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A realidade é, além disso, tudo aquilo que ainda não nos tornamos,
ou seja, tudo aquilo que a nós mesmos nos projetamos como seres humanos
por intermédio dos mitos, das escolhas, das decisões e das lutas.
A. Schmidt ( The concept of nature in Marx, 1971)
o que faz com que esse termo sirva muitas vezes como legitimador da con-
tinuidade do processo de reprodução do capitalismo.
O capitalismo atual, sustentado progressivamente pelo desenvolvi-
mento da técnica e da ciência, é capaz de produzir mercadorias em quan-
tidades nunca antes vistas e de colocá-las em circulação numa velocidade
tão acelerada. É impossível à natureza acompanhar o ritmo desse modelo
de desenvolvimento sem se aproximar da possibilidade de uma catástrofe
ambiental que, em certo sentido, já se manifesta em diversos locais, e
mesmo em escala global 1.
O crescimento da utilização da ciência e da tecnologia na exploração
dos recursos naturais não pode, por si só, ser responsabilizado pel~ degra-
dação do meio ambiente, mas sem dúvida constitui um dado importante
na história recente da relação das sociedades com seus espaços.
O modelo atual de desenvolvimento do capitalismo, a globalização,
está sustentado por uma grande produção de conhecimentos científicos,
técnicos e tecnológicos, que o impulsionam no processo de produção e 1
circulação de mercadorias, mas no centro permanecem a remuneração do l
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Sobre a degradação e suas escalas, pode-se pensar na desertificação do Estado do Rio Grande do
Sul, no Brasil, como uma questão de caráter local e no processo de aquecimento do planeta a par-
tir da emissão de gases que aumentam o efeito estufa como um fenômeno de escala global.
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O geógrafo Milton Santos chama a atenção para o crescimento da importância das técnicas como
elemento mediador das relações humanas e também para a inseparabilidade entre o fenômeno téc-
nico e o desenvolvimento da ciência. Para este autor seria correto pensarmos essa questão a partir
da idéia de tecnociência.
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Quem vai morrer, nos perguntamos? Quem vai ganhar, pensam eles e nos pergun-
tamos mais ainda? Apostemos. Vocês ficam com o da direita, nós jogamos no da
esquerda. A natureza dupla de ambos significa que o combate é duvidoso: há ape-
nas .dois combatentes que a vitória sem dúvida separará.
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Ü MUNDO GLOBALIZADO E A QUESTÃO AMBIENTAL ·i~l
ameaça, pois não fazendo parte de sua dinâmica, suas ações são sempre de
construção de desequilíbrios, de decomposição da ordem.
As sociedades também aparecem como conceito abstrato, desprovidas
de materialidade. O espaço produzido ao longo da história, sempre sujeito
às contradições sociais, mergulhado nas disputas do cotidiano, surge como
elemento dado e sem movimento, pronto para ser explorado na sua pleni-
tude, segundo a potencialidade do momento.
Essa oposição entre sociedade e natureza possibilitou a construção de
um modelo de desenvolvimento que imagina a natureza apenas como
fonte de recursos, mas não como limite de ação. O meio ambiente foi de-
composto como totalidade, incluindo aí as sociedades, e em seu lugar foi
construído um conceito de natureza ideal, que inspira uma série de movi-
mentos ambientalistas, mas que se limita a áreas de ocupação humana
restrita e, de outro lado, um mosaico fragmentado de elementos naturais
prontos a serem explorados pelos agentes hegemónicos.
O desenvolvimento das ciências da natureza, e mesmo das ciências
sociais, produzido a partir dessa oposição sociedade versus natureza, con-
tribuiu muito na construção de uma idéia equivocada sobre a relação das
sociedades com o meio onde vivem.
A partir do século XIX, pode-se observar um crescimento muito
grande das ciências na orientação das ações sociais sobre os espaços. No
entanto, a forma pela qual essa orientação se deu esteve sempre ligada ao
modelo capitalista de desenvolvimento em suas diversas fases, consolidan-
do um conceito de natureza que aparece sempre dividido. De um lado,
uma visão da natureza como fonte de recursos a serem utilizados pelos
agentes sociais hegemónicos em larga escala, e sem limites, para a pro-
moção do desenvolvimento econômico. De outro lado, como natureza
"natural, equilibrada e harmônica'' em oposição às sociedades, que deve
permanecer in tocada.
É a construção deste conceito de natureza que Serres denuncia como
uma cultura que possui "horror". Uma concepção que parece incapaz de
perceber as sociedades como parte da construção do mundo, incluindo o
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·•~ MEIO AMBIENTE, EDUCAÇÃO E EcoTURISMO
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A idéia de recurso natural nos parece muito importante, pois recurso quer dizer: meio para se atin-
gir um fim. Se o capitalismo tem por finalidad e a remuneração do capital, a conversão da natureza
em recurso implica em uma não finalidade própria, mas subentendida como parte do processo de
produção de lucro, sendo, portanto, ilimitada.
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Milton Santos (2000) nos chama a atenção para a questão das ações
verticais das grandes empresas em oposição às horizontalidades da pro-
dução d as relações sociais na produção de suas vidas, e portanto de seu
meio ambiente.
Para ele, a atuação dessas grandes empresas se dá de forma pontual em
lugares determinados e cuidadosamente selecionados a partir das possibili-
dades de exploração dos recursos e sem vínculos com a realidade local mais
ampla, com os demais elementos que compõem o lugar.
A intervenção das grandes empresas, dos agentes hegemónicos, está
sempre ligada aos desígnios do mercado global e, logo, se orienta a partir
dele. No entanto, ao atuar em determinada porção do espaço, essa inter-
venção redefine boa parte das relações sociais presentes anteriormente
neste espaço, mas não há preocupação com as conseqüências de sua inter-
venção.
Dessa forma essas empresas podem desorganizar a produção social do
espaço, uma vez que seus interesses são pontuais, levar grandes parcelas das
sociedades à miséria e causar a degradação do meio ambiente pela explo-
ração desmedida dos recursos. Quando isso acontece, elas simplesmente
procuram outros lugares para se instalar.
Como ensina Milton Santos:
Os sistemas técnicos de que se valem os atuais atores hegemônicos estão sendo uti-
lizados para reduzir o escopo da vida humana sobre o planeta. No entanto, jamais
houve na história sistemas tão propícios a facilitar a vida e proporcionar a felicidade
dos homens. A materialidade que o mundo da globalização está recriando permite
um uso radicalmente diferente daquele que era a base material da industrialização
e do imperialismo (Santos 2000: 164).
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0 MUNDO GLOBALIZADO E A QUESTÃO AMBIENTAL 2)
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É importante lembrar que as técnicas, como mostra o professor Milton Santos (1996), devem
sempre ser pensadas como conjunto técnico de um determinado período e não por técnicas ou
objetos técnicos isolados. Os dois exemplos trabalhados neste texto são apenas ilustrações para a
idéia e não têm a pretensão de serem trabalhados como paradigmas de nosso período.
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Ü MUNDO G LOBA LIZA DO E A Q UESTÃO A MBIENTAL ,~,
R,eferências Bibliográficas
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