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Rio de Janeiro
Setembro de 2016
ANÁLISE DE CONCENTRAÇÃO DE TENSÕES E FADIGA EM UMA
JUNTA SOLDADA
Examinada por:
______________________________________________
Gilberto Bruno Ellwanger, D.Sc.
______________________________________________
Sílvia Corbani, D.Sc.
______________________________________________
Cristiane Cruxen Daemon, M.Sc.
SETEMBRO DE 2016
Mendonça, Érica Martinho de
iii
Agradecimentos
Aos meus pais Salete e Nilton pelo amor incondicional ao longo da minha vida e por
fornecerem toda a estrutura necessária aos meus estudos.
Ao meu orientador, Gilberto Bruno Ellwanger, pela orientação dada e por acreditar que
este trabalho pudesse ser realizado em um tão curto período de tempo.
Aos engenheiros Bruno Hubner, Mario Santos e Fabiano Pimentel por compartilhar o
conhecimento necessário à execução deste trabalho.
iv
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.
Setembro/2016
v
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Engineer.
September/2016
This work presents the study of stress concentration in a welded joint that is part of the
structure of a module of an offshore FPSO (Floating, Production, Storage and
Offloading) platform.
During the execution of this work, stress analyzes were performed using the Finite
Element Method, using FEMAP/NASTRAN software, aiming the calculation of Stress
Concentration Factor.
For this purpose, a three-dimensional model of the welded joint was prepared using
shell elements, representing part of the beams of the structure and a tubular column.
Stress concentration factors were calculated and the fatigue damage of the joint in
question was evaluated, using the DNV Simplified Method, as an attempt to assess the
fatigue life of the structure.
vi
SUMÁRIO
1. Introdução................................................................................................................ 1
5. Concentrações de Tensões................................................................................... 23
vii
5.4.4. Fator de Segurança ................................................................................ 32
6.3. Geometria....................................................................................................... 36
7. Conclusão.............................................................................................................. 61
viii
LISTA DE FIGURAS
ix
Figura 6.8 – Modelo Computacional – Corte A-A. ........................................................ 38
Figura 6.9 – Modelo Computacional – Corte B-B. ........................................................ 38
Figura 6.10 – Modelo em Elementos Finitos. ............................................................... 39
Figura 6.11 – Detalhe dos elementos de casca. .......................................................... 40
Figura 6.12 – Detalhe do elemento rígido. ................................................................... 40
Figura 6.13 – Elementos de barra para simulação de condições de apoio. ................. 41
Figura 6.14 – Força Axial (kN). ..................................................................................... 42
Figura 6.15 – Momento na direção Y (kN). ................................................................... 42
Figura 6.16 – Momento na direção Z (kN.cm). ............................................................. 43
Figura 6.17 – Cortante na direção Z (kN.cm). .............................................................. 43
Figura 6.18 – Condição de contorno nas extremidades das vigas. .............................. 44
Figura 6.19 – Condição de contorno na base da coluna. ............................................. 45
Figura 6.20 – Condição de contorno nos elementos de barra. ..................................... 45
Figura 6.21 – Modelo em barras para cálculo das tensões nominais. ......................... 46
Figura 6.22 –Condições de Contorno. .......................................................................... 46
Figura 6.23 – Carregamento Aplicado – Fx (kN). ......................................................... 47
Figura 6.24 – Carregamento Aplicado – My (kN.cm). .................................................. 47
Figura 6.25 – Carregamento Aplicado – Mz (kN.cm). .................................................. 48
Figura 6.26 – Carregamento Aplicado – Fz (kN). ......................................................... 48
Figura 6.27 – Tensões Máximas decorrente da aplicação de Fx (kN/cm²). ................. 50
Figura 6.28 – Tensões Mínimas decorrente da aplicação de Fx (kN/cm²). .................. 50
Figura 6.29 – Tensões Máximas decorrente da aplicação de My (kN/cm²). ................ 51
Figura 6.30 – Tensões Mínimas decorrente da aplicação de My (kN/cm²). ................. 51
Figura 6.31 – Tensões Máximas decorrente da aplicação de Mz (kN/cm²). ................ 52
Figura 6.32 – Tensões Mínimas decorrente da aplicação de Mz (kN/cm²). ................. 52
Figura 6.33 – Pontos de obtenção dos valores das tensões. ....................................... 53
Figura 6.34 – Extrapolação Linear – Fx........................................................................ 54
Figura 6.35 – Extrapolação Linear – My. ...................................................................... 54
Figura 6.36 – Extrapolação Linear – Mz. ...................................................................... 55
Figura 6.37 – Extrapolação Linear – Fz........................................................................ 55
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.2 – Curvas S-N para ligações soldadas típicas [13]. ..................................... 20
LISTA DE SIGLAS
xi
1. INTRODUÇÃO
A indústria offshore mundial teve seu início no século XX, sendo datado entre os anos
1930 (Venezuela) e 1950 (Golfo do México). A partir daí, começou a se expandir para o
Mar do Norte e a formar os primeiros grupos de empresas nessa segmentação. Já no
Brasil, a primeira extração offshore se deu em 1968, embora já houvesse o
conhecimento da existência de grandes reservas de petróleo por estudos geográficos
desde 1950 [1]. O país ganhou destaque na exploração de petróleo com a descoberta
das Bacias de Campos e a Bacia de Santos (principais áreas de exploração do país),
nos anos 70, e da área do Pré-Sal, em 2007.
Com isso, as estruturas das plataformas no mar desenvolveram uma trajetória que se
iniciou com a sustentação fixa no solo marinho, até o uso de unidades flutuantes. A
evolução das plataformas enfrentou diversos desafios tecnológicos, desde a sua
construção, passando pela fase de operação, até o descomissionamento, com a
minimização de impactos ambientais.
A Figura 1.1 mostra a evolução das plataformas offshore desde as unidades fixas, muito
utilizadas em laminas d’água até 200m, até os FPSO’s, utilizados em águas profundas e
ultra profundas.
1
1.2. Motivação e Objetivo
A vida útil à fadiga dos diversos componentes de uma estrutura deve ser avaliada
durante a fase de projeto, para que se assegure a sua resistência à ação dos
carregamentos cíclicos, aos quais a estrutura está submetida. Esse problema é mais
severo em ligações soldadas devido à propensão a trincas na margem e raiz da solda e
ao processo de soldagem que geralmente deixa descontinuidades, elevando a
concentração de tensões na ligação.
2
1.3. Apresentação do Trabalho
3
2. PLATAFORMAS DO TIPO FPSO
2.1. Características
Uma unidade flutuante do tipo FPSO (Figura 2.1) recebe o fluido do reservatório
geralmente através de risers flexíveis, separando-o em óleo, gás e água por meio de
equipamentos de processo (função de produção). O óleo separado é armazenado nos
tanques do navio (função de armazenamento) para uma periódica transferência para
navios-tanque de transporte usando um sistema de mangueira flutuante (função de
transferência) [3].
O óleo tratado é transferido para os tanques de carga do navio. O gás tratado é utilizado
como combustível para energia a bordo e o excesso de gás volta para os reservatórios
submarinos ou é exportado através de gasodutos. A água que é produzida durante o
processo é descarregada no mar, ou pode ser reinjetada nos reservatórios.
Um FPSO pode utilizar um casco novo (new building) ou convertido de um navio antigo,
petroleiro ou graneleiro, que é preparado estruturalmente para receber a planta de
processo. A vantagem destes navios em relação a outras plataformas é a
disponibilidade de espaço, capacidade de carga e, sobretudo, capacidade de
armazenamento.
Esse tipo de unidade tem destaque em lâminas d’água profundas e em locais onde não
há uma rede de dutos para transporte do petróleo ou onde a implantação destes se
torna inviável técnica ou economicamente.
4
Figura 2.1 – FPSO Cidade de Saquarema [21].
5
Figura 2.2 – Estruturas do topside de um FPSO [21].
6
2.3. Carregamentos Atuantes em um FPSO
Translacionais:
Avanço (Surge)
Deriva (Sway)
Afundamento (Heave)
Rotacionais:
Jogo (Roll)
Arfagem (Pitch)
Guinada (Yaw)
7
O movimento de alquebramento e tosamento fazem com que sejam impostas
deformações na base das estruturas do topside, conforme ilustrado na Figura 2.6.
8
3. ESTADO DE MAR IRREGULAR
A elevação da superfície do mar não possui características regulares e sim uma forma
irregular tal como exemplificado na Figura 3.1. Os períodos de onda (Ti) para este
estado de mar são definidos como sendo o tempo entre sucessivos cruzamentos do
nível médio das elevações e suas alturas (Hi), definidas como a diferença entre os
valores máximos e mínimos dentro de um período de onda (Figura 3.2).
Período de cruzamento zero (Tz): é a média dos valores dos períodos da onda
(Ti);
Altura de onda significativa (Hs): é a média do terço mais alto das alturas de
onda.
9
4. FENÔMENO DA FADIGA
A consideração da fadiga tem sido cada vez mais indispensável, diante da necessidade
de produção de estruturas e peças mais resistentes, seguras e econômicas. A fadiga
constitui, portanto, um critério de projeto crítico em relação à segurança e confiabilidade
dos componentes estruturais.
Geometria da junta
Distribuição de tensões
Fabricação do material
Nível de tensões
Meio ambiente (ar/ água)
Tensões residuais
Defeitos de soldagem
A análise de Fadiga é de suma importância, uma vez que a ruptura por fadiga ocorre
devido à concentração de tensões cíclicas em um ou vários pontos. Deste modo, a não
realização da análise deste processo pode resultar em acidentes de grande proporção,
que podem ocorrer de forma inesperada, como o caso da plataforma Alexander
Kielland, ilustrado no item 4.3.
10
4.2. Resumo Histórico
O histórico dos estudos sobre fadiga pode ser descrito resumidamente, segundo [8],
como a seguir:
11
1936- Gough (Grã-Bretanha): Usando difração de raio-X, estudou o
deslizamento cíclico em redes cristalinas
1955 – Coffin, Manson (Estados Unidos): Deram início ao Método εN de projeto
à iniciação de uma trinca por fadiga;
1957 – Irwin (Estados Unidos): Introduziu o conceito de fator de intensidade de
tensões, dando início à Mecânica de Fratura moderna;
1961- Paris (Estados Unidos): Avançou os estudos em propagação de trincas
por fadiga, permitindo o desenvolvimento das previsões da vida residual de
estruturas trincadas;
1980-2000 – Lemaitre, Chaboche e Krajcinovic: Modelos de acúmulo de dano
mais adequados, com base na Mecânica do Contínuo.
Um dos maiores acidentes envolvendo falhas por fadiga em estruturas offshore foi o da
plataforma semi-submersível Alexander Kielland, que operava no campo de Norwegian
Ekofisk, localizado no Mar do Norte na Noruega. A plataforma afundou em 27 de março
de 1980, causando a morte de 123 das 212 a bordo da mesma.
12
O acidente foi causado durante uma tempestade, com ondas de até doze metros de
altura e rajadas de vento que chegavam a 74km/h, que causaram crescimento de uma
trinca, propagada a partir de uma solda de filete mal executada em uma peça soldada
em um contraventamento (Figura 4.2). A partir desta falha, as demais barras de
contraventamento ficaram sobrecarregadas, culminando na ruptura de uma das colunas
e colapso da estrutura.
13
Estudos posteriores ao acidente concluíram que, para a instalação de uma peça no
contraventamento da plataforma, foi feito um corte circular sem a realização de
tratamento na superfície antes da soldagem. Desse modo, foram introduzidos defeitos
de solda, tais como a penetração incompleta, inclusão de escória e trincas na raiz,
gerando um fator de concentração entre 1,5 a 2 maior do que ocorreria em condições
normais.
Segundo (CASTRO, 2009 [10]), a maioria das falhas mecânicas que ocorrem na prática
é causada por fadiga, mas o trincamento é lento, gradual e aditivo, gerando um dano
restrito à região crítica da peça. O processo de fadiga pode ser dividido em três fases:
14
O início do processo de falha por fadiga se dá pela formação de planos de
escorregamento, influenciados por tensões de cisalhamento, oriundas da movimentação
de grãos da superfície menos vinculados aos do interior do metal, levando à formação
de intrusões e extrusões. As trincas começam a se nuclear e a se propagar por planos a
45°, em crescimento de micrometros por ciclo (não sendo visível a olho nu) até a
instabilidade local do material.
Uma vez iniciada a trinca, esta cresce em um plano perpendicular à direção da tensão
principal de tração (Figura 4.4) e a trinca aumenta por meio do processo de
coalescência. A trinca se desenvolve lentamente, no entanto, à medida que ela reduz a
seção transversal, ocorre aumento da tensão e a velocidade de propagação aumenta.
Nessa fase, a trinca apresenta estrias características (Figura 4.5), visíveis apenas ao
microscópico eletrônico, que correspondem às posições de frente de propagação nos
vários ciclos de tensão.
15
No aspecto macroscópico a trinca de fadiga possui marcas características,
denominadas “marcas de praia” (Figura 4.6), produzidas devido a alterações no ciclo de
tensões, seja no valor ou na frequência de aplicação das tensões, ou paradas
intermediárias.
Os carregamentos que promovem uma variação de tensões com o tempo podem ser
divididos em dois tipos, de acordo com sua amplitude:
16
Amplitude Constante: neste tipo de carregamento, a amplitude da variação das
tensões é constante ao longo de todo o intervalo analisado (Figura 4.7). É
comum em máquinas e mecanismos que funcionam com velocidade constante.
Amplitude Variável: neste tipo, a amplitude de tensões não é constante entre os
ciclos (Figura 4.8). Este tipo de carregamento é o mais recorrente.
17
4.6. Curvas S-N
Estas curvas são obtidas através de ensaios de laboratório, onde corpos de prova são
submetidos carregamentos cíclicos com a amplitude constante, até o surgimento de
trincas e a consequente ruptura por fadiga.
̅ ( 4-1 )
Graficamente, é usual representar a curva S-N como uma curva do tipo log-log , que
pode ser expressa pela equação:
̅ ( 4-2 )
onde:
̅ = coeficiente linear da Curva S-N (ponto de interseção entre a curva S-N com o
eixo N), obtido experimentalmente.
18
As curvas S-N de interesse deste trabalho são apresentadas na Figura 4.9, retiradas da
DNV RP 0005, 2014 [13], para detalhes estruturais no ar, tendo em vista que a estrutura
analisada se encontra acima do nível d’água, no topside de um FPSO.
Para alguns materiais, como o aço e o titânio, existe uma faixa de tensão abaixo da qual
a trinca não se inicia, caracterizando-se o limite de fadiga do material, e para a qual a
fadiga não é considerada, mesmo para um número infinito de ciclos.
A DNV fornece, para análise de fadiga, tabelas com os parâmetros das curvas S-N
existentes para juntas soldadas localizadas acima do nível d’água (Tabela 4.1), juntas
soldadas imersas na água do mar com proteção catódica e juntas tubulares.
As curvas S-N só devem ser aplicadas quando as máximas tensões atuantes nos
pontos críticos da peça forem inferiores à resistência ao escoamento do material, pois a
análise de tensões utilizada neste método é linear elástica [8].
19
Tabela 4.1 – Dados S-N para peças expostas ao ar [13].
G Flange welded
to another
flange at
crossing joints
[13].
W1
W2
20
Curva Detalhe Construtivo Descrição
E Full penetration
butt welded
cruciform joint
[13].
W3 Partial
penetration
teebutt
joint or fillet
welded
joint and
effective full
penetration in
tee-butt joint
[13].
F3 Circumferential
butt weld made
from one side
without a
backing bar
[13].
Nos casos em que a avaliação da vida à fadiga requer cálculos mais refinados é
recomendada a realização de uma análise em elementos finitos da estrutura. Isto
ocorre, por exemplo, nas conexões onde existe grande concentração de tensões. As
tensões máximas na estrutura são calculadas pelo MEF e podem ser combinadas, de
acordo com a DNV, pela curva D.
21
4.7. Efeito da Espessura
( ) ( 4-3 )
onde:
tref = espessura de referência (32mm para juntas tubulares e 25mm para juntas soldadas
de forma geral);
k = fator de correção de espessura de acordo com a curva S-N (ver Tabela 4.1).
A relação anterior comprova que a resistência à fadiga é menor quanto maior for a
espessura da chapa de um determinado detalhe estrutural, uma vez que estes possuem
maior probabilidade de sofrerem com o surgimento de trincas, devido à maior área
exposta a efeito de danos por intempéries ou defeitos de fabricação.
22
5. CONCENTRAÇÕES DE TENSÕES
As variações locais ou descontinuidades na geometria (orifícios, cortes, chanfros, falhas
na soldagem, dentre outros) afetam a distribuição da tensão em uma estrutura,
resultando em um aumento da tensão na vizinhança da descontinuidade. Esse aumento
na tensão é chamado de concentração de tensão.
Quando existe concentração de tensões em uma região, poderá se iniciar uma trinca.
Deste modo, a tensão nesta região é maior e deve ser ajustada utilizando um fator de
concentração de tensões.
Pode-se visualizar este fenômeno através das linhas de força ilustradas na placa da
Figura 5.1. A distribuição dessas linhas ocorre de maneira uniforme nas extremidades
da placa. Entretanto, ao se aproximarem da descontinuidade, as linhas o contornam e
se aproximam, promovendo uma concentração na ponta do entalhe.
A Figura 5.2 exemplifica este princípio mostrando a variação de tensões em uma chapa
contendo uma descontinuidade geométrica.
23
Figura 5.2 – Variação de Tensões em uma chapa com furo [14].
( 5-1 )
onde:
σ = tensão normal
P = carregamento axial
( 5-2 )
onde:
24
σ = tensão normal
M = momento Fletor
I = momento de Inércia
( 5-3 )
τ = tensão cisalhante
T = torque
c = raio externo
( 5-4 )
onde:
A norma DNV RP 0005 [13] apresenta métodos amplamente utilizados para cálculos de
fatores de concentração de tensões em diversos tipos de ligações comuns em
estruturas offshore, como para juntas tubulares, solda entre chapas de diferentes
espessuras ou com desalinhamento, juntas cruciformes, entre outras.
25
5.3. Tensão de Hot Spot
O ponto de hot spot de um detalhe estrutural pode ser considerado como sendo o ponto
da estrutura onde uma trinca por fadiga pode ser iniciada, devido a efeitos combinados
de variações de tensão e da geometria da solda [13].
Para uma análise mais refinada do cálculo de tensões na região do hot spot, utiliza-se
modelo em elementos finitos. Assume-se que o material tenha comportamento linear e
que não haja desalinhamentos relacionados à fabricação.
Para casos mais complexos, uma alternativa é o uso de elementos sólidos. Neste caso,
utilizam-se elementos de 20 nós, sendo o comprimento e a largura correspondentes à
espessura da chapa.
26
Figura 5.3 – Esquema da distribuição de tensões na região de hot spot [13].
As componentes de tensão máximas na superfície da chapa devem ser extraídas da
análise de elementos finitos da peça soldada, ao longo das linhas mostradas na Figura
5.4 e extrapoladas para os pontos de hot spot.
Se o tamanho do elemento na região de hot spot usado for t x t, as tensões podem ser
avaliadas da seguinte forma:
27
Figura 5.5 – Extrapolação da tensão de hot spot [13].
Figura 5.6 – Extrapolação das tensões para elementos maiores do que t x t [13].
Após a obtenção das tensões nos pontos ao longo das linhas indicadas na Figura 5.4, a
DNV recomenda dois métodos de extrapolação destas tensões até o ponto de hot spot,
descritos resumidamente como:
28
- Método A: extrapolação linear das tensões principais obtidas nos pontos a 0,5t e 1,5t;
- Método B: utilização das tensões principais no ponto 0,5t, acrescidas do fator 1,2.
Durante a vida útil de uma estrutura, para cada ciclo de carga, a estrutura absorve
efeitos de fadiga que se acumulam ao longo do tempo e geram o que se convencionou
chamar de dano à fadiga [5].
O dano à fadiga é dado pela razão entre o número de ciclos de carga aplicado à
estrutura e o número de ciclos que causa a falha da estrutura.
O dano total ou acumulado é a soma algébrica do dano gerado por cada ciclo de carga.
Pela Regra de Palmgren-Miner, um ciclo de carga é representado através da variação
de tensão causada em um dado ponto da estrutura e o dano total é definido por:
∑ ∑ ∑ ( ) ( 5-5 )
̅
onde:
̅ = coeficiente linear da curva S-N (ponto de interseção entre a curva S-N com o eixo
N), obtido experimentalmente
σi = variação de tensão
O valor do dano abaixo da unidade implica uma vida útil da estrutura superior ao
intervalo de tempo para o qual ela foi projetada, o que significa que a estrutura, ao longo
29
de sua vida, foi submetida a um número de ciclos inferior ao necessário para sua
ruptura.
( 5-6 )
onde:
No método espectral, cada estado de mar é representado por um espectro de mar (tal
como Pierson-Moskowittz ou JONSWAP).
30
( ) [ ( ) ] ( 5-7 )
onde:
h = parâmetro de forma de Weibull, dado de acordo com a DNV [15], pela equação:
( ) ( 5-8 )
q = parâmetro de escala de Weibull definida a partir da faixa de tensões Δσ0, dada por:
( 5-9 )
( )
̅
( ) ( 5-10 )
onde
( 5-11 )
( )
( ) = função gama
Quando é usada a curva S-N bilinear ou com duas inclinações, o dano à fadiga é dado
pela expressão:
31
[ ̅
( ( ) ) ̅
( ( ) )] ( 5-12 )
onde:
( ) = função gama
32
6. ESTUDO DE CASO
O módulo é composto basicamente por uma estrutura principal onde são posicionados
os equipamentos necessários ao processamento do óleo, na elevação 37492mm com
relação à linha de fundo do navio, e por uma plataforma de acesso, com pisos nas
elevações 43992mm e 48357mm, também em relação à linha de fundo do navio (SÁ,
2015 [17]). A Figura 6.1 apresenta uma visão geral do módulo, com as elevações e
referências de eixos de localização do módulo em relação à plataforma, e a Figura 6.2
apresenta a estrutura modelada com utilização do programa SACS.
33
Figura 6.2 – Modelo Estrutural do Módulo [17].
A partir dos resultados obtidos para análise da estrutura do módulo, para condições
operacionais extremas, será avaliada a concentração de tensões e o cálculo do dano à
fadiga em uma junta soldada, que faz a conexão entre o vigamento principal e a coluna
tubular do módulo. A Figura 6.3 apresenta a seção transversal do módulo no eixo
FR209, e a indicação da junta selecionada para análise. A Figura 6.4 mostra a junta em
planta.
34
Figura 6.4 – Indicação da coluna principal do módulo a ser estudada – El. 37492 [17].
A Figura 6.5 apresenta as restrições na base das colunas, de acordo com a referência
[17].
35
6.2. Materiais utilizados
Dimensões (mm)
Perfil
bf tf h tw t
I1500x976 850 55 1500 22.4 - -
I1500x715 600 50 1500 22.4 - -
W610x174 325 21.6 616 14 - -
T1000x100 - - - - 1000 100
6.3. Geometria
36
Figura 6.6 – Geometria da Junta Estudada.
37
Figura 6.8 – Modelo Computacional – Corte A-A.
38
6.4. Modelo em Elementos Finitos
A junta soldada foi modelada em elementos finitos com auxílio do programa FEMAPv11
e o modelo obtido está apresentado na Figura 6.10.
39
malha com elementos triangulares nas regiões de transição entre os elementos
quadriláteros. Figura 6.11 apresenta um detalhe da malha adotada e o ajuste efetuado
para manutenção da continuidade entre os elementos.
40
Figura 6.13 – Elementos de barra para simulação de condições de apoio.
Axial 1000
Momento Y 100000
Momento Z 100000
Cortante Z 1000
41
Figura 6.14 – Força Axial (kN).
42
Figura 6.16 – Momento na direção Z (kN.cm).
43
6.4.3. Condições de Contorno
As vigas menores foram consideradas em balanço, uma vez que são vigas de
extremidade, foram modeladas com tamanho próximo ao real e estão ligadas a
vigas de pequena rigidez;
As vigas maiores tiveram a sua continuidade simulada por elementos de barra,
promovendo o engaste das mesmas;
Na base da coluna foram aplicadas restrições apenas às translações, sendo
liberadas as rotações, tendo em vista a sua proximidade a um aparelho de apoio
que possui estas restrições.
As Figura 6.18, Figura 6.19 e Figura 6.20 mostram a aplicação dessas condições de
contorno.
44
Figura 6.19 – Condição de contorno na base da coluna.
45
6.5. Análise Estrutural
Para o cálculo das tensões nominais, foi elaborado um modelo em barras do quadro,
composto por vigas e trechos das colunas (Figura 6.21), utilizando o programa
GTStrudl, para simulação mais eficiente das condições de contorno. A Figura 6.22
apresenta a suportação adotada. Os carregamentos unitários aplicados ao modelo
estão apresentados da Figura 6.23 a Figura 6.26.
46
Figura 6.23 – Carregamento Aplicado – Fx (kN).
47
Figura 6.25 – Carregamento Aplicado – Mz (kN.cm).
48
As tensões nominais máximas para o ponto de conexão da viga com a coluna, obtidas
através da análise efetuada do modelo, estão apresentados a seguir:
ACTIVE UNITS CM KN DEG DEGC SEC
-----------------------
INTERNAL MEMBER RESULTS
-----------------------
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
DISTANCE /-------------------------------------------- STRESS ----------------------------------------------/
FROM START AXIAL Y SHEAR Z SHEAR Y BENDING Z BENDING MAX NORMAL MIN NORMAL
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--- MEMBER 6 ---
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
LOADING F_axial Força axial
0.000 FR 0.794 0.453 0.011 -0.548 4.665 6.007 -4.419
Axial 6,007
Momento Y 0,121
Momento Z 1,769
Cortante 0,836
49
Tensões Principais – Carregamento Fx
50
Tensões Principais – Carregamento My
51
Tensões Principais – Carregamento Mz
52
6.5.3. Cálculo dos Fatores de Concentração de Tensões
Para obtenção dos valores máximos de tensão na conexão da viga com a coluna, foram
extraídas duplas de valores a 0,5t e 1,5t tanto na ligação da mesa com o tubo, quanto
na ligação da alma com o tubo, para cada caso de carregamento. Como ilustrado na
Figura 6.33, para o carregamento axial unitário.
Para determinação das tensões máximas no ponto de conexão entre a viga e o tubo,
realizou-se uma extrapolação linear a partir das tensões obtidas nos pontos 0,5t e 1,5t,
conforme apresentado na Figura 6.34 a Figura 6.37.
53
10,000
9,000
Tensões principais (kN/cm²)
8,000
7,000
6,000
5,000
0 0,5 1 1,5
Distância ao ponto de conexão (d/t)
.
0,200
0,180
Tensões principais (kN/cm²)
0,160
0,140
0,120
0,100
0 0,5 1 1,5
Distância ao ponto de conexão (d/t)
54
1,100
1,000
0,800
0,700
0,600
0,500
0 0,5 1 1,5
Distância ao ponto de conexão (d/t)
1,900
1,850
Tensões principais (kN/cm²)
1,800
1,750
1,700
1,650
1,600
0 0,5 1 1,5
Distância ao ponto de conexão (d/t)
55
As tensões máximas extrapoladas, que serão utilizadas no cálculo dos Fatores de
Concentração de Tensões, estão apresentadas na Tabela 6.5.
56
Observa-se que o fator de concentração de tensões para o momento aplicado na
direção Z foi inferior a 1, devido à geometria da chapa modelada em elementos finitos,
que não foi considerada no modelo de barras.
57
6.5.4. Cálculo da Vida Útil à Fadiga
O cálculo da vida útil à fadiga foi feito pelo Método Simplificado da DNV [13],
assumindo-se que a distribuição de longo prazo das tensões segue a distribuição de
Weibull e que a vida útil requerida para a estrutura é de vinte e cinco anos, com fator de
segurança igual a dois.
58
59
60
7. CONCLUSÃO
Este trabalho apresentou um estudo da concentração de tensões e avaliação da vida
útil à fadiga de uma conexão soldada de um módulo de FPSO.
Com esses fatores, foram calculadas as tensões máximas atuantes na conexão por
meio da majoração das tensões cíclicas atuantes na estrutura do módulo.
Através dos resultados das análises efetuadas pode ser observado que, para os
esforços considerados, a vida útil calculada foi de 67 anos, valor superior à vida útil
requerida para a estrutura (25 anos com fator de segurança 2,0).
A análise de fadiga da junta analisada pelo método simplificado permitiu uma execução
rápida do trabalho e estudo dos principais conceitos do fenômeno da fadiga.
Como sugestão para estudos futuros, está a análise de fadiga de ligações soldadas do
módulo por outras metodologias, tal como a estocástica completa. Outra sugestão seria
o estudo da propagação de trincas pela Mecânica da Fratura.
61
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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