucionais para a conservação e o uso dos recursos genéticos vegetais para a agricultura;
(b) Fortalecer e criar pesquisas no setor público sobre avaliação e utilização dos
recursos genéticos vegetais para a agricultura, com vistas a atingir os objetivos da agricultura
sustentável e do desenvolvimento rural;
(c) Desenvolver serviços de multiplicação/propagação, intercâmbio e difusão de
recursos genéticos vegetais para a agricultura (sementes e mudas), particularmente nos países em
desenvolvimento, e monitorar, controlar e avaliar as introduções de plantas;
(d) Preparar planos ou programas de ação prioritária voltados para a conservação e
o uso sustentável de recursos genéticos vegetais para a agricultura baseados, conforme
apropriado, em estudos nacionais sobre os recursos genéticos vegetais para a agricultura;
(e) Promover a diversificação de culturas nos sistemas agrícolas quando
apropriado, com a inclusão de novas plantas que apresentem valor potencial de culturas
alimentares;
(f) Promover a utilização de plantas e cultivos pouco conhecidos mas
potencialmente úteis, bem como a pesquisa a respeito, quando apropriado;
(g) Fortalecer a capacidade nacional de utilização dos recursos genéticos vegetais
para a agricultura, de hibridação e de produção de sementes, tanto pelas instituições
especializadas como pelas comunidades agrícolas.
(b) Dados e informações
14.59. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver estratégias para a criação de redes de zonas de conservação in situ
e a utilização de instrumentos como coleções ex situ nos locais de cultivo, bancos de
germoplasma e tecnologias correlatas;
Agenda 21 - Global 161

(b) Estabelecer redes de coleções básicas ex situ;


(c) Verificar periodicamente a situação dos recursos genéticos vegetais para a
agricultura e preparar relatórios a respeito utilizando os sistemas e procedimentos existentes;
(d) Caracterizar e avaliar o material coletado relativo a recursos genéticos vegetais
para a agricultura, difundir essas informações para facilitar o uso das coleções de recursos
genéticos vegetais para a agricultura, e analisar a variação genética nas coleções.

1. Algumas das questões são apresentadas no capítulo 10 da Agenda 21 ("Abordagem


integrada do planejamento e do manejo dos recursos terrestres").
2. As atividades desta área de programas estão relacionadas a algumas das atividades do
capítulo 15 da Agenda 21 ("Conservação da biodiversidade").
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
14.60. As agências das Nações Unidas e as organizações regionais competentes devem:
(a) Fortalecer o sistema mundial de conservação e uso sustentável de recursos
genéticos vegetais para a agricultura por meio, inter alia, da aceleração do desenvolvimento do
sistema mundial de informação e pronto alerta a fim de facilitar o intercâmbio de informação;
desenvolver maneiras de promover a transferência de tecnologias ambientalmente saudáveis, em
especial para os países em desenvolvimento; e adotar outras medidas a fim de concretizar os
direitos dos agricultores;
(b) Desenvolver redes subregionais, regionais e mundiais de zonas de proteção in
situ de recursos genéticos vegetais para a agricultura;
(c) Preparar relatórios periódicos sobre a situação mundial no que diz respeito a
recursos genéticos vegetais para a agricultura;
(d) Preparar um plano mundial contínuo de ação cooperativa no que diz respeito a
recursos genéticos vegetais para a agricultura;
(e) Promover, para 1994, a IV Conferência Técnica Internacional sobre
Conservação e Uso Sustentável dos Recursos Genéticos Vegetais para a Agricultura, ocasião em
que deverão ser adotados o primeiro relatório sobre a situação mundial e o primeiro plano de
ação mundial para a conservação e o uso sustentável dos recursos genéticos vegetais para a
agricultura;
(f) Ajustar o Sistema mundial de conservação e uso sustentável dos recursos
genéticos vegetais para a agricultura aos resultados das negociações de uma convenção sobre a
biodiversidade.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


14.61. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $600 milhões de dólares, inclusive
cerca de $300 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
14.62. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
Agenda 21 - Global 162

(a) Desenvolver a pesquisa científica básica em áreas como taxonomia vegetal e


fitogeografia, utilizando desenvolvimentos recentes como as ciências da computação, genética
molecular e criopreservação in vitro;
(b) Desenvolver importantes projetos colaborativos entre os programas de
pesquisa dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, particularmente com vistas a melhorar
as espécies pouco conhecidas ou negligenciadas;
(c) Promover tecnologias com boa relação custo-benefício para a manutenção em
duplicata de conjuntos de coleções ex situ (que também possam ser utilizadas pelas comunidades
locais);
(d) Aprofundar as ciências da conservação relacionadas à conservação in situ, bem
como meios técnicos que permitam vincular esta última aos esforços de conservação ex situ.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
14.63. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Promover programas de treinamento a nível de graduação e pós-graduação em
ciências da conservação, para a administração de centros de recursos genéticos vegetais para a
agricultura e para a formulação e implementação de progranas nacionais da área de recursos
genéticos vegetais para a agricultura;
(b) Sensibilizar os serviços de extensão agrícola com vistas a vincular as
atividades voltadas para os recursos genéticos vegetais para a agricultura com as comunidades
usuárias;
(c) Desenvolver materiais de treinamento para a promoção da conservação e
utilização dos recursos genéticos vegetais para a agricultura a nível local.
(d) Fortalecimento Institucional
14.64. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem estabelecer políticas nacionais que confiram estatuto legal e
fortaleçam os aspectos jurídicos dos recursos genéticos vegetais para a agricultura; essas políticas
devem incluir compromissos financeiros de longo prazo para a manutenção de coleções de
germoplasma e a implementação das atividades da área dos recursos genéticos vegetais para a
agricultura.

H. Conservação e utilização sustentável dos recursos genéticos animais para a agricultura


sustentável

Base para a ação

14.65. A necessidade de maior quantidade e qualidade de produtos animais e do plantel


de animais de tração exige a conservação da atual diversidade de raças animais para fazer frente
às exigências futuras, inclusive as da biotecnologia. Algumas raças animais locais, em acréscimo
a seu valor sócio-cultural, têm atributos únicos de adaptação, resistência às enfermidades e usos
específicos e devem ser preservadas. Essas raças locais estão ameaçadas de extinção, como
resultado da introdução de raças exóticas e de alterações nos sistemas de produção da pecuária.

Objetivos

14.66. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Enumerar e descrever todas as raças de gado utilizadas na pecuária da forma
Agenda 21 - Global 163

mais abrangente possível e dar início a um programa decenal de ação;


(b) Estabelecer e implementar programas de ação para identificar as raças
ameaçadas, bem como a natureza da ameaça e as medidas de preservação adequadas;
(c) Estabelecer e implementar programas de desenvolvimento para as raças
autóctones com o objetivo de garantir sua sobrevivência e evitar o risco de que sejam substituídas
por outras raças ou por programas de cruzamento de raças.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


14.67.Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Elaborar planos de preservação de raças para as populações ameaçadas que
incluam coleção e armazenamento de sêmen e embriões; conservação, no local da criação, de
linhagens nativas; ou preservação in situ;
(b) Planejar e dar início a estratégias de desenvolvimento de espécies;
(c) Selecionar populações autóctones utilizando o critério da importância regional
e da unicidade genética para um programa decenal seguido pela seleção de um conjunto adicional
de espécies indígenas a serem desenvolvidas.
(b) Dados e informações
14.68. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem preparar e completar inventários nacionais dos recursos genéticos
animais disponíveis. Convém dar prioridade ao armazenamento criogênico, em detrimento da
caracterização e da avaliação. Especial atenção deve ser atribuída ao treinamento de pessoal
nacional nas técnicas de conservação e avaliação.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
14.69. As agências das Nações Unidas e outras agências internacionais e regionais
competentes devem:
(a) Promover a criação de bancos regionais de genes, na medida em que tal
iniciativa se justifique, partindo dos princípios da cooperação técnica entre os países em
desenvolvimento;
(b) Processar, armazenar e analisar dados genéticos animais no plano mundial,
inclusive com: o estabelecimento de uma lista de vigilância mundial e de um sistema de pronto
alerta para as raças ameaçadas; a avaliação mundial das diretivas científicas e
intergovernamentais para o programa e a revisão das atividades regionais e nacionais; o
desenvolvimento de metodologias, normas e padrões (inclusive em relação aos acordos
internacionais); o monitoramento de sua implementação; e a assistência técnica e financeira
correspondente;
(c) Preparar e publicar uma base de dados abrangente sobre os recursos genéticos
animais, com a descrição de cada raça, sua derivação, sua relação com outras raças, a dimensão
real da população e um conjunto conciso de características biológicas e de produção;
(d) Preparar e publicar uma lista de vigilância mundial sobre as espécies de
animais de criação ameaçadas, permitindo aos Governos nacionais que tomem medidas para
preservar as raças ameaçadas e procurem assistência técnica quando necessário.

Meios de implementação
Agenda 21 - Global 164

(a) Financiamento e estimativa de custos


14.70. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $200 milhões de dólares, inclusive
cerca de $100 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
14.71. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Usar bancos de dados e questionários computadorizados para preparar um
inventário mundial e uma lista de vigilância mundial;
(b) Utilizando o armazenamento criogênico de germoplasma, preservar as raças
seriamente ameaçadas e outros materiais a partir dos quais é possível reconstruir genes.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
14.72. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Patrocinar cursos de treinamento para nacionais com o objetivo de obter os
conhecimentos necessários para a coleta e a manipulação de dados e para a amostragem de
material genético;
(b) Capacitar cientistas e gerenciadores a estabelecer uma base de informações
sobre as raças autóctones de gado e promover programas voltados para o desenvolvimento e a
conservação de material genético pecuário essencial.
(d) Fortalecimento institucional
14.73. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Estabelecer em seus países condições para a criação de centros de inseminação
artificial e centros de criação e seleção in situ.
(b) Promover, em seus países, programas e a infra-estrutura física correlata para a
conservação de seu plantel de gado e o desenvolvimento das raças, bem como para reforçar a
capacidade nacional de tomar medidas preventivas quando as raças se virem ameaçadas.

Manejo e controle integrado das pragas na agricultura

Base para a ação

14.74. As projeções sobre demanda alimentar no mundo indicam um acréscimo de 50 por


cento até o ano 2000; até 2050 esse total terá mais que dobrado. Estimativas conservadoras
demonstram que as perdas pré e pós colheita causadas por pragas atingem entre 25 e 50 por
cento. As pragas que afetam a saúde animal também causam perdas de monta e em muitas
regiões impedem o crescimento do rebanho. O combate químico às pragas agrícolas foi, de início,
amplamente adotado, mas seu uso exagerado provoca efeitos adversos sobre os orçamentos
agrícolas, a saúde humana e o meio ambiente -- e também sobre o comércio internacional. Novos
problemas relacionados a pragas continuam aparecendo. O manejo integrado das pragas, que
associa controle biológico, resistência da planta hospedeira e práticas agrícolas adequadas, e
minimiza o uso de pesticidas, é a melhor opção para o futuro, visto que assegura os rendimentos,
Agenda 21 - Global 165

reduz os custos, é ambientalmente benigno e contribui para a sustentabilidade da agricultura. O


manejo integrado das pragas deve estar estreitamente associado a um manejo adequado dos
pesticidas para permitir a regulamentação e o controle dos pesticidas, inclusive de seu comércio,
e a manipulação e a eliminação seguras dos pesticidas, especialmente dos tóxicos e de efeito
persistente.

Objetivos

14.75. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Até o ano 2000, melhorar e implementar os serviços de proteção vegetal e de
saúde animal, inclusive mecanismos para controlar a distribuição e o uso de pesticidas, e
implementar o Código Internacional de Conduta para a Distribuição e Uso de Pesticidas;
(b) Melhorar e implementar programas que utilizem redes de agricultores, serviços
de extensão e instituições de pesquisa para colocar as práticas integradas de manejo de pragas ao
alcance dos agricultores;
(c) Até 1998, estabelecer entre agricultores, pesquisadores e serviços de extensão,
redes operacionais e interativas destinadas a promover e desenvolver o manejo integrado das
pragas.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


14.76. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio da organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Examinar e reformar as políticas nacionais e os mecanismos capazes de
assegurar um uso seguro e adequado dos pesticidas -- por exemplo a fixação dos preços dos
pesticidas, brigadas de combate às pragas, estrutura de preços de insumos e produtos e políticas e
planos de ação integrados de manejo das pragas;
(b) Desenvolver e adotar sistemas de manejo eficientes para controlar e monitorar
a incidência de pragas e enfermidades na agricultura e a distribuição e uso de pesticidas no plano
nacional;
(c) Estimular a pesquisa e o desenvolvimento de pesticidas seletivos que depois de
usados se decomponham facilmente em partes constituintes inócuas;
(d) Velar para que os rótulos dos pesticidas ofereçam aos agricultores informações
compreensíveis sobre manuseio, aplicação e eliminação seguros desses produtos.
(b) Dados e informação
14.77. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Consolidar e harmonizar as informações e programas existentes sobre o uso
dos pesticidas que foram proibidos ou que têm seu uso rigorosamente controlado nos diferentes
países;
(b) Consolidar, documentar e difundir informações sobre os agentes de controle
biológico e os pesticidas orgânicos, bem como sobre os conhecimentos e práticas tradicionais e
outros que apresentem relevância no que diz respeito a formas alternativas, não-químicas, de
controle de pragas;
(c) Empreender levantamentos de abrangência nacional para colher informações
básicas sobre o uso dos pesticidas em cada país e seus efeitos colaterais sobre a saúde humana e o
Agenda 21 - Global 166

meio ambiente; empreender ainda campanhas educativas adequadas;


(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
14.78. As agências das Nações Unidas e as organizações regionais competentes devem:
(a) Estabelecer um sistema para coletar, analisar e difundir informações sobre a
quantidade e a qualidade dos pesticidas utilizados anualmente e seus efeitos sobre a saúde
humana e o meio ambiente;
(b) Reforçar os projetos interdisciplinares regionais e estabelecer redes de manejo
integrado das pragas para demonstrar os benefícios sociais, econômicos e ambientais desse tipo
de manejo para as culturas alimentares e comerciais e para a agricultura;
(c) Elaborar um sistema adequado de manejo integrado das pragas que inclua a
seleção dos diversos tipos de combate às pragas -- biológicos, físicos e culturais, bem como
químicos --, levando em conta a especificidade das condições regionais.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


14.79. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $1,9 bilhão de dólares, inclusive cerca
de $285 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
14.80. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem empreender pesquisas nos locais de cultivo sobre o
desenvolvimento de tecnologias alternativas, não-químicas, de manejo das pragas.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
14.81. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Preparar e conduzir programas de treinamento sobre abordagens e técnicas de
manejo integrado das pragas e de controle da utilização dos pesticidas, para informar os
responsáveis pela adoção de políticas, pesquisadores, organizações não-governamentais e
agricultores;
(b) Treinar agentes de extensão e promover a participação de agricultores e grupos
de mulheres na adoção de métodos de saneamento das colheitas e em formas não-químicas de
controle das pragas na agricultura.
(d) Fortalecimento institucional
14.82. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem fortalecer as administrações públicas nacionais e os organismos
regulamentadores em suas atividades de controle dos pesticidas e transferência de tecnologia para
o manejo integrado das pragas.

J. Nutrição sustentável das plantas para aumento da produção alimentar

Base para a ação


Agenda 21 - Global 167

14.83. O esgotamento dos nutrientes dos vegetais é um sério problema que tem como
resultado a perda da fertilidade do solo, particularmente nos países em desenvolvimento. Para
manter a produtividade do solo, os programas de nutrição sustentável dos vegetais promovidos
pela FAO podem ser úteis. Hoje na África subsaariana verifica-se um gasto de nutrientes,
consideradas todas as fontes, três a quatro vezes maior que o total de insumos, com uma perda
líquida total estimada em cerca de 10 milhões de toneladas métricas por ano. Conseqüentemente,
mais terras marginais e ecossistemas naturais frágeis passam a ser utilizados na agricultura,
ampliando a degradação do solo e outros problemas ambientais. Uma abordagem integrada da
nutrição dos vegetais tem por meta assegurar um suprimento sustentável de nutrientes para os
vegetais, aumentando os rendimentos futuros sem danos para o meio ambiente e a produtividade
do solo.
14.84. Em muitos países em desenvolvimento verifica-se uma taxa de crescimento
populacional de mais de 3 por cento ao ano, com uma produção agrícola nacional aquém da
demanda de alimentos. Nesses países a meta deve ser aumentar a produção agrícola em pelo
menos 4 por cento ao ano, sem destruir a fertilidade do solo. Tal meta exigirá que se aumente a
produção agrícola nas áreas que apresentem alto potencial por meio da eficiência no uso dos
insumos. Mão-de-obra qualificada, suprimento de energia, ferramentas e tecnologias adaptadas,
nutrientes para os vegetais e enriquecimento do solo -- tudo isso será essencial.

Objetivos

14.85. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Até o ano 2000, desenvolver e manter, em todos os países, uma abordagem
integrada para a nutrição dos vegetais, e otimizar a disponibilidade de fertilizantes e outras fontes
de nutrientes vegetais;
(b) Até o ano 2000, estabelecer e manter infra-estruturas institucionais e humanas
propícias a maior eficácia nas tomadas de decisão relativas a produtividade do solo;
(c) Desenvolver os conhecimentos técnico-científicos nacionais e internacionais
sobre tecnologias e estratégias de manejo voltadas para a fertilidade do solo, novas ou já
existentes e ambientalmente saudáveis, e torná-lo disponível a agricultores, agentes de extensão,
planejadores e responsáveis pela adoção de políticas, com vistas a sua aplicação na promoção da
agricultura sustentável.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


14.86. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Formular e aplicar estratégias que contribuam para a manutenção da fertilidade
do solo em prol de uma produção agrícola sustentável e ajustar condizentemente os instrumentos
pertinentes da política agrícola;
(b) Integrar em um mesmo sistema as fontes orgânicas e inorgânicas de nutrientes
dos vegetais, com o objetivo de manter a fertilidade do solo e determinar as necessidades de
fertilizantes minerais;
(c) Determinar as necessidades e estratégias de fornecimento de nutrientes das
plantas e otimizar o uso tanto de fontes orgânicas como inorgânicas, conforme apropriado, para
aumentar a eficiência do cultivo e a produção agrícola;
Agenda 21 - Global 168

(d) Desenvolver e estimular processos de reciclagem de resíduos, tanto orgânicos


como inorgânicos, no interior da estrutura do solo, sem danos ao meio ambiente, ao crescimento
vegetal e à saúde humana.
(b) Dados e informações
14.87. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Definir "contas nacionais" de nutrientes de vegetais que incluam suprimentos
(insumos) e perdas (rendimentos), e preparar balancetes e projeções por sistema de cultivo;
(b) Examinar os potenciais técnicos e econômicos das fontes de nutrientes de
vegetais, inclusive das jazidas nacionais, dos suprimentos orgânicos melhorados, da reciglagem,
dos resíduos, das camadas superficiais do solo formadas por rejeitos de matéria orgânica e da
fixação de nitrogênio biológico.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
14.88. As agências competentes das Nações Unidas -- como a FAO --, os institutos
internacionais de pesquisa agrícola e as organizações não-governamentais devem colaborar para a
promoção de campanhas de informação e publicidade sobre a abordagem integrada da questão
dos nutrientes dos vegetais, o grau de produtividade do solo e sua relação com o meio ambiente.

Meios de implementação
(a)
14.89. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $3,2 bilhões de dólares, inclusive
cerca de $475 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.

Meios científicos e tecnológicos

14.90. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e


regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver, em locais que sirvam de ponto de referência e nos campos de
cultivo, tecnologias específicas que preencham as condições sócio-econômicas e ecológicas
vigentes, em decorrência de pesquisas que contem com a total colaboração das populações locais;
(b) Reforçar a pesquisa internacional interdisciplinar e a transferência de
tecnologia para a pesquisa de sistemas de cultivo e exploração, técnicas melhoradas de produção
de biomassa in situ, manejo dos resíduos orgânicos e tecnologias agroflorestais.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
14.91. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Treinar agentes de extensão e pesquisadores da área de manejo de nutrientes de
vegetais, sistemas de cultivo, sistemas de colheita e avaliação econômica dos efeitos dos
nutrientes das plantas;
(b) Treinar agricultores e grupos de mulheres em manejo da nutrição dos vegetais,
com ênfase especial para a conservação e a produção da camada superficial do solo.
(d) Fortalecimento institucional
Agenda 21 - Global 169

14.92. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e


regionais competentes, devem:
(a) Desenvolver mecanismos institucionais adequados para a formulação de
políticas de monitoramento e orientação da implementação de programas integrados de nutrição
vegetal, por meio de um processo interativo que envolva agricultores, pesquisadores, serviços de
extensão e outros setores da sociedade;
(b) Quando apropriado, fortalecer os serviços de assessoramento existentes e
treinar pessoal, desenvolver e testar novas tecnologias e facilitar a adoção de práticas que
aprimorem e mantenham a plena produtividade do solo.

K. Diversificação da energia rural para melhora da produtividade

Base para a ação

14.93. O abastecimento de energia de muitos países não é compatível com as


necessidades do desenvolvimento desses países, mostrando-se oneroso e instável. Nas zonas
rurais dos países em desenvolvimento as principais fontes de energia são a madeira para
combustão, os resíduos agrícolas e o esterco, juntamente com a energia animal e humana.
Verifica-se a necessidade de insumos energéticos mais intensos para aumentar a produtividade da
mão-de-obra e para a geração de rendas. Com esse fim, as políticas e tecnologias rurais de
energia devem promover uma combinação -- eficaz no que diz respeito à relação custo-resultados
--de fontes energéticas fósseis e renováveis, combinação essa em si mesma sustentável, capaz de
garantir um desenvolvimento agrícola sustentável. As zonas rurais oferecem suprimentos de
energia sob a forma de madeira. Ainda estamos longe de utilizar plenamente o potencial da
agricultura e da agrosilvicultura, bem como os recursos de propriedade pública, enquanto fontes
renováveis de energia. A obtenção de um desenvolvimento rural sustentável está estreitamente
ligada à estrutura da oferta e da demanda de energia (5).

Objetivos

14.94. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Até o ano 2000, iniciar e estimular, nas comunidades rurais, um processo de
transição energética ambientalmente saudável que substitua as fontes não sustentáveis de energia
por fontes de energia estruturadas e diversificadas; para tanto, tornar disponíveis fontes
alternativas de energia, novas e renováveis;
(b) Aumentar os insumos energéticos disponíveis para atender as famílias rurais e
as necessidades agro-industriais por meio do planejamento e da transferência e desenvolvimento
adequados de tecnologia;
(c) Implementar programas rurais auto-suficientes que favoreçam o
desenvolvimento sustentável de fontes renováveis de energia e o aumento da eficiência
energética.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


14.95. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
Agenda 21 - Global 170

(a) Promover planos e projetos piloto voltados para a energia elétrica, mecânica e
térmica (gaseificadores, biomassa, secadores solares, bombas eólicas e sistemas de combustão)
que sejam adequados e que pareçam propícios a uma manutenção adequada;
(b) Iniciar e promover programas de energia rural apoiados por treinamento
técnico, serviços bancários e infra-estrutura correlata;
(c) Intensificar a pesquisa e o desenvolvimento, a diversificação e a conservação
da energia, levando em conta a necessidade de que se faça um uso eficiente dessa energia e de
que se adote uma tecnologia ambientalmente saudável.
(b) Dados e informações
14.96. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Coletar e difundir dados sobre o suprimento energético rural e os padrões de
demanda relacionados às necessidades energéticas das famílias, da agricultura e da agro-
indústria;
(b) Analisar os dados setoriais sobre energia e produção para identificar as
exigências energéticas rurais.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
14.97. As agências das Nações Unidas e as organizações regionais competentes devem,
apoiadas na experiência e nas informações providas pelas organizações não-governamentais
atuantes na área, estabelecer intercâmbio de experiências nacionais e regionais acerca de
metodolgias de planejamento para a energia da zona rural, com o objetivo de promover um
planejamento eficiente e selecionar tecnologias que apresentem um bom coeficiente custo-
benefício.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


14.98. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $1,8 bilhões de dólares anuais,
inclusive cerca de $265 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em
termos concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implmentação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
14.99. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Intensificar o desenvolvimento de pesquisas, tanto no setor público como no
privado, nos países em desenvolvimento e nos industrializados, sobre as fontes renováveis de
energia para a agricultura;
(b) Empreender pesquisas e transferência de tecnologias relativas à energia da
biomassa e à energia solar para a produção agrícola e as atividades posteriores às colheitas.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
14.100. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem promover uma maior sensibilização do público a respeito dos
problemas da energia rural, sublinhando as vantagens econômicas e ambientais das fontes
renováveis de energia.
Agenda 21 - Global 171

(d) Fortalecimento institucional


14.101. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Estabelecer mecanismos institucionais nacionais para o planejamento e o
manejo energético rural que aumentem a eficiência da produtividade agrícola e atinjam o plano
do povoado e da família;
(b) Reforçar os serviços de extensão e as organizações locais com vistas a
implementar planos e programas para fontes novas e renováveis de energia no plano do povoado.

L. Avaliação dos efeitos da radiação ultravioleta decorrente da degradação da camada de


ozônio estratosférico sobre as plantas e animais

Base para a ação

14.102. O aumento da radiação ultravioleta em decorrência da degradação da camada de


ozônio estratosférico é um fenômeno que foi registrado em diferentes regiões do mundo,
especialmente no hemisfério sul. Conseqüentemente, é importante avaliar seus efeitos sobre a
vida vegetal e animal, bem como sobre o desenvolvimento sustentável da agricultura.

Objetivo

14.103. O objetivo desta área de programas é empreender pesquisas que determinem os


efeitos do aumento de radiação ultravioleta decorrente da degradação da camada de ozônio
estratosférico sobre a superfície terrestre e sobre a vida vegetal e animal nas regiões afetadas,
bem como seus efeitos sobre a agricultura, e desenvolver, conforme apropriado, estratégias
voltadas para a mitigação de seus efeitos adversos.

Atividades

Atividades relacionadas a manejo

14.104. Nas regiões afetadas, os Governos, no nível apropriado, com o apoio das
organizações internacionais e regionais competentes, devem adotar as medidas necessárias, por
meio da cooperação institucional, para facilitar a implementação das pesquisas e avaliações
relativas aos efeitos do aumento da radiação ultravioleta sobre a vida vegetal e animal, bem como
sobre as atividades agrícolas, e estudar a possibilidade de adotar as medidas corretivas
apropriadas.

1. Algumas das questões desta área de programas estão apresentadas no


capítulo 3 da Agenda 21 ("Combate à pobreza").

2. Algumas das questões desta área de programas são discutidas no capítulo


8 da Agenda 21 ("Integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada
de decisões") e no capítulo 37 ("Mecanismos nacionais e cooperação
internacional para fortalecimento institucional").

3. Algumas das questões são apresentadas no capítulo 10 da Agenda 21


Agenda 21 - Global 172

("Abordagem integrada do planejamento e do manejo dos recursos


terrestres").

4. As atividades desta área de programas estão relacionadas a algumas das


atividades do capítulo 15 da Agenda 21 ("Conservação da biodiversidade").

5. As atividades desta área de programas estão relacionadas a algumas das


atividades do capítulo 9 da Agenda 21 ("Proteção da atmosfera").
Agenda 21 - Global 173

Capítulo 15

CONSERVAÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA

Introdução

15.1. Os objetivos e atividades deste capítulo da Agenda 21 têm o propósito de melhorar a


conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos biológicos, bem como
apoiar a Convenção sobre Diversidade Biológica.
15.2. Os bens e serviços essenciais de nosso planeta dependem da variedade e
variabilidade dos genes, espécies, populaçõs e ecossistemas. Os recursos biológicos nos
alimentam e nos vestem, e nos proporcionam moradia, remédios e alimento espiritual. Os
ecossistemas naturais de florestas, savanas, pradarias e pastagens, desertos, tundras, rios, lagos e
mares contêm a maior parte da diversidade biológica da Terra. Os campos agrícolas e os jardins
também têm grande importânciacomo repositórios, enquanto os bancos de genes, os jardins
botânicos, os jardins zoológicos e outros repositórios de germoplasma fazem uma contribuição
pequena mas significativa. O atual declínio da diversidade biológica resulta em grande parte da
atividade humana, e representa uma séria ameaça ao desenvolvimento humano.

Área de Programas

Conservação da diversidade biológica

Base para a ação

15.3. A despeito dos esforços crescentes envidados ao longo dos últimos 20 anos, a perda
da diversidade biológica no mundo -- decorrente sobretudo da destruição de habitats, da colheita
excessiva, da poluição e da introdução inadequada de plantas e animais exógenos -- prosseguiu.
Os recursos biológicos constituem um capital com grande potencial de produção de benefícios
sustentáveis. Urge que se adotem medidas decisivas para conservar e manter os genes, as
espécies e os ecossistemas, com vistas ao manejo e uso sustentável dos recursos biológicos. A
capacidade de aferir, estudar e observar sistematicamente e avaliar a diversidade biológica
precisa ser reforçada no plano nacional e no plano internacional. É preciso que se adotem ações
nacionais eficazes e que se estabeleça a cooperação internacional para a proteção in situ dos
ecossistemas, para a conservação ex situ dos recursos biológicos e genéticos e para a melhoria
das funções dos ecossistemas. A participação e o apoio das comunidades locais são elementos
essenciais para o sucesso de tal abordagem. Os progressos realizados recentemente no campo da
biotecnologia apontam o provável potencial do material genético contido nas plantas, nos animais
e nos micro-organismos para a agricultura, a saúde, o bem-estar e para fins ambientais. Ao
mesmo tempo, é particularmente importante nesse contexto sublinhar que os Estados têm o
direito soberano de explorar seus próprios recursos biológicos de acordo com suas políticas
ambientais, bem como a responsabilidade de conservar sua diversidade biológica, de usar seus
recursos biológicos de forma sustentável e de assegurar que as atividades empreendidas no
âmbito de sua jurisdição ou controle não causem dano a diversidade biológica de outros Estados
ou de áreas além dos limites de jurisdição nacional.
Agenda 21 - Global 174

Objetivos

15.4. Os Governos, no nível apropriado, com a cooperação dos orgãos das Nações Unidas
e das organizações regionais, intergovernamentais e não-governamentais competentes, o setor
privado e as instituições financeiras, e levando em consideração as populações indígenas e suas
comunidades, bem como fatores sociais e econômicos, devem:
(a) Pressionar para a pronta entrada em vigor da Convenção sobre Diversidade
Biológica, com a mais ampla participação possível;
(b) Desenvolver estratégias nacionais para a conservação da diversidade biológica
e o uso sustentável dos recursos biológicos;
(c) Integrar estratégias para a conservação da diversidade biológica e o uso
sustentável dos recursos biológicos às estratégias e/ou planos nacionais de desenvolvimento;
(d) Adotar as medidas apropriadas para a repartição justa e eqüitativa dos
benefícios advindos da pesquisa e desenvolvimento, bem como do uso dos recursos biológicos e
genéticos, inclusive da biotecnologia, entre as fontes desses recursos e aqueles que os utilizam;
(e) Empreender estudos de país, conforme apropriado, sobre a conservação da
diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos biológicos, inclusive com análises dos
custos e benefícios relevantes, com especial referência aos aspectos sócio-econômicos;
(f) Produzir regularmente relatórios mundiais atualizados sobre a diversidade
biológica com base em levantamentos nacionais
(g) Reconhecer e fomentar os métodos tradicionais e os conhecimentos das
populações indígenas e suas comunidades, enfatizando o papel específico das mulheres,
relevantes para a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos
biológicos, e assegurar a esses grupos oportunidade de participação nos benefícios econômicos e
comerciais decorrentes do uso desses métodos e conhecimentos tradicionais(1);
(h) Implementar mecanismos para a melhoria, geração, desenvolvimento e uso
sustentável da biotecnologia e para sua transferência segura, especialmente para os países em
desenvolvimento, levando em conta a contribuição potencial da biotecnologia para a conservação
da diversidade biológica e para o uso sustentável dos recursos biológicos(2);
(i) Promover uma cooperação internacional e regional mais ampla para aprofundar
a compreensão científica e econômica da importância da diversidade biológica e sua função nos
ecossistemas;
(j) Estabelecer medidas e dispositivos para implementar os direitos dos países de
origem dos recursos genéticos ou dos países provedores dos recursos genéticos, tal como
definidos na Convenção sobre Diversidade Biológica, especialmente os países em
desenvolvimento, de beneficiarem-se do desenvolvimento biotecnológico e da utilização
comercial dos produtos derivados de tais recursos.(2 e 3)

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


15.5. Os Governos, nos níveis apropriados, em conformidade com políticas e práticas
nacionais, com a cooperação dos organismos competentes das Nações Unidas e, conforme
apropriado, de organizações intergovernamentais, e com o apoio das populações indígenas e de
suas comunidades, de organizações não-governamentais e de outros grupos, inclusive os meios
empresariais e as comunidades científicas, e em conformidade com os requisitos jurídicos
internacionais, devem, conforme apropriado:
Agenda 21 - Global 175

(a) Criar novos programas, planos ou estratégias ou fortalecer os que já existam


para a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos biológicos, levando
em conta as necessidades de educação e treinamento(4);
(b) Integrar estratégias voltadas para a conservação da diversidade biológica e o
uso sustentável dos recursos biológicos e genéticos aos planos, programas e políticas setoriais ou
trans-setoriais pertinentes, com especial referência à importância específica dos recursos
biológicos e genéticos terrestres e aquáticos para a produção alimentar e a agricultura(5);
(c) Empreender estudos de país ou utilizar outros métodos para identificar os
componentes da diversidade biológica importantes para sua conservação e para o uso sustentável
dos recursos biológicos; atribuir valores aos recursos biológicos e genéticos; identificar processos
e atividades com impactos significativos sobre a diversidade biológica; avaliar as implicações
econômicas potenciais da conservação da diversidade biológica e do uso sustentável dos recursos
biológicos e genéticos; e sugerir ações prioritárias;
(d) Adotar medidas eficazes de incentivo -- econômicas, sociais e outras -- para
estimular a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos biológicos,
inclusive com a promoção de sistemas sustentáveis de produção, como os métodos tradicionais
de agricultura, agro-silvicultura, silvicultura, e manejo das pastagens e da flora e da fauna
silvestres, que utilizem, mantenham ou aumentem a diversidade biológica(5);
(e) Em conformidade com a legislação nacional, adotar medidas para respeitar,
registrar, proteger e promover uma maior aplicação dos conhecimentos, inovações e práticas das
comunidades indígenas e locais que reflitam estilos de vida tradicionais e que permitam
conservar a diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos biológicos, com vistas à
partilha justa e eqüitativa dos benefícios decorrentes, e promover mecanismos que promovam a
participação dessas comunidades, inclusive das mulheres, na conservação e manejo dos
ecossistemas(1);
(f) Empreender pesquisas de longo prazo sobre a importância da diversidade
biológica para o funcionamento dos ecossistemas e o papel dos ecossistemas na produção de
bens, serviços ambientais e outros valores que contribuam para o desenvolvimento sustentável.
Essas pesquisas devem voltar-se especialmente para a biologia e as capacidades reprodutivas das
principais espécies terrestres e aquáticas, inclusive as espécies nativas, cultivadas e aculturadas;
as novas técnicas de observação e inventário; as condições ecológicas necessárias para a
conservação e a evolução da diversidade biológica; e o comportamento social e os hábitos
alimentares dependentes dos ecossistemas naturais, em que as mulheres têm um papel
fundamental. O trabalho deve ser empreendido com a mais ampla participação possível,
especialmente de populações indígenas e suas comunidades, inclusive das mulheres(1);
(g) Adotar medidas, quando necessário, para a conservação da diversidade
biológica por meio da conservação in situ dos ecossistemas e habitats naturais, bem como de
cultivares primitivos e seus correspondentes silvestres, e da manutenção e recuperação de
populações viáveis de espécies em seu meio natural, e implementar medidas ex situ, de
preferência no país de origem; As medidas in situ devem incluir o reforço dos sistemas de áreas
terrestres, marinhas e aquáticas protegidas e abranger, inter alia, as regiões de água doce e outras
terras úmidas vulneráveis e os ecossistemas costeiros, como estuários, recifes de coral e
mangues(6);
(h) Promover a reabilitação e a restauração dos ecossistemas danificados e a
recuperação das espécies ameaçadas e em extinção;
(i) Desenvolver políticas que estimulem a conservação da diversidade biológica e
o uso sustentável de recursos biológicos e genéticos nas terras de propriedade privada;
Agenda 21 - Global 176

(j) Promover o desenvolvimento ambientalmente saudável e sustentável das


regiões adjacentes às áreas protegidas, com vistas a aumentar a proteção dessas áreas;
(k) Introduzir procedimentos adequados de estudos de impacto ambiental para a
aprovação de projetos com prováveis conseqüências importantes sobre a diversidade biológica e
tomar medidas para que as informações pertinentes fiquem amplamente disponíveis, e a
participação do público em geral, quando apropriado, e estimular a avaliação dos impactos de
políticas e programas pertinentes sobre a diversidade biológica;
(l) Promover, quando apropriado, o estabelecimento e o melhoramento de sistemas
de inventário nacional, regulamentação ou manejo e controle relacionados aos recursos
biológicos, no nível apropriado;
(m) Adotar medidas que estimulem uma maior compreensão e apreciação do valor
da diversidade biológica, tal como esta se manifesta em suas partes componentes e nos
ecossistemas que provêem.
(b) Dados e informações
15.6. Os Governos, no nível apropriado, em conformidade com as políticas e práticas
nacionais, com a cooperação dos organismos competentes das Nações Unidas e, quando
apropriado, de organizações intergovernamentais, e com o apoio das populações indígenas e suas
comunidades, de organizações não-governamentais e de outros grupos, inclusive dos círculos
empresariais e científico, e em conformidade com as disposições do Direito Internacional, devem,
conforme apropriado(7):
(a) Cotejar, avaliar e trocar informações regularmente sobre a conservação da
diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos biológicos;
(b) Desenvolver metodologias com vistas a efetuar amostragens e avaliações
sistemáticas, em bases nacionais, dos componentes da diversidade biológica, identificados por
meio de estudos de país;
(c) Iniciar a elaboração de metodologias ou aperfeiçoar as já existentes e dar início
ou continuidade, no nível apropriado, a análises dos levantamentos acerca da situação em que se
encontram os ecossistemas, além de estabelecer informações básicas sobre os recursos biológicos
e genéticos, inclusive os pertencentes aos ecossistemas terrestres, aquáticos, costeiros e marinhos;
assim como, empreender a elaboração de inventários com a participação das populações locais e
indígenas e suas comunidades;
(d) Identificar e avaliar, o potencial econômico e as implicações e benefícios
sociais da conservação e do uso sustentável das espécies terrestres e aquáticas de cada país, com
base nos estudos de país;
(e) Empreender a atualização, análise e interpretação dos dados decorrentes das
atividades de identificação, amostragem e avaliação descritas acima;
(f) Coletar, analisar e tornar disponíveis informações pertinentes e confiáveis, em
tempo hábil e em formato adequado para a tomada de decisões em todos os níveis, com apoio e
participação plenos das populações locais e indígenas e suas comunidades.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
15.7. Os Governos, no nível apropriado, com a cooperação dos organismos competentes
das Nações Unidas e, conforme apropriado, de organizações intergovernamentais, e com o apoio
das populações indígenas e suas comunidades, de organizações não-governamentais e outros
grupos, inclusive os círculos financeiros e científicos, e em conformidade com as disposições do
Direito Internacional, devem, conforme apropriado:
(a) Considerar o estabelecimento ou o fortalecimento de instituições e redes
nacionais ou internacionais para o intercâmbio de dados e informações de relevância para a
Agenda 21 - Global 177

conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos biológicos e genéticos(7);


(b) Introduzir regularmente relatórios mundiais atualizados sobre a diversidade
biológica baseados em avaliações nacionais feitas em todos os países;
(c) Promover a cooperação técnica e científica no campo da conservação da
diversidade biológica e do uso sustentável de recursos biológicos e genéticos. Especial atenção
deve ser dedicada ao desenvolvimento e fortalecimento das capacitações nacionais por meio do
desenvolvimento dos recursos humanos e do fortalecimento institucional, inclusive com
transferência de tecnologia e/ou desenvolvimento de centros de pesquisa e manejo, como
herbários, museus, bancos de genes e laboratórios, relacionados à conservação da diversidade
biológica(8);
(d) Sem prejuízo dos dispositivos pertinentes da Convenção sobre Diversidade
Biológica, facilitar, no que diz respeito a este capítulo, a transferência de tecnologias relevantes
para a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos biológicos ou
tecnologias que façam uso dos recursos genéticos e não causem danos significativos ao meio
ambiente, em conformidade com o Capítulo 34 e reconhecendo que a tecnologia inclui a
biotecnologia(2 e 8);
(e) Promover a cooperação entre as partes nas convenções e planos de ação
internacionais pertinentes, com o objetivo de fortalecer e coordenar os esforços voltados para a
conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos biológicos;
(f) Fortalecer o apoio aos instrumentos, programas e planos de ação internacionais
e regionais voltados para a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos
biológicos;
(g) Promover uma melhor coordenação internacional de medidas para a
conservação e o manejo eficazes de espécies migratórias, que não constituam pragas, em risco de
extinção, inclusive com níveis adequados de apoio para a criação e o manejo de áreas protegidas
em localizações transfronteiriças;
(h) Promover os esforços nacionais relativos a levantamentos, coleta de dados,
amostragens e avaliações, bem como a manutenção de bancos de dados.

Meios de implementação

(a) Fina nciamento e estimativa de custos


15.8. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste capítulo em cerca de $3,5 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $1,75 bilhão de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revistas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implantação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
15.9. Os aspectos específicos a serem considerados incluem a necessidade de
desenvolver:
(a) Metodologias eficientes para a realização de levantamentos e inventários de
referência, bem como para a amostragem e a avaliação sistemáticas dos recursos biológicos;
(b) Métodos e tecnologias para a conservação da diversidade biológica e o uso
sustentável dos recursos biológicos;
(c) Métodos aperfeiçoados e diversificados para a conservação ex situ, com vistas
Agenda 21 - Global 178

à conservação a longo prazo dos recursos genéticos que apresentem importância para a pesquisa e
o desenvolvimento.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
15.10. É necessário, quando apropriado:
(a) Aumentar o número e/ou fazer um uso mais eficiente do pessoal capacitado nas
áreas científicas e tecnológicas relevantes para a conservação da diversidade biológica e o uso
sustentável dos recursos biológicos;
(b) Manter ou criar programas de ensino científico e técnico e de treinamento de
gerenciadores e profissionais, especialmente nos países em desenvolvimento, voltados para
medidas de identificação e conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos
biológicos;
(c) Promover e estimular uma melhor compreensão da importância das medidas
necessárias para a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos
biológicos em todos os planos governamentais de tomada de decisão e definição de políticas,
bem como nas empresas e instituições de crédito, e promover e estimular a inclusão desses
tópicos nos programas educacionais.
(d) Capacitação
15.11. É necessário, quando apropriado:
(a) Fortalecer as instituições responsáveis pela conservação da diversidade
biológica atualmente existentes e/ou criar novas, e considerar o estabelecimento de mecanismos
como institutos ou centros nacionais de diversidade biológica;
(b) Continuar a aumentar a capacidade de conservação da diversidade biológica e
uso sustentável dos recursos biológicos em todos os setores relevantes;
(c) Aumentar, especialmente nos Governos, empresas e agências bilaterais e
multilaterais de desenvolvimento, a capacidade de integrar as preocupações ligadas a diversidade
biológica, seus benefícios potenciais e o cálculo do custo de oportunidade nos processos de
concepção, implementação e avaliação dos projetos, bem como de avaliar o impacto sobre a
diversidade biológica de projetos de desenvolvimento em consideração;
(d) Aumentar, no nível apropriado, a capacidade das instituições governamentais e
privadas responsáveis pelo planejamento e manejo das áreas protegidas, de empreender a
coordenação e o planejamento intersetorial com outras instituições governamentais, organizações
não-governamentais e, quando apropriado, com os populações indígenas e suas comunidades.

1. Ver capítulo 26 ("Reconhecimento e fortalecimento do papel dos populações indígenas e


suas comunidades") e capítulo 24 ("Ação global pela mulher, com vistas a um desenvolvimento
sustentável e eqüitativo").
2. Ver capítulo 16 ("Manejo ambientalmente saudável da biotecnologia").
3. O artigo 2 ("Uso de termos") da Convenção sobre Diversidade Biológica inclui as
seguintes definições:
"País de origem dos recursos genéticos" significa o país que possui esses recursos genéticos em
condições in situ.
"País provedor dos recursos genéticos" significa o país que provê recursos genéticos colhidos de
fontes in situ, inclusive as populações de espécies tanto silvestres quanto domesticadas, ou de
fontes ex situ, originárias ou não desse país.
4. Ver capítulo 36 ("Promoção da educação, da concientização do público e do
treinamento").
5. Ver capítulo 14 ("Promoção do desenvolvimento rural e agrícola sustentável") e capítulo
Agenda 21 - Global 179

11 ("Combate ao desflorestamento").
6. Ver capítulo 26 («Reconhecimento e fortalecimento do papel das populações indígenas e
suas comunidades») e Capítulo 24 («Ação global pela mulher, com vistas a um desenvolvimento
sustentável e eqüitativo).
7. Ver capítulo 40 (" Informação para a tomada de decisões").
8. Ver capítulo 34 ("Transferência de tecnologia ambientalmente saudável, cooperação e
fortalecimento institucional").
Agenda 21 - Global 180

Capítulo 16

MANEJO AMBIENTALMENTE SAUDÁVEL DA BIOTECONOLOGIA

Introdução

16.1. A biotecnologia é a integraçao das novas técnicas decorrentes da moderna


biotecnologia às abordagens bem estabelecidas da biotecnologia tradicional. A biotecnologia, um
campo emergente com grande concentraçAo de conhecimento, é um conjunto de técnicas que
possibilitam a realização, pelo homem, de mudanças específicas no ácido desoxiribonucléico
(DNA), ou material genético, em plantas, animais e sistemas microbianos, conducentes a
produtos e tecnologias úteis. Em si mesma a biotecnologia não pode resolver todos os problemas
fundamentais do meio ambiente e do desenvolvimento, por isso é preciso temperar as
expectativas com realismo. Entretanto, sua contribuição promete ser significante para capacitar,
por exemplo, o desenvolvimento de melhor atendimento da saúde, maior segurança alimentar por
meio de práticas agrícolas sustentáveis, melhor abastecimento de água potável, maior eficiência
nos processos de desenvolvimento industrial para transformação de matérias-primas, apoio para
métodos sustentáveis de florestamento e reflorestamento, e a desentoxicação dos resíduos
perigosos. A biotecnologia também oferece novas oportunidades de parcerias globais,
especialmente entre países ricos em recursos biológicos (que incluem os recursos genéticos) mas
carentes da capacitação e dos investimentos necessários para a aplicação desses recursos por
meio da biotecnologia, e os países que desenvolveram a capacitação tecnológica necessária para
transformar os recursos biológicos de modo que estes sirvam às necessidades do
desenvolvimento sustentável(1). A biotecnologia pode contribuir para a conservação de tais
recursos por meio, por exemplo, de técnicas ex situ. As áreas de programas estabelecidas a seguir
buscam fomentar que princípios internacionalmente acordados sejam aplicados para assegurar o
manejo ambientalmente saudável da biotecnologia, conquistar a confiança do público, promover
o desenvolvimento de aplicações sustentáveis da biotecnologia e estabelecer mecanismos de
capacitação adequados, especialmente nos países em desenvolvimento, por meio das seguintes
atividades:
(a) Aumento da disponibilidade de alimentos, forragens e matérias-primas
renováveis;
(b) Melhoria da saúde humana;
(c) Aumento da proteção do meio ambiente;
(d) Aumento da segurança e desenvolvimento de mecanismos de cooperação
internacional;
(e) Estabelecimento de mecanismos de capacitação para o desenvolvimento e a
aplicação ambientalmente saudável de biotecnologia.

Áreas de Programas

A. Aumento da disponibilidade de alimentos, forragens e matérias-primas renováveis

Base para a ação

16.2. Para atender ao desafio das necessidades crescentes de consumo da população


Agenda 21 - Global 181

mundial, o desafio não é apenas o de aumentar a produção de alimentos; também é preciso


aperfeiçoar significativamente a distribuição dos alimentos e ao mesmo tempo desenvolver
sistemas agrícolas mais sustentáveis. Esse aumento da produtividade deverá ter lugar, em grande
parte, nos países em desenvolvimento. Para tanto, será necessário proceder à aplicação bem
sucedida e ambientalmente saudável da biotecnologia à agricultura, ao meio ambiente e ao
atendimento da saúde humana. Os investimentos em moderna biotecnologia foram realizados, em
sua maior parte, no mundo industrializado. Será preciso contar com um volume significativo de
novos investimentos e desenvolver recursos humanos em biotecnologia, especialmente no mundo
em desenvolvimento.

Objetivos

16.3. Os seguintes objetivos são propostos, tendo em mente a necessidade de promover o


uso de medidas adequadas de segurança, buscadas na área de programa D:
(a) Aumentar, na medida ótima possível, o rendimento dos principais cultivos, da
criação de gado e das espécies aqüícolas, mediante o uso combinado dos recursos da moderna
biotecnologia e do aperfeiçoamento convencional de plantas-animais-microorganismos, inclusive
com o uso mais diversificado de recursos do material genético, tanto híbrido quanto original(2).
O rendimento decorrente da produção florestal também deve aumentar, para assegurar o uso
sustentável das florestas(3);
(b) Reduzir a necessidade de aumentar o volume da produção de alimentos,
forragens e matérias-primas melhorando o valor nutritivo (composição) das culturas, animais e
microorganismos utilizados, e reduzir as perdas pós-colheita dos produtos agropecuários;
(c) Aumentar o uso de técnicas integradas de combate a pragas e enfermidades e
de manejo dos cultivos para eliminar a dependência excessiva dos agroquímicos, estimulando,
deste modo, práticas agrícolas ambientalmente sustentáveis;
(d) Avaliar o potencial agrícola das terras marginais comparativamente a outros
usos potenciais e desenvolver, quando apropriado, sistemas que permitam aumentos sustentáveis
da produtividade;
(e) Expandir as aplicaçães da biotecnologia à silvicultura, tanto para aumentar o
rendimento e obter uma utilização mais eficiente dos produtos florestais como para melhorar as
técnicas de florestamento e reflorestamento. Os esforços deverão concentrar-se nas espécies e
produtos cultivados nos países em desenvolvimento e para os quais apresentem valor especial;
(f) Aumentar a eficiência da fixação de nitrogênio e da absorção de minerais
graças à simbiose de plantas superiores com microorganismos;
(g) Aumentar a capacitação em ciências básicas e aplicadas e no manejo de
projetos complexos de pesquisa interdisciplinar.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


16.4. Os Governos, no nível apropriado, com o auxílio de organizações internacionais e
regionais e com o apoio de organizações não-governamentais, do setor privado e das instituições
científicas e acadêmicas, devem melhorar as variedades vegetais e animais e os microorganismos
por meio do uso das biotecnologias tradicional e moderna, com o objetivo de melhorar a
produção da agricultura sustentável e obter segurança alimentar, especialmente nos países em
desenvolvimento, levando devidamente em conta, antes da modificação, a identificação prévia
Agenda 21 - Global 182

das características desejadas e considerando as necessidades dos agricultores, os impactos sócio-


econômicos, culturais e ambientais das modificações, e a necessidade de promover o
desenvolvimento social e econômico sustentável, com especial atenção para a forma como o uso
da biotecnologia irá incidir sobre a manutenção da integridade ambiental.
16.5. Mais especificamente, essas entidades devem:
(a) Aumentar a produtividade, a qualidade nutricional e a vida útil dos produtos
alimentares e forrageiros, com esforços que incluam trabalho em torno das perdas pré e pós-
colheitas;
(b) Continuar desenvolvendo a resistência a enfermidades e pragas;
(c) Desenvolver cultivares de plantas tolerantes e/ou resistentes à pressão de
fatores como pragas e enfermidades, bem ocmo causas abióticas;
(d) Promover o uso de variedades sub-utilizadas que apresentem possível
importância futura para a nutrição humana e o abastecimento industrial de matérias-primas;
(e) Aumentar a eficácia dos processos simbióticos que servem à produção agrícola
sustentável;
(f) Facilitar a conservação e o intercâmbio seguro de germoplasma vegetal, animal
e microbiano, com a aplicação de procedimentos de avaliação e manejo dos riscos, inclusive com
técnicas melhoradas de diagnóstico para a detecção de pragas e enfermidades por meio de
métodos melhores de rápida propagação;
(g) Desenvolver técnicas aperfeiçoadas de diagnóstico e vacinas para a prevenção
e apropagação de enfermidades e para uma rápida avaliação das toxinas ou organismos
infecciosos presentes nos produtos destinados ao uso humano ou à alimentação dos animais;
(h) Identificar as linhagens mais produtivas de árvores de crescimento rápido, em
especial para uso como lenha, e desenvolver métodos de propagação rápida que contribuam para
sua maior difusão e uso;
(i) Avaliar o uso de diversas técnicas da biotecnologia para melhorar o rendimento
de peixes, algas e outras espécies aquáticas;
(j) Promover uma produção agrícola sustentável por meio do fortalecimento e da
ampliação da capacidade e da esfera de ação dos centros de pesquisa existentes, com vistas a
obter a necessária massa crítica por meio do estímulo e monitoramento da pesquisa voltada para o
desenvolvimento de produtos e processos biológicos de valor produtivo e ambiental que sejam
econômica e socialmente viáveis, levado em conta os aspectos de segurança;
(k) Promover a integração das biotecnologias apropriadas e tradicionais com o
objetivo de cultivar plantas geneticamente modificadas, criar animais saudáveis e proteger os
recursos genéticos florestais;
(l) Desenvolver processos para aumentar a disponibilidade de materiais derivados
da biotecnologia para uso como alimento, forragem, e a produção de matérias-primas renováveis.
(b) Dados e informações
16.6. As seguintes atividades devem ser empreendidas:
(a) Consideração de análises comparativas do potencial das diferentes tecnologias
na produção de alimentos, juntamente com um sistema para avaliar os possíveis efeitos das
biotecnologias sobre o comércio internacional de produtos agrícolas;
(b) Exame das implicações de uma eliminação dos subsídios e da possibilidade de
adoção de outros instrumentos econômicos que reflitam os custos ambientais associados ao uso
não-sustentável de agroquímicos;
(c) Manutenção e desenvolvimento de bancos de dados com informaçães sobre os
impactos de organismos sobre o meio ambiente e a saúde, com o objetivo de facilitar a avaliação
Agenda 21 - Global 183

dos riscos;
(d) Aceleração da aquisição, transferência e adaptação de tecnologia pelos países
em desenvolvimento para apoio às atividades nacionais que promovem a segurança alimentar.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
16.7. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem promover as seguintes atividades, em conformidade com os
acordos ou arranjos internacionais sobre diversidade biológica, conforme apropriado:
(a) Cooperação em questões relacionadas à conservação, acesso e intercâmbio de
germoplasma; aos direitos associados à propriedade intelectual e às inovações informais,
inclusive os direitos dos agricultores e criadores; ao acesso aos benefícios da biotecnologia e da
bio-segurança;
(b) Promoção de programas de pesquisa em regime de colaboração, especialmente
nos países em desenvolvimento, para apoiar as atividades delineadas nesta área de programas,
com particular referência à cooperação com as populações locais e os populações indígenas e
suas comunidades para a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos
biológicos, bem como para o fomento aos métodos e conhecimentos tradicionais desses grupos
em relação a essas atividades;
(c) Aceleração da aquisição, transferência e adaptação de tecnologia pelos países
em desenvolvimento para apoiar as atividades nacionais que promovam a segurança alimentar,
por meio do desenvolvimento de sistemas voltados para o aumento substancial e sustentável da
produtividade que não tragam danos ou perigos para os ecossistemas locais(4);
(d) Desenvolvimento de procedimentos adequados de segurança baseados na área
de programa D, levando em conta considerações éticas.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


16.8. O secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $5 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $50 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de adoções. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revistas pelos Governos. Os custos reais e termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos*
* Ver parágrafos 16.6 e 16.7.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
16.9. O treinamento de profissionais competentes nas ciências básicas e aplicadas em
todos os níveis (inclusive pessoal científico, técnico e de extensão) é um dos componentes mais
essenciais de qualquer programa deste tipo. É essencial que se tome consciência dos benefícios e
riscos da biotecnologia. Dada a importância de um bom manejo dos recursos da pesquisa para o
sucesso da concessão de projetos multidisciplinares de grande envergadura, programas
confirmados de treinamento formal de cientistas devem incluir treinamento de manejo. Devem
ainda ser desenvolvidos programas de treinamento, no contexto de projetos específicos, para
atender às necessidades regionais ou nacionais de pessoal com capacitação multidisciplinar capaz
de utilizar a tecnologia avançada para reduzir o "êxodo de cérebros" dos países em
desenvolvimento para os países desenvolvidos. Deve-se enfatizar o estímulo à colaboração entre
Agenda 21 - Global 184

cientistas, pessoal de extensão e usuários e a seu treinamento, para produzir sistemas integrados.
Adicionalmente, especial consideração deve ser atribuída à execução de programas de
treinamento e intercâmbio de conhecimentos sobre as biotecnologias tradicionais e de
treinamento em procedimentos de segurança.
(d) Fortalecimento Institucional
16.10. Será necessário adotar medidas que elevem o nível das instituições ou outras
medidas adequadas para reforçar as capacidades nacionais nos planos técnico, de manejo, de
planejamento e de administração, com vistas a apoiar as atividades nesta área de programa. Tais
medidas devem contar com o apoio internacional, científico, técnico e financeiro adequado para
facilitar a cooperação técnica e aumentar as capacidades dos países em desenvolvimento. A área
de programa E contém maiores detalhes.

B. Melhoria da saúde humana

Base para a ação

16.11. A melhoria da saúde humana é um dos objetivos mais importantes do


desenvolvimento. A deterioração da qualidade ambiental, especialmente a poluição do ar, da água
e do solo decorrente de produtos químicos tóxicos, resíduos perigosos, radiação e outras fontes,
preocupa cada vez mais. Essa degradação do meio ambiente resultante do desenvolvimento
inadequado ou inapropriado tem um efeito negativo direto sobre a saúde humana. A desnutrição,
a pobreza, a deficiência dos estabelecimentos humanos, a falta de água potável de boa qualidade
e a inadequação das instalaçães sanitárias acrescentam-se aos problemas das moléstias
contagiosas e não-contagiosas. Conseqüentemente, a saúde e o bem estar das pessoas vêem-se
expostos a pressões cada vez maiores.

Objetivos

16.12. O principal objetivo desta área de programas é contribuir, por meio da aplicação
ambientalmente saudável da biotecnologia, para um programa geral de saúde, para(5):
(a) Reforçar ou criar (em caráter de urgência) programas que ajudem a combater
as principais moléstias contagiosas;
(b) Promover a boa saúde geral das pessoas de todas as idades;
(c) Desenvolver e melhorar programas que contribuam para o tratamento
específico das principais moléstias não-contagiosas e para sua prevenção;
(d) Desenvolver e reforçar medidas de segurança adequadas baseadas na área de
programas D, levando em conta considerações éticas;
(e) Criar capacidades melhores para o desenvolvimento de pesquisas básicas e
aplicadas e para o manejo da pesquisa interdisciplinar.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


16.13. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio de organizações internacionais e
regionais, das instituições acadêmicas e científicas e da indústria farmacêutica, devem, levando
em conta as considerações éticas e de segurança adequadas:
(a) Desenvolver programas nacionais e internacionais para identificar e beneficiar
Agenda 21 - Global 185

as populações do mundo que mais necessitem melhorias no que diz respeito à saúde geral e à
proteção das enfermidades;
(b) Desenvolver critérios de avaliação da eficácia e dos benefícios e riscos das
atividades propostas;
(c) Estabelecer e fazer cumprir procedimentos de seleção, amostragem sistemática
e avaliação dos medicamentos e tecnologias médicas, com vistas a proibir o uso dos que não
sejam seguros para fins de experimentação; assegurar que os medicamentos e tecnologias
relacionados à saúde reprodutiva sejam seguros e eficazes e levem em conta considerações éticas;
(d) Melhorar, realizar amostragens sistemáticas e avaliar a qualidade da água
potável por meio da introdução de medidas específicas adequadas, inclusive de diagnóstico dos
agentes patogênicos e poluentes transmitidos pela água;
(e) Desenvolver e tornar amplamente disponíveis vacinas novas e aperfeiçoadas,
eficientes e seguras, contra as principais moléstias transmissíveis; essas vacinas devem oferecer
proteção com um número mínimo de doses; inclusive, intensificar os esforços voltados para
desenvolver as vacinas necessárias para o combate às moléstias infantis mais comuns;
(f) Desenvolver sistemas biodegradáveis de aplicação de vacinas que eliminem a
necessidade dos atuais programas de doses múltiplas, facilitem uma melhor cobertura da
população e reduzam os custos da imunização;
(g) Desenvolver agentes eficazes de controle biológico contra os vetores
transmissores de doenças, como mosquitos e mutantes resistentes, levando em conta
considerações de proteção ambiental;
(h) Utilizando os instrumentos oferecidos pela moderna biotecnologia,
desenvolver, inter alia, diagnósticos aperfeiçoados, novos medicamentos e melhores tratamentos
e sistemas de aplicação;
(i) Desenvolver o melhoramento e a utilização mais eficaz das plantas medicinais
e outras fontes correlatas;
(j) Desenvolver processos que aumentar a disponibilidade de materiais derivados
da biotecnologia, para uso na melhoria da saúde humana.
(b) Dados e informações
16.14. As seguintes atividades devem ser empreendidas:
(a) Pesquisas que analisem comparativamente os custos e benefícios sociais,
ambientais e financeiros das diferentes tecnologias para o atendimento da saúde básica e da saúde
reprodutiva, dentro de um quadro da segurança universal e de considerações éticas;
(b) Desenvolvimento de programas de educação pública dirigidos para as pessoas
em posição de adotar decisões e o público em geral, com vistas a estimular a percepção e a
compreensão dos benefícios e riscos relativos da moderna biotecnologia, em conformidade com
considerações éticas e culturais.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
16.15. Os Governos, nos níveis apropriados, com o apoio das organizações internacionais
e regionais competentes, devem:
(a) Elaborar e fortalecer procedimentos adequados de segurança com base na área
de programas D, levando em conta considerações éticas;
(b) Apoiar o desenvolvimento de programas nacionais, especialmente nos países
em desenvolvimento, para melhorar a saúde geral, especialmente da proteção contra a principais
moléstias contagiosas, as doenças infantis mais comuns e os agentes de contágio das moléstias
contagiosas.
1. Ver capítulo 15 (Conservação da Diversidade Biológica).
Agenda 21 - Global 186

2. Ver capítulo 14 (Promoção do Desenvolvimento Rural e Agrícola Sustentável).


3. Ver capítulo 11 (Combate ao Desflorestamento).
4. Ver capítulo 34 (Transferência de Tecnologia Ambientalmente Saudável, cooperação e
Fortalecimento Institucional).
5. Ver capítulo 6 (Proteção e Promoção das Condições da Saúde Humana).

Meios de implementação

16.16. É preciso implementar urgentemente as atividades concebidas para atingir as metas


acima caso se queira progredir rumo ao controle das principais moléstias contagiosas até o início
do próximo século. A disseminação de determinadas doenças para todas as regiões do mundo
exige medidas de alcance global. Para as doenças mais localizadas, políticas regionais ou
nacionais serão mais indicadas. Para atingir as metas é necessário:
(a) Compromisso Institucional contínuo;
(b) Prioridades nacionais com prazos definidos;
(c) Insumos científicos e financeiros nos planos global e nacional.
(a) Financiamento e estimativa de custos
16.17. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $14 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $130 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doaçães. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revistas
pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas que os Governos decidam adotar para
implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
16.18. Serão necesários esforços multidisciplinares bem coordenados, envolvendo
cooperação entre cientistas, instituições financeiras e indústrias. No plano global, isso pode
significar a colaboração entre instituições de pesquisa de diferentes países, com financiamento no
plano intergovernamental, possivelmente apoiadas por uma colaboração similar no plano
nacional. O apoio à pesquisa e ao desenvolvimento também deverá ser fortalecido, juntamente
com os mecanismos destinados a provar a transferência da tecnologia pertinente.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
16.19. Há necessidade de treinamento e transferência de tecnologia no plano global, com
as regiões e países tendo acesso e participando do intercâmbio de informações e habilidades,
especialmente dos conhecimentos indígenas ou tradicionais e da biotecnologia correlata. É
essencial criar ou fortalecer capacitações endógenas nos países em desenvolvimento para que
estes se capacitem a participar ativamente nos processos de produção de biotecnologia. O
treinamento de pessoal poderia ser empreendido em três planos:
(a) No dos cientistas necessários para a pesquisa básica e orientada para os
produtos;
(b) No do pessoal da área de saúde (a ser treinado no uso seguro dos novos
produtos) e de gerenciadores dos programas científicos necessários para a pesquisa
intermultidisciplinar complexa;
(c) No dos técnicos de nível terciário necessários para a aplicação no campo.
(d) Fortalecimento Institucional*
* Ver área de programa E.
Agenda 21 - Global 187

C. Melhoria da proteção do meio ambiente

Base para a ação

16.20. A proteção ambiental é componente integrante do desenvolvimento sustentável. O


meio ambiente está ameaçado em todos os seus componentes bióticos e abióticos: animais,
plantas, micróbios e ecossistemas e sua diversidade biológica; água, solo e ar, que formam os
componentes físicos de habitats e ecossistemas; e todas as interaçães entre os componentes da
diversidade biológica e os habitats e ecossistemas que os sustentam. Com uma aumento
continuado de substâncias químicas, energia e recursos não-renováveis por uma população
mundial em expansão, os problemas ambientais correlatos também irão aumentar. A despeito dos
esforços cada vez maiores para evitar o acúmulo de resíduos e para promover a reciclagem, o
volume de dano ambiental causado pelo excesso de consumo, pela quantidade de resíduos gerada
e pelo grau de utilização insustentável da terra aparentemente continuará a aumentar.
16.21. A necessidade de contar com um capital genético variado de germoplasma vegetal,
animal e microbiano para que haja desenvolvimento sustentável está claramente estabelecida. A
biotecnologia é um dos muitos instrumentos capazes de desempenhar um papel importante no
apoio à reabilitação de ecossistemas e paisagens degradados. Isso pode ser realizado por meio do
desenvolvimento de novas técnicas de reflorestamento e florestamento, de conservação de
germoplasma e cultivo de novas variedades vegetais. A biotecnologia também pode contribuir
para o estudo dos efeitos exercidos pelos organismos introduzidos nos ecossistemas sobre os
demais organismos e sobre outros organismos .

Objetivos

16.22. O objetivo deste programa é prevenir, deter e reverter o processo de degradação


ambiental por meio do uso adequado da biotecnologia, juntamente com outras tecnologias, e do
apoio concomitante aos procedimentos de segurança que devem fazer parte integrante do
programa. Entre seus objetivos específicos está o início, tão logo possível, de programas
específicos com metas específicas:
(a) Adotar processos de produção que façam um uso ótimo dos recursos naturais
por meio da reciclagem da biomassa, da recuperação da energia e da minimização da geração de
resíduos(6);
(b) Promover o uso de biotecnologias, com ênfase no bio-tratamento do solo e da
água, no tratamento dos resíduos, na conservação dos solos, no reflorestamento, no florestamento
e na reabilitação dos solos(7e8);
(c) Aplicar as biotecnologias e seus produtos para proteger a integridade
ambiental, com vistas a assegurar uma segurança ecológica a longo prazo.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


16.23. Os Governos, no nível apropriado e com o apoio de organizações internacionais e
regionais competentes, do setor privado, de organizações não-governamentais e acadêmicas e de
instituições científicas, devem:
(a) Desenvolver alternativas e aperfeiçoamentos ambientalmente saudáveis para os
processos de produção que representem dano para o meio ambiente;
Agenda 21 - Global 188

(b) Desenvolver aplicações que minimizem a necessidade de insumos químicos


sintéticos insustentáveis e maximizem o uso de produtos ambientalmente adequados, inclusive
produtos naturais (ver área de programa A);
(c) Desenvolver processos que reduzam a geração de resíduos, tratem os resíduos
antes que estes sejam descartados e façam uso de materiais biodegradáveis;
(d) Desenvolver processos para a recuperação de energia e a obtenção fontes
renováveis de energia, forragem para o gado e matérias-primas por meio da reciclagem de
resíduos orgânicos e biomassa;
(e) Desenvolver processos para a remoção de poluentes do meio ambiente,
inclusive vazamentos acidentais de petróleo, onde as técnicas convencionais não estiverem
disponíveis ou forem caras, ineficientes ou inadequadas;
(f) Desenvolver processos para aumentar a disponibilidade de material vegetal de
plantio, sobretudo de espécies nativas, para uso no florestamento e reflorestamento e para
melhorar o rendimento sustentável das florestas;
(g) Desenvolver aplicações que aumentem a quantidade disponível de material
vegetal de plantio resistente às pressões com vistas à reabilitação e conservação dos solos;
(h) Promover a adoção de um manejo integrado das pragas a partir do uso
judicioso de agentes de controle biológicos;
(i) Promover o uso adequado de fertilizantes biológicos no âmbito dos programas
nacionais de fertilizantes;
(j) Promover o uso de biotecnologias relevantes para a conservação e o estudo
científico da diversidade biológica e o uso sustentável dos recursos biológicos;
(k) Desenvolver tecnologias facilmente aplicáveis para tratamento do esgoto e dos
resíduos orgânicos;
(l) Desenvolver novas tecnologias para uma seleção rápida dos organismos com
vista a suas propriedades biológicas úteis;
(m) Promover novas biotecnologias para a extração dos recursos minerais de
forma ambientalmente sustentável.
(b) Dados e informações
16.24. Devem ser adotadas medidas que aumentem o acesso tanto às informações
existentes sobre biotecnologia como aos serviços proporcionados pelas bases de dados mundiais.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
16.25. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio de organizações internacionais e
regionais competentes, devem:
(a) Fortalecer a pesquisa, o treinamento e o desenvolvimento, especialmente nos
países em desenvolvimento, para apoiar as atividades delineadas nesta área de programa;
(b) Desenvolver mecanismos para ir aumentando gradualmente e difundindo
biotecnologias ambientalmente saudáveis de grande importância ambiental, especialmente a curto
prazo, mesmo que tais biotecnologias possam apresentar um potencial comercial limitado;
(c) Incrementar a cooperação entre os países participantes, inclusive a
transferência de biotecnologia, com vistas a fomentar o fortalecimento institucional;
(d) Desenvolver procedimentos de segurança adequados, baseados na área de
programa D, levando em conta considerações éticas.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


Agenda 21 - Global 189

16.26. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da


implementação das atividades deste programa em cerca de $1 bilhão de dólares, inclusive cerca
de $10 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revistas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, entre outras coisas, das estratégias e programas específicos que os Governos
decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos*
* Ver parágrafos 16.23 a 16.25.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
16.27. As atividades desta área de programa irão aumentar a demanda de pessoal
capacitado. Será necessário aumentar o apoio aos programas de treinamento existentes, por
exemplo no nível das universidades e institutos técnicos, bem como o intercâmbio de pessoal
capacitado entre os países e regiões. Também é preciso desenvolver novos e adicioonais
programas de treinamento, por exemplo para o pessoal técnico e de apoio. Além disso, há
necessidade urgente de melhorar o nível de compreensão dos princípios biológicos e de suas
implicaçães políticas entre os responsáveis pela tomada de decisões nos Governos, e as
instituições financeiras e outras.
(d) Fortalecimento Institucional
16.28. Será necessário que as instituições competentes se responsabilizem pelo
empreendimento e pela capacidade (política, financeira e de pessoal) para dar andamento às
atividades acima relacionadas e agir de forma dinâmica diante dos novos desenvolvimentos
biotecnológicos (ver área de programas E).

D. Aumento da segurança e desenvolvimento de mecanismos de cooperação internacional

Base para a ação

16.29. É necessário elaborar mais profundamente os princípios acordados


internacionalmente -- que devem ser definidos a partir dos princípios desenvolvidos no plano
nacional -- sobre análise dos riscos e manejo de todos os aspectos da biotecnologia. Somente
depois de estabelecidos procedimentos adequados e transparentes de segurança e controle de
fronteiras a comunidade em geral terá condições de extrair o máximo benefício da biotecnologia,
e de dispor de mais condições de aceitar seus benefícios e riscos potenciais. Muitos desses
procedimentos de segurança poderiam apoiar-se sobre diversos princípios fundamentais, entre os
quais: inclusive a consideração primária do organismo, baseando-se no princípio da
familiaridade, aplicado dentro de estruturas flexíveis, levando em conta os requisitos nacionais e
reconhecendo que a progressão lógica é começar por uma abordagem gradual e individual, mas
também reconhecendo que a experiência mostrou que em muitas instâncias deve-se adotar uma
abordagem mais abrangente, baseada nas experiências do primeiro período, o que permite, inter
alia, simplificar e categorizar; considerar complementarmente a avaliação e o manejo dos riscos,
e classificar em uso contido ou introdução ao meio ambiente.

Objetivos

16.30. O objetivo desta área de programa é assegurar segurança do desenvolvimento,


aplicação, intercâmbio e transferência de biotecnologia por meio de acordo internacional sobre os
Agenda 21 - Global 190

princípios a serem aplicados na avaliação dos riscos e em seu manejo, com especial referência às
considerações relativas a saúde e meio ambiente, inclusive com a maior participação possível do
público e levando em conta considerações éticas.

Atividades

16.31. As atividades propostas para esta área de programa exigem uma estreita
cooperação internacional. Elas devem partir das atividades já existentes ou planejadas que visem
acelerar a aplicação ambientalmente saudável da biotecnologia, especialmente nos países em
desenvolvimento.
(a) Atividades relacionadas a manejo
16.32. Os Governos, nos níveis apropriados e com o apoio de organizações internacionais
e regionais competentes, do setor privado, de organizações não-governamentais e de instituições
acadêmicas e científicas, devem:
(a) Tornar disponíveis de forma ampla os procedimentos de segurança atualmente
existentes; para tanto, coletar as informações existentes e adaptá-las às necessidades específicas
dos diferentes países e regiões;
(b) Desenvolver mais profundamente, quando necessário, os procedimentos de
segurança existentes, com o objetivo de promover o desenvolvimento e a categorização científica
nas áreas de análise dos riscos e manejo dos riscos (necessidades de informação; bancos de
dados; procedimentos para avaliação dos riscos e das condições de aplicação; estabelecimento de
condições de segurança; monitoramento e inspeções; levando em conta as iniciativas nacionais,
regionais e internacionais em curso, evitando, sempre que possível, a duplicação);
(c) Compilar, atualizar e desenvolver procedimentos de segurança compatíveis,
em um quadro de princípios internacionalmente acordados como base para diretrizes a serem
aplicadas à segurança em biotecnologia, inclusive com a consideração da necessidade e
viabilidade de um acordo internacional, e promover o intercâmbio de informação como base para
um maior desenvolvimento, apoiando-se no trabalho já realizado por organismos internacionais
ou outros organismos especializados;
(d) Empreender programas de treinamento nos planos nacional e regional sobre a
aplicação das diretrizes técnicas propostas;
(e) Prestar assistência no intercâmbio de informações sobre os procedimentos
necessários para a manipulação segura e o manejo dos riscos, bem como sobre as condições de
aplicação dos produtos da biotecnologia, e cooperar na provisão de assistência imediata em caso
de emergências que possam surgir em conjunção com o uso de produtos da biotecnologia.
(b) Dados e informações *
* Ver parágrafos 16.32 e 16.33.
16.33. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e
regionais competentes, devem promover a sensibilização do público acerca dos benefícios e
riscos relativos da biotecnologia.
16.34. As atividades posteriores devem incluir as seguintes (ver também parágrafo 16.32):
(a) Organização de uma ou mais reuniões regionais entre países para identificar os
passos práticos adicionais para facilitar a cooperação internacional em bio-segurança;
(b) Estabelecer uma rede internacional que incorpore pontos de contato nacionais,
regionais e globais;
(c) Oferecer assistência direta, quando solicitado, por meio da rede internacional,
utilizando redes de informação, bancos de dados e procedimentos de informação;
Agenda 21 - Global 191

(d) Considerar a necessidade e a viabilidade de diretrizes acordadas


internacionalmente a respeito da segurança nas aplicações de biotecnologia, inclusive com
análise dos riscos e manejo dos riscos, e considerar o estudo da viabilidade de serem adotadas
diretrizes que possam facilitar a adoção de legislação nacional a respeito de responsabilidade e
indenização.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


16.35. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $2 milhões de dólares a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revistas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos*
* Ver parágrafo 16.32.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos*
* Ver parágrafo 16.32.
(d) Fortalecimento Institucional
16.36. Os países em desenvolvimento devem contar com a assistência técnica e
financeira internacional adequada e ter facilitada a cooperação técnica para adquirir, no plano
nacional, a capacitação técnica, gerencial, administrativa e de planejamento necessária ao
desenvolvimento das atividades desta área de programa. (Ver também a área de programa E).

E. Estabelecimento de mecanismos que capacitem para o desenvolvimento e a aplicação


ambientalmente saudável de biotecnologia

Base para a Ação

16.37. O desenvolvimento e a aplicação acelerados das biotecnologias, especialmente nos


países em desenvolvimento, irão requerer um grande esforço para a construção das capacidades
institucionais nos planos nacional e regional. Nos países em desenvolvimento, fatores
capacitadores como capacidade de treinamento, conhecimentos técnico-científicos, instalações e
verbas destinadas a pesquisa e desenvolvimento, capacidade industrial, capital (inclusive capital
de risco), proteção dos direitos de propriedade intelectual e capacitação em áreas como pesquisa
de marketing, análise da tecnologia, análise sócio-econômica e análise das condições de
segurança são freqüentemente inadequados. Em decorrência, será necessário envidar esforços
para construir capacidades nessas e outras áreas e acompanhar tais esforços de volume adequado
de apoio financeiro. Portanto é necessário fortalecer as capacidades endógenas dos países em
desenvolvimento por meio de novas iniciativas internacionais de apoio à pesquisa para obter uma
aceleração do desenvolvimento e da aplicação tanto das biotecnologias novas como das
convencionais, com o objetivo de atender às necessidades do desenvolvimento sustentável nos
planos local, nacional e regional. Deve fazer parte integrante do mesmo processo a criação de
mecanismos nacionais que permitam ao grande público manifestar sua opinião informada sobre
pesquisa e aplicação em biotecnologia.
16.38. Algumas atividades nos planos nacional, regional e global já se ocupam das
Agenda 21 - Global 192

questões delineadas nas áreas de programas A, B, C e D, bem como do assessoramento aos países
individualmente acerca do desenvolvimento de diretrizes e sistemas nacionais para a
implementação daquelas diretrizes. No entanto essas atividades são geralmente descoordenadas,
envolvendo muitas e diferentes organizações, prioridades, jurisdições, organogramas, fontes de
financiamento e limitações de recursos. Há necessidade de uma abordagem mais coerente e
coordenada para que os recursos disponíveis sejam utilizados do modo mais eficaz. Como ocorre
com quase todas as novas tecnologias, a pesquisa em biotecnologia e a aplicação de seus
resultados podem ter impactos sócio-econômicos e culturais significativos, tanto positivos quanto
negativos. Esses impactos devem ser cuidadosamente identificados nas fases mais iniciais do
desenvolvimento da biotecnologia para possibilitar um manejo adequado das conseqüências da
transferência de biotecnologia.

Objetivos

16.39. Os objetivos são os seguintes:


(a) Promover o desenvolvimento e a aplicação das biotecnologias, com especial
atenção para os países em desenvolvimento, por meio das seguintes medidas:
(i) Intensificar os esforços envidados atualmente nos planos nacional,
regional e global;
(ii) Proporcionar o apoio necessário à biotecnologia, particularmente no
que diz respeito a pesquisa e desenvolvimento de produtos, nos planos nacional, regional e
internacional;
(iii) Sensibilizar a opinião pública no que diz respeito aos aspectos
benéficos e aos riscos associados à biotecnologia, a fim de contribuir para o desenvolvimento
sustentável;
(iv) Contribuir para criar um clima favorável aos investimentos, ao
aumento da capacidade industrial e à distribuição-comercialização da produção;
(v) Estimular o intercâmbio de cientistas entre todos os países e
desestimular o "êxodo de cérebros";
(vi) Reconhecer e fomentar os métodos e conhecimentos tradicionais dos
populações indígenas e de suas comunidades e assegurar que tenham oportunidade de participar
dos benefícios econômicos e comerciais decorrentes dos avanços na área da biotecnologia(9).
(b) Identificar formas e meios de intensificar os esforços atualmente envidados,
partindo, sempre que possível, dos mecanismos existentes, particularmente regionais, para
determinar a natureza exata das necessidades de iniciativas adicionais, especialmente no que diz
respeito aos países em desenvolvimento, e, desenvolver estratégias de resposta adequadas,
inclusive propostas para a criação de novos mecanismos internacionais;
(c) Estabelecer ou adaptar mecanismos adequados para a avaliação das condições
de segurança e dos riscos em escala local, regional e internacional, conforme apropriado.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


16.40. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio de organizações internacionais e
regionais, do setor privado, de organizações não-governamentais e de instituições acadêmicas e
científicas devem:
(a) Desenvolver políticas e mobilizar recursos adicionais para facilitar um maior
Agenda 21 - Global 193

acesso às novas biotecnologias, especialmente pelos países em desenvolvimento e entre esses


países;
(b) Implementar programas para uma maior sensibilização do público e dos
principais responsáveis pela tomada de decisões em relação aos benefícios e riscos potenciais e
relativos da aplicação ambientalmente saudável da biotecnologia;
(c) Realizar uma análise urgente dos mecanismos, programas e atividades
capacitadores existentes nos planos nacional, regional e global, para identificar pontos fortes,
pontos fracos e lacunas e para avaliar as necessidades prioritárias dos países em
desenvolvimento;
(d) Definir e implementar estratégias para superar as limitações identificadas nas
áreas de alimentos, forragens e matérias-primas renováveis; saúde humana; e proteção ambiental,
tornando mais eficazes os dispositivos já existentes;
(e) Empreender, em caráter de urgência, um acompanhamento e uma análise
crítica para identificar formas e meios de fortalecer as capacidades endógenas nos países em
desenvolvimento e entre esses países, com vistas à aplicação ambientalmente saudável da
biotecnologia, inclusive, como primeiro passo, maneiras de melhorar os mecanismos existentes,
em especial no plano regional, e, como passo seguinte, considerando a possibilidade de utilizar
novos mecanismos internacionais, como, por exemplo, centros regionais de biotecnologia;
(f) Desenvolver planos estratégicos para resolver as dificuldades claramente
identificadas por meio de atividades adequadas de pesquisa, do desenvolvimento de produtos e de
sua comercialização;
(g) Fixar padrões adicionais de garantia de qualidade para as aplicações e os
produtos da biotecnologia, onde necessário.
(b) Dados e informações
16.41. As seguintes atividades devem ser empreendidas: facilitação do acesso aos atuais
sistemas de difusão da informação, em especial entre os países em desenvolvimento;
aperfeitamento desse acesso, onde apropriado; e consideração da possibilidade de criar um guia
de informações.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
16.42. Os Governos, no nível apropriado, com o auxílio das organizações internacionais
e regionais competentes, devem desenvolver novas iniciativas adequadas com vistas a identificar
áreas prioritárias para o desenvolvimento de pesquisas baseadas em problemas específicos e
facilitar o acesso às novas biotecnologias, especialmente aos países em desenvolvimento e entre
esses países, bem como aos empreendimentos pertinentes desses países, a fim de fortalecer a
capacidade endógena e apoiar a construção de uma capacidade institucional e de pesquisa nesses
países.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


16.43. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $5 milhões de dólares a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revistas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
Agenda 21 - Global 194

16.44. Será preciso organizar, nos planos regional e global, cursos práticos, simpósios,
seminários e outras formas de intercâmbio entre a comunidade científica; para concretizar-se,
esse intercâmbio deverá versar sobre temas prioritários específicos e fazer uso pleno das
competências científicas e tecnológicas de cada país.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
16.45. Será preciso identificar as necessidades de formação de pessoal e criar programas
adicionais de treinamento nos planos nacional, regional e global, especialmente nos países em
desenvolvimento. Tais programas deverão ser apoiados por um acréscimo do treinamento em
todos os níveis -- graduação, pós-graduação e pós-doutoramento --, bem como pelo treinamento
de técnicos e pessoal de apoio, com especial referência à geração de força de trabalho
especializada em serviços de consultoria, projetos, engenharia e pesquisa de mercado. Também
será necessário elaborar programas de treinamento para os docentes encarregados de formar
cientistas e tecnólogos nas instituições de pesquisa avançada nos diferentes países do mundo
todo; ao mesmo tempo, será preciso instituir sistemas que concedam as compensações, os
incentivos e o reconhecimento devidos a cientistas e tecnólogos (ver par. 16.44 acima). Nos
países em desenvolvimento será preciso melhorar as condições de trabalho no plano nacional,
com vistas a estimular a força de trabalho especializada local e promover sua permanência no
país. A sociedade deve ser informada dos impactos sociais e culturais do desenvolvimento e da
aplicação de biotecnologia.
(d) Fortalecimento Institucional
16.46. Em muitos países, pesquisa e desenvolvimento em biotecnologia são empreendidos
tanto dentro de codições altamente sofisticadas quanto no plano prático. Serão necessários
esforços para assegurar que as condições de infra-estrutura necessárias para as atividades de
pesquisa, extensão e tecnologia estejam disponíveis de modo descentralizado. A cooperação
global e regional para a realização de pesquisa e desenvolvimento básicos e aplicados também
deverá ser reforçada e todos os esforços feitos para garantir que as instalações nacionais e
regionais existentes sejam plenamente utilizadas. Tais instituições já existem em alguns países;
deve ser possível utilizá-las para fins de treinamento e de projetos conjuntos de pesquisa. Será
necessário fortalecer e estabelecer universidades, escolas técnicas e instituições locais de
pesquisa para o desenvolvimento de biotecnologias e serviços de extensão para sua aplicação,
especialmente nos países em desenvolvimento.

1. Ver capítulo 15 (Conservação da Diversidade Biológica).

2. Ver capítulo 14 (Promoção do Desenvolvimento Rural e Agrícola


Sustentável).

3. Ver capítulo 11 (Combate ao Desflorestamento).

4. Ver capítulo 34 (Transferência de Tecnologia Ambientalmente Saudável,


cooperação e Fortalecimento Institucional).

5. Ver capítulo 6 (Proteção e Promoção das Condições da Saúde Humana).

6. Ver capítulo 21 (Manejo Ambientalmente Saudável dos Resíduos Sólidos e


Questões Relacionadas com os Esgotos).
Agenda 21 - Global 195

7. Ver capítulo 10 (Abordagem Integrada do Planejamento e do Manejo dos


Recursos Terrestres").

8. Ver capítulo 18 (Proteção da Qualidade e do Abastecimento dos Recursos


Hídricos: Aplicação de Critérios Integrados no Desenvolvimento, Manejo e
Uso dos Recursos Hídricos).

9. Ver capítulo 26 (Reconhecimento e Fortalecimento do Papel dos


Populações Indígenas e suas Comunidades").
Agenda 21 - Global 196

Capítulo 17

PROTEÇÃO DOS OCEANOS, DE TODOS OS TIPOS DE MARES -- INCLUSIVE


MARES FECHADOS E SEMIFECHADOS -- E DAS ZONAS COSTEIRAS, E
PROTEÇÃO, USO RACIONAL E DESENVOLVIMENTO DE SEUS RECURSOS VIVOS

Introdução

17.1. O meio ambiente marinho -- inclusive os oceanos e todos os mares, bem como as
zonas costeiras adjacentes -- forma um todo integrado que é um componente essencial do sistema
que possibilita a existência de vida sobre a Terra, além de ser uma riqueza que oferece
possibilidades para um desenvolvimento sustentável. O direito internacional, tal como este
refletido nas disposições da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar(1 e 2)
mencionadas no presente capítulo da Agenda 21, estabelece os direitos e as obrigações dos
Estados e oferece a base internacional sobre a qual devem apoiar-se as atividades voltadas para a
proteção e o desenvolvimento sustentável do meio ambiente marinho e costeiro, bem como seus
recursos. Isso exige novas abordagens de gerenciamento e desenvolvimento marinho e costeiro
nos planos nacional, sub-regional, regional e mundial -- abordagens integradas do ponto de vista
do conteúdo e que ao mesmo tempo se caracterizem pela precaução e pela antecipação, como
demonstram as seguintes áreas de programas(3)
(a) Gerenciamento integrado e desenvolvimento sustentável das zonas costeiras,
inclusive zonas econômicas exclusivas;
(b) Proteção do meio ambiente marinho;
(c) Uso sustentável e conservação dos recursos marinhos vivos de alto mar;
(d) Uso sustentável e conservação dos recursos marinhos vivos sob jurisdição
nacional;
(e) Análise das incertezas críticas para o manejo do meio ambiente marinho e a
mudança do clima;
(f) Fortalecimento da cooperação e da coordenação no plano internacional,
inclusive regional;
(g) Desenvolvimento sustentável das pequenas ilhas.
17.2. A implementação, pelos países em desenvolvimento, das atividades enumeradas
abaixo, deve coadunar-se às respectivas capacidades individuais, tanto tecnológicas como
financeiras, bem como a suas prioridades na alocação de recursos para as exigências do
desenvolvimento, dependendo, em última análise, da transferência de tecnologia e dos recursos
financeiros necessários que lhes venham a ser oferecidos.

Áreas de Programas

A. Gerenciamento integrado e desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e marinhas,


inclusive zonas econômicas exclusivas

Base para a ação

17.3. A área costeira contém hábitats diversos e produtivos, importantes para os


estabelecimentos humanos, para o desenvolvimento e para a subsistência das populações locais.
Agenda 21 - Global 197

Mais de metade da população mundial vive num raio de 60 quilômetros do litoral e esse total
pode elevar-se a 75 por cento até o ano 2000. Muitos dentre os pobres do mundo vivem
aglomerados nas zonas costeiras. Os recursos costeiros são vitais para muitas comunidades locais
e populações indígenas. A zona econômica exclusiva também é uma importante área marinha,
onde os Estados gerenciam o desenvolvimento e a conservação dos recursos naturais em
benefício de seus populações. Em se tratando de pequenos Estados ou países insulares, essas são
as regiões que melhor se prestam às atividades ligadas ao desenvolvimento.
17.4. A despeito dos esforços nacionais, sub-regionais, regionais e mundiais, verifica-se
que as maneiras como atualmente se aborda o gerenciamento dos recursos marinhos e costeiros
nem sempre foi capaz de atingir o desenvolvimento sustentável; e os recursos costeiros, bem
como o meio ambiente costeiro, vêm sofrendo um processo acelerado de degradação e erosão em
muitos lugares do mundo.

Objetivos

17.5. Os Estados costeiros comprometem-se a praticar um gerenciamento integrado e


sustentável das zonas costeiras e do meio ambiente marinho sob suas jurisdições nacionais. Para
tal, é necessário, inter alia:
(a) Estabelecer um processo integrado de definição de políticas e tomada de
decisões, com a inclusão de todos os setores envolvidos, com o objetivo de promover
compatibilidade e equilíbrio entre as diversas utilizações;
(b) Identificar as utilizações de zonas costeiras praticadas atualmente, as
projetadas, e as interações entre elas;
(c) Concentrar-se em questões bem definidas referentes ao gerenciamento
costeiro;
(d) Adotar medidas preventivas e de precaução na elaboração e implementação
dos projetos, inclusive com avaliação prévia e observação sistemática dos impactos decorrentes
dos grandes projetos;
(e) Promover o desenvolvimento e a aplicação de métodos, tais como a
contabilidade dos recursos naturais e do meio ambiente nacionais, que reflitam quaisquer
alterações de valor decorrentes de utilizações de zonas costeiras e marinhas, inclusive poluição,
erosão marinha, perda de recursos naturais e destruição de hábitats.
(f) Dar acesso, na medida do possível, a indivíduos, grupos e organizações
interessados, às informações pertinentes, bem como oportunidades de consulta e participação no
planejamento e na tomada de decisões nos níveis apropriados.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a gerenciamento


17.6. Cada Estado costeiro deve considerar a possibilidade de estabelecer -- ou, quando
necessário, fortalecer -- mecanismos de coordenação adequados (por exemplo organismos
altamente qualificados para o planejamento de políticas) para o gerenciamento integrado e o
desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e marinhas e dos respectivos recursos naturais,
tanto no plano local como no nacional. Tais mecanismos devem incluir consultas, conforme
apropriado, aos setores acadêmico e privado, às organizações não-governamentais, às
comunidades locais, aos grupos usuários dos recursos e aos populações indígenas. Tais
mecanismos de coordenação nacional podem compreender, inter alia:
Agenda 21 - Global 198

(a) A preparação e a implementação de políticas voltadas para o uso da terra e da


água e a implantação de atividades;
(b) A implementação de planos e programas integrados de gerenciamento e
desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e marinhas, nos níveis apropriados;
(c) A preparação de perfis costeiros que identifiquem as áreas críticas, inclusive as
regiões erodidas, os processos físicos, os padrões de desenvolvimento, os conflitos entre os
usuários e as prioridades específicas em matéria de gerenciamento;
(d) A avaliação prévia do impacto sobre o meio ambiente, a observação
sistemática e o acompanhamento dos principais projetos, inclusive a incorporação sistemática dos
resultados ao processo de tomada de decisões;
(e) O estabelecimento de planos para situações de emergência em caso de
desastres naturais ou provocados pelo homem, inclusive para os efeitos prováveis de eventuais
mudanças de clima ou elevação do nível dos oceanos, bem como planos de emergência em caso
de degradação e poluição de origem antrópica, inclusive vazamentos de petróleo e outras
substâncias;
(f) A melhoria dos estabelecimentos humanos costeiros, especialmente no que diz
respeito a habitação, água potável e tratamento e depósito de esgotos, resíduos sólidos e efluentes
industriais;
(g) A avaliação periódica dos impactos de fatores e fenômenos externos para
conseguir que se atinjam os objetivos do gerenciamento integrado e do desenvolvimento
sustentável das zonas costeiras e do meio ambiente marinho;
(h) A conservação e a restauração dos hábitats críticos alterados;
(i) A integração dos programas setoriais relativos ao desenvolvimento sustentável
de estabelecimentos humanos, agricultura, turismo, pesca, portos e indústrias que utilizem ou se
relacionem à área costeira;
(j) A adaptação da infra-estrutura e do emprego alternativo;
(k) O desenvolvimento e o treinamento dos recursos humanos;
(l) A elaboração de programas de educação, conscientização e informação do
público;
(m) A promoção de tecnologias saudáveis no que diz respeito ao meio ambiente,
bem como de práticas sustentáveis;
(n) O desenvolvimento e a implementação simultânea de critérios de qualidade
ambiental.
17.7. Os Estados costeiros, com o apoio das organizações internacionais, quando
solicitado, devem adotar medidas de manutenção da biodiversidade e da produtividade das
espécies e hábitats marinhos sob jurisdição nacional. Inter alia, tais medidas podem incluir:
levantamentos da biodiversidade marinha, inventários de espécies ameaçadas e de hábitats
costeiros e marinhos críticos; criação e gerenciamento de áreas protegidas; e apoio à pesquisa
científica e à difusão de seus resultados.
(b) Dados e informações
17.8. Os Estados costeiros, quando necessário, devem aprimorar sua capacidade de
coletar, analisar, avaliar e utilizar informações em prol do uso sustentável dos recursos naturais,
inclusive com a realização de estudos sobre o impacto ambiental de atividades relacionadas às
zonas costeiras e marinhas. As informações que atendam à finalidade do gerenciamento devem
receber apoio prioritário, tendo em vista a intensidade e magnitude das mudanças que estão
ocorrendo nas zonas costeiras e marinhas. Com essa finalidade é necessário, inter alia:
(a) Desenvolver e manter bancos de dados para a avaliação e o gerenciamento das
Agenda 21 - Global 199

zonas costeiras, bem como de todos os mares e seus recursos;


(b) Definir indicadores sócio-econômicos e ambientais;
(c) Realizar avaliações periódicas do meio ambiente das zonas costeiras e
marinhas;
(d) Preparar e manter perfis dos recursos, atividades, usos, hábitats e áreas
protegidas das zonas costeiras baseados nos critérios do desenvolvimento sustentável;
(e) Estabelecer o intercâmbio de dados e informações.
17.9. A cooperação com os países em desenvolvimento e, conforme apropriado, com os
mecanismos sub-regionais e regionais, deve ser intensificada com o objetivo de melhorar as
respectivas capacidades de atingir os itens enumerados acima.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
17.10. A função da cooperação e da coordenação internacionais de caráter bilateral e,
conforme apropriado, no âmbito de uma estrutura sub-regional, inter-regional, regional ou
mundial, é apoiar e complementar os esforços nacionais dos Estados costeiros para promover o
gerenciamento integrado e o desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e marinhas.
17.11. Os Estados devem cooperar, conforme apropriado, na preparação de diretrizes
nacionais para o gerenciamento e o desenvolvimento integrados das zonas costeiras, valendo-se
da experiência adquirida. Até 1994 poder-se-ia celebrar uma conferência mundial para o
intercâmbio de experiência sobre a questão.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


17.12. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $6 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $50 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
17.13. Os Estados devem cooperar no desenvolvimento dos necessários sistemas de
observação sistemática costeira, pesquisa e sistemas de gestão da informação. Devem permitir
que os países em desenvolvimento tenham acesso a tecnologias e metodologias ambientalmente
seguras que promovam o desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e marinhas e transferir
para esses países tais tecnologias e metodologias. Devem ainda desenvolver tecnologias e
capacidades científicas e tecnológicas endógenas.
17.14. As organizações internacionais de caráter sub-regional, regional ou mundial,
conforme apropriado, devem apoiar os Estados costeiros, quando solicitado, nos esforços
apontados acima, dedicando especial atenção aos países em desenvolvimento.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
17.15. Os Estados costeiros devem promover e facilitar a organização do ensino e do
treinamento em gerenciamento integrado e desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e
marinhas para cientistas, tecnólogos e gerenciadores -- inclusive gerenciadores baseados na
comunidade --, usuários, líderes, populações indígenas, pescadores, mulheres e jovens, entre
outros. As questões relativas a gerenciamento, desenvolvimento e proteção do meio ambiente,
bem como as de planejamento local, devem ser incorporadas aos currículos de ensino e às
Agenda 21 - Global 200

campanhas de conscientização do público, guardada a devida consideração aos conhecimentos


ecológicos tradicionais e aos valores sócio-culturais.
17.16. As organizações internacionais, sejam elas sub-regionais, regionais ou mundiais,
conforme apropriado, devem apoiar os Estados costeiros, quando solicitado, nas áreas indicadas
acima, dedicando especial atenção aos países em desenvolvimento.
(d) Fortalecimento institucional
17.17. Cooperação plena deve ser assegurada aos Estados costeiros, quando a solicitarem,
em seus esforços para criar capacidade institucional e técnica e, conforme apropriado, o
fortalecimento institucional e técnico deve ser incluída na cooperação bilateral e multilateral para
o desenvolvimento. Inter alia, os Estados costeiros podem considerar a possibilidade de:
(a) Adquirir capacidade institucional e técnica no plano local;
(b) Consultar as administrações locais, a comunidade empresarial, o setor
acadêmico, os grupos usuários dos recursos e o público em geral sobre questões ligadas às zonas
costeiras e marinhas;
(c) Coordenar os programas setoriais concomitantemente ao desenvolvimento de
capacidade institucional e técnica;
(d) Identificar as capacidades, os meios e as necessidades existentes e potenciais
no que diz respeito ao desenvolvimento dos recursos humanos e da infra-estrutura científica e
tecnológica;
(e) Desenvolver meios científicos e tecnológicos e a pesquisa;
(f) Promover e facilitar o desenvolvimento de recursos humanos e a educação;
(g) Apoiar "centros de excelência" especializados em gerenciamento integrado dos
recursos costeiros e marinhos;
(h) Apoiar programas e projetos pilotos de demonstração voltados para o
gerenciamento integrado de zonas costeiras e marinhas.

B. Proteção do meio ambiente marinho

Base para a ação

17.18. A degradação do meio ambiente marinho pode resultar de uma ampla gama de
fontes. As fontes de origem terrestre contribuem com 70 por cento da poluição marinha e as
atividades de transporte marítimo e descarga no mar comparecem com 10 por cento cada uma. Os
poluentes que apresentam maior ameaça para o meio ambiente marinho são, em grau variável de
importância e dependendo das diferentes situações nacionais ou regionais: esgotos, nutrientes,
compostos orgânicos sintéticos, sedimentos, lixo e plásticos, metais, radionuclídeos,
petróleo/hidrocarbonetos e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. Muitas das substâncias
poluidoras provenientes de fontes terrestres representam problemas particulares para o meio
ambiente marinho, visto que apresentam ao mesmo tempo toxicidade, persistência e
bioacumulação na cadeia alimentar. Atualmente não existe plano algum de caráter mundial
voltado para os problemas da poluição marinha de origem terrestre.
17.19. A degradação do meio ambiente marinho também pode decorrer de um amplo
espectro de atividades em terra. Os estabelecimentos humanos, o uso da terra, a construção de
infra-estrutura costeira, a agricultura, a silvicultura, o desenvolvimento urbano, o turismo e a
indústria podem afetar o meio ambiente marinho. Preocupam, particularmente, a erosão e a
presença de silte nas zonas costeiras.
17.20. A poluição marinha também é provocada pelo transporte e pelas atividades
Agenda 21 - Global 201

marítimas. Cerca de 600 mil toneladas de petróleo são despejadas no mar anualmente em
decorrência de operações normais de transporte marítimo, acidentes e descargas ilegais. No que
diz respeito às atividades de extração de petróleo e gás ao alto mar, atualmente há normas
internacionais relativas às descargas próximas às maquinarias e examinaram-se seis convenções
regionais para a fiscalização das descargas das plataformas. A natureza e a extensão dos impactos
sobre o meio ambiente decorrentes das atividades de exploração e produção de petróleo ao alto
mar representam, geralmente, uma proporção muito pequena da poluição marinha.
17.21. Para impedir a degradação do meio ambiente marinho é preciso adotar uma
abordagem de precaução e antecipação, mais que de reação. Para tanto é necessário, inter alia,
adotar medidas de precaução, avaliações dos impactos ambientais, tecnologias limpas,
reciclagem, controle e redução dos esgotos, construção e/ou melhoria das centrais de tratamento
de esgotos, critérios qualitativos de gerenciamento para o manejo adequado das substâncias
perigosas e uma abordagem abrangente dos impactos nocivos procedentes do ar, da terra e da
água. Seja qual for a estrutura de gerenciamento adotada, ela deverá incluir a melhoria dos
estabelecimentos humanos costeiros e o gerenciamento e desenvolvimento integrados das zonas
costeiras.

Objetivos

17.22. Os Estados, em conformidade com as determinações da Convenção das Nações


Unidas sobre Direito do Mar relativas à proteção e à preservação do meio ambiente marinho,
comprometem-se, de acordo com suas políticas, prioridades e recursos, a impedir, reduzir e
controlar a degradação do meio ambiente marinho, de forma a manter e melhorar sua capacidade
de sustentar e produzir recursos vivos. Com essa finalidade, é preciso:
(a) Aplicar critérios preventivos, de precaução e de antecipação, de modo a evitar
a degradação do meio ambiente marinho e reduzir o risco de haver efeitos a longo prazo ou
irreversíveis sobre o mesmo;
(b) Assegurar a realização de avaliações prévias das atividades que possam
apresentar impactos negativos significativos sobre o meio ambiente marinho;
(c) Integrar a proteção do meio ambiente marinho às políticas gerais pertinentes
das esferas ambiental, social e de desenvolvimento econômico;
(d) Desenvolver incentivos econômicos, conforme apropriado, para a aplicação de
tecnologias limpas e outros meios compatíveis com a internalização dos custos ambientais, por
exemplo o princípio de que "quem polui, paga", com o objetivo de evitar a degradação do meio
ambiente marinho;
(e) Melhorar o nível de vida das populações costeiras, especialmente nos países
em desenvolvimento, de modo a contribuir para a redução da degradação do meio ambiente
costeiro e marinho.
17.23. Os Estados concordam que, para apoiar os esforços dos países em
desenvolvimento no sentido de aplicar o presente compromisso, será preciso oferecer-lhes, por
meio dos mecanismos internacionais adequados, recursos financeiros adicionais, além de permitir
que tenham acesso a tecnologias mais limpas e às pesquisas pertinentes.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a gerenciamento.


Prevenção, redução e controle da degradação do meio ambiente marinho por atividades
Agenda 21 - Global 202

terrestres
17.24. Ao cumprir seu compromisso de fazer frente à degradação do meio ambiente
marinho por atividades terrestres, os Estados devem empreender atividades de caráter nacional e,
conforme apropriado, de caráter regional e sub-regional, compatibilizando-as às medidas
destinadas a implementar a área de programas A, e levar em conta as Diretrizes de Montreal para
a Proteção do Meio Ambiente Marinho por Fontes Terrestres.
17.25. Para tal fim, os Estados, com o apoio das organizações internacionais ambientais,
científicas, técnicas e financeiras relevantes, devem cooperar, inter alia, para:
(a) Examinar a possibilidade de atualizar, fortalecer e ampliar as Diretrizes de
Montreal, conforme apropriado;
(b) Avaliar a eficácia dos acordos e planos de ação regionais vigentes, conforme
apropriado, com vistas a identificar maneiras de fortalecer, se necessário, as medidas destinadas a
impedir, reduzir e controlar a degradação marinha provocada por atividades terrestres;
(c) Iniciar e promover o desenvolvimento de novos acordos regionais, conforme
apropriado;
(d) Desenvolver meios para proporcionar orientação sobre as tecnologias de
combate aos principais tipos de poluição do meio ambiente marinho por fontes terrestres, de
acordo com as informações científicas mais confiáveis;
(e) Desenvolver políticas de orientação para os mecanismos mundiais de
financiamento relevantes;
(f) Identificar os passos adicionais que exijam cooperação internacional.
17.26. O Conselho Administrativo do PNUMA está convidado a convocar, tão logo
possível, uma reunião intergovernamental sobre a proteção do meio ambiente marinho da
poluição decorrente de atividades terrestres.
1. As referências à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar presentes neste
capítulo da Agenda 21 não prejudicam a posição de qualquer Estado com respeito à assinatura,
ratificação ou adesão à referida Convenção.
2. As referências à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar presentes neste
capítulo da Agenda 21 não prejudicam a posição dos Estados que consideram que a Convenção
constitui um todo unificado.
3. Nada do que se afirma nas áreas de programas do presente capítulo deve ser interpretado
em prejuízo dos direitos dos Estados envolvidos em alguma disputa de soberania ou na
delimitação das áreas marítimas consideradas.
17.27. No que diz respeito ao esgoto, as medidas prioritárias a serem examinadas pelos
Estados podem incluir:
(a) A inclusão do problema dos esgotos quando da formulação ou revisão dos
planos de desenvolvimento costeiro, inclusive dos planos relativos aos estabelecimentos
humanos;
(b) Construir e manter centrais de tratamento de esgotos que estejam de acordo
com as políticas e a capacidade nacionais e com a cooperação internacional disponível;
(c) Distribuir os pontos de saída de esgotos de forma a manter um nível aceitável
de qualidade ambiental e evitar a exposição de criadouros de mariscos, tomadas de água e áreas
de banho aos agentes patogênicos;
(d) Promover tratamentos complementares ambientalmente saudáveis dos
efluentes domésticos e industriais compatíveis, mediante a utilização, sempre que possível, de
controles da entrada de efluentes incompatíveis com o sistema;
(e) Promover o tratamento primário dos esgotos municipais descarregados em
Agenda 21 - Global 203

rios, estuários e no mar, ou outras soluções adequadas aos locais específicos;


(f) Estabelecer e melhorar programas de regulamentação e de monitoramento
locais, nacionais, sub-regionais e regionais, conforme necessário, com o objetivo de controlar a
descarga de efluentes, utilizando diretrizes mínimas para os efluentes dos esgotos e critérios de
qualidade da água, e atribuindo a devida consideração às características das águas receptoras e ao
volume e tipo de poluentes.
17.28. No que diz respeito a outras fontes de poluição, as medidas prioritárias a serem
adotadas pelos Estados podem incluir:
(a) O estabelecimento ou a melhoria, segundo necessário, de programas de
regulamentação e monitoramento destinados a controlar as descargas e emissões de efluentes,
inclusive com o desenvolvimento e a aplicação de tecnologias de controle e reciclagem;
(b) A promoção de avaliações dos riscos e do impacto ambiental, com o objetivo
de contribuir para a obtenção de um nível aceitável de qualidade ambiental;
(c) A promoção de avaliações e cooperação no plano regional, conforme
apropriado, relativamente às emissões pontuais de poluentes por novas instalações;
(d) A eliminação da emissão ou descarga de compostos organo-halogenados que
ameacem acumular-se a um nível perigoso no meio ambiente marinho;
(e) A redução da emissão ou descarga de outros compostos orgânicos sintéticos
que ameacem acumular-se a um nível perigoso no meio ambiente marinho;
(f) A promoção de controles das descargas antrópicas de nitrogênio e fósforo que
adentram as águas costeiras em lugares onde haja problemas -- como a eutrofização -- que
ameacem o meio ambiente marinho ou seus recursos;
(g) A cooperação com os países em desenvolvimento, por meio de apoio
financeiro e tecnológico, com o objetivo de obter o melhor controle possível e a máxima redução
de substâncias e resíduos tóxicos, persistentes ou que tendam à bioacumulação, e o
estabelecimento de depósitos terrestres de resíduos que sejam ambientalmente saudáveis, em
substituição aos alijamentos marinhos;
(h) A cooperação no desenvolvimento e implementação de técnicas e práticas de
uso da terra ambientalmente saudáveis, com o objetivo de reduzir o escorrimento para cursos de
água e estuários que pudessem provocar poluição ou degradação do meio ambiente marinho;
(i) A promoção do uso de pesticidas e fertilizantes menos nocivos para o meio
ambiente, bem como de métodos alternativos para o controle de pragas, e a consideração da
possibilidade de proibir os métodos que não sejam ambientalmente saudáveis;
(j) A adoção de novas iniciativas nos planos nacional, sub-regional e regional para
o controle da descarga de poluentes vindos de fontes não localizadas, o que irá exigir mudanças
amplas no gerenciamento de esgotos e resíduos, nas práticas agrícolas e nos sistemas de
mineração, construção e transportes.
17.29. No que diz respeito à destruição física das zonas costeiras e marinhas que provoca
degradação do meio ambiente marinho, as medidas prioritárias devem incluir o controle e a
prevenção da erosão e do silte na costa resultantes de fatores antrópicos relacionados, inter alia,
às técnicas e práticas de uso da terra e de construção.
Devem-se promover práticas de gerenciamento das bacias hidrográficas de modo a impedir,
controlar e reduzir a degradação do meio ambiente marinho.
17.30. Os Estados, atuando individualmente, bilateralmente, regionalmente ou
multilateralmente e no âmbito da OMI e outras organizações internacionais competentes, sejam
elas sub-regionais, regionais ou globais, conforme apropriado, devem avaliar a necessidade de
serem adotadas medidas adicionais para fazer frente à degradação do meio ambiente marinho:
Agenda 21 - Global 204

(a) Provocada por atividades de navegação:


(i) Promover a ratificação e implementação mais amplas das convenções e
protocolos pertinentes relativos à navegação.
(ii) Facilitar os processos de (i) oferecendo apoio aos Estados individuais,
quando solicitado, para ajudá-los a superar os obstáculos que apontem;
(iii) Cooperar no controle da poluição marinha causada por navios,
especialmente por descargas ilegais (por exemplo por meio da vigilância aérea), e impor maior
rigor no cumprimento das determinações da MARPOL sobre esse tipo de descargas;
(iv) Avaliar o índice de poluição causado pelos navios nas áreas
particularmente vulneráveis identificadas pela OMI e tomar providências para implementar as
medidas pertinentes, quando necessário, nas referidas áreas, para garantir o cumprimento das
determinações internacionais geralmente aceitas;
(v) Tomar providências para assegurar o respeito às áreas designadas pelos
Estados costeiros, no interior de suas zonas econômicas exclusivas, em conformidade com a
legislação internacional, com o objetivo de proteger e preservar ecossistemas raros ou frágeis, tais
como recifes de coral e manguezais;
(vi) Considerar a possibilidade de adotar normas apropriadas no que diz
respeito à descarga de água de lastro, com vistas a impedir a disseminação de organismos
estranhos
(vii) Promover a segurança na navegação por meio de uma cartografia
adequada dos litorais e rotas marítimas, conforme apropriado;
(viii) Avaliar a necessidade de uma regulamentação internacional mais
rigorosa, com vistas a reduzir ainda mais o risco de acidentes e poluição provocada por navios
cargueiros (inclusive embarcações graneleiras de alta tonelagem);
(ix) Estimular a OMI e a AIEA a trabalharem juntas para completar a
elaboração de um código sobre o transporte recipientes de combustível nuclear irradiado em
frascos dos navios;
(x) Revisar e atualizar o Código de Segurança para Navios Mercantes
Nucleares da OMI e determinar a melhor forma possível de implementar um código revisto;
(xi) Apoiar as atividades atualmente desenvolvidas pela OMI relativas ao
desenvolvimento de medidas apropriadas para a redução da poluição do ar pelos navios;
(xii) Apoiar as atividades atualmente desenvolvidas pela OMI relativas ao
desenvolvimento de um regime internacional que regulamente o transporte por água de
substâncias perigosas ou tóxicas e avaliar mais atentamente se seria adequado estabelecer fundos
compensatórios semelhantes àqueles estabelecidos em decorrência da Convenção do Fundo para
os danos ocasionados pela poluição provocada por outras substâncias que não o petróleo.
(b) Provocada por atividades de alijamento:
(i) Apoiar uma ratificação, aplicação e participação mais ampla nas
convenções pertinentes sobre alijamento no mar, inclusive com a pronta conclusão de uma
estratégia futura para a Convenção de Londres;
(ii) Estimular as Partes da Convenção de Londres a adotar as medidas
adequadas para pôr fim ao alijamento nos oceanos e à incineração de substâncias perigosas.
(c) Provocada por plataformas marinhas de petróleo e gás: os Estados devem
avaliar as medidas regulamentares em vigor relativas a descargas, emissões e segurança e a
necessidade de serem adotadas medidas adicionais;
(d) Provocada por portos: os Estados devem facilitar o estabelecimento de
instalações portuárias que realizem a coleta de resíduos químicos e petrolíferos, bem como do
Agenda 21 - Global 205

lixo dos navios, especialmente nas áreas especiais da MARPOL e promover o estabelecimento de
instalações em menor escala nas marinas e portos de pesca;
17.31. A OMI e, se for o caso, outras organizações competentes das Nações Unidas,
conforme apropriado, a pedido dos Estados envolvidos, devem avaliar, quando for o caso, as
condições de poluição marinha nas áreas de tráfego marinho congestionado, tal como os estreitos
internacionais utilizados maciçamente, com vistas a assegurar o cumprimento das
regulamentações internacionais geralmente aceitas, em especial as que dizem respeito a descargas
ilegais pelos navios, em conformidade com as determinações da Parte III da Convenção das
Nações Unidas sobre Direito do Mar.
17.32. Os Estados devem adotar medidas para reduzir a poluição da água causada pelos
compostos organo-estânicos utilizados nas pinturas anti-aderências;
17.33. Os Estados devem considerar a possibilidade de ratificar a Convenção
Internacional sobre Cooperação, Preparação e Combate à Poluição por Petróleo, que prevê, inter
alia, o desenvolvimento de planos de emergência de alcance nacional e internacional, conforme
apropriado, inclusive com o fornecimento dos materiais a serem utilizados em caso de vazamento
de petróleo e o treinamento de pessoal, inclusive uma possível ampliação da Convenção para que
passe a incluir medidas de emergência para casos de vazamento químico.
17.34. Os Estados devem intensificar a cooperação internacional para fortalecer ou criar,
quando necessário, em cooperação com as organizações intergovernamentais sub-regionais,
regionais ou mundiais competentes e, conforme apropriado, com as organizações industriais
competentes, centros ou mecanismos regionais para intervenção em caso de vazamento de
petróleo/substâncias químicas;
(b) Dados e informações
17.35. Os Estados devem, conforme apropriado, e em conformidade com os meios a sua
disposição e considerando devidamente sua capacidade técnica e científica e seus recursos,
observar sistematicamente as condições do meio ambiente marinho. Com tal finalidade os
Estados devem, conforme apropriado, considerar:
(a) Estabelecer sistemas de observação sistemática para medir a qualidade do meio
ambiente marinho, inclusive as causas e os efeitos da degradação marinha, como base para o
gerenciamento;
(b) Intercambiar regularmente informações sobre a degradação marinha causada
tanto por atividades terrestres como marítimas e sobre medidas destinadas a impedir, controlar e
reduzir tal degradação;
(c) Apoiar e expandir programas internacionais de observação sistemática -- como
o programa de observação de mexilhões - a partir de instalações já existentes, com especial
atenção para os países em desenvolvimento;
(d) Estabelecer um "clearing-house" de informações para o controle da poluição
marinha que inclua processos e tecnologias para controle da poluição marinha e apoiar a
transferência de tais processos e tecnologias para os países em desenvolvimento e outros países
que deles tenham necessidade;
(e) Estabelecer um perfil mundial e uma base de dados com informações sobre
fontes, tipos, quantidades e efeitos dos poluentes que atingem o meio ambiente marinho em
decorrência de atividades terrestres em zonas costeiras e oriundas de fontes marítimas;
(f) No que diz respeito a programas de treinamento e fortalecimento institucional e
técnico, destinar créditos suficientes para garantir a participação plena dos países em
desenvolvimento, particularmente, de qualquer mecanismo internacional sob jurisdição dos
organismos e organizações do sistema das Nações Unidas para coleta, análise e utilização de
Agenda 21 - Global 206

dados e informações.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


17.36. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $200 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
17.37. Os programas de ação nacionais, sub-regionais e regionais exigirão, conforme
apropriado, transferência de tecnologia em conformidade com o capítulo 34 e recursos
financeiros, especialmente em se tratando de países em desenvolvimento. Será necessário:
(a) Dar assistência às indústrias na identificação e adoção de tecnologias limpas ou
de tecnologias econômicas de combate à poluição;
(b) Planejar o desenvolvimento e a aplicação de tecnologias baratas e que exijam
pouca manutenção para o saneamento e tratamento das águas servidas nos países em
desenvolvimento;
(c) Equipar laboratórios para a observação sistemática dos impactos da atividade
humana e outros sobre o meio ambiente marinho;
(d) Identificar os materiais adequados para combater os vazamentos de petróleo e
de substâncias químicas, sobretudo materiais e técnicas baratos e disponíveis localmente,
adequados a intervenções em emergências de poluição nos países em desenvolvimento;
(e) Estudar o uso de organo-halogenados persistentes que possam acumular-se no
meio ambiente marinho, com vistas a identificar os que não podem ser adequadamente
controlados e oferecer informações que fundamentem a determinação de um cronograma para sua
eliminação gradual, tão logo possível;
(f) Estabelecer um centro de seleção de informações sobre o controle da poluição
marinha, inclusive processos e tecnologias que permitam controlar a poluição marinha, e apoiar
sua transferência para os países em desenvolvimento e outros, que notoriamente necessitem
delas.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
17.38. Os Estados, individualmente ou em cooperação uns com os outros, e com o apoio
das organizações internacionais, tanto sub-regionais como regionais ou mundiais, conforme
apropriado, devem:
(a) Oferecer treinamento para o pessoal essencial necessário para uma proteção
adequada do meio ambiente marinho, tal como identificado por pesquisas a respeito das
necessidades de treinamento nos planos nacional, regional ou sub-regional;
(b) Promover a introdução de tópicos relativos à proteção do meio ambiente
marinho nos currículos dos programas de estudos marinhos;
(c) Estabelecer cursos de treinamento para o pessoal encarregado de intervir em
caso de vazamento de petróleo ou substâncias químicas, em cooperação, conforme apropriado,
com as indústrias petrolíferas e químicas;
(d) Organizar cursos práticos sobre os aspectos ambientais das operações
portuárias e do desenvolvimento dos portos;
Agenda 21 - Global 207

(e) Fortalecer e oferecer financiamentos seguros para os centros internacionais,


novos ou já existentes, especializados no ensino marítimo profissional;
(f) Apoiar e complementar, por meio da cooperação bilateral e multilateral, os
esforços nacionais dos países em desenvolvimento no que diz respeito ao desenvolvimento dos
recursos humanos relacionados à prevenção e redução da degradação do meio ambiente marinho.
(d) Fortalecimento institucional
17.39. Os organismos nacionais de planejamento e coordenação devem ser investidos da
capacidade e da autoridade necessárias para analisar todas as atividades e fontes terrestres de
poluição para determinar seus impactos sobre o meio ambiente marinho e propor as medidas de
controle adequadas.
17.40. Devem-se fortalecer ou, conforme apropriado, criar instituições de pesquisa nos
países em desenvolvimento para observação sistemática da poluição marinha, avaliação do
impacto ambiental e desenvolvimento de recomendações de controle. O gerenciamento e o
pessoal dessas instituições deve ser local.
17.41. Será necessário definir dispositivos especiais para oferecer recursos financeiros e
técnicos adequados que permitam aos países em desenvolvimento prevenir e solucionar
problemas associados a atividades que constituam risco para o meio ambiente marinho.
17.42. Deve ser criado um mecanismo internacional de financiamento para a aplicação de
tecnologias adequadas de tratamento dos esgotos e a construção de centros de tratamento de
esgotos, inclusive com a concessão de empréstimos em condições favoráveis e subvenções por
agências internacionais e fundos regionais apropriados, realimentados regularmente, ao menos
em parte, por tarifas pagas pelos usuários.
17.43. Ao executar essas atividades do programa é preciso dedicar especial atenção aos
problemas dos países em desenvolvimento, que estariam sobrecarregados por um fardo
proporcionalmente maior devido a sua escassez de instalações, conhecimentos especializados e
capacidades técnicas.

C. Uso sustentável e conservação dos recursos marinhos vivos de alto mar

Base para a ação

17.44. Nesta última década houve uma considerável expansão da pesca em alto mar; essa
atividade representa atualmente cerca de 5 por cento do total das atividades pesqueiras do mundo.
Os dispositivos da Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar no que diz respeito aos
recursos marinhos vivos de alto mar estabelecem direitos e obrigações a serem observados pelos
Estados no que diz respeito à conservação e utilização de tais recursos.
17.45. Não obstante, o gerenciamento da pesca em alto mar, que inclui a adoção,
monitoramento e aplicação de medidas eficazes de conservação, é inadequado em muitas áreas e
alguns recursos estão sendo superutilizados. Há problemas de pesca não regulamentada, de
supercapitalização, de dimensão excessiva da frota, de troca de bandeira para fugir à fiscalização,
de utilização de equipamento de pesca insuficientemente seletivo, de bancos de dados pouco
confiáveis e de inexistência de cooperação suficiente entre os Estados. É fundamental que os
Estados cujos nativos e embarcações praticam a pesca em alto mar tomem medidas a esse
respeito e que cooperem entre si nos planos bilateral, sub-regional, regional e mundial,
especialmente no que diz respeito às espécies migratórias e aos estoques situados no limite das
200 milhas. Tais medidas e tal cooperação devem solucionar as lacunas existentes no que diz
respeito às práticas de pesca, bem como a conhecimentos biológicos, estatísticas pesqueiras e
Agenda 21 - Global 208

melhoria dos sistemas de tratamento de dados. Ao mesmo tempo deve-se enfatizar o


gerenciamento baseado na multiplicidade das espécies e outras abordagens que levem em conta a
interdependência das espécies, especialmente ao abordar o problema das espécies em declínio
numérico, mas também na identificação do potencial das populações sub-utilizadas ou não
utilizadas.

Objetivos

17.46. Os Estados comprometem-se a promover a conservação e o uso sustentável dos


recursos marinhos vivos de alto mar. Para tal, é necessário:
(a) Desenvolver e aumentar o potencial dos recursos marinhos vivos de satisfazer
às necessidades de nutrição dos seres humanos, bem como de atingir os objetivos sociais,
econômicos e de desenvolvimento;
(b) Manter ou restabelecer as populações de espécies marinhas a níveis capazes de
produzir o máximo rendimento sustentável com respeito aos fatores ambientais e econômicos
pertinentes, levando em conta as relações entre as espécies;
(c) Promover o desenvolvimento e o uso de métodos e equipamentos seletivos de
pesca, capazes de minimizar o desperdício na captura das espécies-alvo e minimizar a captura da
fauna acompanhante;
(d) Estabelecer um monitoramento eficaz e garantir a aplicação da regulamentação
relativa às atividades pesqueiras;
(e) Proteger e restaurar as espécies marinhas ameaçadas;
(f) Preservar os hábitats e outras áreas ecologicamente vulneráveis;
(g) Promover pesquisas científicas com respeito aos recursos marinhos vivos de
alto mar.
17.47. Nada do estipulado no parágrafo 17.46 acima restringe seja como for o direito de
um Estado ou a competência de uma organização internacional, como adequado, de proibir,
limitar ou regulamentar a exploração de mamíferos marinhos em alto mar com maior rigor do que
o que determina aquele parágrafo. Os Estados devem cooperar com vistas à conservação dos
mamíferos marinhos e, no caso específico dos cetáceos, devem especialmente trabalhar, por meio
das organizações internacionais adequadas, para sua conservação, gerenciamento e estudo.
17.48. A capacidade dos países em desenvolvimento de atingir os objetivos acima
depende dos meios de que disponham, inclusive financeiros, científicos e tecnológicos. Será
preciso beneficiá-los com cooperação financeira, científica e tecnológica para favorecer suas
ações voltadas para a implementação desses objetivos.
17.49. Os Estados devem tomar medidas eficazes, entre elas medidas de cooperação
bilateral e multilateral, conforme o caso, nos planos sub-regional, regional e mundial, para
garantir que pesca em alto mar seja gerenciada de acordo com as determinações da Convenção
das Nações Unidas sobre Direito do Mar. Em especial, devem:
(a) Aplicar plenamente essas determinações no que diz respeito a populações de
espécies cujas áreas de incidência estejam localizadas tanto no interior como no exterior das
zonas econômicas exclusivas (populações tranzonais);
(b) Aplicar plenamente essas determinações no que diz respeito a espécies
altamente migratórias;
(c) Negociar, conforme apropriado, acordos internacionais para o gerenciamento e
a conservação eficazes dos estoques pesqueiros;
(d) Definir e identificar unidades de gerenciamento adequadas;
Agenda 21 - Global 209

(e) Os Estados devem convocar, tão logo possível, uma conferência


intergovernamental sob os auspícios das Nações Unidas, levando em conta as atividades
pertinentes nos planos sub-regional, regional e mundial, com vistas a promover a implementação
eficaz das determinações da Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar no que diz
respeito a populações tranzonais de peixes e espécies altamente migratórias. A conferência,
fundamentada, inter alia, por estudos científicos e técnicos desenvolvidos pela FAO, deve
identificar e avaliar os problemas atualmente existentes no que diz respeito a conservação e
gerenciamento desses estoques de peixes e estudar maneiras de intensificar a cooperação entre os
Estados no que diz respeito a pesca, bem como formular as recomendações adequadas. O
trabalho e os resultados da conferência devem coadunar-se totalmente com as determinações da
Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar, em especial no que diz respeito aos direitos
e obrigações dos Estados costeiros e dos Estados que praticam a pesca em alto mar.
17.50. Os Estados devem estar atentos para que as atividades de pesca em alto mar
desenvolvidas por embarcações sob suas bandeiras se desenvolvam de modo a minimizar a
captura acidental.
17.51. Os Estados devem tomar medidas eficazes, em conformidade com a legislação
internacional, para monitorar e controlar as atividades de pesca em alto mar por parte das
embarcações que levam suas bandeiras, com vistas a assegurar o cumprimento das normas
aplicáveis de conservação e gerenciamento, inclusive com a elaboração de relatórios completos,
detalhados, precisos e oportunos sobre capturas e empreendimentos.
17.52. Os Estados devem tomar medidas eficazes, em conformidade com a legislação
internacional, para impedir que cidadãos seus efetuem substituição de bandeiras das embarcações
para deixar de submeter-se às normas aplicáveis de conservação e gerenciamento nas atividades
pesqueiras em alto mar.
17.53. Os Estados devem proibir o uso, na pesca, de dinamite, veneno e outras práticas
destrutivas equivalentes.
17.54. Os Estados devem implementar plenamente a resolução 46/215 da Assembléia
Geral, sobre pesca pelágica em grande escala com redes de arrasto.
17.55. Os Estados devem tomar medidas para aumentar a disponibilidade dos recursos
marinhos vivos na alimentação humana, reduzindo o desperdício, as perdas posteriores à captura
e o refugo e aperfeiçoando as técnicas de processamento, distribuição e transporte.
(b) Dados e informações
17.56. Os Estados, com o apoio das organizações internacionais sub-regionais, regionais
ou mundiais, conforme apropriado, devem cooperar para:
(a) Promover uma melhor coleta dos dados necessários para a conservação e o uso
sustentável dos recursos marinhos vivos de alto mar;
(b) Intercambiar regularmente dados e informações atualizados que sirvam para
avaliar os recursos pesqueiros;
(c) Desenvolver e partilhar instrumentos de análise e previsão tais como estimativa
de estoques e modelos bioeconômicos;
(d) Estabelecer ou expandir programas apropriados de monitoramento e avaliação.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
17.57. Os Estados deveriam, mediante a cooperação bilateral e multilateral e no âmbito
dos organismos sub-regionais e regionais de pesca correspondentes, com o apoio de outras
agências intergovernamentais internacionais, avaliar os recursos potenciais de alto mar e
inventariar todos os estoques (tanto a fauna-alvo como a fauna acompanhante).
17.58. Os Estados devem, onde e conforme apropriado, garantir níveis adequados de
Agenda 21 - Global 210

coordenação e cooperação nos mares fechados e semifletidos e entre os organismos


intergovernamentais de pesca de caráter sub-regional, regional e mundial.
17.59. Dever-se-ia estimular uma cooperação eficaz no interior dos organismos de pesca
sub-regionais, regionais e mundiais existentes. Quando essas organizações forem inexistentes os
Estados devem, conforme apropriado, cooperar para estabelecê-las.
17.60. Os Estados com interesses em pesca de alto mar regulamentada por uma
organização sub-regional ou regional especializada de que não sejam membros devem ser
estimulados, sempre que possível, a associar-se a tal organização.
17.61. Os Estados reconhecem:
(a) A responsabilidade da Comissão Internacional da Baleia na conservação e
gerenciamento das populações de baleias e na regulamentação da pesca da baleia conforme
determinado pela Convenção Internacional de 1946 para a Regulamentação da Pesca da Baleia.
(b) Os trabalhos do Comitê Científico da Comissão Internacional da Baleia no que
diz respeito à realização de estudos sobre as baleias de grande porte em especial, bem como sobre
outros cetáceos;
(c) Os trabalhos de outras organizações, como a Comissão Interamericana do
Atum Tropical e o Acordo sobre os Pequenos Cetáceos do Mar Báltico e do Mar do Norte, no
âmbito da Convenção de Bonn, para a conservação, gerenciamento e estudo dos cetáceos e outros
mamíferos marinhos.
17.62. Os Estados devem cooperar para a conservação, gerenciamento e estudo dos
cetáceos.

Meios de implementação

(a) FINANCIAMENTO E ESTIMATIVA DE CUSTOS


17.63. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $12 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
17.64. Os Estados, com o apoio das organizações internacionais competentes, quando
necessário, devem desenvolver programas de cooperação nas áreas técnica e de pesquisa para
conhecer melhor os ciclos vitais e os movimentos migratórios das espécies encontradas em alto
mar, inclusive com a identificação das áreas críticas e das etapas vitais.
17.65. Os Estados, com o apoio das organizações internacionais competentes, sejam elas
sub regionais, regionais ou mundiais, conforme apropriado, devem:
(a) Desenvolver bancos de dados sobre a pesca e os recursos vivos de alto mar;
(b) Coletar e relacionar dados sobre o meio ambiente marinho e dados sobre os
recursos vivos de alto mar, inclusive dos impactos das alterações regionais e mundiais
ocasionadas por causas naturais e pelas atividades do homem;
(c) Cooperar na coordenação de programas de pesquisa que proporcionem os
conhecimentos necessários para gerenciar os recursos de alto mar.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
17.66. O desenvolvimento dos recursos humanos no plano nacional deve ter como
objetivo tanto o desenvolvimento como o gerenciamento dos recursos de alto mar, inclusive da
Agenda 21 - Global 211

capacitação relativa a técnicas de pesca de alto mar e avaliação de recursos de alto mar,
fortalecimento dos quadros de pessoal no que diz respeito a sua capacidade para gerenciar e
conservar recursos de alto mar bem como questões ambientais relacionadas, e treinamento de
observadores e inspetores a serem designados em embarcações de pesca.
(d) Fortalecimento institucional
17.67. Os Estados, com o apoio, conforme apropriado, das organizações internacionais
competentes, sejam elas sub-regionais, regionais ou mundiais, devem cooperar para desenvolver
ou aperfeiçoar os sistemas e estruturas institucionais de monitoramento, controle e fiscalização,
bem como a capacidade de pesquisa para a avaliação das populações de recursos marinhos vivos.
17.68. Será necessário contar com apoio especial, inclusive cooperação entre os Estados,
para aumentar a capacidade dos países em desenvolvimento nas áreas de dados e informações,
meios científicos e tecnológicos e desenvolvimento de recursos humanos para uma participação
eficaz na conservação e na utilização sustentável dos recursos marinhos vivos de alto mar.

D. Uso sustentável e conservação dos recursos marinhos vivos sob jurisdição nacional

Base para a ação

17.69. A pesca marítima produz entre 80 e 90 milhões de toneladas de peixe e crustáceos


por ano, 95 por cento dos quais procedentes de águas sob jurisdição nacional. Ao longo das
quatro últimas décadas o rendimento aumentou cerca de cinco vezes. As disposições da
Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar relativas aos recursos marinhos vivos das
zonas econômicas exclusivas e de outras áreas sujeitas à jurisdição nacional estabelecem os
direitos e obrigações dos Estados no que diz respeito à conservação e utilização desses recursos.
17.70. Em muitos países os recursos marinhos vivos oferecem uma fonte importante de
proteína e freqüentemente seu uso tem importância fundamental para as comunidades locais e os
populações indígenas. Tais recursos oferecem alimento e sustento a milhões de pessoas e seu uso
sustentável oferece possibilidades cada vez maiores de responder às necessidades nutricionais e
sociais, especialmente nos países em desenvolvimento. Para que essas possibilidades se
concretizem é preciso aumentar os conhecimentos e identificar os estoques de recursos marinhos
vivos, sobretudo estoques e espécies sub-utilizados ou não utilizados, usar tecnologias novas,
aperfeiçoar as instalações de manejo e processamento para evitar desperdício e aumentar a
qualidade e o treinamento do pessoal capacitado, com vistas a obter eficácia no gerenciamento e
na conservação dos recursos marinhos vivos da zona econômica exclusiva e de outras áreas sob
jurisdição nacional. Também é preciso enfatizar o gerenciamento apoiado na multiplicidade de
espécies e outras abordagens que levem em conta as relações entre as espécies.
17.71. Em muitas áreas sujeitas à jurisdição nacional a pesca encontra problemas cada vez
mais graves, entre os quais o excesso de pesca local, as incursões não autorizadas de frotas
estrangeiras, a degradação dos ecossistemas, a supercapitalização e o tamanho exagerado das
frotas, a subestimação da coleta, a utilização de equipamento de captura insuficientemente
seletivo, bancos de dados pouco confiáveis e uma competição crescente entre a pesca artesanal e
a pesca em grande escala, bem como entre a pesca e outros tipos de atividades.
17.72. Os problemas não se limitam à pesca. Os recifes de coral e outros hábitats
marinhos e costeiros, como manguezais e estuários, estão entre os ecossistemas mais altamente
diversificados, integrados e produtivos da Terra. É freqüente eles desempenharem importantes
funções ecológicas, oferecerem proteção costeira e contribuírem com recursos fundamentais para
a alimentação, a energia, o turismo e o desenvolvimento econômico. Em muitas partes do mundo
Agenda 21 - Global 212

esses sistemas marinhos e costeiros estão submetidos a pressão ou vêem-se ameaçados por
inúmeras fontes, tanto humanas como naturais.

Objetivos

17.73. Os Estados costeiros, particularmente os países em desenvolvimento e os Estados


cujas economias dependem preponderantemente da exploração dos recursos marinhos vivos de
suas zonas econômicas exclusivas, devem obter plenos benefícios sociais e econômicos da
utilização sustentável dos recursos marinhos vivos situados no interior de suas zonas econômicas
exclusivas e de outras áreas sob jurisdição nacional.
17.74. Os Estados comprometem-se a conservar e utilizar de forma sustentável os
recursos marinhos vivos sob suas jurisdições nacionais. Para tanto, é preciso:
(a) Desenvolver e aumentar o potencial dos recursos marinhos vivos para
satisfazer as necessidades nutricionais humanas e atingir objetivos sociais, econômicos e de
desenvolvimento;
(b) Levar em conta, nos programas de desenvolvimento e gerenciamento, os
conhecimentos tradicionais e os interesses das comunidades locais, dos pequenos
empreendimentos de pesca artesanal e dos populações indígenas;
(c) Manter ou reconstituir as populações de espécies marinhas em níveis capazes
de produzir a coleta máxima sustentável dentro dos limites estabelecidos por fatores ambientais e
econômicos pertinentes, levando em conta as relações entre as espécies;
(d) Promover o desenvolvimento e uso de equipamentos seletivos de pesca e de
práticas que minimizem o desperdício na captura das espécies visadas e minimizem a captura
paralela de fauna acompanhante;
(e) Proteger e reconstituir as espécies marinhas ameaçadas;
(f) Preservar ecossistemas raros ou frágeis e hábitats e outras áreas ecologicamente
vulneráveis.
17.75. Nada do disposto no parágrafo 17.74 acima restringe o direito dos Estados
costeiros ou a competência das organizações internacionais, conforme o caso, de proibir, limitar
ou regulamentar a exploração dos mamíferos marinhos de forma mais rigorosa que o que
determina o mencionado parágrafo. Os Estados devem cooperar com vistas a conservar os
mamíferos marinhos e, no caso dos cetáceos, tomar medidas especiais para sua conservação,
gerenciamento e estudo por meio das organizações internacionais competentes.
17.76. As condições que possam ter os países em desenvolvimento de realizar os
objetivos enunciados acima irão depender dos meios com que esses contem, inclusive meios
financeiros, científicos e tecnológicos. É necessário cooperação financeira, científica e
tecnológica adequada em apoio às medidas adotadas pelos países em desenvolvimento para
implementar esses objetivos.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a gerenciamento


17.77. Os Estados devem velar para que a conservação e o gerenciamento dos recursos
marinhos vivos de suas zonas econômicas exclusivas, bem como de outras áreas sob jurisdição
nacional, sejam feitos em conformidade com as disposições da Convenção das Nações Unidas
sobre Direito do Mar.
17.78. Os Estados, no que diz respeito à aplicação das disposições da Convenção das
Agenda 21 - Global 213

Nações Unidas sobre o Direito do Mar, devem ficar atentos para a questão dos estoques
localizados no limite das 200 milhas -- ou estoques partilhados -- e a questão das espécies
altamente migratórias e, levando em conta plenamente o objetivo fixado no parágrafo 17.73, o
acesso aos excedentes das capturas permitidas.
17.79. Os Estados costeiros, individualmente ou por meio da cooperação bilateral e/ou
multilateral e com o apoio, conforme apropriado, das organizações internacionais, tanto regionais
como mundiais, devem, inter alia:
(a) Avaliar o potencial dos recursos marinhos vivos, especialmente dos estoques e
espécies sub-utilizados ou não utilizados, desenvolvendo inventários, quando necessário, para sua
conservação e uso sustentável;
(b) Implementar estratégias para o uso sustentável dos recursos marinhos vivos,
levando em conta as necessidades e interesses especiais dos pequenos empreendimentos de pesca
artesanal, das comunidades locais e dos populações indígenas, a fim de satisfazer às necessidades
nutricionais humanas e outras necessidades de desenvolvimento;
(c) Implementar, em especial nos países em desenvolvimento, mecanismos para
desenvolver a maricultura, a aqüicultura e a pesca em pequena escala, em águas profundas e no
oceano, nas áreas sujeitas à jurisdição nacional que, de acordo com as avaliações, apresentem
disponibilidade potencial de recursos marinhos vivos;
(d) Fortalecer suas estruturas jurídicas e regulamentares, conforme apropriado,
inclusive em matéria de capacidade de gerenciamento, aplicação e fiscalização, com o objetivo de
regulamentar as atividades relacionadas às estratégias acima;
(e) Adotar medidas que aumentem a disponibilidade de recursos marinhos vivos
para a alimentação humana por meio da redução do desperdício, das perdas e do refugo pós-
captura, e da melhoria das técnicas de processamento, distribuição e transporte;
(f) Desenvolver e promover o uso de tecnologias ambientalmente saudáveis dentro
de critérios compatíveis com o uso sustentável dos recursos marinhos vivos, inclusive da
avaliação do impacto ambiental das principais práticas pesqueiras novas;
(g) Melhorar a produtividade e a utilização de seus recursos marinhos vivos para a
alimentação e a geração de rendas.
17.80. Os Estados costeiros devem estudar as possibilidades de expandir as atividades
recreativas e turísticas baseadas nos recursos marinhos vivos, inclusive dos que oferecem fontes
alternativas de rendas. Tais atividades devem ser compatíveis com as políticas e planos de
conservação e desenvolvimento sustentável.
17.81. Os Estados costeiros devem apoiar a sustentabilidade dos pequenos
empreendimentos de pesca artesanal. Para tanto devem, conforme apropriado:
(a) Integrar ao planejamento das zonas marinhas e costeiras o desenvolvimento
dos pequenos empreendimentos de pesca artesanal, levando em conta os interesses dos
pescadores, dos trabalhadores de empreendimentos pesqueiros em pequena escala, das mulheres,
das comunidades locais e dos populações indígenas e, conforme apropriado, estimulando a
representação desses grupos;
(b) Reconhecer os direitos dos pescadores em pequena escala e a situação especial
dos populações indígenas e das comunidades locais, inclusive seus direitos à utilização e proteção
de seus hábitats sobre uma base sustentável;
(c) Desenvolver sistemas para a aquisição e registro dos conhecimentos
tradicionais relativos aos recursos marinhos vivos e ao meio ambiente marinho e promover a
incorporação de tais conhecimentos aos sistemas de gerenciamento.
17.82. Os Estados costeiros devem assegurar que, na negociação e implementação dos
Agenda 21 - Global 214

acordos internacionais sobre desenvolvimento ou conservação dos recursos marinhos vivos, os


interesses das comunidades locais e dos populações indígenas sejam levados em conta, em
especial seu direito à subsistência.
17.83. Os Estados costeiros, com o apoio, conforme apropriado, de organizações
internacionais, devem empreender análises do potencial de aqüicultura em zonas marinhas e
costeiras sob jurisdição nacional e aplicar salvaguardas adequadas no que diz respeito à
introdução de novas espécies.
17.84. Os Estados devem proibir o uso de dinamite, veneno e outras práticas destrutivas
comparáveis na pesca.
17.85. Os Estados devem identificar ecossistemas marinhos que apresentem altos níveis
de biodiversidade e produtividade e outros hábitats especialmente importantes e prover as
limitações necessárias ao uso dessas zonas, por meio, inter alia, do estabelecimento de áreas
protegidas. Deve-se dar prioridade, conforme apropriado, a:
(a) Ecossistemas de recifes de coral;
(b) Estuários;
(c) Terras úmidas temperadas e tropicais, inclusive manguezais;
(d) Pradarias marinhas;
(e) Outras áreas de reprodução e criadouros.
(b) Dados e informações
17.86. Os Estados, individualmente ou por meio da cooperação bilateral e multilateral e
com o apoio, conforme apropriado, de organizações internacionais, sejam elas sub-regionais,
regionais ou mundiais, devem:
(a) Promover a intensificação da coleta e intercâmbio dos dados necessários à
conservação e uso sustentável dos recursos marinhos vivos sob jurisdição nacional;
(b) Promover o intercâmbio regular de dados atualizados e da informação
necessária para a avaliação dos pesqueiros;
(c) Desenvolver e difundir instrumentos analíticos e de previsão, tais como
modelos bioeconômicos e modelos de avaliação dos estoques;
(d) Estabelecer ou ampliar programas adequados de monitoramento e avaliação;
(e) Completar/atualizar perfis dos hábitats críticos, dos recursos marinhos vivos e
da biodiversidade marinha nas zonas econômicas exclusivas e em outras áreas sob jurisdição
nacional, levando em conta as alterações no meio ambiente ocasionadas por causas naturais, bem
como por atividades humanas.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
18.87. Os Estados, por meio da cooperação bilateral e multilateral e com o apoio das
organizações competentes das Nações Unidas e outras organizações internacionais devem
cooperar para:
(a) Desenvolver a cooperação financeira e técnica para aumentar a capacidade dos
países em desenvolvimento para a pesca em pequena escala e oceânica, bem como para a
aqüicultura e a maricultura costeiras;
(b) Promover a contribuição dos recursos marinhos vivos para eliminar a
desnutrição e atingir a auto-suficiência alimentar nos países em desenvolvimento, inter alia por
meio da minimização das perdas pós-captura e do gerenciamento dos estoques, de modo a
garantir rendimentos sustentáveis;
(c) Desenvolver critérios consensuais para o uso de práticas e equipamentos
seletivos de pesca, com vistas a minimizar o desperdício na captura de espécies visadas e
minimizar a captura de fauna acompanhante;
Agenda 21 - Global 215

(d) Promover a qualidade dos produtos marinhos, inclusive por meio de sistemas
nacionais de controle de qualidade desses produtos, com vistas a promover seu acesso aos
mercados, aumentar a confiança do consumidor e maximizar o rendimento econômico.
17.88. Os Estados, onde e conforme apropriado, devem assegurar coordenação e
cooperação adequadas nos mares fechados e semifletidos e entre os organismos
intergovernamentais de pesca sub-regionais, regionais e mundiais.
17.89. Os Estados reconhecem:
(a) A responsabilidade da Comissão Internacional da Baleia no que diz respeito à
conservação e gerenciamento dos estoques de baleias e à regulamentação da pesca da baleia,
conforme determina a Convenção Internacional para a Regulamentação da Pesca da Baleia de
1946;
(b) O trabalho do Comitê Científico da Comissão Internacional da Baleia no que
diz respeito ao desenvolvimento de estudos, especialmente sobre as baleias de grande porte, bem
como sobre outros cetáceos;
(c) Os trabalhos de outras organizações, como a Comissão Interamericana do
Atum Tropical e o Acordo sobre os Pequenos Cetáceos do Mar Báltico e do Mar do Norte, no
âmbito da Convenção de Bonn, para a conservação, gerenciamento e estudo dos cetáceos e outros
mamíferos marinhos.
17.90. Os Estados devem cooperar para a conservação, gerenciamento e estudo dos
cetáceos.

Meios de implementação

(a) FINANCIAMENTO E ESTIMATIVA DE CUSTOS


O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $6 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $60 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
17.92. Os Estados, com o apoio das organizações intergovernamentais competentes,
conforme apropriado, devem:
(a) Providenciar a transferência de tecnologias ambientalmente saudáveis,
especialmente para os países em desenvolvimento, para o desenvolvimento de pesqueiros, da
aqüicultura e da maricultura;
(b) Dedicar atenção especial aos mecanismos de transferência de informações
sobre recursos, bem como de tecnologias melhoradas de pesca e aqüicultura, para as
comunidades pesqueiras no plano local;
(c) Promover o estudo, a avaliação científica e o uso dos sistemas tradicionais de
gerenciamento que se revelem adequados;
(d) Considerar a possibilidade de observar, nas atividades de exploração do mar,
conforme apropriado, o Código de Práticas para o Estudo da Transferência e da Introdução de
Organismos Marinhos e de Água Doce da FAO e do Conselho Internacional para a Exploração
do Mar (CIEM);
(e) Promover a pesquisa científica sobre áreas marinhas de especial importância
Agenda 21 - Global 216

para os recursos marinhos vivos, como as áreas de alta diversidade, endemismo e produtividade e
as escalas migratórias.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
17.93. Os Estados, individualmente ou por meio da cooperação bilateral e multilateral e
com o apoio das organizações internacionais competentes, sejam elas sub-regionais, regionais ou
mundiais, conforme apropriado, devem estimular os países em desenvolvimento e oferecer-lhes
apoio, inter alia, para:
(a) Ampliar o ensino, o treinamento e a pesquisa multidisciplinares sobre recursos
marinhos vivos, em especial nos campos das ciências sociais e econômicas;
(b) Criar oportunidades de treinamento nos planos nacional e regional para apoiar
os empreendimentos de pesca artesanal, inclusive de subsistência, desenvolver o uso em pequena
escala dos recursos marinhos vivos e estimular a participação eqüitativa das comunidades locais,
dos pequenos pescadores, das mulheres e dos populações indígenas;
(c) Introduzir tópicos relativos à importância dos recursos vivos marinhos nos
currículos educacionais em todos os níveis.

Fortalecimento institucional

17.94. Os Estados costeiros, com o apoio das agências sub-regionais, regionais e mundiais
competentes, conforme apropriado, devem:
(a) Desenvolver condições de pesquisa para a avaliação e o monitoramento das
populações dos recursos marinhos vivos;
(b) Oferecer apoio às comunidades pesqueiras locais, em especial àquelas cuja
subsistência depende da pesca, aos populações indígenas e às mulheres, inclusive, conforme
apropriado, assistência técnica e financeira para organizar, manter, intercambiar e aperfeiçoar os
conhecimentos tradicionais sobre recursos marinhos vivos e técnicas pesqueiras e melhorar os
conhecimentos acerca dos ecossistemas marinhos;
(c) Estabelecer estratégias de desenvolvimento sustentável da aqüicultura,
inclusive com o gerenciamento ambiental, em apoio às comunidades piscicultoras rurais;
(d) Desenvolver e fortalecer, sempre que necessário, instituições capazes de
implementar os objetivos e atividades relacionados à conservação e ao gerenciamento dos
recursos marinhos vivos.
17.95. Será necessário apoio especial, inclusive com cooperação entre os Estados, para
aumentar a capacidade dos países em desenvolvimento nas áreas de dados e informações, meios
científicos e tecnológicos e desenvolvimento de recursos humanos, com vistas a capacitá-los a
participar eficazmente da conservação e uso sustentável dos recursos marinhos vivos sob
jurisdição nacional.

E. Análise das incertezas críticas para o gerenciamento do meio ambiente marinho e a


mudança do clima

Base para a ação

17.96. O meio ambiente marinho é vulnerável e sensível à mudança do clima e às


mudanças atmosféricas. O uso e o desenvolvimento racionais das zonas costeiras, de todos os
mares e dos recursos marinhos, bem como a conservação do meio ambiente marinho, exigem a
capacidade de determinar o estado em que atualmente se encontram esses sistemas e de predizer
Agenda 21 - Global 217

situações futuras. O alto grau de incerteza na informação atual dificulta um gerenciamento eficaz
e limita a capacidade de fazer previsões e avaliar as mudanças ambientais. Será preciso realizar
coletas sistemáticas de dados sobre parâmetros ambientais marinhos para que se possam aplicar
abordagens integradas de gerenciamento e prever os efeitos da mudança climática planetária e
dos fenômenos atmosféricos -- como a degradação da camada de ozônio -- sobre os recursos
marinhos vivos e o meio ambiente marinho. Com vistas a determinar o papel dos oceanos e de
todos os mares na evolução dos sistemas planetários e prever as mudanças -- tanto as naturais
como as induzidas pelo homem -- nos meios ambientes marinho e costeiro, os mecanismos de
coleta, síntese e difusão da informação decorrente das atividades de pesquisa e observação
sistemática precisam ser reestruturadas e consideravelmente reforçadas.
17.97. Há muitas incertezas no que diz respeito a mudanças de clima, especialmente
quanto à elevação do nível dos mares. Aumentos de pequena monta no nível dos mares podem
provocar, potencialmente, danos significativos em pequenas ilhas e faixas litorâneas baixas. As
estratégias a serem adotadas diante do fenômeno devem estar apoiadas em dados sólidos. Faz-se
necessário um compromisso de pesquisa cooperativa a longo prazo para a obtenção dos dados
necessários aos modelos climáticos planetários e a redução da incerteza. Enquanto isso, é preciso
adotar medidas de precaução com vistas a diminuir os riscos e efeitos da elevação do nível dos
mares, principalmente para pequenas ilhas e faixas litorâneas baixas do mundo inteiro.
17.98. Em algumas áreas do mundo observou-se um aumento da radiação ultravioleta
decorrente da degradação da camada de ozônio. É preciso avaliar os efeitos desse fenômeno
sobre o meio ambiente marinho com vistas a reduzir a incerteza e obter uma base para a ação.

Objetivos

17.99. Os Estados, em conformidade com as disposições da Convenção das Nações


Unidas sobre Direito do Mar relativas à pesquisa científica marinha, comprometem-se a aumentar
a compreensão do meio ambiente marinho e de sua função nos processos mundiais. Para isso, é
necessário:
(a) Promover a pesquisa científica do meio ambiente marinho e sua observação
sistemática, nos limites das jurisdições nacionais e em alto mar, inclusive de suas interações com
os fenômenos atmosféricos, tal como o esgotamento da camada de ozônio;
(b) Promover o intercâmbio dos dados e informações decorrentes da pesquisa
científica e da observação sistemática e dos conhecimentos ecológicos tradicionais e assegurar
sua disponibilidade para os responsáveis pela determinação de políticas e o público, no plano
nacional;
(c) Cooperar com vistas ao desenvolvimento de procedimentos uniformes
intercalibrados, técnicas de mensuração, instalações para o armazenamento de dados e
gerenciamento para a pesquisa científica e observação sistemática do meio ambiente marinho.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a gerenciamento


17.100. Os Estados devem considerar, inter alia:
(a) Coordenar os programas nacionais e regionais de observação dos fenômenos
costeiros e próximos ao litoral relacionados a mudança do clima e de parâmetros de pesquisa
essenciais para o gerenciamento marinho e costeiro em todas as regiões;
(b) Proporcionar prognósticos melhorados das condições marinhas para segurança
Agenda 21 - Global 218

dos habitantes das zonas costeiras e para eficiência das operações marítimas;
(c) Cooperar com vistas à adoção de medidas especiais para fazer frente e adaptar-
se a possíveis mudanças do clima e elevação do nível dos mares, inclusive com o
desenvolvimento de metodologias aceitas mundialmente para avaliação da vulnerabilidade
costeira, a elaboração de modelos e estratégias de resposta, especialmente para áreas prioritárias
como pequenas ilhas e zonas costeiras baixas e críticas;
(d) Identificar programas em curso ou previstos de observação sistemática do meio
ambiente marinho, com vistas a integrar atividades e estabelecer prioridades para resolver as
incertezas mais graves no que diz respeito aos oceanos e a todos os mares;
(e) Dar início a um programa de pesquisas destinado a determinar os efeitos dos
níveis mais altos de raios ultravioletas decorrentes da degradação da camada estratosférica de
ozônio sobre a biologia marinha e avaliar suas possíveis conseqüências;
17.101. Reconhecendo o importante papel desempenhado pelos oceanos e todos os mares
na atenuação das potenciais mudanças do clima, a COI e outras agências competentes das Nações
Unidas devem, com o apoio dos países detentores de recursos e os conhecimentos, desenvolver
análises, avaliações e observações sistemáticas do papel dos oceanos enquanto sumidouros de
carbono.

Dados e informações

17.102. Os Estados devem considerar, inter alia:


(a) Incrementar a cooperação internacional, especialmente com vistas a fortalecer
as capacidades científicas e tecnológicas nacionais de análise, avaliação e previsão das mudanças
do clima e do meio ambiente em escala mundial;
(b) Apoiar o papel da COI, em colaboração com a OMM, o PNUMA e outras
organizações internacionais, na coleta, análise e distribuição de dados e informações relativos aos
oceanos e a todos os mares, inclusive, conforme apropriado, por meio do proposto Sistema
Mundial de Observação dos Oceanos, dedicando especial atenção à necessidade de que a COI
desenvolva plenamente a estratégia de fornecimento de assistência técnica e treinamento aos
países em desenvolvimento por meio de seu Programa de Assistência Mútua, Ensino e
Treinamento;
(c) Criar bases nacionais de informação multissetorial que reúnam os resultados
dos programas de pesquisa e de observação sistemática;
(d) Vincular essas bancos de dados aos serviços e mecanismos existentes de
fornecimento de dados e informações, tal como a Observação Meteorológica Mundial e a
Observação Mundial;
(e) Cooperar, com vistas a estabelecer intercâmbio de dados e informações e
armazená-los e arquivá-los por meio dos centros de dados mundiais e regionais;
(f) Cooperar para assegurar participação plena, em especial dos países em
desenvolvimento, de todos os planos internacionais patrocinados por organismos e organizações
pertencentes ao sistema das Nações Unidas de coleta, análise e utilização de dados e informações.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
17.103. Os Estados devem considerar a possibilidade de cooperar bilateral e
multilateralmente com as organizações internacionais, sejam elas sub-regionais, regionais, inter-
regionais ou mundiais, conforme apropriado, para:
(a) Oferecer cooperação técnica para o desenvolvimento da capacidade dos
Estados costeiros ou insulares de desenvolver pesquisas e observações sistemáticas do meio
Agenda 21 - Global 219

ambiente marinho e de utilizar os resultados correspondentes;


(b) Fortalecer as instituições nacionais existentes e criar, quando necessário,
mecanismos internacionais de análise e previsão com vistas a preparar e intercambiar análises e
previsões oceanográficas regionais e mundiais e oferecer, conforme convenha, instalações para a
pesquisa internacional e o treinamento nos planos nacional, sub-regional e regional.
17.104. Em reconhecimento ao valor da Antártida enquanto área para o desenvolvimento
de pesquisas científicas, em especial das pesquisas fundamentais para a compreensão do meio
ambiente mundial, os Estados responsáveis pelo desenvolvimento de tais atividades de pesquisa
na Antártida devem, como previsto no Artigo III do Tratado Antártico, continuar a:
(a) Assegurar que os dados e informações decorrentes de suas pesquisas estejam
livremente disponíveis para a comunidade internacional;
(b) Facilitar o acesso da comunidade científica internacional e das agências
especializadas das Nações Unidas aos referidos dados e informações, inclusive promovendo
seminários e simpósios periódicos.
17.105. Os Estados devem fortalecer a coordenação interinstitucional de alto nível nos
planos sub-regional, regional e mundial, conforme apropriado, e rever mecanismos para o
desenvolvimento e a integração de redes de observação sistemática. Isso exige, inter alia:
(a) O exame das bancos de dados regionais e mundiais atualmente existentes;
(b) Mecanismos que permitam desenvolver técnicas comparáveis e compatíveis,
validar metodologias e medições, organizar análises científicas periódicas, desenvolver opções
para medidas corretivas, acordar modelos de apresentação e armazenamento e comunicar a
informação reunida aos usuários potenciais;
(c) A observação sistemática dos hábitats costeiros e das alterações no nível dos
mares, inventários das fontes de poluição do mar e análises das estatísticas de pesca;
(d) A organização de análises periódicas das condições e tendências dos oceanos e
de todos os mares e zonas costeiras.
17.106. A cooperação internacional, por meio das organizações competentes do sistema
das Nações Unidas, deve ajudar os países a desenvolver programas regionais de observação
sistemática a longo prazo e a integrá-los, sempre que possível, de forma coordenada, aos
Programas de Mares Regionais, com o objetivo de implementar, conforme apropriado, sistemas
de observação baseados no princípio do intercâmbio de dados. Um dos objetivos seria a previsão
dos efeitos das emergências climáticas sobre a infra-estrutura física e sócio-econômica atual das
zonas costeiras.
17.107. Com base nos resultados das pesquisas sobre os efeitos do aumento da radiação
ultravioleta que atinge a superfície da Terra sobre a saúde humana, a agricultura e o meio
ambiente marinho, os Estados e as organizações internacionais devem considerar a possibilidade
de adotar medidas corretivas adequadas.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


17.108. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $750 milhões de dólares, inclusive
cerca de $480 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
Agenda 21 - Global 220

para a implementação.
17.109. Os países desenvolvidos devem assegurar o financiamento necessário para um
maior desenvolvimento e para a implementação do Sistema Mundial de Observação dos Oceanos.
(b) Meios científicos e tecnológicos
17.110. A fim de solucionar as principais incertezas por meio de observações e pesquisas
sistemáticas das zonas costeiras e marinhas, os Estados costeiros devem cooperar no
desenvolvimento de procedimentos que permitam uma análise comparada e a obtenção de dados
confiáveis. Esses Estados também devem cooperar nos planos sub-regional e regional, sempre
que possível por meio dos programas atualmente em vigor, partilhar infra-estruturas e
equipamentos caros e sofisticados, adotar procedimentos de controle de qualidade e desenvolver
conjuntamente os recursos humanos. Especial atenção deve ser dedicada à transferência de
conhecimentos científicos e tecnológicos e a maneiras de ajudar os Estados, em especial os países
em desenvolvimento, a desenvolver capacidades endógenas.
17.111. Sempre que solicitado, as organizações internacionais devem apoiar os países
costeiros na implementação de projetos de pesquisa sobre os efeitos do acréscimo de radiação
ultravioleta.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
(d) Fortalecimento institucional
17.113. Os Estados devem fortalecer ou criar, conforme necessário, comissões
oceanográficas científicas e tecnológicas de caráter nacional ou organismos equivalentes para
desenvolver, apoiar e coordenar as atividades das ciências marinhas e trabalhar em estreita
colaboração com as organizações internacionais.
17.114. Os Estados devem utilizar os mecanismos sub-regionais e regionais existentes,
conforme apropriado, para desenvolver conhecimentos acerca do meio ambiente marinho,
intercambiar informações, organizar observações e análises sistemáticas e fazer o uso mais eficaz
de cientistas, instalações e equipamentos. Devem também cooperar na promoção da capacidade
endógena de pesquisa dos países em desenvolvimento.

F. Fortalecimento da cooperação e da coordenação no plano internacional, inclusive


regional

Base para a ação

17.115. Reconhece-se que o papel da cooperação internacional é apoiar e complementar


os esforços nacionais. A implementação das estratégias e atividades das áreas de programas
relativas às zonas marinhas e costeiras bem como aos mares exige dispositivos institucionais
eficazes nos planos nacional, sub-regional, regional e mundial, conforme apropriado. Há
numerosas instituições nacionais e internacionais, inclusive regionais, dentro e fora do sistema
das Nações Unidas, com competência em questões marinhas; é preciso aperfeiçoar a coordenação
e reforçar os vínculos entre elas. É importante ainda garantir que se adote em todos os níveis uma
abordagem integrada e multisetorial das questões marinhas.

Objetivos

17.116. Os Estados se comprometem, em conformidade com suas políticas, prioridades e


recursos, a promover as disposições institucionais necessárias para apoiar a implementação das
áreas de programas do presente capítulo. Para tanto, é necessário, conforme apropriado:
Agenda 21 - Global 221

(a) Integrar as atividades setoriais competentes voltadas para o meio ambiente e o


desenvolvimento nas áreas marinhas e costeiras nos planos nacional, sub-regional, regional e
mundial, conforme apropriado;
(b) Promover um intercâmbio eficaz de informações e, conforme apropriado,
vínculos institucionais entre as instituições nacionais, regionais, sub-regionais e inter-regionais de
caráter bilateral ou multilateral voltadas para questões de meio ambiente e desenvolvimento das
zonas marinhas e costeiras;
(c) Promover periodicamente, no âmbito do sistema das Nações Unidas, análises e
considerações intergovernamentais sobre questões ligadas a meio ambiente e desenvolvimento
nas zonas marinhas e costeiras;
(d) Promover o funcionamento eficaz dos mecanismos de coordenação dos
componentes do sistema das Nações Unidas que se ocupam de questões ligadas a meio ambiente
e desenvolvimento das zonas marinhas e costeiras, bem como o estabelecimento de vínculos com
os organismos internacionais de desenvolvimento competentes.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a gerenciamento


No plano mundial
17.117. A Assembléia geral deve tomar providências para que se avaliem periodicamente,
no âmbito do sistema das Nações Unidas, no plano intergovernamental, questões marinhas e
costeiras em geral, inclusive questões de meio ambiente e desenvolvimento, e solicitar ao
Secretário Geral e aos chefes executivos das diferentes agências e organizações que:
(a) Fortaleçam a coordenação e desenvolvam mecanismos mais eficazes entre os
diversos organismos competentes das Nações Unidas com responsabilidades importantes no que
diz respeito a zonas marinhas e costeiras, inclusive entre seus componentes sub-regionais e
regionais;
(b) Fortaleçam a coordenação entre essas organizações e outras organizações,
instituições e agências especializadas das Nações Unidas voltadas para desenvolvimento,
comércio e outras questões econômicas correlatas, conforme apropriado;
(c) Melhorem a representação das agências das Nações Unidas que se ocupam do
meio ambiente marinho nas atividades de coordenação realizadas em todo o sistema das Nações
Unidas;
(d) Promovam, quando necessário, uma maior colaboração entre as agências das
Nações Unidas e os programas sub-regionais e regionais sobre assuntos costeiros e marinhos;
(e) Desenvolvam um sistema centralizado responsável por prover informações
sobre a legislação e assessoria sobre a implementação de acordos legais em torno de questões
ambientais e de desenvolvimento marinho.
17.118. Os Estados reconhecem que as políticas ambientais devem ocupar-se das causas
fundamentais da degradação ambiental, evitando desse modo que as medidas ambientais
determinem restrições desnecessárias ao comércio. As medidas de política comercial com fins
ambientais não devem servir de meio para a prática de discriminações arbitrárias ou não
justificadas nem de restrições dissimuladas ao comércio internacional. Deve-se evitar a adoção de
medidas unilaterais para fazer frente aos desafios ambientais externos à jurisdição do país
importador. Na medida do possível, as determinações ambientais voltadas para problemas
ambientais internacionais devem basear-se no consenso internacional. As medidas internas
destinadas a atingir determinados objetivos ambientais podem exigir medidas comerciais que os
Agenda 21 - Global 222

tornem eficazes. Caso se considere necessário adotar medidas de política comercial para a
aplicação de políticas ambientais, devem-se observar determinados princípios e normas. Entre
estes últimos cabe mencionar, inter alia, o princípio da não-discriminação; o princípio de que a
medida comercial escolhida deve ser a menos restritiva para o comércio dentre as medidas
eficazes possíveis; a obrigação de que haja transparência no uso das medidas comerciais
relacionadas ao meio ambiente e a obrigação de prover com a suficiente antecipação sua
regulamentação nacional; e a necessidade de dedicar consideração às condições especiais e às
exigências do desenvolvimento dos países em desenvolvimento em seu avanço para a realização
de objetivos ambientais internacionalmente acordados.
Nos planos sub-regional e regional
17.119. Os Estados devem considerar, conforme apropriado:
(a) O fortalecimento e a extensão, quando necessário, da cooperação regional
intergovernamental, dos Programas de Mares Regionais do PNUMA, das organizações regionais
e sub-regionais de pesca e das comissões regionais;
(b) A introdução, quando necessário, de coordenação entre as organizações das
Nações Unidas e outras organizações multilaterais competentes nos planos sub-regional e
regional, inclusive pensando na possibilidade de localização conjunta de seu pessoal;
(c) Organizar consultas intra-regionais periódicas;
(d) Facilitar aos centros e redes sub-regionais e regionais, como os Centros
Regionais de Tecnologia Marinha, o acesso aos conhecimentos e à tecnologia e sua utilização por
meio dos organismos nacionais competentes.
(b) Dados e informações
17.120. Os Estados devem, conforme apropriado:
(a) Promover o intercâmbio de informação sobre questões marinhas e costeiras;
(b) Reforçar a capacidade das organizações internacionais de lidar com as
informações e apoiar o desenvolvimento de sistemas de dados e informações nacionais, sub-
regionais e regionais, conforme apropriado. Isso também poderia incluir redes que vinculassem
entre si os países que enfrentassem problemas ambientais semelhantes;
(c) Desenvolver mais os mecanismos internacionais existentes como a Observação
Mundial e o Grupo de Especialistas sobre os Aspectos Científicos da Poluição do Mar
(GESAMP).

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


17.121. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $50 milhões de dólares a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos, desenvolvimento de recursos humanos e
fortalecimento institucional
17.122. Os meios de implementação delineados nas outras áreas de programas sobre
questões marinhas e costeiras, nas seções voltadas para meios científicos e tecnológicos,
desenvolvimento de recursos humanos e fortalecimento institucional também são inteiramente
aplicáveis a esta área de programas. Além disso, os Estados devem, por meio da cooperação
Agenda 21 - Global 223

internacional, desenvolver um programa abrangente para atender às necessidades básicas de


recursos humanos nas ciências marinhas em todos os níveis.

G. Desenvolvimento sustentável das pequenas ilhas

Base para a ação

17.123. Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e as ilhas que abrigam


pequenas comunidades são um caso especial tanto no que diz respeito a meio ambiente como a
desenvolvimento. Ambos são ecologicamente frágeis e vulneráveis. Suas pequenas dimensões,
seus recursos limitados, sua dispersão geográfica e o isolamento em que se encontram
relativamente aos mercados colocam-nos em desvantagem do ponto de vista econômico e
impedem que obtenham economias de escala. No caso dos pequenos Estados insulares em
desenvolvimento o oceano e o meio ambiente costeiro têm importância estratégica, constituindo
valioso recurso para o desenvolvimento.
17.124. Devido a seu isolamento geográfico, apresentam um número relativamente grande
de espécies únicas de flora e fauna e graças a isso detêm uma parcela muito alta da
biodiversidade mundial. Além disso têm culturas ricas e variadas, especialmente adaptadas aos
ambientes insulares e sabem aplicar um gerenciamento saudável dos recursos da ilha.
17.125. Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento têm todos os problemas e
desafios ambientais da área costeira concentrados numa superfície terrestre limitada. São
considerados extremamente vulneráveis ao aquecimento da Terra e à elevação do nível dos
mares, com certas pequenas ilhas baixas enfrentando a ameaça crescente da perda da totalidade
de seus territórios nacionais. Quase todas as ilhas tropicais também estão experimentando
atualmente os impactos mais imediatos da freqüência crescente dos ciclones, tempestades e
furacões associados à mudança do clima. Esses fenômenos estão provocando recuos
significativos em seu desenvolvimento sócio-econômico.
17.126. Visto que as possibilidades de desenvolvimento das pequenas ilhas são limitadas,
o planejamento e a implementação de medidas voltadas para seu desenvolvimento sustentável
defrontam-se com problemas especiais. Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento
dificilmente poderão enfrentar esses problemas sem a cooperação e o apoio da comunidade
internacional.

Objetivos

17.127. Os Estados comprometem-se a estudar os problemas do desenvolvimento


sustentável dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento. Para tanto, é necessário:
(a) Adotar e implementar planos e programas de apoio ao desenvolvimento
sustentável e à utilização de seus recursos marinhos e costeiros, em especial para satisfazer as
necessidades humanas essenciais, preservar a biodiversidade e melhorar a qualidade de vida dos
populações insulares;
(b) Adotar medidas que capacitem os pequenos Estados insulares em
desenvolvimento a enfrentar as mudanças ambientais de forma eficaz, criativa e sustentável,
mitigando os impactos e reduzindo as ameaças que elas representam para os recursos marinhos e
costeiros.

Atividades
Agenda 21 - Global 224

(a) Atividades relacionadas a gerenciamento


17.128. Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento, com a ajuda, conforme
apropriado, da comunidade internacional e em função dos trabalhos já realizados pelas
organizações nacionais e internacionais, devem:
(a) Estudar as características ambientais e do desenvolvimento específicas das
pequenas ilhas e produzir um perfil ambiental e o inventário de seus recursos naturais, hábitats
marinhos mais importantes e sua biodiversidade;
(b) Desenvolver técnicas para determinar e monitorar a capacidade-limite das
pequenas ilhas a partir de diferentes hipóteses de desenvolvimento e limitações de recursos;
(c) Preparar planos a médio e longo prazo para o desenvolvimento sustentável que
enfatizem a utilização múltipla dos recursos, integrem as considerações ambientais aos
planejamentos e políticas econômicos e setoriais, definam medidas para a manutenção da
diversidade cultural e biológica e conservem as espécies ameaçadas e os hábitats marinhos
críticos;
(d) Adaptar as técnicas de gerenciamento costeiro -- como planejamento,
determinação dos locais e avaliações dos impactos ambientais -- adequadas às características
específicas de pequenas ilhas, levando em conta os valores tradicionais e culturais dos
populações indígenas dos países insulares, usando Sistemas de Informação Geográfica (GIS);
(e) Analisar as disposições institucionais existentes e identificar e empreender as
reformas institucionais adequadas, essenciais para a implementação eficaz dos planos de
desenvolvimento sustentável, inclusive com coordenação intersetorial e participação da
comunidade no processo de planejamento;
(f) Implementar planos de desenvolvimento sustentável, inclusive analisando e
modificando as políticas e práticas em vigor que se mostrem insustentáveis;
(g) Com base em abordagens de precaução e antecipação, projetar e implementar
estratégias reativas racionais para enfrentar os impactos ambientais, sociais e econômicos da
mudança do clima e da elevação do nível dos mares e preparar planos adequados para tais
contingências;
(h) Promover a adoção de tecnologias ambientalmente saudáveis para o
desenvolvimento sustentável nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento e identificar as
tecnologias que devem ser evitadas devido à ameaça que representam para os ecossistemas
insulares essenciais.
(b) Dados e informações
17.129. Para facilitar o processo de planejamento convém colher e analisar informações
suplementares sobre as características geográficas, ambientais, culturais e sócio-econômicas das
ilhas. As bancos de dados sobre ilhas de que dispomos atualmente devem ser ampliadas; é
preciso ainda desenvolver sistemas de informação geográfica e adaptá-los às características
específicas das ilhas.
(c) Cooperação e coordenação nos planos internacional e regional
17.130. Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento, com o apoio, conforme
apropriado, de organizações internacionais, sejam elas sub-regionais, regionais ou mundiais,
devem desenvolver e fortalecer a cooperação e o intercâmbio de informações interinsulares,
regionais e inter-regionais, inclusive com reuniões periódicas regionais e mundiais sobre o
desenvolvimento sustentável dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento, com a
realização em 1993 da primeira conferência mundial sobre desenvolvimento sustentável de
pequenos Estados insulares em desenvolvimento.
Agenda 21 - Global 225

17.131. As organizações internacionais, sejam elas sub-regionais, regionais ou mundiais,


devem reconhecer as exigências especiais de desenvolvimento dos pequenos Estados insulares
em desenvolvimento e atribuir prioridade adequada à prestação de assistência, particularmente no
que diz respeito ao desenvolvimento e implementação de planos de desenvolvimento sustentável.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


17.132. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $130 milhões de dólares, inclusive
cerca de $50 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
17.133. Devem ser criados ou fortalecidos, conforme apropriado, centros de
desenvolvimento e difusão de informações científicas e assessoramento sobre meios técnicos e
tecnologias convenientes a pequenos Estados insulares em desenvolvimento, especialmente no
que diz respeito ao gerenciamento da região costeira, da área econômica exclusiva e dos recursos
marinhos. Esses centros devem ter um caráter regional.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
17.134. Visto que as populações dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento não
têm condições de manter todas as especializações necessárias, o treinamento para o
gerenciamento e o desenvolvimento integrados das zonas costeiras deve estar orientado para a
formação de gerenciadores ou cientistas, engenheiros e planejadores do litoral capazes de integrar
os inúmeros fatores que devem ser considerados no gerenciamento costeiro integrado. Os
usuários de recursos devem ser preparados para exercer funções paralelas de gerenciamento e
proteção, aplicar o princípio "quem polui, paga" e apoiar o treinamento de seu pessoal. Os
sistemas de ensino devem ser modificados de acordo com essas necessidades e desenvolvidos
programas especiais de treinamento em desenvolvimento e gerenciamento integrados das ilhas. O
planejamento local deve ser integrado aos currículos de ensino em todos os níveis e
desenvolvidas campanhas de conscientização do público com o auxílio de organizações não-
governamentais e das populações indígenas litorâneas.
(d) Fortalecimento institucional
17.135. A capacidade total dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento sempre
será limitada. Em decorrência, é necessário reestruturar sua capacidade atual para que eles
possam fazer frente com eficiência às necessidades imediatas de desenvolvimento sustentável e
gerenciamento integrado. Ao mesmo tempo, é preciso dirigir a assistência pertinente e adequada
da comunidade internacional ao fortalecimento de todo o leque de recursos humanos
permanentemente necessários à implementação de planos de desenvolvimento sustentável.
17.136. É preciso utilizar novas tecnologias capazes de aumentar a produção e ampliar o
leque das capacidades dos limitados recursos humanos existentes para elevar a capacidade das
populações muito pequenas de fazer frente a suas necessidades. É preciso implementar o
desenvolvimento e a aplicação dos conhecimentos tradicionais para melhorar a capacidade dos
países de atingir um desenvolvimento sustentável.
Agenda 21 - Global 226

1. As referências à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar


presentes neste capítulo da Agenda 21 não prejudicam a posição de qualquer
Estado com respeito à assinatura, ratificação ou adesão à referida
Convenção.

2. As referências à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar


presentes neste capítulo da Agenda 21 não prejudicam a posição dos Estados
que consideram que a Convenção constitui um todo unificado.

3. Nada do que se afirma nas áreas de programas do presente capítulo deve


ser interpretado em prejuízo dos direitos dos Estados envolvidos em alguma
disputa de soberania ou na delimitação das áreas marítimas consideradas.
Agenda 21 - Global 227

Capítulo 18

PROTEÇÃO DA QUALIDADE E DO ABASTECIMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS:


APLICAÇÃO DE CRITÉRIOS INTEGRADOS NO DESENVOLVIMENTO, MANEJO E
USO DOS RECURSOS HÍDRICOS

Introdução

18.1. Os recursos de água doce constituem um componente essencial da hidrosfera da


Terra e parte indispensável de todos os ecossistemas terrestres. O meio de água doce caracteriza-
se pelo ciclo hidrológico, que inclui enchentes e secas, cujas conseqüências se tornaram mais
extremas e dramáticas em algumas regiões. A mudança climática global e a poluição atmosférica
também podem ter um impacto sobre os recursos de água doce e sua disponibilidade e, com a
elevação do nível do mar, ameaçar áreas costeiras de baixa altitude e ecossistemas de pequenas
ilhas.
18.2. A água é necessária em todos os aspectos da vida. O objetivo geral é assegurar que
se mantenha uma oferta adequada de água de boa qualidade para toda a população do planeta, ao
mesmo tempo em que se preserve as funções hidrológicas, biológicas e químicas dos
ecossistemas, adaptando as atividades humanas aos limites da capacidade da natureza e
combatendo vetores de moléstias relacionadas com a água. Tecnologias inovadoras, inclusive o
aperfeiçoamento de tecnologias nativas, são necessárias para aproveitar plenamente os recursos
hídricos limitados e protegê-los da poluição.
18.3. A escassez generalizada, a destruição gradual e o agravamento da poluição dos
recursos hídricos em muitas regiões do mundo, ao lado da implantação progressiva de atividades
incompatíveis, exigem o planejamento e manejo integrados desses recursos. Essa integração deve
cobrir todos os tipos de massas inter-relacionadas de água doce, incluindo tanto águas de
superfície como subterrâneas, e levar devidamente em consideração os aspectos quantitativos e
qualitativos. Deve-se reconhecer o caráter multissetorial do desenvolvimento dos recursos
hídricos no contexto do desenvolvimento socio-econômico, bem como os interesses múltiplos na
utilização desses recursos para o abastecimento de água potável e saneamento, agricultura,
indústria, desenvolvimento urbano, geração de energia hidroelétrica, pesqueiros de águas
interiores, transporte, recreação, manejo de terras baixas e planícies e outras atividades. Os planos
racionais de utilização da água para o desenvolvimento de fontes de suprimento de água
subterrâneas ou de superfície e de outras fontes potenciais têm de contar com o apoio de medidas
concomitantes de conservação e minimização do desperdício. No entanto, deve-se dar prioridade
às medidas de prevenção e controle de enchentes, bem como ao controle de sedimentação, onde
necessário.
18.4. Os recursos hídricos transfronteiriços e seu uso são de grande importância para os
Estados ribeirinhos. Nesse sentido, a cooperação entre esses Estados pode ser desejável em
conformidade com acordos existentes e/ou outros arranjos pertinentes, levando em consideração
os interesses de todos os Estados ribeirinhos envolvidos.
18.5. Propõem-se as seguintes áreas de programas para o setor de água doce:
(a) Desenvolvimento e manejo integrado dos recursos hídricos;
(b) Avaliação dos recursos hídricos;
(c) Proteção dos recursos hídricos, da qualidade da água e dos ecossistemas
aquáticos;
Agenda 21 - Global 228

(d) Abastecimento de água potável e saneamento;


(e) Água e desenvolvimento urbano sustentável;
(f) Água para produção sustentável de alimentos e desenvolvimento rural
sustentável;
(g) Impactos da mudança do clima sobre os recursos hídricos.

Áreas de Programas

A. Desenvolvimento e manejo integrado dos recursos hídricos

Base para a ação

18.6. O grau em que o desenvolvimento dos recursos hídricos contribui para a


produtividade econômica e o bem estar social nem sempre é apreciado, embora todas as
atividades econômicas e sociais dependam muito do suprimento e da qualidade da água. À
medida em que as populações e as atividades econômicas crescem, muitos países estão atingindo
rapidamente condições de escassez de água ou se defrontando com limites para o
desenvolvimento econômico. As demandas por água estão aumentando rapidamente, com 70-80
por cento exigidos para a irrigação, menos de 20 por cento para a indústria e apenas 6 por cento
para consumo doméstico. O manejo holístico da água doce como um recurso finito e vulnerável e
a integração de planos e programas hídricos setoriais aos planos econômicos e sociais nacionais
são medidas de importância fundamental para a década de 1990 e o futuro. A fragmentação das
responsabilidades pelo desenvolvimento de recursos hídricos entre organismos setoriais se está
constituindo, no entanto, em um impedimento ainda maior do que o previsto para promover o
manejo hídrico integrado. São necessários mecanismos eficazes de implementação e
coordenação.

Objetivos

18.7. O objetivo global é satisfazer as necessidades hídricas de todos os países para o


desenvolvimento sustentável deles.
18.8. O manejo integrado dos recursos hídricos baseia-se na percepção da água como
parte integrante do ecossistema, um recurso natural e bem econômico e social cujas quantidade e
qualidade determinam a natureza de sua utilização. Com esse objetivo, os recursos hídricos
devem ser protegidos, levando-se em conta o funcionamento dos ecossistemas aquáticos e a
perenidade do recurso, a fim de satisfazer e conciliar as necessidades de água nas atividades
humanas. Ao desenvolver e usar os recursos hídricos, deve-se dar prioridade à satisfação das
necessidades básicas e à proteção dos ecossistemas. No entretanto, uma vez satisfeitas essas
necessidades, os usuários da água devem pagar tarifas adequadas.
18.9. O manejo integrado dos recursos hídricos, inclusive a integração de aspectos
relacionados à terra e à água, deve ser feito ao nível de bacia ou sub-bacia de captação. Quatro
objetivos principais devem ser perseguidos:
(a) Promover uma abordagem dinâmica, interativa, iterativa e multissetorial do
manejo dos recursos hídricos, incluindo a identificação e proteção de fontes potenciais de
abastecimento de água doce que abarquem considerações tecnológicas, socio-econômicas,
ambientais e sanitárias;
(b) Fazer planos para a utilização, proteção, conservação e manejo sustentável e
Agenda 21 - Global 229

racional de recursos hídricos baseados nas necessidades e prioridades da comunidade, dentro do


quadro da política nacional de desenvolvimento econômico;
(c) Traçar, implementar e avaliar projetos e programas que sejam economicamente
eficientes e socialmente adequados no âmbito de estratégias definidas com clareza, baseadas
numa abordagem que inclua ampla participação pública, inclusive da mulher, da juventude, dos
populações indígenas e das comunidades locais, no estabelecimento de políticas e nas tomadas de
decisão do manejo hídrico;
(d) Identificar e fortalecer ou desenvolver, conforme seja necessário, em particular
nos países em desenvolvimento, os mecanismos institucionais, legais e financeiros adequados
para assegurar que a política hídrica e sua implementação sejam um catalisador para o progresso
social e o crescimento econômico sustentável.
18.10. No caso de recursos hídricos transfronteiriços, é necessário que os Estados
ribeirinhos formulem estratégias relativas a esses recursos, preparem programas de ação relativos
a esses recursos e levem em consideração, quando apropriado, a harmonização dessas estratégias
e programas de ação.
18.11. Todos os Estados, segundo sua capacidade e disponibilidade de recursos, e por
meio de cooperação bilateral ou multilateral, inclusive com as Nações Unidas e outras
organizações pertinentes, quando apropriado, podem estabelecer as seguintes metas:
(a) Até o ano 2000:
(i) Ter traçado e iniciado programas de ação nacionais com custos e metas
determinados e ter estabelecido estruturas institucionais e instrumentos jurídicos apropriados;
(ii) Ter estabelecido programas eficientes de uso de água para alcançar
padrões sustentáveis de utilização dos recursos.
(b) Até o ano 2005
(i) Ter atingido as metas subsetoriais de todas as áreas de programas sobre
recursos de água doce.
Fica subentendido que o cumprimento dos objetivos quantificados em (i) e (ii) dependerá
de recursos financeiros novos e adicionais que sejam colocados à disposição dos países em
desenvolvimento de acordo com as disposições pertinentes da resolução 44/228 da Assembléia
Geral.

Atividades

18.12. Todos os Estados, segundo sua capacidade e disponibilidade de recursos, e por


meio de cooperação bilateral ou multilateral, inclusive das Nações Unidas e outras organizações
pertinentes, quando apropriado, podem implementar as seguintes atividades para melhorar o
manejo integrado dos recursos hídricos:
(a) Formular planos de ação nacional e programas de investimento com custos
calculados e metas fixadas;
(b) Integrar medidas de proteção e conservação de fontes potenciais de
abastecimento de água doce, entre elas o inventário dos recursos hídricos, com planejamento do
uso da terra, utilização de recursos florestais, proteção das encostas de montanhas e margens de
rios e outras atividades pertinentes de desenvolvimento e conservação;
(c) Desenvolver bancos de dados interativos, modelos de previsão, modelos de
planejamento e métodos de manejo e planejamento hídrico, incluindo métodos de avaliação do
impacto ambiental;
(d) Otimizar a alocação de recursos hídricos sob limitações físicas e socio-
Agenda 21 - Global 230

econômicas;
(e) Implementar as decisões de alocação por meio do manejo de demandas,
mecanismos de preço e medidas regulamentadoras;
(f) Combater enchentes e secas, utilizando análises de risco e avaliação do impacto
social e ambiental;
(g) Promover planos de uso racional da água por meio de conscientização pública,
programas educacionais e imposição de tarifas sobre o consumo de água e outros instrumentos
econômicos;
(h) Mobilizar os recursos hídricos, particularmente em zonas áridas e semi-áridas;
(i) Promover a cooperação internacional em pesquisas científicas sobre os recursos
de água doce;
(j) Desenvolver fontes novas e alternativas de abastecimento de água, tais como
dessalinização da água do mar, reposição artificial de águas subterrâneas, uso de água de pouca
qualidade, aproveitamento de águas residuais e reciclagem da água;
(k) Integrar o manejo da quantidade e qualidade de água (inclusive dos recursos
hídricos subterrâneos e de superfície);
(l) Promover a conservação da água por meio de planos melhores e mais eficientes
de aproveitamento da água e de minimização do desperdício para todos os usuários, incluindo o
desenvolvimento de mecanismos de poupança de água;
(m) Apoiar os grupos de usuários de água para otimizar o manejo dos recursos
hídricos locais;
(n) Desenvolver técnicas de participação do público e implementá-las nas tomadas
de decisão, fortalecendo em particular o papel da mulher no planejamento e manejo dos recursos
hídricos;
(o) Desenvolver e intensificar, quando apropriado, a cooperação, incluindo
mecanismos onde sejam adequados, em todos os níveis pertinentes, a saber:
(i) No nível pertinente mais baixo, delegando o manejo dos recursos
hídricos, em geral, para esse nível, de acordo com a legislação nacional, incluindo a
descentralização dos serviços públicos, passando-os às autoridades locais, empresas privadas e
comunidades;
(ii) No plano nacional, planejamento e manejo integrado de recursos
hídricos, no quadro do processo de planejamento nacional e, onde adequado, estabelecimento de
regulamentação e monitoramento independentes da água doce, baseados na legislação nacional e
em medidas econômicas;
(iii) No plano regional, considerando, quando apropriada, a possibilidade
de harmonizar as estratégias e programas de ação nacionais;
(iv) No plano mundial, melhor delineamento das responsabilidades,
divisão de trabalho e coordenação de organizações e programas internacionais, facilitando as
discussões e a partilha de experiências em áreas relacionadas ao manejo de recursos hídricos;
(p) Difundir informação, inclusive de diretrizes operacionais, e promover a
educação dos usuários de água, considerando a possibilidade de as Nações Unidas proclamarem
um Dia Mundial da Água.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


18.13. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
Agenda 21 - Global 231

implementação das atividades deste programa em cerca de $115 milhões de dólares, a serem
fornecidos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
18.14. O desenvolvimento de bancos de dados interativos, métodos de previsão e modelos
de planejamento econômico adequados à tarefa de gerenciar recursos hídricos de uma maneira
eficiente e sustentável exigirá a aplicação de técnicas novas tais como sistemas de informação
geográfica e sistemas de especialistas para reunir, assimilar, analisar e exibir informações
multissetoriais e otimizar a tomada de decisões. Ademais, o desenvolvimento de fontes novas e
alternativas de abastecimento de água e tecnologias hídricas de baixo custo exigirá pesquisa
aplicada inovadora. Isso envolverá a transferência, adaptação e difusão de novas técnicas e
tecnologias entre os países em desenvolvimento, bem como o desenvolvimento da capacidade
endógena, para que sejam capazes de enfrentar o desafio de integrar os aspectos técnicos,
econômicos, sociais e ambientais do manejo de recursos hídricos e de prever os efeitos em termos
de impacto humano.
18.15. Em conformidade com o reconhecimento da água como um bem social e
econômico, as várias opções disponíveis para cobrar tarifas dos usuários de água (inclusive
grupos domésticos, urbanos, industriais e agrícolas) precisam ser melhor avaliadas e testadas na
prática. Exige-se um desenvolvimento maior de instrumentos econômicos que levem em
consideração os custos de oportunidade e as circunstâncias ambientais. Em situações rurais e
urbanas, devem-se realizar estudos de campo sobre a disposição dos usuários de pagar.
18.16. O desenvolvimento e manejo de recursos hídricos deve ser planejado de forma
integrada, levando em consideração necessidades de planejamento de longo termo, bem como as
de horizontes mais estreitos, ou seja, deve incorporar considerações ambientais, econômicas e
sociais baseadas no princípio da sustentabilidade; deve incluir as necessidades de todos os
usuários, bem como aquelas relacionadas com a prevenção e atenuação de perigos relacionados
com a água; e deve constituir parte integrante do processo de planejamento do desenvolvimento
socio-econômico. Um pré-requisito para o manejo sustentável da água enquanto recurso
vulnerável e escasso é a obrigação de reconhecer em todo o planejamento e desenvolvimento
seus custos totais. No planejamento deve-se considerar os investimentos em benefícios, a
proteção ambiental e os custos operacionais, bem como os custos de oportunidade que reflitam o
uso alternativo mais valioso da água. A cobrança de tarifas não precisa necessariamente
sobrecarregar todos os beneficiários com as conseqüências dessas considerações. Os mecanismos
de cobrança, no entanto, devem refletir tanto quanto possível o custo real da água quando usada
como um bem econômico e a capacidade das comunidades de pagar.
18.17. O papel da água como um bem social, econômico e sustentador da vida deve-se
refletir em mecanismos de manejo da demanda e ser implementado por meio de conservação e
reutilização da água, avaliação de recursos e instrumentos financeiros.
18.18. A nova fixação de prioridades para as estratégias de investimento público e privado
deve levar em consideração: (a) a utilização máxima de projetos existentes, por meio de
manutenção, reabilitação e operação otimizada; (b) tecnologias limpas novas ou alternativas; e (c)
energia hidroelétrica ambiental e socialmente benigna.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
18.19. Para delegar o manejo dos recursos hídricos ao nível adequado mais baixo é
preciso educar e treinar o pessoal correspondente em todos os planos e assegurar que a mulher
Agenda 21 - Global 232

participe em pé de igualdade dos programas de educação e treinamento. Deve-se dar particular


ênfase à introdução de técnicas de participação pública, inclusive com a intensificação do papel
da mulher, da juventude, das populações indígenas e das comunidades locais. Os conhecimentos
relacionados com as várias funções do manejo da água devem ser desenvolvidos por Governos
municipais e autoridades do setor, bem como no setor privado, organizações não-governamentais
locais/nacionais, cooperativas, empresas e outros grupos de usuários de água. É necessária
também a educação do público sobre a importância da água e de seu manejo adequado.
18.20. Para implementar esses princípios, as comunidades precisam ter capacidades
adequadas. Aqueles que estabelecem a estrutura para o desenvolvimento e manejo hídrico em
qualquer plano, seja internacional, nacional ou local, precisam garantir a existência de meios para
formar essas capacidades, os quais irão variar de caso para caso. Eles incluem usualmente:
(a) programas de conscientização, com a mobilização de compromisso e apoio em
todos os níveis e a deflagração de ações mundiais e locais para promover tais programas;
(b) formação de gerentes dos recursos hídricos em todos os níveis, de forma que
possam ter uma compreensão adequada de todos os elementos necessários para suas tomadas de
decisão;
(c) fortalecimento das capacidades de formação profissional nos países em
desenvolvimento;
(d) formação adequada dos profissionais necessários, inclusive dos trabalhadores
dos serviços de extensão;
(e) melhoria das estruturas de carreira;
(f) partilha de conhecimento e tecnologia adequados, tanto para a coleta de dados
como para a implementação de desenvolvimento planejado, incluindo tecnologias não-poluidoras
e o conhecimento necessário para obter os melhores resultados do sistema de investimentos
existente.
(d) Fortalecimento institucional
18.21. A capacidade institucional para implementar o manejo hídrico integrado deve ser
revista e desenvolvida quando há uma demanda clara. As estruturas administrativas existentes
serão amiúde capazes de realizar o manejo dos recursos hídricos locais, mas pode surgir a
necessidade de novas instituições baseadas na perspectiva, por exemplo, de áreas de captação
fluviais, conselhos distritais de desenvolvimento e comitês de comunidades locais. Embora a
água seja administrada em vários níveis do sistema socio-político, o manejo exigido pela
demanda exige o desenvolvimento de instituições relacionadas com a água em níveis adequados,
levando em consideração a necessidade de integração com o manejo do uso da terra.
18.22. Ao criar um meio que propicie o manejo nível adequado no nível mais baixo, o
papel do Governo inclui a mobilização de recursos financeiros e humanos, a legislação, o
estabelecimento de diretrizes e outras funções normativas, o monitoramento e a avaliação do uso
dos recursos hídricos e terrestres e a criação de oportunidades para a participação pública. Os
organismos e doadores internacionais têm um papel importante a desempenhar na oferta de apoio
aos países em desenvolvimento para que criem o meio propício ao manejo integrado dos recursos
hídricos. Isso deve incluir, quando apropriado, apoio dos doadores aos níveis locais dos países
em desenvolvimento, tais como instituições comunitárias, organizações não governamentais e
grupos de mulheres.

B. Avaliação dos recursos hídricos

Base para a ação


Agenda 21 - Global 233

18.23. A avaliação dos recursos hídricos, incluindo a identificação de fontes potenciais


de água doce, compreende a determinação contínua de fontes, extensão, confiabilidade e
qualidade desses recursos e das atividades humanas que os afetam. Essa avaliação constitui a
base prática para o manejo sustentável deles e o pré-requisito para a avaliação das possibilidades
de desenvolvimento deles. Há, porém, uma preocupação crescente com o fato de que, em uma
época em que são necessárias informações mais precisas e confiáveis sobre os recursos hídricos,
os serviços hidrológicos e organismos associados apresentam-se menos capazes do que antes de
fornecer essas informações, especialmente informações sobre águas subterrâneas e a qualidade da
água. Constituem impedimentos importantes a falta de recursos financeiros para a avaliação dos
recursos hídricos, a natureza fragmentada dos serviços hidrológicos e o número insuficiente de
pessoal qualificado. Ao mesmo tempo, torna-se cada vez mais difícil para os países em
desenvolvimento o acesso à tecnologia em avanço de captação e manejo de dados. No entanto, o
estabelecimento de bancos de dados nacionais é vital para a avaliação dos recursos hídricos e
para a mitigação dos efeitos de enchentes, secas, desertificação e poluição.

Objetivos

18.24. Baseando-se no Plano de Ação de Mar del Plata, essa área de programas foi
prolongada para a década de 1990 e adiante com o objetivo geral de assegurar a avaliação e
previsão da quantidade e qualidade dos recursos hídricos, a fim de estimar a quantidade total
desses recursos e seu potencial de oferta futuro, determinar seu estado de qualidade atual, prever
possíveis conflitos entre oferta e demanda e de oferecer uma base de dados científicos para a
utilização racional dos recursos hídricos.
18.25. Dessa maneira, estabeleceram-se cinco objetivos específicos:
(a) Colocar à disposição de todos os países tecnologias de avaliação dos recursos
hídricos adequadas às suas necessidades, independentemente do nível de desenvolvimento deles,
inclusive métodos para a avaliação do impacto da mudança climática sobre a água doce;
(b) Fazer com que todos os países, segundo seus meios financeiros, destinem para
a avaliação de recursos hídricos, meios financeiros de acordo com as necessidades sociais e
econômicas da coleta de dados sobre esses recursos;
(c) Assegurar que as informações sobre avaliações sejam plenamente utilizadas no
desenvolvimento de políticas de manejo hídrico;
(d) Fazer com que todos os países estabeleçam as disposições institucionais
necessárias para assegurar coleta, processamento, armazenamento, resgate e difusão eficientes
para os usuários das informações sobre quantidade e qualidade dos recursos hídricos disponíveis
nas bacias de captação e aqüíferos subterrâneos de uma forma integrada;
(e) Ter uma quantidade suficiente de pessoal adequadamente qualificado e capaz
recrutada e mantida por organismos de avaliação de recursos hídricos e proporcionar o
treinamento e retreinamento que eles precisarão para se desincumbir de suas responsabilidades
com êxito.
18.26. Todos os Estados, segundo sua capacidade e recursos disponíveis, e por meio de
cooperação bilateral ou multilateral, inclusive cooperação com as Nações Unidas e outras
organizações pertinentes, quando apropriado, podem estabelecer as seguintes metas:
(a) Até o ano 2000, ter estudado em detalhes a exeqüibilidade de instalar serviços
de avaliação de recursos hídricos;
(b) Como objetivo de longo prazo, dispor de serviços operacionais completos
Agenda 21 - Global 234

baseados em redes hidrométricas e alta densidade.

Atividades

18.27. Todos os Estados, segundo sua capacidade e recursos disponíveis, e por meio de
cooperação bilateral ou multilateral, inclusive com as Nações Unidas e outras organizações
pertinentes, quando apropriado, podem empreender as seguintes atividades:
(a) Quadro institucional:
(i) Estabelecer estruturas de políticas e prioridades nacionais adequadas;
(ii) Estabelecer e fortalecer a capacidade institucional dos países, incluindo
disposições legislativas e reguladoras, necessária para assegurar a avaliação adequada de seus
recursos hídricos e a provisão de serviços de previsão de enchentes e secas;
(iii) Estabelecer e manter cooperação efetiva no plano nacional entre os
vários organismos responsáveis pela coleta, armazenamento e análise de dados hidrológicos;
(iv) Cooperar na avaliação de recursos hídricos transfronteirços, sujeita à
aprovação prévia de cada Estado ribeirinho envolvido;
(b) Sistemas de dados:
(i) Revisar as redes de coleta de dados existentes e avaliar sua adequação,
inclusive daquelas que fornecem dados em tempo para a previsão de enchentes e secas;
(ii) Melhorar as redes para que se ajustem às diretrizes aceitas para o
fornecimento de dados sobre quantidade e qualidade de águas de superfície e subterrâneas, bem
como dados pertinentes sobre o uso da terra ;
(iii) Aplicar normas uniformes e outros meios para assegurar a
compatibilidade dos dados;
(iv) Elevar a qualidade das instalações e procedimentos utilizados para
armazenar, processar e analisar dados hidrológicos e tornar disponíveis esses dados e as previsões
derivadas deles a usuários em potencial;
(v) Estabelecer bancos de dados sobre a disponibilidade de todo tipo de
dado hidrológico no plano nacional;
(vi) Implementar operações de "recuperação de dados", como, por
exemplo, a criação de arquivos nacionais de recursos hídricos;
(vii) Implementar técnicas bem comprovadas e apropriadas para o
processamento de dados hidrológicos;
(viii) Obter estimativas de áreas relacionadas a partir de dados hidrológicos
concretos;
(ix) Assimilar dados obtidos por sensoreamento remoto e o uso, quando
apropriado, de sistemas de informação geográfica;
(c) Difusão de dados:
(i) Identificar a necessidade de dados sobre recursos hídricos para vários
propósitos de planejamento;
(ii) Analisar e apresentar dados e informações sobre recursos hídricos nas
formas exigidas para o planejamento e manejo do desenvolvimento socio-econômico dos países e
para uso em estratégias de proteção ambiental e no delineamento e operação de projetos
específicos relacionados com a água;
(iii) Fornecer previsões e avisos de enchentes e secas ao público em geral e
à defesa civil;
(d) Pesquisa e desenvolvimento:
Agenda 21 - Global 235

(i) Estabelecer ou intensificar programas de pesquisa e desenvolvimento,


nos planos nacional, subregional, regional e internacional, em apoio das atividades de avaliação
de recursos hídricos;
(ii) Monitorar atividades de pesquisa e desenvolvimento para garantir que
elas façam uso cabal dos conhecimentos e de outros recursos locais e para que sejam adequadas
às necessidades do país ou países envolvidos.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


18.28. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $355 milhões de dólares, inclusive
cerca de $145 milhões de dólares a serem fornecidos pela comunidade internacional sob a forma
de subvenções ou concessões. Esta são estimativas exclusivamente indicativas e aproximadas,
não verificadas pelos Governos. Os custos reais e as especificações financeiras, inclusive as não
concessórias, dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos
decidam adotar.
(b) Meios científicos e tecnológicos
18.29. As necessidades importantes de pesquisa são: (a) desenvolvimento de modelos
hidrológicos globais para apoiar as análises do impacto da mudança climática e a avaliação dos
recursos hídricos de macro-escala; (b) eliminação da distância entre hidrologia e ecologia
terrestres em diferentes escalas, incluindo os processos críticos relacionados com a água que
estão por trás da perda de vegetação e da degradação da terra e sua recuperação; e (c) estudo dos
processos essenciais da gênese da qualidade da água, eliminando a distância entre fluxos
hidrológicos e processos biogeoquímicos. Os modelos de pesquisa devem se basear em estudos
de equilíbrio hidrológico e incluir também o uso consumptivo da água. Essa abordagem deve
também, quando apropriado, ser aplicada ao nível das bacias de captação.
18.30. A avaliação dos recursos hídricos precisa da intensificação dos sistemas existentes
de transferência, adaptação e difusão de tecnologia e do desenvolvimento de tecnologias novas
para seu uso prático, bem como da capacidade endógena. Antes de empreender essas atividades, é
preciso preparar catálogos das informações sobre recursos hídricos que têm os serviços
governamentais, o setor privado, as instituições educacionais, os consultores, as organizações
locais de usuários de água e outros.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
18.31. A avaliação dos recursos hídricos exige a criação e manutenção de pessoal bem
treinado e motivado em número suficiente para empreender as atividades acima arroladas.
Devem-se estabelecer ou intensificar programas de educação e treinamento no plano local,
nacional, subregional ou regional destinados a assegurar uma oferta adequada desse pessoal
treinado. Além disso, deve-se fomentar condições de trabalho e perspectivas de carreira atraentes
para o pessoal profissional e técnico. As necessidades de recursos humanos devem ser
monitoradas periodicamente em todos os níveis de emprego. Devem-se estabelecer planos para
satisfazer essas necessidades por meio de oportunidades de educação e treinamento e programas
internacionais de cursos e conferências.
18.32. Tendo em vista que pessoas bem treinadas são particularmente importantes para a
avaliação de recursos hídricos e previsão hidrológica, as questões de pessoal devem receber
atenção especial nessa área. O objetivo deve ser atrair e manter um pessoal para trabalhar em
avaliação de recursos hídricos que seja suficiente em quantidade e de nível de formação
Agenda 21 - Global 236

adequado para assegurar a implementação efetiva das atividades planejadas. A educação pode ser
requerida nos planos nacional e internacional; a criação de condições adequadas de emprego será
uma responsabilidade nacional.
18.33. Recomendam-se as seguintes ações:
(a) Identificar as necessidades de educação e treinamento voltadas para as
necessidades específicas dos países;
(b) Estabelecer e intensificar programas de educação e treinamento sobre tópicos
relacionados com a água, dentro de um contexto ambiental e desenvolvimentista, para todas as
categorias de pessoal envolvido em atividades de avaliação dos recursos hídricos, usando
tecnologia educacional avançada, quando apropriada, e envolvendo tanto homens quanto
mulheres;
(c) Desenvolver políticas adequadas de recrutamento, de pessoal e de salários para
os funcionários de agências de água nacionais e locais.
(d) Fortalecimento institucional
18.34. A condução da avaliação dos recursos hídricos com base em redes hidrométricas
nacionais operacionais requer um ambiente propício em todos os planos. As seguintes medidas de
apoio são necessárias para fomentar a fortalecimento institucional nacional:
(a) Revisão da base legislativa e regulamentadora da avaliação de recursos
hídricos;
(b) Facilitação da colaboração próxima entre organismos do setor hídrico, em
particular entre produtores de informação e usuários;
(c) Implementação de políticas de manejo hídrico baseadas em avaliações realistas
das condições e tendências dos recursos hídricos;
(d) Reforço da capacidade de manejo dos grupos de usuários de água, inclusive
mulheres, jovens, populações indígenas e comunidades locais, para melhorar a eficiência do uso
da água no plano local;

C. Proteção dos recursos hídricos, da qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos

Base para ação

18.35. A água doce é um recurso indivisível. O desenvolvimento a longo prazo dos


recursos mundiais de água doce requer um manejo holístico dos recursos e o reconhecimento da
interligação dos elementos relacionados à água doce e a sua qualidade. Há poucas regiões do
mundo ainda livres dos problemas da perda de fontes potenciais de água doce, da degradação da
qualidade da água e poluição das fontes de superfície e subterrâneas. Os problemas mais graves
que afetam a qualidade da água de rios e lagos decorrem, em ordem variável de importância,
segundo as diferentes situações, de esgotos domésticos tratados de forma inadequada, controles
inadequados dos efluentes industriais, perda e destruição das bacias de captação, localização
errônea de unidades industriais, desmatamento, agricultura migratória sem controle e práticas
agrícolas deficientes. Tudo isso dá margem à lixiviação de nutrientes e pesticidas. Os
ecossistemas aquáticos são perturbados e as fontes vivas de água doce estão ameaçadas. Sob
certas circunstâncias, os ecossistemas aquáticos são também afetados por projetos de
desenvolvimento de recursos hídricos para a agricultura, tais como represas, desvio de rios,
instalações hidráulicas e sistemas de irrigação. Erosão, sedimentação, desmatamento e
desertificação levaram ao aumento da degradação do solo e a criação de reservatórios resultou,
em alguns casos, em efeitos adversos sobre os ecossistemas. Muitos desses problemas
Agenda 21 - Global 237

decorreram de um modelo de desenvolvimento que é ambientalmente destrutivo e da falta de


consciência e educação do público sobre a proteção dos recursos hídricos de superfície e
subterrâneos. Os efeitos sobre a ecologia e a saúde humana constituem as conseqüências
mensuráveis, embora os meios de monitorá-las sejam inadequados ou inexistentes em muitos
países. Há uma falta de percepção generalizada das conexões entre desenvolvimento, manejo, uso
e tratamento dos recursos hídricos e os ecossistemas aquáticos. Uma abordagem preventiva, onde
apropriada, é crucial para evitar as medidas custosas subseqüentes para reabilitar, tratar e
desenvolver novas fontes de água.

Objetivos

18.36. A interligação complexa dos sistemas de água doce exige que o manejo hídrico
seja holístico (baseado numa abordagem de manejo de captação) e fundado em um exame
equilibrado das necessidades da população e do meio ambiente. O Plano de Ação de Mar del
Plata já reconheceu a conexão intrínseca entre os projetos de desenvolvimento de recursos
hídricos e suas significativas repercussões físicas, químicas, biológicas, sanitárias e sócio-
econômicas. O objetivo de saúde ambiental geral foi estabelecido da seguinte forma: "avaliar as
conseqüências da ação dos vários usuários da água sobre o meio ambiente, apoiar medidas
destinadas a controlar as moléstias relacionadas com a água e proteger os ecossistemas"(1).
18.37. Há muito tempo vêm-se subestimando a extensão e gravidade da contaminação de
zonas não saturadas e dos aqüíferos, devido à relativa inacessibilidade deles e à falta de
informações confiáveis sobre os sistemas freáticos. A proteção dos lençóis subterrâneos é,
portanto, um elemento essencial do manejo de recursos hídricos.
18.38. Três objetivos terão de ser perseguidos concomitantemente a fim de integrar os
elementos de qualidade da água no manejo de recursos hídricos:
(a) Manutenção da integridade do ecossistema, de acordo com o princípio
gerencial de preservar os ecossistemas aquáticos, incluindo os recursos vivos, e de protegê-los
efetivamente de quaisquer formas de degradação com base numa bacia de drenagem;
(b) Proteção da saúde pública, tarefa que exige não apenas o fornecimento de água
potável digna de confiança, como também o controle de vetores insalubres no ambiente aquático;
(c) Desenvolvimento de recursos humanos, essencial para aumentar a
fortalecimento institucional e pré-requisito para implementar o manejo da qualidade da água.
18.39. Todos os Estados, segundo sua capacidade e recursos disponíveis, por meio de
cooperação bilateral ou multilateral, inclusive com as Nações Unidas e outras organizações
pertinentes, quando apropriado, devem estabelecer as seguintes metas:
(a) Identificar os recursos hídricos de superfície e subterrâneos que possam ser
desenvolvidos para uso numa base sustentável e outros importantes recursos dependentes de água
que se possam aproveitas e, simultaneamente, dar início a programas para a proteção,
conservação e uso racional desses recursos em bases sustentáveis;
(b) Identificar todas as fontes potenciais de água e preparar planos para a proteção,
conservação e uso racional delas;
(c) Dar início à programas eficazes de prevenção e controle da poluição da água,
baseados numa combinação adequada de estratégias para reduzi-la na sua fonte, avaliações do
impacto ambiental e normas obrigatórias aplicáveis para descargas de fontes definidas
importantes e fontes não definidas de alto risco, proporcionais ao desenvolvimento socio-
econômico delas;
(d) Participar, tanto quanto apropriado, em programas internacionais de manejo e
Agenda 21 - Global 238

monitoramento de qualidade de água, tais como o Programa Mundial de Monitoramento da


Qualidade da Água (GEMS/WATER), o programa do PNUMA de Manejo Ambientalmente
Saudável de Águas Interiores (EMINWA), os organismos regionais de pesca em águas interiores
da FAO e a Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional Especialmente como
Hábitat de Aves Aquáticas (Ramsar Convention);
(e) Reduzir a incidência de moléstias associadas à água, a começar pela
erradicação da dracunculose e da oncocercose até o ano 2000;
(f) Estabelecer, segundo suas capacidades e necessidades, critérios de qualidade
biológica, sanitária, física e química para todos as massas de água (de superfície e subterrâneas),
tendo em vista uma melhora contínua da qualidade da água;
(g) Adotar uma abordagem integrada do manejo ambientalmente sustentável dos
recursos hídricos, incluindo a proteção de ecossistemas aquáticos e recursos vivos de água doce;
(h) Aplicar estratégias para o manejo ambientalmente saudável de águas doces e
ecossistemas costeiros conexos que incluam o exame de pesqueiros, aqüicultura, pastagens,
atividades agrícolas e biodiversidade.

Atividades

18.40. Todos os Estados, segundo sua capacidade e recursos disponíveis, e por meio de
cooperação bilateral ou multilateral, inclusive com as Nações Unidas e outras organizações
pertinentes, quando apropriado, podem implementar as seguintes atividades:
(a) Proteção e conservação dos recursos hídricos:
(i) Estabelecimento e fortalecimento das capacidades técnicas e
institucionais de identificar e proteger fontes potenciais de abastecimento de água em todos os
setores da sociedade;
(ii) Identificação de fontes potenciais de abastecimento de água e
preparação de perfis nacionais;
(iii) Elaboração de planos nacionais de proteção e conservação dos
recursos hídricos;
(iv) Reabilitação de zonas de captação importantes, mas degradadas,
particularmente em pequenas ilhas;
(v) Reforço de medidas administrativas e legislativas para evitar a
ocupação de áreas de captação existentes e potencialmente utilizáveis;
(vi) Aplicação quando apropriado, do princípio de que "quem polui
paga" a todos os tipos de fontes, incluindo o saneamento in-situ e ex-situ;
(vii) Promoção da construção de instalações de tratamento de esgoto
doméstico e efluentes industriais e o desenvolvimento de tecnologias adequadas, levando em
consideração práticas salubres autóctones tradicionais;
(viii) Estabelecimento de padrões para o despejo de efluentes e para as
águas receptoras;
(ix) Introdução da abordagem precautória no manejo de qualidade da água,
quando apropriada, centrada na minimização e prevenção da poluição por meio do uso de novas
tecnologias, mudança de produtos e processos, redução da poluição na fonte e reutilização,
reciclagem e recuperação, tratamento e eliminação ambientalmente segura de efluentes;
(x) Avaliação obrigatória do impacto ambiental de todos os grandes
projetos de desenvolvimento de recursos hídricos que possam prejudicar a qualidade da água e
dos ecossistemas aquáticos, combinada com a formulação de medidas reparadoras e um controle
Agenda 21 - Global 239

intensificado de instalações industriais novas, aterros sanitários e projetos de desenvolvimento da


infra-estrutura; (vi) Uso da avaliação e manejo dos riscos ao tomar decisões nessa área,
assegurando-se da obediência a essas decisões;
(xi) Identificação e aplicação das melhores práticas ambientais a custo
razoável para evitar a difusão da poluição, isto é, por meio do uso limitado, racional e planejado
de fertilizantes nitrogenados e outros agroquímicos (pesticidas, herbicidas) na atividade agrícola;
(xii) Estímulo e promoção do uso de águas servidas devidamente
tratadas e purificadas na agricultura, aqüicultura, indústria e outros setores;
(c) Desenvolvimento e aplicação de tecnologia limpa:
(i) Controle da descarga de resíduos industriais, incluindo tecnologias de
baixa produção de resíduos e recirculação de água, de uma maneira integrada e com a aplicação
de medidas preventivas derivadas de uma análise ampla do ciclo vital;
(ii) Tratamento das águas residuais municipais para utilização segura na
agricultura e aqüicultura;
(iii) Desenvolvimento de biotecnologia, inter alia, para o tratamento de
resíduos, produção de biofertilizantes e outras atividades;
(iv) Desenvolvimento de métodos adequados de controle da poluição das
águas, levando em consideração práticas salubres e tradicionais;
(d) Proteção das águas subterrâneas:
(i) Desenvolvimento de práticas agrícolas que não degradem as águas
subterrâneas;
(ii) Aplicação das medidas necessárias para mitigar a intrusão salina nos
aqüíferos de pequenas ilhas e planícies costeiras resultantes da elevação do nível do mar ou
exploração demasiada dos aqüíferos litorâneos;
(iii) Prevenção da poluição de aqüíferos por meio da regulamentação de
substâncias tóxicas que se infiltram no solo e o estabelecimento de zonas de proteção em áreas de
filtramento e absorção de águas subterrâneas;
(iv) Projetos e manejo de aterros sanitários baseados em informação
hidrogeológica correta e avaliação de impacto, usando a melhor tecnologia disponível;
(v) Promoção de medidas para melhorar a segurança e integridade dos
poços e suas áreas circundantes para reduzir a intrusão de agentes patogênicos biológicos e
produtos químicos perigosos nos lençóis freáticos por meio dos poços;
(vi) Monitoramento, quando necessário, da qualidade das águas
superficiais e subterrâneas potencialmente afetadas por locais de armazenagem de materiais
tóxicos e perigosos;
(e) Proteção dos ecossistemas aquáticos:
(i) Reabilitação de massas aquáticas poluídas ou degradados para restaurar
hábitats e ecossistemas aquáticos;
(ii) Programas de reabilitação para terras agrícolas e de outros usos,
levando em consideração medidas equivalentes para a proteção e uso de recursos hídricos
subterrâneos importantes para a produtividade agrícola e para a biodiversidade dos trópicos;
(iii) Conservação e proteção de zonas úmidas (devido à sua importância
ecológica e de hábitat de muitas espécies), levando em consideração fatores econômicos e
sociais;
(iv) Controle de espécies aquáticas nocivas que possam destruir outras
espécies aquáticas;
(f) Proteção dos recursos vivos de água doce:
Agenda 21 - Global 240

(i) Controle e monitoramento de qualidade de água a fim de permitir o


desenvolvimento sustentável de pesqueiros de águas interiores;
(ii) Proteção de ecossistemas da poluição e degradação para poder
desenvolver projetos de aqüicultura de água doce;
(g) Monitoramento e vigilância dos recursos hídricos e de águas receptoras de
resíduos:
(i) Estabelecimento de redes para o monitoramento e vigilância contínua
de águas receptoras de resíduos e de fontes de poluição definidas e difusas;
(ii) Promoção e ampliação da aplicação de avaliações de impacto
ambiental de sistemas de informação geográfica;
(iii) Vigilância das fontes de poluição para melhorar a observância de
normas e disposições e para regulamentar a concessão de autorizações para descargas;
(iv) Monitoramento da utilização de produtos químicos na agricultura que
possam ter um efeito ambiental adverso;
(v) Uso racional da terra para evitar a degradação do solo, erosão e
assoreamento de lagos e outras massas aquáticas;
(h) Desenvolvimento de instrumentos jurídicos nacionais e internacionais que
possam ser necessários para proteger a qualidade dos recursos hídricos, quando indicado,
particularmente para:
(i) Monitoramento e controle da poluição e seus efeitos sobre águas
nacionais e transfronteiriças;
(ii) Controle do transporte atmosférico de longa distância de poluentes;
(iii) Controle de derramamentos acidentais e/ou deliberados em águas
nacionais e/ou transfronteiriças;
(iv) Avaliação do impacto ambiental.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


18.41. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $1 bilhão de dólares, inclusive cerca
de $340 milhões de dólares a serem fornecidos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.

1. Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre a Água, Mar del Plata, 14-25 de março
de 1977 (publicação das Nações Unidas, número de venda: P.77.II.A.12), primeira parte, cap. I,
seção C, par. 35.
(b) Meios científicos e tecnológicos
18.42. Os Estados devem empreender projetos cooperativos de pesquisa para desenvolver
soluções para problemas técnicos que sejam adequadas às condições de cada bacia hidrográfica
ou país. Os Estados devem considerar a possibilidade de fortalecer e desenvolver centros
nacionais de pesquisas ligados por meio de redes e apoiados por institutos regionais de pesquisa
aquática. Deve-se promover ativamente a vinculação Norte-Sul dos centros de pesquisa e dos
estudos de campo de instituições internacionais de pesquisas hídricas. É importante que uma
Agenda 21 - Global 241

porcentagem mínima dos fundos para projetos de desenvolvimento de recursos hídricos seja
alocada para pesquisa e desenvolvimento, particularmente em projetos financiados por fontes
externas.
18.43. O monitoramento e avaliação de sistemas aquáticos complexos exige amiúde
estudos multidisciplinares envolvendo várias instituições e cientistas em programas conjuntos.
Programas internacionais de qualidade de água como o GEMS/WATER devem ser orientados
para o estudo da qualidade da água de países em desenvolvimento. Programas de informática de
uso fácil e métodos do Sistemas de Informações Geográficas (GIS) e da Base de Dados de
Informações sobre Recursos Globais (GRID) devem ser desenvolvidos para o manejo, análise e
interpretação de dados de monitoramento e para a preparação de estratégias de manejo.
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
18.44. Devem-se adotar abordagens inovadoras para o treinamento do pessoal
profissional e gerencial a fim de atender as necessidades e desafios em constante mudança. É
preciso agir com flexibilidade e adaptabilidade em relação as questões de poluição aquática
emergentes. As atividades de treinamento devem ser empreendidas periodicamente em todos os
níveis dentro das organizações responsáveis pelo manejo da qualidade da água e devem-se adotar
técnicas de ensino inovadoras para aspectos específicos do monitoramento e controle da
qualidade da água, inclusive com o desenvolvimento de conhecimentos de treinamento,
treinamento em serviço, seminários de resolução de problemas e cursos de reciclagem.
18.45. Entre as abordagens adequadas estão o fortalecimento e o aperfeiçoamento dos
recursos humanos de que dispõem os Governos locais para gerenciar a proteção, o tratamento e o
uso da água, particularmente em áreas urbanas, e a criação de cursos técnicos e de engenharia
nacionais e regionais sobre proteção e controle da qualidade da água em escolas existentes e
cursos de treinamento/educação sobre proteção e conservação de recursos hídricos para técnicos
de campo e de laboratório, mulheres e outros grupos de usuários da água.
(d) Fortalecimento institucional
18.46. A proteção efetiva dos recursos e ecossistemas aquáticos contra a poluição exige
uma melhora considerável da capacidade atual da maioria dos países. Os programas de manejo de
qualidade da água exigem um mínimo de infra-estrutura e pessoal para identificar e implementar
soluções técnicas e aplicar medidas reguladoras. Um dos problemas principais de hoje e para o
futuro é a operação e manutenção sustentada dessas instalações. A fim de não permitir que os
recursos ganhos com investimentos anteriores se deteriorem mais, é preciso uma ação imediata
em várias áreas.

D. Abastecimento de água potável e saneamento

Base para a ação

18.47. Uma oferta de água confiável e o saneamento ambiental são vitais para proteger o
meio ambiente, melhorando a saúde e mitigando a pobreza. A água salubre é também crucial para
muitas atividades tradicionais e culturais. Estima-se que 80 por cento de todas as moléstias e mais
de um terço dos óbitos dos países em desenvolvimento sejam causados pelo consumo de água
contaminada e, em média, até um décimo do tempo produtivo de cada pessoa se perde devido a
doenças relacionadas com a água. Durante a década de 1980, esforços coordenados levaram
serviços de água e saneamento para centenas de milhões das populações mais pobres do mundo.
O mais notável desses esforços foi o lançamento, em 1981, da Década Internacional do
Fornecimento de Água Potável e do Saneamento, que resultou do Plano de Ação de Mar del
Agenda 21 - Global 242

Plata, aprovado pela Conferência das Nações Unidas Sobre a Água, em 1977. A premissa aceita
por todos foi de que "todos os povos, quaisquer que sejam seu estágio de desenvolvimento e suas
condições sociais e econômicas, têm direito ao acesso à água potável em quantidade e qualidade
à altura de suas necessidades básicas"(2). A meta da Década era a de fornecer água potável
segura e saneamento para áreas urbanas e rurais mal servidas até 1990, mas mesmo o progresso
sem precedentes alcançado durante o período não foi suficiente. Uma em cada três pessoas do
mundo em desenvolvimento ainda não conta com essas duas exigências básicas de saúde e
dignidade. Reconhece-se também que os excrementos e esgotos humanos são causas importantes
da deterioração da qualidade da água em países em desenvolvimento e que a introdução de
tecnologias disponíveis, que sejam apropriadas, e a construção de instalações de tratamento de
esgoto podem trazer uma melhora significativa.

Objetivos

18.48. A Declaração de Nova Delhi (adotada na Reunião Consultiva Mundial sobre Água
Salubre e Saneamento para a década de 1990, realizada em Nova Delhi de 10 a 14 de setembro de
1990) formalizou a necessidade de oferecer, em base sustentável, acesso à água salubre em
quantidade suficiente e saneamento adequado para todos, enfatizando a abordagem de "algum
para todos em vez de mais para alguns". Quatro princípios norteadores orientam os objetivos do
programa:
(a) Proteção do meio ambiente e salvaguarda da saúde por meio do manejo
integrado dos recursos hídricos e dos resíduos líquidos e sólidos;
(b) Reformas institucionais que promovam uma abordagem integrada e incluam
mudanças em procedimentos, atitudes e comportamentos e a participação ampla da mulher em
todos os níveis das instituições do setor;
(c) Manejo comunitário dos serviços, apoiado por medidas para fortalecer as
instituições locais na implementação e sustentação de programas de saneamento e abastecimento
de água;
(d) Práticas financeiras saudáveis, conseguidas por meio de melhor administração
de ativos existentes e amplo uso de tecnologias apropriadas.
18.49. A experiência do passado mostrou que metas específicas devem ser estabelecidas
por cada país individualmente. Na Cúpula Mundial sobre a Criança, em setembro de 1990, os
chefes de Estado ou Governo clamaram pelo acesso universal ao abastecimento de água e
saneamento e pela erradicação da dracunculose até 1995. Mesmo para a meta mais realista de
obter a cobertura completa em abastecimento de água até 2025, estima-se que o investimento
anual deva atingir o dobro do nível atual. Portanto, uma estratégia realista para atender as
necessidades presentes e futuras é desenvolver serviços de baixo custo, mas adequados, que
possam ser implementados e sustentados no plano da comunidade.

Atividades

18.50. Todos os Estados, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e por meio de
cooperação bilateral ou multilateral, inclusive as Nações Unidas e outras organizações
pertinentes, quando apropriado, podem implementar as seguintes atividades:
(a) Meio ambiente e saúde:
(i) Estabelecimento de zonas protegidas para as fontes de abastecimento de
água potável;
Agenda 21 - Global 243

(ii) Eliminação sanitária dos excrementos e do esgoto, usando sistemas


adequados para tratar os resíduos líquidos em zonas urbanas e rurais;
(iii) Expansão do abastecimento hidráulico urbano e rural e
estabelecimento e ampliação de sistemas de captação de água da chuva, particularmente em
pequenas ilhas, acessórios à rede de abastecimento de água;
(iv) Tratamento e reutilização segura dos resíduos líquidos domésticos e
industriais em zonas urbanas e rurais;
(v) Controle das moléstias relacionadas com a água;
(b) Pessoas e instituições:
(i) Fortalecer o funcionamento dos Governos no manejo dos recursos
hídricos e, ao mesmo tempo, reconhecer plenamente o papel das autoridades locais;
(ii) Estimular o desenvolvimento e manejo da água com base em uma
abordagem participativa que envolva usuários, planejadores e formuladores de políticas em todos
os níveis;
(iii) Aplicar o princípio de que as decisões devem ser adotadas no nível
mais baixo apropriado, com consultas ao público e participação dos usuários no planejamento e
execução dos projetos hídricos;
(iv) Desenvolver os recursos humanos em todos os níveis, incluindo
programas especiais para a mulher;
(v) Criar programas educacionais amplos, com particular ênfase em
higiene, manejo local e redução de riscos;
(vi) Introduzir mecanismos de apoio internacional para o financiamento, a
implementação e o acompanhamento dos programas;
(c) Manejo nacional e comunitário:
(i) Apoiar e dar assistência às comunidades para que administrem seus
próprios sistemas sobre base sustentável;
(ii) Estimular a população local, especialmente as mulheres, os jovens, os
populações indígenas e as comunidades locais, a participar do manejo da água;
(iii) Vincular os planos hídricos nacionais ao manejo comunitário das
águas locais;
(iv) Integrar o manejo comunitário da água no contexto do planejamento
geral;
(v) Promover a atenção primária à saúde e ao meio ambiente no plano
local, inclusive com o treinamento de comunidades locais em técnicas adequadas de manejo da
água e atenção primária à saúde;
(vi) Ajudar os organismos que prestam serviços para que se tornem mais
eficazes em relação aos custos e respondam melhor às necessidades dos consumidores;
(vii) Dar mais atenção às zonas rurais mal atendidas e às periferias urbanas
de baixa renda;
(viii) Reabilitar os sistemas defeituosos, reduzir o desperdício e reutilizar
com segurança a água e os resíduos líquidos;
(ix) Estabelecer programas de uso racional da água e de garantia de
operação e manutenção;
(x) Pesquisar e desenvolver soluções técnicas adequadas;
(xi) Aumentar substancialmente a capacidade de tratamento dos
resíduos líquidos, de acordo com o aumento de seu volume;
(d) Criação de consciência e informação/participação públicas:
Agenda 21 - Global 244

(i) Fortalecer o monitoramento de setor e o manejo de informação nos


planos subnacional e nacional;
(ii) Processar, analisar e publicar anualmente os resultados do
monitoramento nos planos local e nacional, como instrumento para o manejo do setor e criação
de interesse e conscientização;
(iii) Utilizar indicadores setoriais limitados nos planos regional e global
para promover o setor e levantar fundos;
(iv) Melhorar a coordenação, o planejamento e a implementação do setor,
com a ajuda de um manejo mais eficaz do monitoramento e da informação, a fim de aumentar a
capacidade de absorção do setor, em especial nos projetos comunitários de auto- ajuda.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


18.51. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $20 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $7,4 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas estimativas são apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
18.52. Para assegurar a viabilidade, aceitação e permanência dos serviços planejados de
abastecimento de água, as tecnologias adotadas devem responder às necessidades e limitações
impostas pelas condições da comunidade em questão. Assim, os critérios de projetos incluirão
fatores técnicos, sanitários, sociais, econômicos, provinciais, institucionais e ambientais que
determinem as características, magnitude e custo do sistema planejado. Os programas de apoio
internacional correspondentes devem ajudar os países em desenvolvimento, inter alia, a:
(a) Buscar meios tecnológicos e científicos de baixo custo, sempre que possível;
(b) Utilizar práticas tradicionais e autóctones sempre que possível, para maximizar
e manter a participação local;
(c) Dar assistência a institutos nacionais técnicos e científicos a fim de que
desenvolvam currículos de apoio a campos de estudo essenciais ao setor de água e saneamento
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
18.53. Para planejar e gerenciar com eficácia o abastecimento de água e o saneamento
nos planos nacional, provincial, distrital e comunitário, e para utilizar mais eficazmente os
fundos, deve-se capacitar pessoal profissional e técnico em cada país em número suficiente. Para
tanto, os países devem traçar planos de desenvolvimento de recursos humanos, levando em
consideração os requisitos atuais e o desenvolvimento planejado. Posteriormente, deve-se
intensificar o desenvolvimento e a performance das instituições nacionais de treinamento, a fim
de que possam desempenhar um papel central na fortalecimento institucional. É também
importante que os países forneçam treinamento adequado às mulheres na manutenção sustentável
de equipamento, gestão de recursos hídricos e saneamento ambiental.
(d) Fortalecimento institucional
18.54. A implementação de programas de abastecimento de água é uma responsabilidade
nacional. Em graus variados, a responsabilidade pela implementação de projetos e pelo
funcionamento dos sistemas deve ser delegada a todos os níveis administrativos, até às
Agenda 21 - Global 245

comunidades e indivíduos servidos. Isso significa também que as autoridades nacionais, junto
com as agências e organismos das Nações Unidas e outras instituições que prestam apoio externo
aos programas nacionais, devem desenvolver mecanismos e procedimentos para colaborar em
todos os níveis. Isso é particularmente importante para aproveitar ao máximo as abordagens
baseadas na comunidade e na própria capacidade desta como instrumentos para a obter a
sustentabilidade. Isso exigirá um alto grau de participação comunitária, inclusive da mulher, na
concepção, planejamento, decisões, implementação e avaliação relacionados com projetos de
abastecimento de água e saneamento.
18.55. Deve-se desenvolver a fortalecimento institucional e técnica nacional geral em
todos os níveis administrativos, envolvendo desenvolvimento institucional, coordenação,
recursos humanos, participação comunitária, educação em saúde e higiene e alfabetização, de
acordo com sua conexão fundamental tanto com os esforços para melhorar o desenvolvimento
socio-econômico e a saúde por meio do abastecimento de água e saneamento, como com o seu
impacto no ambiente humano. A fortalecimento institucional e técnica deve ser, portanto, uma
das chaves básicas das estratégias de implementação. Sua importância deve ser equiparada à do
componente de suprimentos e equipamento do setor, de tal forma que os fundos possam ser
direcionados para ambos. Isso pode ser realizado na etapa de planejamento ou de formulação de
programas/projetos, acompanhado por uma definição clara de objetivos e metas. Nesse sentido, é
essencial a cooperação técnica entre os países em desenvolvimento, devido à riqueza de
informação e experiência de que dispõem e à necessidade de evitar uma nova "invenção da roda".
Esse caminho já se revelou eficaz quanto aos custos em muitos projetos de diversos países.

E. A água e o desenvolvimento urbano sustentável

Base para a ação

18.56. No início do próximo século, mais da metade da população mundial estará


vivendo em zonas urbanas. Até o ano 2025, essa proporção chegará aos 60 por cento,
compreendendo cerca de 5 bilhões de pessoas. O crescimento rápido da população urbana e da
industrialização está submetendo a graves pressões os recursos hídricos e a capacidade de
proteção ambiental de muitas cidades. É preciso dedicar atenção especial aos efeitos crescentes
da urbanização sobre a demanda e o consumo de água e ao papel decisivo desempenhado pelas
autoridades locais e municipais na gestão do abastecimento, uso e tratamento geral da água, em
particular nos países em desenvolvimento, aos quais é necessário um apoio especial. A escassez
de recursos de água doce e os custos cada vez mais elevados de desenvolver novos recursos têm
um impacto considerável sobre o desenvolvimento da indústria, da agricultura e dos
estabelecimentos humanos nacionais, bem como sobre o crescimento econômico dos países. Uma
melhor gestão dos recursos hídricos urbanos, incluindo a eliminação de padrões de consumo
insustentáveis, pode dar uma contribuição substancial à mitigação da pobreza e à melhora da
saúde e da qualidade de vida dos pobres das zonas urbanas e rurais. Uma alta proporção de
grandes aglomerações urbanas está localizada em torno de estuários e em zonas costeiras. Essa
situação leva à poluição pela descarga de resíduos municipais e industriais, combinada com a
exploração excessiva dos recursos hídricos disponíveis, e ameaça o meio ambiente marinho e o
abastecimento de água doce.

Objetivos
Agenda 21 - Global 246

18.57. O objetivo deste programa, no que se refere ao desenvolvimento, é apoiar as


possibilidades e esforços dos Governos centrais e locais para sustentar a produtividade e o
desenvolvimento nacional por meio de um manejo ambientalmente saudável dos recursos
hídricos para uso urbano. Em apoio desse objetivo é preciso identificar e implementar estratégias
e medidas que assegurem o abastecimento contínuo de água a preço exeqüível para as
necessidades presentes e futuras e que invertam as tendências atuais de degradação e esgotamento
dos recursos.
18.58. Todos os Estados, segundo sua capacidade e recursos disponíveis, e por meio da
cooperação bilateral ou multilateral, inclusive com as Nações Unidas e outras organizações
pertinentes, quando apropriado, podem estabelecer as seguintes metas:
(a) Até o ano 2000, garantir que todos os residentes em zonas urbanas tenham
acesso a pelo menos 40 litros per capita por dia de água potável e que 75 por cento da população
urbana disponha de serviços de saneamento próprios ou comunitários;
(b) Até o ano 2000, estabelecer e aplicar normas quantitativas e qualitativas para o
despejo de efluentes municipais e industriais;
(c) Até o ano 2000, garantir que 75 por cento dos resíduos sólidos gerados nas
zonas urbanas sejam recolhidos e reciclados ou eliminados de forma ambientalmente segura.

Atividades

18.59. Todos os Estados, segundo sua capacidade e recursos disponíveis, e por meio de
cooperação bilateral ou multilateral, inclusive com as Nações Unidas e outras organizações
pertinentes, quando apropriado, podem implementar as seguintes atividades:
(a) Proteção dos recursos hídricos contra o esgotamento, a poluição e a
degradação:
(i) Introduzir instalações sanitárias de eliminação de resíduos baseadas em
tecnologias aperfeiçoáveis e ambientalmente adequadas de baixo custo;
(ii) Implementar programas urbanos de drenagem e evacuação de águas
pluviais;
(iii) Promover a reciclagem e reutilização das águas residuais e dos
resíduos sólidos;
(iv) Controlar as fontes de poluição industrial para proteger os recursos
hídricos;
(v) Proteger as vertentes contra o esgotamento e a degradação de sua
cobertura florestal e as atividades danosas a montante;
(vi) Promover pesquisas sobre a contribuição das florestas para o
desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos;
(vi) Estimular melhores práticas de gestão para o uso de produtos
agroquímicos, a fim de minimizar o impacto destes últimos sobre os recursos hídricos;
(b) Distribuição eficaz e eqüitativa dos recursos hídricos:
(i) Conciliar o planejamento do desenvolvimento urbano com a
disponibilidade e sustentabilidade dos recursos hídricos;
(ii) Satisfazer as necessidades básicas da população urbana;
(iii) Estabelecer taxas sobre a água que reflitam o custo marginal e de
oportunidade da água, especialmente quando ela se destina a atividades produtivas, e que levem
em conta as circunstâncias de cada país e suas possibilidades econômicas;
(c) Reformas institucionais/jurídicas/administrativas:
Agenda 21 - Global 247

(i) Adotar um enfoque de âmbito urbano para o manejo dos recursos


hídricos;
(ii) Promover em nível nacional e local a elaboração de planos de uso da
terra que dêem a devida atenção ao desenvolvimento dos recursos hídricos;
(iii) Utilizar as capacidades e o potencial das organizações não-
governamentais, do setor privado e da população local, levando em consideração os interesses
públicos e estratégicos nos recursos hídricos;
(d) Promoção a participação pública:
(i) Realizar campanhas de conscientização para estimular o público a usar
a água de maneira racional;
(ii) Sensibilizar o público para o problema da proteção da qualidade da
água no meio urbano;
(iii) Promover a participação da população na coleta, reciclagem e
eliminação dos resíduos;
(e) Apoio ao desenvolvimento da capacidade local:
(i) Desenvolver uma legislação e políticas voltadas para a promoção de
investimentos em manejo de águas e resíduos urbanos, refletindo a importante contribuição da
cidades ao desenvolvimento econômico nacional:
(ii) Proporcionar capital inicial e apoio técnico para a gestão local do
suprimento de materiais e serviços;
(iii) Estimular, tanto quanto possível, a autonomia e a viabilidade
financeira das empresas públicas de abastecimento de água, saneamento e coleta de resíduos
sólidos;
(iv) Criar e manter um quadro de profissionais e semi-profissionais para o
manejo de água, águas residuais e resíduos sólidos;
(f) Acesso melhor aos serviços de saneamento:
(i) Implementar programas de manejo de água, saneamento e resíduos
centrados nas populações urbanas pobres;
(ii) Pôr à disposição opções de tecnologias de baixo custo de
abastecimento de água e saneamento;
(iii) Basear a escolha de tecnologias e os níveis de serviço nas preferências
e disposição para pagar dos usuários;
(iv) Mobilizar e facilitar a participação ativa da mulher nas equipes de
manejo de água;
(v) Estimular e equipar as associações e comitês de água locais para que
gerenciem os sistemas de abastecimento da comunidade e latrinas comunais, oferecendo apoio
técnico, quando necessário;
(vi) Examinar o mérito e a viabilidade de reabilitar os sistemas
existentes que funcionem mal e corrigir os defeitos de operação e manutenção.

Modos de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


18.60. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $20 milhões de dólares, inclusive
cerca de $4,5 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
Agenda 21 - Global 248

revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
18.61. Na década de 1980, registraram-se progressos consideráveis no desenvolvimento e
aplicação de tecnologias de abastecimento de água e saneamento de baixo custo. O programa
prevê a continuação desse trabalho, com ênfase especial no desenvolvimento de tecnologias
adequadas de saneamento e de eliminação do lixo para estabelecimentos urbanos de alta
densidade e baixa renda. Deverá também haver um intercâmbio internacional de informação, para
assegurar um reconhecimento generalizado entre os profissionais do setor da disponibilidade e
benefícios de tecnologias apropriadas de baixo custo. As campanhas de conscientização incluirão
também componentes para superar a resistência dos usuários a serviços de segunda classe,
enfatizando as vantagens da confiabilidade e da sustentabilidade.
(c) 18.62. Implícita em praticamente todos os elementos deste programa está a
necessidade de melhora progressiva do treinamento e das perspectivas profissionais do pessoal
em todos os níveis das instituições do setor. As atividades específicas do programa
compreenderão o treinamento e a manutenção de pessoal com conhecimentos em participação
comunitária, tecnologias de baixo custo, manejo financeiro e planejamento integrado do manejo
de recursos hídricos urbanos. Devem-se tomar providências especiais para mobilizar e facilitar a
participação ativa da mulher, da juventude, dos populações indígenas e comunidades locais nas
equipes de manejo de água e para apoiar o desenvolvimento de associações e comitês da água,
oferecendo-lhes treinamento adequado para que se tornem tesoureiros, secretários e
encarregados. Deve-se dar início a programas especiais de ensino e formação da mulher, tendo
em vista a proteção dos recursos hídricos e da qualidade da água nas zonas urbanas.

1. Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre a Água, Mar del Plata,
14-25 de março de 1977 (publicação das Nações Unidas, número de venda:
P.77.II.A.12), primeira parte, cap. I, seção C, par. 35.

2. Ibid., primeira parte, cap. I, resolução II.


Agenda 21 - Global 249

Capítulo 19

MANEJO ECOLOGICAMENTE SAUDÁVEL DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS


TÓXICAS, INCLUÍDA A PREVENÇÃO DO TRÁFICO INTERNACIONAL ILEGAL
DOS PRODUTOS TÓXICOS E PERIGOSOS

19.1. A utilização substancial de produtos químicos é essencial para alcançar os objetivos


sociais e econômicos da comunidade mundial e as melhores práticas modernas demonstram que
eles podem ser amplamente utilizados com boa relação custo-eficiência e com alto grau de
segurança. Entretanto, ainda resta muito a fazer para assegurar o manejo ecologicamente
saudável das substâncias químicas tóxicas dentro dos princípios de desenvolvimento sustentável
e de melhoria da qualidade de vida da humanidade. Dois dos principais problemas, em particular
nos países em desenvolvimento, são: a) a falta de dados científicos para avaliar os riscos
inerentes à utilização de numerosos produtos químicos; e b) a falta de recursos para avaliar os
produtos químicos para os quais já dispomos de dados.
19.2. A contaminação em grande escala por substâncias químicas, com seus graves danos
à saúde humana, às estruturas genéticas, à reprodução e ao meio ambiente, prosseguiu nesses
últimos anos em algumas das principais zonas industriais do mundo. A recuperação dessas zonas
necessitará de grandes investimentos e do desenvolvimento de novas técnicas. Apenas se começa
a compreender os efeitos a longo prazo da poluição que atinge os processos químicos e físicos
fundamentais da atmosfera e do clima da Terra e a reconhecer a importância desses fenômenos.
19.3. Um número considerável de organismos internacionais participa dos trabalhos sobre
segurança dos produtos químicos. Em muitos países, existem programas de trabalho destinados a
promover essa segurança. Esses trabalhos têm repercussões internacionais, pois os riscos ligados
às substâncias químicas ignoram as fronteiras nacionais. No entanto, é preciso redobrar os
esforços nacionais e internacionais para conseguir um manejo ambientalmente saudável desses
produtos.
19.4. Prop_em-se seis áreas de programas:
(a) Expansão e aceleração da avaliação internacional dos riscos químicos;
(b) Harmonização da classificação e da rotulagem dos produtos químicos;
(c) Intercâmbio de informações sobre os produtos químicos tóxicos e os riscos
químicos;
(d) Implantação de programas de redução dos riscos;
(e) Fortalecimento das capacidades e potenciais nacionais para o manejo dos
produtos químicos;
(f) Prevenção do tráfico internacional ilegal dos produtos tóxicos e perigosos.
Ademais, a intensificação da cooperação relativa a várias áreas de programas é
brevemente tratada na seção G.
19.5. O conjunto das seis áreas de programas dependem, para o sucesso de sua
implementação, de um esforço internacional intensivo e de uma melhor coordenação das
atividades internacionais atuais, assim como da escolha e da aplicação de meios técnicos,
científicos, educacionais e financeiros, em particular para os países em desenvolvimento. As
áreas de programas envolvem, em diversos graus, a avaliação dos perigos (baseada nas
propriedades intrínsecas dos produtos químicos), a avaliação dos riscos (compreendida a
avaliação da exposição), a aceitabilidade dos riscos e o manejo dos riscos.
19.6. A colaboração em matéria de segurança química entre o Programa das Nações
Agenda 21 - Global 250

Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a


Organização Mundial da Saúde (OMS) no Programa Internacional sobre a Segurança dos
Produtos Químicos (PISSQ) deve ser o núcleo da cooperação internacional para o manejo
ambiewntalmente saudável dos produtos químicos tóxicos. Deve-se fazer todo o possível para
fortalecer esse programa. A cooperação com outros programas, particularmente o programa sobre
os produtos químicos da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e
da Comunidade Européia, assim como outros programas regionais e nacionais nessa área, deve
ser promovida.
19.7. Deve-se promover mais a coordenação entre os organismos das Nações Unidas e
outras organizações internacionais envolvidas na avaliação e no manejo dos produtos químicos.
No âmbito do PISSQ realizou-se em Londres, em 1991, uma reunião intergovernamental
convocada pelo Diretor Executivo do PNUMA, para aprofundar essa questão (ver par. 19.75. e
19.76.).
19.8. A consciência mais ampla possível dos riscos químicos constitui um pré-requisito
para se obter a segurança química. Deve-se reconhecer o princípio do direito da comunidade e
dos trabalhadores de conhecerem esses riscos. No entanto, o direito de conhecer a identidade dos
ingredientes perigosos deve ser equilibrado pelo direito das indústrias de proteger informações
comerciais confidenciais. (Neste capítulo, entende-se por indústria tanto as grandes empresas
industriais e corporações transnacionais como as indústrias nacionais.) Deve-se promover e
desenvolver a iniciativa da indústria em relação ao cuidado responsável e supervisão dos
produtos. A indústria deve aplicar normas de operação apropriadas em todos os países a fim de
evitar os danos à saúde humana e ao meio ambiente.
19.9. A comunidade internacional nota com preocupação que uma parte do movimento
internacional de produtos tóxicos e perigosos se efetua violando as legislações nacionais e os
instrumentos internacionais existentes, atentando contra a saúde pública e o meio ambiente em
todos os países, em particular nos países em desenvolvimento.
19.10. Na resolução 44/226 de 22 dezembro de 1989, a Assembléia Geral pediu que cada
comissão regional contribuísse, no limite de seus recursos, para a prevenção do tráfico ilegal de
produtos e resíduos tóxicos e perigosos, monitorando e fazendo avaliações regionais desse tráfico
ilegal e de seus efeitos sobre o meio ambiente e a saúde humana. A Assembléia pediu igualmente
às comissões regionais que agissem de forma coordenada e cooperassem com o PNUMA, tendo
em vista manter monitoramento e avaliação eficientes e coordenados do tráfico ilegal de produtos
e resíduos tóxicos e perigosos.

Áreas de Programas

A. Expansão e aceleração da avaliação internacional dos riscos químicos

19.11. A avalição dos riscos que um produto químico apresenta para a saúde humana e o
meio ambiente é um pré-requisito para planejar o seu uso seguro e benéfico. Entre as
aproximadamente 100.000 substâncias químicas existentes no comércio e as milhares de
substâncias de origem natural com as quais os seres humanos estão em contato há muitas que
poluem o meio ambiente ou contaminam os alimentos e os produtos comerciais. Felizmente, a
exposição à maioria desses produtos químicos (aproximadamente 1.500 produtos químicos
representam mais de 95 por cento da produção total do mundo) é bastante limitada, pois a maioria
deles é utilizada em quantidades muito pequenas. Existe, entretanto, um problema grave: para
numerosos produtos químicos fabricados em grande escala faltam freqüentemente dados
Agenda 21 - Global 251

essenciais que permitam avaliar os riscos que eles apresentam. No bojo do programa sobre
produtos químicos da OCDE tais dados estão sendo produzidos atualmente em relação a alguns
desses produtos.
19.12. A avaliação dos riscos exige muitos recursos. Pode-se torná-la mais econômica
reforçando a cooperação internacional e melhorando a coordenação, o que permite utilizar melhor
os recursos disponíveis e evitar a duplicação dos esforços. Entretanto, cada país deve dispor de
uma massa crítica de pessoal técnico com experiência em testes de toxicidade e análises de
exposição, elementos essenciais para a avaliação dos riscos.

Objetivos

19.13. Os objetivos dessa área de programas são:


(a) Fortalecer a avaliação internacional dos riscos. Várias centenas de produtos ou
grupos de produtos químicos prioritários, incluindo os principais poluentes e contaminadores de
importância mundial, devem ser avaliados até o ano 2000, aplicando os critérios atuais de seleção
e de avaliação;
(b) Estabelecer as diretrizes que permitam definir os níveis aceitáveis de exposição
para um número maior de substâncias químicas tóxicas, a partir de um exame pelos especialistas
e de um consenso científico, em que se faça a distinção entre os limites de exposição por razões
de saúde humana ou meio ambiente e aqueles que são ligados a fatores sócio-econômicos.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


19.14. Os Governos, com a cooperação das organizações internacionais pertinentes e da
indústria, quando apropriado, devem:
(a) Fortalecer e ampliar os programas de avaliação dos riscos químicos no quadro
do sistema das Nações Unidas (PISSQ: PNUMA, OIT, OMS) e da FAO, em conjunto com outras
organizações, entre as quais a OCDE, baseando-se em uma abordagem convencionada para a
garantia de qualidade dos dados, da aplicação de critérios de avaliação, do exame pelos
especialistas e dos laços com as atividades de manejo dos riscos, levando em conta as precauções
necessárias;
(b) Fomentar mecanismos para aumentar a colaboração entre os Governos, a
indústria, as instituições de ensino superior e as organizações não governamentais pertinentes,
envolvidas nos diversos aspectos da avaliação dos riscos que apresentam os produtos químicos e
os processos conexos, em particular estimulando e coordenando as atividades de pesquisa a fim
de melhor compreender os mecanismos de ação dos produtos químicos tóxicos;
(c) Estimular a elaboração de procedimentos para o intercâmbio entre países de
seus relatórios de avaliação sobre produtos químicos a fim de que possam ser utilizados nos
programas nacionais de avaliação desses produtos.
(b) Dados e informação
10.15. Os Governos, com a cooperação das organizações internacionais pertinentes e da
indústria, quando apropriado, devem:
(a) Atribuir alta prioridade à avaliação dos perigos dos produtos químicos, isto é,
de suas propriedades intrínsecas, para constituir uma base apropriada para a avaliação dos riscos;
(b) Gerar os dados necessários para a avaliação baseando-se, inter alia, nos
programas do PISSQ (PNUMA, OIT, OMS), da FAO, da OCDE, da Comunidade Européia e de
Agenda 21 - Global 252

outras regiões e Governos com programas estabelecidos. A indústria deve participar ativamente.
19. 16. A indústria deve oferecer, para as substâncias que ela produz, os dados necessários
para a avaliação dos riscos que elas podem apresentar para a saúde humana e o meio ambiente.
Esses dados devem ser colocados à disposição das autoridades nacionais competentes, dos
organismos internacionais e de outras partes envolvidas que se ocupam da avaliação dos perigos
e dos riscos e, na maior medida do possível, à disposição do público, levando em conta o direito
legítimo à confidencialidade.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
10.17. Os Governos, com a cooperação das organizações internacionais pertinentes e da
indústria, quando apropriado, devem:
(a) Estabelecer critérios para fixar as prioridades na avaliação dos produtos
químicos de interesse mundial;
(b) Examinar estratégias de avaliação dos níveis de exposação e de monitoramento
do meio ambiente que permitam utilizar melhor os recursos disponíveis para garantir a
compatibilidade dos dados e estimular a adoção de estratégias nacionais e internacionais de
avaliação coerentes.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


19.18. A maioria dos dados e dos métodos utilizados para a avaliação do risco químico é
produzida nos países desenvolvidos. A ampliação e a aceleração do trabalho de avaliação
exigirão uma intensificação considerável da pesquisa e dos estudos de segurança realizados pela
indústria e estabelecimentos científicos. As projeções de custos levam em consideração a
necessidade de fortalecer as capacidades dos organismos competentes das Nações Unidas e
baseiam-se em experiências atuais do PISSQ. Cabe observar que há custos consideráveis, amiúde
impossíveis de quantificar, que não foram incluídos. Esses custos compreendem os que a
indústria e os Governos incorrem para produzir os dados sobre segurança sobre os quais
repousam as avaliações, e o custo, para os Governos, de prover os documentos de antecedentes e
os relatórios provisórios de avaliação ao PISSQ, ao Registro Internacional de Substâncias
Químicas Potencialmente Tóxicas (RISQPT) e à OCDE. Eles incluem também os gastos com a
aceleração dos trabalhos nos organismos externos ao sistema das Nações Unidas, tais que a
OCDE e a Comunidade Européia.
19.19. O Secretariado da Conferência estimou que o custo total anual médio (1993-2000)
da implementação das atividades deste programa em cerca de $30 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Essas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decididam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e técnicos
19.20. Importantes trabalhos de pesquisa devem ser empreendidos para melhorar os
métodos de avaliação dos produtos químicos tendo em vista o estabelecimento de um marco de
referência comum de avaliação dos riscos e melhorar os procedimentos de emprego dos dados
toxicológicos e epidemiológicos a fim de prever os efeitos desses produtos sobre a saúde humana
e o meio ambiente e assim permitir aos responsáveis adotar as políticas e as medidas adequadas
para reduzir os riscos que apresentam as substâncias químicas.
19.21. As atividades compreendem:
Agenda 21 - Global 253

(a) Fortalecer pesquisas sobre alternativas seguras ou mais seguras aos produtos
químicos tóxicos que apresentam riscos excessivos, e até mesmo incontroláveis, para a saúde
humana ou meio ambiente, e àqueles que são tóxicos persistentes e bioacumulativos e não podem
ser controlados de maneira satisfatória;
(b) Promover a pesquisa e a validação dos métodos que substituam a utilização de
animais de laboratório (o que permitiria reduzir os número de animais utilizados para fins
experimentais);
(c) Promover os estudos epidemiológicos pertinentes a fim de estabelecer uma
relação de causa e efeito entre a exposição a produtos químicos e a ocorrência de certas
moléstias;
(d) Promover os estudos ecotoxicológicos a fim de avaliar os riscos que
apresentam os produtos químicos para o meio ambiente.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
19.22. As organizações internacionais devem, com a participação dos Governos e das
organizações não governamentais, lançar projetos de formação e de ensino de que participem
mulheres e crianças, que são os mais expostos, a fim de permitir aos países, e particularmente aos
países em desenvolvimento, aproveitar ao máximo as avaliações internacionais dos riscos
químicos.
(d) Aumento da capacidade
19.23. As organizações internacionais, baseando-se nos trabalhos de avaliação do
passado, presente e futuro, devem apoiar os países, em particular os países em desenvolvimento,
na criação e fortalecimento das capacidades de avaliação de riscos nos planos nacional e regional,
a fim de reduzir ao mínimo e, na medida do possível, controlar e evitar os riscos na fabricação e
utilização de produtos químicos tóxicos e perigosos. Deve-se oferecer cooperação técnica e apoio
financeiro ou outras contribuições a atividades destinadas a ampliar e acelerar a avaliação e o
controle internacionais e nacionais dos riscos químicos, para tornar possível uma melhor seleção
dos produtos químicos.

B. Harmonização da classificação e da rotulagem dos produtos químicos

Base para a ação

19.24. Uma rotulagem apropriada dos produtos químicos e a difusão de folhas de dados
sobre segurança, tais como as Fichas Internacionais sobre Segurança de Produtos Químicos
(FISPQ) e outros materiais escritos semelhantes que se baseiem na avaliação dos riscos para a
saúde humana e o meio ambiente são a forma mais simples e eficaz de indicar como manipular e
utilizar esses produtos com segurança.
19.25. Para o transporte seguro de mercadorias perigosas, entre as quais os produtos
químicos, utiliza-se atualmente um conjunto de disposições elaborado no âmbito das Nações
Unidas. Essas disposições levam em consideração, sobretudo, os graves riscos que apresentam os
produtos químicos.
19.26. Não se dispõe ainda de sistemas de classificação de riscos e de rotulagem
harmonizados mundialmente para promover a utilização segura dos produtos químicos no
trabalho, em casa ou em outros locais. A classificação dos produtos químicos pode se fazer com
propósitos diferentes e é um instrumento particularmente importante para o estabelecimento de
sistemas de rotulagem. É necessário desenvolver, com base nos trabalhos em desenvolvimento,
sistemas harmônicos de classificação dos riscos e rotulagem.
Agenda 21 - Global 254

Objetivos

19.27. Até o ano 2000 deve-se dispor, se exeqüível, de um sistema de classificação de


riscos e rotulagem compatível mundialmente harmonizado, comportando folhas de dados sobre a
segurança e símbolos facilmente compreensíveis.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


19.28. Os Governos, com a cooperação, quando apropriado, das organizações
internacionais pertinentes e da indústria, devem lançar um projeto visando a estabelecer e
elaborar um sistema harmônico de classificação e de rotulagem compatível para os produtos
químicos utilizável em todas as línguas oficiais das Nações Unidas incluindo os pictogramas
adequados. Tal sistema de rotulagem não deve conduzir à imposição de restrições comerciais
injustificáveis. O novo sistema deve se inspirar o mais amplamente possível nos sistemas atuais;
ele deve ser elaborado e aplicado gradualmente e visar a compatibilidade com os rótulos das
diferentes aplicações.
(b) Dados e informações
19.29. Os organismos internacionais e entre eles o PISSQ (PNUMA, OIT e OMS), a
FAO, a Organização Marítima Internacional (OMI), o Comitê de Especialistas das Nações
Unidas em Matéria de Transporte de Mercadorias Perigosas e a OCDE, em cooperação com
autoridades nacionais e regionais que disponham de sistemas de classificação e de rotulagem
existentes e de outros sistemas de difusão de informação, devem instituir um grupo de
coordenação para:
(a) Avaliar e, se apropriado,realizar estudos sobre os sistemas vigentes de
classificação e informação de riscos a fim de estabelecer os princípios gerais para a implantação
de um sistema mundialmente harmonizado;
(b) Desenvolver e implementar um programa de trabalho visando a implantação de
um sistema de classificação de riscos mundialmente harmonizado. Esse programa deve incluir
uma descrição das tarefas a serem realizadas, as datas limites a respeitar e uma atribuição de
tarefas aos membros do grupo de coordenação;
(c) Elaborar um sistema harmonizado de classificação dos riscos;
(d) Formular propostas para a padronização da terminologia e dos símbolos
utilizados referentes aos riscos a fim de melhorar o manejo dos riscos dos produtos químicos,
facilitar o comércio internacional e traduzir mais facilmente as informações em uma linguagem
compreensível para o usuário final;
(e) Elaborar um sistema harmonizado de rotulagem.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


19.30. O Secretariado da Conferência incluiu os custos de assistência técnica
relacionados a este programa nas estimativas proporcionadas na área de programas E. O
Secretariado da Conferência estima o custo total anual médio (1993-2000) para o fortalecimento
das organizações internacionais em cerca de $3 milhões de dólares por ano, a serem providos
pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são estimativas
Agenda 21 - Global 255

apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos
financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e programas
específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Desenvolvimento de recursos humanos
19.31. Os Governos e as instituições, assim como as organizações não-governamentais,
com a colaboração das organizações e programas apropriados das Nações Unidas, devem lançar
cursos de formação e campanhas de informação para facilitar a compreensão e a utilização do
novo sistema harmonizado de classificação e de rotulagem compatível para os produtos químicos.
(c) Aumento da capacidade
19.32. No fortalecimento da capacidade nacional para o manejo dos produtos químicos,
incluídas a elaboração, a aplicação e a adaptação aos novos sistemas de classificação e de
rotulagem, deve-se evitar a criação de barreiras comerciais e levar plenamente em conta as
limitações, capacidades e recursos de um grande número de países, especialmente dos países em
desenvolvimento, para a implementação desses sistemas.

C. Intercâmbio de informações sobre os produtos químicos tóxicos e os riscos químicos

Base para a ação

19.33. As seguintes atividades, relacionadas ao intercâmbio de informações sobre os


benefícios e os riscos associados à utilização de produtos químicos, visam a fortalecer o manejo
saudável de produtos químicos tóxicos por meio do intercâmbio de informações científicas,
técnicas, econômicas e jurídicas.
19.34. As Diretrizes de Londres para o intercâmbio de informação sobre produtos
químicos objetos de comércio internacional foram adotadas pelos Governos para aumentar a
segurança no uso dos produtos químicos por meio do intercâmbio de informações sobre esses
produtos. As Diretrizes contêm disposições especiais relacionadas ao intercâmbio de informações
sobre os produtos químicos proibidos ou de uso severamente restringido.
19.35. A exportação para os países em desenvolvimento dos produtos químicos que foram
proibidos nos países produtores ou cuja utilização foi severamente restringida em certos países
industrializados tem sido causa de preocupação, pois certos países importadores não têm meios
de garantir a utilização segura, devido a uma infra estrutura inadequada para controlar a
importação, a distribuição, o armazenamento, a formulação e a eliminação dos produtos
químicos.
19.36. Para enfrentar esse problema, disposições prevendo o procedimento de
consentimento fundamentado prévio (PIC) foram introduzidas em 1989 nas Diretrizes de Londres
(PNUMA) e no Código Internacional de Conduta para a distribuição e utilização de pesticidas
(FAO). Além disso, um programa comum FAO/PNUMA foi lançado para aplicar o procedimento
PIC para os produtos químicos; esse programa compreende a seleção de produtos químicos que
serão submetidos ao procedimento PIC e a elaboração de documentos de orientação de decisão
PIC. A Convenção da OIT relativa aos produtos químicos exige que haja uma comunicação entre
países exportadores e países importadores quando os produtos perigosos forem interditados por
razões de segurança e de saúde humana nos locais de trabalho. No âmbito do Acordo Geral de
Tarifas e Comércio (GATT), realizaram-se negociações tendo em vista criar um instrumento que
tenha força de obrigação, para os produtos proibidos ou severamente restringidos no mercado
interno. Além disso, o Conselho do GATT concordou segundo a decisão contida no documento
C/M/251, em prorrogar o mandato do grupo de trabalho por um período de três meses a contar da
Agenda 21 - Global 256

data da próxima reunião do Grupo e autorizou o Presidente a manter consultas sobre a data para
essa reunião.
19.37. Não obstante a importância do procedimento PIC, é necessário que haja um
intercâmbiode informações sobre todos os produtos químicos.

Objetivos

19.38. Os objetivos dessa área de programa são os seguintes:


(a) Promover uma troca crescente de informações sobre a segurança dos produtos
químicos, sua utilização e suas imissões, entre todas as partes interessadas;
(b) Assegurar, na medida do possível, a plena aplicação, até o ano 2000, do
procedimento PIC, inclusive sua aplicação obrigatória por meio de instrumentos jurídicos
obrigatórios contidos na versão modificada das Diretrizes de Londres e no Código de conduta
internacional da FAO, levando em conta a experiência adquirida no contexto do procedimento
PIC.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


19.39. Os Governos e as organizações internacionais pertinentes, em cooperação com as
indústrias, devem:
(a) Fortalecer as instituições nacionais responsáveis pelo intercâmbio de
informações sobre os produtos químicos tóxicos e promover a criação de centros nacionais onde
eles não existam;
(b) Fortalecer as instituições e as redes internacionais (tais como o RISQPT)
responsáveis pelo intercâmbio de informações sobre os produtos químicos tóxicos;
(c) Estabelecer cooperação técnica com outros países, especialmente os que não
têm suficiente capacidade técnica, e oferecer-lhes informaçÆes, inclusive treinamento para
interpretação dos dados técnicos pertinentes, tais como os Documentos sobre os Critérios de
Higiene Ambiental, os Guias de Saúde e Segurança e as Fichas Internacionais sobre Segurança
dos Produtos Químicos (publicadas pelo PISSQ), as monografias sobre a avaliação dos riscos
cancerígenos dos produtos químicos [publicadas pelo Organismo Internacional de Pesquisas
sobre o Câncer (OIPC)], os documentos de orientação de decisões (oferecidos por intermédio do
programa comum FAO/PNUMA sobre o procedimento PIC), bem como os dados apresentados
pela indústria e outras fontes;
(d) Implementar, o mais rápido possível, os procedimentos PIC e, à luz da
experiência adquirida, convidar as organizações internacionais pertinentes tais como o PNUMA,
o GATT, a FAO, a OMS e outras a trabalhar com diligência, em suas respectivas áreas de
competência, para a conclusão dos instrumentos jurídicos obrigatórios necessários.
(b) Dados e informação
19.40. Os Governos e as organizações internacionais pertinentes, com a cooperação das
indústrias, devem:
(a) Auxiliar na criação de sistemas nacionais de informação sobre os produtos
químicos nos países em desenvolvimento e melhorar o acesso aos sistemas internacionais
existentes;
(b) Melhorar as bancos de dados e os sistemas de informação sobre os produtos
químicos tóxicos, tais como os programas de inventário das emissões, mediante oferecimento de
Agenda 21 - Global 257

treinamento na utilização desses sistemas bem como no de equipamentos e programas de


informática e outros serviços;
(c) Proporcionar aos países importadores os conhecimentos e as informações sobre
os produtos químicos proibidos ou submetidos a restrições rigorosas para que esses países
possam julgar e tomar decisões sobre a sua importação e manipulação, e estabelecer um sistema
de responsabilidade conjunta no comêrcio de produtos químicos entre países importadores e
exportadores;
(d) Comunicar os dados necessários para avaliar os riscos para a saúde humana e o
meio ambiente das possíveis alternativas aos produtos químicos proibidos ou submetidos a
restrições rigorosas.
19.41. As organizações das Nações Unidas devem oferecer, tanto quanto possível, todo o
material de informação internacional sobre os produtos químicos tóxicos em todas as línguas
oficiais das Nações Unidas.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
19.42. Os Governos e as organizações internacionais pertinentes, com a cooperação das
indústrias devem colaborar para o estabelecimento, fortalecimento e ampliação, quando
apropriado, da rede de autoridades nacionais designadas para o intercâmbio de informações sobre
produtos químicos e estabelecer um programa de intercâmbio técnico para produzir um núcleo de
pessoal capacitado em cada país participante.

Meios de execução

(a) Financiamento e estimativa de custos


19.43. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $10 milhões de dólares por ano, a
serem providos pela comunidade internacional em termos concessioanis ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadass pelos Governos. Os custos reais e
os termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.

D. Estabelecimento de programas de redução de riscos

Base para a ação

19.44. Os produtos químicos tóxicos que são atualmente utilizados podem freqüentemente
ser substituídos por outras substâncias. Assim é possível, algumas vezes, reduzir os riscos usando
outros produtos químicos ou mesmo tecnologias não químicas. O exemplo clássico de redução de
riscos consiste em substituir substâncias perigosas por substâncias inofensivas ou menos nocivas.
Outro exemplo consiste no estabelecimento de procedimentos de prevenção da poluição e fixação
de normas para os produtos químicos em cada componente do meio ambiente (os alimentos, a
água , os bens de consumo etc.). Em um contexto mais amplo, a redução dos riscos envolve
medidas de base ampla visando a reduzir os riscos que apresentam os produtos químicos tóxicos.
Levando em consideração todo o ciclo de vida desses produtos, essas medidas podem englobar
disposições regulamentares e outras, tais como a promoção do uso de produtos e tecnologias
menos poluidoras, procedimentos e programas de prevenção da poluição, inventários de
emissões, rotulagem dos produtos, as restrições de uso, incentivos econômicos, procedimentos
para a manipulação segura e regulamentos sobre a exposição bem como a eliminação progressiva
Agenda 21 - Global 258

ou proibição dos produtos químicos que apresentam riscos excessivos ou inaceitáveis para a
saúde humana e o meio ambiente, e daqueles que são tóxicos, persistentes e bioacumulativos e
cuja utilização não pode ser adequadamente controlada.
19.45. Na agricultura, uma maneira de reduzir os riscos consiste na aplicação de métodos
de luta integrada contra as pragas, compreendida a utilização de agentes biológicos no lugar de
pesticidas tóxicos.
19.46. A redução dos riscos engloba também a prevenção de acidentes e de
envenenamentos provocados por produtos químicos, a implantação de uma tóxicovigilância
assim como limpeza e recuperação coordenada das zonas contaminadas por substâncias tóxicas.
19.47. O Conselho da OCDE decidiu que os países membros da Organização deverão
estabelecer ou fortalecer os programas nacionais de redução de riscos. O Conselho Internacional
das Associações das Indústrias Químicas adotou iniciativas em favor do manejo responsável e da
vigilância dos produtos tendo em vista reduzir os riscos químicos. O programa APELL do
PNUMA (Conscientização e Preparação para Emergências no Plano Local) visa a ajudar os
responsáveis pelas decisões e o pessoal técnico a informar melhor à comunidade sobre as
instalações perigosas e a preparar planos de reação. A OIT publicou um código de práticas sobre
a prevenção de grandes acidentes industriais e está preparando um instrumento internacional
sobre a prevenção de catástrofes industriais, que poderá ser adotado em 1993.

Objetivos

19.48. O objetivo dessa área de programa é eliminar os riscos inaceitáveis ou excessivos e


reduzir, na medida em que seja economicamente viável, os riscos colocados pelos produtos
químicos empregando um enfoque amplo que envolva uma grande diversidade de opções de
redução de riscos e adotando medidas de precaução decorrentes de uma análise integral do ciclo
de vida.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


19.49. Os Governos, em cooperação com os organismos internacionais pertinentes e a
indústria, quando apropriado, devem:
(a) Considerar a possibilidade de adotar políticas baseadas em princípios aceitos
de responsabilidade dos fabricantes, quando apropriado, bem como critérios baseados na
precaução, previsão e consideração dos ciclos de vida para o manejo dos produtos químicos no
que se tange à sua produção, comércio, transporte, utilização e eliminação.
(b) Empreender ações conjuntas para reduzir os riscos aos produtos químicos
tóxicos levando em consideração toda a duração de seu ciclo de vida. Essas atividades podem
abranger medidas reguladoras ou não reguladoras, tais como a promoção do uso de produtos e
tecnologias limpos; inventários de emissões; rotulagem dos produtos; limitações de uso;
incentivos econômicos; e o abandono progressivo ou interdição dos produtos químicos tóxicos
que colocam riscos excessivos ou inaceitáveis para a saúde humana e o meio ambiente e aqueles
que são tóxicos, persistentes e bioacumulativos, cuja utilização não pode ser adequadamente
controlada;
(c) Adotar políticas e medidas reguladoras e não reguladoras para identificar os
produtos químicos tóxicos e reduzir ao mínimo a exposição a esses produtos, substituindo-os por
outras substâncias menos nocivas e abandonando progressivamente aqueles que apresentam
Agenda 21 - Global 259

riscos excessivos ou inaceitáveis para a saúde humana e o meio ambiente e aqueles que são
tóxicos, persistentes e bioacumulativos e cuja utilização não pode ser adequadamente controlada;
(d) Redobrar os esforços para identificar as necessidades nacionais de
estabelecimento e implementação de normas no contexto do Codex Alimentarius FAO/OMS a
fim de reduzir ao mínimo os efeitos nocivos da presença de produtos químicos nos alimentos;
(e) Elaborar políticas nacionais e adotar a estrutura reguladora necessária para a
prevenção de acidentes e para a preparação e intervenções em caso de acidente (planejamento do
uso da terra, sistemas de autorização, requisitos de notificação em caso de acidentes etc.) e
trabalhar com o catálogo internacional dos centros regionais de intervenção de urgência
(OCDE/PNUMA) e o programa APELL;
(f) Promover a criação e o fortalecimento, quando apropriado, de centros nacionais
de proteção contra as substâncias tóxicas, para assegurar um diagnóstico e um tratamento pronto
e eficaz dos envenenamentos;
(g) Reduzir a dependência excessiva do uso de produtos químicos na agricultura
utilizando outras práticas agrícolas, a luta integrada contra as pragas ou outros meios apropriados;
(h) Exigir dos fabricantes, dos importadores e dos usuários de produtos químicos
tóxicos que desenvolvam, com a cooperação dos produtores dessas substâncias, quando
apropriado, procedimentos de intervenção de urgência e que elaborem planos de intervenção de
emergência no interior e no exterior de suas instalações;
(i) Identificar, avaliar, reduzir ao mínimo ou eliminar, tanto quanto possível, os
riscos decorrentes da armazenagem de produtos químicos ultrapassados por meio de métodos de
eliminação ambientalmente saudáveis.
19.50. As indústrias devem ser estimuladas a:
(a) Desenvolver um código de princípios internacionalmente aceito para o manejo
do comércio dos produtos químicos, reconhecendo em particular a responsabilidade que elas têm
de oferecer informações sobre os riscos potenciais e as práticas de eliminação ambientalmente
saudáveis se esses produtos se tornarem resíduos, em cooperação com os Governos e com
organizações internacionais pertinentes e organismos apropriados das Nações Unidas;
(b) Formular a aplicação de um enfoque baseado no "manejo responsável" dos
produtos químicos por parte dos produtores e fabricantes, levando em conta o ciclo de vida
integral desses produtos;
(c) Adotar a título voluntário programas reconhecendo o direito à informação da
comunidade baseados em diretrizes internacionais, que incluam a divulgação de informações
sobre as causas das emissões acidentais ou potenciais e os meios de prevení-las, e apresentando
relatórios sobre as emissões anuais habituais de produtos químicos tóxicos no meio ambiente,
quando não exista regulamentação nos países de implantação.
(b) Dados e informação
19.51. Os Governos, em cooperação com os organismos internacionais pertinentes e a
indústria, quando apropriado, devem:
(a) Promover o intercâmbio de informações sobre as atividades nacionais e
regionais para reduzir os riscos dos produtos químicos;
(b) Cooperar na elaboração de diretrizes de comunicação sobre os riscos químicos
no plano nacional a fim de promover o intercâmbio de informações com o público e a
compreensão dos riscos.
(c) COOPERAÇÃO E COORDENAÇÃO INTERNACIONAIS E REGIONAIS
19.52. Os Governos, em cooperação com os organismos internacionais pertinentes e a
indústria, quando apropriado, devem:
Agenda 21 - Global 260

(a) Colaborar na elaboração de critérios comuns para determinar quais são os


produtos químicos suscetíveis de se prestar às atividades combinadas de redução dos riscos;
(b) Coordenar as atividades combinadas de redução dos riscos;
(c) Desenvolver diretrizes e políticas para que os fabricantes, os importadores e os
usuários de produtos químicos tóxicos divulguem informações sobre a toxicidade, e declarem os
riscos e as medidas necessárias em situações de emergência;
(d) Estimular as grandes empresas industriais, inclusive as transnacionais e outras
empresas, qualquer que seja o lugar de implantação, a introduzir políticas que demonstrem o
comprometimento com a adoção de normas de funcionamento equivalentes às que estão em vigor
nos países de origem ou tão rigorosas quanto elas, em se tratando do manejo ambientalmente
saudável dos produtos químicos tóxicos;
(e) Estimular e apoiar as pequenas e médias empresas a desenvolver e adotar
procedimentos apropriados de redução de riscos em suas atividades;
(f) Desenvolver medidas e procedimentos reguladores ou outros visando a impedir
a exportação de produtos químicos que tenham sido proibidos, submetidos a restrições rigorosas,
retirados do mercado ou desaprovados por razões sanitárias ou ambientais, exceto quando essa
exportação tenha recebido o consentimento escrito prévio do país importador ou esteja em
conformidade com o mecanismo de consentimento mútuo (PIC);
(g) Estimular os trabalhos nacionais e regionais visando a harmonizar a avaliação
dos pesticidas;
(h) Promover e desenvolver mecanismos de produção, manejo e utilização seguros
dos produtos perigosos, formulando programas para substituí-los por outros mais seguros,
quando apropriado;
(i) Estabelecer redes de centros para fazer frente a situações de emergência;
(j) Estimular as indústrias, com a ajuda da cooperação multilateral, a eliminar
gradualmente, quando apropriado, todos os produtos químicos proibidos ainda em estoque ou em
uso, de maneira ambientalmente saudável, inclusive sua reutilização em condições de segurança,
quando aprovada e apropriada.

Meios de execução

(a) Financiamento e estimativa de custos


19.53. O Secretariado da Conferência incluiu a maior parte dos custos relacionados com
este programa nas estimativas proporcionadas para as áreas de programa A e E. O Secretariado
estima que as demais necessidades para atividades de treinamento e fortalecimento dos centros de
emergência e de luta contra as intoxicações em cerca de $4 milhões de dólares por ano, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e técnicos
19.54. Os Governos, em cooperação com as organizações e programas internacionais
devem:
(a) Promover a adoção de tecnologias que reduzam ao mínimo a emissão de
produtos químicos tóxicos e a exposição a esses produtos em todos os países;
(b) Fazer revisões nacionais , quando apropriado, dos pesticidas aceitos no
passado com base em critérios hoje reconhecidos como insuficientes ou ultrapassados e procurar
Agenda 21 - Global 261

a sua eventual substituição por outros métodos de controle de pragas, particularmente no caso de
pesticidas tóxicos, persistentes e/ou bioacumulativos.

E. Fortalecimento da capacidade e da potencialidade nacionais para o manejo dos produtos


químicos

Base para a ação

19.55. Muitos países não dispõem de sistemas nacionais para enfrentar os riscos
químicos. A maioria dos países carece de meios científicos para reunir provas de uso indevido e
de avaliar o impacto dos produtos químicos sobre o meio ambiente, devido às dificuldades
envolvidas na detecção de muitos produtos químicos problemáticos e no rastreamento sistemático
de sua circulação. Entre os possíveis perigos para a saúde humana e o meio ambiente nos países
em desenvolvimento estão formas novas e importantes de utilização. Em vários países que
dispõem de sistemas desse tipo há necessidade urgente de torná-los mais eficientes.
19.56. Os elementos básicos de um bom manejo saudável dos produtos químicos são: a)
legislação adequada; b) coleta e difusão de informação; c) capacidade de avaliar e interpretar os
riscos; d) estabelecimento de uma política de manejo dos riscos; e) capacidade para implementar
e fazer cumprir essa política; f) a capacidade de reabilitar os lugares contaminados e atender as
pessoas intoxicadas; g) programas eficazes de ensino; h) capacidade de reagir em caso de
urgência.
19.57. Dado que o manejo dos produtos químicos se exerce em vários setores
relacionados a diversos ministérios nacionais, a experiência indica que um mecanismo de
coordenação é indispensável.

Objetivo

19.58. Até o ano 2000, deverá haver em todos os países, na medida do possível, sistemas
nacionais de manejo ambientalmente saudável dos produtos químicos, incluindo uma legislação e
disposições para sua implantação e cumprimento.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


19.59. Os Governos, em colaboração com as organizações intergovernamentais
pertinentes e os organismos e programas das Nações Unidas, quando apropriado, devem :
(a) Promover e apoiar enfoques multidisciplinares dos problemas de segurança dos
produtos químicos;
(b) Considerar a necessidade de estabelecer e fortalecer, quando apropriado, um
mecanismo nacional de coordenação que ofereça uma ligação entre todos os setores envolvidos
em atividades que digam respeito à segurança dos produtos químicos (por exemplo, agricultura,
meio ambiente, ensino, indústria, trabalho, saúde, transportes, polícia, defesa civil, assuntos
econômicos, instituições de pesquisa e centros de controle das substâncias tóxicas);
(c) Criar mecanismos institucionais para o manejo dos produtos químicos, com
meios de execução eficazes;
(d) Estabelecer e desenvolver ou fortalecer, conforme o caso, redes de centros de
resposta às emergências, entre eles centros de controle das substâncias tóxicas;
Agenda 21 - Global 262

(e) Fomentar a capacidade nacional e local de preparar-se para os acidentes e


enfrentá-los, levando em conta o programa APPEL do PNUMA e outros programas similares de
prevenção, preparação e resposta aos acidentes, quando apropriado, incluindo planos de
emergência periodicamente testados e atualizados;
(f) Em cooperação com a indústria, desenvolver procedimentos para enfrentar as
emergências, identificando os meios e equipamentos necessários à indústria e instalações
industriais para reduzir as conseqüências dos acidentes.
(b) Dados e informações
19.60. Os Governos devem:
(a) Organizar campanhas de informação para conscientizar o público em geral dos
problemas de segurança dos produtos químicos, desenvolvendo, por exemplo, programas de
informação sobre a estocagem desses produtos, as alternativas ambientalmente mais seguras e os
inventários de emissões que também podem contribuir para a redução dos riscos;
(b) Estabelecer, em cooperação com o RISQPT, registros e bancos de dados
nacionais sobre os produtos químicos que contenham informações sobre segurança;
(c) Produzir dados de monitoramento de campo no que diz respeito aos produtos
químicos tóxicos de grande importância para o meio ambiente;
(d) Cooperar com as organizações internacionais, quando apropriado, para
monitorar e controlar eficazmente a geração, fabricação, distribuição, transporte e eliminação de
produtos químicos tóxicos, para fomentar a adoção de medidas de prevenção e de precaução e
cuidar para que as regras de manejo seguro sejam obedecidas, e para oferecer relatórios precisos
sobre os dados pertinentes.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
19.61. Os Governos, em cooperação com as organizações internacionais, quando
apropriado, devem:
(a) Preparar diretrizes, quando não disponíveis, com recomendações e listas de
controle para promulgar legislação sobre a segurança dos produtos químicos;
(b) Ajudar os países, em particular os países em desenvolvimento, a elaborar e
fortalecer a legislação nacional e a sua aplicação;
(c) Considerar a possibilidade de adotar programas sobre o direito da comunidade
à informação ou outros programas de difusão de informação pública, quando apropriado, como
meios possíveis de redução dos riscos. As organizações internacionais competentes, em particular
o PNUMA, a OCDE, a CEE e outras partes interessadas, devem considerar a possibilidade de
preparar um documento de orientação sobre o estabelecimento de tais programas para uso dos
Governos interessados. Esse documento deve se basear nos trabalhos existentes sobre acidentes e
incluir novas diretrizes sobre inventários de emissões tóxicas e informações sobre riscos. Essas
diretrizes devem incluir a harmonização dos requisitos, definições e elementos de dados a fim de
promover a uniformidade e permitir um acesso internancional aos dados;
(d) Apoiar-se sobre os trabalhos internacionais passados, presentes e futuros de
avaliação de riscos para ajudar os países, em particular os países em desenvolvimentos, a
desenvolver e fortalecer suas capacidades de avaliação de riscos nos planos nacional e regional a
fim de minimizar os riscos na fabricação e no uso de produtos químicos tóxicos;
(e) Promover a implementação do programa APELL do PNUMA e, em particular,
a utilização do diretório internacional OCDE/PNUMA de centros de reação às emergências;
(f) Cooperar com todos os países, em particular com os países em
desenvolvimento, na criação de um mecanismo institucional no plano nacional e no
desenvolvimento de instrumentos apropriados de manejo de produtos químicos;
Agenda 21 - Global 263

(g) Organizar cursos de informação, em todos os níveis de produção e uso,


voltados para o pessoal que trabalha com as questões de segurança dos produtos químicos;
(h) Desenvolver mecanismos para aproveitar ao máximo em cada país as
informações disponíveis no plano internacional;
(i) Convidar o PNUMA a promover princípios para a prevenção, preparação e
resposta aos acidentes destinados a Governos, à indústria e ao público, inspirando-se nos
trabalhos da OIT, da OCDE e da CEE.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


19.62. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $600 milhões de dólares por ano,
inclusive $150 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e técnicos
19.63. As organizações internacionais devem:
(a) Promover o estabelecimento e o fortalecimento de laboratórios nacionais para
assegurar a existência em todos os países de meios nacionais adequados de controle no que diz
respeito à importação, fabricação e uso dos produtos químicos;
(b) Promover, quando possível, a tradução para os idiomas locais de documentos
internacionais sobre a segurança dos produtos químicos e apoiar os diversos níveis de atividades
regionais relacionados com a transferência de tecnologia e intercâmbio de informações;
(c) Desenvolvimento de recursos humanos
19.64. As organizações internacionais devem:
(a) Intensificar a formação técnica para os países em desenvolvimento em relação
ao manejo dos risocs dos produtos químicos;
(b) Promover e incrementar o apoio às atividades de pesquisa no plano local,
concedendo subvenções e bolsas de estudos para institutições de pesquisa reconhecidas que
trabalhem em disciplinas de importância para os programas de segurança dos produtos químicos.
19.65. Os Governos devem organizar, em colaboração com a indústria e os sindicatos,
programas de formação em todos os níveis sobre o manejo dos produtos químicos que incluam os
procedimentos em casos de emergência. Os princípios básicos de segurança na utilização de
produtos químicos devem ser incluídos no currículo do ensino primário de todos os países.

F. Prevenção do tráfico internacional ilegal de produtos tóxicos e perigosos

19.66. Atualmente, não há um acordo internacional mundial sobre o tráfico de produtos


tóxicos e perigosos (produtos tóxicos e perigosos são aqueles proibidos, severamente limitados,
retirados do mercado ou não aprovados para uso e venda por Governos a fim de proteger a saúde
pública e o meio ambiente). No entretanto, há uma preocupação internacional de que o tráfico
internacional ilegal desses produtos seja prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente, como
reconhece a Assembléia Geral em suas resoluções 42/183 e 44/226. O tráfico ilegal refere-se ao
tráfico que viola as legislações nacionais ou instrumentos jurídicos internacionais pertinentes.
Agenda 21 - Global 264

Essa preocupação se estende igualmente aos movimentos transfronteiriços desses produtos que
não obedecem às diretrizes e aos princípios aplicáveis internacionalmente. As atividades desta
área de programas visam a melhorar a detecção e a prevenção do tráfico em questão.
19.67. É necessária uma intensificação da cooperação internacional e regional para
impedir os movimentos transfronteiriços ilegais dos produtos tóxicos e perigosos. É preciso, além
disso, aumentar a capacidade no plano nacional de melhorar o monitoramento e o cumprimento
da legislação, reconhecendo que talvez haja a necessidade de impor sanções apropriadas como
parte de um programa eficaz de execução da lei. Outras atividades previstas neste capítulo (por
exemplo, no parágrafo 19.39 (d)) contribuirão igualmente para a realização desses objetivos.

Objetivos

19.68. Os objetivos do programa são:


(a) Reforçar a capacidade nacional para detectar e reprimir toda tentativa de
introdução de produtos tóxicos e perigosos no território de qualquer Estado, em contravenção da
legislação nacional e dos instrumentos jurídicos internacionais pertinentes;
(b) Auxiliar todos os países, em particular os países em desenvolvimento, a obter
todas as informações pertinentes sobre o tráfico ilegal de produtos tóxicos e perigosos.

Atividades

(a) 19.69. Os Governos, segundo suas capacidades e os recursos disponíveis, e com a


cooperação das Nações Unidas e outras organizações pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Adotar, se necessário, e implementar legislação para impedir a importação e a
exportação de produtos ilegais e de produtos tóxicos e perigosos;
(b) Desenvolver programas nacionais apropriados para fazer cumprir essa
legislação e detectar e reprimir as violações por meio de penalidades adequadas.
(b) Dados e informação
19.70. Os Governos devem desenvolver, quando apropriado, sistemas nacionais de alerta
que lhes permitam detectar o tráfico ilegal de produtos tóxicos e perigosos; as comunidades
locais e outras entidades podem participar do funcionamento desses sistemas.
19.71. Os Governos devem cooperar no intercâmbio de informações sobre os
movimentos transfronteiriços ilegais de produtos tóxicos e perigosos e colocar essas informações
ao alcance dos organismos competentes das Nações Unidas, tais como o PNUMA e as comissões
econômicas regionais;
(c) Cooperação e coordenação regionais e internacionais
19.72. É preciso continuar a fortalecer a cooperação internacional e regional para impedir
movimentos transfronteiriços ilegais de produtos tóxicos e perigosos.
19.73. As comissões regionais, em colaboração com o PNUMA e outros organismos
pertinentes das Nações Unidas e baseando-se em seu apoio e assessoria especializada, devem,
com base nos dados e informações oferecidos pelos Governos, monitorar o tráfico ilegal de
produtos tóxicos e perigosos e fazer constantemente avaliações regionais de suas implicações
ambientais, econômicas e sanitárias, aproveitando os resultados e a experiência adquiridos na
avaliação preliminar conjunta do PNUMA e a ESCAP do tráfico ilegal cuja conclusão está
prevista para agosto de 1992.
19.74. Os Governos e as organizações internacionais, quando apropriado, devem
cooperar com os países em desenvolvimento para fortalecer suas capacidades institucionais e
Agenda 21 - Global 265

reguladoras, a fim de impedir as importações e exportações ilegais de produtos tóxicos e


perigosos.

G. Intensificação da cooperação internacional relativa a várias áreas de programa

19.75. Uma reunião de especialistas designados pelos Governos realizada em Londres,


em dezembro de 1991, recomendou que se aumentasse a coordenação entre os organismos das
Nações Unidas e a outras organizações internacionais que se ocupam do manejo e da avaliação
dos riscos ligados aos produtos químicos. Nessa reunião, pediu-se a adoção de medidas
apropriadas para fortalecer o papel do PISSQ e que se criasse um foro intergovernamental para o
manejo e a avaliação dos riscos ligados aos produtos químicos.
19.76. Para examinar com mais detalhes as recomendações da reunião de Londres e
começar a lhes dar seqüência, quando apropriado, os diretores executivos da OMS, da OIT e do
PNUMA estão convidados a convocar uma reunião intergovernamental no prazo de um ano, que
poderá se constituir na primeira reunião do foro intergovernamental.

Siglas
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PISSQ Programa Internacional sobre a Segurança dos Produtos Químicos
RISCPT Registro Internacional de Substâncias Potencialmente Tóxicas
FISPQ Fichas Internacionais sobre Segurança de Produtos Químicos
OIPC Organismo Internacional de Pesquisa sobre o Câncer
OMI Organização Marítima Internacional
PIC não definida neste capítulo
APELL Concientização e Preparação para Emergência no Plano Local
CESAT não definida neste capítulo
OIT Organização Internacional do Trabalho
OMS Organização Mundial de Saúde
OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos
CEE não definida neste capítulo
FAO não definida neste capítulo
GATT Acordo Geral de Tarifas e Comércio
Agenda 21 - Global 266

Capítulo 20

MANEJO AMBIENTALMENTE SAUDÁVEL DOS RESÍDUOS PERIGOSOS,


INCLUINDO A PREVENÇÃO DO TRÁFICO INTERNACIONAL ILÍCITO DE
RESÍDUOS PERIGOSOS

Introdução

20.1. O controle efetivo da geração, do armazenamento, do tratamento, da reciclagem e


reutilização, do transporte, da recuperação e do depósito dos resíduos perigosos é de extrema
importância para a saúde do homem, a proteção do meio ambiente, o manejo dos recursos
naturais e o desenvolvimento sustentável. Isto requer a cooperação e participação ativas da
comunidade internacional, dos Governos e da indústria. Para os fins do presente documento,
entender-se-á por indústria as grandes empresas industriais, inclusive as empresas transnacionais,
e a indústria nacional.
20.2. A prevenção da geração de resíduos perigosos e a reabilitação dos locais
contaminados são os elementos essenciais e ambos exigem conhecimentos, pessoal qualificado,
instalações, recursos financeiros e capacidades técnicas e científicas.
20.3. As atividades descritas no presente capítulo estão estreitamente relacionadas com
muitas das áreas de programas descritas em outros capítulos e nelas repercutem; assim, é preciso
adotar uma abordagem geral integrada para tratar do manejo de resíduos perigosos.
20.4. Existe uma preocupação no plano internacional pelo fato de que parte do movimento
internacional dos resíduos perigosos está sendo feito em transgressão à legislação nacional e aos
instrumentos internacionais existentes, em detrimento do meio ambiente e da saúde pública de
todos os países, especialmente dos países em desenvolvimento.
20.5. Na seção I da resolução 44/226, de 22 de dezembro de 1989, a Assembléia Geral
solicitou a cada uma das comissões regionais que, dentro dos recursos existentes, contribuíssem
para a prevenção do tráfico ilícito de produtos e resíduos tóxicos e perigosos, por meio de
monitoramento e avaliações regionais desse tráfico e de suas repercussões sobre o meio ambiente
e a saúde. A Assembléia solicitou também às comissões regionais que atuassem em conjunto e
cooperassem com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) tendo em
vista manter o monitoramento e a avaliação eficazes e coordenadas do tráfico ilícito de produtos e
resíduos tóxicos e perigosos.

Objetivo geral

20.6. No quadro de um manejo integrado do ciclo de vida, o objetivo geral é impedir,


tanto quanto possível, e reduzir ao mínimo a produção de resíduos perigosos e submeter esses
resíduos a um manejo que impeça que provoquem danos ao meio ambiente.

Metas gerais

20.7. As metas gerais são:


(a) Prevenir ou reduzir ao mínimo a produção de resíduos perigosos como parte de
uma abordagem geral integrada de tecnologias limpas; depositar ou reduzir os movimentos
transfronteiriços de resíduos perigosos até um mínimo que corresponda à um manejo
Agenda 21 - Global 267

ambientalmente saudável e eficiente de tais resíduos; e garantir que se busquem, na máxima


medida do possível, opções de manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos no país
de origem (princípio da auto-suficiência). Os movimentos transfronteiriços que ocorrerem
deverão obedecer a motivos ambientais e econômicos e estar baseados em acordos celebrados
entre os Estados interessados;
(b) A ratificação da Convenção de Basiléia sobre o Controle dos Movimentos
Transfronteiriços dos Resíduos Perigosos e seu depósito e a rápida elaboração dos protocolos
correspondentes, tais como o protocolo sobre responsabilidade e indenização, mecanismos e
diretrizes necessários para facilitar a implementação da Convenção de Basiléia;
(c) A ratificação e plena implementação, pelos países envolvidos, da Convenção
de Bamaco sobre a Proibição da Importação para a África e Controle dos Movimentos
Transfronteiriços dentro da África de Resíduos Perigosos, e a rápida elaboração de um protocolo
sobre responsabilidade e indenização;
(d) Depósito da exportação de resíduos perigosos para países que, individualmente
ou por meio de acordos internacionais, proíbam a importação desses resíduos, tais como as partes
contratantes da Convenção de Bamaco e da quarta Convenção de Lomé, assim como outros
convênios pertinentes em que se estabelece essa proibição;
20.8. As seguintes áreas de programas estão incluídas neste capítulo:
(a) Promover a prevenção e a redução ao mínimo dos resíduos perigosos;
(b) Promover e fortalecer a capacidade institucional de manejo de resíduos
perigosos;
(c) Promover e fortalecer a cooperação internacional em manejo dos movimentos
transfronteiriços dos resíduos perigosos;
(d) Prevenir o tráfico internacional ilícito dos resíduos perigosos.

Áreas de Programas

A. Promoção da prevenção e redução ao mínimo dos resíduos perigosos

Base para a ação

20.9. A saúde humana e a qualidade do meio ambiente se degradam constantemente


devido à quantidade cada vez maior de resíduos perigosos que são produzidos. Estão aumentando
os custos diretos e indiretos que representam para a sociedade e para os cidadãos a produção,
manipulação e depósito desses resíduos. Assim, é crucial aumentar os conhecimentos e a
informação sobre os aspectos econômicos da prevenção e do manejo dos resíduos perigosos,
incluindo o impacto em relação ao emprego e os benefícios ambientais, a fim de que sejam
previstas as inversões de capital necessárias aos programas de desenvolvimento por meio de
incentivos econômicos. Uma das primeiras prioridades do manejo de resíduos perigosos é a sua
minimização, como parte de um enfoque mais amplo de mudança dos processos industriais e dos
padrões de consumo, por meio de estratégias de prevenção da poluição e de tecnologias limpas.
20.10. Entre os fatores mais importantes dessas estratégias está a recuperação de resíduos
perigosos para convertê-los em matérias úteis. Em conseqüência, a implementação ou
modificação de tecnologias existentes e o desenvolvimento de novas tecnologias que permitam
uma menor produção de resíduos estão atualmente no centro da minimização dos resíduos
perigosos.
Agenda 21 - Global 268

Objetivos

20.11. Os objetivos dessa área de programa são:


(a) Reduzir, tanto quanto possível, a geração de resíduos perigosos, como parte de
um sistema integrado de tecnologias limpas;
(b) Otimizar o uso dos materiais com a utilização, quando factível e
ambientalmente saudável, dos resíduos dos processos de produção;
(c) Melhorar os conhecimentos e a informação sobre a economia da prevenção e
manejo dos resíduos perigosos;
20.12 Para alcançar esses objetivos e desse modo reduzir o impacto e o custo do
desenvolvimento industrial, os países que estiverem em condições de adotar as tecnologias
necessárias, sem prejuízo para seu desenvolvimento, devem estabelecer políticas que prevejam:
(a) A integração de métodos de tecnologias limpas e minimização dos resíduos
perigosos em todo o tipo de planejamento, assim como a fixação de metas específicas;
(b) A promoção do uso de mecanismos reguladores e de mercado;
(c) O estabelecimento de uma meta intermediária para a estabilização da
quantidade de resíduos perigosos gerados;
(d) O estabelecimento de programas e políticas de longo prazo que incluam metas,
quando apropriado, para a redução da quantidade de resíduos perigosos produzidos por unidade
de fabricação;
(e) A obtenção de uma melhora qualitativa do fluxo de resíduos principalmente
por meio de atividades destinadas a reduzir suas características perigosas;
(f) A facilitação do estabelecimento de métodos e políticas de boa relação custo-
eficiência de prevenção e manejo dos resíduos perigosos, levando em consideração o estado de
desenvolvimento de cada país.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


20.13 As seguintes atividades devem ser realizadas:
(a) Os Governos devem estabelecer ou modificar normas ou especificações de
compra para evitar a discriminação de materiais reciclados, desde que estes sejam
ambientalmente saudáveis;
(b) Os Governos, de acordo com suas possibilidades e com a ajuda da cooperação
multilateral, devem oferecer incentivos econômicos ou reguladores, quando apropriado, para
estimular a adoção por parte da indústria de novas tecnologias limpas, estimular a indústria a
investir em tecnologias de prevenção e/ou reciclagem de modo a assegurar uma gestão
ambientalmente saudável de todos os resíduos perigosos, inclusive dos resíduos recicláveis, e
estimular os investimentos orientados para a minimização dos resíduos;
(c) Os Governos devem intensificar as atividades de pesquisa e desenvolvimento
de alternativas com boa relação custo-eficiência para os processos e substâncias que atualmente
produzem resíduos perigosos e que colocam problemas especiais para seu depósito ou tratamento
ambientalmente saudável, devendo considerar-se a possibilidade de depositar totalmente, assim
que possível, aquelas substâncias que apresentam um risco excessivo e inadministrável e são
tóxicas, persistentes ou bioacumulativas. Deve-se enfatizar as alternativas economicamente
acessíveis aos países em desenvolvimento;
(d) Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e em cooperação
Agenda 21 - Global 269

com as Nações Unidas e outras organizações e indústrias pertinentes, quando apropriado, devem
apoiar o estabelecimento de instalações nacionais para a manipulação dos resíduos perigosos de
origem interna;
(e) Os Governos dos países desenvolvidos devem promover a transferência para
os países em desenvolvimento de tecnologias ambientalmente saudáveis e conhecimento técnico-
científico relativo a tecnologias limpas e produção com poucos resíduos, em conformidade com o
capítulo 34, o que produzirá mudanças para sustentar a inovação. Os Governos deverão cooperar
com a indústria, quando apropriado, na elaboração de diretrizes e códigos de conduta que
conduzam a tecnologias limpas por meio de associações setoriais de comerciantes e industriais;
(f) Os Governos devem incentivar a indústria para tratar, reciclar, reutilizar e
depositar os resíduos na fonte geradora, ou o mais próximo possível dela, quando a produção de
resíduos for inevitável e quando resulte eficiente para a indústria tanto do ponto de vista
econômico quanto do ambiental;
(g) Os Governos devem estimular as avaliação de tecnologia, mediante a
utilização, por exemplo, de centros de avaliação tecnológica;
(h) Os Governos devem promover tecnologias limpas estabelecendo centros que
proporcionem treinamento e informação sobre tecnologias ambientalmente saudáveis;
(i) A indústria deve estabelecer sistemas de manejo ambiental que incluam a
auditoria ambiental de seus lugares de produção ou distribuição, a fim de identificar onde é
preciso instalar tecnologias limpas;
(j) Uma organização competente e apropriada das Nações Unidas deve tomar a
iniciativa, em cooperação com outras organizações, de elaborar diretrizes para estimar os custos e
benefícios de várias abordagens da adoção de tecnologias limpas, minimização dos resíduos e
manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos, inclusive o saneamento dos lugares
contaminados, levando em consideração, quando apropriado, o relatório da reunião celebrada em
Nairóbi, em 1991, por especialistas designados pelos Governos para elaborar uma estratégia
internacional e um programa de ação, além de diretrizes técnicas para o manejo ambientalmente
saudável dos resíduos perigosos, em particular no contexto do trabalho da Convenção de
Basiléia, que vem sendo desenvolvido sob a direção do Secretariado do PNUMA ;
(k) Os Governos devem estabelecer normas que estipulem a responsabilidade
última das indústrias do depósito ambientalmente saudável dos resíduos perigosos gerados por
suas atividades.
(b) Dados e informação
20.14. Devem ser realizadas as seguintes atividades:
(a) Os Governos, com a ajuda das organizações internacionais, devem estabelecer
mecanismos para determinar o valor dos sistemas de informação existentes;
(b) Os Governos devem estabelecer centros e redes nacionais e regionais de coleta
e difusão de informação que sejam de fácil acesso e uso para os organismos públicos, a indústria
e outras organizações não-governamentais;
(c) As organizações internacionais, por meio do Programa de Produção Mais
Limpa do PNUMA e do Centro Internacional de Informação sobre Tecnologias Limpas (ICPIC),
devem ampliar e fortalecer os sistemas existentes de coleta de informações sobre tecnologias
limpas;
(d) Deve-se promover a utilização, por parte de todos os órgãos e organizações das
Nações Unidas, da informação reunida por meio da Rede de Produção Mais Limpa;
(e) A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), em
colaboração com outras organizações, deve realizar um estudo amplo das experiências dos países
Agenda 21 - Global 270

membros na adoção de planos de regulamentação econômica e mecanismos de incentivos para o


manejo de resíduos perigosos e emprego de tecnologias limpas que impeçam a produção desses
resíduos e difundir a informação obtida a esse respeito;
(f) Os Governos devem encorajar a indústria a ser transparente em suas operações
e a proporcionar a informação necessária às comunidades que possam ser afetadas pela geração,
manejo e depósito de resíduos perigosos.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
20.15. A cooperação internacional e regional deve estimular os Estados a ratificar a
Convenção de Basiléia e a Convenção de Bamaco e a promover sua implementação. A
cooperação regional será necessária para a elaboração de convênios análogos em outras regiões
fora da África, caso necessário. Além disso, é preciso coordenar efetivamente as políticas e
instrumentos internacionais, regionais e nacionais. Outra das atividades propostas é a cooperação
no monitoramento dos efeitos do manejo dos resíduos perigosos.

Meios de implementação

(a) Financiamento e avaliação dos custos


20.16. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $750 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
20.17. Devem ser levadas a cabo as seguintes atividades relativas ao desenvolvimento e
pesquisa de tecnologias:
(a) Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e em cooperação
com as Nações Unidas, outras organizações pertinentes e as indústrias, quando apropriado,
devem aumentar consideravelmente o apoio financeiro aos programas de pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias limpas, inclusive do uso de biotecnologias;
(b) Os Estados, com a cooperação das organizações internacionais, quando
apropriado, devem estimular a indústria para que promova ou realize estudos sobre a depósito
gradual dos processos que apresentam maior risco para o meio ambiente devido aos resíduos
perigosos que produzem;
(c) Os Estados devem estimular a indústria a elaborar planos que integrem
tecnologias limpas aos processos de planejamento de produtos e às práticas de manejo;
(d) Os Estados devem incentivar a indústria a adotar uma atitude responsável face
ao meio ambiente por meio da redução dos resíduos perigosos e da reutilização, reciclagem e
recuperação ambientalmente saudável dos resíduos perigosos, assim como da depósito definitiva
deles.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
20.18. Devem-se realizar as seguintes atividades:
(a) Os Governos, as organizações internacionais e a indústria devem incentivar a
implementação de programas de treinamento industrial, incorporando técnicas de prevenção e
redução ao mínimo dos resíduos perigosos e implantando projetos de demonstração locais para
poder apresentar "casos de êxito" no uso de tecnologias limpas;
(b) A indústria deve integrar princípios e exemplos de tecnologias limpas aos
Agenda 21 - Global 271

programas de treinamento e estabelecer redes ou projetos de demonstração por setores ou por


países;
(c) Todos os setores da sociedade devem desenvolver campanhas de
conscientização sobre tecnologias limpas e incentivar o diálogo e a colaboração com a indústria e
outros setores.
(d) Fortalecimento institucional
20.19. Devem-se realizar as seguintes atividades:
(a) Os Governos dos países em desenvolvimento, em cooperação com a indústria e
com a colaboração de organizações internacionais pertinentes, devem preparar inventários da
produção de resíduos perigosos para identificar suas necessidades de transferência de tecnologia
e implementação de medidas para o manejo saudável dos resíduos perigosos e seu depósito;
(b) Os Governos devem incluir no planejamento e na legislação nacionais um
sistema integrado de proteção ambiental, regido por critérios de prevenção e redução na fonte,
levando em consideração o princípio de "quem polui paga", e adotar programas de redução dos
resíduos perigosos em que se fixem metas e medidas adequadas de controle ambiental;
(c) Os Governos devem colaborar com a indústria em campanhas setoriais a favor
da adoção de tecnologias limpas e da minimização dos resíduos perigosos, bem como da redução
desses resíduos e de outras emissões;
(d) Os Governos devem tomar a iniciativa de estabelecer e fortalecer, quando
apropriado, procedimentos nacionais de avaliação de impacto ambiental levando em consideração
uma abordagem "de ponta a ponta" do manejo de resíduos perigosos, a fim de identificar opções
para minimizar a geração de resíduos perigosos por meio de manipulação, armazenamento,
depósito e destruição mais seguras;
(e) Os Governos, em colaboração com a indústria e as organizações internacionais
pertinentes, devem desenvolver procedimentos de monitoramento da aplicação da abordagem "de
ponta a ponta" manejo, incluindo procedimentos de auditoria ambiental;
(f) Os organismos bilaterais e multilaterais de assistência para o desenvolvimento
devem aumentar consideravelmente os fundos destinados à transferência de tecnologia limpa para
os países em desenvolvimento, inclusive para empresas pequenas e médias.

B. Promoção e fortalecimento da capacidade institucional do manejo de resíduos perigosos

Base para a ação

20.20. Muitos países não têm a capacidade necessária para a manipulação e o manejo dos
resíduos perigosos. Isto se deve principalmente à falta de infraestrutura adequada, às deficiências
das estruturas reguladoras, à insuficiência dos programas de treinamento e ensino e à falta de
coordenação entre os vários ministérios e instituições que se ocupam dos diversos aspectos do
manejo de resíduos. Além disso, há falta de conhecimento sobre a contaminação e poluição do
meio ambiente e dos riscos que resultam da exposição a resíduos perigosos para a saúde da
população, especialmente de mulheres e crianças, e dos ecossistemas; sobre a avaliação dos
riscos; e as características dos resíduos. É preciso tomar medidas imediatas para identificar as
populações expostas a altos riscos e, se necessário, aplicar medidas corretivas. Uma das
prioridades fundamentais para um manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos é a
oferta de programas de conscientização, ensino e treinamento que abarquem todos os setores da
sociedade. Ademais, é necessário realizar programas de pesquisa para entender a natureza dos
resíduos perigosos, determinar seu possível impacto ambiental e desenvolver tecnologias para a
Agenda 21 - Global 272

manipulação sem risco desses resíduos. Por último, é necessário fortalecer as capacidades das
instituições responsáveis pelo manejo dos resíduos perigosos.

Objetivos

20.21 Os objetivos dessa área de programa são:


(a) Adotar medidas adequadas de coordenação, legislativas e regulamentares no
plano nacional para o manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos, entre elas,
medidas para a implementação de convenções internacionais e regionais;
(b) Estabelecer programas de informação e conscientização públicos sobre as
questões relativas aos resíduos perigosos e cuidar para que haja programas de ensino básico e
treinamento destinados aos trabalhadores da indústria e do Governo em todos os países;
(c) Estabelecer programas amplos de pesquisa sobre resíduos perigosos nos vários
países;
(d) Fortalecer a capacidade das empresas de serviços para permitir-lhes manipular
os resíduos perigosos e estabelecer as redes internacionais;
(e) Desenvolver em todos os países em desenvolvimento a capacidade local de
educar e treinar pessoal de todos os níveis para a manipulação, o monitoramento e o manejo
ambientalmente saudável dos resíduos perigosos;
(f) Promover a avaliação do grau de exposição humana em relação aos depósitos
de resíduos perigosos e identificar as medidas corretivas necessárias;
(g) Facilitar a avaliação dos impactos e riscos dos resíduos perigosos para a saúde
humana e o meio ambiente por meio da adoção de procedimentos, metodologias e critérios
adequados e/ou diretrizes e normas relacionadas com efluentes;
(h) Melhorar os conhecimentos relativos aos efeitos dos resíduos perigosos sobre a
saúde humana e o meio ambiente;
(i) Colocar à disposição dos Governos e do público em geral a informação sobre
os efeitos dos resíduos perigosos, inclusive dos resíduos infecciosos, sobre a saúde humana e o
meio ambiente.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


20.22. É preciso empreender as seguintes atividades:
(a) Os Governos devem preparar e manter inventários, inclusive
computadorizados, dos resíduos perigosos e dos locais de tratamento ou de depósito deles, assim
como dos lugares contaminados que exijam recuperação, e avaliar o grau de exposição e o risco
que apresentam para a saúde humana e o meio ambiente; devem também identificar as medidas
necessárias para a limpeza dos locais de despejo. A indústria deve por à disposição a informação
necessária;
(b) Os Governos, a indústria e as organizações internacionais devem colaborar na
elaboração de diretrizes e de métodos de fácil implementação para a caracterização e
classificação dos resíduos perigosos;
(c) Os Governos devem realizar avaliações do grau de exposição e do estado de
saúde das populações que residem perto dos locais de despejo de resíduos perigosos não
controlados e tomar medidas corretivas;
(d) As organizações internacionais devem formular critérios melhores, a partir de
Agenda 21 - Global 273

considerações sanitárias, levando em consideração os processos nacionais de tomada de decisões,


e ajudar na preparação de diretrizes técnicas práticas para a prevenção, minimização e
manipulação e depósito sem riscos dos resíduos perigosos;
(e) Os Governos de países em desenvolvimento devem incentivar os grupos
interdisciplinares e intersetoriais a implementar, em cooperação com organizações e organismos
internacionais, atividades de treinamento e pesquisa relacionadas com a avaliação, prevenção e
controle dos riscos dos resíduos perigosos para a saúde. Esses grupos devem servir de modelo
para a criação de programas regionais similares;
(f) Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a
colaboração das Nações Unidas e outras organizações pertinentes, quando apropriado, devem
estimular, na medida do possível, a construção de instalações combinadas de tratamento e
depósito de resíduos perigosos nas indústrias pequenas e médias;
(g) Os Governos devem promover a identificação e limpeza dos depósitos de
resíduos perigosos em colaboração com a indústria e as organizações internacionais. Devem estar
disponíveis para esse fim tecnologias, conhecimentos especializados e recursos financeiros,
aplicando-se, na medida do possível e quando apropriado o princípio de "quem polui paga";
(h) Os Governos devem se assegurar de que seus estabelecimentos militares se
atêm às normas ambientais, aplicáveis no plano nacional, para o tratamento e depósito de
resíduos perigosos.
(b) Dados e informação
20.23. É preciso empreender as seguintes atividades:
(a) Os Governos, as organizações internacionais e regionais e a indústria devem
facilitar e ampliar a difusão de informação técnica e científica sobre os vários aspectos dos
resíduos perigosos relacionados com a saúde e promover sua aplicação;
(b) Os Governos devem estabelecer sistemas de notificação e registro das
populações expostas e dos impactos nocivos para a saúde, assim como bancos de dados sobre
avaliações dos riscos dos resíduos perigosos;
(c) Os Governos devem procurar reunir informação sobre quem produz ou
deposita/recicla resíduos perigosos e proporcionar essa informação às pessoas e instituições
interessadas.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
20.24. Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e em colaboração
com as Nações Unidas e outras organizações internacionais pertinentes, quando apropriado,
devem:
(a) Promover e apoiar a integração e o funcionamento nos planos regional e local,
quando apropriado, de grupos institucionais e interdisciplinares que colaborem, segundo sua
capacidade, em atividades orientadas para reforçar os procedimentos de avaliação, manejo e
redução dos riscos em relação aos resíduos perigosos;
(b) Apoiar o fortalecimento institucional e técnico e o desenvolvimento e pesquisa
tecnológicos em países em desenvolvimento, em conexão com o desenvolvimento dos recursos
humanos, dando apoio particular à consolidação das redes;
(c) Estimular a auto-suficiência na deposição de resíduos perigosos no país de
origem, desde que ambientalmente saudável e factível. Os movimentos transfronteiriços que
ocorrerem devem obedecer a razões ambientais e econômicas e basearem-se em acordos entre
todos os Estados interessados.

Meios de implementação
Agenda 21 - Global 274

(a) Financiamento e estimativa de custos


20.25. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) de
implementação das atividades deste programa em cerca de $18.500 milhões de dólares, no plano
mundial, dos quais aproximadamente $3.500 milhões corresponderão aos países em
desenvolvimento, incluindo aproximadamente $500 milhões de dólares a serem providos pela
comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas
indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros,
inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que
os Governos decidam adotar para a implementação.

Meios científicos e tecnológicos

20.26 É preciso empreender as seguintes atividades:


(a) Os Governos, de acordo com a capacidade e os recursos disponíveis e com a
colaboração das Nações Unidas e outras organizações pertinentes e da indústria, quando
apropriado, devem prestar mais apoio ao manejo das pesquisas sobre resíduos perigosos em
países em desenvolvimento;
(b) Os Governos, em colaboração com as organizações internacionais, devem
realizar pesquisas sobre os efeitos dos resíduos perigosos sobre a saúde nos países em
desenvolvimento, inclusive sobre os efeitos a longo prazo sobre a criança e a mulher;
(c) Os Governos devem realizar pesquisas voltadas para as necessidades das
indústrias pequenas e médias;
(d) Os Governos e as organizações internacionais, em colaboração com a
indústria, devem ampliar suas pesquisas tecnológicas sobre manipulação, armazenamento,
transporte, tratamento e depósito ambientalmente saudável dos resíduos perigosos e sobre a
avaliação, manejo e reciclagem desses resíduos;
(e) As organizações internacionais devem determinar as melhores tecnologias
pertinentes para manipular, armazenar, tratar e depositar os resíduos perigosos.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
20.27. Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a colaboração
das Nações Unidas e outras organizações pertinentes e da indústria, quando apropriado, devem:
(a) Aumentar a consciência e a informação públicas sobre as questões relativas aos
resíduos perigosos e promover o desenvolvimento e difusão de informação sobre esses resíduos
de forma compreensível para o público em geral:
(b) Aumentar a participação do público em geral, particularmente da mulher e
setores populares, nos programas de manejo dos resíduos perigosos;
(c) Elaborar programas de treinamento para homens e mulheres na indústria e no
Governo, voltados para os problemas específicos da vida cotidiana como, por exemplo, o
planejamento e a implementação de programas para reduzir ao mínimo os resíduos perigosos, a
realização de auditorias dos materiais perigosos ou o estabelecimento de programas reguladores
apropriados;
(d) Promover o treinamento de trabalhadores, administradores de empresas e
empregados da administração pública encarregados da regulamentação dos países em
desenvolvimento em tecnologias para a redução ao mínimo e para o manejo de resíduos
perigosos de forma ambientalmente saudável,
20.28. Devem ser realizadas também as seguintes atividades:
Agenda 21 - Global 275

(a) Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a


colaboração das Nações Unidas, outras organizações e organizações não-governamentais, devem
colaborar na elaboração e difusão de materiais educativos relativos aos resíduos perigosos e seus
efeitos sobre o meio ambiente e a saúde humana, para uso em escolas, grupos de mulheres e pelo
público em geral;
(b) Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a
colaboração das Nações Unidas e outras organizações, devem estabelecer ou fortalecer
programas para um manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos, em conformidade
com as normas sanitárias e ambientais, quando apropriado, e ampliar o alcance dos sistemas de
vigilância com o objetivo de identificar os efeitos prejudiciais para a população e o meio
ambiente da exposição aos resíduos perigosos;
(c) As organizações internacionais devem prestar assistência aos Estados membros
na avaliação dos riscos para a saúde e o meio ambiente resultantes da exposição aos resíduos
perigosos e na identificação de suas prioridades no que diz respeito ao controle das várias
categorias ou classes de resíduos;
(d) Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a
colaboração das Nações Unidas e outras organizações pertinentes, devem promover a criação de
centros de excelência para o treinamento em manejo de resíduos perigosos, baseando-se nas
instituições nacionais apropriadas e estimulando a cooperação internacional mediante, inter alia,
vínculos institucionais entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento.
(d) Fortalecimento institucional
20.29. Onde quer que operem, as empresas transnacionais e as grandes empresas devem
introduzir políticas e comprometer-se a adotar normas operativas equivalentes ou não menos
estritas que as que estejam em vigor no país de origem, em relação à produção e depósito dos
resíduos perigosos e os Governos são convidados a se esforçar para estabelecer regulamentos em
que se requeira o manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos.
20.30. As organizações internacionais devem prestar assistência aos Estados membros na
avaliação dos riscos para a saúde e o meio ambiente resultantes da exposição aos resíduos
perigosos e na identificação de suas prioridades no que diz respeito ao controle das várias
categorias ou classes de resíduos;
20.31. Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a colaboração
das Nações Unidas e outras organizações e indústrias pertinentes, devem:
(a) Apoiar as instituições nacionais para que tratem dos resíduos perigosos da
perspectiva do monitoramento regulador e da execução, facilitando-lhes os meios para
implementar convenções internacionais;
(b) Desenvolver instituições com base na indústria para tratar dos resíduos
perigosos e empresas de serviços para a manipulação desses resíduos;
(c) Adotar diretrizes técnicas para o manejo ambientalmente saudável dos resíduos
perigosos e apoiar a implementação de convenções regionais e internacionais;
(d) Desenvolver e ampliar uma rede internacional de especialistas que prestem
serviços sobre resíduos perigosos e manter um fluxo de informação entre os países;
(e) Avaliar a possibilidade de estabelecer e operar centros nacionais, sub-regionais
e regionais de tratamento dos resíduos perigosos. Esses centros poderão ser utilizados para ensino
e treinamento, bem como para facilitar e promover a transferência de tecnologias para o manejo
ambientalmente saudável dos resíduos perigosos;
(f) Identificar e fortalecer instituições acadêmicas ou de pesquisas, bem como
centros de excelência pertinentes para que possam desempenhar atividades de ensino e
Agenda 21 - Global 276

treinamento sobre o manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos;


(g) Desenvolver um programa para o estabelecimento de meios e capacidades
nacionais para educar e treinar pessoal nos vários níveis do manejo de resíduos perigosos;
(h) Realizar auditorias ambientais das indústrias existentes para melhorar seus
sistemas internos de manejo de resíduos perigosos.

C. Promoção e fortalecimento da cooperação internacional para o manejo dos movimentos


transfronteiriços de resíduos perigosos

Base para a ação

20.32. Para promover e fortalecer a cooperação internacional no manejo dos movimentos


transfronteiriços de resíduos perigosos, incluindo atividades de fiscalização e monitoramento,
deve-se aplicar uma abordagem de precaução. É necessário harmonizar os procedimentos e
critérios usados nos diversos instrumentos jurídicos e internacionais. É necessário também
desenvolver ou harmonizar os critérios existentes para a identificação dos resíduos perigosos para
o meio ambiente e criar uma capacidade de monitoramento.

Objetivos

20.33. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Facilitar e fortalecer a cooperação internacional para o manejo ambientalmente
saudável dos resíduos perigosos, inclusive o controle e monitoramento dos movimentos
transfronteiriços de tais resíduos, entre eles os resíduos destinados a recuperação por meio da
aplicação de critérios internacionalmente aprovados de identificação e classificação dos resíduos
perigosos e harmonizar os instrumentos jurídicos internacionais pertinentes;
(b) Proscrever ou proibir, quando apropriado, a exportação de resíduos perigosos
aos países que não têm a capacidade necessária para tratar desses resíduos de forma
ambientalmente saudável, ou que proibiram sua importação;
(c) Promover o desenvolvimento de procedimentos de controle para o movimento
transfronteiriço de resíduos perigosos destinados a operações de recuperação, de acordo com a
Convenção de Basiléia, que estimulem opções de reciclagem ambiental e economicamente
saudáveis.

Atividades

(a) Atividades de manejo


Fortalecimento e harmonização de critérios e regulamentos
20.34. Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a colaboração
das Nações Unidas e outras organizações pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Incorporar à legislação nacional o procedimento de notificação previsto na
Convenção de Basiléia e em outros convênios regionais pertinentes, assim como em seus anexos;
(b) Formular, quando apropriado, acordos regionais, tais como a Convenção de
Bamaco, para regulamentar os movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos;
(c) Ajudar a promover a compatibilidade e complementaridade entre tais acordos
regionais e convenções e protocolos internacionais;
(d) Fortalecer a capacidade e os meios nacionais e regionais de monitoramento e
Agenda 21 - Global 277

controle do movimento transfronteiriço de resíduos perigosos;


(e) Promover o desenvolvimento de critérios e diretrizes claros, tendo por
referência a Convenção de Basiléia e os convênios regionais, quando apropriado, para a operação
ambiental e econômicamente saudável de recuperação, reciclagem, aproveitamento, uso direto ou
usos alternativos de recursos e para a determinação de práticas aceitáveis de recuperação,
inclusive níveis de recuperação, quando viável e adequado, tendo em vista prevenir os abusos e a
apresentação fraudulenta dessas atividades;
(f) Examinar a possibilidade de estabelecer nos planos nacional e regional, quando
apropriado, sistemas de vigilância e monitoramento dos movimentos transfronteiriços dos
resíduos perigosos;
(g) Desenvolver diretrizes para a avaliação do tratamento ambientalmente
saudável dos resíduos perigosos;
(h) Desenvolver diretrizes para a determinação dos resíduos perigosos no plano
nacional, levando em consideração os critérios acordados internacionalmente e, quando
apropriado, os critérios acordados regionalmente, e preparar uma lista de perfis de risco dos
resíduos perigosos enumerados na legislação nacional;
(i) Desenvolver e utilizar métodos adequados para testar, caracterizar e classificar
os resíduos perigosos e adotar normas e princípios de segurança, ou adaptar as existentes, para
um manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos.
Implementação dos acordos existentes
20.35. Os Governos são instados a ratificar a Convenção de Basiléia e a Convenção de
Bamaco e a elaborar, sem demora, protocolos correspondentes, tais como protocolos sobre
responsabilidade e indenização, e mecanismos e diretrizes necessários para facilitar a
implementação das convenções.

Meios de execução

(a) Financiamento e estimativa de custos


20.36. Tendo em vista que esta área de programas abrange um campo de operações
relativamente novo e que até o momento não foram realizados estudos suficientes para
determinar o custo das atividades previstas, não se dispõe, atualmente, de uma estimativa de
custos. Entretanto, pode-se considerar que os custos de algumas atividades relacionadas com o
fortalecimento institucional e técnico apresentadas neste programa estão incluídos na estimativa
de custos da área de programas B.
20.37. O Secretariado interino da Convenção de Basiléia deve realizar estudos para
chegar a uma estimativa de custos razoável para as atividades que irão realizar-se inicialmente até
o ano 2000.
(b) Fortalecimento institucional
20.38. Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a colaboração
das Nações Unidas e outras organizações pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Elaborar ou adotar políticas para o manejo ambientalmente saudável dos
resíduos perigosos, levando em consideração os instrumentos internacionais existentes;
(b) Fazer recomendações aos órgãos apropriados ou estabelecer ou adaptar
normas, inclusive a implementação eqüitativa do princípio de "quem polui paga", e medidas
reguladoras para cumprir as obrigações e princípios da Convenção de Basiléia, da Convenção de
Bamaco e de outros acordos existentes ou futuros, inclusive os protocolos, quando apropriado,
para estabelecer normas e procedimentos apropriados no que diz respeito à responsabilidade e à
Agenda 21 - Global 278

indenização pelos danos causados pelo movimento transfronteiriço e pelo depósito de resíduos
perigosos;
(c) Implementar políticas para a implantação de proscrição ou proibição, conforme
o caso, das exportações de resíduos perigosos aos países que não tenham capacidade para tratar
desses resíduos de maneira ambientalmente saudável ou que tenham proibido a sua importação;
(d) Estudar, no contexto da Convenção de Basiléia e dos convênios regionais
pertinentes, a viabilidade de prestar assistência financeira temporária no caso de uma situação de
emergência, a fim de reduzir ao mínimo os danos resultantes de acidentes produzidos por
movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos ou durante o depósito desses resíduos.

D. Prevenção do tráfico internacional ilícito de resíduos perigosos

Base para a ação

20.39 A prevenção do tráfico ilícito de resíduos perigosos redundará em benefícios para o


meio ambiente e a saúde pública em todos os países, principalmente para os países em
desenvolvimento. A prevenção ajudará também a tornar mais eficazes a Convenção de Basiléia e
outros instrumentos internacionais regionais, tais como a Convenção de Bamaco e a Quarta
Convenção de Lomé, ao promover o respeito aos controles estabelecidos nesses acordos. O artigo
IX da Convenção de Basiléia aborda especificamente a questão do transporte ilícito dos resíduos
perigosos. O tráfico ilícito dos resíduos perigosos pode causar graves ameaças para a saúde
humana e o meio ambiente e impor aos países que recebem essas cargas uma responsabilidade
especial e anormal.
20.40. A prevenção eficaz requer ação por meio de monitoramento efetivo, aplicação e
imposição de penalidades apropriadas.

Objetivos

20.41. Os objetivos desta área de programas são:


(a) Fortalecer a capacidade nacional para detectar e reprimir qualquer tentativa
ilícita de introduzir resíduos perigosos no território de qualquer Estado, em violação da legislação
nacional e dos instrumentos jurídicos internacionais pertinentes;
(b) Prestar assistência a todos os países, principalmente aos países em
desenvolvimento, para que obtenham toda informação pertinente sobre o tráfico ilícito de
resíduos perigosos;
(c) Cooperar, no quadro da Convenção de Basiléia, na prestação no auxílio aos
países que sofrem as conseqüências do tráfico ilícito.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


20.42. Os Governos, segundo sua capacidade e os recursos disponíveis e com a
colaboração das Nações Unidas e outras organizações pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Adotar, quando necessário, e implementar legislação para prevenir a
importação e exportação ilícitas de resíduos perigosos;
(b) Elaborar programas nacionais de execução da lei apropriados para monitorar o
cumprimento dessa legislação, detectar e reprimir as violações aplicando sanções apropriadas e
Agenda 21 - Global 279

prestar atenção especial aos que sabidamente participaram no tráfico ilícito de resíduos perigosos
e aos resíduos perigosos que são particularmente suscetíveis de tráfico ilícito.
(b) Dados e informação
20.43. Os Governos devem estabelecer, quando apropriado, uma rede de informação e
um sistema de alerta para apoiar o trabalho de detecção do tráfico ilícito de resíduos perigosos.
As comunidades locais e outros interessados podem participar da operação dessa rede e desse
sistema.
20.44. Os Governos devem cooperar no intercâmbio de informação sobre movimentos
transfronteiriços ilícitos de resíduos perigosos e colocar essa informação à disposição dos órgãos
pertinentes das Nações Unidas, tais como o PNUMA e as comissões regionais.
(c) Cooperação e coordenação internacional e regional
20.45. As comissões regionais, em cooperação com o PNUMA e outros órgãos
pertinentes do sistema das Nações Unidas, contando com o apoio e o assessoramento de
especialistas destes órgãos e levando plenamente em consideração a Convenção de Basiléia,
continuarão monitorando e avaliando o tráfico ilícito de resíduos perigosos, inclusive suas
conseqüências para o meio ambiente, a economia e a saúde pública, de maneira permanente,
valendo-se dos resultados da avaliação preliminar conjunta do PNUMA/CESPAP do tráfico
ilícito, assim como da experiência adquirida nessa avaliação.
20.46. Os países e as organizações internacionais, quando apropriado, devem cooperar no
fortalecimento da capacidade institucional e reguladora, principalmente dos países em
desenvolvimento, a fim de prevenir a importação e exportação ilícitas de resíduos perigosos.
Agenda 21 - Global 280

Capítulo 21

MANEJO AMBIENTALMENTE SAUDÁVEL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E QUESTÕES


RELACIONADAS COM OS ESGOTOS

Introdução

21.1. O presente capítulo foi incorporado à Agenda 21 em cumprimento ao disposto no


parágrafo 3 da seção I da resolução 44/228 da Assembléia Geral, no qual a Assembléia afirmou
que a Conferência devia elaborar estratégias e medidas para deter e inverter os efeitos da
degradação do meio ambiente no contexto da intensificação dos esforços nacionais e
internacionais para promover um desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em
todos os países, e no parágrafo 12 g) da seção I da mesma resolução, no qual a Assembléia
afirmou que o manejo ambientalmente saudável dos resíduos se encontrava entre as questões
mais importantes para a manutenção da qualidade do meio ambiente da Terra e, principalmente,
para alcançar um desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em todos os países.
21.2. As áreas de programas incluídas no presente capítulo da Agenda 21 estão
estreitamente relacionadas com as seguintes áreas de programas de outros capítulos da Agenda
21:
(a) Proteção da qualidade e da oferta dos recursos de água doce: (capítulo 18);
(b) Promoção do desenvolvimento sustentável dos estabelecimentos humanos
(capítulo 7);
(c) Proteção e promoção da salubridade (capítulo 6);
(d) Mudança dos padrões de consumo (capítulo 4).
21.3. Os resíduos sólidos, para os efeitos do presente capítulo, compreendem todos os
restos domésticos e resíduos não perigosos, tais como os resíduos comerciais e institucionais, o
lixo da rua e os entulhos de construção. Em alguns países, o sistema de gestão dos resíduos
sólidos também se ocupa dos resíduos humanos, tais como excrementos, cinzas de incineradores,
sedimentos de fossas sépticas e de instalações de tratamento de esgoto. Se manifestarem
características perigosas, esses resíduos devem ser tratados como resíduos perigosos.
21.4. O manejo ambientalmente saudável desses resíduos deve ir além do simples
depósito ou aproveitamento por métodos seguros dos resíduos gerados e buscar resolver a causa
fundamental do problema, procurando mudar os padrões não sustentáveis de produção e
consumo. Isso implica na utilização do conceito de manejo integrado do ciclo vital, o qual
apresenta oportunidade única de conciliar o desenvolvimento com a proteção do meio ambiente.
21.5. Em conseqüência, a estrutura da ação necessária deve apoiar-se em uma hierarquia
de objetivos e centrar-se nas quatro principais áreas de programas relacionadas com os resíduos, a
saber:
(a) Redução ao mínimo dos resíduos;
(b) Aumento ao máximo da reutilização e reciclagem ambientalmente saudáveis
dos resíduos;
(c) Promoção do depósito e tratamento ambientalmente saudáveis dos resíduos;
(d) Ampliação do alcance dos serviços que se ocupam dos resíduos.
21.6. Como as quatro áreas de programas estão correlacionadas e se apóiam mutuamente,
devem estar integradas a fim de constituir uma estrutura ampla e ambientalmente saudável para o
manejo dos resíduos sólidos municipais. A combinação de atividades e a importância que se dá a
Agenda 21 - Global 281

cada uma dessas quatro áreas variarão segundo as condições sócio-econômicas e físicas locais,
taxas de produção de resíduos e a composição destes. Todos os setores da sociedade devem
participar em todas as áreas de programas.

Áreas de Programas

A. Redução ao mínimo dos resíduos

Base para a ação

21.7. A existência de padrões de produção e consumo não sustentáveis está aumentando a


quantidade e variedade dos resíduos persistentes no meio ambiente em um ritmo sem precedente.
Essa tendência pode aumentar consideravelmente as quantidades de resíduos produzidos até o
fim do século e quadruplicá-los ou quintuplicá-los até o ano 2025. Uma abordagem preventiva do
manejo dos resíduos centrada na transformação do estilo de vida e dos padrões de produção e
consumo oferece as maiores possibilidades de inverter o sentido das tendências atuais.

Objetivos

21.8. Os objetivos desta área são:


(a) Estabelecer ou reduzir, em um prazo acordado, a produção de resíduos
destinados o depósito definitivo, formulando objetivos baseados em peso, volume e composição
dos resíduos e promover a separação para facilitar a reciclagem e a reutilização dos resíduos;
(b) Reforçar os procedimentos para determinar a quantidade de resíduos e as
modificações em sua composição com o objetivo de formular políticas de minimização dos
resíduos, utilizando instrumentos econômicos ou de outro tipo para promover modificações
benéficas nos padrões de produção e consumo.
21.9. Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a cooperação
das Nações Unidas e de outras organizações pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Até o ano 2000, assegurar uma capacidade nacional, regional e internacional
suficiente para obter, processar e monitorar a informação sobre a tendência dos resíduos e
implementar políticas destinadas para sua redução ao mínimo;
(b) Até o ano 2000, estabelecer, em todos os países industrializados, programas
para estabilizar ou diminuir, caso seja praticável, a produção de resíduos destinados o depósito
definitivo, inclusive os resíduos per cápita (nos casos em que este conceito se aplica), no nível
alcançado até essa data; os países em desenvolvimento devem também trabalhar para alcançar
esse objetivo sem comprometer suas perspectivas de desenvolvimento;
(c) Aplicar até o ano 2000, em todos os países e, em particular, nos países
industrializados, programas para reduzir a produção de resíduos agroquímicos, contêineres e
materiais de embalagem que não cumpram as normas para materiais perigosos.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


21.10. Os Governos devem iniciar programas para manter a redução ao mínimo da
produção de resíduos. As organizações não-governamentais e os grupos de consumidores devem
ser estimulados a participar desses programas, que podem ser elaborados com a cooperação das
Agenda 21 - Global 282

organizações internacionais, caso necessário. Esse programas devem basear-se , sempre que
possível, nas atividades atuais ou previstas e devem:
(a) Desenvolver e fortalecer as capacidades nacionais de pesquisa e elaboração de
tecnologias ambientalmente saudáveis, assim como adotar medidas para diminuir os resíduos ao
mínimo;
(b) Estabelecer incentivos para reduzir os padrões de produção e consumo não
sustentáveis;
(c) Desenvolver, quando necessário, planos nacionais para reduzir ao mínimo a
geração de resíduos como parte dos planos nacionais de desenvolvimento;
(d) Enfatizar as considerações sobre as possibilidade de reduzir ao mínimo os
resíduos nos contratos de compras dentro do sistema das Nações Unidas.
(b) Dados e informações
21.11. O monitoramento é um requisito essencial para acompanhar de perto as mudanças
na quantidade e qualidade dos resíduos e sua conseqüências para a saúde e o meio ambiente. Os
Governos, com o apoio das organizações internacionais, devem:
(a) Desenvolver e aplicar metodologias para o monitoramento de resíduos no
plano nacional;
(b) Reunir e analisar dados, estabelecer objetivos nacionais e acompanhar os
progressos;
(c) Utilizar dados para avaliar se as políticas nacionais para os resíduos são
ambientalmente saudáveis e estabelecer bases para a ação corretiva;
(d) Introduzir informações nos sistemas de informação mundiais.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
21.12. As Nações Unidas e as organizações intergovernamentais, com a colaboração dos
Governos, devem ajudar a promover a minimização dos resíduos facilitando um maior
intercâmbio de informação, conhecimentos técnicos-científicos e experiência. O que se segue é
uma lista não exaustiva das atividades especifícas que podem ser empreendidas:
(a) Identificar, desenvolver e harmonizar metodologias para monitorar a produção
de resíduos e transferir essas metodologias aos países;
(b) Identificar e ampliar as atividades das redes de informação existentes sobre
tecnologias limpas e minimização dos resíduos;
(c) Realizar avaliação periódica, cotejar e analisar os dados dos países e informar,
sistematicamente, em um foro apropriado das Nações Unidas, aos países interessados;
(d) Examinar a eficácia de todos os instrumentos de redução dos resíduos e
determinar os novos instrumentos que podem ser utilizados, assim como as técnicas por meio das
quais podem ser colocados em prática nos países. Devem-se desenvolver diretrizes e códigos de
conduta;
(e) Empreender pesquisas sobre os impactos social e econômico, entre os
consumidores, da redução ao mínimo dos resíduos.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


21.13. A secretaria da Conferência sugere que os países industrializados considerem a
possibilidade de investir na redução ao mínimo dos resíduos o equivalente da aproximadamente 1
por cento dos gastos de manejo dos resíduos sólidos e depósitos de esgotos. Em cifras atuais, essa
soma alcançaria em torno de $6.5 bilhões de dólares anuais, incluindo aproximadamente $1.8
Agenda 21 - Global 283

bilhões de dólares para reduzir ao mínimo os resíduos sólidos municipais. As somas reais devem
ser determinadas pelas autoridades municipais, provinciais e nacionais pertinentes, baseando-se
nas circunstâncias locais.
(b) Meios científicos e tecnológicos
21.14 É necessário identificar e difundir amplamente tecnologias e procedimentos
adequados para reduzir ao mínimo os resíduos. Esse trabalho deve ser coordenado pelos
Governos, com a cooperação e colaboração de organizações não-governamentais, instituições de
pesquisa e organismos competentes das Nações Unidas e pode compreender:
(a) Empreender um exame contínuo da eficácia de todos os instrumentos de
redução ao mínimo dos resíduos e identificar novos instrumentos que possam ser utilizados,
assim como técnicas por meio das quais esses instrumentos possam ser colocados em prática nos
países. Devem-se desenvolver diretrizes e códigos de conduta;
(b) Promover a prevenção e a redução ao mínimo dos resíduos como objetivo
principal dos programas nacionais de manejo de resíduos;
(c) Promover o ensino público e uma gama de incentivos reguladores e não
reguladores para estimular a indústria a modificar o projeto dos produtos e reduzir os resíduos
procedentes dos processos industriais mediante o uso de tecnologias de produção mais limpas e
boas práticas administrativas, assim como estimular a indústria e os consumidores a utilizar tipos
de embalagens que possam voltar a ser utilizados sem risco;
(d) Executar, de acordo com as capacidades nacionais, programas-pilotos e de
demonstração para otimizar os instrumentos de redução dos resíduos;
(e) Estabelecer procedimentos para o transporte, o armazenamento, a conservação
e o manejo adequados de produtos agrícolas, alimentos e outras mercadorias perecíveis, a fim de
reduzir as perdas desses produtos que conduzem à produção de resíduos sólidos;
(f) Facilitar a transferência de tecnologias de redução dos resíduos para a indústria,
principalmente nos países em desenvolvimento, e estabelecer normas nacionais concretas para os
efluentes e resíduos sólidos, levando em consideração, inter alia, o consumo de matérias primas e
energia.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
21.15. O desenvolvimento dos recursos humanos para a minimização dos resíduos não
deve se destinar apenas aos profissionais do setor de manejo dos resíduos, mas também deve
buscar o apoio dos cidadãos e da indústria. Os programas de desenvolvimento dos recursos
humanos devem ter por objetivo conscientizar, educar e informar os grupos interessados e o
público em geral. Os países devem incorporar aos currículos das escolas, quando apropriado, os
princípios e práticas referentes à prevenção e redução dos resíduos e material sobre os impactos
dos resíduos sobre o meio ambiente.

B. Maximização ambientalmente saudável do reaproveitamento e da reciclagem dos


resíduos

Base para a ação

21.16. O esgotamento dos locais de despejo tradicionais, a aplicação de controles


ambientais mais estritos no depósito de resíduos e o aumento da quantidade de resíduos de maior
persistência, especialmente nos países industrializados, contribuiram em conjunto para o rápido
aumento dos custos dos serviços de depósito dos resíduos. Esses custos podem duplicar ou
triplicar até o final da década. Algumas das práticas atuais de depósito ameaçam o meio
Agenda 21 - Global 284

ambiente. Na medida em que se modifica a economia dos serviços de depósito de resíduos, a


reciclagem deles e a recuperação de recursos ficam cada dia mais rentáveis. Os futuros programas
de manejo de resíduos devem aproveitar ao máximo as abordagens do controle de resíduos
baseadas no rendimento dos recursos. Essas atividades devem realizar-se em conjunto com
programas de educação do público. É importante que se identifiquem os mercados para os
produtos procedentes de materiais reaproveitados ao elaborar os programas de reutilização e
reciclagem.

Objetivos

21.17. Os objetivos nesta área de programas são:


(a) Fortalecer e ampliar os sistemas nacionais de reutilização e reciclagem dos
resíduos;
(b) Criar, no sistema das Nações Unidas, um programa modelo para a reutilização
e reciclagem internas dos resíduos gerados, inclusive do papel;
(c) Difundir informações, técnicas e instrumentos de política adequados para
estimular e operacionalizar os sistemas de reutilização e reciclagem de resíduos.
21.18. Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a cooperação
das Nações Unidas e de outras organizações pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Até o ano 2000, promover capacidades financeira e tecnológicas suficientes
nos planos regional, nacional e local, quando apropriado, para implementar políticas e ações de
reutilização e reciclagem dos resíduos;
(b) Ter, até o ano 2000 em todos os países industrializados e até o ano 2010 em
todos os países em desenvolvimento, um programa nacional que inclua, na medida do possível,
metas para a reutilização e reciclagem eficazes dos resíduos.

Atividades

(a) Atividades de manejo


21.19. Os Governos, as instituições e as organizações não- governamentais, inclusive
grupos de consumidores, mulheres e jovens, em colaboração com os organismos pertinentes do
sistema das Nações Unidas, devem lançar programas para demonstrar e tornar operacional a
reutilização e reciclagem de um volume maior de resíduos. Esses programas, sempre que
possível, devem basear-se em atividades já em curso ou projetadas e:
(a) Desenvolver e fortalecer a capacidade nacional de reutilizar e reciclar uma
proporção de resíduos cada vez maior;
(b) Examinar e reformar as políticas nacionais para os resíduos, a fim de
proporcionar incentivos para a reutilização e reciclagem deles;
(c) Desenvolver e implementar planos nacionais para o manejo dos resíduos que
aproveitem a reutilização e reciclagem dos resíduos e dêem prioridade a elas;
(d) Modificar as normas vigentes ou as especificações de compra para evitar
discriminação em relação aos materiais reciclados, levando em consideração a economia no
consumo de energia e em matérias-primas;
(e) Desenvolver programas de conscientização e informação do público para
promover a utilização de produtos reciclados.
(b) Dados e informações
21.20. A informação e pesquisa são necessárias para determinar formas vantajosas,
Agenda 21 - Global 285

rentáveis e socialmente aceitáveis de reaproveitamento ou reciclagem de resíduos que estejam


adaptadas a cada país. Por exemplo, as atividades de apoio empreendidas pelos Governos
nacionais e locais em colaboração com as Nações Unidas e outras organizações internacionais
podem compreender:
(a) A realização de um amplo exame das opções e técnicas de reciclagem de todas
as formas de resíduos sólidos municipais. As políticas de reutilização e reciclagem devem ser
parte integrante dos programas nacionais e locais de manejo de resíduos;
(b) A avaliação do alcance e dos métodos das atuais operações de reutilização e
reciclagem de resíduos e a identificação de formas para intensificá-las e apoiá-las;
(c) O aumento do financiamento de programas-pilotos de pesquisa com o fim de
testar diversas opções de reutilização e reciclagem de resíduos, entre elas, a utilização de
pequenas indústrias artesanais de reciclagem; a produção de adubo orgânico; a irrigação com
águas residuais tratadas; e a recuperação de energia a partir dos resíduos;
(d) A produção de diretrizes e melhores condutas para a reutilização e reciclagem
de resíduos;
(e) A intesificação dos esforços para coletar, analisar e difundir informações
relevantes sobre a questão dos resíduos para grupos com atuação nessa área. Podem-se oferecer
bolsas especiais de pesquisa, concedidas por concurso, para projetos de pesquisa inovadores
sobre técnicas de reciclagem;
(f) A identificação de mercados potenciais para produtos reciclados.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
21.21. Os Estados, por meio de cooperação bilateral e multilateral, inclusive com as
Nações Unidas e outras organizações internacionais pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Examinar periodicamente em que medida os países reutilizam e reciclam seus
resíduos;
(b) Examinar a eficácia das técnicas e métodos de reutilização e reciclagem de
resíduos e estudar a maneira de aumentar sua aplicação nos países;
(c) Examinar e atualizar as diretrizes internacionais para a reutilização e
reciclagem segura de resíduos;
(d) Estabelecer programas adequados para apoiar indústrias de reutilização e
reciclagem de resíduos de comunidades pequenas nos países em desenvolvimento.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


21.22. O Secretariado da Conferência estimou que, se o equivalente a 1 por cento dos
gastos municipais de manejo de resíduos for dedicado a projetos de reutilização dos resíduos por
meio de métodos seguros, os gastos mundiais para esse fim alcançarão $8 bilhões de dólares. O
Secretariado estima o custo total anual médio (1993-2000) da implementação das atividades desta
área de programas nos países em desenvolvimento em cerca de $850 milhões de dólares, em
termos concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a impementação.
(b) Meio científicos e tecnológicos
21.23 A transferência de tecnologia deve apoiar a reciclagem e a reutilização de resíduos
da seguinte forma:
Agenda 21 - Global 286

(a) Incluir a transferência de tecnologias de reciclagem, tais como máquinas para o


reaproveitamento dos plásticos, cola e papel, nos programas de ajuda e cooperação técnicas
bilaterais e multilaterais;
(b) Desenvolver e melhorar as tecnologias existentes, especialmente as autóctones,
e facilitar sua transferência, no âmbito dos programas em curso de assistência técnica regional e
inter-regional;
(c) Facilitar a transferência de tecnologia de reutilização e reciclagem de resíduos.
21.24. Os incentivos para a reutilização e reciclagem de resíduos são numerosos. Os
países podem considerar as seguintes opções para incentivar a indústria, as instituições, os
estabelecimentos comerciais e os indivíduos a reciclar os resíduos, ao invés de eliminá-los:
(a) Oferecer incentivos às autoridades locais e municipais que reciclam a máxima
proporção de seus resíduos;
(b) Proporcionar assistência técnica às atividades informais de reutilização e
reciclagem de resíduos;
(c) Empregar instrumentos econômicos e regulamentadores, inclusive incentivos
fiscais, para apoiar o princípio de que os que produzem resíduos devem pagar por seu depósito;
(d) Prever as condições jurídicas e econômicas que conduzam o investimento para
a reutilização e reciclagem de resíduos;
(e) Implementar mecanismos específicos, tais como sistemas de depósito e
devolução, como incentivo para a reutilização e reciclagem;
(f) Promover a coleta em separado das partes recicláveis dos resíduos domésticos;
(g) Proporcionar incentivos para aumentar a comercialidade dos resíduos
tecnicamente recicláveis;
(h) Estimular o uso de materiais recicláveis, principalmente embalagens, sempre
que possível;
(i) Estimular o desenvolvimento de mercados para produtos reciclados
estabelecendo programas .
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
21.25. Será necessário um treinamento para reorientar as práticas atuais de manejo dos
resíduos a fim de incluir a reutilização e a reciclagem deles. Os Governos, em colaboração com
as Nações Unidas e organizações internacionais e regionais, devem tomar as medidas que
constam da seguinte lista indicativa:
(a) Incluir nos programas de treinamento em serviço o reutilização e a reciclagem
de resíduos como parte integrante dos programas de cooperação técnica de manejo urbano e
desenvolvimento de infraestrutura;
(b) Ampliar os programas de treinamento em abastecimento de água e saneamento
para incorporar de técnicas e políticas de reutilização e reciclagem de resíduos;
(c) Incluir as vantagens e obrigações cívicas associadas a reutilização e reciclagem
de resíduos nos currículos escolares e nos cursos pertinentes de educação geral;
(d) Estimular as organizações não-governamentais, as organizações comunitárias,
os programas de grupos de mulheres, de jovens e de interesse público, em colaboração com as
autoridades municipais locais, a mobilizar o apoio comunitário para a reutilização e reciclagem
de resíduos por meio de campanhas centradas na comunidade.
(d) Fortalecimento institucional
21.26. A fortalecimento institucional e técnica de apoio à reutilização e reciclagem de um
maior volume de resíduos deve centrar-se nas seguintes áreas:
(a) Por em prática políticas nacionais e incentivos para o manejo de resíduos;
Agenda 21 - Global 287

(b) Possibilitar que as autoridades locais e municipais mobilizem o apoio da


comunidade para a reutilização e reciclagem de resíduos, interessando e prestando assistência ao
setor informal nas atividades de reutilização e reciclagem de resíduos e planejando um manejo de
resíduos que incorpore sistemas de recuperação de recursos.

C. Promoção do depósito e tratamento ambientalmente saudáveis dos resíduos

Base para a ação

21.27. Mesmo quando os resíduos são minimizados, algum resíduo sempre resta. Mesmo
depois de tratadas, todas as descargas de resíduos produzem algum impacto residual no meio
ambiente que as recebe. Conseqüentemente, existe uma margem para melhorar as práticas de
tratamento e depósito dos resíduos, como, por exemplo, evitar a descarga de lamas residuais no
mar. Nos países em desenvolvimento, esse problema tem um caráter ainda mais fundamental:
menos de 10 por cento dos resíduos urbanos são objeto de algum tratamento e apenas em
pequena proporção tal tratamento responde a uma norma de qualidade aceitável. Deve-se
conceder a devida prioridade ao tratamento e depósito de matérias fecais devido à ameaça que
representam para a saúde humana.

Objetivos

21.28. O objetivo nesta área é tratar e depositar com segurança uma proporção crescente
dos resíduos gerados.
21.29. Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a cooperação
das Nações Unidas e outras organizações pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Estabelecer, até o ano 2000, critérios de qualidade, objetivos e normas para o
tratamento e o depósito de resíduos baseados na natureza e capacidade de assimilação do meio
ambiente receptor;
(b) Estabelecer, até o ano 2000, capacidade suficiente para monitorar o impacto da
poluição relacionada aos resíduos e manter uma vigilância sistemática, inclusive epidemiológica,
quando apropriado;
(c) Tomar providências para que até o ano 1995, nos países industrializados, e
2005, nos países em desenvolvimento, pelo menos 50 por cento do esgoto, das águas residuais e
dos resíduos sólidos sejam tratados ou eliminados em conformidade com diretrizes nacionais ou
internacionais de qualidade ambiental e sanitária;
(d) Depositar, até o ano 2025, todo o esgoto, águas residuais e resíduos sólidos de
acordo com diretrizes nacionais ou internacionais de qualidade ambiental.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


21.30. Os Governos, as instituições e as organizações não- governamentais, junto com a
indústria e em colaboração com as organizações pertinentes do sistema das Nações Unidas,
devem iniciar programas para melhorar o manejo e a redução da poluição causada pelos resíduos.
Sempre que possível, esses programas devem basear-se em atividades já em curso ou projetadas e
devem:
(a) Desenvolver e fortalecer a capacidade nacional de tratar os resíduos e depositá-
Agenda 21 - Global 288

los com segurança;


(b) Examinar e reformar as políticas nacionais de manejo de resíduos para
controlar a poluição relacionada com os resíduos;
(c) Estimular os países a buscar soluções para o depósito dos resíduos dentro do
território soberano deles e no lugar mais próximo possível da fonte de origem que seja
compatível com o manejo ambientalmente saudável e eficiente. Em alguns países, movimentos
transfronteiriços asseguram o manejo ambientalmente saudável e eficiente dos resíduos. Esse
movimentos cumprem as convenções pertinentes, inclusive as que se aplicam a zonas que não se
encontram sob a jurisdição nacional;
(d) Desenvolver planos de manejo dos resíduos de origem humana, dando a
devida atenção ao desenvolvimento e aplicação de tecnologias apropriadas e à disponibilidade de
recursos para sua aplicação.
(b) Dados e informações
21.31. Estabelecer normas e monitorar são dois elementos chave para assegurar o
controle da poluição devida aos resíduos. As seguintes atividades específicas são indicativas dos
tipos de medidas de apoio que podem ser tomadas por órgãos internacionais, tais como o Centro
das Nações Unidas para os Estabelecimentos Humanos (Hábitat), o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e a Organização Mundial da Saúde:
(a) Reunir e analisar provas científicas do impacto poluidor dos resíduos sobre o
meio ambiente com o objetivo de formular e difundir diretrizes e critérios científicos
recomendados para o manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos;
(b) Recomendar normas de qualidade ambiental nacionais e, quando apropriado,
locais baseadas em critérios e diretrizes de caráter científico;
(c) Incluir nos programas e acordos de cooperação técnica o provimento de
equipamento de monitoramento e do treinamento necessário para sua utilização;
(d) Estabelecer um serviço central de informação, com uma extensa rede regional,
nacional e local, para coletar e difundir informações sobre todos os aspectos do manejo de
resíduos, inclusive seu depósito em condições de segurança.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
21.32. Os Estados, por meio da cooperação bilateral e multilateral, inclusive com as
Nações Unidas e outras organizações internacionais pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Identificar, desenvolver e harmonizar metodologias e diretrizes de qualidade
ambiental e de saúde para a descarga e o depósito de resíduos em condições de segurança;
(b) Examinar e acompanhar o desenvolvimento e difundir informação sobre a
eficácia das técnicas e abordagens para o depósito dos resíduos com segurança e sobre as
maneiras de apoiar sua aplicação nos países.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


21.33. Os programas de depósito de resíduos em condições de segurança concernem
tanto aos países desenvolvidos como aos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos,
o foco está na melhoria das instalações para cumprir com critérios de qualidade ambiental mais
elevados, enquanto que nos países em desenvolvimento, é preciso um investimento considerável
para construir novas instalações de tratamento.
21.34. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa nos países em desenvolvimento em cerca de $15
Agenda 21 - Global 289

bilhões de dólares, inclusive cerca de $3.4 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade
internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e
aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os
não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os
Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
21.35. As diretrizes científicas e as pesquisas sobre os diversos aspectos do controle da
poluição relacionada com os resíduos serão decisivas para alcançar os objetivos deste programa.
Os Governos, os municípios e as autoridades locais, com a devida cooperação internacional,
devem:
(a) Preparar diretrizes e relatórios técnicos sobre questões tais como a integração
do planejamento do uso das terras para estabelecimentos humanos com o depósito dos resíduos,
de normas e critérios de qualidade ambiental; das opções para o tratamento e o depósito dos
resíduos com segurança, do tratamento dos resíduos industriais, e das operações de aterros
sanitários;
(b) Empreender pesquisas sobre questões de importância crítica, tais como
sistemas de tratamento de resíduos líquidos de baixo custo e fácil manutenção, opções para o
depósito das lamas residuais em condições de segurança, tratamento dos resíduos industriais e
opções de tecnologias baratas e ambientalmente seguras de depósito de resíduos;
(c) Transferir, em conformidade com os termos e as disposições do capítulo 34,
tecnologias sobre processos de tratamento dos resíduos industriais por intermédio de programas
de cooperação técnica bilaterais e multilaterais, e em cooperação com as empresas e a indústria,
inclusive as empresas grandes e transnacionais, quando apropriado;
(d) Centrar as atividades na reabilitação, funcionamento e manutenção das
instalações existentes e na assistência técnica para o melhoramento das práticas e técnicas de
manutenção, seguidas pelo planejamento e construção de instalações de tratamento de resíduos;
(e) Estabelecer programas para maximizar a separação na fonte e o depósito com
segurança dos componentes perigosos dos resíduos sólidos municipais;
(f) Assegurar que simultaneamente aos serviços de abastecimento de água existam
tanto serviços de coleta de resíduos como instalações de tratamento de resíduos e que se façam
investimentos para a criação desses serviços.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
21.36. Será necessário treinamento a fim de melhorar as práticas atuais de manejo de
resíduos para que incluam a coleta e o depósito dos resíduos com segurança. O que se segue é
uma lista indicativa de medidas que devem ser tomadas pelos Governos, em colaboração com
organismos internacionais:
(a) Oferecer treinamento formal e em serviço centrado no controle da poluição,
nas tecnologias de tratamento e depósito de resíduos e no funcionamento e manutenção da
infraestrutura relativa aos resíduos. Devem-se estabelecer também programas de intercâmbio de
pessoal entre países;
(b) Empreender o treinamento necessário para o monitoramento e aplicação de
medidas de controle da poluição relacionada com os resíduos.
(d) Fortalecimento Institucional
21.37. As reformas institucionais e a fortalecimento institucional e técnica serão
indispensáveis para que os países possam quantificar e mitigar a poluição relacionada com os
resíduos. As atividades para alcançar esse objetivo devem compreender:
(a) A criação e o fortalecimento de órgãos independentes de controle do meio
Agenda 21 - Global 290

ambiente nos planos nacional e local. As organizações internacionais e os doadores devem apoiar
a capacitação de mão-de-obra especializada e o provimento do equipamento necessário;
(b) A atribuição do mandato jurídico e da capacidade financeira necessários aos
organismos de controle da poluição para que cumpram eficazmente as suas funções.

D. Ampliação do alcance dos serviços que se ocupam de resíduos

Base para a ação

21.38. Até o final do século, mais de 2 bilhões de pessoas não terão acesso aos serviços
sanitários básicos e estima-se que a metade da população urbana dos países em desenvolvimento
não contará com serviços adequados de depósito dos resíduos sólidos. Não menos de 5,2 milhões
de pessoas, entre elas 4 milhões de crianças menores de cinco anos, morrem a cada ano devido a
enfermidades relacionadas com os resíduos. As conseqüências para a saúde são especialmente
graves no caso da população urbana pobre. As conseqüências de um manejo pouco adequado
para a saúde e o meio ambiente ultrapassam o âmbito dos estabelecimentos carentes de serviços e
se fazem sentir na contaminação e poluição da água, da terra e do ar em zonas mais extensas. A
ampliação e o melhoramento dos serviços de coleta e depósito de resíduos com segurança são
decisivos para alcançar o controle dessa forma de contaminação.

Objetivos

21.39. O objetivo geral deste programa é prover toda a população de serviços de coleta e
depósito de resíduos ambientalmente seguros que protejam a saúde. Os Governos, segundo sua
capacidade e recursos disponíveis e com a cooperação das Nações Unidas e de outras
organizações pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Até o ano 2000, ter a capacidade técnica e financeira e os recursos humanos
necessários para proporcionar serviços de recolhimento de resíduos a altura de suas necessidades;
(b) Até o ano 2025, oferecer a toda população urbana serviços adequados de
tratamento de resíduos;
(c) Até o ano 2025, assegurar que existam serviços de tratamento de resíduos para
toda a população urbana e serviços de saneamento ambiental para toda a população rural.

Atividades

(a) Atividades relacionadas a manejo


21.40. Os Governos, segundo sua capacidade e recursos disponíveis e com a cooperação
das Nações Unidas e outras organizações pertinentes, quando apropriado, devem:
(a) Estabelecer mecanismos de financiamento para o desenvolvimento de serviços
de manejo de resíduos em zonas que careçam deles, inclusive maneiras adequadas de geração de
recursos;
(b) Aplicar o princípio de que "quem polui paga", quando apropriado, por meio do
estabelecimento de tarifas para o manejo dos resíduos que reflitam o custo de prestar tal serviço e
assegurar que quem produz resíduos pague a totalidade do custo de seu depósito de forma segura
para o meio ambiente;
(c) Estimular a institucionalização da participação das comunidades no
planejamento e implementação de procedimentos para o manejo de resíduos sólidos.
Agenda 21 - Global 291

(b) Dados e informações


21.41. Os Governos, em colaboração com as Nações Unidas e os organismos
internacionais, devem:
(a) Desenvolver e aplicar metodologias para o monitoramento de resíduos;
(b) Reunir e analisar dados para estabelecer metas e monitorar progressos;
(c) Introduzir informações em um sistema mundial de informação baseando-se nos
sistemas existentes;
(d) Intensificar as atividades das redes de informação existentes para difundir a
destinatários selecionados informação concreta sobre a aplicação de alternativas novas e baratas
de depósito dos resíduos.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
21.42. Existem muitos programas das Nações Unidas e bilaterais que têm por objetivo
proporcionar serviços de abastecimento de água e saneamento a quem carece deles. O Conselho
de Colaboração para o Abastecimento de Água Potável e o Saneamento Ambiental, um foro
mundial, ocupa-se atualmente em coordenar o desenvolvimento e estimular a cooperação. Ainda
assim, uma vez que aumenta cada vez mais a população urbana pobre que carece destes serviços
e tendo em vista a necessidade de resolver o problema do depósito dos resíduos sólidos, é
essencial dispor de mecanismos adicionais para assegurar um rápido aumento da população
atendida pelos serviços urbanos de depósito dos resíduos. A comunidade internacional, em geral,
e determinados organismos das Nações Unidas, em particular, devem:
(a) Iniciar um programa sobre meio ambiente e infraestrutura dos estabelecimentos depois
da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, com o objetivo de
coordenar as atividades de todas as organizações do sistema das Nações Unidas envolvidas nessa
área e estabelecer um centro de difusão de informação sobre todas as questões relativas ao
manejo dos resíduos;
(b) Proceder a prestação de serviços de tratamento de resíduos para os que precisam
destes serviços e informar sistematicamente sobre os progressos alcançados;
(c) Examinar a eficácia das técnicas e abordagens para ampliar o alcance dos serviços e
encontrar formas inovadoras de acelerar o processo.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


21.43. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $7.5 bilhões de dólares, inclusive
cerca de $2.6 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
21.44. Os Governos, as instituições e as organizações não- governamentais, em
colaboração com as organizações pertinentes do sistema das Nações Unidas, devem iniciar
programas em diferentes partes do mundo em desenvolvimento para proporcionar serviços de
tratamento de resíduos às populações que carecem destes serviços. Sempre que possível, esses
programas devem basear-se em atividades já em curso ou projetadas e reorientá-las.
21.45. A expansão dos serviços de tratamento dos resíduos pode acelerar-se por meio de
Agenda 21 - Global 292

mudanças na política nacional e local. Essas mudanças devem consistir em:


(a) Reconhecer e utilizar plenamente toda a gama de soluções de baixo custo para
o manejo dos resíduos, inclusive, quando oportuno, sua institucionalização e incorporação a
códigos de conduta e regulamentos;
(b) Atribuir grande prioridade à extensão dos serviços de manejo dos resíduos,
quando necessário e apropriado, a todos os estabelecimentos, independentemente da situação
jurídica deles, dando a devida importância à satisfação das necessidades de depósito dos resíduos
da população que carece de tais serviços, especialmente a população urbana pobre;
(c) Integrar a prestação e a manutenção de serviços de manejo de resíduos com
outros serviços básicos, tais como o abastecimento de água e drenagem de águas pluviais.
21.46. Podem-se incentivar as atividades de pesquisa. Os países, em cooperação com as
organizações internacionais e as organizações não-governamentais pertinentes, devem, por
exemplo:
(a) Encontrar soluções e equipamentos para o manejo em zonas de grande
concentração de população e em ilhas pequenas. Em particular, são necessários sistemas
apropriados de coleta e armazenamento dos resíduos domésticos e métodos rentáveis e higiênicos
de depósito de resíduos de origem humana;
(b) Preparar e difundir diretrizes, estudos de casos, análises de política geral e
relatórios técnicos sobre as soluções adequadas e as modalidades de prestação de serviços para
zonas de baixa renda onde estes não existam;
(c) Lançar campanhas para estimular a participação ativa da comunidade, fazendo
com que grupos de mulheres e jovens tomem parte no manejo dos resíduos, em especial dos
resíduos domésticos;
(d) Promover entre os países a transferência das tecnologias pertinentes, em
especial das voltadas para estabelecimentos de grande densidade.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
21.47. As organizações internacionais, os Governos e as administrações locais, em
colaboração com organizações não- governamentais, devem proporcionar um treinamento
centrado nas opções de baixo custo de coleta e depósito dos resíduos, e particularmente, nas
técnicas necessárias para planejá-las e implantá-las. Nesse treinamento podem ser incluídos
programas de intercâmbio internacional de pessoal entre os países em desenvolvimento. Deve-se
prestar particular atenção ao melhoramento da condição e dos conhecimentos práticos do pessoal
administrativo nos organismos de manejo dos resíduos.
21.48. Os melhoramentos das técnicas administrativas darão provavelmente os melhores
retornos em termos de aumento da eficácia dos serviços de manejo dos resíduos. As Nações
Unidas, as organizações internacionais e as instituições financeiras, em colaboração dom os
Governos nacionais e locais, devem desenvolver e tornar operacionais sistemas de informação
sobre manejo para a manutenção de registros e de contas municipais e para a avaliação da
eficácia e eficiência.
(d) Fortalecimento institucional
21.49. Os Governos, as instituições e as organizações não- governamentais, com a
colaboração dos organismos pertinentes do sistema das Nações Unidas, devem desenvolver as
capacidades para implementar programas de prestação de serviço de coleta e depósito de resíduos
para as populações que carecem desse serviço. Algumas das atividades que devem ser realizadas
nesta área são:
(a) Estabelecer uma unidade especial, no âmbito dos atuais mecanismos
institucionais, encarregada de planejar e prestar serviços às comunidades pobres que careçam
Agenda 21 - Global 293

deles, com o envolvimento e a participação delas;


(b) Revisar os códigos e regulamentos vigentes a fim de permitir a utilização de
toda a gama de tecnologias alternativas de depósito de resíduos a baixo custo;
(c) Fomentar a capacidade institucional e desenvolver procedimentos para
empreender o planejamento e a prestação de serviços.
Agenda 21 - Global 294

Capítulo 22

MANEJO SEGURO E AMBIENTALMENTE SAUDÁVEL DOS RESÍDUOS


RADIOATIVOS

Área de programas

Promoção do manejo seguro e ambientalmente saudável dos resíduos radioativos

Base para a ação

22.1. Os resíduos radioativos são gerados no ciclo dos combustíveis nucleares, bem como
nas aplicações nucleares (o uso de radionuclídeos nucleares na medicina, pesquisa e indústria).
Os riscos radiológicos e de segurança dos resíduos radioativos variam de muito baixos, nos
resíduos de vida curta e baixo nível de radioatividade, até muito altos nos resíduos altamente
radioativos. Anualmente, cerca de 200.000 metros cúbicos de resíduos de nível baixo e
intermediário e 10.000 metros cúbicos de resíduos de alto nível de radioatividade (bem como de
combustíveis nucleares consumidos destinados à depósito definitiva) são gerados em todo o
mundo pela produção de energia nuclear. Esses volumes estão aumentando à medida que entram
em funcionamento mais unidades de geração de energia nuclear, se desmontam instalações
nucleares e aumenta o uso de radionuclídeos. Os resíduos de alto nível de radioatividade contêm
cerca de 99 por cento dos radionuclídeos e representam, portanto, o maior risco radiológico. Os
volumes de resíduos das aplicações nucleares são geralmente muito menores, de cerca de
algumas dezenas de metros cúbicos ou menos por ano, por país. No entanto, a concentração da
atividade, especialmente em fontes de radiação seladas, pode ser alta, justificando assim a adoção
de medidas de proteção radiológica muito estritas. Deve-se manter sob exame cuidadoso o
crescimento dos volumes de resíduos.
22.2. O manejo seguro e ambientalmente saudável dos resíduos radioativos, inclusive sua
minimização, transporte e depósito, é importante, dadas as características deles. Na maioria dos
países com programas substanciais de energia nuclear tomaram-se medidas técnicas e
administrativas para implementar um sistema de manejo dos resíduos. Em muitos outros países,
que ainda estão na fase preparatória para um programa nuclear nacional, ou que possuem apenas
aplicações nucleares, subsiste a necessidade de sistemas desse tipo.

Objetivo

22.3. O objetivo desta área de programas é assegurar que os resíduos radioativos sejam
gerenciados, transportados, armazenados e depositados de maneira segura, tendo em vista
proteger a saúde humana e o meio ambiente, dentro do panorama mais amplo de uma abordagem
interativa e integrada do manejo e da segurança dos resíduos radioativos.

Atividades

(a) Atividades relacionadas com o manejo


22.4. Os Estados, em cooperação com as organizações internacionais pertinentes, quando
apropriado, devem:
Agenda 21 - Global 295

(a) Promover medidas políticas e práticas para minimizar e limitar, quando


apropriado, a geração de resíduos radioativos e cuidar para que tenham tratamento,
acondicionamento, transporte e depósito seguros;
(b) Apoiar os esforços realizados dentro da AIEA para desenvolver e promulgar
normas ou diretrizes e códigos de prática para os resíduos radioativos como base
internacionalmente aceita para o manejo e a depósito segura e ambientalmente saudável desses
resíduos;
(c) Promover o armazenamento, o transporte e a depósito seguro dos resíduos
radioativos, bem como das fontes de radiação esgotadas e dos combustíveis consumidos dos
reatores nucleares destinados o depósito definitiva, em todos os países e em especial, nos países
em desenvolvimento, facilitando a transferência de tecnologias pertinentes para esses países e/ou
a devolução ao fornecedor das fontes de radiação depois de usadas, de acordo com as
regulamentações ou diretrizes internacionais pertinentes;
(d) Promover o planejamento adequado, incluída, quando for o caso, a avaliação
do impacto ambiental, do manejo seguro e ambientalmente saudável dos resíduos radioativos,
inclusive dos procedimentos de emergência, do armazenamento, do transporte e do depósito,
antes e depois das atividades que gerem esses resíduos.
(b) Cooperação e coordenação internacional e regional
22.5. Os Estados, em cooperação com organizações internacionais pertinentes, quando
apropriado, devem:
(a) Intensificar seus esforços para implementar o Código de Prática sobre
Movimentos Transfronteirços de Resíduos Radioativos e, sob os auspícios da AIEA e em
cooperação com as organizações internacionais competentes que tratam das diferentes maneiras
de transporte, manter a questão de tais movimentos em constante exame, inclusive a conveniência
de formalizar um instrumento juridicamente compulsório;
(b) Estimular a Convençåo de Londres a acelerar os trabalhos para completar os
estudos sobre a substituição da atual moratória voluntária do depósito de resíduos radioativos de
baixa atividade no mar por uma proibição, levando em consideração uma abordagem de
precauçåo , tendo em vista adotar uma decisão bem informada e oportuna sobre essa questão;
(c) Abster-se de promover ou permitir o armazenamento ou depósito de resíduos
radioativos de nível alto, médio ou baixo perto do meio marinho, a não ser que se determine que
os dados científicos disponíveis, em conformidade com os princípios e diretrizes
internacionalmente aceitos e aplicáveis, demonstrem que tal armazenamento ou depósito não
representa um risco inaceitável para as pessoas e o meio marinho, nem interfira em outros usos
legítimos do mar, fazendo-se, no processo de exame da situação, uso apropriado do conceito de
abordagem de precauçåo;
(d) Abster-se de exportar resíduos radioativos para países que, individualmente ou
por meio de acordos internacionais, proíbem a importação desses resíduos, como as partes
contratantes do Convênio de Bamaco sobre a proibição de importar resíduos perigosos para a
África e o controle dos movimentos transfronteiriços desses resíduos dentro do continente
africano, o quarto Convênio de Lomé ou outros convênios pertinentes em que se proíbe essa
importação;
(e) Respeitar, em conformidade com o direito internacional, as decisões, na
medida em que sejam aplicáveis a eles, tomadas pelas partes em outros convênios regionais
pertinentes sobre meio ambiente que tratem de outros aspectos do manejo seguro e
ambientalmente saudável dos resíduos radioativos.
Agenda 21 - Global 296

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


22.6. No plano nacional, os custos do manejo e depósito de resíduos radioativos são
consideráveis e irão variar segundo a tecnologia utilizada para o depósito.
22.7. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) para
as organizações internacionais da implementação das atividades deste programa em cerca de $8
milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou
de doações. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive as não concessionais, dependerão,
inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar para
implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
22.8. Os Estados, em cooperação com organizações internacionais, quando apropriado,
devem:
(a) Promover pesquisa e desenvolvimento de métodos para o tratamento, o
processamento e o depósito seguros e ambientalmente saudáveis, inclusive para o depósito
geológica profunda, dos resíduos de alto nível de radioatividade;
(b) Realizar programas de pesquisa e avaliação relativos à determinação do
impacto sobre a saúde o meio ambiente do depósito dos resíduos radioativos.
(c) Fortalecimento institucional e desenvolvimento de recursos humanos
22.9. Os Estados, em cooperação com organizações internacionais pertinentes, devem
oferecer, quando apropriado, assistência aos países em desenvolvimento para que estabeleçam
e/ou fortaleçam a infra-estrutura de manejo de resíduos radioativos, em que se incluem a
legislação, organizações, mão de obra especializada e instalações para a manipulação,
processamento, armazenagem e depósito dos resíduos gerados pelas aplicações nucleares.
Agenda 21 - Global 297

SEÇÃO III - FORTALECIMENTO DO PAPEL DOS GRUPOS PRINCIPAIS

Capítulo 23

PREÂMBULO

23.1. O compromisso e a participação genuína de todos os grupos sociais terão uma


importância decisiva na implementação eficaz dos objetivos, das políticas e dos mecanismos
ajustados pelos Governos em todas as áreas de programas da Agenda 21.
23.2. Um dos pré-requisitos fundamentais para alcançar o desenvolvimento sustentável é
a ampla participação da opinião pública na tomada de decisões. Ademais, no contexto mais
específico do meio ambiente e do desenvolvimento, surgiu a necessidade de novas formas de
participação. Isso inclui a necessidade de indivíduos, grupos e organizações de participar em
procedimentos de avaliação do impacto ambiental e de conhecer e participar das decisões,
particularmente daquelas que possam vir a afetar as comunidades nas quais vivem e trabalham.
Indivíduos, grupos e organizações devem ter acesso à informação pertinente ao meio ambiente e
desenvolvimento detida pelas autoridades nacionais, inclusive informações sobre produtos e
atividades que têm ou possam ter um impacto significativo sobre o meio ambiente, assim como
informações sobre medidas de proteção ambiental.
23.3. Toda política, definição ou norma que afete o acesso das organizações não-
governamentais ao trabalho das instituições e organismos das Nações Unidas relacionado com a
implementação da Agenda 21, ou a participação delas nesse trabalho, deve aplicar-se igualmente
a todos os grupos importantes.
23.4. As áreas de programas especificadas adiante referem-se aos meios para avançar na
direção de uma autêntica participação social em apoio dos esforços comuns pelo
desenvolvimento sustentável.
Agenda 21 - Global 298

Capítulo 24

AÇÃO MUNDIAL PELA MULHER, COM VISTAS A UM DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL E EQÜITATIVO

Área de programas

Base para a ação

24.1. A comunidade internacional endossou vários planos de ação e convenções para a


integração plena, eqüitativa e benéfica da mulher em todas as atividades relativas ao
desenvolvimento, em particular, as Estratégias Prospectivas de Nairóbi para o Progresso da
Mulher(1), que enfatizam a participação da mulher no manejo nacional e internacional dos
ecossistemas e no controle da degradação ambiental. Aprovaram-se várias convenções, como a
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (resolução
34/180 da Assembléia Geral, anexo) e convenções da OIT e da UNESCO, para acabar com a
discriminação baseada no sexo e assegurar à mulher o acesso aos recursos de terras e outros
recursos, à educação e ao emprego seguro e em condições de igualdade. Também são pertinentes
a Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, a Proteção e o Desenvolvimento da Criança, de
1990, e seu Plano de Ação (A/45/625, anexo). A implementação eficaz desses programas
dependerá da participação ativa da mulher nas tomadas de decisões políticas e econômicas e será
decisiva para a implementação bem sucedida da Agenda 21.

Objetivos

24.2. Propõem-se aos Governos nacionais os seguintes objetivos:


(a) Implementar as Estratégias Prospectivas de Nairóbi para o Progresso da
Mulher, particularmente em relação à participação da mulher no manejo nacional dos
ecossistemas e no controle da degradação ambiental;
(b) Aumentar a proporção de mulheres nos postos de decisão, planejamento,
assessoria técnica, manejo e divulgação no campo de meio ambiente e desenvolvimento;
(c) Considerar a possibilidade de desenvolver e divulgar até o ano 2000 uma
estratégia de mudanças necessárias para eliminar os obstáculos constitucionais, jurídicos,
administrativos, culturais, comportamentais, sociais e econômicos à plena participação da mulher
no desenvolvimento sustentável e na vida pública;
(d) Estabelecer até 1995 mecanismos nos planos nacional, regional e internacional
para avaliar a implementação e o impacto das políticas e programas de meio ambiente e
desenvolvimento sobre a mulher, assegurando-lhe que contribua para essas políticas e que se
beneficie delas;
(e) Avaliar, examinar, revisar e implementar, quando apropriado, currículos e
materiais educacionais, tendo em vista promover entre homens e mulheres a difusão dos
conhecimentos pertinentes à questão do gênero e da avaliação dos papéis da mulher por meio do
ensino formal e informal, bem como por meio de instituições de treinamento, em colaboração
com organizações não-governamentais;
(f) Formular e implementar políticas governamentais e diretrizes, estratégias e
planos nacionais claros para conseguir a igualdade em todos os aspectos da sociedade, inclusive a
Agenda 21 - Global 299

promoção da alfabetização, do ensino, do treinamento, da nutrição e da saúde da mulher, bem


como a participação dela em postos-chaves de tomada de decisões e no manejo do meio
ambiente, em particular no que se refere ao seu acesso aos recursos, facilitando um melhor aceso
a todas as formas de crédito, em especial no setor informal, tomando medidas para assegurar o
acesso da mulher ao direito de propriedade, bem como aos insumos e implementos agrícolas;
(g) Implementar, em caráter urgente, segundo as condições de cada país, medidas
para assegurar que mulheres e homens tenham o mesmo direito de decidir com liberdade e
responsabilidade o número e o espaçamento de seus filhos e tenham acesso à informação, à
educação e aos meios, quando apropriado, que lhes permitam exercer esse direito em consonância
com sua liberdade, sua dignidade e seus valores pessoais;
(h) Considerar a possibilidade de adotar, reforçar e fazer cumprir uma legislação
que proíba a violência contra a mulher e tomar todas as medidas administrativas, sociais e
educacionais necessárias para eliminar a violência contra a mulher em todas as suas formas.

Atividades

24.3. Os Governos devem dedicar-se ativamente a implementar o seguinte:


(a) Medidas para examinar políticas e estabelecer planos a fim de aumentar a
proporção de mulheres que participem como responsáveis pela tomada de decisões, planejadoras,
gerentes, cientistas e assessoras técnicas na formulação, no desenvolvimento e na implementação
de políticas e programas para o desenvolvimento sustentável;
(b) Medidas para fortalecer e dar poderes a organismos, organizações não-
governamentais e grupos femininos a fim de aumentar o fortalecimento institucional para o
desenvolvimento sustentável;
(c) Medidas para eliminar o analfabetismo entre as mulheres e meninas e expandir
a matrícula delas nas instituições de ensino, para promover a meta de acesso universal ao ensino
primário e secundário de meninas e mulheres e para ampliar as oportunidades de treinamento e
educação para elas em ciência e tecnologia, particularmente no nível pós-secundário;
(d) Programas para promover a redução do grande volume de trabalho das
mulheres e meninas no lar e fora de casa, mediante o estabelecimento de mais creches e jardins
de infância de custo acessível por Governos, autoridades locais, empregadores e outras
organizações pertinentes e por meio da distribuição eqüitativa das tarefas domésticas entre o
homem e a mulher; e para promover a provisão de tecnologias ambientalmente saudáveis que
tenham sido elaboradas, desenvolvidas e aperfeiçoadas em consultas à mulher, o abastecimento
de água salubre, o fornecimento de combustível eficiente e de instalações sanitárias adequadas;
(e) Programas para estabelecer e fortalecer os serviços de saúde preventivos e
curativos que compreendam serviços de saúde reprodutiva seguros e eficazes, centrados na
mulher e gerenciados por mulheres, e planejamento familiar responsável, acessíveis e de custo
exeqüível, e serviços, quando apropriado, em consonância com a liberdade, a dignidade e os
valores pessoais. Os programas devem centrar-se na prestação de serviços de saúde abrangentes
que incluam cuidado pré-natal, educação e informação sobre saúde e paternidade responsável, e
dar oportunidade a todas as mulheres de amamentar completamente, pelo menos durante os
quatro primeiros meses após o parto. Os programas devem apoiar plenamente os papéis produtivo
e reprodutivo da mulher e seu bem estar, assim como dar atenção especial à necessidade de
oferecer serviços de saúde melhores e iguais para todas as crianças e de reduzir o risco da
mortalidade e das doenças maternas e infantis;
(f) Programas para apoiar e aumentar as oportunidades de emprego em condições
Agenda 21 - Global 300

de igualdade e remuneração eqüitativa da mulher nos setores formal e informal, com sistemas e
serviços de apoio econômico, político e social adequados que compreendam o cuidado das
crianças, em particular creches e licença para os pais, e acesso igual a crédito, terra e outros
recursos naturais;
(g) Programas para estabelecer sistemas bancários rurais, tendo em vista facilitar e
aumentar o acesso da mulher ao crédito e aos insumos e implementos agrícolas;
(h) Programas para desenvolver a consciência dos consumidores e a participação
ativa da mulher, enfatizando seu papel decisivo na realização das mudanças necessárias para
reduzir ou eliminar padrões insustentáveis de consumo e produção, especialmente nos países
industrializados, a fim de estimular o investimento em atividades produtivas ambientalmente
saudáveis e induzir a um desenvolvimento industrial benévolo do ponto de vista ambiental e
social;
(i) Programas para eliminar imagens, estereótipos, atitudes e preconceitos
negativos persistentes contra a mulher mediante mudanças nos padrões de socialização, nos
meios de comunicação, na propaganda e no ensino formal ou informal;
(j) Medidas para examinar o progresso alcançado nessas áreas, inclusive com a
preparação de um relatório de exame e avaliação que inclua recomendações para a conferência
mundial sobre a mulher de 1995.
24.4. Pede-se urgência aos Governos para que ratifiquem todas as convenções pertinentes
relativas à mulher, se já não o fizeram. Os que ratificaram as convenções devem fazer com que
sejam cumpridas e estabelecer procedimentos jurídicos, constitucionais e administrativos para
transformar os direitos reconhecidos em leis nacionais e devem tomar medidas para implementá-
los, a fim de fortalecer a capacidade jurídica da mulher de participar plenamente e em condições
de igualdade nas questões e decisões relativas ao desenvolvimento sustentável.
24.5. Os Estados participantes da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher devem examiná-la e sugerir emendas até o ano 2000, tendo em
vista fortalecer os elementos da Convenção relativos a meio ambiente e desenvolvimento, dando
atenção especial à questão do acesso e do direito aos recursos naturais, à tecnologia, às formas
inovadoras de financiamento e à moradia barata, bem como ao controle da poluição e toxicidade
no lar e no trabalho. Os Estados participantes devem também precisar o alcance da Convenção no
que diz respeito às questões de meio ambiente e desenvolvimento e pedir ao Comitê para a
Eliminação da Discriminação contra a Mulher que elabore diretrizes relativas ao caráter da
apresentação de relatórios sobre essas questões, requeridas por determinados artigos da
Convenção.
(a) Áreas que exigem ação urgente
24.6. Os países devem tomar medidas urgentes para evitar a degradação rápida do meio
ambiente e da economia em andamento nos países em desenvolvimento, a qual afeta, em geral, a
vida da mulher e da criança nas zonas rurais sujeitas a secas, desertificação e desmatamento,
hostilidades armadas, desastres naturais, resíduos tóxicos e às conseqüências do uso de produtos
agroquímicos inadequados.
24.7. A fim de alcançar essas metas, a mulher deve participar plenamente da tomada de
decisões e da implementação das atividades de desenvolvimento sustentável.
(b) Pesquisa, coleta de dados e difusão da informação
24.8. Os países, em colaboração com instituições acadêmicas e pesquisadoras locais,
devem desenvolver bancos de dadoss, sistemas de informação, pesquisas participantes orientadas
para a ação e análises de políticas sensíveis às diferenças de sexo sobre os seguintes aspectos:
(a) Conhecimento e experiência por parte da mulher do manejo e conservação dos
Agenda 21 - Global 301

recursos naturais, para incorporação às bancos de dados e aos sistemas de informação voltados
para o desenvolvimento sustentável;
(b) O impacto sobre a mulher dos programas de ajuste estrutural. Nas pesquisas
sobre os programas de ajuste estrutural deve-se dar atenção especial aos impactos diferenciados
desses programas sobre a mulher, especialmente no que se refere aos cortes nos serviços sociais,
educação e saúde e à eliminação dos subsídios à alimentação e aos combustíveis;
(c) O impacto sobre a mulher da degradação ambiental, em particular de secas,
desertificação, produtos químicos tóxicos e hostilidades armadas;
(d) Análise das relações estruturais entre relações de gênero, meio ambiente e
desenvolvimento;
(e) Integração do valor do trabalho não remunerado, inclusive do que atualmente
se denomina "doméstico", nos mecanismos de contabilização dos recursos, a fim de representar
melhor o verdadeiro valor da contribuição da mulher à economia, utilizando as diretrizes
revisadas para o Sistema de Contas Nacionais das Nações Unidas, a serem publicadas em 1993;
(f) Medidas para efetuar e incluir análises de impacto ambiental, social e sobre os
sexos, como elemento essencial do desenvolvimento e monitoramento de programas e políticas;
(g) Programas para criar centros de treinamento, pesquisa e recursos urbanos e
rurais nos países desenvolvidos e em desenvolvimento que servirão para disseminar tecnologias
ambientalmente saudáveis para a mulher.
(c) Cooperação e coordenação internacionais e regionais
24.9. O Secretariado Geral das Nações Unidas deve avaliar todas as instituições da
Organização, inclusive das que dão atenção especial ao papel da mulher, no que se refere ao
cumprimento dos objetivos de meio ambiente e desenvolvimento e fazer recomendações para
reforçar a capacidade delas. Entre as instituições que requerem uma atenção especial nesse
sentido estão a Divisão para o Progresso da Mulher (Centro de Desenvolvimento Social e
Assuntos Humanitários, Escritório das Nações Unidas em Viena), o Fundo de Desenvolvimento
das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM), o Instituto Internacional de Pesquisas e
Treinamento para o Progresso da Mulher (INSTRAW) e os programas das comissões regionais
relativos à mulher. Essa avaliação deve analisar como os programas de meio ambiente e
desenvolvimento de cada órgão do sistema das Nações Unidas podem ser fortalecidos para
implementar a Agenda 21 e como incorporar o papel da mulher nos programas e decisões
relacionados com o desenvolvimento sustentável.
24.10. Cada órgão do sistema das Nações Unidas deve revisar o número de mulheres em
postos executivos e de tomada de decisões de nível superior e, quando apropriado, adotar
programas para aumentar esse número, de acordo com a resolução 1991/17 do Conselho
Econômico e Social sobre a melhoria do estatuto da mulher na Secretaria.
24.11. O UNIFEM deve realizar consultas periódicas com os doadores, em colaboração
com o UNICEF, tendo em vista promover programas e projetos operacionais de desenvolvimento
sustentável que reforçarão a participação da mulher, sobretudo a de baixa renda, no
desenvolvimento sustentável e na tomada de decisões. O PNUD deve estabelecer um centro
feminino sobre desenvolvimento e meio ambiente em cada um dos escritórios de seus
representantes residentes, afim de oferecer informação e promover o intercâmbio de experiências
e informação nesses campos. Os órgãos do sistema das Nações Unidas, Governos e organizações
não-governamentais envolvidos no acompanhamento das atividades geradas pela Conferência e
na implementação da Agenda 21 devem assegurar que as considerações sobre diferença de
gênero sejam plenamente integradas a todas as políticas, programas e atividades.
Agenda 21 - Global 302

Meios de implementação

Financiamento e estimativa de custos


24.12. O Secretariado da UNCED estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste capítulo em cerca de $40 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.

1. Relatório da Conferência Mundial para o Exame e Avaliação das Realizações da Década


das Nações Unidas para a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz, Nairóbi, 15 a 26 de julho
de 1985 (publicação das Nações Unidas, número de venda E.85.IV.10), cap. I, seção A.
Agenda 21 - Global 303

Capítulo 25

A INFÂNCIA E A JUVENTUDE NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Introdução

25.1. A juventude representa cerca de 30 por cento da população mundial. A participação


da juventude atual na tomada de decisões sobre meio ambiente e desenvolvimento e na
implementação de programas é decisiva para o sucesso a longo prazo da Agenda 21.

Áreas de Programas

A. Promoção do papel da juventude e de sua participação ativa na proteção do meio


ambiente e no fomento do desenvolvimento econômico e social

Base para a ação

25.2. É imperioso que a juventude de todas as partes do mundo participe ativamente em


todos os níveis pertinentes dos processos de tomada de decisões, pois eles afetam sua vida atual e
têm repercussões em seu futuro. Além de sua contribuição intelectual e capacidade de mobilizar
apoio, os jovens trazem perspectivas peculiares que devem ser levadas em consideração.
25.3. Propuseram-se muitas acões e recomendacões na comunidade internacional para
assegurar à juventude um futuro seguro e saudável, o que inclui um meio ambiente de qualidade,
, melhores padrões de vida e acesso à educação e ao emprego. Essas questões devem estar
presentes no planejamento do desenvolvimento.

Objetivos

25.4. Cada país deve instituir, em consulta com suas comunidades de jovens, um processo
para promover o diálogo entre a comunidade da juventude e o Governo em todos os níveis e
estabelecer mecanismos que permitam o acesso da juventude à informação e dar-lhe a
oportunidade de apresentar suas opiniões sobre as decisões governamentais, inclusive sobre a
implementação da Agenda 21.
25.5. Até o ano 2000, cada país deve assegurar que mais de 50 por cento de sua
juventude, com representação eqüitativa de ambos os sexos, esteja matriculada ou tenha acesso à
educação secundária adequada ou em programas educacionais ou de formação profissional
equivalentes, aumentando anualmente os índices de participação e acesso.
25.6. Cada país deve adotar iniciativas destinadas a reduzir as atuais taxas de desemprego
dos jovens, sobretudo onde elas sejam desproporcionalmente altas em comparação com a taxa
geral de desemprego.
25.7. Cada país e as Nacões Unidas devem apoiar a promoção e criação de mecanismos
para que a representação juvenil participe de todos os processos das Nacões Unidas, a fim de que
ela influencie nesses processos.
25.8. Cada país deve combater as violacões dos direitos humanos da juventude, em
particular das mulheres jovens e meninas, e examinar a maneira de assegurar a todos os jovens a
proteção jurídica, os conhecimentos técnicos, as oportunidades e o apoio necessário para que
Agenda 21 - Global 304

realizem suas aspiracões e potenciais pessoais, econômicos e sociais.

Atividades

25.9. Os Governos, de acordo com suas estratégias, devem tomar medidas para:
(a) Estabelecer até 1993 procedimentos que permitam a consulta e a possível
participação da juventude de ambos os sexos, nos planos local, nacional e regional, nos processos
de tomada de decisões relativas ao meio ambiente;
(b) Promover o diálogo com as organizacões juvenis em relação à redação e
avaliação dos planos e programas sobre o meio ambiente ou questões relacionadas com o
desenvolvimento;
(c) Considerar a possibilidade de incorporar às políticas pertinentes as
recomendacões das conferências e outros fóruns juvenis internacionais, regionais e locais que
ofereçam as perspectivas da juventude sobre o desenvolvimento social e econômico e o manejo
dos recursos;
(d) Assegurar o acesso de todos os jovens a todos os tipos de educação, sempre
que apropriado, oferecendo estruturas de ensino alternativas; assegurar que o ensino reflita as
necessidades econômicas e sociais da juventude e incorpore os conceitos de conscientização
ambiental e desenvolvimento sustentável em todo o currículo; e ampliar a formação profissional,
implementando métodos inovadores destinados a aumentar os conhecimentos práticos, tais como
a exploração do meio ambiente;
(e) Em cooperação com os ministérios e as organizacões pertinentes, inclusive
representantes da juventude, desenvolver e implementar estratégias para criar oportunidades
alternativas de emprego e proporcionar aos jovens de ambos os sexos o treinamento requerido;
(f) Estabelecer forças-tarefas formadas por jovens e organizacões juvenis não-
governamentais para desenvolver programas de ensino e conscientização sobre questões
decisivas para a juventude, voltados especificamente para a população juvenil. Estas forças-
tarefas deverão utilizar métodos educacionais formais e não-formais para atingir o maior número
de pessoas. Os meios de comunicação nacionais e locais, as organizacões não-governamentais, as
empresas e outras organizacões devem prestar auxílio a essas forças-tarefas;
(g) Apoiar programas, projetos, redes, organizacões nacionais e organizacões
juvenis não-governamentais para examinar a integração de programas em relação às suas
necessidades de projetos, estimulando a participação da juventude na identificação, formulação,
implementação e seguimento de projetos;
(h) Incluir representantes da juventude em suas delegacões a reuniões
internacionais, em conformidade com as resolucões pertinentes da Assembléia Geral aprovadas
em 1968, 1977, 1985 e 1989.
25.10. As Nacões Unidas e as organizacões internacionais que contem com programas
para a juventude devem tomar medidas para:
(a) Examinar seus programas para a juventude e a maneira de melhorar a
coordenação entre eles;
(b) Aumentar a difusão de informação pertinente aos Governos, organizacões
juvenis e outras organizacões não-governamentais sobre a posição e atividades atuais da
juventude, e monitorar e avaliar a aplicação da Agenda 21;
(c) Promover o Fundo Fiduciário das Nacões Unidas para o Ano Internacional da
Juventude e colaborar com os representantes da juventude na administração dele, centrando a
atenção especialmente nas necessidades dos jovens dos países em desenvolvimento.
Agenda 21 - Global 305

Meios de implementação

Financiamento e estimativa de custos


25.11. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual média (1993-2000) da
implementação das atividades deste capítulo em cerca de $1,5 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doacões. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.

B. A criança no desenvolvimento sustentável

Base para a ação

25.12. Os Governos, de acordo com suas políticas, devem tomar medidas para:
(a) Assegurar a sobrevivência, a proteção e o desenvolvimento da criança, em
conformidade com as metas subscritas pela Cúpula Mundial da Infância de 1990(1);
(b) Assegurar que os interesses da infância sejam levados em plena consideração
no processo participatório em favor do desenvolvimento sustentável e da melhoria do meio
ambiente.
25.13. Os governos, em comformidade com suas politicas, devem adotar medidas para:
(a) Zelar pela sobrevivencia, proteção e desenvolvimento das crianças, em
conformidade com os objetivos subscritos pela cupula mundial em favor da infância de 1990.
(b) Assegurar que os interesses da infância sejam plenamente tomados em conta
no processo de participação conducente ao desenvolvimento sustentável e a melhoria da
qualidade do meio ambiente.

Atividades

25.14. Os Governos devem tomar medidas decisivas para:


(a) Implementar programas para a infância designados para alcançar as metas
relacionadas com a criança da década de 1990 nas áreas de meio ambiente e desenvolvimento,
em especial em saúde, nutrição, educação, alfabetização e mitigação da pobreza;
(b) Ratificar a Convenção sobre os Direitos da Criança (resolução 44/25 da
Assembléia Geral, de 20 de novembro de 1989, anexo) o mais rápido possível e implementá-la,
dedicando-se às necessidades básicas da juventude e da infância;
(c) Promover atividades primárias de cuidado ambiental que atendam às
necessidades básicas das comunidades, melhorar o meio ambiente para as crianças no lar e na
comunidade e estimular a participação das populacões locais, inclusive da mulher, da juventude,
da infância e dos populacões indígenas, e investi-las de autoridade para alcançar o objetivo de um
manejo comunitário integrado dos recursos, em especial nos países em desenvolvimento;
(d) Ampliar as oportunidades educacionais para a infância e a juventude, inclusive
as de educação para a responsabilidade em relação ao meio ambiente a ao desenvolvimento, com
atenção prioritária para a educação das meninas;
(e) Mobilizar as comunidades por meio de escolas e centros de saúde locais, de
maneira que as crianças e seus pais se tornem centros efetivos de atenção para a sensibilização
Agenda 21 - Global 306

das comunidades em relação às questões ambientais;


(f) Estabelecer procedimentos para incorporar os interesses da infância em todas
as políticas e estratégias pertinentes para meio ambiente e desenvolvimento nos planos local,
regional e nacional, entre elas as relacionadas com a alocação dos recursos naturais e o direito de
utilizá-los, necessidades de moradia e recreação e o controle da poluição e toxicidade, em zonas
urbanas e rurais.
25.15. As organizacões internacionais e regionais devem cooperar e encarregar-se da
coordenação das áreas propostas. O UNICEF deve continuar cooperando e colaborando com
outras organizacões das Nacões Unidas, Governos e organizacões não-governamentais no
desenvolvimento de programas em favor da infância e programas de mobilização da infância para
as atividades delineadas acima.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


25.16. As necessidades de financiamento da maioria das atividades estão incluídas nas
estimativa de outros programas.
(b) Desenvolvimento dos recursos humanos e capacitação
25.17. As atividades devem facilitar as atividades de capacitação e treinamento que já
figuram em outros capítulos da Agenda 21.

1. Ver A/45/625, anexo.


Agenda 21 - Global 307

Capítulo 26

RECONHECIMENTO E FORTALECIMENTO DO PAPEL DOS POPULAÇÕES


INDÍGENAS E SUAS COMUNIDADES

Áreas de programas

Base para a ação

26.1. Os populações indígenas e suas comunidades têm uma relação histórica com suas
terras e, em geral, descendem dos habitantes originais dessas terras. No contexto deste capítulo, o
termo "terras" abrange o meio ambiente das zonas que essas populações ocupam
tradicionalmente. Os populações indígenas e suas comunidades representam uma porcentagem
significativa da população mundial. Durante muitas gerações, eles desenvolveram um
conhecimento científico tradicional holístico de suas terras, recursos naturais e meio ambiente.
Os populações indígenas e suas comunidades devem desfrutar a plenitude dos direitos humanos e
das liberdades fundamentais, sem impedimentos ou discriminações. Sua capacidade de participar
plenamente das práticas de desenvolvimento sustentável em suas terras tendeu a ser limitada, em
conseqüência de fatores de natureza econômica, social e histórica. Tendo em vista a inter-relação
entre o meio natural e seu desenvolvimento sustentável e o bem estar cultural, social, econômico
e físico dos populações indígenas, os esforços nacionais e internacionais de implementação de
um desenvolvimento ambientalmente saudável e sustentável devem reconhecer, acomodar,
promover e fortalecer o papel dos populações indígenas e suas comunidades.
26.2. Algumas das metas inerentes aos objetivos e atividades desta área de programas já
estão contidos em instrumentos jurídicos internacionais, tais como a Convenção sobre
Populaçoes s Indígenas e Tribais da OIT (Nº 169), e estão sendo incorporados ao projeto de
Declaração Universal dos Direitos Indígenas que prepara o Grupo de Trabalho sobre Populações
Indígenas das Nações Unidas. O Ano Internacional do Índio (1993), proclamado pela Assembléia
Geral em sua resolução 45/164, de 18 de dezembro de 1990, representa uma ocasião propícia
para mobilizar ainda mais a cooperação técnica e financeira internacional.

Objetivos

26.3. Em cooperação plena com as populações indígenas e suas comunidades, os


Governos e, quando apropriado, as organizações intergovernamentais devem se propor a cumprir
os seguintes objetivos:
(a) Estabelecer um processo para investir de autoridade os populações indígenas e
suas comunidades, por meio de medidas que incluam:
(i) A adoção ou fortalecimento de políticas e/ou instrumentos jurídicos
adequados em nível nacional;
(ii) O reconhecimento de que as terras dos populações indígenas e suas
comunidades devem ser protegidas contra atividades que sejam ambientalmente insalubres ou
que os populações indígenas em questão considerem inadequadas social e culturalmente;
(iii) O reconhecimento de seus valores, seus conhecimentos tradicionais e
suas práticas de manejo de recursos, tendo em vista promover um desenvolvimento
ambientalmente saudável e sustentável;
Agenda 21 - Global 308

(iv) O reconhecimento de que a dependência tradicional e direta dos


recursos renováveis e ecossistemas, inclusive a colheita sustentável, continua a ser essencial para
o bem-estar cultural, econômico e físico dos populações indígenas e suas comunidades;
(v) O desenvolvimento e o fortalecimento de mecanismos nacionais para a
solução das questões relacionadas com o manejo da terra e dos recursos;
(vi) O apoio a meios de produção ambientalmente saudáveis alternativos
para assegurar opções variadas de como melhorar sua qualidade de vida, de forma que possam
participar efetivamente do desenvolvimento sustentável;
(vii) A intensificação da fortalecimento institucional e técnica para
comunidades indígenas, baseada na adaptação e no intercâmbio de experiências, conhecimentos e
práticas de manejo de recursos tradicionais, para assegurar seu desenvolvimento sustentável;
(b) Estabelecer, quando apropriado, mecanismos para intensificar a participação
ativa dos populações indígenas e suas comunidades na formulação de políticas, leis e programas
relacionados com o manejo dos recursos no plano nacional e outros processos que possam afetá-
las, bem como suas iniciativas de propostas para tais políticas e programas;
(c) Participação dos populações indígenas e suas comunidades, nos planos
nacional e local, nas estratégias de manejo e conservação dos recursos e em outros programas
pertinentes estabelecidos para apoiar e examinar as estratégias de desenvolvimento sustentável,
tais como as sugeridas em outras áreas de programas da Agenda 21.

Atividades

26.4. Talvez alguns populações indígenas e suas comunidades precisem, em


conformidade com a legislação nacional, de um maior controle sobre suas terras, manejo de seus
próprios recursos e participação nas decisões relativas ao desenvolvimento que os afetem,
inclusive, quando apropriado, participação no estabelecimento ou manejo de zonas protegidas.
Eis algumas das medidas específicas que os Governos podem tomar:
(a) Considerar a possibilidade de ratificar e aplicar as convenções internacionais
vigentes relativas aos populações indígenas e suas comunidades (onde isso ainda não foi feito) e
apoiar a aprovação pela Assembléia Geral de uma declaração dos direitos dos indígenas;
(b) Adotar ou reforçar políticas e/ou instrumentos jurídicos apropriados que
protejam a propriedade intelectual e cultural indígena e o direito de preservar sistemas e práticas
consuetudinários e administrativos.
26.5. As organizações das Nações Unidas e outras organizações internacionais de
financiamento e desenvolvimento e os Governos, apoiando-se na participação ativa dos
populações indígenas e suas comunidades, quando apropriado, devem tomar, entre outras, as
seguintes medidas para incorporar valores, opiniões e conhecimentos delas, inclusive a
contribuição excepcional da mulher indígena, em políticas e programas de manejo de recursos e
outros que possam afetá-las:
(a) Designar um centro especial em cada organização internacional e organizar
reuniões anuais interorganizacionais de coordenação, em consulta com Governos e organizações
indígenas, quando apropriado, e desenvolver um procedimento entre os organismos operacionais
e dentro de cada um deles para auxiliar os Governos a garantir a incorporação coerente e
coordenada das opiniões dos populações indígenas na elaboração e implementação de políticas e
programas. De acordo com esse procedimento, os populações indígenas e suas comunidades
deveriam ser informadas, consultadas e ter permissão para participar na tomada de decisões no
plano nacional, em particular no que se refere aos esforços cooperativos regionais e
Agenda 21 - Global 309

internacionais. Além disso, esses programas e políticas devem levar plenamente em consideração
as estratégias baseadas em iniciativas locais indígenas;
(b) Oferecer assistência técnica e financeira para programas de fortalecimento
institucional e técnica a fim de apoiar o desenvolvimento autônomo sustentável dos populações
indígenas e suas comunidades;
(c) Fortalecer os programas de pesquisa e ensino destinados a:
(i) Conseguir uma melhor compreensão dos conhecimentos e da
experiência em manejo dos populações indígenas relacionadas com o meio ambiente e aplicá-los
aos desafios contemporâneos do desenvolvimento;
(ii) Aumentar a eficiência dos sistemas de manejo de recursos dos
populações indígenas, promovendo, por exemplo, a adaptação e a difusão de inovações
tecnlógicas apropriadas;
(d) Contribuir para os esforços dos populações indígenas e suas comunidades nas
estratégias de manejo e conservação dos recursos (como aquelas que podem ser desenvolvidas
dentro de projetos adequados financiados por meio do Fundo para o Meio Ambiente Mundial e o
Plano de Ação para Florestas Tropicais) e outras áreas de programas da Agenda 21, entre elas
programas para coletar, analisar e usar dados e outras informações em apoio a projetos de
desenvolvimento sustentável.
26.6. Os Governos, em cooperação plena com os populações indígenas e suas
comunidades devem, quando apropriado:
(a) Desenvolver ou fortalecer os mecanismos nacionais de consulta aos
populações indígenas e suas comunidades tendo em vista refletir suas necessidades e incorporar
seus valores e seus conhecimentos e práticas tradicionais ou de outro tipo nas políticas e
programas nacionais nos campos do manejo e conservação dos recursos e outros programas de
desenvolvimento que as afetem;
(b) Cooperar no plano regional, quando apropriado,para tratar das questões
indígenas comuns tendo em vista reconhecer e fortalecer a participação delas no desenvolvimento
sustentável.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


26.7. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste capítulo em cerca de $3 milhões de dólares, a serem providos
pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são estimativas
apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos
financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e programas
que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Estruturas jurídica e administrativa
26.8. Os Governos, em colaboração com os populações indígenas afetadas, devem
incorporar os direitos e responsabilidades dos populações indígenas e suas comunidades à
legislação de cada país, na forma apropriada a sua situação específica. Os países em
desenvolvimento podem pedir assistência técnica para implementar essas atividades.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
26.9. Os organismos internacionais de desenvolvimento e os Governos devem destinar
recursos financeiros e de outros tipos para a educação e o treinamento de populações indígenas e
suas comunidades, a fim de que possam conseguir seu desenvolvimento autônomo sustentável,
Agenda 21 - Global 310

contribuir para o desenvolvimento sustentável e eqüitativo no plano nacional e participar dele.


Deve-se dar atenção particular ao fortalecimento do papel da mulher indígena.
Agenda 21 - Global 311

Capítulo 27

FORTALECIMENTO DO PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS:


PARCEIROS PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Área de programas

Base para a ação

27.1. As organizações não-governamentais desempenham um papel fundamental na


modelagem e implementação da democracia participativa. A credibilidade delas repousa sobre o
papel responsável e construtivo que desempenham na sociedade. As organizações formais e
informais, bem como os movimentos populares, devem ser reconhecidos como parceiros na
implementação da Agenda 21. A natureza do papel independente desempenhado pelas
organizações não-governamentais exige uma participação genuína; portanto, a independência é
um atributo essencial dessas organizações e constitui condição prévia para a participação
genuína.
27.2. Um dos principais desafios que a comunidade mundial enfrenta na busca da
substituição dos padrões de desenvolvimento insustentável por um desenvolvimento
ambientalmente saudável e sustentável é a necessidade de estimular o sentimento de que se
persegue um objetivo comum em nome de todos os setores da sociedade. As chances de forjar um
tal sentimento dependerão da disposição de todos os setores de participar de uma autêntica
parceria social e diálogo, reconhecendo, ao mesmo tempo, a independência dos papéis,
responsabilidades e aptidões especiais de cada um.
27.3. As organizações não-governamentais, inclusive as organizações sem fins lucrativos
que representam os grupos de que se ocupa esta seção da Agenda 21, possuem uma variedade de
experiência, conhecimento especializado e capacidade firmemente estabelecidos nos campos que
serão de particular importância para a implementação e o exame de um desenvolvimento
sustentável, ambientalmente saudável e socialmente responsável, tal como o previsto em toda a
Agenda 21. Portanto, a comunidade das organizações não-governamentais oferece uma rede
mundial que deve ser utilizada, capacitada e fortalecida para apoiar os esforços de realização
desses objetivos comuns.
27.4. Para assegurar que a contribuição potencial das organizações não-governamentais se
materialize em sua totalidade, deve-se promover a máxima comunicação e cooperação possível
entre elas e as organizações internacionais e os Governos nacionais e locais dentro das
instituições encarregadas e programas delineados para executar a Agenda 21. Será preciso
também que as organizações não-governamentais fomentem a cooperação e comunicação entre
elas para reforçar sua eficácia como atores na implementação do desenvolvimento sustentável.

Objetivos

27.5. A sociedade, os Governos e os organismos internacionais devem desenvolver


mecanismos para permitir que as organizações não-governamentais desempenhem seu papel de
parceiras com responsabilidade e eficácia no processo de desenvolvimento sustentável e
ambientalmente saudável.
27.6. Para fortalecer o papel de parceiras das organizações não-governamentais, o sistema
Agenda 21 - Global 312

das Nações Unidas e os Governos devem iniciar, em consulta com as organizações não-
governamentais, um processo de exame dos procedimentos e mecanismos formais para a
participação dessas organizações em todos os níveis, da formulação de políticas e tomada de
decisões à implementação.
27.7. Até 1995, deve-se estabelecer um diálogo mutuamente produtivo no plano nacional
entre todos os Governos e as organizações não-governamentais e suas redes auto-organizadas
para reconhecer e fortalecer seus respectivos papéis na implementação do desenvolvimento
ambientalmente saudável e sustentável.
27.8. Os Governos e os organismos internacionais devem promover e permitir a
participação das organizações não-governamentais na concepção, no estabelecimento e na
avaliação de mecanismos oficiais procedimentos formais destinados a examinar a implementação
da Agenda 21 em todos os níveis.

Atividades

27.9. O sistema das Nações Unidas, incluídos os organismos internacionais de


financiamento e desenvolvimento, e todas as organizações e foros intergovernamentais, em
consulta com as organizações não-governamentais, devem adotar medidas para:
(a) Examinar e informar sobre as maneiras de melhorar os procedimentos e
mecanismos existentes por meio dos quais as organizações não-governamentais contribuem para
a formulação de políticas, tomada de decisões, implementação e avaliação, no plano de
organismos individuais, nas discussões entre instituições e nas conferências das Nações Unidas;
(b) Tendo por base o inciso (a) acima, fortalecer, ou caso não existam, estabelecer
mecanismos e procedimentos em cada organismo para fazer uso dos conhecimentos
especializados e opiniões das organizações não-governamentais sobre formulação,
implementação e avaliação de políticas e programas;
(c) Examinar os níveis de financiamento e apoio administrativo às organizações
não-governamentais e o alcance e eficácia da participação delas na implementação de projetos e
programas, tendo em vista aumentar seu papel de parceiras sociais;
(d) Criar meios flexíveis e eficazes para obter a participação das organizações não-
governamentais nos processos estabelecidos para examinar e avaliar a implementação da Agenda
21 em todos os níveis;
(e) Promover e autorizar as organizações não-governamentais e suas redes auto-
organizadas a contribuir para o exame a a avaliação de políticas e programas destinados a
implementar a Agenda 21, inclusive dando apoio às organizações não-governamentais dos países
em desenvolvimento e suas redes auto-organizadas;
(f) Levar em consideraçõo as conclusões dos sistemas de exame e processos de
avaliação das organizações não-governamentais nos relatórios pertinentes da Secretaria Geral à
Assembléia Geral e de todos os órgõos das Nações Unidas e de outras organizações e foros
intergovernamentais pertinentes, relativas à implementação da Agenda 21, em conformidade com
o processo de exame da Agenda 21;
(g) Proporcionar o acesso das organizações não-governamentais a dados e
informação exatos e oportunos para promover a eficácia de seus programas e atividades e de seus
papéis no apoio ao desenvolvimento sustentável.
27.10. Os Governos devem tomar medidas para:
(a) Estabelecer ou intensificar o diálogo com as organizações não-governamentais
e suas redes auto-organizadas que representem setores variados, o que pode servir para: (i)
Agenda 21 - Global 313

examinar os direitos e responsabilidades dessas organizações; (ii) canalizar eficientemente as


contribuições integradas das organizações não-governamentais ao processo governamental de
formulação de políticas; e (iii) facilitar a coordenação não-governamental na implementação de
políticas nacionais no plano dos programas;
(b) Estimular e possibilitar a parceria e o diálogo entre organizações não-
governamentais e autoridades locais em atividades orientadas para o desenvolvimento
sustentável;
(c) Conseguir a participação das organizações não-governamentais nos
mecanismos ou procedimentos nacionais estabelecidos para executar a Agenda 21, fazendo o
melhor uso de suas capacidades particulares, em especial nos campos do ensino, mitigação da
pobreza e proteção e reabilitação ambientais;
(d) Levar em consideração as conclusões dos mecanismos de monitoramento e
exame das organizações não-governamentais na elaboração e avaliação de políticas relativas à
implementação da Agenda 21 em todos os seus níveis;
(e) Examinar os sistemas governamentais de ensino para identificar maneiras de
incluir e ampliar a participação das organizações não-governamentais nos campos do ensino
formal e informal e de conscientização do público;
(f) Tornar disponível e acessível às organizações não-governamentais os dados e
informação necessários para que possam contribuir efetivamente para a pesquisa e a formulação,
implementação e avaliação de programas.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


27.11. Dependendo do resultado dos processos de exame e da evolução das opiniões
sobre a melhor maneira de forjar a parceria e o diálogo entre as organizaçães oficiais e os grupos
de organizações não-governamentais, haverá gastos nos planos nacional e internacional,
relativamente baixos, mas imprevisíveis, a fim de melhorar os procedimentos e mecanismos de
consulta. Da mesma forma, as organizações não-governamentais precisarão de financiamento
complementar para estabelecer sistemas de monitoramento da Agenda 21, ou para melhorá-los ou
contribuir para o funcionamento deles. Esses custos serão significativos, mas não podem ser
estimados com segurança com base na informação existente.
(b) Fortalecimento institucional
27.12. As organizações do sistema das Nações Unidas e outras organizações e foros
intergovernamentais, os programas bilaterais e o setor privado, quando apropriado, precisarão
proporcionar um maior apoio financeiro e administrativo às organizações não-governamentais e
suas redes auto-organizadas, em particular para aquelas sediadas nos países em desenvolvimento,
que contribuam ao monitoramento e avaliação dos programas da Agenda 21, e proporcionar
treinamento às organizações não-governamentais (e ajudá-las a desenvolver seus próprios
programas de treinamento) nos planos internacional e regional, para intensificar seus papéis de
parceiras na formulação e implementação de programas.
27.13. Os Governos precisarão promulgar ou fortalecer, sujeitas às condições específicas
dos países, as medidas legislativas necessárias para permitir que as organizações não-
governamentais estabeleçam grupos consultivos e para assegurar o direito dessas organizações de
proteger o interesse público por meio de medidas judiciais.
Agenda 21 - Global 314

Capítulo 28

INICIATIVAS DAS AUTORIDADES LOCAIS EM APOIO À AGENDA 21

Área de programas

Base para a ação

28.1. Como muitos dos problemas e soluções tratados na Agenda 21 têm suas raízes nas
atividades locais, a participação e cooperação das autoridades locais será um fator determinante
na realização de seus objetivos. As autoridades locais constroem, operam e mantêm a infra-
estrutura econômica, social e ambiental, supervisionam os processos de planejamento,
estabelecem as políticas e regulamentações ambientais locais e contribuem para a implementação
de políticas ambientais nacionais e subnacionais. Como nível de governo mais próximo do povo,
desempenham um papel essencial na educação, mobilização e resposta ao público, em favor de
um desenvolvimento sustentável.

Objetivos

28.2. Propõem-se os seguintes objetivos para esta área de programa:


(a) Até 1996, a maioria das autoridades locais de cada país deve realizar um
processo de consultas a suas populações e alcançar um consenso sobre uma "Agenda 21 local"
para a comunidade;
(b) Até 1993, a comunidade internacional deve iniciar um processo de consultas
destinado a aumentar a cooperação entre autoridades locais;
(c) Até 1994, representantes das associações municipais e outras autoridades
locais devem incrementar os níveis de cooperação e coordenação, a fim de intensificar o
intercâmbio de informações e experiências entre autoridades locais;
(d) Todas as autoridades locais de cada país devem ser estimuladas a implementar
e monitorar programas destinados a assegurar a representação da mulher e da juventude nos
processos de tomada de decisões, planejamento e implementação.

Atividades

28.3. Cada autoridade local deve iniciar um diálogo com seus cidadãos, organizações
locais e empresas privadas e aprovar uma "Agenda 21 local". Por meio de consultas e da
promoção de consenso, as autoridades locais ouvirão os cidadãos e as organizações cívicas,
comunitárias, empresariais e industriais locais, obtendo assim as informações necessárias para
formular as melhores estratégias. O processo de consultas aumentará a consciência das famílias
em relação às questões do desenvolvimento sustentável. Os programas, as políticas, as leis e os
regulamentos das autoridades locais destinados a cumprir os objetivos da Agenda 21 serão
avaliados e modificados com base nos programas locais adotados. Podem-se utilizar também
estratégias para apoiar propostas de financiamento local, nacional, regional e internacional.
28.4. Deve-se fomentar a parceria entre órgãos e organismos pertinentes, tais como o
PNUD, o Centro das Nações Unidas para os Estabelecimentos Humanos (Habitat), o PNUMA, o
Banco Mundial, bancos regionais, a União Internacional de Administradores Locais, a
Agenda 21 - Global 315

Associação Mundial das Grandes Metrópoles, a Cúpula das Grandes Cidades do Mundo, a
Organização das Cidades Unidas e outras instituições pertinentes, tendo em vista mobilizar um
maior apoio internacional para os programas das autoridades locais. Uma meta importante será
respaldar, ampliar e melhorar as instituições já existentes que trabalham nos campos da
capacitação institucional e técnica das autoridades locais e no manejo do meio ambiente. Com
esse propósito:
(a) Pede-se que o Habitat e outros órgãos e organizações pertinentes do sistema
das Nações Unidas fortaleçam seus serviços de coleta de informações sobre as estratégias das
autoridades locais, em particular daquelas que necessitam apoio internacional;
(b) Consultas periódicas com parceiros internacionais e países em
desenvolvimento podem examinar estratégias e ponderar sobre a melhor maneira de mobilizar o
apoio internacional. Essa consulta setorial complementará as consultas simultâneas concentradas
nos países, tais como as que se realizam em grupos consultivos e mesas redondas.
28.5. Incentivam-se os representantes de associações de autoridades locais a estabelecer
processos para aumentar o intercâmbio de informação, experiência e assistência técnica mútua
entre as autoridades locais.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


28.6. Recomenda-se que todas as partes reavaliem as necessidades de financiamento nesta
área. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) do
fortalecimento dos serviços internacionais de secretaria para a implementação das atividades
deste capítulo em cerca de $1 milhão de dólares, em termos concessionais ou de doações. Estas
são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revistas pelos Governos.
(b) Desenvolvimento dos recursos humanos e capacitação
28.7. Este programa deve facilitar as atividades de capacitação e treinamento já contidas
em outros capítulos da Agenda 21.
Agenda 21 - Global 316

Capítulo 29

FORTALECIMENTO DO PAPEL DOS TRABALHADORES E DE SEUS SINDICATOS

Área de programas

Base para a ação

29.1. Os esforços para implementar o desenvolvimento sustentável envolverão ajustes e


oportunidades aos níveis nacional e empresarial e os trabalhadores estarão entre os principais
interessados. Os sindicatos, enquanto representantes dos trabalhadores, são atores vitais para
facilitar a obtenção de um desenvolvimento sustentável, tendo em vista sua experiência em
responder às mudanças industriais, a altíssima prioridade que dão à proteção do ambiente de
trabalho e ao meio ambiente conexo e sua promoção do desenvolvimento econômico e
socialmente responsável. A rede de colaboração existente entre os sindicatos e seu grande
número de filiados oferece canais importantes de suporte para os conceitos e práticas do
desenvolvimento sustentável. Os princípios estabelecidos de negociação tripartite proporcionam
uma base para fortalecer a cooperação entre trabalhadores e seus representantes, Governos e
patrões na implementação do desenvolvimento sustentável.

Objetivos

29.2. O objetivo geral é a mitigação da pobreza e o emprego pleno e sustentável, que


contribui para ambientes seguros, limpos e saudáveis: o ambiente de trabalho, o da comunidade e
o meio físico. Os trabalhadores devem participar plenamente da implementação e avaliação das
atividades relacionadas com a Agenda 21.
29.3. Para esse fim, propõe-se a realização dos seguintes objetivos até o ano 2000:
(a) Promover a ratificação das convenções pertinentes da OIT e a promulgação de
legislação em apoio dessas convenções;
(b) Estabelecer mecanismos bipartidos e tripartites sobre segurança, saúde e
desenvolvimento sustentável;
(c) Aumentar o número de acordos ambientais coletivos destinados a alcançar um
desenvolvimento sustentável;
(d) Reduzir os acidentes, ferimentos e moléstias de trabalho, segundo
procedimentos estatísticos reconhecidos;
(e) Aumentar a oferta de educação, treinamento e reciclagem para os
trabalhadores, em particular na área de saúde e segurança no trabalho e do meio ambiente.

Atividades

(a) Promoção da liberdade de associação


29.4. Para que os trabalhadores e seus sindicatos desempenhem um papel pleno e
fundamentado em apoio ao desenvolvimento sustentável, os Governos e patrões devem promover
o direito de cada trabalhador à liberdade de associação e proteger o direito de se organizar, tal
como estabelecido pelas convenções da OIT. Os Governos devem ratificar e implementar essas
convenções, se já não o fizeram.
Agenda 21 - Global 317

(b) Fortalecimento da participação e das consultas


29.5. Os Governos, o comércio e a indústria devem promover a participação ativa dos
trabalhadores e de seus sindicatos nas decisões sobre a formulação, implementação e avaliação de
políticas e programas nacionais e internacionais sobre meio ambiente e desenvolvimento,
inclusive políticas de emprego, estratégias industriais, programas de ajuste de mão de obra e
transferências de tecnologia.
29.6. Sindicatos, Governos e patrões devem cooperar para assegurar a implementação
eqüitativa do conceito de desenvolvimento sustentável.
29.7. Devem-se estabelecer mecanismos de colaboração conjuntos (patrões/empregados)
ou tripartites (patrões/empregados/Governos) nos locais de trabalho e nos planos comunitário e
nacional para tratar da segurança, da saúde e do meio ambiente, com especial referência aos
direitos e à condição da mulher nos locais de trabalho.
29.8. Governos e patrões devem assegurar o provimento de toda informação pertinente
aos trabalhadores e seus representantes, para permitir a participação efetiva nesses processos de
tomada de decisões.
29.9. Os sindicatos devem continuar definindo, desenvolvendo e promovendo políticas
sobre todos os aspectos do desenvolvimento sustentável.
29.10. Sindicatos e patrões devem estabelecer uma estrutura que possibilite uma política
ambiental conjunta e definir prioridades para melhorar o ambiente de trabalho e a performance
ambiental em geral da empresa.
29.11. Os sindicatos devem:
(a) Tratar de assegurar que os trabalhadores possam participar em auditorias do
meio ambiente nos locais de trabalho e nas avaliações de impacto ambiental;
(b) Participar das atividades relativas a meio ambiente e desenvolvimento nas
comunidades locais e promover ação conjunta sobre problemas potenciais de interesse comum;
(c) Desempenhar um papel ativo nas atividades de desenvolvimento sustentável
das organizações internacionais e regionais, particularmente dentro do sistema das Nações
Unidas.
(c) Proporcionar treinamento adequado
29.12. Os trabalhadores e seus representantes devem ter acesso a um treinamento
adequado para aumentar a consciência ambiental, assegurar sua segurança e sua saúde e melhorar
seu bem estar econômico e social. Esse treinamento deve proporcionar-lhes os conhecimentos
necessários para promover modos de vida sustentáveis e melhorar o ambiente de trabalho.
Sindicatos, patrões, Governos e organismos internacionais devem cooperar na avaliação das
necessidades de treinamento em suas respectivas esferas de atuação. Os trabalhadores e seus
representantes devem participar da formulação e implementação de programas de treinamento de
trabalhadores organizados por patrões e Governos.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


29.13. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste capítulo em cerca de $300 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
Agenda 21 - Global 318

(b) Fortalecimento institucional


29.14. Deve-se dar atenção especial ao fortalecimento da capacidade de cada um dos
parceiros tripartites (Governos e organizações patronais e de trabalhadores), a fim de facilitar
uma maior colaboração em favor do desenvolvimento sustentável.
Agenda 21 - Global 319

Capítulo 30

FORTALECIMENTO DO PAPEL DO COMÉRCIO E DA INDÚSTRIA

Introdução

30.1. O comércio e a indústria, inclusive as empresas transnacionais, desempenham um


papel crucial no desenvolvimento econômico e social de um país. Um regime de políticas
estáveis possibilita e estimula o comércio e a indústria a funcionar de forma responsável e
eficiente e a implementar políticas de longo prazo. A prosperidade constante, objetivo
fundamental do processo de desenvolvimento, é principalmente o resultado das atividades do
comércio e da indústria. As empresas comerciais, grandes e pequenas, formais e informais,
proporcionam oportunidades importantes de intercâmbio, emprego e subsistência. As
oportunidades comerciais disponíveis para a mulher estão contribuindo para o desenvolvimento
profissional dela, fortalecendo seu papel econômico e transformando os sistemas sociais. O
comércio e a indústria, inclusive as empresas transnacionais, e suas organizações representativas
devem participar plenamente da implementação e avaliação das atividades relacionadas com a
Agenda 21.
30.2. As políticas e operações do comércio e da indústria, inclusive das empresas
transnacionais, podem desempenhar um papel importante na redução do impacto sobre o uso dos
recursos e o meio ambiente por meio de processos de produção mais eficientes, estratégias
preventivas, tecnologias e procedimentos mais limpos de produção ao longo do ciclo de vida do
produto, assim minimizando ou evitando os resíduos. Inovações tecnológicas, desenvolvimento,
aplicações, transferências e os aspectos mais abrangentes da parceria e da cooperação são, em
larga medida, da competência do comércio e da indústria.
30.3. O comércio e a indústria, inclusive as empresas transnacionais, devem reconhecer o
manejo do meio ambiente como uma das mais altas prioridades das empresas e fator
determinante essencial do desenvolvimento sustentável. Alguns dirigentes empresariais
esclarecidos já estão implementando políticas e programas de "manejo responsável" e vigilância
de produtos, fomentando a abertura e o diálogo com os empregados e o público e realizando
auditorias ambientais e avaliações de observância. Esses dirigentes do comércio e da indústria,
inclusive das empresas transnacionais, cada vez mais tomam iniciativas voluntárias, promovendo
e implementando auto-regulamentações e responsabilidades maiores para assegurar que suas
atividades tenham impactos mínimos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Para isso
contribuíram as regulamentações impostas em muitos países e a crescente consciência dos
consumidores e do público em geral, bem como de dirigentes esclarecidos do comércio e da
indústria, inclusive de empresas transnacionais. Pode-se conseguir uma contribuição positiva
cada vez maior do comércio e da indústria, inclusive das empresas transnacionais, para o
desenvolvimento sustentável mediante a utilização de instrumentos econômicos como os
mecanismos de livre mercado em que os preços de bens e serviços reflitam cada vez mais os
custos ambientais de seus insumos, produção, uso, reciclagem e eliminação, segundo as
condições concretas de cada país.
30.4. O aperfeiçoamento dos sistemas de produção por meio de tecnologias e processos
que utilizem os recursos de maneira mais eficiente e, ao mesmo tempo, produzam menos resíduos
-- conseguindo mais com menos -- constitui um caminho importante na direção da
sustentabilidade do comércio e da indústria. Da mesma forma, é necessário encorajar e estimular
Agenda 21 - Global 320

a inventividade, a competitividade e as iniciativas voluntárias para estimular opções mais


variadas, eficientes e efetivas. Para responder a esses requisitos importantes e fortalecer ainda
mais o papel do comércio e da indústria, inclusive das empresas transnacionais, propõem-se os
dois programas seguintes.

Áreas de Programas

A. Promoção de uma produção mais limpa

Base para a ação

30.5. Reconhece-se cada vez mais que a produção, a tecnologia e o manejo que utilizam
recursos de maneira ineficiente criam resíduos que não são reutilizados, despejam dejetos que
causam impactos adversos à saúde humana e o meio ambiente e fabricam produtos que, quando
usados, provocam mais impactos e são difíceis de reciclar, precisam ser substituídos por
tecnologias, sistemas de engenharia e práticas de manejo boas e conhecimentos técnicos-
científicos que reduzam ao mínimo os resíduos ao longo do ciclo de vida do produto. Como
resultado, haverá uma melhora da competitividade geral da empresa. Na Conferência sobre
Desenvolvimento Industrial Ecologicamente Sustentável, organizada em nível ministerial pela
ONUDI e realizada em Copenhague em outubro de 1991, reconheceu-se a necessidade de uma
transição em direção de políticas de produção mais limpas(1).

Objetivos

30.6. Os Governos, as empresas e as indústrias, inclusive as empresas transnacionais,


devem tratar de aumentar a eficiência da utilização de recursos, inclusive com o aumento da
reutilização e reciclagem de resíduos, e reduzir a quantidade de despejo de resíduos por unidade
de produto econômico.

Atividades

30.7. Os Governos, o comércio e a indústria, inclusive as empresas transnacionais, devem


fortalecer as parcerias para implementar os princípios e critérios do desenvolvimento sustentável.
30.8. Os Governos devem identificar e implementar uma combinação adequada de
instrumentos econômicos e medidas regulamentadoras, tais como leis, legislações e normas, em
consulta com o comércio e a indústria, inclusive as empresas transnacionais, que irão promover o
uso de sistemas de produção mais limpos, com especial consideração pelas empresas pequenas e
médias. Devem-se estimular também as iniciativas privadas voluntárias.
30.9. Os Governos, o comércio e a indústria, inclusive as empresas transnacionais, as
instituições acadêmicas e as organizações internacionais, devem trabalhar pelo desenvolvimento
e implementação de conceitos e metodologias que permitam incorporar os custos ambientais nos
mecanismos de contabilidade e fixação de preços.
30.10. O comércio e a indústria, inclusive as empresas transnacionais, devem ser
estimulados a:
(a) Informar anualmente sobre seus resultados ambientais, bem como sobre seu
uso de energia e recursos naturais;
(b) Adotar códigos de conduta que promovam as melhores práticas ambientais,
Agenda 21 - Global 321

tais como a Carta das Empresas para um Desenvolvimento Sustentável, da Câmara de Comércio
Internacional, e a iniciativa de manejo responsável da indústria química, e informar sobre sua
implementação;
30.11. Os Governos devem promover a cooperação tecnológica e de kwow-how entre
empresas, abrangendo identificação, avaliação, pesquisa e desenvolvimento, manejo, marketing
e aplicação de produção mais limpa.
30.12. A indústria deve incorporar políticas de produção mais limpa em suas operações e
investimentos, levando também em consideração sua influência sobre fornecedores e
consumidores.
30.13. As associações industriais e comerciais devem cooperar com trabalhadores e
sindicatos para melhorar constantemente os conhecimentos e as habilidades necessárias para
implementar operações de desenvolvimento sustentável.
30.14. As associações industriais e comerciais devem estimular empresas a empreender
programas para aumentar a consciência e a responsabilidade ambientais em todos os níveis, para
fazer com que essas empresas se dediquem à tarefa de melhorar a performance ambiental com
base em práticas de manejo internacionalmente aceitas.
30.15. As organizações internacionais devem aumentar as atividades de ensino,
treinamento e conscientização relacionadas com uma produção mais limpa, em colaboração com
a indústria, as instituições acadêmicas e autoridades nacionais e locais pertinentes.
30.16. As organizações internacionais e não-governamentais, inclusive as associações
comerciais e científicas, devem fortalecer a difusão de informação sobre produção mais limpa
mediante a ampliação das bancos de dados existentes, tais como o Centro Internacional de
Informação sobre Tecnologias Limpas (ICPIC) do PNUMA, o Banco de Informação Industrial e
Tecnológica (INTIB) da ONUDI e o Escritório Internacional para o Meio Ambiente (IEB) da
CCI, bem como forjar redes de sistemas nacionais e internacionais de informação.

B. Promoção da responsabilidade empresarial

Base para a ação

30.17. O espírito empresarial é uma das forças impulsoras mais importantes das
inovações, aumentando a eficiência do mercado e respondendo a desafios e oportunidades. Os
empresários pequenos e médios, em particular, desempenham um papel muito importante no
desenvolvimento social e econômico de um país. Com freqüência, eles constituem o meio
principal de desenvolvimento rural, pois aumentam o emprego não-agrícola e proporcionam à
mulher condições para melhorar de vida. Os empresários responsáveis podem desempenhar um
papel importante na utilização mais eficiente dos recursos, na redução dos riscos e perigos, na
minimização dos resíduos e na preservação da qualidade do meio ambiente.

Objetivos

30.18. Propõem-se os seguintes objetivos:


(a) Estimular o conceito de vigilância no manejo e utilização dos recursos naturais
pelos empresários;
(b) Aumentar o número de empresários cujas empresas apóiem e implementem
políticas de desenvolvimento sustentável.
Agenda 21 - Global 322

Atividades

30.19. Os Governos devem estimular o estabelecimento e as operações de empresas


gerenciadas de maneira sustentável. Será preciso aplicar medidas reguladoras, oferecer incentivos
econômicos e modernizar os procedimentos administrativos para assegurar o máximo de
eficiência ao tratar dos pedidos de aprovação, a fim de facilitar as decisões sobre investimentos, a
assessoria e o auxílio com informação, o apoio de infra-estrutura e as responsabilidades de
vigilância.
30.20. Os Governos devem estimular, em cooperação com o setor privado, o
estabelecimento de fundos de capital de risco para projetos e programas de desenvolvimento
sustentável.
30.21. Em colaboração com o comércio, a indústria, as instituições acadêmicas e as
organizações internacionais, os Governos devem apoiar o treinamento em aspectos ambientais do
gerenciamento empresarial. Deve-se dar atenção também a programas de aprendizagem para
jovens.
30.22. Devem-se estimular o comércio e a indústria, inclusive as empresas
transnacionais, a estabelecer políticas empresariais mundiais de desenvolvimento sustentável, a
colocar tecnologias ambientalmente saudáveis à disposição das filiais situadas em países em
desenvolvimento que pertençam substancialmente à empresa matriz, sem custos externos
adicionais, a estimular as filiais no exterior para que modifiquem os procedimentos a fim de
refletir as condições ecológicas locais e a compartilhar experiências com as autoridades locais,
Governos e organizações internacionais.
30.23. As grandes empresas comerciais e industriais, inclusive as empresas
transnacionais, devem considerar a possibilidade de estabelecer programas de parceria com as
pequenas e médias empresas para ajudar a facilitar o intercâmbio de experiências em
gerenciamento, desenvolvimento de mercados e conhecimento técnico-científico tecnológico,
quando apropriado, com a assistência de organizações internacionais.
30.24. O comércio e a indústria devem estabelecer conselhos nacionais para o
desenvolvimento sustentável e ajudar a promover as atividades empresariais nos setores formal e
informal. Deve-se facilitar a participação de mulheres empresárias.
30.25. O comércio e a indústria, inclusive as empresas transnacionais, devem aumentar a
pesquisa e desenvolvimento de tecnologias ambientalmente saudáveis e de sistemas de manejo
ambiental, em colaboração com instituições acadêmicas, científicas e de engenharia, utilizando os
conhecimentos autóctones, quando apropriado.
30.26. O comércio e a indústria, inclusive as empresas transnacionais, devem assegurar
um manejo responsável e ético de produtos e processos do ponto de vista da saúde, da segurança
e do meio ambiente. Para tanto, o comércio e a indústria devem aumentar a auto-regulamentação,
orientados por códigos, regulamentos e iniciativas apropriados, integrados em todos os elementos
do planejamento comercial e da tomada de decisões, e fomentando a abertura e o diálogo com os
empregados e o público.
30.27. As instituições de ajuda financeira multilaterais e bilaterais devem continuar a
estimular e apoiar os pequenos e médios empresários comprometidos com atividades de
desenvolvimento sustentável.
30.28. As organizações e órgãos das Nações Unidas devem melhorar os mecanismos
relativos às contribuições do comércio e da indústria e aos processos de formulação de políticas e
estratégias, para assegurar o fortalecimento dos aspectos ambientais nos investimentos
estrangeiros.
Agenda 21 - Global 323

30.29. As organizações internacionais devem aumentar seu apoio a pesquisa e


desenvolvimento para melhorar os requisitos tecnológicos e gerenciais para o desenvolvimento
sustentável, em particular para as empresas pequenas e médias dos países em desenvolvimento.

Meios de implementação

Financiamento e estimativa de custos


30.30. As atividades incluídas nesta área de programas constituem principalmente
mudanças na orientação das atividades existentes e não se espera que os custos adicionais sejam
significativos. O custo das atividades de Governos e organizações internacionais já está incluído
em outras áreas de programas.

1. Ver A/CONF.151/PC/125.
Agenda 21 - Global 324

Capítulo 31

A COMUNIDADE CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

Introdução

31.1. Este capítulo concentra-se em como possibilitar que a comunidade científica e


tecnológica, integrada, entre outros, por engenheiros, arquitetos, projetistas industriais,
urbanistas, formuladores de políticas e outros profissionais dê uma contribuição mais aberta e
efetiva aos processos de tomada de decisões relativas ao meio ambiente e desenvolvimento. É
importante que o papel da ciência e da tecnologia nos assuntos humanos seja mais amplamente
conhecido, tanto pelos responsáveis por decisões que ajudam a determinar a política pública
quanto pelo público em geral. A relação de cooperação existente entre a comunidade científica e
tecnológica e o público em geral deve ser ampliada e aprofundada até tornar-se uma parceria
plena. A melhora da comunicação e da cooperação entre a comunidade científica e tecnológica e
os responsáveis por decisões facilitará um maior uso da informação e dos conhecimentos
científicos e técnicos na implementação de políticas e programas. Os responsáveis por decisões
devem criar condições mais favoráveis para aperfeiçoar o treinamento e a pesquisa independente
sobre desenvolvimento sustentável. Será necessário fortalecer as abordagens multidisciplinares
existentes e desenvolver mais estudos interdisciplinares entre a comunidade científica e
tecnológica e os responsáveis por decisões e, com a ajuda do público em geral, proporcionar
liderança e conhecimentos técnicos-científicos práticos ao conceito de desenvolvimento
sustentável. Deve-se ajudar o público a comunicar à comunidade científica e tecnológica suas
opiniões sobre como a ciência e a tecnologia podem ser melhor gerenciadas para influir
beneficamente na vida dele. Pelo mesmo motivo, deve-se assegurar a independência da
comunidade científica e tecnológica para investigar e publicar sem restrições e para intercambiar
suas descobertas com liberdade. A adoção e implementação de princípios éticos e códigos de
conduta de aceitação internacional para a comunidade científica e tecnológica pode realçar o
profissionalismo e melhorar e acelerar o reconhecimento do valor de suas contribuições ao meio
ambiente e desenvolvimento, levando em conta a evolução contínua e a incerteza do
conhecimento científico.

Área de Programas

A. Melhoria da comunicação e cooperação entre a comunidade científica e tecnológica, os


responsáveis por decisões e o público

Base para a ação

31.2. A comunidade científica e tecnológica e os formuladores de políticas devem


aumentar sua interação afim de implementar estratégias de desenvolvimento sustentável baseadas
nos melhores conhecimentos disponíveis. Isso significa que os responsáveis por decisões devem
proporcionar a necessária estrutura para a pesquisa rigorosa e para a comunicação plena e aberta
das descobertas da comunidade científica e tecnológica, e desenvolver simultaneamente meios
pelos quais os resultados das pesquisas e as preocupações derivadas das conclusões sejam
comunicados aos órgãos decisórios, de modo a relacionar da melhor maneira possível o
Agenda 21 - Global 325

conhecimento científico e tecnológico com a formulação de políticas e programas estratégicos.


Ao mesmo tempo, esse diálogo auxiliará a comunidade científica e tecnológica a estabelecer
prioridades de pesquisa e propor medidas para soluções construtivas.

Objetivos

31.3. Propõem-se os seguintes objetivos:


(a) Expandir e tornar mais aberto o processo de tomada de decisões e ampliar o
âmbito das questões de desenvolvimento e meio ambiente no qual possa haver lugar para a
cooperação em todos os níveis entre a comunidade científica e tecnológica e os responsáveis por
decisões;
(b) Melhorar o intercâmbio de conhecimentos e preocupações entre a comunidade
científica e tecnológica e o público em geral, a fim de que políticas e programas possam ser
melhor formulados, compreendidos e apoiados.

Atividades

31.4. Os Governos devem empreender as seguintes atividades:


(a) Examinar como as atividades científicas e tecnológicas nacionais possam
responder melhor às necessidades do desenvolvimento sustentável, como parte de um esforço
geral de fortalecimento dos sistemas de pesquisa e desenvolvimento nacionais, inter alia, por
meio do fortalecimento e ampliação do número de membros dos conselhos, organizações e
comitês nacionais de assessoramento científico e tecnológico, para assegurar que:
(i) Se comuniquem aos Governos e ao público todas as necessidades
nacionais de programas científicos e tecnológicos;
(ii) Os diversos setores da opinião pública estejam representados;
(b) Promover mecanismos regionais de cooperação voltados para as necessidades
regionais de desenvolvimento sustentável. Esses mecanismos, cuja promoção pode ser facilitada
por meio da parcerias público/privado e o fortalecimento das redes mundiais de profissionais,
dariam apoio a Governos, indústrias instituições educacionais não-governamentais e outras
organizações nacionais e internacionais;
(c) Melhorar e ampliar, mediante mecanismos apropriados, as contribuições
científicas e técnicas aos processos intergovernamentais de consulta, cooperação e negociação,
tendo em vista acordos internacionais e regionais;
(d) Fortalecer a assessoria científica e tecnológica aos níveis mais altos das
Nações Unidas e a outras instituições internacionais, a fim de assegurar a inclusão do
conhecimento técnico-científico e tecnológico nas políticas e estratégias de desenvolvimento
sustentável;
(e) Melhorar e fortalecer os programas de difusão dos resultados das pesquisas de
universidades e instituições de pesquisa. Isso requer o reconhecimento e um apoio maior aos
cientistas, tecnólogos e professores que estão empenhados na interpretação e comunicação da
informação científica e tecnológica aos formuladores de políticas, profissionais de outros ramos e
o público em geral. Esse apoio deve centrar-se na transferência de competências e na
transferência e adaptação de técnicas de planejamento. Isso requer a plena e livre comunicação de
dados e informações entre cientistas e responsáveis por decisões. A publicação de relatórios
nacionais de pesquisa e relatórios técnicos que sejam fáceis de compreender e relevantes para as
necessidades locais de desenvolvimento sustentável melhorarão também a interação entre ciência
Agenda 21 - Global 326

e tomada de decisões, bem como a implementação dos resultados científicos;


(f) Melhorar a relação entre os setores oficiais e independentes de pesquisa e a
indústria, de modo que a pesquisa se torne um elemento importante da estratégia industrial;
(g) Promover e fortalecer o papel da mulher como parceira plena nas disciplinas
científicas e tecnológicas;
(h) Desenvolver e implementar tecnologias de informação para aumentar a difusão
de informação para o desenvolvimento sustentável.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


31.5. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $15 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Fortalecimento institucional
31.6. Devem-se organizar grupos intergovernamentais sobre questões de desenvolvimento
e meio ambiente, com ênfase nos aspectos científicos e técnicos, e estudos sobre a receptividade e
adaptabilidade em programas de ação subseqüentes.

B. Promoção de códigos de conduta e diretrizes relacionados com ciência e tecnologia

Base para a ação

31.7. Os cientistas e tecnólogos têm um conjunto especial de responsabilidades que lhes


cabe como herdeiros de uma tradição e como profissionais e membros de disciplinas dedicadas à
busca do conhecimento e à necessidade de proteger a biosfera no contexto do desenvolvimento
sustentável.
31.8. O aumento da consciência ética na tomada de decisões relativas ao meio ambiente e
desenvolvimento deve contribuir para estabelecer prioridades apropriadas para a manutenção e o
aperfeiçoamento dos sistemas de sustentação da vida, por si próprios e, assim fazendo, assegurar
que o funcionamento dos processos naturais viáveis seja devidamente valorizado pelas
sociedades atuais e futuras. Por conseguinte, o fortalecimento dos códigos de conduta e diretrizes
para a comunidade científica e tecnológica aumentará a consciência ambiental e contribuirá para
o desenvolvimento sustentável. Da mesma forma, aumentará a estima e consideração pela
comunidade científica e tecnológica e facilitará a "responsabilidade" da ciência e tecnologia.

Objetivos

31.9. O objetivo deve ser desenvolver, melhorar e promover a aceitação internacional de


códigos de conduta e diretrizes relativos à ciência e tecnologia nos quais se leve em conta
amplamente a integridade dos sistemas de sustentação da vida e se aceite o importante papel da
ciência e tecnologia na compatibilização das necessidades do meio ambiente e do
desenvolvimento. Para que sejam eficazes no processo de tomada de decisões, esses princípios.
códigos de conduta e diretrizes devem não apenas ser produto de um acordo entre a comunidade
Agenda 21 - Global 327

científica e tecnológica, mas também receber o reconhecimento de toda a sociedade.

Atividades

31.10. Podem-se empreender as seguintes atividades:


(a) Fortalecer a cooperação nacional e internacional, inclusive a do setor não-
governamental, para desenvolver códigos de conduta e diretrizes relativos ao desenvolvimento
ambientalmente saudável e sustentável, levando em consideração a Declaração do Rio e os
códigos de conduta e diretrizes existentes;
(b) Estabelecer e fortalecer grupos nacionais de assessoria sobre ética ambiental e
do desenvolvimento, a fim de desenvolver uma estrutura de valores comum para a comunidade
científica e tecnológica e a sociedade como um todo, e promover um diálogo constante;
(c) Ampliar o ensino e o treinamento em questões de ética ambiental e do
desenvolvimento, para integrar esses objetivos aos currículos de ensino e às prioridades da
pesquisa;
(d) Revisar e emendar os instrumentos jurídicos nacionais e internacionais
pertinentes ao meio ambiente e desenvolvimento para assegurar a incorporação de códigos de
conduta e diretrizes apropriados a esses mecanismos reguladores.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


31.11. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual média (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $5 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
Fortalecimento institucional
31.12. Devem-se desenvolver, com a participação da comunidade científica e
tecnológica, códigos de conduta e diretrizes, inclusive sobre princípios apropriados, para uso
dessa comunidade em suas atividades de pesquisa e na implementação de programas voltados
para o desenvolvimento sustentável. A UNESCO poderia dirigir a implementação das atividades
acima mencionadas, com a colaboração de outros órgãos das Nações Unidas e de organizações
intergovernamentais e não-governamentais.
Agenda 21 - Global 328

Capítulo 32

FORTALECIMENTO DO PAPEL DOS AGRICULTORES1

Área de programas

Base para a ação

32.1. A agricultura ocupa um terço da superfície da Terra e constitui a atividade central de


grande parte da população mundial. As atividades rurais ocorrem em contato estreito com a
natureza, a que agregam valor com a produção de recursos renováveis, ao mesmo tempo em que
se tornam vulneráveis à exploração excessiva ao manejo inadequado.
32.2. As famílias rurais, os populações indígenas e suas comunidades e os agricultores
têm sido os administradores de boa parte dos recursos da Terra. Os agricultores devem conservar
o meio físico, pois dependem dele para sua subsistência. Ao longo dos últimos vinte anos, houve
um aumento impressionante da produção agrícola agregada. Todavia, em algumas regiões, esse
aumento foi superado pelo crescimento da população, a dívida internacional ou a queda dos
preços dos produtos básicos. Além disso, os recursos naturais que sustentam a atividade agrícola
precisam de cuidados adequados e é cada vez maior a preocupação com a sustentabilidade dos
sistemas de produção agrícola.
32.3. Uma abordagem centrada no agricultor é a chave para alcançar a sustentabilidade
tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento e muitas das áreas de programas
da Agenda 21 estão voltadas para esse objetivo. Uma parte significativa da população rural dos
países em desenvolvimento depende primariamente da agricultura de pequena escala, orientada
para a subsistência e baseada no trabalho da família. Porém, ela tem um acesso limitado aos
recursos, à tecnologia e meios alternativos de produção e subsistência. Em conseqüência,
exploram em excesso os recursos naturais, inclusive as terras marginais.
32.4. A Agenda 21 contempla também o desenvolvimento sustentável das populações que
vivem em ecossistemas marginais e frágeis. A chave para o sucesso da implementação desses
programas está na motivação e nas atitudes de cada agricultor e nas políticas governamentais que
proporcionem incentivos aos agricultores para que gerenciem seus recursos naturais de maneira
eficiente e sustentável. Os agricultores, em particular do sexo feminino, defrontam-se com um
alto grau de incerteza econômica, jurídica e institucional quando investem em suas terras e em
outros recursos. A descentralização das tomadas de decisões, entregando-as a organizações locais
e comunitárias, é a chave para mudar o comportamento da população e implementar estratégias
agrícolas sustentáveis. Esta área de programas trata das atividades que podem contribuir para esse
fim.

Objetivos

32.5. Propõem-se os seguintes objetivos:


(a) Estimular um processo descentralizado de tomada de decisões por meio da
criação e fortalecimento de organizações locais e de aldeias que deleguem poder e
responsabilidade aos usuários primários dos recursos naturais;
(b) Apoiar e aumentar a capacidade legal da mulher e dos grupos vulneráveis em
relação ao acesso, uso e posse da terra;
Agenda 21 - Global 329

(c) Promover e estimular práticas e tecnologias de agricultura sustentável;


(d) Introduzir ou fortalecer políticas que estimulem a auto-suficiência em
tecnologias de baixos insumos e baixo consumo de energia, inclusive de práticas autóctones, e
mecanismos de fixação de preços que incluam os custos ambientais;
(e) Desenvolver um quadro de ação que proporcione incentivos e motivação aos
agricultores para que adotem práticas agrícolas eficientes e sustentáveis;
(f) Aumentar a participação dos agricultores de ambos os sexos na elaboração e
implementação de políticas voltadas a alcançar esses fins, por meio das organizações que os
representem.

Atividades

(a) Atividades relacionadas com o manejo


32.6. Os Governos devem:
(a) Assegurar a implementação dos programas sobre subsistência, agricultura e
desenvolvimento rural sustentáveis, manejo de ecossistemas frágeis, uso da água na agricultura e
manejo integrado dos recursos naturais;
(b) Promover mecanismos de fixação de preços, políticas comerciais, incentivos
fiscais e outros instrumentos que afetem positivamente as decisões de cada agricultor sobre o uso
eficiente e sustentável dos recursos naturais e levar plenamente em conta o impacto dessas
decisões sobre as famílias, a segurança alimentar, as rendas agrícolas, o emprego e o meio
ambiente;
(c) Fazer com que os agricultores e suas organizações representativas participem
da formulação de políticas;
(d) Proteger, reconhecer e formalizar o acesso da mulher à posse e ao uso da terra,
bem como seus direitos sobre a terra e acesso a crédito, tecnologia, insumos e treinamento;
(e) Apoiar a formação de organizações de agricultores proporcionando condições
jurídicas e sociais adequadas.
32.7. O apoio às organizações de agricultores pode ser organizado da seguinte maneira:
(a) Os centros nacionais e internacionais de pesquisa devem cooperar com as
organizações de agricultores no desenvolvimento de técnicas agrícolas específicas para o lugar e
que não prejudiquem o meio ambiente;
(b) Os Governos, os organismos multilaterais ou bilaterais de desenvolvimento e
as organizações não-governamentais devem colaborar com as organizações de agricultores na
formulação de projetos de desenvolvimento agrícola para zonas agro-ecológicas específicas.
(b) Dados e informações
32.8. Os Governos e as organizações de agricultores devem:
(a) Criar mecanismos para documentar, sintetizar e difundir experiências locais de
conhecimentos, práticas e projetos, de forma que possam fazer uso das lições do passado quando
formularem e implementarem políticas que afetem as populações que se dedicam à agricultura, à
silvicultura e à pesca;
(b) Estabelecer redes para o intercâmbio de experiências relacionadas com a
agricultura que ajudem a conservar os recursos do solo, hídricos e florestais, a reduzir ao mínimo
o uso de produtos químicos e reduzir ou reutilizar os resíduos agrícolas;
(c) Desenvolver projetos-pilotos e serviços de divulgação que procurem se basear
nas necessidades e conhecimentos das agricultoras.
(c) Cooperação internacional e regional
Agenda 21 - Global 330

32.9. A FAO, o FIDA, o PMA, o Banco Mundial, os bancos regionais de


desenvolvimento e outras organizações internacionais envolvidas em desenvolvimento rural
devem fazer com que os agricultores e seus representantes participem em suas deliberações,
quando apropriado;
32.10. As organizações representativas dos agricultores devem estabelecer programas
para desenvolver e apoiar organizações de agricultores, em particular nos países em
desenvolvimento.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


32.11. O financiamento para esta área de programas está estimado no capítulo 14,
intitulado "Promoção do desenvolvimento agrícola e rural sustentável", particularmente na área
de programas intitulada "Garantia da participação da população e promoção do desenvolvimento
dos recursos humanos". Os custos assinalados nos capítulos 3, 12 e 13, sobre combate à pobreza,
combate à desertificação e secas e desenvolvimento sustentável das montanhas, são também
pertinentes a essa área de programas.
(b) Meios científicos e tecnológicos
32.12. Os Governos e as organizações internacionais pertinentes, em colaboração com
organizações nacionais de pesquisa e organizações não-governamentais, devem, quando
apropriado:
(a) Desenvolver tecnologias agrícolas ambientalmente saudáveis que aumentem o
rendimento das colheitas, mantenham a qualidade dos solos, reciclem as substâncias nutrientes,
conservem a água e a energia e controlem as pragas e as ervas daninhas;
(b) Realizar estudos de agriculturas com alta e baixa utilização de recursos para
comparar sua produtividade e sustentabilidade. As pesquisas devem ser realizadas
preferencialmente em diferentes cenários ambientais e sociológicos;
(c) Apoiar pesquisas sobre mecanização que otimizem o trabalho humano e a
energia animal, assim como os equipamentos manuais e de tração animal de fácil utilização e
manutenção. O desenvolvimento de tecnologias agrícolas deve levar em conta os recursos de que
disponham os agricultores e o papel dos animais nas famílias agrícolas e na ecologia.
(c) Desenvolvimento dos recursos humanos
32.13. Os Governos, com o apoio dos organismos multilaterais e bilaterais de
desenvolvimento e das organizações científicas, devem desenvolver currículos para as escolas de
agronomia e institutos de treinamento agrícolas nos quais se integre a ecologia à agronomia. Os
programas interdisciplinares de ecologia agrícola são essenciais ao treinamento de uma nova
geração de agrônomos e de agentes de extensão agrícola.
(d) Fortalecimento institucional
32.14. Os Governos devem, à luz da situação específica de cada país:
(a) Criar mecanismos institucionais e jurídicos que assegurem a posse efetiva da
terra aos agricultores. A ausência de legislação que determine os direitos sobre a terra foi um
obstáculo às ações contra a degradação da terra em muitas comunidades agrícolas de países em
desenvolvimento;
(b) Fortalecer as instituições rurais que aumentem a sustentabilidade por meio de
sistemas de crédito e assistência técnica gerenciados localmente, de instalações locais de
produção e distribuição de insumos, de equipamentos adequados e unidades de processamento de
pequena escala e de sistemas de comercialização e distribuição;
Agenda 21 - Global 331

(c) Estabelecer mecanismos para aumentar o acesso dos agricultores, em particular


do sexo feminino e de grupos indígenas, ao treinamento agrícola, ao crédito e à utilização de
tecnologia aperfeiçoada para assegurar a segurança alimentar.

1. Neste capítulo, todas as referências a "agricultores" incluem todas as pessoas da zona


rural que ganham a vida com atividades relacionadas com a agricultura. O termo "agricultura"
inclui a pesca e a exploração de recursos florestais.
Agenda 21 - Global 332

SEÇÃO IV - MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Capítulo 33

RECURSOS E MECANISMOS DE FINANCIAMENTO

Introdução

33.1. A Assembléia Geral, em sua resolução 44/228, de 22 de dezembro de 1989, inter


alia, decidiu que a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento deveria:
(a) Identificar meios de proporcionar recursos financeiros novos e adicionais, em
particular para os países em desenvolvimento, para programas e projetos de desenvolvimento
ambientalmente saudável, em conformidade com os objetivos, as prioridades e os planos de
desenvolvimento nacionais e considerar maneiras de monitorar eficazmente a oferta desses
recursos financeiros novos e adicionais, em particular para os países em desenvolvimento, a fim
de que a comunidade internacional possa adotar novas medidas apropriadas com base em dados
exatos e fidedignos;
(b) Identificar meios de proporcionar recursos financeiros adicionais para medidas
orientadas para resolver problemas ambientais importantes de interesse mundial e, em especial,
apoiar os países, sobretudo os países em desenvolvimento, para os quais a implementação de tais
medidas representaria um peso especial ou extraordinário, devido particularmente a sua falta de
recursos financeiros, competência e capacidades técnicas;
(c) Examinar diversos mecanismos de financiamento, inclusive os voluntários, e
considerar a possibilidade de estabelecer um fundo especial internacional e outras abordagens
inovadoras tendo em vista assegurar, em bases favoráveis, a transmissão mais eficaz e rápida
possível de tecnologias ambientalmente saudáveis para os países em desenvolvimento;
(d) Quantificar as necessidades financeiras para implementar com sucesso as
decisões e recomendações da Conferência e identificar possíveis fontes de recursos adicionais,
inclusive as inovadoras.
33.2. Este capítulo trata do financiamento da implementação da Agenda 21, que reflete
um consenso mundial que integra as considerações ambientais em um processo de
desenvolvimento acelerado. Para cada um dos demais capítulos, o secretariado da Conferência
providenciou estimativas indicativas do custo total de implementação para os países em
desenvolvimento e das necessidades de subvenções ou concessões a serem providas pela
comunidade internacional. As estimativas evidenciam a necessidade de um esforço
substancialmente maior por parte dos países e da comunidade internacional.

Base para a Ação

33.3. O crescimento econômico, o desenvolvimento social e a erradicação da pobreza são


as prioridades principais e absolutas dos países em desenvolvimento e são essenciais para
alcançar os objetivos nacionais e mundiais de sustentabilidade. Tendo em vista os benefícios
mundiais que derivarão da implementação da Agenda 21, considerada em sua totalidade, o
oferecimento aos países em desenvolvimento de meios eficazes, inter alia, recursos financeiros e
tecnologia, sem os quais dificilmente poderão cumprir plenamente os seus compromissos, servirá
aos interesses comuns dos países desenvolvidos e em desenvolvimento e à humanidade em geral,
Agenda 21 - Global 333

inclusive as gerações futuras.


33.4. O custo da inação pode superar o custo financeiro da implementação da Agenda 21.
A inação limitará as opções das gerações futuras.
33.5. Para enfrentar as questões ambientais serão precisos esforços especiais. As questões
ambientais mundiais e locais estão inter-relacionadas. A Convenção-Quadro sobre Mudança de
Clima das Nações Unidas e a Convenção sobre Biodiversidade tratam de duas das questões
mundiais mais importantes.
33.6. As condições econômicas, tanto nacionais como internacionais, que estimulem o
livre intercâmbio e acesso aos mercados contribuirão para que o crescimento econômico e a
proteção do meio ambiente se apoiem mutuamente em benefício de todos os países,
particularmente dos países em desenvolvimento ou que experimentam o processo de transição
para uma economia de mercado (ver capítulo 2 para uma discussão mais completa dessas
questões).
33.7. A cooperação internacional para o desenvolvimento sustentável deve também ser
fortalecida para apoiar e complementar os esforços dos países em desenvolvimento,
particularmente os países menos desenvolvidos.
33.8. Todos os países devem avaliar como traduzir a Agenda 21 em políticas e programas
nacionais por meio de um processo que integre as considerações ambientais e de
desenvolvimento. Devem-se estabelecer prioridades nacionais e locais por meio de meios que
incluam a participação da população e da comunidade, promovendo ao mesmo tempo a igualdade
de oportunidades para homens e mulheres.
33.9. Para que haja uma associação dinâmica entre todos os países do mundo,
particularmente entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, são necessárias estratégias de
desenvolvimento sustentável e níveis altos e previsíveis de financiamento para apoiar os
objetivos a longo prazo. Com esse propósito, os países em desenvolvimento devem definir suas
ações prioritárias e necessidades de apoio e os países desenvolvidos devem comprometer-se a
atender essas prioridades. Em relação a isso, os grupos consultivos, as mesas redondas e outros
mecanismos de base nacional podem desempenhar um papel facilitador.
33.10. A implementação dos programas de grande envergadura de desenvolvimento
sustentável da Agenda 21 necessitará da provisão, aos países em desenvolvimento, de
substanciais recursos novos e adicionais. Deve-se conceder fundos a título de subvenções ou
concessões de acordo com critérios e indicadores judiciosos e equitativos. A implementação
gradual da Agenda 21 deve ser acompanhada da concessão desses recursos financeiros
necessários. A etapa inicial se acelerará com substanciais compromissos preliminares de fundos
concessórios.

Objetivos

33.11. Os objetivos são:


(a) Estabelecer medidas relativas aos recursos financeiros e aos mecanismos de
financiamento para a implementação da Agenda 21;
(b) Prover recursos financeiros novos e adicionais, suficientes e previsíveis;
(c) Conseguir a utilização plena e a constante melhoria qualitativa dos
mecanismos de financiamento que serão utilizados para a implementação da Agenda 21.

Atividades
Agenda 21 - Global 334

33.12. Fundamentalmente, as atividades deste capítulo estão relacionadas com a


implementação de todos os outros capítulos da Agenda 21.

Meios de implementação

33.13. Em geral, o financiamento da implementação da Agenda 21 deve vir dos setores


públicos e privados de cada país. Para os países em desenvolvimento, particularmente os países
menos adiantados, a Assistência Oficial para o Desenvolvimento (ODA) é uma fonte importante
de financiamento externo, e serão necessários substanciais fundos novos e adicionais para o
desenvolvimento sustentável e implementação da Agenda 21. Os países desenvolvidos reafirmam
seu compromisso de alcançar a meta aceita pelas Nações Unidas de 0,7 por cento do PNB para a
assistência oficial ao desenvolvimento e, na medida em que essa meta não tenha sido alcançada,
estão de acordo em aumentar seus programas de ajuda para alcançar essa meta o mais cedo
possível e assegurar a implementação rápida e efetiva da Agenda 21. Alguns países decidiram ou
combinaram alcançar essa meta até o ano 2000. Decidiu-se que a Comissão sobre o
Desenvolvimento Sustentável examinaria e monitoraria regularmente os progressos realizados
para alcançar essa meta. Esse processo de exame deve combinar de modo sistemático o
monitoramento da implementação da Agenda 21 com um exame dos recursos financeiros
disponíveis. Os países que já atingiram essa meta devem ser incentivados a continuar
contribuindo ao esforço comum para tornar viável os substanciais recursos adicionais que devem
ser mobilizados. Outros países desenvolvidos, em harmonia com seu apoio aos esforços
reformadores dos países em desenvolvimento, aceitam fazer todos os esforços possíveis para
aumentar seu nível de assistência oficial ao desenvolvimento. Nesse contexto, reconhece-se a
importância da distribuição equitativa dos encargos entre os países desenvolvidos. Outros países,
entre eles o que experimentam o processo de transição para uma economia de mercado, poderão
aumentar voluntariamente as contribuições dos países desenvolvidos.
33.14. Os fundos para a Agenda 21 e outros resultados da Conferência devem ser
providos de forma a aumentar ao máximo a disponibilidade de recursos novos e adicionais e a
utilizar todos os mecanismos e fontes de financiamento disponíveis. Estes incluem, entre outros:
(a) Os bancos e fundos multilaterais de desenvolvimento:
(i) A Associação Internacional de Desenvolvimento (AID). Entre as várias
questões e opções que os delegados da AID examinarão na próxima reposição dos recursos da
AID, deve-se prestar atenção especial à declaração feita pelo Presidente do Banco Mundial para a
Reconstrução e o Desenvolvimento na plenária da Conferência, para ajudar os países mais pobres
a alcançar seus objetivos de desenvolvimento sustentável, tal como contidos na Agenda 21;
(ii) Bancos regionais e sub-regionais de desenvolvimento. Os bancos e
fundos regionais e sub-regionais de desenvolvimento devem desempenhar um papel mais amplo
e eficaz no provimento de recursos sob forma de concessões ou outras condições favoráveis
necessárias para implementar a Agenda 21;
(iii) O Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF), administrado
conjuntamente pelo Banco Mundial, o PNUD e o PNUMA, cujos fundos adicionais de
subvenções ou concessões estão destinados a proporcionar benefícios para o meio ambiente
mundial, deve cobrir os custos adicionais acordados para as atividades pertinentes da Agenda 21,
particularmente para os países em desenvolvimento. Por conseguinte, o Fundo deve reestruturar-
se para, inter alia:
Incentivar uma participação universal:
Ter flexibilidade para expandir seu alcance e cobertura das áreas de
Agenda 21 - Global 335

programas pertinentes da Agenda 21, com benefícios para o meio ambiente mundial, como
acordado;
Assegurar uma administração transparente e democrática, inclusive
na tomada de decisões e em seu funcionamento, garantindo uma representação equilibrada e
equitativa dos interesses dos países em desenvolvimento, assim como dando o devido peso aos
esforços de financiamento dos países doadores:
Assegurar recursos financeiros novos e adicionais a título de
subvenções ou concessões, em particular para os países em desenvolvimento;
Assegurar que o fluxo de fundos seja previsível graças às
contribuições dos países desenvolvidos, levando em consideração a importância da distribuição
equitativa dos encargos;
Assegurar o acesso aos fundos e seu desembolso, segundo critérios
mutuamente acordados, sem introduzir novas formas de condicionalidade;
(b) Os organismos especializados, demais órgãos das Nações Unidas e outras
organizações internacionais que tenham papéis designados para apoiar os Governos na execução
da Agenda 21;
(c) Instituições multilaterais para fortalecimento institucional e técnica e
cooperação técnica. Devem-se proporcionar os recursos financeiros necessários ao PNUD para
que use sua rede de escritórios de campo, seu amplo mandato e experiência na esfera da
cooperação técnica a fim de facilitar a fortalecimento institucional e técnica no plano nacional,
aproveitando plenamente os conhecimentos dos organismos especializados e demais órgãos das
Nações Unidas em suas respectivas esferas de competência, particularmente do PNUMA, assim
como dos bancos multilaterais e regionais de desenvolvimento;
(d) Programas de ajuda bilateral. Será necessário fortalecê-los para promover o
desenvolvimento sustentável;
(e) Alívio dos encargos da dívida. É importante alcançar soluções duradouras para
os problemas da dívida dos países em desenvolvimento de baixa e média renda e provê-los dos
meios necessários para um desenvolvimento sustentável. Devem-se manter sob exame as
medidas para atenuar os problemas do endividamento dos países de baixa ou média renda. Todos
os credores do Clube de Paris devem implementar rapidamente o acordo de dezembro de 1991
para aliviar os encargos da dívida dos países mais pobres fortemente endividados que estão
perseguindo um ajuste estrutural; devem-se manter sob exame as medidas de alívio dos encargos
da dívida, a fim de atender as dificuldades persistentes desses países.
(f) Fundos privados. As contribuições voluntárias encaminhadas por canais não-
governamentais, que representam em torno de 10 por cento da Assistência Oficial ao
Desenvolvimento (ODA), podem ser aumentadas;
33.15. Investimentos. Deve-se incentivar a mobilização de maiores níveis de
investimento estrangeiro direto e transferências de tecnologias por meio de políticas nacionais
que promovam o investimento e por meio de joint ventures e outros mecanismos.
33.16. Novos mecanismos de financiamento. Devem-se explorar novas maneiras de gerar
novos recursos financeiros públicos e privados, a saber, em particular:
(a) Várias formas de aliviar os encargos da dívida, à parte a dívida oficial ou do
Clube de Paris, incluindo um maior uso de conversão da dívida;
(b) O uso de incentivos e mecanismos econômicos e fiscais;
(c) A viabilidade de licenças negociáveis;
(d) Novos mecanismos para arrecadar fundos e contribuições voluntárias por vias
privadas, entre elas as organizações não-governamentais;
Agenda 21 - Global 336

(e) A realocação de recursos destinados atualmente para fins militares.


33.17. Um clima econômico internacional e nacional favorável, que conduza a um
crescimento e desenvolvimento econômico sustentável, é importante, em particular para os países
em desenvolvimento, a fim de assegurar a sustentabilidade.
33.18. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação nos países em desenvolvimento das atividades da Agenda 21 em mais de $600
bilhões de dólares, inclusive cerca de $125 bilhões a serem providos pela comunidade
internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e
aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os
não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os
Governos decidam adotar para a implementação.
33.19. Os países desenvolvidos e outros países que possam fazê-lo devem contrair
compromissos financeiros iniciais para implementar as decisões da Conferência. Devem informar
sobre seus planos e compromissos à Assembléia Geral das Nações Unidas em sua 47ª sessão, no
outono de 1992.
33.20. Os países em desenvolvimento devem começar também a elaborar planos
nacionais de desenvolvimento sustentável para implementar as decisões da Conferência.
33.21. É essencial examinar e monitorar o financiamento da Agenda 21. No capítulo 38
(Arranjos Institucionais Internacionais) discutem-se as questões vinculadas à implementação
eficaz dos resultados da Conferência. Será importante verificar periodicamente se os fundos e
mecanismos são adequados, assim como os esforços para alcançar os objetivos definidos neste
capítulo, inclusive as metas, quando apropriado.
Agenda 21 - Global 337

Capítulo 34

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA AMBIENTALMENTE SAUDÁVEL,


COOPERAÇÃO E FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL

Introdução

34.1. As tecnologias ambientalmente saudáveis protegem o meio ambiente, são menos


poluentes, usam todos os recursos de forma mais sustentável, reciclam mais seus resíduos e
produtos e tratam os dejetos residuais de uma maneira mais aceitável do que as tecnologias que
vieram substituir.
34.2. As tecnologias ambientalmente saudáveis, no contexto da poluição, são "tecnologias
de processos e produtos" que geram poucos ou nenhum resíduo, para a prevenção da poluição.
Também compreendem tecnologias de "etapa final" para o tratamento da poluição depois que
esta foi produzida.
34.3. As tecnologias ambientalmente saudáveis não são apenas tecnologias isoladas, mas
sistemas totais que incluem conhecimentos técnicos-científicos, procedimentos, bens e serviços e
equipamentos, assim como os procedimentos de organização e manejo. Isso significa que, ao
analisar a transferência de tecnologias, devem-se também abordar os aspectos da escolha de
tecnologia relativos ao desenvolvimento dos recursos humanos e ao aumento da fortalecimento
institucional e técnica local, inclusive os aspectos relevantes para ambos os sexos. As tecnologias
ambientalmente saudáveis devem ser compatíveis com as prioridades sócio-econômicas, culturais
e ambientais nacionalmente determinadas.
34.4. Existe uma necessidade de acesso a tecnologias ambientalmente saudáveis e de sua
transferência em condições favoráveis, em particular para os países em desenvolvimento, por
meio de medidas de apoio que promovam a cooperação tecnológica e que permitam a
transferência do conhecimento técnico-científico tecnológico necessário, assim como o aumento
da capacidade econômica, técnica e administratativa para o uso eficiente e o desenvolvimento
posterior da tecnologia transferida. A cooperação tecnológica supõe esforços comuns das
empresas e dos Governos, ambos provedores e receptores de tecnologia. Parcerias de longo prazo
bem sucedidas em cooperação tecnológica exigem necessariamente treinamento sistemático e
continuado e fortalecimento institucional e técnica em todos os níveis por um extenso período de
tempo.
34.5. As atividades propostas neste capítulo destinam-se a melhorar as condições e os
processos relativos à informação, ao acesso a tecnologias e sua transferência (inclusive a
tecnologia mais moderna e o conhecimento técnico-científico conexo), em particular para os
países em desenvolvimento, assim como no que se refere ao aumento da fortalecimento
institucional e técnica e aos mecanismos de cooperação e parceria na área da tecnologia, para
promover o desenvolvimento sustentável. Serão essenciais tecnologias novas e eficazes para
aumentar as capacidades, especialmente dos países em desenvolvimento, para alcançar o
desenvolvimento sustentável, sustentar a economia mundial, proteger o meio ambiente e mitigar
a pobreza e o sofrimento humano. É inerente a essas atividades a necessidade de abordar o
aperfeiçoamento da tecnologia atualmente utilizada e a sua substituição, quando apropriado, por
uma tecnologia mais acessível e ambientalmente saudável.

Base para a ação


Agenda 21 - Global 338

34.6. Este capítulo da Agenda 21 não representa prejuízo para os compromissos e acertos
sobre transferência de tecnologias a serem adotados nos instrumentos internacionais específicos.
34.7. A disponibilidade de informação científica e tecnológica e o acesso à tecnologia
ambientalmente saudável e sua transferência são requisitos essenciais para o desenvolvimento
sustentável. O provimento de informação adequada sobre os aspectos ambientais das tecnologias
atuais tem dois componentes interrelacionados: aperfeiçoar a informação sobre as tecnologias
atuais e as mais modernas, inclusive sobre seus riscos ambientais e facilitar o acesso às
tecnologias ambientalmente saudáveis.
34.8. O objetivo primordial de um melhor acesso à informação tecnológica é permitir
escolhas com conhecimento de causa que facilitem aos países o acesso ou a transferência de
tecnologias e o fortalecimento de suas capacidades tecnológicas.
34.9. Uma grande proporção dos conhecimentos tecnológicos úteis é de domínio público.
É necessário o acesso dos países em desenvolvimento às tecnologias que não estejam protegidas
por patentes ou sejam de domínio público. Os países em desenvolvimento também devem ter
acesso ao conhecimento técnico-científico e à especialização necessários para a utilização eficaz
dessas tecnologias.
34.10. É preciso levar em consideração o papel dos direitos de patente e propriedade
intelectual junto com um exame de seus impactos sobre o acesso e transferência de tecnologias
ambientalmente saudáveis, em particular para os países em desenvolvimento, assim como
prosseguir estudando o conceito do acesso assegurado dos países em desenvolvimento a
tecnologias ambientalmente saudáveis em sua relação com os direitos protegidos por patentes
tendo em vista desenvolver respostas efetivas para as necessidades dos países em
desenvolvimento nessa área.
34.11. A tecnologia patenteada está disponível por meio dos canais comerciais e as
atividades empresariais internacionais constituem um veículo importante para a transferência de
tecnologia. Deve-se tratar de aproveitar esse fundo comum de conhecimentos e combiná-lo com
as inovações locais com o objetivo de obter tecnologias substitutivas. Ao mesmo tempo que
continuam a ser explorados os conceitos e as modalidades que assegurem o acesso a tecnologias
ambientalmente saudáveis, assim como a tecnologias mais modernas, deve-se fomentar, facilitar
e financiar, quando apropriado, um acesso maior a tecnologias ambientalmente saudáveis,
oferecendo-se ao mesmo tempo incentivos justos aos inovadores que promovam pesquisa e
desenvolvimento de novas tecnologias ambientalmente saudáveis.
34.12. Os países receptores requerem tecnologia e um maior apoio para ajudá-los a
desenvolver ainda mais suas capacidades científica, tecnológica, profissional e afins, levando em
consideração as tecnologias e capacidades existentes. Esse apoio permitirá aos países,
especialmente os países em desenvolvimento, a fazer escolhas tecnológicas mais saudáveis. Esses
países poderão então avaliar melhor as tecnologias ambientalmente saudáveis antes de sua
transferência e aplicá-las e gerenciá-las de forma adequada, assim como aperfeiçoar as
tecnologias já existentes e adaptá-las às suas necessidades e prioridades de desenvolvimento
específicas.
34.13. Uma massa crítica com capacidade de pesquisa e desenvolvimento é crucial para a
difusão e utilização efetivas de tecnologias ambientalmente saudáveis e sua criação local. Os
programas de ensino e treinamento devem refletir as necessidades de atividades de pesquisas
orientadas para objetivos específicos e devem se esforçar para produzir especialistas
familiarizados com a tecnologia ambientalmente saudável e dotados de uma perspectiva
interdisciplinar. Obter essa massa crítica supõe melhorar a capacidade de artesãos, técnicos e
Agenda 21 - Global 339

administradadores de categoria média, cientistas, engenheiros e educadores e desenvolver seus


correspondentes sistemas de apoio social ou administrativo. A transferência de tecnologias
ambientalmente saudáveis também supõe adaptá-las e incorporá-las de maneira inovadora à
cultura local ou nacional.

Objetivos

34.14. Propõem-se os seguintes objetivos:


(a) Ajudar a garantir o acesso, em particular dos países em desenvolvimento, à
informação científica e tecnológica, inclusive à informação sobre as tecnologias mais modernas;
(b) Promover, facilitar e financiar, quando apropriado, o acesso e a transferência
de tecnologias ambientalmente saudáveis, assim como do conhecimento técnico-científico
correspondente, em particular para os países em desenvolvimento, em condições favoráveis,
inclusive em condições concessórias e preferenciais, mutuamente combinadas, levando em
consideração a necessidade de proteger os direitos de propriedade intelectual, assim como as
necessidades especiais dos países em desenvolvimento para a implementação da Agenda 21;
(c) Facilitar a manutenção e a promoção de tecnologias autóctones
ambientalmente saudáveis que possam ter sido negligenciadas ou deslocadas, em especial nos
países em desenvolvimento, prestando particular atenção às necessidades prioritárias desses
países e considerando os papéis complementares do homem e da mulher;
(d) Apoiar a fortalecimento institucional e técnica endógena, em particular nos
países em desenvolvimento, de modo que estes possam avaliar, adotar, gerenciar e aplicar
tecnologias ambientalmente saudáveis. Isto pode ser conseguido, inter alia, por meio de:
(i) Desenvolvimento dos recursos humanos;
(ii) Fortalecimento da capacidade institucional de pesquisa e
desenvolvimento e implementação de programas;
(iii) Avaliações setoriais integradas das necessidades tecnológicas, em
conformidade com os planos, objetivos e prioridades dos países, tal como previstos na
implementação da Agenda 21 no plano nacional;
(e) Promover parcerias tecnológicas de longa duração entre os proprietários de
tecnologias ambientalmente saudáveis e possíveis usuários.

Atividades

(a) Estabelecimento de redes de informações internacionais que vinculem os sistemas


nacionais, sub-regionais, regionais e internacionais
34.15. Devem-se desenvolver e vincular os sistemas de informação nacionais, sub-
regionais, regionais e internacionais existentes por meio de centros de intercâmbio de informação
regionais que abarcarão amplos setores da economia, tais como a agricultura, a indústria e a
energia. A rede poderá incluir, entre outras, repartições de patentes nacionais, sub-regionais e
regionais equipadas para produzir relatórios sobre a tecnologia mais moderna. As redes de
centros de intercâmbio de informação divulgarão informação sobre as tecnologias existentes, suas
fontes, os riscos ambientais e as condições gerais para sua aquisição. Elas operarão sobre uma
base de demanda de informação e se centrarão nas necessidades de informação dos usuários
finais. Levarão em consideração os papéis positivos e as contribuições das organizações
internacionais, regionais e sub-regionais, dos círculos empresariais, das associações comerciais,
das organizações não-governamentais, dos Governos e das redes nacionais recém criadas ou
Agenda 21 - Global 340

fortalecidas.
34.16. Os centros de intercâmbio de informação internacionais e regionais, onde
necessário, tomarão a iniciativa de ajudar os usuários a identificar suas necessidades e difundir
informações que satisfaçam essas necessidades, utilizando os sistemas de transmissão de notícias,
informação pública e comunicações existentes. Na informação divulgada serão postos em relevo
e expostos em detalhes casos específicos em que se tenha desenvolvido e implementado com
êxito tecnologias ambientalmente saudáveis. Para serem eficazes, os centros de intercâmbio de
informação não apenas devem facilitar a informação, mas também remeter a outros serviços,
inclusive fontes de assessoramento, treinamento, tecnologias e avaliação de tecnologias. Desse
modo, os centros de intercâmbio de informação facilitarão o estabelecimento de joint ventures e
parcerias de diversos tipos.
34.17. Os órgãos competentes das Nações Unidas devem realizar um inventário dos
centros ou sistemas de intercâmbio de informação internacionais ou regionais existentes. A
estrutura existente deve ser fortalecida e aperfeiçoada quando necessário. Devem-se desenvolver
novos sistemas de informação, se necessário, a fim de preencher as lacunas descobertas nessa
rede internacional.
(b) Apoio e promoção do acesso à tranferência de tecnologia
34.18. Os Governos e as organizações internacionais devem promover e incentivar o
setor privado a promover modalidades efetivas para o acesso e transferência de tecnologias
ambientalmente saudáveis, em particular para os países em desenvolvimento, por meio, entre
outras, das seguintes atividades:
(a) Formulação de políticas e programas para a transferência eficaz de tecnologias
ambientalmente saudáveis de propriedade pública ou de domínio público:
(b) Criação de condições favoráveis para estimular os setores privado e público a
inovar, comercializar e utilizar tecnologias ambientalmente saudáveis;
(c) Exame pelos Governos e, quando proceda, pelas organizações pertinentes, das
políticas existentes, inclusive subsídios e políticas fiscais, e das regulamentações para determinar
se estimulam ou impedem o acesso, a transferência e a introdução de tecnologias ambientalmente
saudáveis;
(d) Examinar, em uma estrutura que integre plenamente meio ambiente e
desenvolvimento, os obstáculos à transferência de tecnologias ambientalmente saudáveis de
propriedade privada e adotar medidas gerais apropriadas para reduzir esses obstáculos, criando ao
mesmo tempo incentivos específicos, fiscais ou de outra índole, para a tranferência dessas
tecnologias;
(e) No caso das tecnologias de propriedade privada, podem ser tomadas as
seguintes medidas, especialmente em benefício dos países em desenvolvimento:
(i) Criação e aperfeiçoamento pelos países desenvolvidos, assim como por
outros países que estiverem em condições de fazê-lo, de incentivos apropriados, fiscais ou de
outra índole, para estimular a transferência de tecnologias ambientalmente saudáveis pelas
empresas, em particular para os países em desenvolvimento, como elemento integrante do
desenvolvimento sustentável;
(ii) Facilitar o acesso e transferência detecnologias ambientalmente
saudáveis protegidas por patentes, em particular para os países em desenvolvimento;
(iii) Compra de patentes e licenças em condições comerciais para sua
transferência aos países em desenvolvimento em condições não comerciais como parte da
cooperação para o desenvolvimento sustentável, levando-se em conta a necessidade de proteger
os direitos de propriedade intelectual;
Agenda 21 - Global 341

(iv) Em cumprimento das convenções internacionais pertinentes às quais


tenham aderido os Estados e com respeito às circunstâncias específicas reconhecidas por elas,
tomar medidas para impedir o abuso dos direitos de propriedade intelectual, incluindo normas
relativas à sua aquisição por meio de licenças compulsórias, acompanhadas de compensação
equitativa e adequada;
(v) Proporcionar recursos financeiros para adquirir tecnologias
ambientalmente saudáveis a fim de permitir que em particular os países em desenvolvimento
possam implementar medidas para promover o desenvolvimento sustentável que, caso contrário,
lhes imporia uma carga especial ou exagerada;
(f) Desenvolver mecanismos para o acesso e transferência de tecnologias
ambientalmente saudáveis, em particular para os países em desenvolvimento, levando em conta
ao mesmo tempo a evolução do processo de negociação de um código internacional de conduta
para a transferência de tecnologia, como decidiu a UNCTAD em sua oitava sessão celebrada em
Cartagena (Colombia), em fevereiro de 1992.
(c) Melhoria da capacidade de desenvolvimento e manejo de tecnologias ambientalmente
saudáveis
34.19. Devem-se estabelecer ou fortalecer estruturas nos planos sub-regional, regional e
internacional para o desenvolvimento, transferência e aplicação de tecnologias ambientalmente
saudáveis e do conhecimento técnico-científico correspondente, com especial atenção para as
necessidades dos países em desenvolvimento, incorporando essas funções a órgãos já existentes.
Essas estruturas facilitariam iniciativas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento para
estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a transferência de tecnologias ambientalmente
saudáveis, em grande parte por meio de parcerias dentro dos países e entre eles, assim como entre
a comunidade científica e tecnológica, a indústria e os Governos.
34.20. Devem-se desenvolver as capacidades nacionais de avaliação, desenvolvimento,
manejo e aplicação de novas tecnologias. Isto exigirá o fortalecimento das instituições existentes,
o treinamento de pessoal em todos os níveis e a educação dos usuários finais da tecnologia.
(d) Estabelecimento de uma rede de colaboração de centros de pesquisa
34.21. Deve-se estabelecer uma rede de colaboração de centros de pesquisa nacionais,
sub-regionais, regionais e internacionais na área da tecnologia ambientalmente saudável para
melhorar o acesso às tecnologias ambientalmente saudáveis e seu desenvolvimento, manejo e
transferência, inclusive a transferência e a cooperação entre países em desenvolvimento e entre
países desenvolvidos e em desenvolvimento, baseadas principalmente nos centros sub-regionais
ou regionais de pesquisa, desenvolvimento e demonstração já existentes, vinculados a instituições
nacionais, em estreita cooperação com o setor privado.
(e) Apoio aos programas de cooperação e assistência
34.22. Devem-se apoiar os programas de cooperação e assistência, inclusive os providos
pelos organismos das Nações Unidas, as organizações internacionais e outras organizações
públicas e privadas pertinentes, em particular para os países em desenvolvimento, nas áreas de
pesquisa e desenvolvimento, fortalecimento institucional e técnica tecnológica e de recursos
humanos nos setores de manutenção, avaliação das necessidades tecnológicas nacionais,
avaliações do impacto ambiental e panejamento do desenvolvimento sustentável.
34.23. Também devem receber apoio os programas nacionais, sub-regionais, regionais,
multilaterais e bilaterais de pesquisa científica, difusão de informação e desenvolvimento de
tecnologia entre os países em desenvolvimento, inclusive por meio da participação de empresas e
instituições de pesquisa públicas e privadas, assim como o financimanto de programas de
cooperação técnica entre países em desenvolvimento nessa área. Isto deve incluir o
Agenda 21 - Global 342

desenvolvimento de vínculos entre esses vários elementos para maximizar a eficiência deles no
entendimento, na divulgação e na implementação de tecnologias para o desenvolvimento
sustentável.
34.24. O desenvolvimento de programas mundiais, sub-regionais e regionais deve incluir
a identificação e avaliação das prioridades regionais, sub-regionais e nacionais baseadas em
necessidades. Os planos e estudos que fundamentam esses programas devem servir de base para
um possível financiamento por parte dos bancos multilaterais de desenvolvimento, organizações
bilaterais, entidades do setor privado e organizações não-governamentais.
34.25. Deve-se patrocinar a visita de especialistas qualificados de países em
desenvolvimento no campo das tecnologias ambientalmente saudáveis que estejam atualmente
trabalhando em instituições de países desenvolvidos, bem como facilitar o regresso voluntário
desses especialistas a seus países.
(f) Avaliação tecnológica para apoiar o manejo de tecnologias ambientalmente saudáveis
34.26. A comunidade internacional, em particular os organismos das Nações Unidas, as
organizações internacionais e outras organizações apropriadas e privadas devem cooperar no
intercâmbio de experiências e desenvolver a capacidade para a avaliação de necessidades
tecnológicas, sobretudo nos países em desenvolvimento, a fim de que eles possam fazer escolhas
baseadas em tecnologias ambientalmente saudáveis. Eles devem:
(a) Desenvolver a capacidade de avaliação tecnológica para o manejo de
tecnologias ambientalmente saudáveis, inclusive a avaliação dos impactos e riscos ambientais,
com a devida atenção para as salvaguardas adequadas à transferência de tecnologias sujeitas a
proibições por razões ambientais ou sanitárias;
(b) Fortalecer a rede internacional de centros regionais, sub-regionais ou nacionais
de avaliação da tecnologia ambientalmente saudável, junto com centros de intercâmbio de
informação, com o objetivo de aproveitar as fontes de avaliação tecnológica mencionadas acima
em benefício de todas as nações. Esses centros podem, em princípio, dar assessoria e treinamento
em situações nacionais definidas e promover o desenvolvimento da capacidade nacional em
avaliação de tecnologia ambientalmente saudável. Deve-se estudar, quando apropriado, a
possibilidade de atribuir essa atividade a organizações regionais já existentes antes de criar
instituições totalmente novas; deve-se também estudar, quando apropriado, o financiamento
dessa atividade por meio de parceria entre o setor público e o privado.
(g) Mecanismos de colaboração e parceria
34.27. Devem-se promover acordos de colaboração de longo prazo entre empresas de
países desenvolvidos e de países em desenvolvimento com o objetivo de desenvolver tecnologias
ambientalmente saudáveis. As empresas multinacionais, como depositárias de conhecimentos
técnicos pouco difundidos necessários para a proteção e o melhoramento do meio ambiente, têm
um papel e um interesse especiais na promoção da cooperação para transferência de tecnologia, já
que constituem canais importantes para essa transferência e para desenvolver uma reserva de
recursos humanos treinados e de infra-estrutura.
34.28. Devem-se promover joint ventures entre fornecedores e beneficiários de
tecnologias, levando em consideração as prioridades políticas e os objetivos dos países em
desenvolvimento. Junto com os investimentos estrangeiros diretos, essas joint ventures podem
constituir importantes canais para a tranferência de tecnologias ambientalmente saudáveis. Por
meio das joint ventures e dos investimentos diretos, será possível transferir e manter práticas
saudáveis de manejo do meio ambiente.

Meios de implementação
Agenda 21 - Global 343

Financiamento e estimativa de custos


34.29. O Secretariado da Conferência estimou o custo anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $450 a $650 milhões de dólares, a
serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os programas decidam adotar para a implementação.
Agenda 21 - Global 344

Capítulo 35

A CIÊNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Introdução

35.1. Este capítulo concentra-se no papel e na utilização das ciências no apoio ao manejo
prudente de meio ambiente e desenvolvimento para a sobrevivência diária e desenvolvimento
futuro da humanidade. As áreas de programa propostas neste capítulo são muito amplas, tendo
por objetivo apoiar as necessidades científicas específicas identificadas em outros capítulos da
Agenda 21. Um dos papéis da ciência é oferecer informações para permitir uma melhor
formulação e seleção das políticas de meio ambiente e desenvolvimento no processo de tomada
de decisões. Para cumprir esse requisito, é indispensável desenvolver o conhecimento científico,
melhorar as avaliações científicas de longo prazo, fortalecer as capacidades científicas em todos
os países e fazer com que as ciências respondam às necessidades que vão surgindo.
35.2. Os cientistas estão melhorando sua compreensão em áreas tais como mudança do
clima, aumento da taxa de consumo de recursos, tendências demográficas e degradação do meio
ambiente. É preciso levar em conta as mudanças produzidas nestas e em outras áreas ao elaborar
estratégias de desenvolvimento a longo prazo. O primeiro passo para melhorar a base científica
dessas estratégias é uma melhor compreensão da terra, dos oceanos, da atmosfera e da
interdependência de seus ciclos hidrológicos, nutritivos e biogeoquímicos e de suas trocas de
energia, que fazem parte do sistema Terra. Isto é essencial para estimar de maneira mais precisa a
capacidade de sustentação do planeta e suas possibilidades de recuperação face às numerosas
tensões causadas pelas atividades humanas. As ciências podem proporcionar esse conhecimento
por meio de uma pesquisa aprofundada dos processos ambientais e por meio da aplicação dos
instrumentos modernos e eficientes de que se dispõe atualmente, tais como os dispositivos de
teleobservação, os instrumentos eletrônicos de monitoramento e a capacidade de cálculo e
elaboração de modelos com computadores. As ciências desempenham um importante papel na
vinculação do significado fundamental do sistema Terra, enquanto sustentador da vida, com as
estratégias apropriadas de desenvolvimento baseadas em seu desenvolvimento contínuo. As
ciências devem continuar desempenhando um papel cada vez mais importante no aumento da
eficiência do aproveitamento dos recursos e na descoberta de novas práticas, recursos e
alternativas de desenvolvimento. É necessário que as ciências reavaliem e promovam
constantemente tendências menos intensivas de utilização de recursos, inclusive a utilização de
menos energia na indústria, agricultura e transporte. Assim as ciências estão sendo cada vez mais
compreendidas como um componente indispensável na busca de formas exeqüíveis de alcançar o
desenvolvimento sustentável.
35.3. Devem-se aplicar os conhecimentos científicos para articular e apoiar as metas de
desenvolvimento sustentável por meio da avaliação científica da situação atual e das perspectivas
futuras do sistema Terra. Essas avaliações, baseadas em inovações atuais e futuras das ciências
devem ser usadas nos processos de tomada de decisões, assim como nos processos de interação
entre as ciências e a formulação de políticas. É necessário que as ciências aumentem sua
produção a fim de ampliar os conhecimentos e facilitar a interação entre ciência e sociedade. É
também preciso aumentar as capacidades e potenciais científicos para alcançar esses objetivos,
especialmente nos países em desenvolvimento. É de crucial importância que os cientistas dos
países em desenvolvimento participem plenamente dos programas internacionais de pesquisa
Agenda 21 - Global 345

científica que tratam dos problemas mundiais de meio ambiente e desenvolvimento, de modo que
todos os países participem em pé de igualdade das negociações sobre questões mundiais relativas
a meio ambiente e desenvolvimento. Diante das ameaças de danos ambientais irreversíveis, a
falta de conhecimentos científicos não deve ser desculpa para postergar a adoção de medidas que
se justifiquem por si mesmas. A abordagem da precauçåo pode oferecer uma base para políticas
relativas aos sistemas complexos que ainda não são plenamente compreendidos e cujas
conseqüências de perturbações não podem ainda ser previstas.
35.4. As áreas de programas que estão em conformidade com as conclusões e
recomendações da Conferência Internacional para uma Agenda da Ciência para Meio Ambiente e
Desenvolvimento no Século XXI (ASCEND 21) são:
(a) Fortalecimento da base científica para o manejo sustentável;
(b) Aumento do conhecimento científico;
(c) Melhora da avaliação científica de longo prazo;
(d) Aumento das capacidades e potenciais científicos.

Áreas de Programas

A. Fortalecimento da base científica para o manejo sustentável

Base para a ação

35.5. O desenvolvimento sustentável exige assumir perspectivas de longo prazo, integrar


os efeitos locais e regionais das mudanças mundiais no processo de desenvolvimento e utilizar os
melhores conhecimentos científicos e tradicionais disponíveis. O processo de desenvolvimento
deve ser avaliado constantemente à luz dos resultados da pesquisa científica para assegurar que a
utilização de recursos tenha impactos reduzidos sobre o sistema Terra. Ainda assim, o futuro é
incerto e haverá surpresas. Em conseqüência, as boas políticas de manejo e desenvolvimento
ambientais devem ser cientificamente sólidas, procurando manter uma gama de opções para
assegurar a flexibiidade de resposta. A abordagem precauçåo é importante. Com freqüência, há
falta de comunicação entre os cientistas, os formuladores de políticas e o público em geral, cujos
interesses são expressos por organizações governamentais e não-governamentais. É necessária
uma melhor comunicação entre cientistas, responsáveis por decisões e o público em geral.

Objetivos

35.6. O objetivo principal é que cada país determine, com o apoio das organizações
internacionais, como requerido, a situação de seus conhecimentos científicos e de suas
necessidades e prioridades de pesquisa para alcançar, o mais rápido possível, melhoras
consideráveis em:
(a) Ampliação em grande escala da base científica e fortalecimento das
capacidades e potenciais científicos e de pesquisa -- em particular, dos países em
desenvolvimento --especialmente nas áreas relevantes para meio ambiente e desenvolvimento;
(b) Formulação de políticas sobre meio ambiente e desenvolvimento, baseadas nos
melhores conhecimentos e avaliações científicos e levando em consideração a necessidade de
aumentar a cooperação internacional e a relativa incerteza a respeito dos diversos processos e
opções em causa;
(c) Interação entre as ciências e a tomada de decisões, utilizando a abordagem da
Agenda 21 - Global 346

precaução, quando apropriado, para modificar os modelos atuais de produção e consumo e ganhar
tempo para reduzir a incerteza a respeito da seleção de opções políticas;
(d) Geração de conhecimentos, especialmente de conhecimentos autóctones e
locais, e sua incorporação às capacidades de diversos ambientes e culturas para alcançar níveis
sustentáveis de desenvolvimento, levando em consideração as relações nos planos nacional,
regional e internacional;
(e) Aumento da cooperação entre cientistas por meio da promoção de atividades e
programas interdisciplinares de pesquisa;
(f) Participação popular na fixação de prioridades e nas tomadas de decisões
relacionadas ao desenvolvimento sustentável;

Atividades

35.7. Os países, com o apoio das organizações internacionais, quando requerido, devem:
(a) Preparar um inventário de seus dados de ciências naturais e sociais pertinentes
para a promoção do desenvolvimento sustentável;
(b) Identificar suas necessidades e prioridades de pesquisa no contexto das
atividades internacionais de pesquisa;
(c) Fortalecer e criar mecanismos institucionais apropriados, no mais alto nível
local, nacional, sub-regional e regional adequado e dentro do sistema das Nações Unidas, a fim
de desenvolver uma base científica mais sólida para melhorar a formulação de políticas de meio
ambiente e desenvolvimento que sejam compatíveis com os objetivos de longo prazo do
desenvolvimento sustentável. Devem-se ampliar as pesquisas nessa área para incluir uma maior
participação do público na fixação de metas sociais de longo prazo para a formulação de modelos
hipotéticos de desenvolvimento sustentável;
(d) Desenvolver, aplicar e instituir os instrumentos necessários para o
desenvolvimento sustentável, em relação a:
(i) Indicadores de qualidade de vida que abarquem, por exemplo, saúde,
educação, bem-estar social, estado do meio ambiente e a economia;
(ii) Abordagens econômicas do desenvolvimento ambientalmente saudável
e estruturas novas e aperfeiçoadas de incentivos para um melhor manejo de recursos;
(iii) Formulação de políticas ambientais de longo prazo, manejo de riscos e
avaliação das tecnologias ambientalmente saudáveis;
(e) Coletar, analisar e integrar os dados sobre os vínculos entre o estado dos
ecossistemas e a saúde das comunidades humanas a fim de melhorar o conhecimento dos custos e
benefícios das diferentes políticas e estratégias de desenvolvimento em relação à saúde e ao meio
ambiente, especialmente nos países em desenvolvimento;
(f) Realizar estudos científicos das formas de alcançar, nos planos nacional e
regional, o desenvolvimento sustentável, utilizando metodologias comparáveis e
complementares. Esses estudos, coordenados por um esforço científico internacional, devem ser
feitos, em grande medida, com a participação de especialistas locais e conduzidos por equipes
multidisciplinares de redes e/ou centros de pesquisa regionais, quando apropriado de acordo com
a capacidade nacional e a disponibilidade de recursos;
(g) Melhorar a capacidade para determinar a ordem de prioridades das pesquisas
científicas nos planos regional e mundial para atender as necessidades de desenvolvimento
sustentável. Este é um processo que envolve juízos científicos sobre os benefícios a curto e longo
prazo e os possíveis custos e riscos a longo prazo. Deve ser adaptável e sensível às necessidades
Agenda 21 - Global 347

observadas e ser realizado por meio de uma metodologia de avaliação dos riscos que seja
transparente e de fácil uso;
(h) Desenvolver métodos para vincular os resultados das ciências formais aos
conhecimentos tradicionais das diferentes culturas. Os métodos devem ser submetidos a prova
utilizando estudos experimentais. Devem ser elaborados no plano local e se concentrar nos
vínculos entre os conhecimentos tradicionais dos grupos indígenas e a correspondente "ciência
avançada" atual, com especial atenção à divulgação e aplicação dos resultados na proteção do
meio ambiente e no desenvolvimento sustentável.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


35.8. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $150 milhões de dólares, inclusive
cerca de $30 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional no termo
concessional ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
35.9. Os meios científicos e tecnológicos compreendem o seguinte:
(a) Apoiar os novos programas de pesquisa científica, inclusive seus aspectos
sócio-econômicos e humanos, nos planos nacional, sub-regional e mundial, para complementar e
incentivar a sinergia entre práticas e conhecimentos científicos tradicionais e convencionais e de
fortalecer a pesquisa interdisciplinar relativa à degradação e reabilitação do meio ambiente;
(b) Estabelecer modelos de demonstração de diferentes tipos (por exemplo,
condições sócio-econômicas e ambientais) para estudar metodologias e formular diretrizes;
(c) Apoiar a pesquisa desenvolvendo métodos de avaliação dos riscos relativos
para ajudar os formuladores de políticas na determinação das prioridade das pesquisas científicas.

B. Aumento do conhecimento científico

Base para a ação

35.10. Para promover o desenvolvimento sustentável é preciso um conhecimento mais


amplo da capacidade de sustentação da Terra e dos processos que podem prejudicar ou estimular
sua capacidade de sustentar a vida. O meio ambiente mundial está mudando com mais rapidez do
que em qualquer época dos séculos recentes; como resultado, surpresas podem ser esperadas e o
próximo século pode assistir a mudanças ambientais significativas. Ao mesmo tempo, o consumo
humano de energia, água e outros recursos não renováveis está aumentando, tanto per cápita
como no total, e podem-se produzir grandes déficits em muitas partes do mundo, mesmo se as
condições ambientais permanecerem inalteradas. Os processos sociais estão sujeitos a múltiplas
variações no tempo e no espaço, regiões e culturas. Esses processos influem e são afetados pelas
mudanças das condições ambientais. Os fatores humanos são as forças propulsoras essenciais
nesses intricados conjuntos de relações e exercem influência direta nas mudanças mundiais. Em
conseqüência, é indispensável o estudo das dimensões humanas das causas e conseqüências das
mudanças ambientais e das formas de desenvolvimento mais sustentáveis.
Agenda 21 - Global 348

Objetivos

35.11. Um objetivo chave é melhorar e aumentar a compreensão básica dos vínculos


entre os sistemas ambientais humanos e naturais e melhorar os instrumentos de análise e
prognóstico necessários para compreender melhor os impactos sobre o meio ambiente das opções
de desenvolvimento por meio de:
(a) Execução de programas de pesquisa para compreender melhor a capacidade de
sustentação da Terra tal como condicionada por seus sistemas naturais, a saber, os ciclos
biogeoquímicos, o sistema atmosfera/hidrosfera/ litosfera/criosfera, a biosfera e a biodiversidade,
o ecossistema agrícola e outros ecossistemas terrestres e aquáticos;
(b) Desenvolvimento e aplicação de novos instrumentos de análise e prognóstico
para avaliar de maneira mais exata as maneiras pelas quais os sistemas naturais da Terra são
influenciados, cada vez mais, pelas atividades humanas, tanto deliberadas como involuntárias, e
os impactos e conseqüências dessas ações e tendências;
(c) Integração das ciências físicas, econômicas e sociais para compreender melhor
os impactos do comportamento econômico e social sobre o meio ambiente e da degradação
ambiental nas economias locais e mundiais.

Atividades

35.12. Devem-se empreender as seguintes atividades:


(a) Apoiar o desenvolvimewnto de uma rede ampla de monitoramento para
descrever os ciclos (por exemplo, os ciclos mundiais, biogeoquímicos e hidrológicos), e testar as
hipóteses relativas ao comportamento deles e intensificar as pesquisas sobre a interação entre os
diversos ciclos mundiais e suas conseqüências nos planos nacional, sub-regional e mundial como
guias de tolerância e vulnerabilidade;
(b) Apoiar os programas de observação e pesquisa, nos planos nacional, sub-
regional e internacional, de química atmosférica mundial e das fontes e sumidouros de gases do
efeito estufa e assegurar que os resultados sejam apresentados de forma inteligível e acessível ao
grande público;
(c) Apoiar os programas de pesquisa nos planos nacional, sub-regional e
internacional sobre os sistemas marinhos e terrestres, fortalecer as bancos de dados terrestres
mundiais de seus respectivos componentes, ampliar os sistemas correspondentes para monitorar
suas mudanças e melhorar a elaboração de modelos de prognósticos do sistema Terra e de seus
subsistemas, inclusive a elaboração de modelos do funcionamento desses sistemas supondo-se
intensidades diferentes do impacto do ser humano. Os programas de pesquisa devem incluir os
programas mencionados em outros capítulos da Agenda 21 que apóiam mecanismos de
cooperação e harmonização dos programas de desenvolvimento sobre mudança mundial;
(d) Estimular a coordenação de missões de satélites, redes, sistemas e
procedimentos para processar e divulgar seus dados; e desenvolver os contatos com os usuários
dos dados de observação da Terra e com o Sistema de Monitoramento Mundial das Nações
Unidas (EARTHWATCH);
(e) Desenvolver a capacidade de prognosticar a reação dos ecossistemas terrestres,
costeiros, marinhos, de água doce e da biodiversidade às perturbações de curto e longo prazo do
meio ambiente e desenvolver ainda mais as atividades ecológicas de restauração;
(f) Estudar o papel da biodiversidade e a perda de espécies no funcionamento dos
Agenda 21 - Global 349

ecossistemas e o sistema mundial de sustentação da vida;


(g) Iniciar um sistema mundial de observação dos parâmetros necessários para o
manejo racional dos recursos das zonas costeiras e montanhosas e ampliar significativamente os
sistemas de monitoramento da quantidade e qualidade da água doce, especialmente nos países em
desenvolvimento;
(h) Desenvolver sistemas de observação da Terra a partir do espaço para
compreender a Terra como sistema, o que permitirá a medição integrada, constante e a longo
prazo da interação entre atmosfera, hidrosfera e litosfera e elaborar um sistema de distribuição de
dados que facilite a utilização de dados obtidos por meio da observação;
(i) Desenvolver e aplicar sistemas e tecnologias que permitam reunir, registrar e
transmitir automaticamente dados e informações a centros de dados e análises a fim de monitorar
os processos marinhos, terrestres e atmosféricos e proporcionar um alerta antecipado dos
desastres naturais;
(j) Intensificar a contribuição das ciências da engenharia a programas
multidisciplinares de pesquisa sobre o sistema Terra, em especial para aumentar a preparação
para enfrentar os desastres naturais e diminuir seus efeitos negativos;
(k) Intensificar as pesquisas para integrar as ciências físicas, econômicas e sociais
a fim de compreender melhor os impactos do comportamento econômico e social sobre o meio
ambiente e da degradação do meio ambiente nas economias locais e na economia mundial e, em
particular:
(i) Desenvolver pesquisas sobre as atitudes e o comportamento humano
como forças impulsoras essenciais para compreender as causas e conseqüências da mudança
ambiental e da utilização dos recursos;
(ii) Promover pesquisas sobre as respostas humanas, econômicas e sociais
à mudança mundial;
(l) Apoiar o desenvolvimento de tecnologias e sistemas novos e de fácil uso que
facilitem a integração de processos físicos, químicos, biológicos, sociais e humanos
multidisciplinares que, por sua vez, forneçam informações e conhecimentos para os responsáveis
por decisões e ao público em geral.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


35.13. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $2 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $1.5 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional no termo
concessional ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
35.14. Os meios científicos e tecnológicos compreendem o seguinte:
(a) Apoiar e utilizar as atividades pertinentes de pesquisa nacionais realizadas por
universidades, institutos de pesquisa e organizações não-governamentais e promover a
participação ativa destes em programas regionais e mundiais, especialmente em países em
desenvolvimento;
(b) Aumentar o uso de tecnologias e sistemas facilitadores apropriados, tais como
Agenda 21 - Global 350

supercomputadores, tecnologias de observação baseadas no espaço, na Terra e no oceano, manejo


de dados e tecnologias de bancos de dados e, em particular, desenvolver e ampliar o Sistema
Mundial de Observação do Clima.

C. Melhoria da avaliação científica a longo prazo

Base para a ação

35.15. A satisfação das necessidades de pesquisa científica no campo de meio ambiente e


desenvolvimento é apenas a primeira etapa no apoio que a ciência pode proporcionar ao processo
de desenvolvimento sustentável. Os conhecimentos adquiridos podem ser utilizados
posteriormente para proporcionar avaliações científicas (auditorias) da situação atual e de
diversas situações possíveis no futuro. Isso supõe que a biosfera deve manter-se em um estado
saudável e que é preciso diminuir as perdas em biodiversidade. Ainda que muitas das mudanças
ambientais a longo prazo que provavelmente afetarão a população e a biosfera sejam de escala
mundial, mudanças essenciais podem ser feitas nos planos nacional e local. Ao mesmo tempo, as
atividades humanas nos planos local e regional contribuem amiúde para ameaçar o plano mundial
-- por exemplo, a degradaçao da camada de ozônio estratosférico. Assim, avaliações e projeções
científicas são necessárias nos planos mundial, regional e local. Muitos países e organizações já
prepararam relatórios sobre meio ambiente e desenvolvimento que examinam as condições atuais
e indicam as tendências futuras. As avaliações regionais e mundiais podem utilizar plenamente
esses relatórios, mas devem ter um alcance mais amplo e incluir os resultados de estudos
detalhados das condições futuras a respeito de diversas hipóteses sobre as possíveis reações do
ser humano no futuro, utilizando os melhores modelos disponíveis. Todas as avaliações devem
designar formas praticáveis de desenvolvimento dentro da capacidade de carga ambiental e sócio-
econômica de cada região. Devem-se aproveitar a fundo os conhecimentos tradicionais do meio
ambiente local.

Objetivos

35.16. O objetivo principal é proporcionar avaliações do estado atual e das tendências das
questões de meio ambiente e desenvolvimento nos planos nacional, sub-regional, regional e
mundial, com base nos melhores conhecimentos científicos disponíveis, a fim de elaborar
estratégias alternativas, inclusive as abordagens autóctones, para as diferentes escalas de tempo e
espaço necessárias à formulação de políticas de longo prazo.

Atividades

35.17. Devem-se empreender as seguintes atividades:


(a) Coordenar os sistemas atuais de coleta de dados e estatísticas pertinentes às
questões de meio ambiente e desenvolvimento, de modo a apoiar a preparação de avaliações
científicas a longo prazo -- por exemplo, dados sobre o esgotamento de recursos, fluxos de
importação e exportação, utilização de energia, efeitos sobre a saúde, tendências demográficas
etc; aplicar os dados obtidos por meio das atividades identificadas na área de programas B às
avaliações de meio ambiente/desenvolvimento em escala mundial, regional e local; e promover a
ampla distribuição das avaliações numa forma que seja sensível às necessidades do público e
amplamente compreensível;
Agenda 21 - Global 351

(b) Desenvolver uma metodologia para realizar auditorias nos planos nacional e
regional, assim como uma auditoria mundial a cada cinco anos, de forma integrada. As auditorias
padronizadas devem contribuir para aperfeiçoar as modalidades e o caráter do processo de
desenvolvimento, examinando, em particular, a capacidade dos sistemas de sustentação da vida
mundiais e regionais de atender as necessidades das formas de vida humanas e não-humanas e de
identificar os setores e recursos vulneráveis a uma maior degradação. Essa tarefa envolve a
integração de todas as ciências relevantes nos planos nacional, regional e mundial e deve ser
organizada por entidades governamentais, organizações não-governamentais, universidades e
instituições de pesquisa, com a assistência de organizações governamentais e não-governamentais
internacionais e órgãos das Nações Unidas, quando apropriado e necessário. Devem-se colocar à
disposição do público em geral os resultados dessas auditorias.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


35.18. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $35 milhões de dólares, inclusive
cerca de $18 milhões de dólares, a serem providos pela comunidade internacional no temo
financeiro ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revistas
pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
35.19. Com relação às atuais necessidades de dados na área de programas A, será
necessário oferecer apoio à coleta nacional de dados e aos sistemas de alerta. Isso deve
compreender o estabelecimento de bancos de dados, sistemas de informação e de apresentação de
relatórios, inclusive a avaliação de dados e a difusão de informação em cada região.

D. Desenvolvimento de capacidades e meios científicos

Base para a ação

35.20. Tendo em vista o papel crescente das ciências nas questões de meio ambiente e
desenvolvimento, é necessário desenvolver e fortalecer a capacidade científica de todos os países,
especialmente dos países em desenvolvimento, a fim de que possam participar plenamente da
geração e aplicação dos resultados das atividades de pesquisa e desenvolvimento científicos
relativas ao desenvolvimento sustentável. Existem várias maneiras de desenvolver a capacidade
científica e tecnológica. Algumas das mais importantes são as seguintes: ensino e treinamento em
ciência e tecnologia; apoio aos países em desenvolvimento para aperfeiçoar as infra-estruturas de
pesquisa e desenvolvimento que permitirão aos cientistas trabalhar de forma mais produtiva.;
desenvolvimento de incentivos para estimular pesquisa e desenvolvimento; e maior utilização dos
resultados dessas atividades nos setores produtivos da economia. Essa fortalecimento
institucional e técnica constituirá também a base para uma maior consciência do público e melhor
compreensão das ciências. Deve-se enfatizar a necessidade de apoiar os países em
desenvolvimento no fortalecimento da capacidade deles para estudar suas próprias bases de
recursos e seus sistemas ecológicos e para gerenciá-los melhor com o objetivo de enfrentar os
problemas nacionais, regionais e mundiais. Ademais, tendo em vista a envergadura e a
complexidade dos problemas ambientais no plano mundial, é evidente em todo o mundo a
Agenda 21 - Global 352

necessidade de contar com mais especialistas em diversas disciplinas.

Objetivos

35.21. O objetivo fundamental é melhorar a capacidade científica de todos os países, em


especial dos países em desenvolvimento, especificamente em relação a:
(a) Ensino, treinamento e instalações para as atividades de pesquisa e
desenvolvimento locais, e desenvolvimento de recursos humanos em disciplinas científicas
básicas e ciências relacionadas com o meio ambiente, utilizando, quando apropriado, os
conhecimentos tradicionais e locais de sustentabilidade;
(b) Aumento substancial, até o ano 2000, do número de cientistas, em especial de
mulheres cientistas, nos países em desenvolvimento em que seu número é atualmente
insuficiente;
(c) Reduzir consideravelmente o êxodo de cientistas dos países em
desenvolvimento e estimular os que saíram a regressar;
(d) Melhorar o acesso de cientistas e responsáveis por decisões às informações
pertinentes, com o objetivo de aumentar a consciência do público e sua participação na tomada de
decisões;
(e) Participação de cientistas em programas de pesquisa sobre o meio ambiente e
desenvolvimento nos planos nacional, regional e mundial, inclusive pesquisa multidisciplinares;
(f) Atualização acadêmica periódica de cientistas de países em desenvolvimento
em seus respectivos campos de conhecimento.

Atividades

35.22. Devem-se empreender as seguintes atividades:


(a) Promover o ensino e o treinamento de cientistas, não só em suas respectivas
disciplinas, mas também na capacidade para identificar, gerenciar e incorporar considerações
ambientais aos projetos de pesquisa e desenvolvimento; assegurar que se estabeleça uma base
sólida nos sistemas naturais, ecologia e manejo dos recursos; e desenvolver especialistas capazes
de trabalhar em programas interdisciplinares relacionados com meio ambiente e
desenvolvimento, inclusive no campo das ciências sociais aplicadas;
(b) Fortalecer a infra-estrutura científica em escolas, universidades e instituições
de pesquisa, especialmente nos países em desenvolvimento, proporcionando o equipamento
científico apropriado e facilitando o acesso às publicações científicas atuais, a fim de que esses
países possam formar e manter uma massa crítica de cientistas qualificados;
(c) Desenvolver e expandir bancos de dados científicos e tecnológicos no plano
nacional, processar dados em formatos e sistemas unificados e permitir o fácil acesso às
bibliotecas depositárias das redes regionais de informação científica e tecnológica. Promover a
comunicação de informação científica e tecnológica e de bancos de dados a centros de dados
mundiais ou regionais e sistemas de redes;
(d) Desenvolver e expandir as redes de informação científica e tecnológica
regionais e mundiais, vinculadas às bases nacionais de dados científicos e tecnológicos; reunir,
processar e difundir informação procedente de programas científicos regionais e mundiais;
ampliar as atividades para reduzir os obstáculos que se opõem à informação devido a diferenças
lingüísticas; aumentar as aplicações, especialmente nos países em desenvolvimento, de sistemas
de recuperação de informação por computador a fim de dar conta do aumento da literatura
Agenda 21 - Global 353

científica;
(e) Desenvolver, fortalecer e forjar novas parcerias entre o pessoal especializado
nos planos nacional, regional e mundial para promover o intercâmbio pleno e aberto de
informação e de dados científicos e tecnológicos, assim como para facilitar a assistência técnica
relativa ao desenvolvimento ambientalmente saudável e sustentável. Isso deve ser feito por meio
do desenvolvimento de mecanismos para o interncâmbio de pesquisas, dados e informações
básicas e melhoria e desenvolvimento de redes e centros internacionais, inclusive a vinculação
regional com bancos de dados científicos nacionais para fins de pesquisa, treinamento e
monitoramento. Tais mecanismos devem ser projetados para aperfeiçoar a cooperação técnica
entre os cientistas de todos os países e estabelecer alianças regionais e nacionais sólidas entre a
indústria e as instituições de pesquisa;
(f) Aperfeiçoar e desenvolver novos vínculos entre as redes atuais de especialistas
em ciências naturais e sociais e as universidades no plano internacional, a fim de fortalecer a
capacidade nacional na formulação de opções de política na esfera do meio ambiente e
desenvolvimento;
(g) Reunir, analisar e publicar informações sobre os conhecimentos autóctones
sobre meio ambiente e desenvolvimento e auxiliar as comunidades que possuam esses
conhecimentos a se beneficiarem deles.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


35.23. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $750 milhões de dólares, inclusive
cerca de $470 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional no termo
finenceiro ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas
pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
(b) Meios científicos e tecnológicos
35.24. Esses meios incluem o aumento e fortalecimento das redes e centros
multidisciplinares regionais de pesquisa e treinamento, aproveitando ao máximo as instalações
existentes e os sistemas de apoio conexos de desenvolvimento sustentável e tecnologia nas
regiões em desenvolvimento; promover e utilizar o potencial das iniciativas independentes e das
inovações e do espírito empresarial autóctones. A função dessas redes e centros podem
compreender, por exemplo:
(a) Apoiar e coordenar a cooperação científica entre todos os países da região;
(b) Estabelecer vínculos com os centros de monitoramento e fazer avaliações das
condições ambientais e de desenvolvimento;
(c) Apoiar e coordenar estudos nacionais sobre os caminhos para o
desenvolvimento sustentável;
(d) Organizar o ensino e o treinamento em ciências;
(e) Estabelecer e manter sistemas e bancos de dados de informação,
monitoramento e avaliação.
(c) Fortalecimento institucional
35.25. A fortalecimento institucional e técnica compreende o seguinte:
(a) Criar condições (por exemplo, salários, equipamentos e bibliotecas) para
Agenda 21 - Global 354

assegurar que os cientistas possam trabalhar efetivamente em seus países de origem;


(b) Melhorar as capacidades nacionais, regionais e mundiais de empreender
pesquisas científicas e aplicar a informação científica e tecnológica ao desenvolvimento
ambientalmente saudável e sustentável. Isso compreende a necessidade de aumentar os recursos
financeiros das redes de informação científica e tecnológica mundiais e regionais, de maneira que
possam funcionar de forma efetiva e eficaz para satisfazer as necessidades científicas dos países
em desenvolvimento; assegurar a fortalecimento institucional e técnica da mulher por meio do
aumento do recrutamento de mulheres para as atividades de pesquisa e treinamento em pesquisa.
Agenda 21 - Global 355

Capítulo 36

PROMOÇÃO DO ENSINO, DA CONSCIENTIZAÇÃO E DO TREINAMENTO

Introdução

36.1. O ensino, o aumento da consciência pública e o treinamento estão vinculados


virtualmente a todas as áreas de programa da Agenda 21 e ainda mais próximas das que se
referem à satisfação das necessidades básicas, fortalecimento institucional e técnica, dados e
informação, ciência e papel dos principais grupos. Este capítulo formula propostas gerais,
enquanto que as sugestões específicas relacionadas com as questões setoriais aparecem em outros
capítulos. A Declaração e as Recomendações da Conferência Intergovernamental de Tbilisi sobre
Educação Ambiental(1), organizada pela UNESCO e o PNUMA e celebrada em 1977,
ofereceram os princípios fundamentais para as propostas deste documento.
36.2. As áreas de programas descritas neste capítulo são:
(a) Reorientação do ensino no sentido do desenvolvimento sustentável;
(b) Aumento da consciência pública;
(c) Promoção do treinamento.

Áreas de Programas

A. Reorientação do ensino no sentido do desenvolvimento sustentável

Base para a ação

36.3. O ensino, inclusive o ensino formal, a consciência pública e o treinamento devem


ser reconhecidos como um processo pelo qual os seres humanos e as sociedades podem
desenvolver plenamente suas potencialidades. O ensino tem fundamental importância na
promoçåo do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para abordar
questões de meio ambiente e desenvolvimento. Ainda que o ensino básico sirva de fundamento
para o ensino em matéria de ambiente e desenvolvimento, este último deve ser incorporado como
parte essencial do aprendizado. Tanto o ensino formal como o informal são indispensáveis para
modificar a atitude das pessoas, para que estas tenham capacidade de avaliar os problemas do
desenvolvimento sustentável e abordá-los. O ensino é também fundamental para conferir
consciência ambiental e ética, valores e atitudes, técnicas e comportamentos em consonância com
o desenvolvimento sustentável e que favoreçam a participação pública efetiva nas tomadas de
decisão. Para ser eficaz, o ensino sobre meio ambiente e desenvolvimento deve abordar a
dinâmica do desenvolvimento do meio físico/biológico e do sócio-econômico e do
desenvolvimento humano (que pode incluir o espiritual), deve integrar-se em todas as disciplinas
e empregar métodos formais e informais e meios efetivos de comunicação.

Objetivos

36.4. Reconhecendo-se que os países e as organizações regionais e internacionais


determinarão suas próprias prioridades e prazos para implementação, em conformidade com suas
necessidades, políticas e programas, os seguintes objetivos são propostos:
Agenda 21 - Global 356

(a) Endossar as recomendações da Conferência Mundial sobre Ensino para Todos:


Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem(2) (Jomtien, Tailândia, 5 a 9 de março de
1990), procurar assegurar o acesso universal ao ensino básico, conseguir, por meio de ensino
formal e informal, que pelo menos 80 por cento das meninas e 80 por cento dos meninos em
idade escolar terminem a escola primária, e reduzir a taxa de analfabetismo entre os adultos ao
menos pela metade de seu valor de 1990. Os esforços devem centralizar-se na redução dos altos
níveis de analfabetismo e na compensação da falta de oportunidades que têm as mulheres de
receber ensino básico, para que seus índices de alfabetização venham a ser compatíveis com os
dos homens;
(b) Desenvolver consciência do meio ambiente e desenvolvimento em todos os
setores da sociedade em escala mundial e com a maior brevidade possível;
(c) Lutar para facilitar o acesso à educação sobre meio ambiente e
desenvolvimento, vinculada à educação social, desde a idade escolar primária até a idade adulta
em todos os grupos da população;
(d) Promover a integração de conceitos de ambiente e desenvolvimento, inclusive
demografia, em todos os programas de ensino, em particular a análise das causas dos principais
problemas ambientais e de desenvolvimento em um contexto local, recorrendo para isso às
melhores provas científicas disponíveis e a outras fontes apropriadas de conhecimentos, e dando
especial atenção ao aperfeiçoamento do treinamento dos responsáveis por decisões em todos os
níveis.

Atividades

36.5. Reconhecendo-se que os países e as organizações regionais e internacionais


determinarão suas próprias prioridades e prazos para implementação, em conformidade com suas
necessidades, políticas e programas, as seguintes atividades são propostas:
(a) Todos os países são incentivados a endossar as recomendações da Conferência
de Jomtien e a lutar para assegurar sua estrutura de ação. Essa atividade deve compreender a
preparação de estratégias e atividades nacionais para satisfazer as necessidades de ensino básico,
universalizar o acesso e promover a eqüidade, ampliar os meios e o alcance do ensino,
desenvolver um contexto de política de apoio, mobilizar recursos e fortalecer a cooperação
internacional para compensar as atuais disparidades econômicas, sociais e de gênero que
interferem no alcance desses objetivos. As organizações não- governamentais podem dar uma
importante contribuição para a formulação e implementação de programas educacionais e devem
ser reconhecidas;
(b) Os Governos devem procurar atualizar ou preparar estratégias destinadas a
integrar meio ambiente e desenvolvimento como tema interdisciplinar ao ensino de todos os
níveis nos próximos três anos. Isso deve ser feito em cooperação com todos os setores da
sociedade. Nas estratégias devem-se formular políticas e atividades e identificar necessidades,
custos, meios e cronogramas para sua implementação, avaliação e revisão. Deve-se empreender
uma revisão exaustiva dos currículos para assegurar uma abordagem multidisciplinar, que
abarque as questões de meio ambiente e desenvolvimento e seus aspectos e vínculos sócio-
culturais e demográficos. Deve-se respeitar devidamente as necessidades definidas pela
comunidade e os diversos sistemas de conhecimentos, inclusive a ciência e a sensibilidade
cultural e social;
(c) Os países são incentivados a estabelecer organismos consultivos nacionais para
a coordenação da educação ecológica ou mesas redondas representativas de diversos interesses,
Agenda 21 - Global 357

tais como o meio ambiente, o desenvolvimento, o ensino, a mulher e outros, e das organizações
não-governamentais, com o fim de estimular parcerias, ajudar a mobilizar recursos e criar uma
fonte de informação e de coordenação para a participação internacional. Esses órgãos devem
ajudar a mobilizar os diversos grupos de população e comunidades e facilitar a avaliação por eles
de suas próprias necessidades e a desenvolver as técnicas necessárias para elaborar e por em
prática suas próprias iniciativas sobre meio ambiente e desenvolvimento;
(d) Recomenda-se que as autoridades educacionais, com a assistência apropriada
de grupos comunitários ou de organizações não-governamentais, colaborem ou estabeleçam
programas de treinamento prévio e em serviço para todos os professores, administradores e
planejadores educacionais, assim como para educadores informais de todos os setores,
considerando o caráter e os métodos de ensino sobre meio ambiente e desenvolvimento e
utilizando a experiência pertinente das organizações não-governamentais;
(e) As autoridades pertinentes devem assegurar que todas as escolas recebam
ajuda para a elaboração de planos de trabalho sobre as atividades ambientais, com a participação
dos estudantes e do pessoal. As escolas devem estimular a participação dos escolares nos estudos
locais e regionais sobre saúde ambiental, inclusive água potável, saneamento, alimentação e os
ecossistemas e nas atividades pertinentes, vinculando esse tipo de estudo com os serviços e
pesquisas realizadas em parques nacionais, reservas de fauna e flora, locais de herança ecológica
etc.;
(f) As autoridades educacionais devem promover métodos educacionais de valor
demonstrado e o desenvolvimento de métodos pedagógicos inovadores para sua aplicação
prática. Devem reconhecer também o valor dos sistemas de ensino tradicional apropriados nas
comunidades locais;
(g) Dentro dos próximos dois anos, o sistema das Nações Unidas deve empreender
uma revisão ampla de seus programas de ensino, compreendendo treinamento e consciência
pública, com o objetivo de reavaliar prioridades e realocar recursos. O Programa Internacional de
Educação Ambiental da UNESCO e do PNUMA, em colaboração com os órgãos pertinentes do
sistema das Nações Unidas, os Governos, as organizações não-governamentais e outras
entidades, devem estabelecer um programa, em um prazo de dois anos, para integrar as decisões
da Conferência à estrutura existente das Nações Unidas, adaptado para as necessidades de
educadores de diferentes níveis e circunstâncias. As organizações regionais e as autoridades
nacionais devem ser estimuladas a elaborar programas e oportunidades paralelos análogos,
analisando a maneira de mobilizar os diversos setores da população para avaliar e enfrentar suas
necessidades em matéria de educação sobre meio ambiente e desenvolvimento;
(h) É necessário fortalecer, em um prazo de cinco anos, o intercâmbio de
informação por meio do melhoramento da tecnologia e dos meios necessários para promover a
educação sobre meio ambiente e desenvolvimento e a consciência pública. Os países devem
cooperar entre si e com os diversos setores sociais e grupos de população para preparar
instrumentos educacionais que abarquem questões e iniciativas regionais sobre meio ambiente e
desenvolvimento, utilizando materiais e recursos de aprendizagem adaptados às suas próprias
necessidades;
(i) Os países podem apoiar as universidades e outras atividades terciárias e redes
para educação ambiental e desenvolvimento. Devem-se oferecer a todos os estudantes cursos
interdisciplinares. As redes e atividades regionais e ações de universidades nacionais que
promovam a pesquisa e abordagens comuns de ensino em desenvolvimento sustentável devem
ser aproveitadas e devem-se estabelecer novos parceiros e vínculos com os setores empresariais e
outros setores independentes, assim como com todos os países, tendo em vista o intercâmbio de
Agenda 21 - Global 358

tecnologia, conhecimento técnico-científico e conhecimentos em geral;


(j) Os países, com a assistência de organizações internacionais, organizações não-
governamentais e outros setores, podem fortalecer ou criar centros nacionais ou regionais de
excelência para pesquisa e ensino interdisciplinares nas ciências de meio ambiente e
desenvolvimento, direito e manejo de problemas ambientais específicos. Estes centros podem ser
universidades ou redes existentes em cada país ou região, que promovam a cooperação na
pesquisa e difusão da informação. No plano mundial, essas funções devem ser desempenhadas
por instituições apropriadas;
(k) Os países devem facilitar e promover atividades de ensino informal nos planos
local, regional e nacional por meio da cooperação e apoio aos esforços dos educadores informais
e de outras organizações baseadas na comunidade. Os órgãos competentes do sistema das Nações
Unidas, em colaboração com as organizações não-governamentais, devem incentivar o
desenvolvimento de uma rede internacional para alcançar os objetivos mundiais para o ensino.
Nos foros públicos e acadêmicos dos planos nacional e local devem-se examinar as questões de
meio ambiente e desenvolvimento e sugerir opções sustentáveis aos responsáveis por decisões;
(l) As autoridades educacionais, com a colaboração apropriada das organizações
não-governamentais, inclusive as organizações de mulheres e de populações indígenas, devem
promover todo tipo de programas de educação de adultos para incentivar a educação permanente
sobre meio ambiente e desenvolvimento, utilizando como base de operações as escolas primárias
e secundárias e centrando-se nos problemas locais. Estas autoridades e a indústria devem
estimular as escolas de comércio, indústria e agricultura para que incluam temas dessa natureza
em seus currículos. O setor empresarial pode incluir o desenvolvimento sustentável em seus
programas de ensino e treinamento. Os programas de pós-graduação devem incluir cursos
especialmente concebidos para treinar os responsáveis por decisões;
(m) Governos e autoridades educacionais devem promover oportunidades para a
mulher em campos não tradicionais e eliminar dos currículos os estereótipos de gênero. Isso pode
ser feito por meio da melhoria das oportunidades de inscrição e incorporação da mulher, como
estudante ou instrutora, em programas avançados, reformulação das disposições de ingresso e
normas de dotação de pessoal docente e criação de incentivos para estabelecer serviços de creche,
quando apropriado. Deve-se dar prioridade à educação das adolescentes e a programas de
alfabetização da mulher;
(n) Os Governos devem garantir, por meio de legislação, se necessário, o direito
dos populações indígenas a que sua experiência e compreensão sobre o desenvolvimento
sustentável desempenhe um papel no ensino e no treinamento;
(o) As Nações Unidas podem manter um papel de monitoramento e avaliação em
relação às decisões da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
sobre educação e conscientização, por meio de agências pertinentes das Nações Unidas. Em
coordenação com os Governos e as organizações governamentais, quando apropriado, as Nações
Unidas devem apresentar e difundir as decisões sob diversas formas e assegurar a constante
implementação e revisão das conseqüências educacionais das decisões da Conferência, em
particular por meio da celebração de atos e conferências pertinentes.

Meios de implementação

Financiamento e estimativa de custos


36.6. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) da
implementação das atividades deste programa em cerca de $8 a $9 bilhões de dólares, inclusive
Agenda 21 - Global 359

cerca de $3.5 a $4.5 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em
termos concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.
36.7. Considerando-se a situação específica de cada país, pode-se dar mais apoio às
atividades de ensino, treinamento e conscientização relacionadas com meio ambiente e
desenvolvimento, nos casos apropriados, por meio de medidas como as que se seguem:
(a) Dar alta prioridade a esses setores nas alocações orçamentárias, protegendo-os
das exigências de cortes estruturais;
(b) Nos orçamentos já estabelecidos para o ensino, transferir créditos para o ensino
primário, com foco em meio ambiente e desenvolvimento;
(c) Promover condições em que as comunidades locais participem mais dos gastos
e as comunidades mais ricas ajudem as mais pobres;
(d) Obter fundos adicionais de doadores particulares para concentrá-los nos países
mais pobres e naqueles em que a taxa de alfabetização esteja abaixo dos 40 por cento;
(e) Estimular a conversão da dívida em atividades de ensino;
(f) Eliminar as restrições sobre o ensino privado e aumentar o fluxo de fundos de e
para organizações não- governamentais, inclusive organizações populares de pequena escala;
(g) Promover a utilização eficaz das instalações existentes, por exemplo, com
vários turnos em uma escola, aproveitamento pleno das universidades abertas e outros tipos de
ensino à distância;
(h) Facilitar a utilização dos meios de comunicação de massa, de forma gratuita ou
barata, para fins de ensino;
(i) Estimular as relações de reciprocidade entre as universidades de países
desenvolvidos e em desenvolvimento.

B. Aumento da consciência pública

Base para a ação

36.8. Ainda há muito pouca consciência da inter-relação existente entre todas as


atividades humanas e o meio ambiente devido à insuficiência ou inexatidão da informação. Os
países em desenvolvimento, em particular, carecem da tecnologia e dos especialistas
competentes. É necessário sensibilizar o público sobre os problemas de meio ambiente e
desenvolvimento, fazê-lo participar de suas soluções e fomentar o senso de responsabilidade
pessoal em relação ao meio ambiente e uma maior motivação e dedicação em relação ao
desenvolvimento sustentável.

Objetivo

36.9. O objetivo consiste em promover uma ampla consciência pública como parte
indispensável de um esforço mundial de ensino para reforçar atitudes, valores e medidas
compatíveis com o desenvolvimento sustentável. É importante enfatizar o princípio da delegação
de poderes, responsabilidades e recursos ao nível mais apropriado e dar preferência para a
responsabilidade e controle locais sobre as atividades de conscientização.
Agenda 21 - Global 360

Atividades

36.10. Reconhecendo-se que os países e as organizações regionais e internacionais


devem desenvolver suas próprias prioridades e prazos para implementação, em conformidade
com suas necessidades, políticas e programas, os seguintes objetivos são propostos:
(a) Os países devem fortalecer os organismos consultivos existentes ou estabelecer
outros novos de informação pública sobre meio ambiente e desenvolvimento e coordenar as
atividades com as Nações Unidas, as organizações não-governamentais e os meios de difusão
mais importantes. Devem também estimular a participação do público nos debates sobre políticas
e avaliações ambientais. Além disso, os Governos devem facilitar e apoiar a formação de redes
nacionais e locais de informação por meio dos sistemas já existentes;
(b) O sistema das Nações Unidas deve melhorar seus meios de divulgação por
meio de uma revisão de suas atividades de ensino e conscientização do público para promover
uma maior participação e coordenação de todas as partes do sistema, especialmente de seus
organismos de informação e suas operações nacionais e regionais. Devem ser feitos estudos
sistemáticos dos resultados das campanhas de difusão, tendo presentes as necessidades e as
contribuições de grupos específicos da comunidade;
(c) Devem-se estimular os países e as organizações regionais, quando apropriado,
a proporcionar serviços de informação pública sobre meio ambiente e desenvolvimento para
aumentar a consciência de todos os grupos, do setor privado e, em particular, dos responsáveis
por decisões;
(d) Os países devem estimular os estabelecimentos educacionais em todos os
setores, especialmente no setor terciário, para que contribuam mais para a conscientização do
público. Os materiais didáticos de todo os tipos e para todo o tipo de público devem basear-se na
melhor informação científica disponível, inclusive das ciências naturais, sociais e do
comportamento, considerando as dimensões ética e estética;
(e) Os países e o sistema das Nações Unidas devem promover uma relação de
cooperação com os meios de informação, os grupos de teatro popular e as indústrias de
espetáculo e de publicidade, iniciando debates para mobilizar sua experiência em influir sobre o
comportamento e os padrões de consumo do público e fazendo amplo uso de seus métodos. Essa
colaboração também aumentará a participação ativa do público no debate sobre meio ambiente. O
UNICEF deve colocar a disposição dos meios de comunicação material orientado para as
crianças, como instrumento didático, assegurando uma estreita colaboração entre o setor da
informação pública extra-escolar e o currículo do ensino primário. A UNESCO, o PNUMA e as
universidades devem enriquecer os currículos para jornalistas com temas relacionados com meio
ambiente e desenvolvimento;
(f) Os países, em colaboração com a comunidade científica, devem estabelecer
maneiras de empregar tecnologia moderna de comunicação para chegar eficazmente ao público.
As autoridades nacionais e locais do ensino e os organismos pertinentes das Nações Unidas
devem expandir, quando apropriado, a utilização de meios audiovisuais, especialmente nas zonas
rurais, por meio do emprego de unidades de móveis, produzindo programas de rádio e televisão
para os países em desenvolvimento, envolvendo a participação local e empregando métodos
interativos de multimídia e integrando métodos avançados com os meios de comunicação
populares;
(g) Os países devem promover, quando apropriado, atividades de lazer e turismo
ambientalmente saudáveis, baseando-se na Declaração de Haia sobre Turismo (1989) e os
programas atuais da Organizaão Mundial de Turismo e o PNUMA, fazendo uso adequado de
Agenda 21 - Global 361

museus, lugares históricos, jardins zoológicos, jardins botânicos, parques nacionais e outras áreas
protegidas;
(h) Os países devem incentivar as organizações não- governamentais a aumentar
seu envolvimento nos problemas ambientais e de desenvolvimento por meio de iniciativas
conjuntas de difusão e um maior intercâmbio com outros setores da sociedade;
(i) Os países e o sistema das Nações Unidas devem aumentar sua interação
e incluir, quando apropriado, os populações indígenas no manejo, planejamento e
desenvolvimento de seu meio ambiente local, e incentivar a difusão de conhecimentos
tradicionais e socialmente transmitidos por meio de costumes locais, especialmente nas zonas
rurais, integrando esses esforços com os meios de comunicação eletrônicos, sempre que
apropriado;
(j) O UNICEF, a UNESCO , o PNUMA e as organizações não-governamentais
devem desenvolver programas para envolver jovens e crianças com assuntos relacionados a meio
ambiente e desenvolvimento, tais como reuniões informativas para crianças e jovens, baseadas
nas decisões da Cúpula Mundial da Infância(3);
(k) Os países, as Nações Unidas e as organizações não-governamentais devem
estimular a mobilização de homens e mulheres em campanhas de conscientização, sublinhando o
papel da família nas atividades do meio ambiente, a contribuição da mulher na transmissão dos
conhecimentos e valores sociais e o desenvolvimento dos recursos humanos;
(l) Deve-se aumentar a consciência pública sobre as conseqüências da violência na
sociedade.

Meios de implementação

Financiamento e estimativa de custos


36.11. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) de
implementação das atividades deste programa em cerca de $1.2 bilhões de dólares, inclusive
cerca de $110 milhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar
para a implementação.

C. Promoção do treinamento

Base para a ação

36.12. O treinamento é um dos instrumentos mais importantes para desenvolver recursos


humanos e facilitar a transição para um mundo mais sustentável. Ele deve ser dirigido a
profissões determinadas e visar preencher lacunas no conhecimento e nas habilidades que
ajudarão os indivíduos a achar emprego e a participar de atividades de meio ambiente e
desenvolvimento. Ao mesmo tempo, os programas de treinamento devem promover uma
consciência maior das questões de meio ambiente e desenvolvimento como um processo de
aprendizagem de duas mãos.

Objetivos
Agenda 21 - Global 362

36.13. Propõem-se os seguintes objetivos:


(a) Estabelecer ou fortalecer programas de treinamento vocacional que atendam as
necessidades de meio ambiente e desenvolvimento com acesso assegurado a oportunidades de
treinamento, independentemente de condição social, idade, sexo, raça ou religião;
(b) Promover uma força de trabalho flexível e adaptável, de várias idades, que
possa enfrentar os problemas crescentes de meio ambiente e desenvolvimento e as mudanças
ocasionadas pela transição para uma sociedade sustentável;
(c) Fortalecer a capacidade nacional, particularmente no ensino e treinamento
científicos, para permitir que Governos, patrões e trabalhadores alcancem seus objetivos de meio
ambiente e desenvolvimento e facilitar a transferência e assimilação de novas tecnologias e
conhecimentos técnicos ambientalmente saudáveis e socialmente aceitáveis;
(d) Assegurar que as considerações ambientais e de ecologia humana sejam
integradas a todos os níveis administrativos e todos os níveis de manejo funcional, tais como
marketing, produção e finanças.

Atividades

36.14. Os países, com o apoio do sistema das Nações Unidas, devem determinar as
necessidades nacionais de treinamento de trabalhadores e avaliar as medidas que devem ser
adotadas para satisfazer essas necessidades. O sistema das Nações Unidas pode empreender, em
1995, um exame dos progressos alcançados nesta área.
36.15. Incentivam-se as associações profissionais nacionais a desenvolver e revisar seus
códigos de ética e conduta para fortalecer as conexões e o compromisso com o meio ambiente.
Os elementos do treinamento e do desenvolvimento pessoal dos programas patrocinados pelos
órgãos profissionais devem permitir a incorporação de conhecimentos e informações sobre a
implementação do desenvolvimento sustentável em todas as etapas da tomada de decisões e
formulação de políticas;
36.16. Os países e as instituições de ensino devem integrar as questões relativas a meio
ambiente e desenvolvimento nos programas já existentes de treinamento e promover o
intercâmbio de suas metodologias e avaliações.
36.17. Os países devem incentivar todos os setores da sociedade, tais como a indústria, as
universidades, os funcionários e empregados governamentais, as organizações não-
governamentais e as organizações comunitárias a incluir um componente de manejo do meio
ambiente em todas as atividades de treinamento pertinentes, com ênfase na satisfação das
necessidades imediatas do pessoal por meio do treinamento de curta duração em
estabelecimentos de ensino ou no trabalho. Devem-se fortalecer as possibilidades de treinamento
do pessoal de manejo na área do meio ambiente e iniciar programas especializados de
"treinamento de instrutores" para apoiar o treinamento a nível do país e da empresa. Devem-se
desenvolver novos critérios de treinamento em práticas ambientalmente saudáveis que criem
oportunidades de emprego e aproveitem ao máximo os métodos baseados no uso de recursos
locais;
36.18. Os países devem estabelecer ou fortalecer programas práticos de treinamento para
graduados de escolas de artes e ofícios, escolas secundárias e universidades, em todos os países, a
fim de prepará-los para as necessidades do mercado de trabalho e para ganhar a vida. Devem-se
instituir programas de treinamento e retreinamento para enfrentar os ajustes estruturais que têm
impacto sobre o emprego e as qualificações profissionais.
36.19. Incentivam-se os Governos a consultar pessoas em situações isoladas do ponto de
Agenda 21 - Global 363

vista geográfico, cultural ou social, para determinar suas necessidades de treinamento a fim de
permitir-lhes uma maior contribuição ao desenvolvimento de práticas de trabalho e modos de
vida sustentáveis.
36.20. Os Governos, a indústria, os sindicatos e os consumidores devem promover a
compreensão da relação existente entre um meio ambiente saudável e práticas empresariais
saudáveis.
36.21. Os países devem desenvolver um serviço de técnicos treinados e recrutados
localmente, capazes de proporcionar às comunidades e populações locais, em particular nas zonas
urbanas e rurais marginais, os serviços que necessitam, começando com a atenção primária ao
meio ambiente.
36.22. Os países devem incrementar as possibilidades de acesso, análise e uso eficaz da
informação e conhecimentos disponíveis sobre meio ambiente e desenvolvimento. Devem-se
reforçar os programas de treinamento especiais existentes para apoiar as necessidades de
informação de grupos especiais. Devem ser avaliados os efeitos desses programas na
produtividade, saúde, segurança e emprego. Devem-se criar sistemas nacionais e regionais de
informação sobre o mercado de trabalho relacionado com o meio ambiente, sistemas que
proporcionem de forma constante dados sobre as oportunidades de treinamento e trabalho.
Devem-se preparar e atualizar guias sobre os recursos de treinamento em meio ambiente e
desenvolvimento que contenham informações sobre programas de treinamento, currículos,
metodologias e resultados de avaliações nos planos nacional, regional e internacional.
36.23. Os organismos de auxílio devem reforçar o componente de treinamento em todos
os projetos de desenvolvimento, enfatizando uma abordagem multidisciplinar, promovendo a
consciência e proporcionando os meios de adquirir as capacidades necessárias para assegurar a
transição para uma sociedade sustentável. As diretrizes de manejo do meio ambiente do PNUMA
para as atividades operacionais do sistema das Nações Unidas podem contribuir para a
consecução deste objetivo.
36.24. As redes existentes de organizações de patrões e trabalhadores, as associações
industriais e as organizações não-governamentais devem facilitar o intercâmbio de experiências
relacionadas a programas de treinamento e conscientização.
36.25. Os Governos, em colaboração com as organizações internacionais pertinentes,
devem desenvolver e implementar estratégias para enfrentar ameaças e situações de emergência
ambientais nos planos nacional, regional e local, enfatizando programas práticos e urgentes de
treinamento e conscientização para aumentar a preparação do público.
36.26. O sistema das Nações Unidas deve ampliar, quando apropriado, seus programas
de treinamento, especialmente suas atividades de treinamento ambiental e de apoio a
organizações de patrões e trabalhadores.

Meios de implementação

Financiamento e estimativa de custos


36.27. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) de
implementação das atividades deste programa em cerca de $5 bilhões de dólares, inclusive cerca
de $2 bilhões de dólares a serem providos pela comunidade internacional em termos
concessionais ou de doações. Estas são estimativas apenas indicativas e aproximadas, não
revisadas pelos Governos. Os custos reais e os termos financeiros, inclusive os não concessionais,
dependerão, inter alia, das estratégias e programas específicos que os Governos decidam adotar.
Agenda 21 - Global 364

1. Conferência Intergovernamental sobre a Educação Ambiental: Relatório Final (Paris


Unesco, 1978), cap. III.
2. Relatório Final da Conferência Mundial sobre Ensino para Todos: Satisfação das
necessidades básicas de aprendizagem, Jomtien, Tailândia, 5 a 9 de março de 1990, (Nova York,
Comissão Interinstitucional (PNUD, UNESCO, UNICEF, Banco Mundial) para a Conferência
Mundial sobre Ensino para Todos, Nova York, 1990).
3. Ver A/45/625, anexo.
Agenda 21 - Global 365

Capítulo 37

MECANISMOS NACIONAIS E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA


FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

Área de programa

Base para a ação

37.1. A capacidade de um país de seguir caminhos de desenvolvimento sustentável é


determinada em grande medida pela capacidade de sua população e suas instituições, assim como
pela suas condições ecológicas e geográficas. Especificamente, o fortalecimento institucional e
técnica abarca a capacitação humanas, científicas, tecnológicas, organizacionais, institucionais e
de recursos do país. Um dos objetivos fundamentais do fortalecimento institucional e técnica é
fortalecer a capacidade de avaliar e abordar questões cruciais relacionadas com as escolhas de
políticas e as modalidades de implementação entre as opções de desenvolvimento, baseadas no
entendimento das potencialidades e limitações do meio ambiente e das necessidades como
percebidas pelo povo do país interessado. Em conseqüência, a necessidade de fortalecer o
fortalecimento nacional é compartilhada por todos os países.
37.2. O aumento da capacidade endógena para implementar a Agenda 21 requerirá um
esforço por parte dos próprios países, em cooperação com as organizações pertinentes do sistema
das Nações Unidas e com os países desenvolvidos. A comunidade internacional, nos planos
nacional, sub-regional e regional, assim como as municipalidades, as organizações não-
governamentais, as universidades e centros de pesquisa e as empresas e outras instituições e
organizações privadas, também podem apoiar esses esforços. É essencial que cada país determine
suas prioridades, assim como os meios para construir sua capacidade para implementar a Agenda
21, considerando suas necessidades ambientais e econômicas. As habilidades, conhecimentos e
know how técnico nos planos individual e institucional são necessários para o desenvolvimento
das instituições, a análise de políticas e o manejo do desenvolvimento, inclusive para a avaliação
de modalidades de ação alternativas tendo em vista melhorar o acesso à tecnologia e a sua
transferência e promover o desenvolvimento econômico. A cooperação técnica, inclusive a que se
refere à transferência de tecnologia e de conhecimentos técnicos-científicos, engloba toda uma
série de atividades para desenvolver e fortalecer as capacidades individuais e de grupo. Deve
servir do propósito do fortalecimento institucional e técnica a longo prazo e deve ser gerenciada e
coordenada pelos próprios países. A cooperação técnica, inclusive a que se relaciona com a
transferência de tecnologia e os conhecimentos técnicos-científicos, só é efetiva quando é
derivada das estratégias e prioridades ambientais e de desenvolvimento do próprio país e a elas se
relacionam e quando os organismos de desenvolvimento e os Governos definem políticas e
procedimentos melhores e mais coerentes para apoiar esse processo.

Objetivos

37.3. Os objetivos gerais da fortalecimento institucional e técnica endógena nesta área de


programas são desenvolver e melhorar as capacidades nacionais e as capacidades sub-regionais e
regionais conexas de desenvolvimento sustentável, com a participação dos setores não-
Agenda 21 - Global 366

governamentais. O programa deve prestar apoio por meio de:


(a) Promoção de um processo constante de participação para determinar as
necessidades e prioridades dos países relacionadas com a promoção da Agenda 21 e atribuição de
importância ao desenvolvimento dos recursos humanos técnicos e profissionais e ao
desenvolvimento das capacidades e institucionais na agenda dos países, com a devida
consideração do potencial para o uso ótimo dos recursos humanos existentes, assim como da
melhoria da eficácia das instituições existentes e das organizações não-governamentais, inclusive
das instituições científicas e tecnológicas;
(b) Reorientação da cooperação técnica, e, nesse processo, o estabelecimento de
novas prioridades nessa área, inclusive a relacionada com o processo de transferência de
tecnologia e conhecimentos técnicos-científicos, dando a devida atenção às condições e
necessidades individuais dos receptores, melhorando ao mesmo tempo a coordenação entre os
que provêm assistência para apoiar os programas de ação dos próprios países. Esta coordenação
deve estender-se também às organizações não-governamentais e instituições científicas e
tecnológicas e, sempre que apropriado, ao comércio e indústria;
(c) Modificação da perspectiva cronológica do planejamento e implementação dos
programas, tendo em vista o desenvolvimento e o fortalecimento das estruturas institucionais
para aperfeiçoar sua capacidade de responder a novos desafios de longo prazo ao invés de
concentrar-se em problemas de caráter imediato;
(d) Melhoria e reorientação das instituições internacionais multilaterais existentes
com responsabilidade sobre questões ambientais e/ou de desenvolvimento para assegurar que
essas instituições disponham de potencial e capacidade para integrar meio ambiente e
desenvolvimento;
(e) Melhoria da capacidade e potencial institucionais, tanto público como privado,
para avaliar o impacto ambiental de todos os projetos de desenvolvimento.
37.4. Os objetivos específicos compreendem o seguinte:
(a) Cada país deve procurar terminar, tão rápido quanto possível e preferivelmente
até 1994, uma revisão de suas necessidades de aumento de capacidade e fortalecimento
institucional para elaborar estratégias nacionais de desenvolvimento sustentável, inclusive
aquelas necessárias a preparação e implementação de seu próprio programa de ação relacionado à
Agenda 21;
(b) Até 1997, o Secretariado Geral deve apresentar à Assembléia Geral um
relatório sobre a melhoria de políticas, sistemas de coordenação e procedimentos para fortalecer a
implementação dos programas de cooperação técnica para o desenvolvimento sustentável e as
medidas adicionais necessárias para reforçar essa cooperação. Esse relatório deve ser elaborado
com base nas informações providas pelos países, organizações internacionais, instituições de
meio ambiente e desenvolvimento, instituições doadoras e parceiros não-governamentais.

Atividades

(a) Desenvolvimento de um consenso nacional e formulação de estratégias de


fortalecimento institucional e técnica para implementar a Agenda 21
37.5. Como aspecto importante do planejamento geral, cada país deve buscar um
consenso interno em todos os níveis da sociedade sobre as políticas e programas necessários para
aumentar a curto prazo e a longo prazo a sua capacidade de implementar a parte que lhe
corresponda da Agenda 21. Esse consenso deve ser fruto de um diálogo participativo entre os
grupos de interesse pertinentes e deve permitir que se determinem as necessidades de
Agenda 21 - Global 367

conhecimentos especializados, as capacidades e os potenciais institucionais, as necessidades


tecnológicas, científicas e de recursos às quais é preciso atender para melhorar os conhecimentos
e a administração ambientais para integrar meio ambiente e desenvolvimento. O PNUD, em
colaboração com os organismos especializados pertinentes e outras organizações internacionais
intergovernamentais e não-governamentais, pode ajudar, a pedido dos Governos, na identificação
das necessidades de cooperação técnica, inclusive as relacionadas com a transferência de
tecnologia e assistência no que diz respeito a conhecimentos técnicos-científicos e
desenvolvimento tendo em vista a implementação da Agenda 21. O processo de planejamento
nacional, combinado, onde apropriado, com as estratégias ou planos de ação nacionais para o
desenvolvimento sustentável, deve proporcionar o quadro dessa cooperação e assistência. O
PNUD deve utilizar e melhorar sua rede de escritórios exteriores e seu amplo mandato para
prestar assistência, baseando-se em sua experiência no campo da cooperação técnica, para
facilitar o fortalecimento institucional nos planos nacional e regional, recorrendo plenamente ao
conhecimento de outros órgãos, em particular do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente, o Banco Mundial, comissões regionais e bancos de desenvolvimento, assim como as
organizações internacionais pertinentes, tanto intergovernamentais quanto não-governamentais.
(b) Identificação das fontes nacionais e formulação de pedidos de cooperação técnica,
inclusive os relativos à transferência de tecnologia e conehcimentos técnicos-científicos, no
quadro das estratégias setoriais
37.6. Os países que desejam acordos de cooperação técnica, inclusive a relacionada com a
transferência de tecnologia e conhecimentos técnicos-científicos, com organizações
internacionais e instituições doadoras devem formular requerimentos no quadro de estratégias de
longo prazo de capacitação de determinados setores ou sub-setores. Nas estratégias devem ser
considerados, conforme apropriado, os ajustes nas políticas que serão implementados, as questões
orçamentárias, a cooperação e coordenação entre as instituições e as necessidades de recursos
humanos, tecnologia e equipamento científico. Devem-se ter presentes as necessidades dos
setores público e privado e deve-se considerar fortalecer os programas de treinamento, ensino e
pesquisa científicas, inclusive o treinamento em países desenvolvidos e o fortalecimento de
centros de excelência nos países em desenvolvimento. Os países podem designar e fortalecer uma
unidade central para organizar e coordenar a cooperação técnica, vinculando-a ao processo de
fixação de prioridades e alocação de recursos.
(c) Estabelecimento de um mecanismo de revisão da cooperação técnica sobre
transferência de tecnologia e conhecimentos técnicos-científicos e a ela relacionada.
37.7. Doadores e receptores, as organizações e instituições do sistema das Nações Unidas
e as organizações públicas e privadas internacionais devem examinar o desenvolvimento do
processo de cooperação no que concerne à cooperação técnica, inclusive a relacionada com as
atividades de transferência de tecnologia e conhecimentos técnicos-científicos, vinculadas ao
desenvolvimento sustentável. Para facilitar esse processo e considerando o trabalho realizado
pelo PNUD e outras organizações na preparação da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, o Secretário Geral pode realizar consultas com os países em
desenvolvimento, organizações regionais, organizações e instituições do sistema das Nações
Unidas, inclusive comissões regionais e organismos multilaterais e bilaterais de ajuda e
ambientais, tendo em vista continuar fortalecendo a capacidade endógena dos países e melhorar a
cooperação técnica, inclusive a relacionada com o processo de transferência de tecnologia e
conhecimentos técnicos-científicos. Os seguintes aspectos devem ser revistos:
(a) Avaliação da capacidade e potencial existentes para o manejo integrado de
meio ambiente e desenvolvimento, compreendendo a capacidade e o potencial técnicos,
Agenda 21 - Global 368

tecnológicos e institucionais, assim como os meios para avaliar o impacto ambiental dos projetos
de desenvolvimento; e a avaliação da capacidade de atender as necessidades de cooperação
técnica, inclusive a relacionada com a transferência de tecnologia e de conhecimentos técnicos
científicos, da Agenda 21 e das convenções globais sobre mudança do clima e diversidade
biológica e de atuar em consonância com essas necessidades;
(b) Avaliação da contribuição das atividades em curso de cooperação técnica,
inclusive a relacionada com a transferência de tecnologia e conhecimentos técnicos-científicos
para o fortalecimento e melhoramento da capacidade e potencial nacionais para o manejo
integrado de meio ambiente e desenvolvimento; e avaliação dos meios para melhorar a qualidade
da cooperação técnica internacional, inclusive a relacionada com a transferência de tecnologia e
conhecimentos técnicos-científicos;
(c) Uma estratégia para empreender uma mudança dirigida ao melhoramento da
capacidade e do potencial em que se reconheça a necessidade de uma integração operacional de
meio ambiente e desenvolvimento com compromissos de longo prazo, baseados no conjunto de
programas nacionais estabelecidos por cada país por meio de processo participativo;
(d) Consideração da possibilidade de recorrer com mais freqüência a acordos de
cooperação de longo prazo entre municipalidades, organizações não-governamentais,
universidades, centros de treinamento e pesquisa, empresas e instituições públicas e privadas com
equivalentes em outros países ou nos mesmos países ou regiões. A esse respeito devem ser
avaliados programas como as Redes para Desenvolvimento Sustentável do PNUD;
(e) Fortalecimento da sustentabilidade de projetos, mediante a inclusão, na
formulação original do projeto, a consideração dos impactos ambientais, os custos para atender
ao desenvolvimento das instituições, dos recursos humanos e das necessidades tecnológicas, bem
como os requisitos financeiros e organizacionais para operação e manutenção;
(f) Melhoria da cooperação técnica, inclusive a relacionada com a transferência de
tecnologia e conhecimentos técnicos-científicos e os processos de manejo, dando uma maior
atenção à capacitação e ao aumento do potencial como parte integrante das estratégias de
desenvolvimento sustentável para programas de meio ambiente e desenvolvimento, tanto nos
processos de coordenação relativos aos países, tais como grupos consultivos e mesas redondas,
quanto nos mecanismos de coordenação setorial para capacitar os países em desenvolvimento a
participar ativamente na obtenção de assistência procedente de diversas fontes.
(d) Intensificação da contribuição técnica e coletiva do sistema das Nações Unidas para as
iniciativas de fortalecimento institucional e aumento do potencial
37.8. As organizações, órgãos e instituições do sistema das Nações Unidas, em
colaboração com outras organizações internacionais e regionais e os setores público e privado
podem, conforme apropriado, fortalecer suas atividades conjuntas de cooperação técnica,
inclusive a relacionada com a transferência de tecnologia e conhecimentos técnicos-científicos, a
fim de abordar questões relacionadas com meio ambiente e desenvolvimento e promover a
coerência e a consistência da ação. As organizações podem prestar assistência e apoiar os países
que a solicitem, particularmente os países menos desenvolvidos, em questões relacionadas com
políticas nacionais de meio ambiente e desenvolvimento, o desenvolvimento de recursos
humanos e o envio de especialista para o campo, a legislação, os recursos naturais e os dados
sobre o meio ambiente.
37.9. O PNUD, o Banco Mundial e os bancos regionais multilaterais de desenvolvimento,
como parte de sua participação nos mecanismos nacionais e regionais de coordenação, devem
prestar assistência para facilitar as atividades de fortalecimento institucional e aumento de
potencial no plano nacional, baseando-se na experiência específica e na capacidade operacional
Agenda 21 - Global 369

do PNUMA no campo do meio ambiente, assim como das agências especializadas e organizações
do Sistema das Nações Unidas e das organizações regionais e sub-regionais em suas respectivas
áreas de competência. Para este fim, o PNUD deve mobilizar fundos para atividades de
fortalecimento institucional e aumento do potencial, valendo-se para isso de sua rede de
escritórios no exterior e de seu amplo mandato e experiência no âmbito da cooperação técnica,
inclusive a relacionada com a transferência de tecnologia e conhecimentos técnicos-científicos. O
PNUD, junto com essas organizações internacionais, deve ao mesmo tempo continuar
desenvolvendo processos consultivos para intensificar a mobilização e coordenação de fundos da
comunidade internacional para a capacitação e aumento do potencial, inclusive com o
estabelecimento de um banco de dados adequado. Essas responsabilidades talvez precisem ser
acompanhadas de um fortalecimento das capacidades do PNUD.
37.10. A entidade nacional encarregada da cooperação técnica, com a assistência dos
representantes residentes do PNUD e dos representantes do PNUMA, deve constituir um
pequeno grupo de pessoas-chave que se encarregarão de orientar o processo, dando prioridades às
estratégias e prioridades próprias do país. A experiência obtida graças às atividades de
planejamento existentes, como os relatórios nacionais para a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, as estratégias nacionais de conservação e os planos de
ação para o meio ambiente, devem ser utilizados plenamente e incorporados a uma estratégia de
desenvolvimento sustentável impulsionada pelo próprio país e a ele dirigida e baseada na
participação. Isto deve ser complementado com redes de informação e consultas com as
organizações doadoras com o objetivo de melhorar a coordenação e o acesso ao conjunto de
conhecimentos científicos e técnicos existentes e à informação de que dispõem outras
instituições.
(e) Harmonização da prestação de assistência no plano regional
37.11. No plano regional, as organizações existentes devem considerar a conveniência de
aperfeiçoar os processos consultivos e as mesas redondas regionais e sub-regionais para facilitar
o intercâmbio de dados, informação e experiência na implementação da Agenda 21. Baseado nos
resultados dos estudos regionais sobre fortalecimento institucional que essas organizações
regionais tenham realizado por iniciativa da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, e em colaboração com as organizações regionais, sub-regionais ou
nacionais existentes que tenham o potencial de realizar atividades de coordenação regional, o
PNUD deve dar uma contribuição importante com esse propósito. A unidade nacional pertinente
deve estabelecer um mecanismo diretivo. Deve-se estabelecer um mecanismo de revisão
periódica entre os países da região, com a assistência das organizações regionais pertinentes e a
participação de bancos de desenvolvimento, instituições de ajuda bilateral e organizações não-
governamentais. Outra possibilidade é o desenvolvimento de recursos nacionais e regionais de
pesquisa e treinamento, baseados nas instituições regionais e sub-regionais existentes.

Meios de implementação

Financiamento e estimativa de custos


37.12. O custo da cooperação técnica bilateral prestada aos países em desenvolvimento,
inclusive a relacionada com a transferência de tecnologia e conhecimentos técnicos-científicos, é
de cerca de $15 bilhões de dólares, o que equivale a aproximadamente 25 por cento do total da
assistência oficial para o desenvolvimento. A implementação da Agenda 21 requererá uma
utilização mais eficaz desses fundos e financiamento adicional para áreas chave.
37.13. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) de
Agenda 21 - Global 370

implementação das atividades deste Capítulo em cerca de $300 milhões a $1 bilhão de dólares, a
serem providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
Agenda 21 - Global 371

Capítulo 38

ARRANJOS INSTITUCIONAIS INTERNACIONAIS

Bases para a ação

38.1. O mandato da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o


Desenvolvimento emana da resolução 44/228 da Assembléia Geral que, entre outras coisas,
afirmou que a Conferência devia elaborar estratégias e medidas para deter e inverter os efeitos da
degradação do meio ambiente no contexto da intensificação de esforços nacionais e
internacionais para promover o desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em
todos os países e que a promoção do crescimento econômico nos países em desenvolvimento é
fundamental para abordar os problemas da degradação ambiental. O processo de
acompanhamento intergovernamental das atividades decorrentes da Conferência deverá se
desenvolver no quadro do sistema das Nações Unidas e a Assembléia Geral será o foro normativo
supremo encarregado de proporcionar uma orientação geral aos governos, ao sistema das Nações
Unidas e aos órgãos pertinentes criados em virtude de tratados. Ao mesmo tempo, os governos,
assim como as organizações regionais de cooperação econômica e técnica, têm a
responsabilidade de desempenhar um papel importante no acompanhamento das atividades
decorrentes da Conferência. Seus compromissos e ações deverão ser devidamente apoiados pelo
sistema das Nações Unidas e pelas instituições financeiras multilaterais. Desta forma, haverá uma
relação de benefício mútuo entre os esforços nacionais e internacionais.
38.2. No cumprimento do mandato da Conferência, há a necessidade de arranjos
institucionais dentro do sistema das Nações Unidas que se ajustem e contribuam para a
reestruturação e revitalização das Nações Unidas nos campos econômico, social e conexos e para
a reforma geral das Nações Unidas, inclusive as mudanças que estão sendo introduzidas no
Secretariado. Dentro do espírito de reforma e revitalização do sistema das Nações Unidas, a
implementação da Agenda 21 e de outras conclusões da Conferência deve se basear em uma
abordagem orientada para a ação e resultados práticos e ser coerente com os princípios de
universalidade, democracia, transparência, eficácia em função de custos e responsabilidade.
38.3. O sistema das Nações Unidas, com sua capacidade multissetorial e a ampla
experiência de uma série de organismos especializados em diversos campos de cooperação
internacional no âmbito de meio ambiente e desenvolvimento, está em uma posição ímpar para
ajudar os governos a estabelecerem padrões mais eficazes de desenvolvimento econômico e
social, tendo em vista alcançar os objetivos da Agenda 21 e o desenvolvimento sustentável.
38.4. Todos os organismos das Nações Unidas têm um papel chave a desempenhar na
implementação da Agenda 21 dentro de seus respectivos campos de competência. Para assegurar
a devida coordenação e evitar a duplicação de esforços na implementação da Agenda 21, deve
haver uma divisão de trabalho eficaz entre os diversos componentes do sistema das Nações
Unidas, baseada em seus mandatos e em sua vantagens comparativas. Os Estados Membros,
através de seus órgãos pertinentes, estão em condições de garantir que essas tarefas sejam
realizadas adequadamente. Para facilitar a avaliação da atuação dos organismos e promover o
conhecimento de suas atividades, deve-se exigir de todos os órgãos do sistema das Nações
Unidas que elaborem e publiquem periodicamente relatórios de suas atividades relacionadas com
a implementação da Agenda 21. Também será necessário fazer exames conscienciosos e
contínuos de suas políticas, programas, orçamentos e atividades.
Agenda 21 - Global 372

38.5. Na implementação da Agenda 21 é importante a participação ininterrupta, ativa e


eficaz das organizações não-governamentais, da comunidade científica e do setor privado, assim
como dos grupos e comunidades locais.
38.6. A estrutura institucional proposta abaixo estará baseada em acordo sobre recursos e
mecanismos financeiros, transferência de tecnologia, a Declaração do Rio e a Agenda 21. Além
disso, deverá haver um vínculo efetivo entre as medidas substantivas e o apoio financeiro, o que
exigirá uma cooperação estreita e eficaz e o intercâmbio de informações entre o sistema das
Nações Unidas e as instituições financeiras multilaterais para o acompanhamento da
implementação da Agenda 21 dentro do arranjo institucional.

Objetivos

38.7. O objetivo geral é a integração das questões de meio ambiente e desenvolvimento


nos planos nacional, sub-regional, regional e internacional, inclusive nos arranjos institucionais
do sistema das Nações Unidas.
38.8. Os objetivos específicos devem ser:
(a) Assegurar e examinar a implementação da Agenda 21 de forma a alcançar o
desenvolvimento sustentável em todos os países;
(b) Realçar o papel e funcionamento do sistema das Nações Unidas no campo do
meio ambiente e desenvolvimento. Todos os organismos, organizações e programas pertinentes
do sistema das Nações Unidas devem adotar programas concretos para a implementação da
Agenda 21 e, em suas respectivas áreas de competência, proporcionar orientação para as
atividades das Nações Unidas ou assessoramento aos governos, quando solicitado;
(c) Fortalecer a cooperação e coordenação sobre meio ambiente e
desenvolvimento no sistema das Nações Unidas;
(d) Incentivar a interação e a cooperação entre o sistema das Nações Unidas e
outras instituições intergovernamentais e não-governamentais de âmbito sub-regional, regional e
mundial no campo de meio ambiente e desenvolvimento;
(e) Fortalecer as capacidades e os arranjos institucionais necessários para a
implementação, acompanhamento e exame eficazes da Agenda 21;
(f) Auxiliar no fortalecimento e na coordenação das capacidades e ações
nacionais, sub-regionais e regionais nas áreas de meio ambiente e desenvolvimento;
(g) Estabelecer cooperação e intercâmbio de informação eficazes entre os órgãos,
organizações e programas das Nações Unidas e os organismos financeiros multilaterais, dentro
dos arranjos internacionais necessários para o acompanhamento da implementação da Agenda 21;
(h) Dar resposta às questões existentes ou emergentes relativas a meio ambiente e
desenvolvimento;
(i) Assegurar que os novos arranjos institucionais apóiem a revitalização, a clara
divisão de responsabilidades e a evitação da duplicação de esforços no sistema das Nações
Unidas e dependam, o máximo possível, de recursos já existentes.

ESTRUTURA INSTITUCIONAL

A. Assembléia Geral

38.9. A Assembléia Geral, por ser o mecanismo intergovernamental de mais alto nível,
é o principal órgão de formulação de políticas e de avaliação em questões relativas ao
Agenda 21 - Global 373

acompanhamento das atividades geradas pela Conferência. A Assembléia organizará exames


periódicos da implementa
ção da Agenda 21. No cumprimento dessa tarefa, a Assembléia pode apreciar a escolha do
momento, a estrutura e os aspectos de organização de tais exames. Em particular, a Assembléia
poderá estudar a possibilidade de convocar um período extraordinário de sessões, o mais tardar
em 1997, com o objetivo de fazer um exame e avaliação geral da Agenda 21, com preparação
adequada em alto nível.

B. Conselho Econômico e Social

38.10. O Conselho Econômico e Social, no contexto da função que lhe é atribuída pela
Carta em relação à Assembléia Geral e à atual reestruturação e revitalização das Nações Unidas
nos campos econômico, social e conexos, será encarregado de apoiar a Assembléia Geral através
da supervisão da coordenação, em todo o sistema, da implementação da Agenda 21 e da
formulação de recomendações nesse sentido. Além disso, o Conselho dirigirá a coordenação e
integração, em todo o sistema, dos aspectos das políticas e dos programas das Nações Unidas
relacionados com meio ambiente e desenvolvimento e formulará recomendações apropriadas para
a Assembléia Geral, organismos especializados interessados e Estados Membros. Devem ser
tomadas as medidas necessárias para receber relatórios periódicos dos organismos especializados
sobre seus planos e programas relativos à implementação da Agenda 21, conforme o disposto no
Artigo 64 da Carta das Nações Unidas. O Conselho Econômico e Social deve organizar exames
periódicos do trabalho da Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável, prevista no parágrafo
38.11., assim como das atividades realizadas em todo o sistema para integrar meio ambiente e
desenvolvimento, fazendo pleno uso de seus segmentos de alto nível e coordenação.

C. Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável

38.11. Para assegurar o acompanhamento efetivo das atividades geradas pela


Conferência, assim como para intensificar a cooperação internacional e racionalizar a capacidade
intergovernamental de tomada de decisões encaminhadas para a integração das questões de meio
ambiente e desenvolvimento, e para examinar o progresso da implementação da Agenda 21 nos
planos nacional, regional e internacional, deve ser estabelecida uma Comissão sobre
Desenvolvimento Sustentável de alto nível, em conformidade com o Artigo 68 da Carta das
Nações Unidas. A Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável prestará contas ao Conselho
Econômico e Social no contexto da função que é atribuída ao Conselho pela Carta em relação à
Assembléia Geral. A Comissão estará integrada por representantes dos Estados eleitos como
membros, levando em consideração a distribuição geográfica eqüitativa. Os representantes dos
Estados não-membros da Comissão terão o estatuto de observadores. A Comissão permitirá a
participação ativa dos órgãos, programas e organizações do sistema das Nações Unidas,
instituições financeiras internacionais e outras organizações intergovernamentais pertinentes e
incentivará a participação das organizações não-governamentais, inclusive da indústria e das
comunidades empresarial e científica. A primeira reunião da Comissão deverá ser convocada o
mais tardar em 1993. A Comissão deverá receber o apoio do secretariado previsto no parágrafo
38.19. Entretanto, pede-se ao Secretário Geral das Nações Unidas que assegure, em caráter
provisório, os arranjos administrativos adequados.
38.12. A Assembléia Geral, em sua 47ª sessão, deverá determinar as modalidades
específicas de organização do trabalho dessa Comissão, tais como sua composição, sua relação
Agenda 21 - Global 374

com os demais órgãos intergovernamentais das Nações Unidas que se ocupam de questões
relacionadas com meio ambiente e desenvolvimento, e a freqüência, duração e foro de suas
reuniões. Essas modalidades devem levar em consideração o processo atual de revitalização e
reestruturação do trabalho das Nações Unidas no campo econômico, social e conexos,
particularmente as medidas recomendadas pela Assembléia Geral nas resoluções 45/264, de 13 de
maio de 1991, e 46/235, de 13 de abril de 1992, e em outras resoluções pertinentes da
Assembléia. A esse respeito pede-se ao Secretario Geral das Nações Unidas que, com a
assistência do Secretário Geral da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, prepare um relatório com recomendações e propostas apropriadas para
apresentação à Assembléia.
38.13. A Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável deve desempenhar as seguintes
funções:
(a) Monitorar os progressos realizados na implementação da Agenda 21 e das
atividades relacionadas com a integração dos objetivos de meio ambiente e desenvolvimento em
todo o sistema das Nações Unidas, através de análise e avaliação de relatórios de todos os órgãos,
organizações, programas e instituições pertinentes do sistema das Nações Unidas que se ocupam
das diversas questões de meio ambiente e desenvolvimento, inclusive as relacionadas com
finanças;
(b) Apreciar as informações oferecidas pelos governos, inclusive, por exemplo,
sob forma de comunicações periódicas ou relatórios nacionais sobre as atividades para
implementar a Agenda 21, os problemas enfrentados, tais como os relacionados com recursos
financeiros e transferência de tecnologia e outras questões relativas a meio ambiente e
desenvolvimento consideradas pertinentes;
(c) Examinar os progressos realizados no cumprimento dos compromissos
contidos na Agenda 21, inclusive os relacionados com a oferta de recursos financeiros e
transferência de tecnologia;
(d) Receber e analisar a informação pertinente das organizações não-
governamentais competentes, inclusive dos setores científico e privado, no contexto da
implementação geral da Agenda 21;
(e) Incentivar o diálogo, no âmbito das Nações Unidas, com as organizações não-
governamentais e o setor independente, assim como com outras entidades alheias ao sistema das
Nações Unidas;
(f) Apreciar, quando apropriado, a informação relativa aos progressos realizados
na implementação das convenções sobre meio ambiente que possa ser colocada à disposição
pelas Conferências de Partes pertinentes;
(g) Apresentar recomendações apropriadas à Assembléia Geral, através do
Conselho Econômico e Social, com base em uma apreciação integrada dos relatórios e questões
relacionadas com a implementação da Agenda 21;
(h) Apreciar, em momento apropriado, os resultados do exame que deverá fazer
sem demora o Secretário Geral das Nações Unidas de todas as recomendações da Conferência
sobre programas de capacitação, redes de informação, forças-tarefas e outros mecanismos
destinados a apoiar a integração de meio ambiente e desenvolvimento nos planos regional e sub-
regional.
38.14. Dentro de um âmbito intergovernamental, deve-se estudar a possibilidade de
permitir que as organizações não-governamentais - inclusive as ligadas a grupos importantes,
sobretudo grupos de mulheres - comprometidas com a implementação da Agenda 21 tenham
acesso à informação pertinente, inclusive aos relatórios, notas e outros dados produzidos dentro
Agenda 21 - Global 375

do sistema das Nações Unidas.

D. O Secretário Geral

38.15. É imprescindível que o Secretário Geral exerça uma direção firme e eficaz, já que
será o coordenador dos arranjos institucionais do sistema das Nações Unidas para levar adiante
de maneira satisfatória as atividades decorrentes da Conferência e para implementar a Agenda 21.

E. Mecanismo de alto nível de coordenação entre organismos

38.16. A Agenda 21, como base para a ação da comunidade internacional para integrar
meio ambiente e desenvolvimento, deve proporcionar a estrutura principal para a coordenação
das atividades pertinentes no sistema das Nações Unidas. Para assegurar o monitoramento,
coordenação e supervisão eficazes da participação do sistema das Nações Unidas no
acompanhamento das atividades decorrentes da Conferência, é necessário um mecanismo de
coordenação sob comando direto do Secretário Geral.
38.17. Esta tarefa deve ser atribuída ao Comitê Administrativo de Coordenação (CAC),
presidido pelo Secretário Geral. Desse modo, o CAC proporcionará um vínculo e interface
fundamental entre as instituições financeiras multilaterais e outros órgãos das Nações Unidas no
mais alto nível administrativo. O Secretário Geral deve continuar revitalizando o funcionamento
do Comitê. Espera-se que todos os chefes de organismos e instituições do sistema das Nações
Unidas cooperem plenamente com o Secretário Geral para que o CAC possa cumprir eficazmente
sua atribuição fundamental e alcançar a implementação satisfatória da Agenda 21. O CAC deve
considerar a possibilidade de estabelecer uma força-tarefa, sub-comitê ou junta de
desenvolvimento sustentável especial, levando em consideração a experiência dos Funcionários
Designados para Assuntos Ambientais (FDAA) e do Comitê sobre Meio Ambiente das
Instituições Internacionais para o Desenvolvimento (CMAIID), assim como as funções
respectivas do PNUMA e do PNUD. Seu relatório deve ser submetido aos órgãos
intergovernamentais pertinentes.

F. Órgão consultivo de alto nível

38.18. Os órgãos intergovernamentais, o Secretário Geral e o sistema das Nações Unidas


em sua totalidade podem beneficiar-se também dos conhecimentos de uma junta consultiva de
alto nível integrada por pessoas eminentes e conhecedoras das questões de meio ambiente e
desenvolvimento, inclusive de ciências pertinentes, e que sejam designadas pelo Secretário Geral
a título pessoal. A esse respeito, o Secretário Geral deve fazer recomendações apropriadas à 47ª
sessão da Assembléia Geral.

G. Estrutura de apoio de secretariado

38.19. Para o acompanhamento das atividades decorrentes da Conferência e


implementação da Agenda 21 é indispensável contar, na Secretaria das Nações Unidas, com uma
estrutura de apoio de secretariado altamente qualificado e competente que, entre outras coisas,
aproveite a experiência obtida no processo preparatório da Conferência. Essa estrutura deve
proporcionar apoio ao trabalho dos mecanismos intergovernamentais e interinstitucionais de
coordenação. As decisões organizacionais concretas são de competência do Secretário Geral, em
Agenda 21 - Global 376

sua qualidade de mais alto funcionário administrativo da Organização, a quem se pede que
apresente o mais cedo possível um relatório sobre as providências a serem tomadas em relação à
dotação de pessoal, levando em consideração a importância de manter um equilíbrio entre os
sexos, na forma definida no Artigo 8 da Carta das Nações Unidas, e a necessidade de utilização
ótima dos recursos no contexto da reestruturação atual e em andamento do Secretariado das
Nações Unidas.

H. órgãos, programas e organizações do sistema das Nações Unidas

38.20. No processo de acompanhamento das atividades decorrentes da Conferência, em


particular na implementação da Agenda 21, todos os órgãos, programas e organizações
pertinentes do sistema das Nações Unidas terão uma importante função a desempenhar, dentro de
suas respectivas áreas de especialidade e mandatos para apoiar e complementar os esforços
nacionais. A coordenação e o caráter complementar de suas atividades para incentivar a
integração de meio ambiente e desenvolvimento podem ser intensificadas por meio de países
incentivados a manter posições coerentes nos diversos órgãos diretores.

1. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

38.21. No processo de acompanhamento das atividades decorrentes da Conferência será


necessário que o PNUMA e seu Conselho de Administração aumentem e fortaleçam suas
funções. O Conselho de Administração, em conformidade com seu mandato, deve continuar
desempenhando seu papel no que diz respeito à orientação normativa e à coordenação no campo
do meio ambiente, levando em consideração a perspectiva de desenvolvimento.
38.22. As áreas prioritárias em que o PNUMA deve se concentrar são as seguintes:
(a) Fortalecimento de seu papel de catalisador no incentivo e na promoção de
atividades e apreciações no campo do meio ambiente em todo o sistema das Nações Unidas;
(b) Promoção da cooperação internacional no campo do meio ambiente e
recomendação, quando apropriado, de políticas com esse fim;
(c) Desenvolvimento e promoção do uso de técnicas tais como a contabilidade dos
recursos naturais e a economia ambiental;
(d) Monitoramento e avaliação do meio ambiente, tanto através de uma maior
participação dos organismos do sistema das Nações Unidas no Programa de Monitoramento
Mundial (EARTHWATCH), como através da ampliação de relações com institutos de pesquisa
científica privados e não-governamentais; fortalecimento e colocação em funcionamento de seu
sistema de pronto alerta;
(e) Coordenação e incentivo das pesquisas científicas pertinentes a fim de
estabelecer uma base consolidada para a tomada de decisões;
(f) Difusão de informção e dados sobre o meio ambiente aos governos e órgãos,
programas e organizações do sistema das Nações Unidas;
(g) Uma maior conscientização e ação geral no campo da proteção ambiental
através de colaboração com o público em geral, entidades não-governamentais e instituições
intergovernamentais;
(h) Maior desenvolvimento do direito internacional do meio ambiente, em
particular de convenções e diretrizes, promoção de sua implementação e das funções de
coordenação derivadas do número cada vez maior de instrumentos jurídicos internacionais, entre
eles o funcionamento dos secretariados das convenções, levando-se em consideração a
Agenda 21 - Global 377

necessidade de uso mais eficiente possível dos recursos, inclusive a possibilidade de agrupar no
mesmo lugar os secretariados estabelecidas no futuro;
(i) Maior desenvolvimento e promoção do uso mais amplo possível das avaliações
de impacto ambiental, inclusive de atividades com os auspícios dos organismos especializados do
sistema das Nações Unidas, e em relação com todo projeto ou atividade importante de
desenvolvimento econômico;
(j) Facilitação do intercâmbio de informação sobre tecnologias ambientalmente
saudáveis, inclusive os aspectos jurídicos e a oferta de treinamento;
(k) Promoção da cooperação sub-regional e regional e apoio às medidas e e aos
programas pertinentes de proteção ambiental,inclusive desempenhando um importante papel de
contribuição e coordenação dos mecanismos regionais no campo do meio ambiente identificado
para o acompanhamento das atividades decorrentes da Conferência;
(l) Oferecer assessoramento técnico, jurídico e institucional aos governos, quando
solicitado, para o estabelecimento e fortalecimento de suas estruturas jurídicos e institucionais
nacionais, em particular em cooperação com os esforços de capacitação institucional e técnica do
PNUD;
(m) Apoio aos governos, quando solicitado, e aos organismos e órgãos de
desenvolvimento para a incorporação dos aspectos ambientais em suas políticas e programas de
desenvolvimento, em particular, através da oferta de assessoramento ambiental, técnico e político
durante a formulação e implementação de programas;
(n) Aumento das atividades de avaliação e assistência em situações de emergência
ambiental.
38.23. Para que possa desempenhar todas essas funções e manter ao mesmo tempo seu
papel de principal órgão do sistema das Nações Unidas no campo do meio ambiente e levando
em consideração os aspectos de desenvolvimento das questões ambientais, o PNUMA deve ter
acesso a mais conhecimentos especializados e dispor de recursos financeiros suficientes e deve
manter uma colaboração e cooperação mais estritas com os órgãos dedicados a atividades de
desenvolvimento e com outros órgãos pertinentes do sistema das Nações Unidas. Além disso,
devem-se fortalecer os escritórios regionais do PNUMA sem debilitar a sede de Nairóbi e o
PNUMA também deve tomar medidas para fortalecer seus vínculos e intensificar sua interação
com o PNUD e o Banco Mundial.

2. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

38.24. O PNUD, como o PNUMA, também deve desempenhar uma função decisiva no
acompanhamento das atividades decorrentes da Conferência. Através de sua rede de escritórios
exteriores, promoverá o impulso coletivo do sistema das Nações Unidas em apoio da
implementação da Agenda 21 nos planos nacional, regional, inter-regional e mundial,
aproveitando os conhecimentos dos organismos especializados e de outras organizações e órgãos
das Nações Unidas dedicados a atividades operacionais. É preciso fortalecer o papel de
representante residente/coordenador residente do PNUD a fim de coordenar as atividades de
campo das atividades operacionais das Nações Unidas.
38.25. O papel do PNUD deve compreender o seguinte:
(a) Ser a agência central na organização dos esforços do sistema das Nações
Unidas para criar capacitação institucional e técnica nos planos local, nacional e regional;
(b) Mobilizar, em nome dos governos, os recursos de doadores para a capacitação
institucional e técnica nos países receptores e, quando apropriado, através dos mecanismos de
Agenda 21 - Global 378

mesas redondas do PNUD;


(c) Fortalecer seus próprios programas em apoio ao processo de acompanhamento
das atividades decorrentes da Conferência, sem prejuízo do Quinto Ciclo de Programas;
(d) Ajudar os países receptores, quando solicitado, a estabelecer ou fortalecer
mecanismos e redes nacionais de coordenação do processo de acompanhamento das atividades
decorrentes da Conferência;
(e) Ajudar os países receptores, quando solicitado, a coordenar a mobilização de
recursos financeiros internos;
(f) Promover e fortalecer o papel e a participação da mulheres, do jovem e de
outros grupos importantes dos países receptores na implementação da Agenda 21.

3. Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

38.26. A UNCTAD deve desempenhar um papel importante na implementação da


Agenda 21, tal como foi ampliado em sua oitava sessão, levando em consideração a importância
da inter-relação entre desenvolvimento, comércio internacional e meio ambiente e em
conformidade com seu mandato no campo do desenvolvimento sustentável.

4. Escritório das Nações Unidas para a Região Sudano-Saheliana

38.27. O papel do Escritório das Nações Unidas para a Região Sudano-saheliana


(ENURS), com os recursos adicionais que possam ser colocados à sua disposição, operando sob a
égide do PNUD e com o apoio do PNUMA, deve ser fortalecido para que esse órgão possa
assumir uma função consultiva importante e apropriada e participar efetivamente na
implementação das disposições da Agenda 21 relativas ao combate à seca e à desertificação e ao
gerenciamento dos recursos terrestres. Nesse contexto, a experiência adquirida poderia ser
aproveitada por todos os outros países afetados pela seca e desertificação, em particular os da
África, com especial atenção aos países mais afetados ou classificados como países menos
adiantados.

5. Organismos especializados do sistema das Nações Unidas e organizações afins e outras


organizações intergovernamentais pertinentes

38.28. Todos os organismos especializados do sistema das Nações Unidas, as


organizações afins e outras organizações intergovernamentais pertinentes em seus campos
respectivos de competência têm um importante papel a desempenhar na implementação das
partes pertinentes da Agenda 21 e outras decisões da Conferência. Seus órgãos diretores poderão
apreciar as maneiras de fortalecer e ajustar as atividades e programas em harmonia com a Agenda
21, particularmente com relação aos projetos de promoção do desenvolvimento sustentável. Além
disso, poderão considerar a possibilidade de estabelecer arranjos especiais com os doadores e as
instituições financeiras para a implementação de projetos que requeiram recursos adicionais.

I. Cooperação e implementação nos planos regional e sub-regional

38.29. A cooperação regional e sub-regional será uma parte importante dos resultados da
Conferência. As comissões regionais, os bancos regionais de desenvolvimento e as organizações
regionais de cooperação econômica e técnica, com os mandatos que lhe foram confiados, poderão
Agenda 21 - Global 379

contribuir para esse processo através de:


(a) Promoção da capacitação institucional e técnica regional e sub-regional;
(b) Promoção da integração das preocupações ambientais nas políticas regionais e
sub-regionais de desenvolvimento;
(c) Promoção da cooperação regional e sub-regional, quando apropriado, em
questões transfronteiriças relacionadas com o desenvolvimento sustentável.
38.30. As comissões econômicas regionais, quando apropriado, devem assumir a
liderança da coordenação das atividades regionais e sub-regionais dos órgãos setoriais e outros
das Nações Unidas e prestar assistência aos países para alcançar o desenvolvimento sustentável.
Essas comissões e os programas regionais do sistemas das Nações Unidas, bem como outras
organizações regionais, devem examinar a necessidade de modificar as atividades em curso,
quando apropriado, à luz da Agenda 21.
38.31. Deve haver cooperação e colaboração ativa entre as comissões regionais e outras
organizações pertinentes, os bancos de desenvolvimento regionais, organizações não-
governamentais e outras instituições no plano regional. O PNUMA e o PNUD, juntamente com
as comissões regionais, terão um papel essencial a desempenhar, particularmente na oferta de
assistência necessária, com ênfase especial na criação ou aumento da capacidade nacional dos
Estados Membros.
38.32. Há necessidade de uma cooperação mais estreita entre o PNUMA e o PNUD,
juntamente com outras instituições pertinentes, na implementação de projetos para conter a
degradação do meio ambiente ou seus efeitos e para apoiar programas de treinamento em
planejamento e gerenciamento ambiental para o desenvolvimento sustentável no plano regional.
38.33. As organizações intergovernamentais regionais com fins técnicos e econômicos
têm uma importante função a desempenhar na ajuda aos governos para que tomem medidas
coordenadas com o fim de resolver questões ambientais de importância regional.
38.34. As organizações regionais e sub-regionais devem desempenhar um importante
papel na implementação das disposições da Agenda 21 relacionadas com ao combate da seca e da
desertificação. O PNUMA, o PNUD e o ENURS devem prestar assistência e cooperar com essas
organizações pertinentes.
38.35. Deve-se estimular, quando apropriado, a cooperação entre as organizações
regionais e sub-regionais e as organizações pertinentes do sistema das Nações Unidas em outras
áreas setoriais.

J. Implementação nacional

38.36. Os Estados têm um papel importante a desempenhar no de acompanhamento das


atividades decorrentes da Conferência e na implementação da Agenda 21. Os esforços no plano
nacional devem ser empreendidos de maneira integrada por todos os países, para que as questões
de meio ambiente e desenvolvimento possam ser tratadas de maneira coerente.
38.37. O sistema das Nações Unidas deve apoiar, quando solicitado, as atividades e
decisões políticas no plano nacional talhadas para sustentar e implementar a Agenda 21.
38.38. Além disso, os Estados podem considerar a possibilidade de preparar relatórios
nacionais. Nesse contexto, os órgãos do sistema das Nações Unidas devem, quando solicitado,
ajudar os países, particularmente os países em desenvolvimento. Os países podem também
examinar a possibilidade de preparar planos nacionais de ação para a implementação da Agenda
21.
38.39. Os consórcios de assistência, grupos consultivos e mesas redondas existentes
Agenda 21 - Global 380

devem fazer maiores esforços para integrar as considerações ambientais e os objetivos de


desenvolvimento conexos em suas estratégias de assistência para o desenvolvimento e examinar a
possibilidade de reorientar e ajustar de modo adequado suas operações, assim como sua
composição, a fim de facilitar esse processo e melhor apoiar os esforços nacionais para integrar
meio ambiente e desenvolvimento.
38.40. Os Estados podem querer considerar a possibilidade de criar uma estrutura
nacional encarregada de coordenar o acompanhamento da implementação da Agenda 21.
Essa estrutura, que se beneficiará dos conhecimentos especializados das organizações não-
governamentais, poderá apresentar às Nações Unidas informações e outros materiais pertinentes.

K. Cooperação entre os órgãos das Nações Unidas e as organizações financeiras internacionais

38.41. O êxito do acompanhamento das atividades decorrentes da Conferência depende da


existência de um vínculo efetivo entre a ação substantiva e o apoio financeiro, o que por sua vez
requer uma cooperação estreita e eficaz entre os órgãos das Nações Unidas e as organizações
financeiras multilaterais. O Secretário Geral e os chefes de programas e organizações das Nações
Unidas e as organizações financeiras multilaterais têm uma responsabilidade especial no
estabelecimento dessa cooperação, não só através da participação plena no mecanismo de
coordenação de alto nível das Nações Unidas (o Comitê Administrativo de Coordenação), mas
também nos planos regional e nacional. Em particular, os representantes dos mecanismos e
instituições financeiras multilaterais e do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola
(FIDA) devem participar ativamente nas deliberações da estrutura intergovernamental
responsável pelo acompanhamento da implementação da Agenda 21.

L. Organizações não-governamentais

38.42. As organizações e grupos importantes não-governamentais são parceiros


importantes na implementação da Agenda 21. Deve-se oferecer às organizações não-
governamentais pertinentes, assim como à comunidade científica, ao setor privado e aos grupos
de mulheres, a oportunidade de colaborar e estabelecer relações apropriadas com o sistema das
Nações Unidas. Deve-se apoiar as organizações não-governamentais dos países em
desenvolvimento e suas redes autônomas.
38.43. O sistema das Nações Unidas, inclusive os organismos internacionais de finanças
e desenvolvimento, e todas as organizações e foros intergovernamentais, em consulta com as
organizações não-governamentais, devem tomar medidas para:
(a) Estabelecer meios acessíveis e eficazes para alcançar a participação das
organizações não-governamentais, inclusive das relacionadas com grupos importantes, no
processo estabelecido para examinar e avaliar a implementação da Agenda 21 em todos os planos
e promover a contribuição delas nesse processo;
(b) Levar em consideração as conclusões dos sistemas de exame e dos processos
de avaliação das organizações não-governamentais nos relatórios pertinentes do Secretário Geral
para a Assembléia Geral e de todos os organismos das Nações Unidas e organizações e foros
intergovernamentais pertinentes relativos à implementação da Agenda 21, em conformidade com
seu processo de exame.
38.44. Devem-se estabelecer procedimentos para que as organizações não-
governamentais, inclusive as relacionadas com grupos importantes, possam desempenhar um
papel mais amplo, através de um sistema de credenciamento baseado nos procedimentos
Agenda 21 - Global 381

utilizados na Conferência. Tais organizações devem ter acesso aos relatórios e demais
informações produzidas pelo sistema das Nações Unidas. A Assembléia Geral deve examinar, em
um estágio inicial, meios de intensificar a participação das organizações não-governamentais no
âmbito do sistema das Nações Unidas, em relação ao processo de acompanhamento das
atividades decorrentes da Conferência.
38.45. A Conferência toma nota de outras iniciativas institucionais para a implementação
da Agenda 21, tais como a proposta de estabelecer um Conselho do Planeta Terra de caráter nã-
governamental e a proposta de designar um tutor das gerações futuras, juntamente com outras
iniciativas dos governos locais e setores empresariais.
Agenda 21 - Global 382

Capítulo 39

INSTRUMENTOS E MECANISMOS JURÍDICOS INTERNACIONAIS

Base para a ação

39.1. O reconhecimento de que os seguintes aspectos vitais do processo de elaboração de


tratados de caráter universal, multilateral e bilateral devem ser levados em consideração:
(a) O avanço do desenvolvimento do Direito Internacional para o desenvolvimento
sustentável, com especial atenção para o delicado equilíbrio entre as preocupações com o meio
ambiente e com o desenvolvimento;
(b) A necessidade de esclarecer e reforçar a relação entre instrumentos ou acordos
internacionais existentes no campo do meio ambiente e os pertinentes acordos ou instrumentos
sociais e econômicos, levando-se em consideração as necessidades especiais dos países em
desenvolvimento;
(c) No plano global, a importância essencial da participação e contribuição de
todos os países, inclusive dos países em desenvolvimento, para a elaboração de tratados no
campo do Direito Internacional relativo ao desenvolvimento sustentável. Muitos dos
instrumentos e acordos jurídicos internacionais existentes no campo do meio ambiente foram
elaborados sem uma adequada participação e contribuição dos países em desenvolvimento, e
portanto podem exijir um re-exame a fim de que reflitam plenamente as preocupações e
interesses dos países em desenvolvimento e assegurem uma administração equilibrada desses
instrumentos e acordos;
(d) Os países em desenvolvimento também devem receber assistência técnica em
seus esforços para melhorar sua capacidade legislativa nacional no campo do direito ambiental;
(e) Futuros projetos para o desenvolvimento progressivo e a codificação do
Direito Internacional sobre desenvolvimento sustentável deve-se levar em consideração o
trabalho em curso da Comissão de Direito Internacional;
(f) Toda negociação para o desenvolvimento progressivo e codificação do Direito
Internacional relativo ao desenvolvimento sustentável deve ser efetuada, em geral, sobre uma
base universal, levando em consideração as circunstâncias especiais nas diversas regiões.

Objetivos

39.2. O objetivo geral do revisão e desenvolvimento do direito ambiental internacional


deve ser avaliar e promover a eficácia desse direito e promover a integração das políticas sobre
meio ambiente e desenvolvimento por meio de acordos ou instrumentos internacionais eficazes
em que se considerem tanto os princípios universais quanto as necessidades e interesses
particulares e diferenciados de todos os países.
39.3. Os objetivos específicos são:
(a) Identificar e abordar as dificuldades que impedem alguns Estados, em
particular os países em desenvolvimento, de participarem dos acordos ou instrumentos
internacionais ou implementá-los devidamente e, quando apropriado, examiná-los ou revisá-los
com o propósito de integrar as preocupações sobre meio ambiente e desenvolvimento e assentar
bases sólidas para a implementação desses acordos ou instrumentos;
(b) Estabelecer prioridades para a futura elaboração internacional de leis sobre
Agenda 21 - Global 383

desenvolvimento sustentável nos planos global, regional ou sub-regional, tendo em vista o


aumento da eficácia do Direito Internacional nesse campo por meio, em particular, da integração
de preocupações sobre meio ambiente e desenvolvimento;
(c) Promover e apoiar a participação efetiva de todos os países interessados, em
particular dos países em desenvolvimento, na negociação, implementação, revisão e
administração dos acordos ou instrumentos internacionais, compreendendo o provimento
adequado de assistência técnica e financeira e de outros mecanismos disponíveis para esses fins,
bem como o uso de obrigações diferenciais, quando apropriado;
(d) Promover, por meio do desenvolvimento gradual de acordos ou instrumentos
negociados universal e multilateralmente, padrões internacionais para a proteção do meio
ambiente que considerem as diferentes situações e capacidades dos países. Os Estados
reconhecem que as políticas ambientais devem enfrentar as causas vitais da degradação do meio
ambiente para prevenir desse modo que as medidas resultem em restrições desnecessárias ao
comércio. As medidas de política comercial com fins ambientais não devem constituir um meio
de discriminação arbitrária ou injustificável nem uma restrição disfarçada ao comércio
internacional. Devem ser evitados ações unilaterais para tratar dos problemas ambientais fora da
jurisdição do país importador. As medidas ambientais voltadas para os problemas ambientais
internacionais devem basear-se, tanto quanto possível, em um consenso internacional. As
medidas internas orientadas para alcançar certos objetivos ambientais podem requerer a adoção
de medidas comerciais para torná-las eficazes. No caso de ser necessário adotar medidas de
política comercial para aplicar as políticas ambientais, devem-se aplicar certos princípios e
normas. Entre eles pode figurar, inter alia, o princípio de não-discriminação; o princípio de que a
medida comercial escolhida deve ser a que aplicará o mínimo necessário de restrições para
alcançar os objetivos; a obrigação de assegurar transparência no uso das medidas comerciais
relacionadas com o meio ambiente e promover notificação adequada sobre as normas nacionais; e
a necessidade de levar em consideração as condições especiais e as necessidades de
desenvolvimento dos países em desenvolvimento à medida que avançam para os objetivos
ambientais acordados no plano internacional;
(e) Assegurar a implementação afetiva, plena e rápida dos instrumentos com força
legal e facilitar o revisão e o ajuste oportunos dos acordos ou instrumentos pelas partes
interessadas, levando em consideração as necessidades e interesses especiais de todos os países,
em particular dos países em desenvolvimento;
(f) Melhorar a eficácia das instituições, mecanismos e procedimentos para a
administração de acordos e instrumentos;
(g) Identificar e evitar conflitos reais ou potenciais, em particular entre acordos ou
instrumentos ambientais e sociais/econômicos, tendo em vista assegurar que esses acordos ou
instrumentos sejam compatíveis. Quando surgirem, os conflitos devem ser resolvidos de maneira
apropriada;
(h) Estudar e examinar a possibilidade de ampliar e fortalecer a capacidade dos
mecanismos, inter alia os do Sistema das Nações Unidas, para facilitar, quando apropriado e
acordado entre as partes interessadas, a identificação, prevenção e solução de controvérsias
internacionais no campo do desenvolvimento sustentável, levando devidamente em conta os
acordos bilaterais e multilaterais existentes para a solução de tais controvérsias.

Atividades

39.4. As atividades e os meios de implementação devem ser considerados à luz das bases
Agenda 21 - Global 384

para a ação e dos objetivos acima expostos, sem prejuizo do direito de todos os Estados de
apresentar sugestões a respeito na Assembléia Geral. Essas sugestões podem ser reproduzidas em
uma compilação em separado sobre o desenvolvimento sustentável.

A. Revisão, avaliação e campos de ação no Direito Internacional para o desenvolvimento


sustentável

39.5. Ao mesmo tempo em que se assegurem a participação efetiva de todos os países


interessados, as Partes devem examinar e avaliar periodicamente o desempenho e a eficácia dos
acordos ou instrumentos internacionais existentes, assim como as prioridades para a elaboração
de instrumentos jurídicos futuros sobre desenvolvimento sustentável. Isto pode incluir um exame
da exeqüibilidade de elaborar os direitos e obrigações gerais dos Estados, conforme apropriado,
no campo do desenvolvimento sustentável, como disposto na resolução 44/228 da Assembléia
Geral. Em certos casos, deve-se dar atenção à possibilidade de levar em consideração
circunstâncias variadas por meio de obrigações diferenciais ou de aplicação gradual. Como uma
opção para o cumprimento desta tarefa pode-se seguir a prática anterior do PNUMA, pela qual
especialistas jurídicos designados pelos Governos podem-se reunir a intervalos adequados, a
serem decididos posteriormente, com uma perspectiva mais ampla de meio ambiente e
desenvolvimento.
39.6. Deve-se considerar a possibilidade de tomar medidas de acordo com o Direito
Internacional para enfrentar, em épocas de conflito armado, a destruição em grande escala do
meio ambiente que não possa se justificada sob o Direito Internacional. A Assembléia Geral e a
Sexta Comissão são os foros apropriados para tratar essa matéria. A competência e o papel
específicos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha devem ser considerados.
39.7. Tendo em vista a necessidade vital de assegurar a utilização segura e
ambientalmente saudável do poder nuclear e a fim de fortalecer a cooperação internacional neste
campo, devem-se fazer esforços para concluir as negociações em curso para uma convenção
sobre segurança nuclear no âmbito da Agência Internacional de Energia Atômica.

B. Mecanismos de implementação

39.8. As Partes em acordos internacionais devem apreciar procedimentos e mecanismos


para promover e rever a implementação eficaz, plena e rápida deles. Para isto, os Estados, inter
alia, podem:
(a) Estabelecer sistemas eficazes e práticos de apresentação de relatórios sobre a
implementação eficaz, plena e rápida dos instrumentos jurídicos internacionais;
(b) Apreciar meios apropriados pelos quais os órgãos internacionais pertinentes,
tais como o PNUMA, possam contribuir para o desenvolvimento posterior desses mecanismos.

C. Participação efetiva na elaboração do Direito Internacional

39.9. Em todas essas atividades e em outras que possam ser empreendidas no futuro,
fundamentadas nas bases para a ação e nos objetivos acima expostos, deve-se assegurar a
participação efetiva de todos os países, em particular dos países em desenvolvimento, por meio
da prestação de assistência técnica e/ou assistência financeira adequadas. Deve-se dar aos países
em desenvolvimento um apoio inicial, não somente em seus esforços nacionais para implementar
os acordos ou instrumentos internacionais, mas também para que participem efetivamente na
Agenda 21 - Global 385

negociação de acordos ou instrumentos novos ou revisados e na operação internacional efetiva


destes acordos ou instrumentos. O apoio deve incluir a assistência para aumentar os
conhecimentos especializados em Direito Internacional, particularmente em relação ao
desenvolvimento sustentável, e a garantia de acesso à informação de referência e aos
conhecimentos científicos e técnicos necessários.

D. Controvérsias no campo do desenvolvimento sustentável

39.10. Na área de se evitar e de solucionar controvérsias, os Estados devem estudar e


apreciar com maior profundidade métodos para ampliar e tornar mais eficaz a gama de técnicas
atualmente disponíveis, levando em consideração, inter alia, a experiência pertinente adquirida
com os acordos, instrumentos ou instituições internacionais existentes e, quando apropriado, seus
mecanismos de implementação, tais como modalidades para se evitar e solucionar controvérsias.
Isto pode incluir mecanismos e procedimentos para o intercâmbio de dados e informações, a
notificação e consulta a respeito de situações que possam conduzir as controvérsias com outros
Estados no campo do desenvolvimento sustentável e meios pacíficos e eficazes de solução de
controvérsias de acordo com a Carta das Nações Unidas, inclusive, quando apropriado, recursos à
Corte Internacional de Justiça e a inclusão desses mesmos mecanismos e procedimentos em
tratados relativos ao desenvolvimento sustentável.
Agenda 21 - Global 386

Capítulo 40

INFORMAÇÃO PARA A TOMADA DE DECISÕES

Introdução

40.1. No desenvolvimento sustentável, cada pessoa é usuário e provedor de informação,


considerada em sentido amplo, o que inclui dados, informações e experiências e conhecimentos
adequadamente apresentados. A necessidade de informação surge em todos os níveis, desde o de
tomada de decisões superiores, nos planos nacional e internacional, ao comunitário e individual.
As duas áreas de programas seguintes necessitam ser implementadas para assegurar que as
decisões se baseiem cada vez mais em informação consistente:
(a) Redução das diferenças em matéria de dados;
(b) Melhoria da disponibilidade da informação.

Áreas de Programas

A. Redução das diferenças em matéria de dados

Base para a ação

40.2. Embora haja uma quantidade considerável de dados, como se assinala em diversos
capítulos do Agenda 21, é preciso reunir mais e diferentes tipos de dados, nos planos local,
provincial, nacional e internacional, que indiquem os estados e tendências das variáveis sócio-
econômicas, de poluição, de recursos naturais e do ecossistema do planeta. Vêm aumentando a
diferença em termos de disponibilidade, qualidade, coerência, padronização e acessibilidade dos
dados entre o mundo desenvolvido e o em desenvolvimento, prejudicando seriamente a
capacidade dos países de tomar decisões informadas no que concerne a meio ambiente e
desenvolvimento.
40.3. Há uma falta generalizada de capacidade, em particular nos países em
desenvolvimento, e em muitas áreas no plano internacional para a coleta e avaliação de dados,
sua transformação em informação útil e sua divulgação. Além disso, é preciso melhorar a
coordenação entre as atividades de informação e os dados ambientais, demográficos, sociais e de
desenvolvimento.
40.4. Os indicadores comumente utilizados, como o produto nacional bruto (PNB) e as
medições dos fluxos individuais de poluição ou de recursos, não dão indicações adequadas de
sustentabilidade. Os métodos de avaliação das interações entre diferentes parâmetros setoriais
ambientais, demográficos, sociais e de desenvolvimento não estão suficientemente desenvolvidos
ou aplicados. É preciso desenvolver indicadores do desenvolvimento sustentável que sirvam de
base sólida para a tomada de decisões em todos os níveis e que contribuam para uma
sustentabilidade auto-regulada dos sistemas integrados de meio ambiente e desenvolvimento.

Objetivos

40.5. Os seguintes objetivos s_o importantes:


(a) Conseguir uma coleta e avaliação de dados mais pertinente e eficaz em relação
Agenda 21 - Global 387

aos custos por meio de melhor identificação dos usuários, tanto no setor público quanto no
privado, e de suas necessidades de informação nos planos local, nacional, regional e
insternacional;
(b) Fortalecer a capacidade local, provincial, nacional e internacional de coleta e
utilização de informação miltissetorial nos processos de tomada de decisões e reforçar as
capacidades de coleta e análise de dados e informações para a tomada de decisões, em particular
nos países em desenvolvimento;
(c) Desenvolver ou fortalecer os meios locais, provinciais, nacionais e
internacionais de garantir que a planificação do desenvolvimento sustentável em todos os setores
se baseie em informação fidedigna, oportuna e utilizável;
(d) Tornar a informação pertinente acessível na forma e no momento em que for
requerido para facilitar o seu uso.

Atividades

(a) Desenvolvimento de indicadores do desenvolvimento sustentável


40.6. Os países no plano nacional e as organizações governamentais e não-
governamentais no plano internacional devem desenvolver o conceito de indicadores do
desenvolvimento sustentável a fim de identificar esses indicadores. Com o objetivo de promover
o uso cada vez maior de alguns desses indicadores nas contas satélites e eventualmente nas contas
nacionais, é preciso que o Escritório de Estatística do Secretariado das Nações Unidas procure
desenvolver indicadores, aproveitando a experiência crescente a esse respeito.
(b) Promoção do uso global de indicadores do desenvolvimento sustentável
40.7. Os órgãos e as organizações pertinentes do sistema das Nações Unidas, em
cooperação com outras organizações internacionais governamentais, intergovernamentais e não-
governamentais, devem utilizar um conjunto apropriado de indicadores do desenvolvimento
sustentável e indicadores relacionados com áreas que se encontram fora da jurisdição nacional,
como o alto mar, a atmosfera superior e o espaço exterior. Os órgãos e as organizações do
sistema das Nações Unidas, em coordenação com outras organizações internacionais pertinentes,
poderiam prover recomendações para o desenvolvimento harmônico de indicadores nos planos
nacional, regional e global e para a incorporação de um conjunto apropriado desses indicadores a
relatórios e bancos de dados comuns de acesso amplo, para utilização no plano internacional,
sujeitas a considerações de soberania nacional.
(c) Aperfeiçoamento da coleta e utilização de dados
40.8. Os países e, quando solicitadas, as organizações internacionais devem realizar
inventários de dados ambientais, de recursos e de desenvolvimento, baseados em prioridades
nacionais/globais, para o gerenciamento do desenvolvimento sustentável. Devem determinar as
deficiências e organizar atividades para saná-las. Dentro dos órgãos e organizações do sistema
das Nações Unidas e das organizações internacionais pertinentes, é preciso reforçar as atividades
de coleta de dados, entre elas as de Observação da Terra e Observação Meteorológica Mundial,
especialmente nas áreas de ar urbano, água doce, recursos terrestres (inclusive florestas e terras
de pastagem), desertificação, outros habitats, degradação dos solos, biodiversidade, alto mar e
atmosfera superior. Os países e as organizações internacionais devem utilizar novas técnicas de
coleta de dados, inclusive sensoreamento remoto, baseado em satélites. Além do fortalecimento
das atividades existentes de coleta de dados relativos ao desenvolvimento, é preciso dar atenção
especial a áreas tais como fatores demográficos, urbanização, pobreza, saúde e direitos de acesso
aos recursos, assim como aos grupos especiais, incluindo mulheres, populações indígenas,
Agenda 21 - Global 388

jovens, crianças e os deficientes, e suas relações com questões ambientais.


(d) Aperfeiçoamento dos métodos de avaliação e análise de dados
40.9. As organizações internacionais pertinentes devem desenvolver recomendações
práticas para a coleta e avaliação coordenada e harmonizada de dados nos planos nacional e
internacional. Os centros nacionais e internacionais de dados e informações devem estabelecer
sistemas contínuos e acurados de coleta de dados e utilizar os sistemas de informação geográfica,
sistemas de especialistas, modelos e uma variedade de outras técnicas para a avaliação e análise
de dados. Esses passos serão especialmente pertinentes, pois será preciso processar uma grande
quantidade de dados obtidos por meio de fontes de satélites no futuro. Os países desenvolvidos e
as organizações internacionais, assim como o setor privado, devem cooperar, em particular com
os países em desenvolvimento, quando solicitado, para facilitar sua aquisição dessas tecnologias
e conhecimento técnico-científico.
(e) Estabelecimento de uma estrutura ampla de informação
40.10. Os Governos devem considerar a possibilidade de introduzir as mudanças
institucionais necessárias no plano nacional para alcançar a integração da informação sobre meio
ambiente e desenvolvimento. No plano internacional, será preciso fortalecer as atividades de
avaliação ambiental e coordená-las com os esforços para avaliar as tendências do
desenvolvimento.
(f) Fortalecimento da capacidade de difundir informação tradicional
40.11. Os países devem, com a cooperação de organizações internacionais, estabelecer
mecanismos de apoio para oferecer às comunidades locais e aos usuários de recursos a
informação e os conhecimentos técnicos-científicos de que necessitam para gerenciar seu meio
ambiente e recursos de forma sustentável, aplicando os conhecimentos e as abordagens
tradicionais e indígenas, quando apropriado. Isso é particularmente relevante para as populações
rurais e urbanas e grupos indígenas, de mulheres e de jovens.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


40.12. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) de
implementação das atividades deste programa em cerca de $1.9 bilhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios institucionais
40.13. Nos planos nacional e internacional, é deficiente a capacidade institucional para
integrar meio ambiente e desenvolvimento e desenvolver indicadores pertinentes. Devem ser
fortalecidos consideravelmente os programas e as instituições existentes, tais como o Sistema
Global de Monitoramento do Meio Ambiente (SCMMA) e o Banco de Dados de Informações
sobre Recursos Globais (GRID), dentro do PNUMA, e diferentes entidades dentro do sistema
geral de Observação da Terra (Earthwatch). O Observação da Terra tem sido elemento essencial
para dados relacionados com meio ambiente. Embora haja programas relacionados com dados
sobre desenvolvimento em diversas agências, a coordenação entre eles é insuficiente. As
atividades relacionadas com os dados sobre desenvolvimento das agências e instituições do
sistema das Nações Unidas devem ser coordenadas de maneira mais eficaz, talvez por meio de
um mecanismo equivalente e complementar de "Observação do Desenvolvimento", com o qual o
Agenda 21 - Global 389

Earthwatch deve ser coordenado mediante um escritório apropriado nas Nações Unidas para
assegurar a plena integração de preocupações com meio ambiente e desenvolvimento.
(c) Meios científicos e tecnológicos
40.14. Em relação à transferência de tecnologia, com a rápida evolução das tecnologias de
coleta de dados e informação, é necessário desenvolver diretrizes e mecanismos para a
transferência rápida e contínua dessas tecnologias, em particular aos países em desenvolvimento,
em conformidade com o capítulo 34 (Transferência de Tecnologia Ambientalmente Saudável,
Cooperação e Fortelecimento Institucional), e para o treinamento de pessoal em sua utilização.
(d) Desenvolvimento dos recursos humanos
40.15. Será necessária a cooperação internacional para o treinamento em todas as áreas e
em todos os níveis, especialmente nos países em desenvolvimento. Esse treinamento terá de
incluir o treinamento técnico dos envolvidos em coleta, avaliação e transformação de dados, bem
como a assistência aos responsáveis por decisões em relação a como utilizar essa informação.
(e) Fortalecimento institucional
40.16. Todos os países, em particular os países em desenvolvimento, com o apoio da
cooperação internacional, devem fortalecer sua capacidade de coletar, armazenar, organizar,
avaliar e utilizar dados nos processos de tomada de decisões de maneira mais efetiva.

B. Aperfeiçoamento da disponibilidade da informação

Base para a ação

40.17. Já existe uma riqueza de dados e informações que pode ser utilizada para o
gerenciamento do desenvolvimento sustentável. Encontrar a informação adequada no momento
preciso e na escala pertinente de agregação é uma tarefa difícil.
40.18. Em muitos países, a informação não é gerenciada adequadamente devido à falta de
recursos financeiros e pessoal treinado, desconhecimento de seu valor e de sua disponibilidade e
a outros problemas imediatos ou prementes, especialmente nos países em desenvolvimento.
Mesmo em lugares em que a informação está disponível, ela pode não ser de fácil acesso devido
à falta de tecnologia para um acesso eficaz ou aos custos associados, sobretudo no caso da
informação que se encontra fora do país e que está disponível comercialmente.

Objetivos

40.19. Devem-se fortalecer os mecanismos nacionais e internacionais de processamento e


intercâmbio de informação e de assistência técnica conexa, a fim de assegurar uma
disponibilidade efetiva e eqüitativa da informação gerada nos planos local, provincial, nacional e
internacional, sujeito à soberania nacional e aos diretos de propriedade intelectual relevantes.
40.20. Devem-se fortalecer as capacidades nacionais, assim como as dos Governos,
organizações não-governamentais e do setor privado, de manejo da informação e da
comunicação, especialmente nos países em desenvolvimento.
40.21. Deve-se assegurar a plena participação, em especial dos países em
desenvolvimento, em qualquer esquema internacional são os órgãos e as organizações do sistema
das Nações Unidas para a coleta, análise e utilização de dados e informações.

Atividades
Agenda 21 - Global 390

(a) Produção de informação utilizável na tomada de decisões


40.22. Os países e as organizações internacionais devem rever e fortalecer os sistemas e
serviços de informação em setores relacionados com o desenvolvimento sustentável nos planos
local, provincial, nacional e internacional. Deve-se dar ênfase especial à transformação da
informação existente em formas mais úteis para a tomada de decisões e em orientá-la para
diferentes grupos de usuários. Devem-se estabelecer ou fortalecer mecanismos para converter as
avaliações científicas e sócio-econômicas em informação adequada para o planejamento e a
informação pública. Devem-se utilizar formatos eletrônicos e não-eletrônicos.
(b) Estabelecimento de padrões e métodos para o manejo de informação
40.23. Os Governos devem considerar apoiar as organizações governamentais assim
como não-governamentais em seus esforços para desenvolver mecanismos para o intercâmbio
eficiente e harmônico de informação nos planos local, provincial, nacional e internacional,
compreendendo revisão e estabelecimento de dados, formatos de acesso e difusão e
interrelações de comunicação.
(c) Desenvolvimento de documentação sobre informação
40.24. Os órgãos e as organizações do sistema das Nações Unidas assim como outras
organizações governamentais e não-governamentais devem documentar e compartilhar
informações sobre as fontes da informação disponível em suas respectivas organizações. Os
programas existentes, tais como o do Comitê Consultivo para a Coordenação dos Sistemas de
Informação (CCCSI) e o Sistema Internacional de Informação Ambiental (INFOTERRA), devem
ser revistos e fortalecidos se necessário. Devem-se incentivar os mecanismos de formação de
redes e de coordenação, entre a ampla gama de outros atores, incluindo arranjos com
organizações não-governamentais para o intercâmbio de informação e atividades de doadores
para intercâmbio de informação sobre projetos de desenvolvimento sustentável. Deve-se
incentivar o setor privado a fortalecer os mecanismos de intercâmbio de experiências e de
informação sobre desenvolvimento sustentável.
(d) Estabelecimento e fortalecimento da capacidade de formação de redes eletrônicas
40.25. Os países e as organizações internacionais, entre eles os órgãos e organizações do
sistema das Nações Unidas e as organizações não-governamentais, devem explorar várias
iniciativas de estabelecimento de ligações eletrônicas para apoiar o intercâmbio de informação,
proporcionar acesso aos bancos de dados e outras fontes de informação, facilitar a comunicação
para satisfazer objetivos mais amplos, como a implementação da Agenda 21, facilitar as
negociações intergovernamentais, supervisionar convenções e esforços de desenvolvimento
sustentável, transmitir alertas ambientais e transferir dados técnicos. Essas organizações devem
também facilitar a interconexão entre diversas redes eletrônicas e a utilização de padrões
adequados e protocolos de comunicação para o intercâmbio transparente de comunicações
eletrônicas. Quando necessário, deve-se desenvolver tecnologia nova e incentivar sua utilização
para permitir a participação daqueles que na atualidade não têm acesso à infra-estrutura e aos
métodos existentes. Além disso, devem-se estabelecer mecanismos para realizar a necessária
transferência de informação para e desde os sistemas não-eletrônicos, para assegurar o
envolvimento daqueles que de outra maneira ficariam excluídos.
(e) Utilização das fontes de informação comercial
40.26. Os países e as organizações internacionais devem considerar empreender
levantamentos das informações sobre desenvolvimento sustentável disponíveis no setor privado
e dos arranjos atuais de difusão para determinar as lacunas disponíveis e a maneira de preenchê-
las por meio de atividades comerciais ou quase comerciais, particularmente atividades que
envolvam países em desenvolvimento ou que sejam realizadas neles, quando exeqüível. Sempre
Agenda 21 - Global 391

que existam impedimentos econômicos ou de outro tipo que dificultem a oferta de informação e o
acesso a ela, particularmente nos países em desenvolvimento, deve-se considerar a criação de
esquemas inovadores para subsidiar o acesso a essa informação ou para eliminar os
impedimentos não econômicos.

Meios de implementação

(a) Financiamento e estimativa de custos


40.27. O Secretariado da Conferência estimou o custo total anual médio (1993-2000) de
implementação das atividades deste programa em cerca de $165 milhões de dólares, a serem
providos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doações. Estas são
estimativas apenas indicativas e aproximadas, não revisadas pelos Governos. Os custos reais e os
termos financeiros, inclusive os não concessionais, dependerão, inter alia, das estratégias e
programas específicos que os Governos decidam adotar para a implementação.
(b) Meios institucionais
40.28. As implicações institucionais deste programa se referem principalmente ao
fortalecimento das instituições já existentes, bem como a intensificação da cooperação com
organismos não-governamentais, e devem ser consistentes com as decisões abrangentes sobre
instituições adotadas pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento.
(c) Fortalecimento institucional
40.29. Os países desenvolvidos e as organizações internacionais pertinentes devem
cooperar, em particular com os países em desenvolvimento, para ampliar sua capacidade de
receber, armazenar e recuperar, contribuir, difundir e usar informação pertinente sobre meio
ambiente e desenvolvimento e prover ao público acesso apropriado a essa informação,
oferecendo tecnologia e treinamento para estabelecer serviços locais de informação e apoiando
arranjos de cooperação e parceria entre países e nos planos regional e sub-regional.
(d) Meios científicos e tecnológicos
40.30. Os países desenvolvidos e as organizações internacionais pertinentes devem apoiar
a pesquisa e o desenvolvimento de equipamentos, programas de computador e outros aspectos da
tecnologia de informação, em particular nos países em desenvolvimento, adequados a suas
operações, necessidades nacionais e contextos ambientais.

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