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Rodrigo Gontijo é documentarista, videoartista e professor convidado na PUC-SP. Desde 2004
desenvolve projetos autorais de Live Cinema. Seus trabalhos já foram apresentados em mostras e
festivais no Brasil, Canadá e Marrocos e premiados pela APCA e Festival de Gramado. Atualmente é
mestrando no Programa de Pós-Graduação em Multimeios da UNICAMP.
Email: rodrigogontijo@gmail.com. Site: www.rodrigogontijo.com
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Herdeiros do Fluxus
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Figura 1 - TV Buddha (1974)
FONTE <http://paikstudios.com> Acesso em: 20/11/2012
Sky TV (1966)
FONTE – KELLEIN, 2008, p. 77
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que enviavam os sinais para os monitores da sala oposta. As telas estavam
posicionadas na parede bem em frente às câmeras. A “sala pública” é freqüentada
pelo visitante que tem suas imagens captadas ao vivo e as assistem a partir do registro
da tela do monitor localizado na “sala privada”, que está fechada para visitação.
Assim a “sala pública” veicula a imagem ao vivo da “sala privada” e a “sala privada”
a imagem da “sala pública”. Ao se movimentar diante da câmera, o espectador não vê
sua imagem no monitor da mesma sala, mas no registro da sala oposta. Assim
Nauman inverte o espaço público com o privado, colocando estes dois universos em
choque, a partir da observação por câmeras de vigilância. Tanto o público quanto o
privado possuem tempos simultâneos e se entrecruzam virtualmente a partir de seus
registros.
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contextos, com festivais de performance e dança contemporânea ele aparece com
mais força num dialogo próximo às artes cênicas e performáticas. Neste caso atores
e/ou bailarinos tornam-se protagonistas do filme experimental que acontece
juntamente com a apresentação. A captação é manipulada e editada em tempo real,
descolando gradualmente a imagem do registro original, criando um jogo de cena
entre o performer e seu duplo projetado. Desta forma, o vídeo passa a ser um
interator, com presença e personalidade na cena, estabelecendo relações de escuta e
prontidão para complementar, harmonizar, desestabilizar ou criar contrapontos entre o
objeto registrado e seu duplo, fugindo assim de uma mera representação.
Esta tendência é a única onde todas as etapas da produção de imagem -
captação, edição e exibição - são incorporadas ao ato performático. A ação acontece
diante da câmera que executa uma tomada fazendo com que este corpo sofra
mediações tecnológicas pela câmera e em seguida pelo computador. Estabelece-se
neste instante uma relação entre videoartista, performer, objetos manipulados e
espectador, onde em alguns casos, videodanças são criadas em tempo real e as
coreografias do corpo geram material para o surgimento de coreografias dos frames.
Assim os processos de montagem em tempo real propiciam novas articulações
narrativas para a apresentação.
Um exemplo que se dá na fronteira da dança com o Cinema em Circuito
Fechado é o espetáculo Fronteiras Móveis (2008). Dança contemporânea, live cinema
e música se juntam de forma colaborativa onde as linguagens se incorporam sem que
uma se sobreponha à outra. O trabalho desenvolvido pelo Núcleo Artérias (Adriana
Grechi, Dudu Tsuda, Karina Ka, Lua Tatit, Rodrigo Gontijo e Tatiana Melitello),
estabelece diálogos que promovem tensões, harmonias e contrapontos de assuntos
como medo, violência e insegurança no mundo contemporâneo. O medo que paira na
cena se retroalimenta e cria no palco um ambiente de insegurança. Cada performer em
Fronteiras Móveis desenvolve instabilidades em suas mídias (corpo, vídeo e música)
através de oposições e tensões na tentativa de continuar adiante, buscando uma
relação de voyerismo e vigilância com as câmeras em cena. As composições
audiovisuais são produzidas a partir de 4 câmeras com texturas distintas, um switcher,
e um laptop onde as imagens captadas dos performers são editadas e resignificadas
com sobreimpressões que geram um cinema inteiramente ao vivo onde todas as etapas
de produção - atuação, registro, edição e projeção - são realizadas diante da platéia em
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tempo real. O trabalho circulou em festivais de dança contemporânea e foi
contemplado com o APCA/2008 (Associação Paulista dos Críticos de Arte).
Características textuais
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onde os planos são articulados sequencialmente e que muitas vezes cria-se a ilusão de
continuidade. A sobreimpressão, que visa sobrepor 2 ou mais planos, por vezes com
luminosidades diferentes, através de superfícies translúcidas que propiciam a
visualização de todas as imagens, é uma das técnicas mais utilizadas nesta prática
artística. Isto ocorre pelo fato da maioria dos projetos trabalharem com um número
reduzido de câmeras que limita a quantidade de planos.
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1ª Dimensão Estética – o discurso da câmera
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Eile (2009) – Yroyto
FONTE <http://www.yroyto.com> Acesso em: 01/12/2011
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2ª Dimensão Estética – no instante da criação
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3ª Dimensão Estética – o tempo sobre o corpo
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rock para musicar poemas com temas polêmicos e controversos ligados ao sexo, a
libido e a força do tesão em suas diferentes nuances e expressões.
Considerações finais
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performáticas que são gravadas num VCR (vídeo cassete recorder). Logo em seguida
o material é colocado em play, sofrendo alterações no tempo de visualização (rewind
e fast foward) e o sinal é enviado a um monitor. A função de cor e saturação do
monitor também são manipuladas, simultaneamente à velocidade de exibição do
material gravado. E por fim, diante deste monitor, uma outra câmera registra a tela,
enquanto seus atributos como velocidade do obturador (shutter) e rastros (trails) são
também manejados. O resultado final é enviado para a projeção e assistido pelo
espectador. Todas estas ações ocorrem quase que ao mesmo tempo tornando a ação
do videoartista tão performática e performativa quanto o resultado do trabalho.
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Imagens da performance Suspensão (2006/2007) de Luiz Duva
FONTE < http://www.liveimages.com.br> Acesso em: 30/01/2013
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Referências Bibliográficas
COHEN, Renato. Performance como Linguagem. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1989.
DUBOIS, Phillippe. Cinema, Vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
KELLEIN, Thomas. Yoko Ono: Between the sky and my head. Verlag der
Buchhandlung Walther König, 2008.
SPINRAD, Paul. The VJ Book: Inspirations and Practical Advice for Live Visuals
Performance. Los Angeles: A Feral House Book, 2005.
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