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EaD Formação Desenvolvimento Sociedade Brasileira
EaD Formação Desenvolvimento Sociedade Brasileira
formação e
desenvolvimento da
sociedade brasileira
Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
CONHECENDO OS PROFESSORES..................................................................................................................................................... 5
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................................................... 9
3.4.1 – Educação........................................................................................................................................................................52
3.4.2 – Desigualdade................................................................................................................................................................54
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Seção 4.3 – Formação e Desenvolvimento do Setor Terciário..............................................................................................81
Seção 4.4 – A Crise do Modelo e os Esforços pela Estabilização Econômica...................................................................82
4.4.1 – Desafios e Dilemas do Século 21...........................................................................................................................84
Seção 4.5 – Globalização, Desafios e Perspectivas para o Século 21..................................................................................92
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................................................... 127
Conhecendo os Professores
Vera L. Trennepohl
Iniciou em 1987 o curso de Estudos Sociais (Licenciatura Curta) na Unijuí.
No decorrer do curso transferiu residência para o Nordeste, concluindo esta
etapa de formação profissional na Universidade Estadual da Paraíba – Campina
Grande – em 1990. Nesse mesmo ano ingressou no curso de História (Licencia-
tura Plena) na UEPB, concluindo o curso de História na Unijuí, em 1993. Em 1995
iniciou o Mestrado em Educação nas Ciências, na Unijuí, concluindo em 1997
com a dissertação intitulada “O Ensino de História em Questão: os caminhos de
uma experiência”, publicada na Coleção Trabalhos Acadêmico-Científicos, Série
Dissertações de Mestrado. Como professora da Unijuí iniciou suas atividades em
1994, atuando em diversos cursos de Graduação da Universidade, especialmente
nas disciplinas: Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira; História
do Brasil; História Contemporânea, Civilizações Clássicas, dentre outras. Na dis-
ciplina Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira tem assumindo
mais turmas, produzindo com os demais colegas este texto, como também o
livro Agricultura Brasileira: Formação, Desenvolvimento e Perspectiva, produzido
em conjunto com o professor Argemiro J. Brum.
Dilson Trennepohl
Possui formação de Técnico em Agropecuária pelo Instituto Municipal
de Educação Assis Brasil – Imeab de Ijuí (1978), de tecnólogo em Administração
Rural pela Unijuí (1981), de bacharel em Administração pela Unijuí (1987), de
mestre em Economia, pela Universidade Federal da Paraíba, em Campina Grande
(1991) e doutor em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz
do Sul – Unisc (2010). É professor efetivo 40 horas do Departamento de Ciências
Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação da Unijuí – Universi-
dade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – desde 1983. Tem
experiência docente nas áreas de Desenvolvimento, Economia e Administração
nos cursos de Graduação e Pós-Graduação e experiência em Gestão Universitária.
Atuou como Pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão (dois mandatos) e
como vice-reitor de Administração da Unijuí e Diretor Executivo da Fidene (dois
mandatos). Atualmente atua como docente-pesquisador nas áreas de Economia,
Administração, desenvolvimento, finanças, mercado de capitais, agronegócios
e planejamento. Integra o grupo de docentes responsável pelo componente
curricular Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira.
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Vera Lúcia Trennepohl (Organizadora)
Romualdo Kohler
Graduação em Administração de Empresas pela Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (1982), em Ciências Jurídicas e Sociais
pela Universidade de Cruz Alta (1983), em Ciências Econômicas pela Universidade
de Cruz Alta (1992), Especialização em Teoria Econômica e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Cruz Alta (1991), Mestrado em Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (2002) e Doutorado em Adminis-
tração pela Universidad Nacional de Misiones, Posadas, Argentina (2009). Desde
1998 atua como professor na Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul. Tem experiência nas áreas de Economia e Administração, com
ênfase em Economia Regional e Urbana, Gestão da Economia Local e Consultoria
Empresarial, investigando principalmente os seguintes temas: planejamento
local/regional, contabilidade social, gestão da economia local e consultoria
econômica empresarial.
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Apresentação
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Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
Atenciosamente,
Grupo de professores da disciplina Formação
e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
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Unidade 1
Vera L. Trennepohl
Seção 1.1
Brasil: Que País é Este?
Trata-se de um país grande e muito diversificado. A começar pela
extensão de seu território, a diversidade de suas características naturais, a
pluralidade de povos que integram a sua população e a heterogeneidade das
circunstâncias que condicionaram sua inserção na sociedade brasileira é pos-
sível perceber a amplitude do rol de situações sociais, econômicas e culturais
abrangidas. Considerando o tamanho absoluto, o Brasil figura entre os maiores
países do mundo em diversos critérios de análise. A extensão territorial coloca
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Seção 1.2
A Complexidade da Sociedade Brasileira
Estes e outros aspectos caracterizam a complexidade da sociedade bra-
sileira e a importância de estudá-la em profundidade, o que requer grande
e continuado esforço para sua efetivação. É preciso compreender o processo de
formação e desenvolvimento das estruturas de produção da vida material, bem
como das relações sociais, políticas e culturais decorrentes.
Assim, torna-se possível identificar possibilidades e limites em relação às
perspectivas de futuro que se apresentam e visualizar alternativas de ação ou
de intervenção no processo em curso. Também é importante visualizar entre os
segmentos que compõem a sociedade as bases em que definem seus interes-
ses ou objetivos e as possibilidades de articulação de forças para impulsionar o
desenvolvimento em determinado sentido.
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[...] exame retrospectivo, o ontem sempre poderia ter sido melhor. Mas o
passado não se muda; só o futuro se constrói. O primeiro pode ser reinterpre-
tado à luz do presente e do projeto e desafios para o amanhã. A pluralidade
desse contributo é fermento e riqueza – e pode ser ainda mais. A atitude mais
adequada não é lamentar ou renegar o passado; conhecê-lo melhor, sim.
Principalmente para assumir com mais consciência e determinação o que
somos e construir o que podemos, devemos e desejamos ser.
Para avançar ainda mais no nosso entendimento sobre o Brasil vamos nas
unidades seguintes retomar alguns aspectos da trajetória histórica do país, que
contribuíram com a definição da realidade brasileira. Para pensar o Projeto de
Desenvolvimento para o Brasil precisamos conhecer a realidade atual do país,
como o seu processo histórico, considerando o que disso ainda é válido hoje. Ou
mesmo, para não propormos o velho achando que é o novo.
Síntese da Unidade 1
Nesta Unidade introdutória estudamos a te-
mática geral da disciplina com o objetivo de
problematizar as questões relevantes sobre a
Formação e o Desenvolvimento da Sociedade
Brasileira. A realidade precisa ser apreendida em
sua complexidade, considerando sua dinâmica
histórica, suas contradições e a pluralidade de
perspectivas. Apesar das dificuldades, o esforço
de estudo e compreensão do contexto social,
econômico, político e cultural em que estão inse-
ridos os estudantes brasileiros é compensador na
perspectiva de formar profissionais qualificados
e responsáveis.
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Unidade 2
Dilson Trennepohl
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Seção 2.1
O Processo de Conquista
e Delimitação do Território Brasileiro
A conformação territorial do Brasil é resultado de longo e complexo pro-
cesso de conquista, demarcação e ocupação realizado ao longo de cinco séculos
de História. Refletir sobre essa trajetória é importante para recuperar elementos
que possibilitem entender os caminhos trilhados, as possibilidades que persistem
no presente e as alternativas disponíveis para o futuro.
Celso Furtado em sua obra clássica, Formação Econômica do Brasil, analisa o
processo de ocupação das terras americanas no contexto da expansão comercial
europeia da época. Inicialmente considerada de menor importância, a descoberta
deste vasto continente tornou-se relevante com o transcorrer do tempo.
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Parte substancial dos capitais requeridos pela empresa açucareira viera dos
Países Baixos. Existem indícios abundantes de que os capitalistas holandeses
não se limitaram a financiar a refinação e comercialização do produto. Tudo
indica que capitais flamengos participaram no financiamento das instalações
produtivas no Brasil bem como no da importação da mão-de-obra escrava
(Furtado, 1987, p. 11).
Sem embargo, também neste caso uma circunstância veio facilitar enorme-
mente a solução do problema. Por essa época os portugueses eram já senhores
de um completo conhecimento do mercado africano de escravos. As operações
de guerra para captura de negros pagãos, iniciadas quase um século antes nos
tempos de Dom Henrique, haviam evoluído num bem organizado e lucrativo
escambo que abastecia certas regiões da Europa de mão-de-obra escrava.
Mediante recursos suficientes, seria possível ampliar esse negócio e organizar
a transferência para a nova colônia agrícola da mão-de-obra barata, sem a qual
ela seria economicamente inviável (Furtado, 1987, p. 11-12).
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Seção 2.2
As Características Naturais do Território Brasileiro
Localizado no continente americano, o território brasileiro ocupa a
parte centro-oriental da América do Sul. Com uma área de 8.514.876,599 Km2,
configura-se como o maior país do continente sul-americano e o quinto maior
do mundo, superado somente por Rússia, Canadá, China e Estados Unidos.
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O território brasileiro possui uma forma triangular, com sua base voltada
para o norte e os pontos extremos, praticamente equidistantes, medem 4.394,7
km no sentido Norte-Sul e 4.319,4 km no sentido Leste-Oeste. Cerca de 90% de
sua área territorial está situada na faixa entre as linhas do Equador e do trópico
de Capricórnio, nas latitudes mais baixas do globo, o que lhe confere as carac-
terísticas de país tropical.
Seus limites de fronteira totalizam 23.086 Km, dos quais 15.719 Km cor-
respondem à linha divisória em relação a dez países da América do Sul, pois
apenas o Chile e o Equador não fazem fronteira com o Brasil. O outros 7.367 Km
de extensão correspondem à costa brasileira banhada pelo Oceano Atlântico
numa linha costeira sem acidentes geográficos de expressão.
Em seu interior o território brasileiro apresenta grande diversidade de
situações que podem ser visualizadas nos distintos biomas ou conjuntos de
ecossistemas que funcionam de forma estável. Um bioma é caracterizado por
um tipo principal de vegetação, apesar de existirem diversos tipos de vegetação
num mesmo bioma.
Os seres vivos de cada bioma interagem com as condições existentes na
natureza, como temperatura, umidade, frequência e regularidade das chuvas,
ventos, etc., adaptando-se e evoluindo com o meio. Os biomas brasileiros pos-
suem grande diversidade de animais e vegetais (biodiversidade) e podem ser
caracterizados como sendo Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa
e Pantanal.
Figura 2 – Mapa com os principais biomas do Brasil
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Mata Atlântica de Planalto. Em adição, nos Estados do sul do país (Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul) parte da Mata Atlântica assume a feição de Mata
de Araucária. Charles Darwin escreveu após sua visita a esse bioma: “Aqui vi pela
primeira vez uma floresta tropical em toda sua sublime grandiosidade – nada além
da realidade pode dar idéia de quão maravilhosa e magnificente é essa cena.” O
processo histórico de ocupação do território brasileiro fez com que grande parte
das atividades humanas se desenvolvessem neste espaço. Setenta por cento da
população brasileira concentram-se em cidades situadas numa faixa de até 200
km da costa, especialmente as capitais dos Estados, e disputam espaço com os
demais elementos desse bioma. O processo de intensa ocupação, que remonta
aos principais ciclos econômicos, desafia as políticas públicas a gerar soluções
de planejamento urbano e instituição de infraestruturas de transporte para mo-
bilidade das pessoas e abastecimento das grandes metrópoles, de saneamento
básico e destinação de resíduos gerados, bem como de ordenamentos relativos
à ocupação de terrenos menos propícios às edificações ou necessários à preser-
vação permanente de parcelas da Mata Atlântica (Disponível em: <http://www.
biomasdobrasil.com/>. Acesso em: jan. 2014).
O Bioma Cerrado, também conhecido como a savana brasileira, varia
quanto a sua fisionomia em relação à cobertura arbórea, indo desde os campos
limpos, nos quais só ocorrem gramíneas nativas, até o cerradão, formação predo-
minantemente arbórea e densa. O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro,
distribuindo-se por todo o Brasil central, com uma área original de 2 milhões
de quilômetros quadrados, aproximadamente 20% do território do país. No
Cerrado vive um grande número de espécies que só ocorrem ali, as chamadas
espécies endêmicas. Os Cerrados ocupam áreas elevadas do Planalto Central
Brasileiro, sobre solo ácido e rico em alumínio, considerado de pouca utilidade
econômica até meados do século 20. Durante seis meses o Cerrado torna-se
verdejante devido às frequentes chuvas que vão de outubro a abril, e nos meses
restantes torna-se pronunciadamente seco, suscetível a queimadas. O Cerrado
possui alta densidade de nascentes que alimentam ao norte a Bacia Amazônica,
ao sul a Bacia Platina e a leste a Bacia do São Francisco. É preciso sensibilidade
para se deixar encantar por essa paisagem brasileira tão diferente de biomas
celebrados como a Amazônia ou Mata Atlântica, mas não menos importante.
Devido a sua formação aberta, sua topografia propícia à mecanização, o Cerrado
foi vorazmente incorporado ao processo de expansão do agronegócio brasileiro,
tornando-se um grande fornecedor de soja, milho, algodão, cana, carne e leite
para o mercado mundial. Conciliar o uso econômico com a conservação é um
desafio notoriamente exposto no Cerrado. Essa ávida ocupação pela agricultura
modernizada, altamente consumidora de fertilizantes e agrotóxicos, além das
frequentes queimadas propositais e da existência de poucas áreas protegidas em
reservas, fez com que grande parte da vegetação nativa fosse perdida, levando
o Cerrado à lista de hotspots, uma das 25 regiões prioritárias para a conserva-
ção em todo o mundo. O sucesso econômico do agronegócio nesta fronteira
agrícola estimulou a migração de enormes contingentes populacionais para a
região e proporcionou o surgimento de inúmeros núcleos urbanos e a expansão
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dunas, lagoas costeiras, estuários, manguezais e ilhas que compõem esses es-
paços. Comportam uma riquíssima biodiversidade que, por sua vez, influencia
diretamente as atividades humanas, seja pela alimentação, potencial pesqueiro
ou turismo, mas também com fortes repercussões na cultura e estilo de vida das
populações humanas. Sobre as praias arenosas existe o jundu, uma vegetação
de plantas rasteiras que sobrevive à alta salinidade vinda do mar. Na transição
entre as praias e a Mata Atlântica situa-se a restinga e nos estuários dos rios o
solo lamacento e inundado frequentemente sustenta os manguezais. Entrando
no mar, ocorre uma explosão de vida dos recifes de coral, apenas comparável
às grandes florestas tropicais. Cerca de 130 milhões de brasileiros que vivem na
faixa litorânea, de forma permanente ou temporária, contribuem pressionando
esses ecossistemas. A pesca descontrolada, com seus efeitos deletérios, também
têm contribuído para a perda de biodiversidade no litoral brasileiro. A exploração
excessiva dos recursos naturais ou a degradação ambiental na costa do Brasil têm
mobilizado a sociedade para a preservação de espécies e ecossistemas costeiros,
notadamente com a criação de programas de proteção e unidades de conserva-
ção. Sensíveis às belezas naturais dos ambientes costeiros, a população brasileira
procura desfrutar do bem-estar proporcionado por um fim de tarde à beira-mar,
uma emblemática manutenção de nosso vínculo primário com o mundo natural
(Disponível em: <http://www.biomasdobrasil.com/>. Acesso em: jan. 2014).
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Seção 2.3
A Ocupação do Território
e as Desigualdades Sociais e Regionais
O processo de ocupação do território brasileiro, condicionado pelas carac-
terísticas naturais dos diferentes espaços, efetivado em circunstâncias históricas
específicas, consolidou uma gama de desigualdades sociais e regionais muito
importantes. O caráter militar de conquista de parcela significativa do território
e as relações sociais de produção que fundamentam as atividades econômicas
estruturantes condicionaram as regras de acesso à posse e à propriedade da
terra no país e resultaram na conformação de uma estrutura fundiária altamente
concentradora e injusta socialmente. As características naturais e a aptidão eco-
nômica potencial de cada bioma foram decisivas para os movimentos migratórios
e as dinâmicas de desenvolvimento regional heterogêneas no país.
A distribuição de terras no território brasileiro iniciou-se em 1534, me-
diante o sistema de capitanias hereditárias, abrangendo a faixa litorânea desde
Pernambuco até o Rio da Prata. O donatário recebia certa extensão de terras, de-
marcadas por acidentes geográficos distantes em léguas ao longo do litoral, que
se estendiam paralelamente rumo ao oeste para o interior, comprometendo-se
a explorá-la e protegê-la. As áreas de terra recebidas eram de grande extensão e
podiam ser repartidas com colonos que se dispusessem a trabalhar em parceria.
Para regular a relação entre ambos foram elaborados a carta de doação e o foral,
documento que estipulava os direitos e deveres dos colonos.
As capitanias, além de serem hereditárias, eram também inalienáveis e
indivisíveis. Com a morte do pai, substituía-o o filho primogênito, do sexo mas-
culino. O sistema de capitanias hereditárias fracassou, o que levou a Coroa a criar
o Governo Geral, em 1548, ficando os donatários subordinados juridicamente
aos governadores gerais. Iniciava-se, assim, a prática de uma lenta política de
reincorporação das capitanias ao patrimônio régio, concluída em 1759. Foi um
processo de centralização do poder na Coroa Portuguesa.
A Lei da Sesmaria foi criada por Portugal em 1375, com o objetivo de
incentivar a produção em todas as terras agricultáveis do reino e o propósito de
diminuir as importações, principalmente de trigo. No Brasil essa Lei foi instituída
durante a criação das capitanias e continuou durante o Governo Geral. No início
da ocupação as terras eram tomadas por mata e nunca haviam sido cultivadas; em
razão disso o beneficiário tinha um prazo (até 5 anos) para fazer a terra produzir
ou perderia a concessão. A concessão de terras era feita pela Coroa àquele que
julgava merecedor, que demonstrasse ter interesse e capital para explorá-las.
No Brasil havia abundância de terras e escassez de gente. Portugal, por sua
vez, também não possuía excedentes populacionais. As pessoas, quando vinham
para o Novo Mundo, queriam enriquecer e voltar. Assim, só viriam se recebessem
uma grande extensão de terra. Uma sesmaria de uma légua quadrada equivalia a
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Sul
Sul
Brasil
Brasil
Brasil
Norte
Norte
Norte
Sudeste
Sudeste
Sudeste
Nordeste
Nordeste
Nordeste
Centro-Oeste
Centro-Oeste
Centro-Oeste
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Seção 2. 4
Os Desafios ao Desenvolvimento
O território brasileiro, por suas especificidades, representa um conjunto
de desafios que condicionam o processo de desenvolvimento da sociedade.
A sua extensão de 8,5 milhões de Km2 mostra inúmeras possibilidades de uso
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Síntese da Unidade 2
Nesta Unidade estudamos o processo de
constituição do território brasileiro e suas prin-
cipais características. A dinâmica de conquista
do território pelos portugueses, as estratégias
de ocupação dos espaços e o processo de
apropriação privada da terra determinaram
muitas das condições e das potencialidades
para o desenvolvimento atual e futuro da so-
ciedade brasileira.
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Unidade 3
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Seção 3.1
A Contribuição dos Diversos Grupos Étnicos1
Os indígenas brasileiros pertencem aos grupos chamados paleoamerín-
dios. Estavam no estágio cultural neolítico (pedra polida). Agrupam-se em quatro
troncos linguísticos principais: o tupi ou tupi-guarani (Litoral), macro-jê ou tapuia
(Planalto Central), o caraíba ou karib e o aruaque ou nu-aruaque (Amazônia). Os
portugueses, nos primeiros tempos, em sua grande maioria, eram homens que
vinham sozinhos em busca de aventura e riqueza, razão por que tomavam várias
moças índias como esposas.
O legado indígena começou com a inspiração para a construção das
primeiras casas portuguesas, seguindo com a rede para dormir, o banho de rio,
o uso da mandioca na alimentação, cestos de fibras vegetais e um numeroso vo-
cabulário nativo, principalmente tupi, associado às coisas da terra: na toponímia
(nome dos lugares), nos vegetais e na fauna.
No início da colonização ocorreram dois tipos de sujeição dos índios: a
escravidão e a catequese. Para Brum (2011, p. 136), “aos colonos portugueses
interessava a escravidão pura e simples, enquanto as ordens religiosas buscavam
catequizá-los. A catequese consistia no esforço de transformar os índios em “bons
cristãos”, isto é, levá-los a seus rituais, valores, usos e costumes e incorporar os que
lhes eram impostos, embora geralmente sem entendê-los”. A escravidão indígena
marcou o século 16, sendo depois substituída pela escravidão africana.
Atualmente, conforme a Fundação Nacional do Índio (Funai), há 672 terras
indígenas no país e estas são as principais etnias e respectiva população: Ticuna
(35.000), Guarani (30.000), Caingangue (25.000), Macuxi (20.000), Terena (16.000),
Guajajara (14.000), Xavante (12.000), Ianomâmi (12.000), Pataxó (9.700), Potiguara
(7.700) (Brum, 2011, p.141). De acordo com dados do Censo 2010 (IBGE), o Brasil
possuía, em 2010, 896.917 indígenas.
1
Para aprofundar essa temática ler Brum, 2011, p. 132-142.
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[...] o branco era visto como um ser superior, e era considerado honroso, tanto
para a mulher índia como pela própria tribo, acasalar-se e ter filhos com eles.
Por outro lado, era uso entre os nativos que o estranho que recebesse uma
moça índia como esposa estabelecesse laços de parentesco com todos os
membros do grupo. Podia, então, usar o trabalho dos parentes e as mulheres
para gozo sexual (Brum, 2011, p. 133).
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Carvalho (2005, p. 50) recorre a José Bonifácio para ressaltar que a escra-
vidão foi “obstáculo à formação de uma verdadeira nação, pois mantinha parcela
da população subjugada a outra parcela, como inimigos entre si”. Para além de
se tornarem mão de obra escrava, no olhar dos comerciantes portugueses, eram
um bem a ser comercializado. De outro lado, os portugueses necessitavam de
mão de obra para executar o seu projeto de desenvolvimento.
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Seção 3.2
Relações Étnico-Raciais
Diversos estudos, entre eles os realizados pelo professor Argemiro Jacob
Brum, mostram que hoje é bem reduzida a parcela de habitantes do país com
traços exclusivos de uma única origem étnica. Percebe-se que aproximadamente
80% da atual população brasileira resultam de algum grau de mestiçagem, já
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com participação de elementos de origem europeia, índice que passa para cerca
de 90% do total da população brasileira. Essas pessoas receberam tratamento
diferenciado e encontram-se em situações diversas, tornando-se necessária a
construção de ações afirmativas ou políticas públicas, que visam a garantir a sua
inserção na sociedade brasileira.
Em diversos municípios do país vamos encontrar pessoas com origens
étnicas bastante diferenciadas, hoje miscigenadas. A integração é um ingre-
diente fundamental para a constituição da identidade nacional, da brasilidade
e acredita-se que “os preconceitos ainda existentes, abertos ou velados, tendem
a ser denunciados e superados. Cada vez mais pessoas agem nessa direção. Essa
integração é um componente fundamental da identidade nacional, da brasilida-
de, a ser cada vez mais testemunhado pelos brasileiros” (Brum, 2006, p. 14).
Diante dessa realidade brasileira, várias ações afirmativas, de diversas
naturezas, foram construídas com o propósito de combater as desigualdades
raciais, melhorando dessa forma a vida de uma parcela dos brasileiros que ao
longo do processo histórico não tiveram as mesmas oportunidades, ou, mesmo,
foram excluídos.
A primeira medida que propunha a igualdade humana, dos direitos
fundamentais de todos e de cada ser humano, foi a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, votada pela Assembleia Geral da ONU em 1948. Essas preo-
cupações também se colocaram em décadas seguintes quando a Unesco/ONU
patrocinou algumas conferências mundiais, por exemplo, em 1978, 1983, 2001
e 2009, com o objetivo de estabelecer propósitos, resoluções e propostas que
visavam à eliminação do “racismo, discriminação racial, xenofobia e formas cor-
relatas de intolerância”. Por exemplo, na África do Sul, na cidade de Durban, em
2001, ocorreu a Terceira Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação,
Xenofobia e Intolerância Correlatas.
Essa Conferência contribuiu para que o governo brasileiro criasse a Se-
cretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir2), que tem como
objetivo elaborar políticas para a promoção da igualdade racial. No Brasil, um
passo importante nessa perspectiva foi dado com a Constituição Federal de 1988,
no caput do artigo 5º, que estabelece que todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, consagrando o Princípio da Igualdade.
As conferências ocorridas mundialmente desencadearam debates
regionais (continentais) e nacionais, que contribuíram para a criação da Lei
10.639/2003.3 Assim sendo, as deliberações da Conferência Mundial de Durban
(África do Sul) realizada de 31 de agosto a 7 de setembro de 2001, refletiram-se
no Brasil. Essa Lei não tinha contemplado a questão indígena, corrigida com a Lei
2
Mais informações sobre a política governamental em: <http://www.seppir.gov.br/publicacoes/pnpir.
pdf>. Acesso em: 5 dez. 2013.
3
Mais informações sobre essa Lei podem ser buscadas em: <http://portal.mec.gov.br/index.
php?option=com_content&view=article&id=13788:diversidade-etnico-racial&catid=194:secad-educacao-
continuada&Itemid=913>. Acesso em: 5 dez. 2013.
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Seção 3.3
Características Sociais
A sociedade brasileira é constituída por diversos grupos sociais, com certos
objetivos e interesses comuns. Ao longo dos tempos isso foi mudando. Nesse
sentido a população tem determinadas demandas que precisam ser atendidas
– alimentação, vestimentas, moradia e de ter acesso à escola, à saúde, ou seja,
aos bens que garantam a sua qualidade de vida. Qual é o número da população
brasileira? Qual é o seu perfil?
O Censo de 2010 indicou 190.732.694 pessoas para a população brasileira.
Em número populacional somos o quinto maior país do mundo (China 1,3 bilhão;
Índia 1,1 bilhão; EUA 300 milhões; Indonésia 230 milhões). Certamente muitos
exportadores, empresários ou investidores olham o Brasil como um potencial
em mercado consumidor.
A população continua crescendo? A população está crescendo, mas a taxa
de crescimento anual está em declínio. Isso significa dizer que ela cresce, mas
não mais na mesma velocidade que ocorreu durante o século 20. Entre 1970 e
1980 a taxa de crescimento ficou em 2,4% ao ano; já depois de 1991 e no início
do século 21 baixou para algo em torno de 1,5% ao ano. Esse declínio também é
percebido em outros países do mundo. Quantos filhos a sua avó teve? Quantos
filhos a sua mãe teve? E você, quantos pretender ter? O que acha das políticas
de incentivo à natalidade?
50
EaD
Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
Seção 3.4
Indicadores Sociais: Educação, Desigualdade e Saúde
O desenvolvimento do Brasil passa por enfrentar com ousadia os três
problemas sociais básicos: educação, desigualdade de renda e saúde. Mesmo
o país tendo avançado no seu processo de estabilização econômica, ainda há
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Vera Lúcia Trennepohl (Organizadora)
sérios problemas sociais, muitos deles históricos, que deverão ser enfrentados
mediante um compromisso, do Estado, instituições e pessoas – no individual e
no coletivo. A seguir vamos analisar esses três problemas.
3.4.1 – Educação
No Brasil, com a passagem de um sistema de ensino de elite para uma
maior inclusão das pessoas, os sistemas educacionais estão tendo problemas para
garantir o acesso, a qualidade e a permanência do aluno na escola, o que tem
contribuído para a evasão, repetência e um ensino de baixa qualidade. Também
as mudanças na sociedade ampliaram o papel da escola num contexto sempre
mutante, em que o cidadão precisa estar capacitado para atuar numa realidade
cada vez mais complexa, desafiando os professores.
A educação é um dos problemas históricos não resolvidos, ou seja, não
foi vista como prioritária nas políticas governamentais brasileiras. As taxas de
analfabetismo no Brasil ainda são bastante elevadas, porém esse índice vem
melhorando, pois aumentaram as possibilidades de acesso aos bancos escolares
em todos os níveis de ensino. Ainda assim esse processo está ocorrendo de forma
lenta. Ressaltamos que o percentual de analfabetos é maior entre as faixas etárias
mais elevadas. Segundo o Pnad, em 2012 o índice entre pessoas com mais de
40 anos ficava em 34,2%.
Em pleno século 21 estamos travando uma luta contra o analfabetismo.
No século passado era considerado alfabetizado quem sabia escrever o próprio
nome. Hoje a exigência é maior, pois é necessário saber ler e expressar as ideias
com um mínimo de coerência. Além disso, tomaram forma outros tipos de
analfabetos, como: o analfabeto digital ou tecnológico, o analfabeto político,
entre outros.
A primeira constatação que podemos fazer é de que a taxa de analfabetis-
mo vem caindo. Em relação ao índice geral, no início do século 20 quase 80% da
população era analfabeta. Para uma melhor compreensão sobre essa realidade
torna-as necessário considerar as diversas faixas etárias. Ao analisar o analfabe-
tismo entre crianças de 7 e 14 anos percebe-se uma diminuição significativa nas
últimas décadas, pois dos 14% registrados no final da década de 80, recuamos
para um índice próximo a 2%, que pode variar dependendo da região.
O desafio da sociedade e do poder público é garantir que as crianças e
jovens concluam pelo menos os Ensino Fundamental e Médio. E ainda devemos
melhorar a qualidade do ensino, pois não é uma questão de quantidade, mas de
qualidade, diminuindo a repetência e a evasão escolar. Os programas sociais (bol-
sa escola, bolsa família e outros) podem contribuir para mudar essa realidade.
Ao analisarmos o analfabetismo entre brasileiros acima de 15 anos per-
cebemos que caiu de 13,6% em 2000 para 9,6% em 2010. Ressaltamos que dos
13.933.173 pessoas que não sabem ler e escrever, 39,2% são idosos, chegando
em alguns municípios a girar em torno de 60%. As diversas políticas destinadas
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Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
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Vera Lúcia Trennepohl (Organizadora)
_________________________________________________________________
País Empresas Universidades Outros
_________________________________________________________________
Estados Unidos 80 13 7
Coreia do Sul 77 16 7
Alemanha 61 24 15
Rússia 51 15 34
Espanha 32 50 18
Brasil 27 66 7
Argentina 12 45 43
_________________________________________________________________
Fonte: Universidade de Brasília (Brum, 2011, p. 494).
3.4.2 – Desigualdade
Conforme a colocação de Betinho (Souza, 2002), “A fome é exclusão. Da
terra, do emprego, do salário, da educação, da economia, da vida e da cidadania.
Quando uma pessoa chega a não ter o que comer é porque tudo o mais já lhe
foi negado”. Essas questões contrastam num país – Brasil – que tem abundância
54
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Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
4
Mais informações em <http://www.brasil.gov.br/governo/2012/04/censo-do-ibge-comprova-que-brasil-
reduziu-desigualdade-social-afirma-ministra>. Acesso em: 14 dez. 2013.
55
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Vera Lúcia Trennepohl (Organizadora)
Fonte: <G1.com.br>.
5
<http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=3265:sao-divulgados-
os-indices-de-desenvolvimento-humano-dos-municipios-idhm-do-brasil-&catid=1246:bra-3-c-
noticias&Itemid=770>. Acesso em: 14 dez. 2013.
56
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Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
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Vera Lúcia Trennepohl (Organizadora)
Art. 18. O produto da arrecadação da contribuição de que trata esta Lei será
destinado integralmente ao Fundo Nacional de Saúde, para financiamento
das ações e serviços de saúde, sendo que sua entrega obedecerá aos prazos
e condições estabelecidos para as transferências de que trata o art. 159 da
Constituição Federal (Lei nº 9311, de 24 de outubro de 1996).
Com a CPMF o governo busca recursos para melhorar a saúde do país. Ela
passou a vigorar a partir de 1997 com uma alíquota de 0,2% sobre as operações
financeiras. Em julho de 1999 foi prorrogada até 2002 com uma alíquota de 0,38%,
6
Mais informações em <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm?id_area=1395>. Acesso
em: 14 dez. 2013.
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Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
quando parte do recurso também era usada para financiar a Previdência. Em 2007
o governo Lula não conseguiu prorrogar a cobrança. Nos últimos anos ocorreram
debates e encaminhamentos que visavam a implantar a Contribuição Social para
a Saúde (CSS), em que as movimentações financeiras seriam tributadas em 0,2%
sobre todas as transações financeiras acima de R$ 4 mil e o recurso seria todo
destinado para a saúde. Essas questões foram debatidas em 2013, e tudo indica
que serão retomadas em 2014.
Nesses mais de 20 anos o SUS7 desempenhou/desempenha um papel
relevante para a população brasileira, porém vários problemas precisam ser
enfrentados. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) juntamente
com o Ministério da Saúde produziram o livro SUS 20 anos, no qual várias temáti-
cas são analisadas, identificando problemas e perspectivas de futuro. Apontam
como o maior problema a questão da desorganização, também reforçado pelo
Banco Mundial. E, ainda, destacam que 65% são pequenas unidades, com menos
de 50 leitos, quando deveriam ser acima de cem leitos.
No momento várias ações estão sendo desenvolvidas que de certa forma
mantêm sob controle alguns problemas de saúde que estão se recolocando. O
que significa a dengue? E a luta contra a tuberculose? Como combater a questão
do fumo? O que fazer para conter o avanço das drogas? Quantas questões estão
se tornando problemas de saúde pública? Para amenizar esta realidade foram
encaminhados alguns programas de atenção à saúde, como:
– Saúde da família – 1994 – caráter preventivo.
– Samu8 – 2003 – atendimento pré-hospitalar móvel.
– Upas – 2009 – Unidades de Pronto-Atendimento 24 horas
– Farmácia popular9 – 2004 – distribuição de medicamentos.
– Saúde do Homem – 2009 – Política Nacional de Saúde do Homem.
– Saúde da Mulher – 2003 – Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da
Mulher.
Alguns passos importantes foram dados nestes últimos anos, mas torna-
se necessário encontrar alternativas para a consolidação desses programas,
incorporando-os numa política de longo prazo. A humanização da saúde deve
contribuir com o povo brasileiro. Para tanto é necessário envolver as várias
facções – sociedade e os diversos profissionais que atuam na área. Em relação
ao trabalhador comenta o coordenador nacional da Política de Humanização
da Saúde do Ministério de Saúde, Dario Frederico Pasche: “Não é humano jor-
dez. 2013.
Mais informações em <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1095>. Acesso em: 14
9
dez. 2013.
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Síntese da Unidade 3
Nesta Unidade estudamos a formação do povo
brasileiro, a partir de diferentes contribuições
étnico-raciais, tratadas de forma diferenciada,
durante o processo de constituição da socieda-
de brasileira. Também analisamos algumas das
características dessa população em sua evolução
histórica.
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Unidade 4
ESTRUTURA ECONÔMICA
E O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO
Romualdo Kohler
Vera L. Trennepohl
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Vera Lúcia Trennepohl (Organizadora)
Seção 4.1
A Formação e Desenvolvimento
da Agropecuária Brasileira
A formação e o desenvolvimento da agropecuária está marcada por várias
características. Ela assume um papel central no Brasil, pois fornece alimentos para
a população e matéria-prima para as indústrias, como também assume impor-
tância pelo seu potencial como mercado consumidor. Para Brum e Trennepohl
(2004, p. 50), “a agricultura foi, tradicionalmente, até os anos de 1970, a principal
fonte geradora de divisas do país (açúcar, café...). Se, de um lado, é verdade que
o produto agrícola in natura geralmente tem preço baixo no mercado, tanto in-
terno como externo, de outro lado, é também verdade que a agricultura ocupa
o centro de um conjunto de atividades que vêm tendo crescente expressão na
economia do país”.
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Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
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Vera Lúcia Trennepohl (Organizadora)
Imigrantes
Os imigrantes contribuíram na produção e constituição da economia de
subsistência. Ao chegarem em São Paulo, eles eram enviados para as grandes
fazendas de café, onde substituíam como assalariados ou pelo regime de colo-
nato os escravos, sendo-lhes vedado o acesso à propriedade da terra antes de
decorridos três anos da sua entrada no Brasil. Já nos Estados do Sul (RS, SC e PR),
as áreas de mata foram colonizadas por imigrantes europeus de várias naciona-
lidades, com base na pequena propriedade familiar. Com trabalho duro e forte
senso de economia, iam adquirindo relativa prosperidade.
Na pequena propriedade familiar, vencidas inúmeras dificuldades, so-
bretudo nos primeiros anos dedicavam-se à policultura (milho, trigo, feijão,
arroz, mandioca, abóbora, cana-de-açúcar, centeio, aveia, etc.) produzida para o
consumo da família e para venda no mercado. A par da lavoura, havia a criação
de aves e animais domésticos e para o trabalho, como galinhas, suínos, gado
vacum e cavalar, que forneciam ovos, carne, leite, queijo, nata e manteiga para
a mesa, geralmente farta, além de energia para a preparação da terra, transporte
e lazer.
66
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Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
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Vera Lúcia Trennepohl (Organizadora)
para aqueles que eram “expulsos” ou mesmo por opção saíam do campo. De um
lado, no campo produz-se o que esse mercado necessitava, de outro, tornou-se
um importante mercado para máquinas e insumos modernos produzidos pela
indústria. Percebe-se uma crescente interdependência entre o setor agrícola e
o industrial brasileiro.
Esse processo foi habilmente induzido pelos grandes grupos econômicos
norte-americanos (e mundiais). Por meio da chamada “Revolução Verde”, mes-
mo tendo garantida a ampliação da produção, possibilitou a sua presença em
vários países, entre eles o Brasil. Ela propunha o aumento da produção agrícola
mediante o desenvolvimento de sementes adequadas para os diferentes solos e
climas e resistentes às doenças e pragas, bem como o uso de técnicas agrícolas
mais modernas e eficientes.
Essa imagem humanitária ocultava os interesses de grandes grupos
econômicos, que buscavam ampliar no mundo a venda de insumos agrícolas
modernos: máquinas, equipamentos, implementos, fertilizantes, defensivos,
pesticidas, como também a comercialização e o financiamento aos países que
aderissem ao processo de modernização.
No Brasil percebe-se uma crescente presença internacional. Por exemplo,
em 1943, Nelson Rockefeller, um dos chefes do poderoso grupo econômico
(Fundação Rockefeller), visitou o país, fundou três empresas vinculadas ao grupo:
a Cargill, ligada principalmente à comercialização internacional de cereais e à
fabricação de ração; a Agroceres, destinada a pesquisas genéticas com o milho e
à produção de sementes de milho híbrido, e a EMA (Empreendimentos Agrícolas),
voltada à fabricação de equipamentos para a lavoura (Brum; Trennepohl, 2004).
As mudanças se intensificaram pós-1965.
Os grupos econômicos (Rockefeller e outros) fechavam o círculo de domi-
nação, pois emprestavam aos governos o dinheiro que era usado pelos agricul-
tores para adquirir os maquinários e insumos modernos, em sua grande maioria
produzidos por suas próprias empresas multinacionais. E, ainda, controlavam a
comercialização internacional dos grãos.
As profundas transformações na base técnica ou o “Pacote tecnológico”
instituído no Brasil foi desenvolvido cientificamente nos grandes centros de pes-
quisa do exterior. O primeiro grupo de tecnologia a ser destacado diz respeito a
um grupo sofisticado de máquinas, de alto valor, como: tratores, colheitadeiras
automotrizes, plantadeiras, ordenhadeiras mecânicas, etc. Essas máquinas e
equipamentos eram, em sua grande maioria, produzidos por multinacionais,
mas também por fábricas nacionais.
Outra mudança foram as inovações físico-químicas, com a incorporação
dos fertilizantes industriais, agrotóxicos, produtos veterinários, etc. O sistema de
rotação de culturas, adubação orgânica e descanso de terras foram substituídas
pelo uso de novos insumos químicos. As inovação físico-químicas ocorreram com
o uso intenso de fertilizantes, agrotóxicos e produtos veterinários. Um grave pro-
blema foi gerado pelo uso desordenado desses produtos. Os agrotóxicos foram
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tudo foi investido no setor agrícola. Nesse período ocorreram muitos desvios.
Você já ouviu falar do “trigo papel”, “adubo papel”, “calcário papel”, “semente
papel”? Que tal você buscar informações sobre isso?
A “modernização da agricultura” contribuiu com o aumento da produção
brasileira de grãos, mas para tanto foi necessário desembolsar recursos, melhorar
as rodovias, portos, transportes, armazéns, etc., e, também, criar instituições que
assumiram um papel fundamental, como as cooperativas, os bancos, agroindús-
trias, empresas de comercialização, entre outras.
Para responder a essa demanda foram criadas várias cooperativas no RS
a partir de 1957, das quais 20 só naquele ano. Elas primeiro buscaram atender à
expansão do trigo, logo também à soja. A possibilidade de duas safras anuais, na
mesma área de terra, impulsionou ainda mais o moderno cooperativismo, que
assumiu um caráter acentuadamente empresarial, com atuação cada vez mais
ampla, diversificada e complexa.
Essas cooperativas, armazenavam, comercializavam e transportavam a
produção, como, também, criaram uma estrutura comercial para fornecimento
de insumos para a lavoura e de consumo em geral, por intermédio de supermer-
cados. Criaram também indústrias de esmagamento de grãos (soja), produzindo
óleo, farelo, rações e intermediaram os financiamentos agrícolas oficiais (repas-
ses). Algumas chegaram a prestar serviços nas áreas da saúde e da educação.
Desta forma, ocorre a inviabilização das casas comerciais, vendas ou “bolichos”.
O setor agrícola será também abalado pela crise mundial do capitalismo
de 1980, momento que o Estado não recebeu mais o mesmo volume de capital
para investir no setor agrícola, levando a um redirecionamento das políticas
agrícolas, sendo também atingido pelos primeiros tropeços da soja em 1978 e
1979, quando duas estiagens seguidas reduziram a colheita.
O avanço do capitalismo na produção agrícola teve como consequência
um processo de exclusão – o êxodo rural. A agricultura mecanizada absorvia pou-
quíssima força de trabalho e, por isso, foi responsável por grande parte do êxodo
rural, que se deu pela expulsão dessas terras dos trabalhadores assalariados, dos
agregados e dos pequenos proprietários rurais e suas famílias.
As inovações ocorreram de forma impositiva e as pessoas não estavam su-
ficientemente preparadas para usar todo esse aparato tecnológico, acontecendo
acidentes de trabalho e envenenamentos pelo uso inadequado dos agrotóxicos.
E, ainda, foram causados danos ao meio ambiente, por meio do desmatamento,
do envenenamento das águas, e muitos pássaros e peixes desapareceram, rios
e arroios tiveram diminuído seu fluxo de água.
Seção 4.2
Formação e Desenvolvimento da Indústria Brasileira
Após vários séculos de uma economia primária exportadora, marcada
pela exportação de produtos tropicais, o Brasil ingressa na industrialização, via
substitutiva de importações, modernizando aos poucos a sua estrutura produtiva.
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1
Comissão da Verdade conclui que JK foi assassinado.
76
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Brum (p. 265) cita Alves para acrescentar que, em síntese, os militares de-
fendiam “um modelo de desenvolvimento capitalista baseado numa aliança entre
capitais do Estado, multinacionais e locais. A ideologia nacionalista era bastante
difundida nos meios militares, estabelecia forte vinculação entre nacionalismo
e estatização (dos setores básicos)”, mas percebe-se uma crescente participação
de investidores internacionais.
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EaD
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que arrecadasse. O que se constata é que o Brasil, a partir de 1990, passou a fazer
parte do circuito internacional de valorização do capital financeiro, adotando o
modelo de desenvolvimento neoliberal, avançando o processo de privatizações,
abertura econômica e desregulamentação. “O país, a economia e os agentes
econômicos foram sendo submetidos a um ‘choque do capitalismo’. O Estado
reduz sua presença e sua proteção, deixando as empresas mais expostas às leis
de mercado e da concorrência” (Brum, 2011, p. 393).
Segundo Ianni (1996, p. 112), ocorre um processo de modernização da
economia e do aparelho estatal, como também “a mesma sociedade que fabrica
a prosperidade econômica fabrica as desigualdades que constituem a questão
social”. Assim sendo, os processos de industrialização e de modernização da
agropecuária no Brasil produziram uma série de mudanças nas características
da sociedade brasileira.
Ao analisar a globalização e o contexto atual Celso Furtado (1999, p. 26)
observa que: “Em nenhum momento de nossa história foi tão grande a distância
entre o que somos e o que esperávamos ser. (...) Se prosseguirmos no caminho
que estamos trilhando desde 1994, buscando a saída fácil do endividamento
externo e do setor público interno (...) o sonho de construir um país tropical
capaz de influir no destino da humanidade ter-se-á desvanecido”.
Seção 4.3
Formação e Desenvolvimento do Setor Terciário
Nas primeiras décadas do século 20 o setor terciário, no contexto de uma
industrialização via substituição de importações, apresentava um peso econô-
mico pouco representativo na geração de emprego e renda. O quadro começa a
se modificar somente nas décadas de 50/60, em especial pela expansão propor-
cionada pela formação de um mercado nacional de produtos manufaturados, à
luz do processo intenso de modernização/automatização no setor industrial e
do êxodo rural. As economias locais, até então autossuficientes, se incorporam
ao dinamismo nacional, passando a consumir produtos de massa, o que abre
espaço para a ampliação do comércio e serviços. No período de 1950 a 1960 a
mão de obra industrial aumentou em torno de 25%, enquanto a mão de obra
de serviços teve um incremento de 67%.
Este processo amplia-se nas décadas de 60/70, quando se constata um
maior avanço no desenvolvimento tecnológico, puxado pela efetiva integração
do mercado nacional, em resposta às novas estruturas no setor de transporte
e meios de comunicação. Assim, esse processo além de incrementar o cresci-
mento industrial, pari passu forçou a expansão do setor terciário, ampliando
as atividades no comércio de bens e nos serviços em geral: pessoais, finanças,
transportes, comunicações, saúde, educação, reparos de produtos manufatura-
dos, entre outros.
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Seção 4.4
A Crise do Modelo e os Esforços
Pela Estabilização Econômica
Findos os anos 70 e ao longo da década de 80, com a maioria da popula-
ção já urbana, o Brasil viveu uma fase de redução do seu ritmo de crescimento
econômico, ou melhor, vivenciou longos anos de estagnação a ponto de chamar
a década de 80 de “Década Perdida”. Nesse período ficou evidente o esgotamento
do modelo de desenvolvimento capitalista centrado na industrialização por subs-
tituição de importações, tendo o Estado como indutor, financiador e investidor,
e o capital internacional como principal agente privado.
Por outro lado, foi quando a sociedade brasileira fez a transição pacífica
do regime autoritário para o regime democrático, avançou no fortalecimento
de suas organizações e a democracia colocou-se como valor a ser recuperado,
preservado e vivenciado. O último governo militar, conduzido pelo presidente
Figueiredo, buscou administrar a crise e viabilizar o processo de abertura política.
Nessa fase o Brasil foi administrado em razão da dívida externa e dos interesses
dos credores internacionais. Segundo Brum (2011), duas foram as principais ra-
zões da crise econômica brasileira entre 1980 e 1990: o esgotamento do projeto
de desenvolvimento estabelecido em 1930 e a falta de um novo projeto.
O período foi marcado principalmente pelas crises do petróleo (1973 e
1979), o combustível básico que movimentava o mundo. Na primeira, os preços
quadruplicaram (de US$ 3 para US$ 12 por barril) e na segunda dobraram (de
US$ 16 para mais de US$ 30 por barril). Isso levou a um aumento nos custos de
produção, pois o petróleo era a fonte energética que movia os maquinários in-
troduzidos com a modernização. E mais: criou problemas na balança comercial
e, por consequência, na balança de pagamentos brasileira, pois importávamos
cerca de 50% desse combustível.
A década de 80 também foi marcada pela crise da dívida externa dos
países emergentes e dos subdesenvolvidos. Diante do forte endividamento da
maioria desses países e do processo recessivo generalizado, os grandes bancos
internacionais, que antes emprestavam dinheiro com facilidade, suspenderam
o crédito e elevaram as taxas de juros, o que provocou extremas dificuldades
aos endividados, como era o caso do Brasil. Os países capitalistas desenvolvidos
82
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2
As variações de preços não se deram de igual forma em todos os bens e serviços da economia, o que
aponta que um indicador de inflação representa uma média de uma cesta de produtos, todavia um
período inflacionário é caracterizado pela elevação geral e continuada dos preços na economia.
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Plano Cruzado I
Elaborado em 1985, porém efetivado em fevereiro de 1986 pelo então
ministro da Fazenda, Dilson Funaro, no governo do presidente José Sarney,
caracterizou-se pelo congelamento de preços, salários e câmbio e pela introdução
de uma nova moeda, o cruzado, que substituiu a então moeda oficial, o cruzeiro,
na proporção de 1:1000 (1 cruzado = 1.000 cruzeiros).
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Vera Lúcia Trennepohl (Organizadora)
Com forte apoio popular na sua instituição, pela estabilização inicial dos
preços, via congelamento, acelerou o consumo interno das famílias a ponto
de provocar em curto período o desabastecimento, pela maior demanda em
relação à oferta de bens e serviços, chegando a provocar a prática de ágio, um
“sobrepreço” que os consumidores se dispunham a pagar para garantir suas com-
pras. Muitos cidadãos se transformam voluntariamente em “Fiscais do Sarney”,
enquanto vigias da estabilização dos preços.
Plano Cruzado II
Em 21 de novembro de 1986, seis dias após as eleições e com o referendo
das urnas, visto que a base governista venceu em 22 dos 26 Estados, o governo
lança mão de um plano de ajustes pontuais, conhecido como Cruzado II, que, na
essência, objetivava reduzir o déficit fiscal do governo com aumento da arrecada-
ção tributária. Nessa ocasião divulga uma liberação parcial do congelamento de
preços, como dos automóveis, dos combustíveis, das tarifas públicas de telefonia
e energia elétrica, de tributos em cigarro e bebidas.
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Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
Plano Bresser
Em junho de 1987 o então ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira,
anuncia novo plano econômico, alicerçado novamente na política de congela-
mento de preços e salários, agora pelo prazo de três meses.
Entre as medidas anunciadas está a contenção do déficit público, com
aumento de tributos, fim dos gatilhos salariais, corte nos subsídios do trigo e
adiamento dos investimentos públicos em obras de grande porte, para além da
suspensão da moratória da dívida externa para retomada das relações com o
Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi instituída a Unidade de Referência de
Preços (URP) como o indexador de preços e salários.
Mais uma vez o congelamento artificial dos preços não se sustenta no
combate ao desequilíbrio econômico, a ponto de a inflação acumulada em 1987,
segundo o IPC-Fipe, atingir o patamar de 367,12%, levando à substituição, em
janeiro de 1988, do ministro Bresser-Pereira por Maílson da Nóbrega.
Nóbrega anuncia a retomada das negociações da dívida externa e uma
política econômica “feijão com arroz”, sem a adoção de pacote econômico hete-
rodoxo, mas sim com intervenções pontuais para evitar a inflação galopante.
Se for considerado que as negociações externas somente seriam levadas
a termo em agosto de 1988, com um acordo não unânime com o FMI e que a
inflação de 1988 atingiu o estratosférico patamar, de acordo com o IPC-Fipe,
de 891,67%, pode-se inferir que também as promessas iniciais não foram cum-
pridas, muito pelo contrário, em janeiro de 1989 já era anunciado novo pacote
econômico heterodoxo.
Plano Verão
O ano de 1989 se descortina no Brasil com o anúncio pelo governo de mais
um novo plano econômico, o quarto e último plano no mandato do presidente
José Sarney: o Plano Verão. Mais três zeros são cortados da moeda nacional, que
passa a se denominar de cruzado novo (1.000 cruzados = 1 cruzado novo).
Capitaneado pelo ministro Maílson da Nóbrega, o Plano mais uma vez se
traduziu em um congelamento de preços, salários e câmbio. A elevada inflação e
a intuição empresarial de mais um congelamento desta vez fixou os preços em
um patamar superior e não garantiu reposições salariais efetivas.
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Plano Collor I
A posse do presidente Fernando Collor de Mello, em março de 1990,
abre uma das passagens mais marcantes da sociedade brasileira. Eleito com a
pompa de “caçador de marajás”, com referência ao enfrentamento contra os altos
salários nos cargos públicos, Collor entrou na história política do país com um
mandato pouco duradouro, visto sua renúncia, em dezembro de 1992, motivada
pelo desenrolar de um processo de impeachment por denúncias de corrupção
em seu governo.
Talvez esteja no campo econômico, porém, sua maior marca. Ao longo de
seu mandato foram lançados três planos na tentativa de estabilização da econo-
mia brasileira: Plano Collor I e II e Plano Marcílio. O primeiro, lançado oficialmente
no 1.º dia após a posse, como Plano Brasil Novo, logo assumiu a denominação de
Plano Collor, pelo lado carismático do jovem presidente da República.
Sob a responsabilidade da equipe econômica capitaneada pela ministra
da Fazenda Zélia Cardoso de Mello, o Plano Collor I foi inovador e abrangente,
em especial se comparado aos infrutíferos planos anteriores. A medida mais
radical e impactante na sociedade brasileira foi o inédito enxugamento mo-
netário, pelo confisco das contas correntes, da poupança e demais aplicações
financeiras,3 com o propósito de contrair a demanda pela simples insuficiência
de instrumentos monetários.
Entre o pacote de medidas ainda vale destacar a substituição da moeda
oficial, o cruzado novo para o cruzeiro, na proporção de 1 : 1 (NCz$ 1,00 = Cr$
1,00); congelamento de preços e salários, reajustados posteriormente pela infla-
ção esperada; criação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), inclusive
3
Como curiosidade, vale destacar a aplicação em overnight, que rendiam juros durante a noite e que
contavam com volumes expressivos de recursos. No confisco, foram bloqueados 80% dos valores aplicados
em overnight, e valores superiores a NCz$ 50 mil (cinquenta mil cruzados novos) depositados em conta
corrente e caderneta de poupança. Os valores ficariam congelados por 18 meses e rendiam inflação de
mais de 6% ao ano.
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Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
transações com ações e ouro; indexação das taxas e aumento dos preços públicos
como energia, gás, correios; adoção do câmbio flutuante e gradual abertura
da economia brasileira; eliminação de incentivos fiscais; extinção de institutos
públicos e promessa de demissão de 360 mil funcionários públicos.
O congelamento dos ativos monetários conduz a economia brasileira
para um quadro de recessão, com redução da atividade econômica no comércio
e na produção industrial. As empresas passam a demitir funcionários, levando
ao aumento nas taxas de desemprego e muitas delas fecham. O governo passa
a remonetizar a economia por artifícios de descongelamento e a inflação, que
havia arrefecido de início, volta a se agigantar, a ponto de fechar o ano de 1990
em 1.639,08%, segundo IPC-Fipe.
Entre as críticas do insucesso do Plano, a principal reside na forma de
descongelamento dos ativos monetários, que permitiram rapidamente a recons-
tituição do fluxo monetário por liberações legais. Na mesma direção, seguem
sobre a ineficiência no ajuste fiscal pelo lado das despesas, em especial pela
estabilidade do funcionário público, alicerçada na Constituição de 1988.
Plano Collor II
Em janeiro de 1991, na tentativa de reverter o momento da economia,
foi lançado o Plano Collor II, que consistiu em novo congelamento de preços e
salários, desindexação da economia e elevação do IOF para operações financeiras,
o que ajudou a elevar as taxas de juros.
Para aguçar a concorrência e melhorar a produtividade dos produtos bra-
sileiros, e para conter a elevação dos preços, foram reduzidas as taxas de importa-
ção. No conjunto da obra, os preços foram um pouco refreados, contudo, mesmo
assim, a inflação de 1991 fechou em 458,61%, de acordo com o IPC-Fipe.
Em março de 1991 passa a vigorar o Código de Defesa do Consumidor e
também é assinado o Tratado de Assunção, que cria o Mercosul. No mês de maio
daquele ano a ministra Zélia Cardoso de Mello deixa o governo, sendo substituída
por Marcílio Marques Moreira, até então embaixador do Brasil em Washington.
Plano Marcílio
Embora chamado de Plano Marcílio, na realidade não foi instituído ne-
nhum plano mais elaborado, pelo contrário, o ministro Marcílio Marques Moreira
se utilizou de políticas ortodoxas para regular a economia, com a liberalização
do controle de preços.
Em suma, as medidas se resumiam a políticas monetárias e fiscais de
combate à inflação. Pelo lado monetário, objetivou a contração da atividade
econômica pelas taxas de juros elevadas e, pelo lado fiscal, uma política também
restritiva com contenção de gastos e elevação tributária, que culminaram em
uma forte recessão econômica, sem, contudo, vencer o “dragão” da inflação que,
em 1992, atinge, de acordo com o IPC-Fipe, 1.129,45%.
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Plano FHC
Após o impeachment de Collor, seu vice, Itamar Augusto Cautiero Fran-
co, foi conduzido interinamente como chefe de Estado e chefe de Governo em
2/11/1992 e como presidente da República dia 29/12/1992. No Ministério da
Fazenda, sucedeu-se uma verdadeira rotação após a saída de Marcílio Moreira,
visto que seu substituto, Gustavo Krause, respondeu pela pasta no período de
outubro a dezembro daquele ano, cedendo lugar para Paulo Roberto Haddad, que
ficou até março/1993, quando assumiu Elizeu Rezende, que, por sua vez, já em
maio daquele ano é sucedido no Ministério por Fernando Henrique Cardoso.
Na realidade, o Plano FHC se constituiu em um conjunto de medidas
para preparação do Plano Real, lançado em 1994, e foi instituído em três etapas:
primeiro a busca do equilíbrio fiscal do governo, procurando eliminar de vez
o histórico déficit público; segundo a criação da Unidade Real de Valor (URV),
instituída como uma nova moeda brasileira; e, em terceiro lugar, conversão da
URV em real, a moeda que perdura até nossos dias.
Neste prisma, o Plano FHC atingiu seus objetivos de preparar a sociedade
brasileira e a sua economia para recepção do Plano Real, o último e bem-sucedido
de uma sequência de praticamente três décadas de intervenções na busca da
estabilização da economia. Vale registrar ainda que, no ano de 1993, a inflação
brasileira atingiu o patamar mais alto da história, com elevação dos preços em
2.490,99%, segundo o IPC-Fipe.
Em 28 de fevereiro de 1994, entra então em vigor a URV, na relação 1 URV
= CR$ 2.750,00, que, por sua vez, cede espaço para o Real, em julho de 1994 na
relação de 1 : 1 (1 URV = R$ 1,00). O ministro Fernando Henrique Cardoso entrega
o Ministério da Fazenda em março de 1994 para Rubens Ricupero, contudo recebe
a alcunha de “Pai do Plano Real”, o que lhe rendeu a eleição para a Presidência
da República, na qual foi empossado em 1º de janeiro de 1995.
Plano Real
O Plano Real foi efetivado na prática em julho de 1994, com a troca de-
finitiva da moeda, da URV para o real. Muito mais do que um simples plano de
estabilização, o Plano Real fazia parte de um projeto maior, já iniciado nos pilares
do Plano Collor e à luz do “Consenso de Washington”, que se traduzia em um
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Formação e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira
conjunto de medidas neoliberais, assumido e imposto pelo FMI desde 1990, para
ajustamento macroeconômico em países em desenvolvimento. Na essência, o
consenso objetivava a liberalização das economias, com a redução da intervenção
do Estado, ajuste fiscal, privatização de empresas públicas e abertura externa,
em especial para os fluxos de capitais.
Assim, entrou em vigor o real, moeda vinculada ao dólar cuja emissão de
novas quantidades estava condicionada ao volume de dólares existentes nos
cofres do Banco Central do Brasil. Inicialmente o real se valorizou, suplantando
as expectativas do governo e do mercado, a ponto de que cada dólar valia 90
centavos de real. Em período curto retomou a programação inicial de que um
dólar valeria um real.
Rapidamente o plano começou a produzir seus efeitos na economia, pela
efetividade das políticas fiscal – geração de superávits públicos, monetária –
controle da oferta de moeda e taxas reais de juros e cambial/comercial – âncora
cambial e abertura comercial e financeira. A inflação passa a ser controlada, o
real se fortalece, posto que ocorre um fluxo positivo de capitais estrangeiros,
em especial pelos juros reais acima dos praticados no mercado mundial e maior
abertura às importações, que, além de ajudar a segurar os preços internos, força
a indústria nacional a se modernizar, para aumentar sua produtividade e ser
mais competitiva.
Neste cenário, o Plano Real avança em 1995, sob a batuta do presidente
Fernando Henrique Cardoso: ocorre redução acentuada dos níveis de inflação
(fecha o ano em 23,17%), ampliação da atividade econômica, com geração de
empregos e a consequente redução do desemprego, crescimento da renda,
redução da pobreza (por exemplo, o salário mínimo recebe um incremento real,
passando dos R$ 70,00 para R$ 100,00, em maio daquele ano).
Em linhas mais abrangentes, o sistema bancário sofre com as mudanças
a ponto de o Banco Central intervir em diversas instituições, forçando a criação
do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Fi-
nanceiro Nacional (Proer) para evitar um colapso sistêmico. Ao mesmo tempo, o
governo passa a preparar um abrangente programa de privatizações de empresas
estatais, especialmente nos setores de energia, minérios, siderurgia, comunica-
ções e bancários, com forte participação do BNDES e do capital internacional.
De outra forma, o governo sofreu com diversas crises internacionais, mexi-
cana em 1995, asiática em 1997, russa em 1998, o que provocou fugas de capitais,
levando o governo a expandir ainda mais os juros reais internos, bem como a
buscar mais um acordo com o FMI, com efeitos contra acionistas na atividade
econômica e que foram insuficientes para conter o colapso cambial de janeiro
de 1999, que força a mudança do sistema cambial, com o abandono definitivo
da âncora cambial e a adoção do sistema flutuante do câmbio.
Apesar dos percalços, o Plano Real conseguiu conter a inflação e, desta
forma, garantir um segundo mandato presidencial para Fernando Henrique
Cardoso, então com a condução econômica, por meio de políticas macroeco-
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Seção 4.5
Globalização, Desafios e Perspectivas para o Século 21
Embora o termo globalização tenha sido utilizado como um novo processo
de abertura das economias a partir dos anos 90 do século passado, na realidade
as relações internacionais são mais alargadas no tempo. Os registros históricos
trazem relatos de intercâmbio cultural e comercial de alguns milênios a.C., como
a Rota das Sedas, que ligava Ásia, África e Europa.
Na última década do século passado o que se vivenciou foi um aprofunda-
mento da integração internacional proporcionado pela expansão do capitalismo
na busca de novos mercados, estimulado pelo barateamento dos transportes
e comunicações. Para frisar, o capitalismo é um sistema econômico que se ca-
racteriza pela propriedade privada dos fatores de produção, ou seja, os fatores
utilizados na produção e distribuição de bens e serviços são de propriedade dos
indivíduos, das famílias.
Como a produção de bens e serviços ocorre para atender às necessidades
das pessoas, se descortina o palco para reflexão sobre o estágio de desenvolvi-
mento da sociedade contemporânea: para os grandes investidores, os países são
vistos apenas como oportunidades de fazer bons negócios – ou de não fazê-los.
Não se preocupam com o país em si – sua soberania, sua história, o seu povo ou
sua cultura. Veem-no apenas sob a ótica do lucro (Brum, 2011).
Adam Smith, autor da obra A Riqueza das Nações, de 1776, que o tornou
conhecido como o “Pai da Economia”, já afirmava que “o consumo é a única
finalidade e o único propósito de toda a produção”. Assim, precisamos refletir:
Por que dizem que o sistema se mantém pelo consumismo? Por que será que
somos bombardeados, a todo momento, para trocar de celular, de computador,
de televisor, de automóvel? Qual o papel da moda na cadeia de produção do
vestuário?
Necessário se faz uma reflexão sobre quais realmente são as necessidades
humanas. O sistema atualmente nos conduz para a condição de “trabalhar para
viver”, mas será que não está ocorrendo uma inversão e estamos na condição
de “viver para trabalhar”? Será que atualmente também não se avançou na de-
pendência do sistema pela questão financeira?
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até o final dos anos 1980, havia fortes restrições, e até mesmo proibições,
quanto à importação de bens (por exemplo, automóveis) e serviços (por
exemplo, turismo). Havia, também, limitações relativas à captação de recursos
externos (por exemplo, não era permitido capital estrangeiro nas bolsas de
valores brasileiras) e a investimentos de brasileiros no exterior. Ainda que a
indústria brasileira fosse uma das mais internacionalizadas do mundo, com
expressiva presença de empresas transnacionais, havia restrições quanto à
entrada de capital estrangeiro em diversos setores (bancos, energia elétrica,
petróleo, telecomunicações, etc.) (2003, p. 91-92).
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Mato Grosso, Maranhão e Rio Grande do Sul. Ainda de acordo com o Inpev, o
índice de retirada de embalagens vazias de agrotóxicos do meio ambiente é de
50% do total comercializado no Brasil, enquanto nos EUA é de cerca de 25%.
Na mesma direção, é primordial a continuidade de políticas públicas com
vistas à viabilidade da agricultura familiar. Em número de estabelecimentos
agrícolas ela é a mais expressiva, garante o sustento de um contingente elevado
de famílias, distribui renda e gera postos de trabalho, mostrando-se de grande
importância para um país como o Brasil, que precisa incluir pessoas.
Ninguém ousa negar que o país avançou na produção agropecuária nos
últimos anos, consolidou-se como um celeiro agrícola amplamente diversifica-
do, que o debate sobre reforma agrária arrefeceu, que o êxodo rural não é mais
tão intenso e que é inegável que o avanço da tecnologia disponível e utilizada
resultou em ganhos de produtividade em todas as culturas. Programas estatais
de financiamento e o comportamento dos preços das commodities agrícolas
beneficiaram o setor. Os aspectos centrais do contraponto crítico recaem no
excesso de tratamento químico na produção e na conformação genética das
sementes.
A indústria brasileira, por sua vez, diversificou-se tanto na produção de
bens duráveis quanto de não duráveis, embora espacialmente ainda continue
muito concentrada na região Centro-Sul. O setor é responsável pela transforma-
ção de matérias-primas em produtos industrializados, possui forte capacidade
de agregação de valor, entretanto é caracterizado pela presença importante de
multinacionais, que operam em uma estrutura essencialmente oligopolizada, o
que confere “poder” de manipulação do quantum de produção e dos preços.
A abertura comercial e a valorização da moeda nacional abateu parte da
indústria brasileira, em especial aquelas atividades intensivas em mão de obra. É
inegável, entretanto, a modernização do parque fabril brasileiro com o avanço na
produtividade da indústria nacional na maioria dos setores. A crítica recorrente
recai, em especial, nos limites energéticos e de infraestrutura, no montante do
capital estrangeiro no setor manufatureiro, na falta de investimentos para a
ampliação do parque fabril e na insuficiência de recursos investidos em pesquisa
para o desenvolvimento de novas tecnologias.
Já o setor terciário, representado pelas atividades do comércio e dos ser-
viços, foi o que mais cresceu relativamente nas últimas décadas, o que pode ser
considerado um avanço na maturidade socioeconômica do país, haja vista sua
importância na geração e distribuição de renda e riqueza, de alocação de mão
de obra e, por consequência, na elevação do padrão de vida da população, pelo
acesso a bens e serviços diversificados.
De início, as atividades terciárias de desenvolvimento atendiam funções
complementares, bastante heterogêneas. Com o passar dos anos, o setor terciário
foi influenciado pelo novo padrão de consumo, de técnicas de produção e orga-
nização econômica, de uma sociedade urbanizada e cada vez mais globalizada.
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Síntese da Unidade 4
Nesta Unidade estudamos o processo de forma-
ção e desenvolvimento da estrutura econômica,
marcada pela modernização, transformação e
desenvolvimento, identificando as contrações
da expansão. As mudanças ocorridas no setor
agrícola e industrial afetaram as condições sociais
vividas pela população brasileira, algumas sendo
beneficiadas mais que outras.
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Unidade 5
Seção 5.1
Formação do Estado Nacional,
Sociedade Civil e Políticas Públicas
Nesta Unidade vamos analisar o processo de constituição da sociedade
política no Brasil. Entende-se por sociedade política o conjunto de estruturas
que compõem o poder político, que se materializa na figura do Estado e mais
recentemente também na chamada sociedade civil, formada pelas organizações
e movimentos sociais. Observa-se na modernidade uma tendência de ampliação
do Estado: a prática da coerção – essência do Estado – reveste-se de hegemonia.
Nenhum grupo ou classe, individualmente ou em bloco, exerce o poder político
apenas pela prática da coerção; este requer cada vez mais o consentimento da
sociedade, que se obtém por meio da “direção moral e intelectual”.
Em outras palavras, é necessário que um projeto de sociedade seja aceito
pela maioria da sociedade, situação que se conquista pela capacidade de con-
vencimento que se exerce sobre as pessoas por intermédio das organizações e
movimentos sociais.
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Nem mesmo uma cultura local capaz de gerar uma identidade ou uma
ideologia justificadora de um movimento autonomista. Assim, a formação do
Estado nacional brasileiro é muito mais produto dos conflitos europeus, entre
Inglaterra, França, Portugal e Espanha. A natureza desse processo explica porque
temos ainda hoje uma ideia de Nação bastante frágil.
A primeira forma de Estado no Brasil seguiu o modelo português: a
Monarquia. Vale lembrar que na Europa duas grandes revoluções já haviam
ocorrido. A primeira, ainda no século 17, ano de 1688, a Monarquia Constitucio-
nal na Inglaterra criou as bases do Estado moderno. Em sequência, no século
seguinte, no ano de 1789, esse processo tem o seu momento mais radical por
meio da Revolução Francesa, que estabeleceu uma espécie de paradigma para a
formação do Estado moderno a partir dos princípios da Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão.
A partir da premissa de que “os homens nascem livres e iguais em direitos”,
o artigo 2º define que a “finalidade de toda a associação política é a conservação
dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade,
a propriedade, a segurança e a resistência à opressão”. Outros princípios, como
a “soberania reside, essencialmente, na nação” e a “lei é a expressão da vontade
geral” também foram incorporados nas Constituições e no Estado moderno.
As ideias liberais estavam presentes tanto em Portugal como no Brasil,
servindo de suporte ideológico para a organização de vários movimentos
regionais. Contudo, não foi a partir delas que se organizou o Estado nacional
brasileiro. Isto fica evidente no processo constituinte estabelecido após a decla-
ração da Independência, convocado pelo Imperador D. Pedro I para elaborar a
constituição do novo Estado.
Na abertura dos trabalhos da Assembléia Constituinte, o Imperador dirigiu-
se aos “dignos representantes da Nação brasileira” para pedir-lhes “firmeza nos
princípios constitucionais” e para lembrá-los: “espero que a Constituição que
façais seja merecedora da minha imperial aceitação, que seja tão sábia e tão justa
quanto apropriada à localidade e civilização do povo brasileiro”.
A Assembleia Constituinte, instalada em 3 de março de 1823, concluiu
em 12 de novembro um anteprojeto de Constituição que mantinha o trabalho
escravo e estabelecia direitos políticos apenas aos indivíduos com renda anual
superior ao valor de cem alqueires de farinha de mandioca. Havia pontos bastan-
te polêmicos como: a Câmara seria indissolúvel e exerceria o controle sobre as
Forças Armadas, o veto do imperador teria apenas caráter suspensivo e limitava
o poder do imperador sobre a administração brasileira.
Como os termos propostos não foram merecedores da sua “imperial
aceitação”, Dom Pedro dissolve a Assembleia Constituinte. Os principais líderes
são presos e exilados, inclusive os irmãos Andrada. Uma comissão especial é
nomeada para redigir uma Constituição que garanta a centralização do poder
em suas mãos. Assim, a primeira Constituição do país, outorgada em 25 de mar-
ço de 1824, estabelece um governo “monárquico, hereditário e constitucional
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O Estado Novo prolonga-se de 1937 até 1945. Este período mostrou sua
face mais cruel de grandes perseguições políticas. Sob um regime de intensa re-
pressão, os partidos políticos foram extintos, os meios de comunicação sofreram
censura por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), greves e
sindicatos são proibidos e coíbe-se qualquer manifestação de oposição. Ao mes-
mo tempo, é instituída a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e se organiza a
burocracia do Estado. Cabe ressaltar também que é nesse período que são lan-
çadas as bases para o efetivo desenvolvimento da indústria nacional, mediante
investimentos estatais nas áreas da infraestrutura, siderurgia e energia.
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“Príncipe eletrônico” é uma metáfora construída pelo sociólogo Octávio Ianni a partir da obra de Maquiavel,
O Príncipe; ela se refere ao dirigente político que ao tempo de Maquiavel era um homem, no século 20
foi o partido político e no século 21 seriam os meios digitais.
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Síntese da Unidade 5
Nesta Unidade estudamos o processo de orga-
nização social e política da sociedade brasileira,
enfatizando a formação do Estado nacional, da
participação da sociedade civil e da formulação
de políticas públicas vinculadas à efetivação
dos direitos sociais. Desde a Independência,
momento em que se funda o Estado nacional
brasileiro, forças sociais conservadoras, ligadas à
agroexportação e ao trabalho escravo, impõem
uma forma de Estado oligárquico, ou seja, eli-
tista e autoritário. Obviamente, nesse período,
as forças sociais progressistas, ainda frágeis,
defendem a incorporação ao processo político –
portanto do Estado – das classes populares, sem
êxito. Somente a partir da revolução de 1930 as
classes populares começam a ser reconhecidas,
basicamente como sujeitos de direitos sociais
por meio da instituição da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT). A partir de 1945 inicia-
se, de forma tímida, a construção de um Estado
democrático, processo que se interrompe com
a instauração do Regime Militar, no período de
1964 a 1985. O Estado democrático, resultado das
lutas sociais históricas, intensificadas durante o
Regime Militar, se consolida com a promulgação
da Constituição de 1988. O fortalecimento da
sociedade civil – movimentos e organizações
sociais – é a base de sustentação do Estado de-
mocrático e social. Por isso, no período de 1985
até os dias de hoje, verifica-se um processo de
fortalecimento das instituições democráticas e
da ampliação dos direitos sociais. As mesmas
forças que obstaculizaram o desenvolvimento do
Estado democrático e social ao longo da história,
no entanto, continuam presentes no cenário
político brasileiro.
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Unidade 6
PROBLEMAS ATUAIS
E DESAFIOS DO FUTURO
Seção 6.1
Diagnóstico e Perspectiva de Desenvolvimento
Como vimos, o governo tem papel fundamental na construção do proje-
to de desenvolvimento para o Brasil, mas precisa contar com a participação da
sociedade de uma forma geral. Após a análise de vários fatores sobre o Brasil –
seu processo de construção – podemos retomar alguns desafios apresentados
e analisados nas Unidades, que mostram que o país tem desafios nos setores
econômico, político e social. Muitas perguntas ficam sem resposta, mas é exata-
mente isso que nos torna pesquisadores, atentos ao que está sendo divulgado
nos meios de comunicação. Quais deles são fundamentais?
Nas últimas décadas tivemos vários avanços tecnológicos, principalmente
com a automação, a cibernética, a informática e a robótica, mas isso não atingiu
a todos da mesma forma, pois o processo de exclusão continuou. Ninguém pode
negar, contudo, que a sociedade brasileira evoluiu/mudou muito nas últimas
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Síntese da Unidade 6
Nesta Unidade sistematizamos os estudos reali-
zados durante a disciplina, por meio da pesquisa
de problemas atuais e políticas públicas, em que
os estudantes foram desafiados a fazer uma lei-
tura qualificada da realidade e pensaram ações
para o futuro do país, chamando a atenção para
as suas responsabilidades como profissionais e
cidadãos.
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Referências
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SAIBA MAIS
ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de. Pequena história da formação social atual.
Petrópolis, RJ: Vozes; Ijuí, RS: Ed. Unijuí, 2011.
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FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 30. ed. São Paulo: Companhia
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