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CEFALEIAS

Enxaqueca: fisiopatoge-
nia, clínica e tratamento
JORGE MACHADO,1JOSÉ BARROS,2MANUELA PALMEIRA3

Resumo

A enxaqueca é uma entidade clínica clássica com características bem definidas, mas também com
alguma variabilidade. Tem um perfil temporal paroxístico, com episódios de frequência e duração latação reactiva poderá explicar a gé-
variáveis, intervalados por períodos totalmente assintomáticos. nese da dor através da estimulação das
A prevalência da enxaqueca no adulto situa-se entre 10% e 15%, com consequências sócio- fibras perivasculares sensíveis à dor.
-económicas importantes. É aceite uma maior prevalência da enxaqueca no sexo feminino; a razão Esta teoria está em concordância com
homem:mulher é, consoante os estudos, de 1:2-3. A história de enxaqueca inicia-se habitualmente o carácter pulsátil da dor, com as suas
em adolescentes ou jovens adultos, podendo surgir na infância. Rapazes e meninas serão igual- várias localizações e com o alívio pro-
mente atingidos; o predomínio do sexo feminino só aparece na adolescência. No entanto, em cerca porcionado pelos vasoconstritores,
de 10% dos casos a enxaqueca aparece depois dos 40 anos. Uma primeira crise depois dos 45 anos, como a ergotamina. Foram estudados
sendo possível, obriga a investigação clínica para exclusão de uma cefaleia sintomática. doentes durante a aura, usando técni-
cas de débito sanguíneo com 133Xe,
que revelaram uma redução do débito
sanguíneo cerebral nas regiões posteri-
FISIOPATOGENIA ores do cérebro, na ordem dos 17-35%
e com progressão anterior a um ritmo
de 2-3mm/minuto. Estudos mais re-
enxaqueca é uma doença centes com tomografia de emissão de

A primária do cérebro.1 É uma


forma de cefaleia neurovas-
cular, uma perturbação em
que os eventos neuronais resultam em
dilatação dos vasos sanguíneos que, por
positrões (PET) durante a fase da aura
da enxaqueca confirmaram estes resul-
tados e demonstraram ainda hipoper-
fusão lentamente alastrante. Nenhum
estudo mostrou evidência de isqué-
sua vez, provoca dor e subsequente ac- mia.2 A demonstração recente pelo grupo
tivação neuronal. de Olesen3 que o sildenafil, um inibidor
Há fundamentalmente duas teorias a da fosfodiesterase, induz enxaqueca sem
competir entre si para explicar a patogé- provocar alterações no diâmetro da
nese da enxaqueca: a teoria vascular e artéria cerebral média, foi o último prego
a teoria neurogénica. Inicialmente opos- no caixão da teoria vascular.
tas, actualmente são vistas como com-
plementares.
TEORIA NEUROGÉNICA
TEORIA VASCULAR A teoria neurogénica tem a sua base na
“spreading depression” de Leão,4 que
A teoria vascular baseia-se na premis- assume que as alterações no débito
sa da isquémia focal ser a causa da au- sanguíneo se desenvolvem como con-
ra da enxaqueca. As auras seriam devi- sequência de eventos neuronais. Du-
1.Chefe de Serviço de Neurologia;
Hospital Militar Principal, Lisboa.
das à hipoperfusão secundária à vaso- rante a crise, há uma breve fase de hi-
2. Assistente Graduado e Professor constrição do vaso sanguíneo, respon- perperfusão seguida de hipoperfusão,
Auxiliar Convidado de Neurologia; sável pela irrigação da área cortical que corresponde à “spreading depres-
Hospital Geral de Santo António, Porto.
3. Chefe de Serviço de Neurologia do
correspondente ao sintoma da aura (vi- sion” cortical.5 Este facto provavelmente
Hospital da Cova da Beira, Covilhã sual, sensitiva ou motora). A vasodi- reflecte a onda de despolarização neu-

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ronal e glial seguida de supressão sus- antes do estabelecimento da alodínia


tentada da actividade neuronal. cutânea.
Estudos recentes em ressonância fun- Têm sido encontrados níveis aumenta-
cional, utilizando a técnica BOLD (blood dos de CGRP no sangue venoso jugular
oxygenation level-dependent) vieram durante as crises, mas após a adminis-
confirmar estes dados.6 Contudo, a du- tração de sumatriptano os níveis de
ramáter e os vasos sanguíneos menín- CGRP voltam ao normal, assistindo-se
geos são ricamente enervados por fi- igualmente à melhoria da cefaleia. Estes
bras nervosas sensitivas, com origem achados estão de acordo com a liber-
na divisão oftálmica do trigémio. Em tação de neuropéptidos pelos nervos
conjunto com o núcleo do nervo trigé- sensitivos activados durante a crise e
mio constituem o sistema nervoso com o bloqueio dessa libertação pelo
trigémino-vascular.7 Durante a crise es- sumatriptano nos receptores pré-jun-
tas fibras sensitivas libertam substân- cionais 5-HT1B/1D nos receptores sen-
cia P, CGRP (calcitonin gene-related pep- sitivos.10 Um estudo recente com PET
tide) e neuroquinina A. Estes péptidos mostrou a primeira evidência da pre-
provocam uma resposta inflamatória sença de extravasão plasmática loca-
estéril na duramáter e causam a sen- lizada às regiões extraparenquimatosas
sibilização das fibras nervosas a estí- ipsilaterais à localização da dor durante
mulos previamente inócuos, como as um ataque espontâneo de enxaqueca.11
pulsações dos vasos sanguíneos e as A activação trigémino-vascular ocorre
alterações na pressão venosa, manifes- secundariamente a um factor iniciador
tando-se por aumento da mecanos- da crise de enxaqueca, não sendo ain-
sensibilidade intracraniana e hiperal- da claro o que será. Estruturas do tron-
gesia agravada pela tosse ou por movi- co, do córtex ou uma disfunção neuro-
mentos cefálicos bruscos.8 A sensibi- química poderão ter um papel impor-
lização periférica dos neurónios tante na génese da enxaqueca, na sua
trigémino-vasculares medeia a dor modulação ou em ambas. Parece que o
pulsátil e o seu agravamento pela in- cérebro das pessoas com enxaqueca é
clinação anterior da cabeça; a sensibi- mais hiperexcitável, quer devido a fac-
lização central dos neurónios trigémi- tores genéticos (mutações nos genes
no-vasculares no núcleo caudalis dos canais de cálcio, alterações no
medeia a hipersensibilidade do couro metabolismo energético mitocondrial
cabeludo e pele peri-orbitária, como ou deficiência em magnésio) quer devi-
por exemplo a alodínia cutânea. do a factores externos (stress ou altera-
Alodínia é a resposta dolorosa provoca- ções hormonais).
da por um estímulo não doloroso. Num Foi demonstrado que certos núcleos do
estudo recente verificou-se que a alodí- tronco, como a substância cinzenta pe-
nia se desenvolveu durante as crises riaqueductal, o locus ceruleus e o nú-
em mais de 70% dos 34 doentes estu- cleo da rafe mediana desencadeiam ou
dados. Duas horas após tratamento suprimem sintomas dolorosos seme-
com triptanos, 15 % dos doentes com lhantes aos da enxaqueca, em animais
alodínia estavam sem dor; pelo con- e humanos.12 A activação do tronco du-
trário, 93% dos doentes sem alodínia rante um ataque de enxaqueca não é
ficaram sem dor no mesmo intervalo de uma resposta à cefaleia, mas antes um
tempo.9 Como conclusão importante local no cérebro que é responsável pela
deste estudo, pode afirmar-se que em sintomatologia da enxaqueca. As pes-
doentes susceptíveis de desenvolver soas com enxaqueca podem ter
alodínia, a terapêutica com triptanos hipersensibilidade central à estimu-
será mais eficaz se for administrada lação dopaminérgica, estando este fac-

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to relacionado com certos comporta- sugerem o papel de núcleos do tronco


mentos observados durante a crise de cerebral como “geradores da enxaque-
enxaqueca, como o bocejar, irritabili- ca”, tendo igualmente um importante
dade, hiperactividade, gastroparésia, papel na expressão fenotípica desta ce-
náuseas e vómitos. faleia primária.
Um estudo do débito sanguíneo com
PET, realizado durante uma crise de ce-
faleia unilateral em nove doentes com CLÍNICA
enxaqueca sem aura, colocou a hi-
pótese de existir um “gerador da enxa- Início da crise
queca” na porção rostral do tronco cere- O início de um episódio de enxaqueca
bral.12 Foi demonstrado, no mesmo es- pode variar de uma pessoa para outra
tudo, um aumento do débito sanguíneo ou de um episódio para outro, surgin-
cerebral regional na porção interna do do a qualquer hora do dia ou da noite.
tronco, predominantemente contrala- A intensidade da cefaleia pode acordar
teral à cefaleia, que persistiu após a ad- o indivíduo durante o sono; noutras
ministração de sumatriptano que ocasiões é notada ao despertar espon-
provocou o alívio da dor. Estas altera- tâneo. Durante o dia os sintomas são
ções não são observadas numa dor do notados lenta e progressivamente.
ramo oftálmico induzida experimental- Frequência
mente ou noutras cefaleias primárias, A frequência dos episódios é muito vari-
como a cefaleia em salvas e a hemicrâ- ável. A maioria das pessoas com enxa-
nia paroxística.13 queca tem um ou mais episódios por
A activação das estruturas do tronco mês, mas outras experimentam apenas
cerebral ventral na enxaqueca e da subs- alguns episódios ao longo da vida. Se
tância cinzenta hipotalâmica posterior um doente se queixa de duas ou mais
na cefaleia em salvas parecem ser rela- crises por semana o diagnóstico deve
tivamente específicas destas síndromes, ser questionado e revisto, tratando-se
uma vez que nenhuma delas é obser- mais provavelmente de síndrome de
vada na cefaleia experimental. O papel abuso medicamentoso ou de associação
destes núcleos do tronco como “gerado- a cefaleia de tipo tensão.
res da enxaqueca”, como participantes Síndrome
na modificação do limiar para a acti- A enxaqueca não é apenas uma cefaleia.
vação neuronal ou fazendo parte do sis- É um conjunto de sinais e sintomas
tema neuronal que termina um ataque decorrentes do compromisso do sistema
ainda não está completamente clarifi- nervoso central, do sistema nervoso
cado. autónomo e de outros aparelhos e sis-
temas. A descrição convencional da crise
de enxaqueca consiste numa sequência
CONCLUSÃO
de acontecimentos sistematizados em
cinco fases: 1) pródromos, 2) aura, 3) ce-
A enxaqueca é actualmente considera- faleia, 4) resolução, 5) pósdromos.14
da uma doença neurovascular, cujas Entretanto, na maioria das crises, esta
alterações vasculares são secundárias ordem académica não se verifica.
a activação neuronal. A enxaqueca não Algumas fases podem faltar, a ordem
é pois devida a uma perturbação dos va- pode ser outra, em sequência contínua
sos sanguíneos, mas sim a uma dis- ou com intervalos variáveis. Em cada in-
função primária cerebral, pelo que não divíduo, a síndrome pode variar de
deverá continuar a ser considerada poucos sintomas até a um leque exu-
uma cefaleia vascular. Estudos recentes berante de manifestações clínicas.

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Pródromos descritas e estudadas famílias com es-


Cerca de 60 % das pessoas com enxa- tas características.18,19
queca identificam sintomas premo- A enxaqueca sem aura é a mais preva-
nitórios. Estes sintomas vagos e mal lente. A aura pode ser difícil de identi-
definidos podem preceder a cefaleia ficar e descrever, mesmo em entrevista
horas ou dias. Os pródromos podem dirigida; há pessoas com auras des-
incluir alterações de humor ou com- fasadas temporalmente da dor; alguns
portamento (ansiedade, depressão, ir- doentes têm aura apenas em alguns
ritabilidade, lentidão, apatia, euforia, episódios. Estes factores conduzem ao
excitação), sintomas neurológicos (bo- subestimar da enxaqueca com aura. No
cejo, fonofotofobia, visão enevoada, ton- conjunto dos estudos publicados, pode-
turas), sintomas sistémicos (fadiga, mi- mos calcular que a prevalência da enxa-
algias, retenção de fluidos, palidez) e ali- queca com aura ronda os 4%.
mentares (anorexia, náusea, fome, de- Cefaleia
sejos, bulimia).15 A cefaleia é intensa. É classicamente
Aura descrita como pulsátil, mas esta carac-
É uma disfunção neurológica focal tran- terística pode faltar. A dor pode durar
sitória que se desenvolve em cerca de 5 de horas a dias (habitualmente menos
a 20 minutos (60 minutos no máximo) de 24 horas). A unilateralidade, outra
e que precede a cefaleia. A aura aparece característica clássica, pode faltar em
em menos de 20% da pessoas com en- 1/3 das pessoas.20
xaqueca e destas 70% também têm al- Nas enxaquecas unilaterais pode haver,
guns episódios sem aura. A aura visual ou não, alternância de lado. A localiza-
é a mais comum, podendo ser produtiva ção é habitualmente fronto-temporal ou
(alucinações visuais) ou deficitária (esco- para-ocular, mas todas as regiões da
tomas; raramente hemianópsias com- cabeça e mesmo a face podem ser atin-
pletas). Fotopsias são as mais simples gidas. A dor é aliviada pelo sono e re-
alucinações visuais (pequenas man- pouso e exacerbada pelo esforço físico
chas, estrelas, pontos, flashes e setas ou movimentos da cabeça. A intolerân-
luminosas ou figuras geométricas sim- cia à luz (fotofobia) ou ao ruído (fonofo-
ples a tremeluzir ou a brilhar). O esco- bia) são os sintomas acompanhantes
toma cintilante é considerado o mais mais frequentes da cefaleia, o que leva
distintivo sintoma visual da enxaqueca: estes doentes a recolher-se. Quase to-
uma banda ou um arco de visão am- dos os doentes têm náuseas e metade
putada com uma moldura em zig-zag vomitam durante as crises. Outros sin-
brilhante ou resplandecente. A altera- tomas podem aparecer: gastrointesti-
ção visual geralmente inicia-se no cen- nais (anorexia, diarreia, obstipação, dis-
tro e progride lateralmente. Por vezes, tensão abdominal), visão enevoada,
os objectos aparecem alterados em palidez facial, edema peri-orbitário, con-
tamanho ou forma. Os doentes tam- gestão nasal, extremidades frias e
bém podem apresentar auras somato- húmidas e poliúria. A síndrome de
sensoriais de adormecimento ou Horner (miose e ptose palpebral), du-
parestesias na face, mão e língua. Há rante a cefaleia, foi descrita em alguns
ainda outros tipos de aura, como hemi- casos; raramente, pode haver midríase
parésia, afasia e vertigens.16,17 do lado da cefaleia. Muitos doentes
Uma doença genética autossómica sofrem alterações psicológicas durante
dominante, a enxaqueca hemiplégica as crises, que podem ir de um estado
familiar, pode apresentar uma enorme depressivo à hostilidade. A concen-
pluralidade de auras, para além dos tração, a memória e o pensamento abs-
sintomas motores. Em Portugal estão tracto estão diminuídos nas crises.

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Resolução QUADRO I
A dor reduz-se lentamente em horas,
FACTORES PRECIPITANTES: ALGUNS EXEMPLOS
mas muitos episódios só são concluídos
pelo sono. Os vómitos, espontâneos ou - Fadiga
provocados, podem aliviar a dor. Pode - Excesso de trabalho
haver desejo de alimentos quentes. - Viagens
Pósdromos - Pós-stress (férias, sábados)
Nesta fase, o trabalho físico já é possí- - Estímulos luminosos
vel, mas o esforço intelectual ainda é - Discotecas
penoso. A fadiga, a letargia, a fraqueza, - Excesso / défice de sono
o descuido pessoal podem manter-se. - Jejum prolongado
A necessidade de conforto e afectividade - Alimentos
- Bebidas alcoólicas
é comum. Ao contrário, em alguns ca-
- Climas extremos
sos verifica-se euforia e sensação de re-
- Perfumes
juvenescimento. - Menstruação
- Sexo
- Desporto
CLASSIFICAÇÃO E CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO
(enxaqueca sem aura) ou duas crises
A classificação da International (enxaqueca com aura). Não há testes
Headache Society (IHS) foi recente- laboratoriais ou marcadores que con-
mente actualizada.21 Uma versão inte- firmem o diagnóstico.
gral em língua portuguesa está Na avaliação inicial de um doente com
disponível na versão electrónica da re- cefaleias, o médico deve procurar sinais
vista SINAPSE (www.spneurologia.org). de alerta que sugiram a possibilidade de
A classificação da IHS contém alguns uma cefaleia secundária.
consensos polémicos. No entanto, a O trabalho médico em cefaleias assen-
classificação, definição e critérios de di- ta na clínica e, particularmente, na
agnóstico são instrumentos funda- anamnese. O mais importante é o per-
mentais na investigação clínica e epi- fil temporal: instalação abrupta (em
demiológica. Perante um doente con- minutos), aguda (horas ou dias), sub-
creto, é necessário alguma flexibilidade aguda (semanas a alguns meses) ou
na interpretação e aplicação dos cri- crónica (contínua ou paroxística).
térios. São dados de alerta os três primeiros
tipos, bem como a cefaleia crónica que
apresenta novas características (mu-
FACTORES PRECIPITANTES dança de carácter, intensidade ou fre-
quência). Assim, devemos investigar a
As crises de enxaqueca podem ser pre- cefaleia inaugural ou a primeira signi-
cipitadas por factores intrínsecos e am- ficativa na vida, a cefaleia diária per-
bientais. Algumas pessoas são capazes sistente de aparecimento recente e a ce-
de identificar claramente os factores faleia progressiva. A cefaleia hemicra-
precipitantes e, uma vez reconhecidos, niana não alternante, particularmente
evitá-los (Quadro I). se acompanhada de sintomas neu-
rológicos contralaterais, também é um
sintoma de alerta, bem como o seu iní-
DIAGNÓSTICO cio após os 45 anos. A presença de
crises epilépticas, de outras queixas
O diagnóstico de enxaqueca é clínico, neurológicas como o atingimento de
obrigando à documentação de cinco funções superiores (a memória, lin-

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guagem, orientação, raciocínio) ou do Alguns doentes preferem, por razões


equílibrio, de febre, emagrecimento, al- várias, o tratamento não farmacológico
terações do estado geral, implica a na- precedendo ou substituindo o farma-
tureza secundária da cefaleia. cológico.
No exame objectivo é fundamental O tratamento não farmacológico con-
pesquisar sinais de doença sistémica e no siste na utilização de técnicas específi-
exame neurológico a presença de edema cas de relaxamento, técnicas de retro-
da papila, sinais focais ou meníngeos. controlo biológico (biofeedback), psi-
Na maioria dos casos, os exames com- coterapia, acupunctura e ainda as téc-
plementares de diagnóstico são nicas cognitivo-comportamentais26
desnecessários. (com ou sem relaxamento). As técnicas
Se há sintomas ou sinais clínicos de de relaxamento e o biofeedback con-
alerta, com suspeita de uma situação seguem uma melhoria em cerca de 50%
estrutural, o doente deve ser observa- dos casos, sobretudo quando associ-
do por um neurologista, que poderá adas, e a sua eficácia pode manter-se
recorrer a exames de neuroimagem (to- durante meses.26,27 A acupunctura
mografia axial computorizada ou como tratamento não farmacológico
ressonância magnética) ou outros.22 O tem sido referida como eficaz no trata-
electroencefalograma não é utilizado em mento da enxaqueca. Em 2001, uma
clínica de cefaleias. revisão da Cochrane concluiu que este
Pessoas com enxaqueca hemiplégica, método de tratamento era eficaz, mas
basilar, oftalmoplégica, retininana, aura trabalhos mais recentes contestam
sem cefaleia ou complicações de enxa- aquela conclusão.28
queca devem também ser encaminha- O tratamento farmacológico pode ser
das para um neurologista. sintomático e/ou profiláctico. O trata-
mento sintomático utiliza-se isolada-
mente, no caso em que as crises são
TRATAMENTO leves a moderadas, muito pouco fre-
quentes e quase nada incapacitantes.
O tratamento da enxaqueca tem por ob- Se as crises são moderadas a severas e
jectivo eliminar a dor e os sintomas as- têm grande impacto na qualidade de
sociados durante a crise, impedir a vida do doente utiliza-se a associação
ocorrência de novas crises ou diminuir dos tratamentos sintomático e profilác-
a sua frequência e melhorar a quali- tico. A escolha do tratamento depende
dade de vida dos doentes. Estes devem não só do tipo e intensidade da enxa-
compreender que o tratamento não queca mas também dos sintomas e
consegue eliminar as crises mas doenças associadas.
diminui a intensidade e frequência das Se as crises são leves a moderadas são
mesmas.23,24 tratadas com fármacos inespecíficos.
Antes de qualquer atitude terapêutica Os analgésicos habitualmente utiliza-
específica devemos iniciar o tratamen- dos são o paracetamol (500 a 1.000 mg),
to com medidas gerais que consistem o ácido acetilsalicílico (500 a 1.000 mg),
em modificar alguns comportamentos o acetilsalicilato de lisina (500 a 1.000
(Quadro II).25 mg) ou os anti-inflamatórios não es-
O doente deve ser instruído no sentido teróides, sendo os mais usados o ácido
de elaborar um diário ou um calendário mefenâmico (240 a 720 mg), o cetopro-
onde registará os dias em que teve ce- feno (100 a 200 mg), o diclofenac (50 a
faleia (ou cefaleias) e o primeiro dia da 100 mg), o ibuprofeno (400 a 800 mg),
menstruação, utilizando para isso dife- a indometacina (25 a 50 mg) e o napro-
rentes símbolos. xeno (250 a 500 mg).

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QUADRO II

COMPORTAMENTOS A MODIFICAR

PODE AJUDAR TALVEZ POSSA AJUDAR


- Sono regular - Abolir os produtos lácteos
- Exercício regular - Abolir os citrinos
- Refeições regulares - Abolir os anticonceptivos orais
- Abolir o chocolate, álcool e cafeína - Os fármacos vasodilatadores
- Abolir as comidas com tiramina - Evitar odores: perfumes, tabaco
- Abolir o glutamato monosódico - Elaborar um calendário das crises
- Limitar ingestão de medicamento - Registar a ingestão de medicação analgésica
- Controlar o “stress”

Quadro II – Comportamentos a modificar


(Adaptado de: Headache in Clinical Practice - Silbersteen, tros fármacos, não constituindo uma
Lipton, Goadsby) boa opção terapêutica.
Os triptanos surgiram na década de 90,
A escolha do fármaco depende da idade fruto dos conhecimentos do papel da
e da patologia acompanhante do doen- serotonina na fisiopatologia da enxa-
te. queca. São agonistas 5HT1B/D e cons-
Nas crianças com menos de 15 anos re- tituíram um grande avanço no trata-
comenda-se o uso do paracetamol, pelo mento da enxaqueca. O primeiro a ser
risco da associação do ácido acetilsali- comercializado foi o sumatriptano, sob
cílico e do acetilsalicilato de lisina com a forma de injecção subcutânea (6 mg).
a síndrome de Reye.24,29 Posteriormente, surgiu em comprimi-
Nas crises moderadas a graves os fár- dos na dose de 50 mg e sob a forma
macos usados são específicos para a nasal. Actualmente, existem no merca-
enxaqueca. A terapêutica de eleição até do para além do sumatriptano, o
à década de 90 eram os derivados da zolmitriptano, forma oral ou sublingual
cravagem do centeio. A ergotamina era na dose de 2,5 e 5 mg (dose máxima/dia
eficaz nas crises moderadas e severas. 10 mg), tendo recentemente ficado
Contudo, os efeitos secundários da ergo- disponível sob a forma nasal. Há ainda
tamina são vários, frequentes e poten- o almotriptano (comprimidos de 12,5
cialmente graves, como por exemplo o mg, dose máxima por dia 37,5 mg), o
ergotismo. Também os doentes que naratriptano (comprimidos de 2,5 mg)
usam ergotamina mais de uma vez por e o rizatriptano (na dose de 10 mg).
semana estão em risco de desenvolver Na enxaqueca com aura os triptanos só
uma cefaleia dependente da ergotami- devem ser administrados após a aura.30
na pelo que esta deve ser cuidadosa- As contra-indicações, quer da ergota-
mente prescrita. A dose recomendada mina quer dos triptanos, são a gravidez,
para a 1ª toma é de 1 a 2 mg e pode a hipertensão arterial e a doença vas-
repetir-se não ultrapassado os 4 mg por cular (coronária, cerebral ou periférica).
dia, 8 mg por semana e 12 mg por mês. Quando a dose média recomendada de
Estes fármacos não devem usar-se nas qualquer triptano não surte efeito tera-
24 horas antes ou após o uso de trip- pêutico, a administração de mais doses
tanos, pelo risco de provocarem vaso- durante a crise não é eficaz. As náu-
constrição acentuada e poderem origi- seas, os vómitos, a foto e a fonofobia são
nar quadros graves de isquemia. igualmente aliviados por estes fárma-
Actualmente, a ergotamina só existe cos.30,31
comercializada em associação com ou- Se as crises forem extraordinariamente

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severas, muito prolongadas e refrac- vo nas crianças.35 A flunarizina é eficaz


tárias à medicação poder-se-á recorrer em doses de 5 a 10 mg/dia,36 sendo a
ao internamento do doente e utilizar sua eficácia comprovada por vários es-
corticoterapia (prednisolona 40 a 60 tudos,29,36 contudo a sua administração
mg/dia durante 3 a 5 dias ou dexame- não deve ser recomendada nos doentes
tasona 8 a 16 mg/dia por via intra- com tremor e com tendência para a obe-
muscular ou endovenosa), soroterapia sidade. A eficácia do verapamil foi com-
e benzodiazepinas, se necessário. provada nas doses de 240 a 320
Para além do tratamento na fase agu- mg/dia.37
da, se a crise de enxaqueca ocorre mais Entre os antidepressivos, a amitriptili-
de duas vezes por mês, se é suficiente- na continua a ser o fármaco de primeira
mente severa e interfere com a quali- escolha, pela sua eficácia na prevenção
dade de vida do doente, torna-se neces- da enxaqueca, mesmo em doses baixas,
sário explicar-lhe a vantagem de tomar independentemente do seu efeito an-
um profiláctico. A duração do trata- tidepressivo, o que foi demonstrado por
mento é variável (3 a 6 meses), depen- vários estudos.29,32 As doses utilizadas
dendo da severidade, frequência e du- habitualmente situam-se entre 12,5 mg
ração das crises, bem como do tempo e 25 mg por dia.
de evolução da sintomatologia e do tipo Dos anticonvulsivantes, a eficácia do
de fármaco a utilizar. divalproato de sódio foi comprovada em
adultos na dose de 800 a 1500 mg por
Quando usar o tratamento dia.38 Mais recentemente, o topiramato
profiláctico? tem sido recomendado e tem sido com-
1. Quando ocorrem 2 ou mais crises por provada a sua acção com doses de 100
mês com incapacidade de 3 ou mais mg por dia.39
dias. Na profilaxia da enxaqueca menstrual,
2. Nos casos de contra-indicação ou ine- o uso de anti-inflamatórios não esterói-
ficácia da medicação sintomática. des, como o naproxeno e o ácido mefe-
3. Se o doente usa medicação aguda nâmico, foi também bem estudado. O
mais que duas vezes/semana. naproxeno inicia-se sete dias antes da
4. Em casos especiais, como enxaque- data esperada para o início do fluxo
ca hemiplégica ou crises raras que le- menstrual, na dose de 500 mg, duas
vam ao risco de alterações neurológicas vezes por dia.40,41 O ácido mefenâmico
permanentes. está igualmente comprovado na mesma
Dos fármacos profilácticos, os β-blo- situação e o seu uso é recomendado 7
queadores são os de primeira linha em dias antes da data esperada para a enxa-
doentes não asmáticos, sem diabetes queca, na dose de 1 cápsula (240 mg)
tipo 1, insuficiência cardíaca congesti- 3 vezes ao dia. Não é de aconselhar,
va ou isquemia periférica. A sua pres- contudo, o uso diário dos mesmos como
crição deve ser evitada nos casos de profilácticos noutros tipos de enxaque-
enxaqueca com aura prolongada ou ca pelas possíveis e graves reacções ad-
sintomas neurológicos focais de grande versas.42
intensidade.32 O propranolol é o mais As hormonas, nomeadamente os es-
usado, sendo que mesmo em doses tão trogéneos, também podem ser utili-
baixas como 1 mg / kg de peso demons- zadas como profilácticos no caso da
trou ser eficaz, diminuindo em 50% a enxaqueca menstrual, na forma de
frequência e a gravidade das crises.32-34 gel32,43 ou sistemas transdérmicos con-
Sobre os antagonistas do cálcio, existem tendo estradiol (geralmente 2 a 4, liber-
actualmente estudos comprovativos da tando 100µg de estradiol/dia). Se as
eficácia da nimodipina como preventi- crises forem extraordinariamente

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DOSSIER
CEFALEIAS

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