Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CEFALEIAS
Enxaqueca: fisiopatoge-
nia, clínica e tratamento
JORGE MACHADO,1JOSÉ BARROS,2MANUELA PALMEIRA3
Resumo
A enxaqueca é uma entidade clínica clássica com características bem definidas, mas também com
alguma variabilidade. Tem um perfil temporal paroxístico, com episódios de frequência e duração latação reactiva poderá explicar a gé-
variáveis, intervalados por períodos totalmente assintomáticos. nese da dor através da estimulação das
A prevalência da enxaqueca no adulto situa-se entre 10% e 15%, com consequências sócio- fibras perivasculares sensíveis à dor.
-económicas importantes. É aceite uma maior prevalência da enxaqueca no sexo feminino; a razão Esta teoria está em concordância com
homem:mulher é, consoante os estudos, de 1:2-3. A história de enxaqueca inicia-se habitualmente o carácter pulsátil da dor, com as suas
em adolescentes ou jovens adultos, podendo surgir na infância. Rapazes e meninas serão igual- várias localizações e com o alívio pro-
mente atingidos; o predomínio do sexo feminino só aparece na adolescência. No entanto, em cerca porcionado pelos vasoconstritores,
de 10% dos casos a enxaqueca aparece depois dos 40 anos. Uma primeira crise depois dos 45 anos, como a ergotamina. Foram estudados
sendo possível, obriga a investigação clínica para exclusão de uma cefaleia sintomática. doentes durante a aura, usando técni-
cas de débito sanguíneo com 133Xe,
que revelaram uma redução do débito
sanguíneo cerebral nas regiões posteri-
FISIOPATOGENIA ores do cérebro, na ordem dos 17-35%
e com progressão anterior a um ritmo
de 2-3mm/minuto. Estudos mais re-
enxaqueca é uma doença centes com tomografia de emissão de
Resolução QUADRO I
A dor reduz-se lentamente em horas,
FACTORES PRECIPITANTES: ALGUNS EXEMPLOS
mas muitos episódios só são concluídos
pelo sono. Os vómitos, espontâneos ou - Fadiga
provocados, podem aliviar a dor. Pode - Excesso de trabalho
haver desejo de alimentos quentes. - Viagens
Pósdromos - Pós-stress (férias, sábados)
Nesta fase, o trabalho físico já é possí- - Estímulos luminosos
vel, mas o esforço intelectual ainda é - Discotecas
penoso. A fadiga, a letargia, a fraqueza, - Excesso / défice de sono
o descuido pessoal podem manter-se. - Jejum prolongado
A necessidade de conforto e afectividade - Alimentos
- Bebidas alcoólicas
é comum. Ao contrário, em alguns ca-
- Climas extremos
sos verifica-se euforia e sensação de re-
- Perfumes
juvenescimento. - Menstruação
- Sexo
- Desporto
CLASSIFICAÇÃO E CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO
(enxaqueca sem aura) ou duas crises
A classificação da International (enxaqueca com aura). Não há testes
Headache Society (IHS) foi recente- laboratoriais ou marcadores que con-
mente actualizada.21 Uma versão inte- firmem o diagnóstico.
gral em língua portuguesa está Na avaliação inicial de um doente com
disponível na versão electrónica da re- cefaleias, o médico deve procurar sinais
vista SINAPSE (www.spneurologia.org). de alerta que sugiram a possibilidade de
A classificação da IHS contém alguns uma cefaleia secundária.
consensos polémicos. No entanto, a O trabalho médico em cefaleias assen-
classificação, definição e critérios de di- ta na clínica e, particularmente, na
agnóstico são instrumentos funda- anamnese. O mais importante é o per-
mentais na investigação clínica e epi- fil temporal: instalação abrupta (em
demiológica. Perante um doente con- minutos), aguda (horas ou dias), sub-
creto, é necessário alguma flexibilidade aguda (semanas a alguns meses) ou
na interpretação e aplicação dos cri- crónica (contínua ou paroxística).
térios. São dados de alerta os três primeiros
tipos, bem como a cefaleia crónica que
apresenta novas características (mu-
FACTORES PRECIPITANTES dança de carácter, intensidade ou fre-
quência). Assim, devemos investigar a
As crises de enxaqueca podem ser pre- cefaleia inaugural ou a primeira signi-
cipitadas por factores intrínsecos e am- ficativa na vida, a cefaleia diária per-
bientais. Algumas pessoas são capazes sistente de aparecimento recente e a ce-
de identificar claramente os factores faleia progressiva. A cefaleia hemicra-
precipitantes e, uma vez reconhecidos, niana não alternante, particularmente
evitá-los (Quadro I). se acompanhada de sintomas neu-
rológicos contralaterais, também é um
sintoma de alerta, bem como o seu iní-
DIAGNÓSTICO cio após os 45 anos. A presença de
crises epilépticas, de outras queixas
O diagnóstico de enxaqueca é clínico, neurológicas como o atingimento de
obrigando à documentação de cinco funções superiores (a memória, lin-
QUADRO II
COMPORTAMENTOS A MODIFICAR
proved description of the migraine aura by a di- tients with acute migraine in a pediatric neurolo-
agnostic aura diary. Cephalalgia 1994 Apr; 14 (2): gy office practice. Headache 1996 Jul-Aug; 36 (7):
107-17. 419-22.
18. Alonso I, Barros J, Tuna A, Seixas A, 32. James WL. Preventive treatment in mi-
Coutinho P, Sequeiros J, et al. A novel R1347Q graine. In: Goadsby PJ, Silberstein SD, editors.
mutation in the predicted voltage sensor segment Blue Books of Practical Neurology: Headache. Lon-
of the P/Q-type calcium-channe alpha-subunit in don: Butterworth-Heinemann; 1997. p. 131-41.
a family with progressive cerebellar ataxia and 33. Pascual J, Polo JM, Berciano J. The dose
hemiplegic migraine. Clin Genet 2004 Jan; 65 (1): of propranolol for migraine prophylaxis: efficacy
70-2. of low doses. Cephalalgia 1989 Dec; 9 (4): 287-91.
19. Alonso I, Barros J, Tuna A, Coelho J, Se- 34. Sudilovsky A , Elkind AH, Ryan RE Sr,
queiros J, Silveira I, et al. Phenotypes of spinocere- Saper JR, Stern MA, Meyer JH. Comparative effi-
bellar ataxia type 6 and familial hemiplegic mi- cacy of nadolol and propranolol in the manage-
graine caused by a unique CACNA1A missense ment of migraine. Headache 1987 Sep; 27 (8):
mutation in patients from a large family. Arch 421-6.
Neurol 2003 Apr; 60 (4): 610-4. 35. Battistela PA, Ruffilli R, Moro R, Fabiani M,
20. Olesen J. Some clinical features of the acute Bertoli S, Antolini A, et al. A placebo-controlled
migraine attack: an analysis of 750 patients. crossover trial of nimodipine in pediatric migraine.
Headache 1978 Nov; 18: 268-71. Headache 1990 Apr; 30 (5): 264-8.
21. Headache Classification Committee of the 36. Bassi P, Brunati L, Rapuzzi B, Alberti E,
International Headache Society. Classification and Mangoni A. Low dose flunarizine in the prophy-
diagnosis criteria for headache disorders, cranial laxis of migraine. Headache 1992 Sep; 32 (8):
neuralgias and facial pain. Cephalalgia 2004, 24 390-2.
Suppl 1: 8-160. 37. Solomon GD. Verapamil in migraine pro-
22. Frishberg BM, Rosenberg JH, Matchar DB, phylaxis: a five year review. Headache 1989 Jul;
McCrory DC, Pietrzak MP, Rozen TD, et al. Evi- 29 (7): 425-7.
dence-based guidelines in the primary care set- 38. Hering R, Kurittky A. Sodium valproate in
ting: neuroimaging in patients with non-acute the prophylactic treatment of migraine: a double-
headache. Disponível em: URL: http://www.aan blind study versus placebo. Cephalalgia 1992 Apr;
.com/professionals/practice/pdfs/gl0088.pdf 12 (2): 81-4.
[acedido em 04-08-2006]. 39. Silberstein SD. Topiramate in migraine pre-
23. D'Amico D. Treatment strategies in mi- vention: evidence-based medicine from clinical tri-
graine patients. Neurol Sci 2004 Oct; 25 Suppl 3: als. Neurol Sci 2004 Oct; 25 Suppl 3: S244-5.
S242-3. 40. Sances G, Martignoni E, Fioroni L, Blan-
24. Pereira Monteiro JM. As cefaleias na clíni- dini F, Facchinetti F, Nappi G. Naproxen sodium
ca geral. Porto: Coopertipo; 1986. in menstrual migraine prophylaxis: a double blind
25. Silberstein S, Lipton R, Goadsby P. placebo controlled study. Headache 1990 Nov; 30
Headache in clinical practice. Oxford: Isis Medi- (11): 705-9.
cal Media; 1998. 41. Szekely B, Merryman S, Croft H, Post G.
26. Holroyd KA. Psychological and behavioral Prophylactic effects of naproxen sodium on peri-
techniques. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch menstrual headache: a double blind placebo con-
KM, editors. The Headaches. New York: Raven trolled study. Cephalalgia 1989; 9 (Suppl 10):
Press; 1993. p. 515-20. 452-3.
27. Melis PM, Rooimans W, Spierings EL, Hoog- 42. Al-Waili NS. Treatment of menstrual mi-
duin CA. Treatment of chronic tension-type graine with prostaglandin synthesis inhibitor
headache with hypnotherapy: a single blind time mefenamic acid: double-blind study with placebo.
controlled study. Headache 1991 Nov; 31 (10): Eur J Med Res 2000 Apr 19; 5 (4): 176-82.
686-9. 43. Dennerstein L, Morse C, Burrows G, Oats
28. Schoonman GG, Wiendels NJ, Ferrari MD. J, Brown J, Smith M. Menstrual migraine: a dou-
Acupunctuur bij de profylactische behandeling ble blind trial of percutaneous estradiol. Gynecol
van migraine; voorlopig geen bewijs van effectiviteit Endocrinol 1988 Jun; 2 (2): 113-20.
[Still no proof of the efficacy of acupuncture in the 44. Fettes I. Menstrual migraine: methods of
prevention of migraine]. Ned Tijdschr Geneeskd prevention and control. Postgrad Med 1997 May;
2004 Oct 30; 148 (44): 2165-6. 101 (5): 67-70, 73-7.
29. Machado MG, Colaço MJ. Cefaleias de in- 45. Boyle CA. Management of menstrual mi-
teresse para o clínico geral. Rev Port Clin Geral graine. Neurology 1999; 53 (4 Suppl 1): S14-8.
1989; 6 (2): 45-50. 46. Granella F, Sances G, Messa G, de Mari-
30. Ferrari MD, Haan J. Drug treatment of mi- nis M, Manzoni GC. Treatment of menstrual mi-
graine Attacks. In: Goadsby PJ, Silberstein SD, edi- graine. Cephalalgia 1997 Dec; 17 Suppl 20: 35-8.
tors. Blue Books of Practical Neurology: Headache. 47. Gruener G, Jay W. Treatment of headache
London: Butterworth-Heinemann; 1997. p. 117-30. with botulinum toxin administration. Semin Oph-
31. Lindler SL. Subcutaneous sumatriptan in thalmol 2003 Dec; 18(4): 200-4.
the clinical setting: the first 50 consecutive pa-